INFLAMMATORY BOWEL DISEASE IN FELINES: CASE REPORT
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202410312316
Tayná Alves Moura¹
Augusto César Baldassi²
RESUMO
A Doença Inflamatória Intestinal (DII) é uma condição crônica em que o intestino delgado, seja em sua porção delgada ou grosso, apresenta infiltrado inflamatório. A forma mais comum do infiltrado é a presença de linfócitos e plasmócitos, porém neutrófilos e eosinófilos também são observados. Essa diferenciação celular é caracterizada por histopatológico. Não há uma cura, por isso é necessário acompanhamento periódico do animal. Os principais sintomas manifestados são: vômitos e/ou diarreia crônica, perda de peso e diminuição ou aumento do apetite. Sua origem é idiopática e o diagnóstico dessa condição é realizado através da exclusão de outras patologias e com o resultado de exames complementares. O linfoma é uma das principais doenças a se realizar a diferenciação por conta da similaridade dos sintomas. O tratamento dessa patologia é elaborado através do resultado de exames de sangue, ultrassom abdominal e manifestações clínicas do paciente. Dessa forma, é realizada a troca da alimentação para uma dieta com proteínas de baixo peso molecular. É possível a utilização de fármacos como corticoides, antieméticos e antineoplásicos para auxiliar no tratamento – dependendo da necessidade individual de cada paciente. O prognóstico da doença é singular para cada paciente e os sintomas podem ser recidivos. O trabalho a seguir tem como objetivo revisão literária e a apresentação de um caso clínico para compreensão e divulgação do tema.
Palavras-chave: Inflamação. Vômito. Felinos.
ABSTRACT
Inflammatory Bowel Disease (IBD) is a chronic condition in which the small intestine, whether in small or large portions, has an inflammatory infiltrate. The most common form of infiltrate is the presence of lymphocytes and plasma cells, but neutrophils and eosinophils are also observed. This cell differentiation is characterized by histopathology. There is no cure, so periodic monitoring of the animal is necessary. The main symptoms manifested are chronic vomiting, also chronic diarrhea, weight loss, and decreased or increased appetite. Its origin is idiopathic and the diagnosis of this condition is made by excluding other pathologies and with the results of complementary exams. Lymphoma is one of the main diseases that can be differentiated on behalf of similar symptoms. The treatment of this pathology is based on the results of blood tests, abdominal ultrasound, and the patient’s clinical manifestations. That way, the diet is changed to one with low molecular weight proteins. Medications such as corticosteroids, antiemetics, and antineoplastics can be used to support treatment – depending on the individual needs of each patient. The prognosis of the disease is unique to each patient and symptoms can be relapses. This academic work aims to review the literature and report a clinical case to understand and disseminate that disease.
Keywords: Inflammation. Vomit. Felines.
INTRODUÇÃO
A Doença Inflamatória Intestinal (DII) é uma condição em que o paciente apresenta infiltrado inflamatório na mucosa gastrointestinal com duração igual ou superior a três semanas, com descarte de hipersensibilidades e de outras patologias. Dessa forma, sua origem é considerada idiopática. Estudos apontam que é possível que a genética tenha influência no quadro. Porém, acredita-se também que essa condição pode surgir através do sistem imune respondendo de forma exacerbada ou bactérias desencadeando a DII (LITTLE, 2012; NELSON; COUTO, 2015). Sendo assim, muitos estudos apontam possíveis causas, mas com nenhum deles foi possível concluir a etiologia da doença. Especialistas da área utilizam o termo “Enteropatia Crônica Inflamatória” para se referir à doença.
