DIVERSITY, APPLICABILITY, AND CIRCULATION OF MEDICINAL PLANTS IN AN URBAN COMMUNITY IN THE INTERIOR OF BAHIA
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202412061156
Juliana Santos Rocha1
Coautores:
Laís Souza dos Santos Farias2
Jaqueline Souza dos Santos3
Josenaldo Souza Cruz4
Gabriela Souza da Conceição Costa5
João Gustavo Rocha Gusmão6
Amanda Santos Reis7
Emilio José Santos Gusmão8
Orientadora:
Carla Daiane Costa Dutra9
RESUMO
Este trabalho visou pesquisar a relação do sistema integrado que envolve a saúde pública e os conhecimentos locais associados à biodiversidade, por meio de uma avaliação dos conhecimentos e práticas envolvendo o uso de plantas medicinais, em especial da circulação de plantas e transmissão de saberes na comunidade do bairro Nossa Senhora da Vitória, zona urbana de Ilhéus-BA, uma região próxima da Mata Atlântica. O presente estudo pretendeu delinear e compreender o fluxo das plantas medicinais no território por meio dos líderes e cuidadores de hortas e quintais, entendido neste trabalho como uma das principais práticas de manutenção de recursos fitogenéticos e de saberes em áreas periurbanas na Mata Atlântica. Visou também entender os usos das plantas medicinais dessa comunidade através do método etnobotânico através de instrumento de entrevista semiestruturado com os atores locais. Foram utilizados métodos qualitativos e quantitativos e análise do discurso coletivo. Foram elencadas 48 plantas de uso medicinal no bairro pelos especialistas locais, dentre as plantas mais utilizadas. Destas, 41% são de surgimento espontâneo nos quintais, capoeiras e florestas, o restante é de plantas medicinais cultivadas de outros ecossistemas. Conclui-se que existe circulação de plantas e conhecimentos que são transmitidos principalmente entre familiares de ascendência como pais e avós, figurando preferencialmente transmissão vertical. A reintrodução de plantas nativas nesse ambiente urbano, além de favorecer o aumento da diversidade biológica local, pode perpetuar a função ecossistêmica de fornecer plantas de uso terapêutico para essa comunidade.
Palavras-chave: Plantas medicinais. Biodiversidade. Saúde pública.
ABSTRACT
This work aimed to investigate the relationship of the integrated system that involves public health and local knowledge associated with biodiversity, through an evaluation of knowledge and practices involving the use of medicinal plants, especially plant circulation and transmission of knowledge in the community of Nossa Senhora da Vitória, urban area of Ilhéus, an area close to the Atlantic Forest. With the present study it was intend to delineate and understand the flow of medicinal plants in the territory through the leaders and caregivers of gardens and backyards, understood in this work as one of the main practices of maintenance of phytogenetic resources and knowledge in peri-urban areas in the Atlantic Forest. It also aimed to understand the uses of medicinal plants in this community through the ethnobotanical method and the instrument of semi-structured interviews with local actors. It was used qualitative and quantitative methods and the analysis of collective discourse. There were 48 plants for medicinal used in the neighborhood and listed by local specialists, among the most used plants. Of these, 41% are of spontaneous origin in backyards, farms and forests, the rest are of medicinal plants cultivated from other ecosystems. Concludes that there is a circulation of plants and knowledge that are transmitted mainly among relatives of ancestry as parents and grandparents, with preferably vertical transmission. The reintroduction of native plants in this urban environment besides favoring the increase of local biological diversity can perpetuate the ecosystem function of providing plants of therapeutic use to this community.
Keywords: Medicinal plants. Biodiversity. Public health.
1. INTRODUÇÃO
O bairro Nossa Senhora da Vitória em Ilhéus foi escolhido como local deste estudo por ser referência reconhecida na região no desenvolvimento de trabalhos comunitários com plantas medicinais.
