DOENÇA CARDIOVASCULAR E ANSIEDADE CARDÍACA: UMA VISÃO NA ATENÇÃO TERCIÁRIA

CARDIOVASCULAR DISEASE AND HEART ANXIETY: A VISION IN TERTIARY CARE

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10814933


Ana Carolina Rossi; Ana Carolina Campelo; Ana Teresa Mesquita Villela; Calebe Silva Campos; Caroline Alves Aguiar; Caroline Wiedermann; Jéssica Patrocinio Milhomem; Júlia Marques Ramos; Mateus Viana de Lima; Paulo Victor Bertelli Castilho; Rafaela Galdeano Piantolo; Yuri Marques da Silva.
Acadêmicas de medicina da Universidade Estácio de Sá/IDOMED


Resumo:

Esse artigo tem como principal intuito pesquisa a correlação a doença cardiovascular em pessoas com ansiedade cardíaca. Os achados enfatizam a importância da monitorização dos estados de ansiedade em cardiopatas, podendo impactar na internação hospitalar, mortalidade e atuando como um fator de risco para essa população.

Palavras-chave: cardiovascular. ansiedade. atenção terciária.

Abstract: This article’s main purpose is to research the correlation between cardiovascular disease in people with cardiac anxiety. The findings emphasize the importance of monitoring anxiety states in heart disease patients, which can impact hospital admission, mortality and act as a risk factor for this population.

Keywords: cardiovascular. anxiety. tertiary care.

INTRODUÇÃO

A doença cardiovascular (DCV) é a principal causa de morte na América e no mundo. Base de dados do Estudo Global de Doenças demonstra que as DCV são responsáveis por 28,8% do total de mortes entre doenças crônicas não transmissíveis (GBD, 2017). No Brasil, em registro do mesmo ano, mais de 1.300.000 óbitos por esta causa foram declarados (DATASUS, 2017). Na avaliação das DCV, o papel dos fatores de risco e comorbidades é essencial. Entre esses fatores inclui-se a idade, sexo, dislipidemia, sobrepeso, tabagismo, diabetes e, em especial, transtornos psíquicos. Indivíduos que apresentam DCV aparentam possuir também maior predisposição a transtornos psíquicos, como a ansiedade e a depressão. A ansiedade cardíaca é definida pelo medo de sensações e estímulos relacionados ao coração e baseados em suas consequências negativas percebidas (SARDINHA, 2013). Em 2013 a publicação de um questionário específico, por Leissner et al, Questionário de Ansiedade Cardíaca (QAC), trouxe uma forma métrica para esta avaliação, posteriormente validado para utilização na população brasileira.

Como objetivo final do trabalho é necessário:

  1. Descrever a análise do perfil sociodemográfico, histórico de hábitos e presença de comorbidades em uma amostra populacional de pacientes de alto risco cardiovascular.
  2. Descrever a predominância de sintomas de ansiedade cardíaca, através da aplicação do QAC nesta população.
  3. Descrever o escore de risco de ansiedade cardíaca, através da aplicação do QAC.

MÉTODO

Trata-se de uma análise descritiva transversal de dados coletados por meio de questionário estruturado no Google Formulários, em amostragem por conveniência de uma população de alto risco cardiovascular, matriculada no Instituto Estadual de Cardiologia Aloysio de Castro, Hospital Terciário de Cardiologia da Zona Sul do Rio de Janeiro, localizado no bairro do Humaitá.

A pesquisa foi realizada no mês de março de 2023, após aprovação pelo CEP local e assinatura de TCLE. Após coleta de dados de identificação, hábitos, fatores de risco e comorbidades, aplicou-se o questionário QAC validado para a população brasileira. O questionário validado é composto por 14 perguntas (de 18 originais do artigo americano) e foi retirado do artigo “Validação da Versão Brasileira do questionário de ansiedade cardíaca por Aline Sardinha, Antonio E. Nardi e Georg H. Eifert.

RESULTADOS

A maioria dos pacientes se preocupam com as batidas do coração mesmo que seus exames estejam normais. Um número pequeno de pacientes acorda com dor ou desconforto no peito. Em relação a preocupação quanto aos médicos acreditarem se os sintomas são verdadeiros ou não, há um balanceamento entre os que se preocupam e os que não se preocupam com esse fato. Quando o coração está acelerado, a maioria relata ter medo e necessidade de ir ao médico. A grande maioria dos pacientes sentem medo e ansiedade em relação à doença coronariana e acabam evitando o exercício físico ou esforço, tanto por medo quanto por debilidade pela própria doença. Escore de risco com mediana 30 (8-56) com escore médio de 17,9 no quartil 1 e 41,5 no quartil 4.

