PERIODONTAL DISEASE ASSOCIATED WITH ENDOCARDITIS IN DOGS
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202509111203
Lays Barbosa de Oliveira
Letícia Graziele de Souza Fialho
Sofia Pessoa Vieira Loiola
Thais Catarina Martins Batista
Orientadora: Myrian Kátia Iser Teixeira
Resumo
A doença periodontal é caracterizada pela inflamação dos tecidos que compõem o periodonto, como gengiva, ligamento periodontal, cemento e osso alveolar, devido ao acúmulo de placa bacteriana e formação de cálculo dentário. Trata-se de uma condição muito frequente na prática clínica veterinária, embora ainda subestimada quanto às suas possíveis consequências sistêmicas. Entre essas complicações, destaca-se sua relação com a endocardite infecciosa, que é doença degenerativa e crônica das válvulas do coração. Este estudo tem como objetivo realizar uma revisão de literatura sobre a associação entre a doença periodontal e a endocardite infecciosa em cães, ressaltando sua importância no contexto da medicina veterinária. A busca científica foi realizada nas principais plataformas científicas e a seleção de dados priorizou artigos científicos recentes e com robustez técnica. A doença periodontal pode contribuir para a progressão da endocardite infecciosa por meio de episódios recorrentes de bacteremia, permitindo que microrganismos orais se disseminem pela corrente sanguínea e se adiram a válvulas cardíacas. Além disso, a inflamação crônica induzida pela periodontite pode promover alterações sistêmicas, como aumento de citocinas pró-inflamatórias, que favorecem a degeneração valvar e a disfunção endotelial. É importante salientar que a manutenção da saúde oral deve ser parte integrante do cuidado clínico de cães, especialmente em raças predispostas à endocardite infecciosa. A integração entre odontologia e cardiologia veterinária é fundamental para estratégias preventivas e terapêuticas mais eficazes. Assim, o conhecimento sobre a doença periodontal e seus possíveis impactos negativos, bem como a atuação do médico-veterinário na prevenção dessa condição é relevante para saúde e bem-estar dos cães.
Palavras-chave: Doença Valvar. Periodontite Canina. Insuficiência Mitral. Periodontopatias.
Introdução
A doença periodontal é uma infecção crônica causada pelo acúmulo de placas bacterianas, que desencadeiam uma inflamação progressiva dos tecidos de sustentação dos dentes, como a gengiva, o osso alveolar, o cemento e o ligamento periodontal (WALLIS, C & HOLCOMBE, 2020). Entre os animais de companhia, especialmente os cães, essa condição está entre as mais prevalentes na prática clínica veterinária (SILVA et al., 2023). No entanto, apesar de sua frequência, a periodontite muitas vezes não recebe a devida atenção, seja por parte dos tutores ou até mesmo por profissionais, devido à banalização da sua presença e à carência de informação adequada sobre suas possíveis repercussões sistêmicas (ENLUND et al., 2020). Uma das complicações mais preocupantes é a relação entre essa afecção bucal e quadros cardíacos, como a endocardite infecciosa (GARCIA, 2020).
A Endocardite infecciosa é caracterizada pela degeneração da válvula mitral, frequentemente associada à colonização bacteriana (OLIVEIRA & SILVA, 2024). Ainda segundo estudos a periodontite se apresenta como uma potencial fonte primária dessas bactérias, que, ao alcançarem a corrente sanguínea, podem se alojar no tecido cardíaco e desencadear processos inflamatórios (GARCIA, 2020). Diante disso, este estudo tem como objetivo reunir informações atualizadas da literatura científica sobre a conexão entre a periodontite e a endocardite infecciosa, ressaltando a importância do diagnóstico precoce, do tratamento adequado e da conscientização no contexto da medicina veterinária, conferindo maior visibilidade e relevância ao tema.