O tema proposto para esta pesquisa é a diversidade, usos e circulação de saberes sobre plantas medicinais no bairro Nossa Senhora da Vitória em Ilhéus, Bahia. A pergunta que orientou o trabalho foi: quais são as práticas e usos das plantas medicinais pela comunidade do bairro Nossa Senhora da Vitória e como os moradores atuam para perpetuação das plantas e saberes associados? Para responder estas perguntas foi delineado o seguinte objetivo geral: avaliar o conhecimento e a circulação das plantas medicinais na localidade. E os objetivos específicos foram: identificar quais são as plantas que são mais utilizadas e quais as suas principais características na percepção dos entrevistados. Buscou-se também verificar os usos e práticas das plantas identificadas, bem como traçar um mapa de circulação e fluxo das plantas medicinais utilizadas.
Realizar um primeiro levantamento básico e conhecer o banco fitogenético1* medicinal das plantas do bioma da Mata Atlântica utilizado pela população de um bairro da zona sul do município de Ilhéus que é vizinho a uma aldeia indígena me inspira nesse trabalho.
Esses usos e ações podem ter desenvolvido um sistema terapêutico tradicional local, fato que, se confirmado, pode estar gerando um fluxo de espécies de plantas medicinais em circulação dentro do território estudado e entre os locais de floresta próximas e quintais do bairro.
O uso das plantas medicinais é amplamente realizado pelo ser humano por todo o mundo desde tempos remotos. Conhecimento que deu origem aos medicamentos hoje utilizados na farmacologia moderna, visto que grande parte dos medicamentos sintéticos são derivados de plantas, fungos, animais e seus derivados (ALBUQUERQUE, U., 2014). O saber tradicional dos recursos biológicos, conforme Ulisses Albuquerque (2014), tem despertado o interesse do público em geral e da indústria sobre os produtos naturais na busca da biodiversidade para fins farmacêuticos, biotecnológicos e conservacionistas.
Segundo Elizabeth Ferreira (2010, p.212):
A busca do homem por soluções que pudessem aplacar suas dores e doenças foi sempre incessante e remonta ao seu aparecimento na face da Terra. No início, com tal objetivo, ele se valia da natureza como fonte de substâncias terapêuticas.
As plantas da Mata Atlântica2* que têm eficácia analisada pela ciência e que constam na farmacopeia brasileira são poucas. Mesmo que, dentre as plantas nativas de uso terapêutico muitas ainda não constem na farmacopeia nacional, estas são respaldadas pelo uso das comunidades tradicionais e estudos.
As plantas medicinais que são de interesse do SUS devem ter o registro facilitado (MONTANARI apud ALVES FILHO, 2009), o que reflete a necessidade de maior estudo pelos órgãos nacionais de pesquisa, pois é conhecido o uso de uma quantidade muito maior de plantas utilizadas nas comunidades tradicionais. Entretanto, deve-se ressaltar todo debate a respeito dos processos éticos e de repartição de benefícios junto às comunidades detentoras e fornecedoras de seus conhecimentos, como atesta uma vasta literatura a respeito (SANTILLI, 2009).
Di Stasi (1996) ressalta que o potencial de existência de novos medicamentos é proporcional ao número de espécies. Nesse contexto está embasada a relevância da conservação da biodiversidade3* para manutenção e continuidade de uso terapêutico das plantas pelas comunidades locais. Primack e Rodrigues (2001) nos trazem a reflexão de que o mundo natural é uma importante fonte de novos medicamentos, sendo que vinte e cinco por cento dos medicamentos usados contém ingredientes derivados de plantas. Por isso, utilizar as plantas medicinais existentes em cada local e pesquisar sobre elas podem solucionar problemas de saúde ainda não resolvidos.
A possibilidade de sua utilização para esse fim é em si um serviço ecossistêmico de fundamental importância para a vida humana. A Mata Atlântica é um bioma4* ameaçado e com grande biodiversidade reconhecida. Seu potencial em termos de reserva fitogenética deve ser conservado e valorizado pelas comunidades que a margeiam.
Ming (2006) explica que a ONU, desde 1976, tem realizado assembleias e formulado resoluções visando estimular a medicina tradicional em todos os países.