O sintoma clínico mais comum em felinos são os vômitos crônicos, mas também é possível observar diarreia – o que difere da DII em cães, onde a manifestação mais comum é a alteração nas fezes. Ademais, também são manifestações clínicas: perda de peso e aumento ou diminuição do apetite – variando o quadro a cada indivíduo. Em avaliação física no consultório por veterinários, a perda de peso pode iniciar de forma discreta e o felino não demonstrar incômodo em palpação abdominal ou maior espessamento das alças intestinais em avaliação clínica – parâmetro observável em ultrassonografia abdominal (NORSWORTHY et al., 2011). O diagnóstico dessa condição é feito através da exclusão de possíveis causas como parasitas, hipersensibilidade, neoplasias (especialmente o linfoma), FIV/FELV, hipertireoidismo, diabetes mellitus e entre outras alterações. Com o descarte da possibilidade de as manifestações serem causadas por algum motivo identificável, exames como ultrassonografia, hematológicos e o histopatológico podem ser utilizados para diagnosticar a condição da Enteropatia Crônica Inflamatória. O tipo mais comum é o de infiltrado linfocitário-plasmocítico, seguido pelo eosinofílico. O tipo neutrofílico e granulomatoso também podem ser encontrados, mas são menos comuns na rotina (NORSWORTHY et al., 2011).
Não há uma cura para essa condição. Com isso, o tratamento é feito através da mudança na dieta e de controle dos sintomas e inflamação. É comum o uso de corticoides, antineoplásicos e antieméticos para controle dos sintomas (NORSWORTHY et al., 2011).
No caso clínico relatado, a única alteração que a paciente apresentava eram crises de vômitos sequenciais com espaçamento de 30 dias, aproximadamente. Em exames foi possível observar maior espessamento de intestino e infiltrado inflamatório em trato gastrointestinal. Com a exclusão de outras patologias, foi possível concluir o diagnóstico de DII. O tratamento com a troca de ração para hipoalergênica e o uso de Prednisona, Bromoprida e Clorambucila foi eficiente para controlar as crises de êmese do felino em estudo.
DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL EM FELINOS
“A Doença Inflamatória Intestinal (DII) refere-se a infiltrados inflamatórios do intestino delgado ou do intestino grosso (ou ambos) de etiologia desconhecida. O termo DII deve ser aplicado unicamente para significar DII idiopática” (Little, 2012, pág.
676). Com isso, animais que apresentam o infiltrado inflamatório em alguma das porções do intestino em que sua etiologia foi identificada não devem ser incluídos na DII, por exemplo, casos de triadite, linfoma e hipersensibilidade alimentar. Ainda não há uma origem específica da doença, mas alguns estudos indicam uma possível causa auto imune frente a felinos suscetíveis. A DII caracteriza-se por possuir diversas enfermidades que possuem a mesma histopatologia (LITTLE, 2012; NELSON; COUTO, 2015). Atualmente, o uso do termo DII tem sido debatido e especialistas de felinos e gastroenterologistas passaram a utilizar “Enteropatia Crônica Inflamatória” para se retratar à patologia.
O grupo World Small Veterinary Association (WSAVA) pré-definiu diretrizes para diagnóstico do sistema gastrointestinal em cães e gatos. Dentro dessas diretrizes, é possível criar um padrão para diagnóstico, estadiamento, cronicidade, entre outros. Conforme citado pelo grupo, a DII é a principal razão para diarreia e êmese crônica em diagnósticos histopatológicos nas duas espécies de estudo (WASHABAU et al., 2024).
A forma da enterite linfocítica-plasmocítica é o diagnóstico mais comum encontrado na clínica (NELSON; COUTO, 2015), mas também há o diagnóstico por infiltrado eosinofílico, neutrofílico, granulomatoso ou misto. A classificação é realizada através do tipo de infiltrado identificável por histopatológico ou imuno-histoquímica. Não há uma predisposição quando comparados raça, sexo ou idade. Qualquer felino pode ser diagnosticado, porém, é observado em maior número em gatos que possuem entre 5 e 10 anos (LITTLE, 2012).
Essa condição não possui cura. O tratamento é realizado com auxílio de exames complementares e sintomáticos com o uso de corticoides, antineoplásicos, antieméticos e troca da dieta para rações que possuem proteínas com baixo peso molecular (LITTLE, 2012).