Metodologia
Para a realização deste estudo, foi conduzida uma revisão de literatura com foco em artigos publicados nos últimos seis anos, encontrados em bases como PubMed, SciELO e Google Scholar. Os estudos foram selecionados consideraram publicações que abordassem a doença periodontal e sua correlação com a endocardite infecciosa em cães, com ênfase em estudos clínicos, e artigos de relevância científica na área da medicina veterinária. Além disso, foram enfatizadas as consequências da subestimação desse assunto e a necessidade de mais conhecimento por parte dos tutores.
Resultados e discussão
As informações obtidas neste estudo reforçam a correlação entre a doença periodontal e a endocardite infecciosa (EI) em cães ( GARCIA, 2020). A elevada carga bacteriana, originada principalmente na cavidade oral, é identificada como fator principal para o desenvolvimento da EI, já que atua como porta de entrada para microrganismo (GARCIA, 2020).
As bactérias com maior importância são Streptococcus spp., Staphylococcus spp., bacilos gram-negativos e Bartonella spp., todas associadas tanto à EI quanto a infecções periodontais (AUGUSTO, LEMOS & ALBERIGI, 2019). As estruturas do endocárdio afetadas com maior frequência são as válvulas mitral e aórtica, apresentando lesões que causam refluxo sanguíneo. (AUGUSTO, LEMOS & ALBERIGI, 2019).
Os principais sinais clínicos englobam febre, letargia, dispneia, anorexia, halitose e intolerância ao exercício (GARCIA, 2020).
Exames laboratoriais revelam anemia discreta, leucocitose, trombocitopenia e alterações bioquímicas compatíveis com disfunção hepática e renal (AUGUSTO, LEMOS & ALBERIGI, 2019). O ecodopplercardiograma é decisivo para identificar alterações estruturais valvares e confirmar o diagnóstico de EI (AUGUSTO, LEMOS & ALBERIGI, 2019). Esses achados intensificam a importância da prevenção da doença periodontal como estratégia para reduzir a incidência de endocardite infecciosa em cães (OLIVEIRA & SILVA, 2024)
1. Doença Periodontal
A etiologia é classificada como multifatorial, envolvendo aspectos microbiológicos, ambientais, anatômicos, genéticos, nutricionais e comportamentais (GARCIA, 2020).
A principal causa para o desenvolvimento da doença periodontal é a má higiene bucal, o que favorece a formação de biofilme microbiano sobre a superfície dentária. Esse biofilme, quando não removido corretamente, progride para placa bacteriana e, avança para cálculo dental, favorecendo a colonização por bactérias predominantemente anaeróbias e Gram-negativas. (OLIVEIRA & SILVA, 2024). Esses microrganismos auxiliam na destruição dos tecidos periodontais por meio da liberação de enzimas e toxinas que provocam danificação tecidual direto ou estimulam uma resposta inflamatória acentuada do hospedeiro.
A predisposição à DP também tem forte relação com à morfologia oral. Cães de raças de pequeno porte, como Poodle Toy, Dachshund, Yorkshire Terrier e Jack Russell Terrier, apresentam maior propensão de desenvolver à doença devido a particularidades genéticas, como, má oclusão, dentes proporcionalmente maiores em relação ao tamanho da mandíbula, superlotação dentária e gengiva mais fina. (WALLISUM et al, 2021). Essas características anatômicas criam áreas de retenção do alimento, favorecendo o acúmulo do biofilme e progressão da placa bacteriana.
Segundo a literatura, a gravidade da doença periodontal aumenta consideravelmente com o avançar da idade dos animais, sendo que cerca de 80% dos cães, com cinco anos ou mais, apresentam sinais clínicos da doença (WALLIS & HOLCOMBE, 2020).
A Alimentação desempenha um fator importante na saúde bucal. Dietas de baixa qualidade ou alimentos úmidos contribuem para o acúmulo de resíduos e não geram atrito suficiente para extração mecânica da placa bacteriana. (GARCIA, 2020).
1.2 Sintomas:
O principal sinal observado é a formação de placa bacteriana, podendo estar em processo de mineralização. Os sintomas iniciais podem ser leves e facilmente ignorados, mas é crucial identificá-los precocemente para evitar complicações. A classificação clínica da DP é dividida em quatro graus, de acordo com os sinais observados.