E que, alarmados, os participantes do Fórum Internacional da ONU sobre Conservação de Plantas Medicinais, em 1988, declararam reconhecer a importância das plantas medicinais nos cuidados primários de saúde; preocupados também com a crescente e inaceitável perda dessas plantas medicinais pela destruição de seu habitat e práticas de coleta não-sustentáveis, pois muitas das plantas que resultam em medicamentos modernos e tradicionais estão ameaçadas.
Ainda segundo o autor, preocupado também com a “contínua erosão e perda de culturas indígenas que geralmente detêm os conhecimentos que geram a descoberta de novas plantas medicinais que podem beneficiar a comunidade global” (MING, 2006, p.23). Conforme a Convenção sobre Diversidade Biológica (BRASIL, 1994), definiu-se recomendações para proteção desses grupos populacionais e seus conhecimentos sobre as plantas de uso terapêutico.
Matos e Lorenzi (2008) recomendam que, visando diminuir o número de excluídos dos sistemas governamentais de saúde, os órgãos responsáveis pela saúde pública de cada país procedam a levantamentos regionais das plantas usadas na medicina popular tradicional e as identifiquem botanicamente, estimulando e recomendando o uso daquelas que tiverem comprovadas eficácia e segurança terapêuticas.
O argumento do presente trabalho é que as áreas verdes urbanas têm um papel fundamental na qualidade de vida humana. Estas são definidas por Matos e Queiroz (2009) como o local dentro de uma cidade com solo não impermeabilizado e com presença de vegetação, predominando a arbórea. Ainda trazem a contribuição de que as áreas verdes podem ser categorizadas como: arborização de ruas, avenidas, rotatórias, praças, parques, jardins, dentre outras.
Com vistas à conservação, Ulisses Albuquerque (2014) trata sobre a importância da presença de cobertura vegetal nativa dentro das cidades que cumprem um papel estruturante de serviços ecossistêmicos. Espaços como terrenos baldios, encostas íngremes e jardins com poucas intervenções funcionam como remanescentes e fontes de propágulos à vegetação local e sítios de refúgio e acolhimento para animais (ALBUQUERQUE, 2014). Disponibilizar conhecimentos relativos a utilidades de plantas nestas áreas urbanas pode gerar o desejo das populações de plantar, cuidar e gerir os recursos provenientes desse espaço.
O Censo de 2010 mostrou uma população urbana no Brasil de 80% e na Bahia em mais de 60% (IBGE, 2010). Com o comportamento nos últimos anos de aumento das moradias em áreas urbanas a tendência é de maior degradação ambiental se não forem tomadas medidas de controle de corte de árvores urbanas e de replantio em locais apropriados.
2. METODOLOGIA
O percurso metodológico desta pesquisa é embasado na etnobotânica, que, conforme Martin (2000), trata dos conhecimentos locais ou tradicionais a respeito das plantas. O estudo trata das plantas de uso terapêutico, também chamadas de plantas medicinais. Medicinal, segundo o Dicionário Aurélio (FERREIRA, A. 1998), é o que serve de remédio. Etno é um prefixo muito em moda nesta época, como trata Martin (2000, p. XXV), porque é uma forma curta de dizer: “esta é a forma como os outros olham para o mundo”. Quando se utiliza antes do nome de alguma disciplina acadêmica, como por exemplo a botânica, quer dizer que os investigadores estão buscando a percepção que as populações locais têm do conhecimento cultural e científico a respeito das plantas.
O método etnobotânico contribui para que os conhecimentos das populações locais e a vegetação sejam mais bem compreendidos e conservados (MING, 2006).
A análise será do discurso coletivo, que, segundo Flick, Kardorff e Steinke (2002), os estudos analíticos do discurso combinam procedimentos analíticos da linguagem com análises de processos de conhecimento e construções sem restringirem-se aos aspectos formais das apresentações e dos processos linguísticos. Inicialmente deve-se proceder a leitura cuidadosa das transcrições, seguida pela codificação do material, sua análise e, por fim, realizar os repertórios interpretativos utilizados nos textos (FLICK; KARDOFF; STEINKE, 2002).