O prognóstico varia conforme a resposta individual de cada paciente e com o resultado dos exames complementares, pois estes permitem a compreensão do grau de comprometimento e avaliação de consequências sistêmicas. Mesmo com estabilização das manifestações clínicas e nos exames laboratoriais não constem alterações, é preciso acompanhamento veterinário de forma periódica (LITTLE, 2012; SOUSA et al, 2020).
A etiologia dessa condição ainda é incerta, apenas algumas hipóteses são debatidas através de estudos realizados. Acredita-se que alguns fatores associados como: microrganismos patógenos, hereditariedade, dieta e desequilíbrio autoimune possam estar associados, mas nenhuma teoria ainda é certa. Uma das principais suspeitas é que essa condição acontece devido ao sistema imunológico atuando de forma exacerbada. Um dos principais aspectos da DII é a presença de infiltrados de células imunes na lâmina própria que compõe a parede do intestino (SOUSA et al, 2020).
Através de pesquisa, foi possível constatar o aumento na presença de bactérias comensais (E. coli, Clostridium spp e Enterobacteriaceae) em felinos diagnosticados com a Enteropatia Crônica Inflamatória (totalizando 91% da flora comensal) quando comparados com gatos hígidos – os quais possuíam apenas 6% compondo sua microbiota (JANECZKO et al., 2008). Sendo assim, outra hipótese desenvolvida através desta pesquisa seria a de que o aumento na quantidade de bactérias comensais pode desencadear o infiltrado inflamatório da região (SOUSA et al, 2020).
Com os resultados dos trabalhos obtidos até então, acredita-se que a DII seria uma consequência de uma reação acentuada de hipersensibilidade a patógenos (sejam eles bactérias, parasitas ou da alimentação) provenientes do trato gastrointestinal (LITTLE, 2012).
As manifestações clínicas, que aparecem de forma singular ou não, mais evidenciadas são: êmese, diarreia, perda de peso e diminuição do apetite – que pode ocorrer devido à náusea. A perda de peso geralmente está associada a perda de massa muscular. Em alguns casos o gato aumenta a sua fome. A perda de peso é um dos sinais mais evidenciados mesmo quando não há associação com vômitos e/ou diarreia no paciente, porque acredita-se que ocorre uma má-absorção frente a inflamação da mucosa intestinal, mas não se deve excluir a possibilidade de insuficiência pancreática na digestão ou aumento no metabolismo de animais com hipertireoidismo, por exemplo (LITTLE, 2012).
Em casos de DII em intestino delgado, os felinos apresentam com maior frequência perda de peso, diarreia, incômodo ao evacuar e presença de muco ou sangue nas fezes. Por outro lado, mesmo assim é possível carecer da perda de peso (LITTLE, 2012).
No exame físico é mais difícil identificar alterações, mas em alguns casos as alças intestinais inflamadas são sentidas em palpação. A classificação do score corporal é subjetiva e é sempre indicado o acompanhamento do peso do animal ao longo de sua vida (LITTLE, 2012).
Mesmo que ausente episódios de êmese e diarreia, o diagnóstico da enteropatia crônica inflamatória necessita de descarte de outras doenças como, por exemplo, doenças que causam distúrbio na glândula Tireoide, parasitismo intestinal, neoplasias ou sensibilidade alimentar. (SOUSA et al, 2020). Para isso, é indicado a requisição para exames como: hemograma, bioquímicos de rotina, glicose sérica, ultrassonografia abdominal, urinálise, T4 total, cobalamina, folato, lipase pancreática felina e avaliação histológica intestinal. Além disso, exames como estes servem não apenas para o descarte de diagnóstico diferencial, mas também para avaliar as consequências trazidas por conta da alteração como hidratação ou distúrbios eletrolíticos (LITTLE, 2012; NELSON; COUTO, 2015).