No estágio inicial (grau 1), as manifestações são reservadas. A gengiva pode parecer saudável, mas já há formação de placa bacteriana com início de mineralização. Observa-se hiperemia na parte superior do dente, sinal de inflamação subgengival, podendo apresentar sangramento. Este é o estágio mais fácil de ser revertido, desde que diagnosticado precocemente.
O segundo estágio (grau 2) apresenta progressão da inflamação, caracterizando uma gengivite moderada, com aumento da placa bacteriana e presença de cálculo dentário. A gengiva torna-se mais hiperemia e pode ocorrer retração ou hiperplasia, com aumento do sulco gengival.
No terceiro estágio (grau 3), a doença atinge um estágio crítico, tendo como consequência danos periodontais graves e irreversíveis. Há perda óssea acentuada, retração gengival avançada, mobilidade dentária e acúmulo de cálculo ao redor dos dentes. Nesse grau, a placa bacteriana já está mineralizada, sendo necessária uma intervenção veterinária terapêutica, e não mais profilática.
O quarto e último estágio (grau 4) representa o quadro mais severo da periodontite. Evidencia-se por grave inflamação, sangramento excessivo, perda óssea extensa, bolsas periodontais profundas, grande mobilidade dentária e destruição generalizada do periodonto. Nesse estágio, os riscos sistêmicos aumentam consideravelmente, o que compromete a integridade física do animal.
Outros sintomas relatados incluem halitose (sendo o mais comum relatado pelos tutores), sialorreia, dor ao mastigar, hiperplasia ou retração gengival, destruição óssea e, por fim, perda dentária. (GARCIA, 2020).
1.3 Diagnóstico:
A doença periodontal (DP) representa uma das condições mais comumente encontradas na clínica veterinária, embora frequentemente subdiagnosticada. O diagnóstico precoce é essencial para evitar a progressão do quadro clínico e suas possíveis consequências sistêmicas.
A avaliação diagnóstica da DP é realizada com uma combinação de exame clínico e exames complementares, especialmente radiográficos. Inicialmente, a inspeção da cavidade oral pode ser realizada com o animal consciente, permitindo a identificação visual de gengivite, placa bacteriana, cálculo dentário, recessão gengival, exposição radicular, mobilidade dentária ou dentes ausentes. Entretanto, essas observações são limitadas, já que nem todas as superfícies dentárias são acessíveis nesse tipo de exame, dificultando a avaliação completa da perda de inserção clínica e de tecidos periodontais (WALLIS & HOLCOMBE, 2020).
Durante o exame, também é importante observar a coloração das mucosas, o hálito e a integridade da estrutura gengival. A gengiva saudável deve apresentar coloração rosada, textura regular e margem pontiaguda. Qualquer alteração nesses parâmetros pode indicar processos inflamatórios ou infecciosos.
Para um diagnóstico mais assertivo, pode ser realizada uma sondagem periodontal sob anestesia geral. Esse procedimento permite mensurar a profundidade das bolsas periodontais, a recessão gengival e a perda de inserção clínica, além de possibilitar o mapeamento detalhado da arcada dentária.
A análise da gravidade da periodontite depende da extensão da destruição do periodonto, evidenciada pela perda óssea, que pode ser verificada por meio de radiografias dentárias.
1.4 Tratamento:
Uma vez formado o cálculo dentário, a intervenção cirúrgica se torna o único método capaz de remover a placa bacteriana de forma adequada. O tratamento da doença periodontal baseia-se na intervenção cirúrgica, sendo realizada a raspagem dentária, visando a remoção do cálculo dental, redução da carga bacteriana e extração dos dentes severamente afetados, prevenindo infecções mais graves (OLIVEIRA & SILVA, 2024).
A intervenção mecânica é complementada com terapias auxiliares, como o uso de antissépticos (clorexidina 0,12%) e antibióticos de amplo espectro, eficazes contra bactérias Gram-positivas, Gram-negativas, aeróbicas e anaeróbicas (GARCIA, 2020).