Figura 1: CARACTERÍSTICAS SOCIODEMOGRÁFICAS, FATORES DE RISCO E
COMORBIDADES DA POPULAÇÃO ENTREVISTADA

Gráfico 1: DEMONSTRAÇÃO GRÁFICA DOS QUESITOS RELACIONADOS A MEDO E
HIPERVIGILÂNCIA DO QUESTIONÁRIO DE ANSIEDADE CARDÍACA

Gráfico 2: DEMONSTRAÇÃO GRÁFICA DOS QUESITOS RELACIONADOS A EVITAÇÃO
DA INDUÇÃO DE SINTOMAS DO QUESTIONÁRIO DE ANSIEDADE CARDÍACA

Gráfico 3: DEMONSTRAÇÃO GRÁFICA DA DISTRIBUIÇÃO DO ESCORE DE RISCO DE
ANSIEDADE CARDÍACA

DISCUSSÃO

As pessoas que possuem transtorno de ansiedade apresentam um risco maior para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e frequentemente apresentam comorbidades psiquiátricas. Após receber um diagnóstico de doença cardíaca, alguns pacientes passam a se concentrar intensamente no funcionamento do coração, e ficam dominados pelo medo e preocupação com os sintomas cardíacos (ansiedade cardíaca), corroborando alguns dos resultados que obtivemos nos resultados associados ao medo, hipervigilância e evitação. O tabagismo é frequentemente relacionado a histórico de distúrbios psíquicos, como a ansiedade, o que pudemos observar em nossa população com alta prevalência de ex-tabagista e relato de interrupção pós evento coronariano. As principais comorbidades presentes em nossa amostra foram hipertensão arterial e diabetes mellitus, ambos tendo correlação com a ansiedade. Pacientes com frequentes crises de ansiedade, apresentam exacerbação da atividade simpática, o que acarreta aumento da resistência vascular periférica e níveis elevados de pressão arterial. Seguindo o próprio escore de ansiedade em pessoas com risco cardiovascular avaliado no estudo, o maior escore atingido foi 56 tendo 40 indivíduos presentes no último quartil. Este dado reafirma a correlação da ansiedade com doenças cardiovasculares em populações de alto risco. Por fim, enfatizamos a importância da pesquisa clínica e monitorização dos estados de ansiedade em cardiopatas, não só atuando na possível redução do fator de risco independente, a ansiedade, como também podendo impactar em internação hospitalar e mortalidade nesta população.

CONCLUSÃO

Em uma amostra populacional transversal de pacientes de alto risco cardiovascular , observou-se: 1.distribuição semelhante entre os sexos, média de idade de 66,5 anos (42-88 anos), maioria referindo ser de cor branca ou parda. Mais de 50% são ex-tabagistas, tendo sido interrompido por conta de evento coronariano prévio, com alta prevalência de hipertensão arterial, doença coronariana e diabetes mellitus nesta população; 2. sintomas mais frequentemente relatados: medo ao sofrer taquicardia, preferência de serem devidamente avaliados por médicos, preocupação com sua patologia e evitação de esforços físicos; 3. percentual elevado (48%) da população entrevistada nos quartis 3 e 4 de risco de ansiedade cardíaca.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SOCERJ. Ansiedade cardíaca: O que é e qual o seu impacto no tratamento das doenças cardiovasculares. Disponível em:<https://socerj.org.br/ansiedade-cardiaca-o-que-e-e-qual-o-seu-impacto-tratamento-das-doencas-cardiovasculares/>

SARDINHA, Aline. et al. Validação da versão Brasileira do Questionário de Ansiedade Cardíaca. 2013. Disponível em:< https://doi.org/10.25248/reamed.e9014.2021>

LEISSNER P, Held C, Rondung E, Olsson EMG. The factor structure of the cardiac anxiety questionaire, and validation in a post-MI population. BMC Med Res Methodol. 2022 Dec 29;22(1):338. doi: 10.1186/s12874-022-01820-5. PMID: 36581833; PMCID: PMC9798544.