Para a coleta da biópsia intestinal há três possibilidades: endoscopia, laparoscopia ou laparotomia – todos sendo necessário anestesia do animal. A cirurgia de laparotomia é muito mais invasiva quando comparada com a endoscopia, mas permite a visualização total da cavidade abdominal e não limita somente às estruturas do sistema digestório. Sob outro viés, a endoscopia é uma alternativa bem menos invasiva e que também permite a coleta de material e visualização de algumas das estruturas que compõem o trato digestório. Sendo assim, a endoscopia não possibilita uma visão mais macroscópica da cavidade abdominal. Ademais, estudos apontam que felinos que foram submetidos a endoscopia não possuíam a doença próximo ao jejuno, comprimento pelo qual os endoscópios atingem sua limitação, fazendo com que não fosse possível identificar a alteração presente nas outras regiões do intestino. Por essa razão, é indicado que a ultrassonografia abdominal seja correlacionada à endoscopia, com o objetivo de que não ocorra diagnósticos perdidos e a coleta do material desejado seja mais precisa. A melhor alternativa para biópsia deve ser escolhida para cada caso de forma individual e avaliando a particularidade e limitações de cada método (LITTLE, 2012).
No exame histopatológico, é possível observar em alguns casos atrofia das estruturas componentes do intestino, erosões, presença de tecido cicatricial – o que compromete a funcionalidade da região, entre outras alterações (SOUSA et al, 2020).
Os exames de sangue, como hemograma e bioquímicos, podem não apontar alterações em específico. Porém, é comum observar aumento no valor de enzimas hepáticas ou em outros órgãos, o que pode ser uma consequência da DII, por exemplo, desidratação, azotemia, hipopotasemia etc. Frequentemente é possível encontrar neutrofilia, hiperglobulinemia ou monocitose por conta de inflamações crônicas (LITTLE, 2012).
No ultrassom é muito comum encontrar aumento na espessura das alças intestinais, mesmo que de forma discreta. Como padrão do órgão, a espessura deve ser inferior ou com limite de 2.8 mm para o duodeno e 3,2 mm para o íleo. Os linfonodos mesentéricos também podem ser vistos com alterações. As alterações presentes no ultrassom de pacientes com DII não apresentam diferenças específicas com animais que possuem linfoma de pequenas células (LITTLE, 2012).
Por fim, o diagnóstico é feito com:
• Sintomas clínicos com início e perpetuação maior que 3 semanas;
• Carência de resposta positiva à tratamentos sintomáticos com diferentes objetivos (alterações em dieta, pesquisa de outras patologias primárias etc.);
• Etiopatogenia desconhecida;
• Exame histopatológico apontando distúrbios intestinais não compatíveis com neoplasias.
Linfócitos e plasmócitos são encontrados no intestino em condições hígidas, o diagnóstico da enfermidade se torna mais difícil por conta dessa condição. O material deve ser bem coletado para análises citológicas, porque a presença de muitos artefatos prejudica a conclusão do exame. Em alguns casos, são realizadas a coleta de dois materiais de origem distinta (por exemplo, duodeno e íleo) para ter um comparativo e interpretações de condições inflamatórias/neoplásicas (LITTLE, 2012).
O linfoma intestinal é uma das principais doenças que o médico veterinário deve realizar o diagnóstico diferencial quando há suspeita da enteropatia crônica inflamatória, pois as manifestações clínicas são muito similares entre si, mas ocorre mudança no prognóstico a depender de qual doença for identificada. Ademais, a diferenciação no exame histológico das duas enfermidades pode ser considerada difícil por alguns patologistas. Existem uma série de classificações distintas para classificar o linfoma do trato gastrointestinal em felinos, o que possibilita compreender a amplitude dessa condição na medicina felina e sua frequência na rotina clínica. Os tumores que são de grau intermediário ou alto possuem um prognóstico mais reservado do que os linfomas de células pequenas (baixo grau) (LITTLE, 2012). A imuno-histoquímica é um exame que pode ser utilizado para auxiliar no diagnóstico, pois combina uma série de técnicas com o objetivo de identificar quais são as células presentes na amostra obtida.