A técnica escolhida para coleta de dados a respeito do conhecimento e circulação das plantas medicinais no bairro estudado foi a de entrevistas semiestruturadas a pessoas chave, a exemplo de cuidadores de hortas medicinais.
Segundo Oliveira, Viana Jr. e Costa (2015), o ato de entrevistar é uma relação que se constrói entre as pessoas envolvidas, com diferentes trajetórias e saberes plurais; deste modo, em diálogo, como ele assinala, entrevista é um momento no qual se encontram experiências de vida diferentes.
O tipo de entrevista semiestruturada, segundo Ulisses Albuquerque (2010), é aquela em que as perguntas são parcialmente formuladas pelo pesquisador antes de ir para campo, apresentando grande flexibilidade, pois permite aprofundar elementos que podem surgir durante a entrevista. O pesquisador pode anunciar de antemão os temas e dispor de um guia para a entrevista.
Martin (2000) diz que entrevistas semi estruturadas são as quais determinam de antemão algumas perguntas e outras surgem durante o transcurso da conversação.
O roteiro da entrevista foi planejado no intuito de elencar as plantas medicinais mais utilizadas no bairro estudado pelas pessoas conhecedoras das práticas tradicionais e as maneiras como elas cuidam das hortas medicinais. Foram traçadas questões relativas ao fluxo de circulação das informações e conhecimentos associados às plantas e sobre a circulação das espécies no território.
Quanto à definição dos sujeitos da pesquisa, traz-se a visão de Ulisses Albuquerque (2010), que diz que os termos informantes principais e informantes chave se tratam de pessoas selecionadas dentre todos os informantes para colaborar mais ativamente na pesquisa, sendo escolhida por critérios definidos pelo pesquisador. E a visão de Martin (2000) que diz que:
[…] a maioria dos antropólogos chama de informante a gente local que compartilha sua cultura e seu conhecimento ecológico. Em alguns países e em determinadas circunstâncias sociais esse termo é considerado depreciativo e preferem utilizar outros termos, tais como entrevistado, sujeito, participante respondente, colaborador, contraparte local. (MARTIN, 2000, p.87).
Embora o pesquisador defina quais os aspectos e critérios para escolha dos informantes de sua pesquisa, Martin (2010) sugere algumas questões úteis: não se basear somente em aspectos quantitativos da entrevista (número de plantas citadas, por exemplo), mas também nas sutilezas das informações obtidas; levar em consideração a peculiaridade ou originalidade da informação; e por fim, o pesquisador não pode se dar ao luxo de perder as informações impressas nas entrelinhas das conversas.
Por isso foram utilizados os métodos qualitativo e quantitativo em triangulação.
A metodologia qualitativa, segundo Lakatos e Marconi (2011), preocupa-se em analisar aspectos mais profundos, descrevendo a complexidade do comportamento humano, com a análise mais detalhada sobre as investigações, hábitos, atitudes e tendências de comportamento. No método quantitativo, referem que os pesquisadores se valem de amostras amplas e de informações numéricas e propõem que a técnica da triangulação pode ser utilizada com a combinação de metodologias (LAKATOS; MARCONI, 2011). Neste trabalho, a triangulação foi interpretada como o movimento no uso do método ora quantitativo ora qualitativo, de acordo com o dado a ser discutido.
Elisabeth Albuquerque (2009) trata da necessidade de se trabalhar com especialistas locais, pessoas que são reconhecidas em sua comunidade como excelentes conhecedoras das plantas e/ou animais da região. E ressalta que essa escolha metodológica implicaria no envolvimento de 100% desses informantes, para que os dados obtidos possam refletir a experiência do universo.
A presença de cobertura vegetal em áreas urbanas é importante, tanto para a qualidade de vida humana como para a condição de existência de espécies que consigam se adaptar ao ambiente urbano. Até o momento, não foi realizado pela Prefeitura o levantamento por georreferenciamento do percentual de cobertura vegetal por bairro no município.