Após procedimentos orais, é comum a ocorrência de bacteremia transitória, controlada em cerca de uma hora pelo sistema mononuclear fagocítico. A administração profilática de antibióticos pode reduzir a intensidade dessa bacteremia, especialmente em pacientes de risco, como os imunossuprimidos ou com doenças cardíacas, renais ou periodontite avançada (GARCIA, 2020).
Entre os antibióticos utilizados estão: clindamicina, amoxicilina, metronidazol, espiramicina e ampicilina. A antibioticoterapia possui eficácia reduzindo inflamação, sangramento, halitose e carga microbiana, o que resulta em menores complicações pós-cirúrgicas.
O uso de antibiótico é um complemento ao procedimento cirúrgico, que continua sendo o principal método de tratamento (GARCIA, 2020).
Após a realização da limpeza mecânica, pode ocorrer uma nova formação de placas bacterianas em um curto período, demonstrando a necessidade de uma manutenção contínua e cuidados preventivos (OLIVEIRA & SILVA, 2024).
1.5 Prevenção:
A escovação diária é o padrão ouro para prevenir a evolução da doença periodontal, porém, a aquisição dos tutores é frequentemente baixa devido à falta de conhecimento e a dificuldade de avaliar a cavidade oral dos cães (Avaliação cardíaca em cães com doenças periodontais). A remoção da placa bacteriana pela escovação, associada a uma dieta equilibrada e ao uso de produtos mastigáveis, é essencial, sendo a escovação diária o método mais eficiente e recomendado. (WALLIS & HOLCOMBE, 2020)
Tutores de cães de pequeno porte, idosos ou de raças predispostas tendem a observar com mais frequência os problemas dentários em seus animais, o que condiz com a maior prevalência da doença nesses grupos. Ainda assim, a alta incidência de doença periodontal destaca a importância da conscientização dos tutores para a realização de cuidados odontológicos (ENLUND et al, 2020).
Muitos tutores subestimam os sinais de doença periodontal, uma vez que os cães frequentemente não demonstram desconforto aparente. A ausência de percepção por parte dos tutores impacta negativamente na avaliação da saúde bucal dos animais, reforçando a necessidade de exames odontológicos profissionais periódicos (ENLUND et al, 2020).
1.6 Suas Implicações Sistêmicas:
A doença periodontal pode acarretar o desenvolvimento de patologias sistêmicas em cães. Apesar de ser muito comum nos animais domésticos, a maioria dos tutores não possuem conhecimento sobre a gravidade das consequências. Em graus mais severos da doença periodontal, há uma elevada translocação bacteriana por meio de microlesões bucais, podendo atingir outros órgãos, principalmente o coração. (Doença Periodontal, 2024).
Entre as complicações sistêmicas associadas, destaca-se a endocardite infecciosa, que é uma condição grave que acomete o endocárdio e pode comprometer estruturas cardíacas vitais, como as válvulas. (OLIVEIRA & SILVA, 2024). Uma vez na corrente sanguínea, as bactérias podem aderir nas válvulas cardíacas ou nas paredes dos vasos, desencadeando endocardite bacteriana, degeneração valvar e formação de trombos, o que prejudica a função do coração.
Além dessas consequências podemos destacar o surgimento de fístulas oro-nasais, inflamações nos tecidos orbitários e abscessos retrobulbares, que, em casos mais graves, podem levar à cegueira. Outros órgãos que podem ser afetados pela disseminação bacteriana são o fígado, rins e meninges.