RELATO DE CASO CLÍNICO
Felino, fêmea, 4 anos, castrada, sem raça definida e com última pesagem 3,6 kg (fevereiro de 2024) apresentando episódios eméticos sequenciados no mesmo dia com intervalo de 30 dias entre cada ocorrido, aproximadamente. Sendo essa a principal alteração manifestada pelo animal. O vômito, em sua maioria, era constituído por líquido e conteúdo espumoso, mas em alguns casos, a ração parcialmente digerida. O líquido varia entre coloração levemente amarelada e transparente.
Conforme relatado pela tutora, o animal apenas possuía esses episódios de vômito de forma isolada e sequencial – o intervalo de tempo entre os episódios foi diminuindo até chegar por volta de 30 dias, sem que houvesse sido administrado medicação, alterações na dieta ou no ambiente de convívio. Além disso, onde o gato reside há dois contactantes hígidos que não apresentam os mesmos sintomas. Todos os animais da residência (três felinos) testados negativos para PCR para FIV/FELV. O felino de estudo em questão realizou a pesquisa para os vírus da FIV e FELV aos 6 meses de idade e repetiu SNAP para essas doenças ao completar um ano. O protocolo vacinal anterior ao PCR de FIV/FELV foi feito com a quádrupla felina (vacina contra rinotraqueite, calicivirose, clamidiose e panleucopenia) e antirrábica. Em reforço anual, já com um ano de idade, a vacinação com antirrábica foi mantida, mas houve alteração para a quíntupla felina e assim se manteve o protocolo até os dias atuais. Vermifugação atualizada. A dieta alimentar baseava-se em ração para gatos castrados de categoria super premium, mas também eram ofertados petiscos e suplementos para evitar o excesso de acúmulo de pelos.
Outras manifestações clínicas como alterações nas fezes, apetite, perda de peso ou de outros sintomas não foram relatadas. Aos 6 meses de idade ocorreu o primeiro quadro de vômito do felino e, por esse motivo, ocorreu a procura por avaliação de médico veterinário. Foi solicitado e realizado ultrassonografia, onde não foram constatadas alterações significativas em laudo. Em descrição específica do trato gastrointestinal: a visualização do estômago foi comprometida pela presença de gás em lúmen, mas com sua parede normal espessa e estratificação preservada. No intestino as paredes também seguiram normas espessas (duodeno = 0,29 cm; jejuno = 0,18 cm e cólon 0,12 cm) e com sua estratificação preservada. Em exames de sangue, foi observado policitemia possivelmente devido a desidratação subclínica por jejum.
Por persistir os quadros de vômitos, quando completados 10 meses de idade, novos exames foram repetidos. Em ultrassonografia, foi identificado que não havia alterações em estômago, mas o intestino em região de duodeno estava com maior espessamento que a normalidade (0,39 cm). O linfonodo jejunal também apresentou dimensão aumentada (1,27 cm e 0,83 cm), ecogenicidade reduzida e parênquima homogêneo. Ademais, o baço apresentou sua dimensão aumentada. No eritrograma e leucograma não foram constatadas alterações.
Figura 1: Laudo da ultrassonografia aos 10 meses de idade.
Fonte: Arquivo pessoal, nov./2020.
Pouco mais de completar um ano, novo ultrassom foi realizado, onde não foram identificadas alterações. Ainda nessa idade, os vômitos apresentavam intervalo de tempo maior entre si.
Figura 2: Recorte de laudo ultrassonográfico com pouco mais de 1 ano de vida.
Fonte: Arquivo pessoal, maio/2021.
Em 2022 foi realizada coleta de exames para avaliação geral do animal. As três amostras de coproparasitológico coletadas em dias alternados não apresentaram alterações ou a presença de patógenos. Nos exames de sangue foi possível observar discreta policitemia. Já em bioquímicos, a função renal (Uréia e Creatinina), hepática (ALT, GGT e FA), Colesterol, Triglicerídeos, T4 e Bilirrubinas Totais e Frações estavam dentro da normalidade. O T4 total do felino também não resultou em alterações. Não foi realizada ultrassonografia abdominal.
Figura 3: Laudo da 1ª amostra de coproparasitológico.
Fonte: Arquivo pessoal, nov./2022.
Figura 4: Laudo da 2ª amostra de coproparasitológico.
Fonte: Arquivo pessoal, nov./2022.
Figura 5: Laudo da 3ª amostra de coproparasitológico.
Fonte: Arquivo pessoal, nov./2022.
No ano de 2023 os vômitos do paciente começaram a aumentar sua frequência resultando na queixa principal da tutora, onde a cada 30 dias o gato apresentava quadros de vômitos em sequência em apenas um dia. Nos dias que essa manifestação clínica ocorria, o paciente mantia seu comportamento habitual, se alimentava normalmente e sua ingestão hídrica e evacuação permaneciam preservadas. É importante salientar que nos dias anteriores ou posteriores ao fenômeno nunca foram encontradas alterações de fezes, pois sempre se estiveram em consistência e frequência dentro dos parâmetros da normalidade, segundo relato da tutora.
Com o aumento das êmeses, a tutora procurou novamente atendimento veterinário que culminou no diagnóstico do paciente com a Enteropatia Crônica Inflamatória.
Em consultório o felino teve seus parâmetros físicos concluídos em: eupneico e em ausculta com campos pulmonares limpos, taquicardia (172 bpm), mucosas normocoradas, hidratada, hipertermia (39,4ºC), linfonodos palpáveis não reativos, score corporal 6 e nada digno de nota em palpação abdominal. Acredita-se que o aumento da temperatura corporal do paciente pode ter ocorrido devido ao estresse e ao calor excessivo no dia da avaliação.
Foram solicitados e realizados os seguintes exames: hemograma, bioquímicos, T4, TSH, cobalamina e ultrassom abdominal. Nos exames de sangue foi observado um aumento das Bilirrubinas Diretas e Albumina. Já em ultrassonografia, íleo e ceco foram mensurados com as paredes espessas, 0,36 cm (em terço médio) e 0,31 cm, respectivamente. Além disso, os linfonodos jejunais estavam discretamente reativos.
Figura 6: Laudo de Bilirrubinas Totais e Frações, Tiroxina (T4), TSH Felino e Cobalamina.
Fonte: Arquivo pessoal. Nov./2023.
Figura 7: Recorte de laudo de ultrassonografia do trato gastrintestinal.
Fonte: Arquivo pessoal. Nov./2023.
Foi orientado que a tutora realizasse endoscopia digestiva alta, colonoscopia e repetisse hemograma e bioquímico antes do procedimento. Para avaliação cardiológica foi solicitado ecodopplercardiograma e eletrocardiograma. A dosagem de ferro e cálcio iônica também foi requisitada. Outrossim, foi indicado a mudança de ração para a gastrointestinal ou hipoalergênica (ficando a critério da tutora a eleição de qual utilizar e foi escolhida a primeira opção), sendo necessário o uso estrito desta. Também foi solicitado o uso de um comprimido de vermífugo com Praziquantel e Pamoato de Pirantel em sua composição a cada 24 horas por dois dias consecutivos. Além do vermífugo, foi receitado o uso de uma gota de complexo de vitamina (E, D3 e óleo de soja refinado) e 0,2 mg/kg de Bromoprida 4 mg/mL durante trinta dias.
No retorno foi avaliado os resultados de novos exames de hemograma, bioquímicos, fósforo, cálcio iônico – optado por ser mensurado através de hemogasometria, eletrocardiograma e o ecodopplercardiograma, onde não houve alterações. Com isso, os procedimentos e endoscopia e colonoscopia foram liberados. Foi autorizado pela proprietária a coleta de amostra de biópsia para histopatológico das mucosas de regiões de estômago, duodeno, íleo e cólon. Adicionalmente, foi informado pela tutora que aderiu a ração gastrointestinal. A nova dieta foi mantida por quatro meses e o tratamento instituído em consulta foi seguido, mas os vômitos continuaram na mesma frequência.