Endocardite infecciosa
Etiologia: A endocardite infecciosa (EI) é uma doença sistêmica grave que se caracteriza pela presença de microrganismos infecciosos aderidos ao revestimento interno do coração, exclusivamente às válvulas cardíacas. Embora seja considerada incomum em cães, sua detecção geralmente está relacionada a altas taxas de mortalidade e outras complicações. A bacteremia — presença de bactérias na corrente sanguínea — é o principal fator para o surgimento da EI, que pode ser passageira ou frequente. (OLIVEIRA & SILVA, 2024)
A cavidade bucal canina possui uma grande diversidade de bactérias, resultando em uma das principais origens da bacteremia. A periodontite, uma condição comum em cães, pode favorecer a entrada desses microrganismos no sangue, facilitando que alcancem o coração e se fixem nas válvulas. Como todo o sangue circula pelo coração, isso possibilita a instalação da infecção endocárdica (GARCIA, 2020).
Os principais agentes causadores da endocardite infecciosa incluem tanto bactérias gram-positivas quanto gram-negativas, como Streptococcus e Staphylococcus, sendo frequentemente encontradas também em quadros de doença periodontal, além de Bartonella spp. e bacilos gram-negativos (OLIVEIRA & SILVA, 2024) A infecção pode comprometer o funcionamento das válvulas cardíacas, estimulando a formação de lesões que dificultam seu fechamento de forma eficiente, com isso à uma regurgitação de sangue, sendo está a manifestação mais comum. A multiplicação bacteriana tende a agravar a destruição das valvar e intensificar insuficiência cardíaca.
A endocardite ocasionada pela infecção periodontal pode atingir cães de todas as raças e gêneros, ainda que seja mais recorrente em animais mais velhos (GARCIA, 2020).
Sintomas: A endocardite infecciosa (EI) em cães apresenta múltiplos sinais clínicos, que em sua maioria não são específicos, podem se modificar de acordo com a progressão do quadro. Entre os sintomas mais comuns observados estão: anorexia, apatia, caquexia, inflamação articular, dispneia, polidipsia e poliuria, mucosas hiperemias, halitose, tosse, baixa tolerância ao esforço físico, além de alterações neurológicas e, em alguns casos, distensão abdominal. (GARCIA, 2020).
Em casos agudos ou crônicos, os sintomas mais notórios são relacionados à sepse, como febre insistente, e sinais de colapso circulatório. Embora o estado febril seja frequente, sua ausência não descarta a doença, o que reforça a necessidade de uma completa avaliação clínica (WALLIS & HOLCOMBE, 2020).
Através da auscultação cardíaca, pode-se identificar sopros, os quais podem apontar alterações nas válvulas mitral ou aórtica. Além disso são observados sinais de alteração valvar, como constrição das válvulas, insuficiência cardíaca e arritmias. Entretanto, o aparecimento de sopro não é exclusivo da EI e deve ser avaliada em conjunto a outros achados clínicos (GARCIA, 2020).
Diagnóstico: O diagnóstico da endocardite infecciosa (EI) envolve uma abordagem ampla, que inclui uma anamnese completa, exames laboratoriais e avaliações complementares. Durante a anamnese, é essencial investigar possíveis focos de infecções, especialmente na cavidade bucal, além de averiguar se o animal foi submetido a algum procedimento invasivo, como limpezas dentárias ou extrações, sendo esse uma das principais vias de promover a ocorrência de bacteremia — condição fundamental para o desenvolvimento da EI (AUGUSTO, LEMOS & ALBERIGI, 2019).
Nos exames de sangue, é comum encontrar alterações como leve anemia, trombocitopenia, leucocitose com predominância de neutrófilos e monocitose. Exames bioquímicos podem indicar comprometimento de diferentes órgãos, frequentemente revelando aumento dos níveis de ureia e creatinina (azotemia), elevação das enzimas hepáticas (FA, ALT, AST), além de hiperbilirrubinemia, alterações na glicemia (alta ou baixa) e hipoalbuminemia (AUGUSTO, LEMOS & ALBERIGI, 2019).
A urinálise também pode fornecer dados importantes, já que os rins são comumente afetados nesses quadros. Alguns dos achados laboratoriais que podem ser encontrados: hematúria, piúria, proteinúria e cilindrúria (AUGUSTO, LEMOS & ALBERIGI, 2019).