No resultado da endoscopia foi constatado gastrite e duodenite enantemática discreta, além de ileíte e retocolite folicular discreta – com peristalse reduzida. Não foram encontradas úlceras ou erosões.
Figura 8: Imagens do laudo de endoscopia alta e colonoscopia.
Fonte: Arquivo pessoal. Fev./2024.
Figura 9: Imagens do laudo de endoscopia alta e colonoscopia.
Fonte: Arquivo pessoal. Fev./2024.
Com a análise histopatológica foi identificado gastrite linfoplasmocítica crônica superficial branda, duodenite linfoplasmocítica discreta, ileíte linfoplasmocítica discreta e colite linfoplasmocítica discreta. Com isso, é possível concluir que o animal em estudo possui a Enteropatia Crônica Inflamatória tendo em vista sua etiologia idiopática.
Mesmo com a troca da ração de gatos castrados para a gastrointestinal, por conta da não estabilização do quadro, foi solicitado a troca para a dieta hipoalergênica. Com a troca da dieta, houve maior espaçamento entre as êmeses.
Após o diagnóstico da DII, foi instituído o tratamento e, na época, a pesagem do paciente estava em 3,5 kg e não estava sendo utilizado nenhuma medicação de uso contínuo.
Fora solicitado aviar 0,5 mg/cápsula de Bromoprida (dose de 0,15 mg/kg) e administrar uma cápsula, a cada vinte quatro horas, antes de refeição noturna durante trinta dias. O uso de Clorambucila 2mg (dose de 0,6 mg/kg) também foi requisitado duas vezes por semana de forma contínua, sempre seguida de refeição, até novas recomendações de acompanhamento médico da paciente.
Ademais, foi receitado o uso de corticoide, Prednisona 5 mg (dose 1 mg/kg), por trinta dias após refeição. Durante este período, administrar ¾ do comprimido. Ao finalizar os trinta dias, iniciar o desmame e diminuir a administração para 2/4 do comprimido (dose de0,7 mg/kg) durante 15 dias. Por último, administrar apenas ¼ do comprimido (dose de 0,35 kg/kg) durante 15 dias.
Ao término do tratamento instituído, o paciente apresentou estabilização nos episódios de vômito, conforme descrito pela proprietária. Sendo assim, foram solicitados novos exames de sangue e ultrassom abdominal. Nos hematológicos, todos os parâmetros se mantiveram dentro da normalidade. Já em ultrassonografia, foi possível identificar maior espessamento do terço médio do íleo. As alterações vistas em exame anterior de ultrassom no ceco e linfonodos jejunais não foram visualizadas, fazendo com que as estruturas em questão estivessem dentro do parâmetro da normalidade. O uso contínuo de Clorambucila foi mantido até nova avaliação.
CONCLUSÃO
Mesmo não havendo uma causa definida para a DII, essa doença deve ser uma das suspeitas em casos de vômito, diarreia ou perda de peso em felinos. Com o relato de caso, foi possível observar que, por menor que a frequência dos sintomas aconteça, a causa de alterações clínicas sempre deve ser investigada pelo médico veterinário, a fim de evitar diagnósticos tardios de doenças com sintomas similares e prognóstico reservados como, por exemplo, o linfoma. Além disso, o diagnóstico precoce evita maiores complicações para o animal.
O tratamento instituído tem como objetivo proporcionar conforto ao paciente – haja visto que não há cura para a DII. Sendo assim, o paciente diagnosticado com a Enteropatia Crônica Inflamatória deve ser acompanhado periodicamente e seus sintomas podem ser recidivos.
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¹Estudante de Medicina Veterinária – Universidade Metodista de São Paulo em 2024. Email: taynaalves.2510@hotmail.com
²Orientador e docente em Medicina Veterinária na Universidade Metodista de São Paulo. Email: augusto.baldassi@metodista.br.