Dentro dos exames complementares, destacam-se a radiografia torácica, o eletrocardiograma e o ecodopplercardiograma. Na radiografia pode ser observado a silhueta cardíaca, além de avaliar possíveis sinais de edema pulmonar. Já o ecodopplercardiograma é um recurso essencial no diagnóstico, pois permite a observação direta de alterações valvares, como espessamento, aumento da ecogenicidade, presença de alterações anatômicas, ruptura ou separação de folhetos valvares, dilatações nas câmaras cardíacas, falência do miocárdio, abscessos e insuficiências valvares (AUGUSTO, LEMOS & ALBERIGI, 2019).
Tratamento: O procedimento da endocardite infecciosa (EI) em cães requer intervenção imediata e bem sucedida, visto que se trata de uma condição constantemente fatal. A identificação do agente etiológico por meio de hemoculturas e a utilização de antibiograma são essenciais para a escolha correta do antibiótico, permitindo o início do tratamento o mais rápido possível (GARCIA, 2020).
O protocolo terapêutico inclui a realização de antibióticos de amplo espectro, em muitos casos, combinados para potencializar a ação contra os principais microrganismos envolvidos. Associações entre penicilinas ou cefalosporinas com aminoglicosídeos, como gentamicina ou amicacina, são comuns. Fluoroquinolonas, como a enrofloxacina, também são eficazes, assim como a clindamicina e metronidazol para combater bactérias anaeróbias. Em infecções por Bartonella spp., podem ser empregadas azitromicina, enrofloxacina ou doxiciclina em altas doses. (AUGUSTO, LEMOS & ALBERIGI, 2019).
Pode ser recomendado o uso do cloranfenicol por via intravenosa, pelo menos uma semana, para garantir níveis séricos adequados. Já o tratamento antibioticoterapia deve ser mantido por seis a oito semanas, sendo monitorada a função renal durante esse período, principalmente quando aminoglicosídeos são utilizados, devido ao seu potencial nefrotóxico (AUGUSTO, LEMOS & ALBERIGI, 2019).
Adicionalmente, o tratamento da doença periodontal tem impacto positivo sobre a saúde cardiovascular subclínica, reforçando a importância da profilaxia oral na prevenção da endocardite (GARCIA, 2020). A resposta ao tratamento dependerá da gravidade da infecção e da condição clínica do animal, sendo o acompanhamento veterinário contínuo essencial para o sucesso terapêutico.
Prevenção: É de extrema importância os cuidados com a saúde oral dos cães, em conjunto com a profilaxia dentária como uma medida preventiva essencial para reduzir o risco de desenvolvimento da doença periodontal e, consequentemente, da endocardite infecciosa. Na doença periodontal, as bactérias migram para a corrente sanguínea, predispondo aos animais a infecções sistêmicas graves, como a endocardite infecciosa (OLIVEIRA & SILVA, 2024)
A realização periódica da manutenção bucal contribui para a redução do risco de complicações cardíacas associadas à introdução de bactérias na corrente sanguínea, como a endocardite infecciosa. (OLIVEIRA & SILVA, 2024)
Outras consequências sistêmicas da doença periodontal
Além da endocardite infecciosa, a doença periodontal pode desencadear uma série de complicações sistêmicas. Entre as principais destacam-se a insuficiência cardíaca congestiva (ICC), arritmias cardíacas, doença tromboembólica e distúrbios relacionados ao complexo imunológico, além de afetar outros órgãos vitais, como rins, miocárdio e cérebro. (REAGAN et al, 2021).
Conclusão:
Conclui-se que a doença periodontal, quando não diagnosticada e tratada precocemente, pode evoluir para complicações sistêmicas graves, como a endocardite bacteriana. Nesse contexto, a atuação conjunta entre tutor e médico veterinário é fundamental para a identificação precoce da patologia e a implementação de medidas eficazes de controle. A manutenção da saúde bucal deve ser priorizada, com foco na prevenção da formação de placa bacteriana. Dessa forma, recomenda-se a escovação dental diária e a realização de profilaxia oral sempre que indicada, visando o bem-estar e a qualidade de vida dos cães.
Referências:
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