Esses fragmentos vegetais na área urbana são locais propícios para o crescimento e desenvolvimento de espécies de interesse humano, a exemplo das plantas de uso terapêutico.
Não trabalhamos diretamente com povos indígenas nesta pesquisa, mas percebemos em muitos momentos, quando em contato com a comunidade estudada, que ainda há uma forte relação destes com a aldeia indígena próxima ao bairro. Por isso, essas pessoas com conhecimento das plantas medicinais locais têm grande potencial para a manutenção dos saberes relacionados à floresta próxima e seus usos terapêuticos.
No bairro Nossa Senhora da Vitória existe, do lado Oeste, um margeamento de florestas ameaçadas e, do lado Leste, o mar das praias do Sul com mangues e restingas. Na rua principal, chamada Rua da Matriz, encontram-se localizadas as casas com melhor acabamento e esta é pavimentada com calçamento de pedras. Nela encontram-se os principais serviços comerciais e serviços públicos como escola, posto de saúde e módulo policial. Nas áreas que margeiam os morros, as casas apresentam estruturas mais precárias e as ruas próximas não possuem pavimentação.
Ao final desta pesquisa, em junho de 2017, foram iniciadas as obras para canalização de 100% do sistema de esgotamento sanitário do bairro, obra promovida pela Empresa Baiana de Águas e Saneamento (EMBASA). Fato que minora os riscos de contaminação dos alimentos e plantas produzidas no solo da área.
Na atenção à saúde5*, o bairro possui uma unidade que contempla três equipes de Saúde da Família, com serviços básicos e Estratégia de Saúde da Família (ESF), caracterizada pela maior aproximação dos membros das equipes especializadas com a população por meio de visitas domiciliares e presença do profissional Agente Comunitário de Saúde (ACS) e demais membros constantes.
Segundo Azevedo (2012), a relação equilibrada entre o ser humano e a natureza é o princípio básico de manutenção da saúde, por isso o estado natural do ser humano deveria ser o de equilíbrio e saúde. Como trata Azevedo (2012), saúde num conceito amplo, está ligada a estilos e condições de vida saudáveis que incluem determinantes socioambientais.
2.1 OS INTERLOCUTORES DA PESQUISA
A população estimada do bairro definido para a pesquisa gira em torno de 8 mil pessoas. Porém, os detentores do conhecimento acerca das plantas utilizadas no bairro, denominados aqui como especialistas locais (EL), foram identificados levando em consideração os critérios de possuir quintal medicinal, saber cultivar plantas com fins terapêuticos e ter conhecimento reconhecido sobre as mesmas.
Os critérios que foram definidos para a escolha dos especialistas locais nesta pesquisa levaram em consideração o conhecimento reconhecido e a indicação entre eles mesmos, partindo de um especialista-chave (EC), cuja primeira identificação foi utilizada como estratégia de nome fantasia.
Joana é proprietária do maior quintal de plantas medicinais do bairro. Essa especialista-chave indicou três especialistas locais. Esses três especialistas subsequentes indicaram mais três.
O grupo de agentes comunitários de saúde também foi referenciado nas conversas como parceiros nas atividades e especialistas em plantas medicinais, sendo parte do quadro de estrutura oficial de saúde. Apesar de não terem quintais, detêm conhecimento sobre as plantas terapêuticas do bairro.
Foram realizadas 10 entrevistas semiestruturadas com esses especialistas pré-identificados, por escolha no tipo metodológico “bola de neve”.
O fluxo de indicações da bola de neve foi dividido em três fases para facilitar o entendimento. O início do processo se deu com a identificação da pessoa compreendida como a especialista chave. A EC Joana foi referida pelos membros do grupo como a principal chave desse processo e ela ajudou na sinalização de outros especialistas locais.
2.2 CIRCULAÇÃO DE PLANTAS MEDICINAIS E SABERES RELACIONADOS
Os moradores do bairro Nossa Senhora da Vitória compartilham conhecimentos e partes das plantas que necessitam cotidianamente. Foi possível observar, além dos usos tradicionais locais, a forma como as plantas circulam no território e a maneira pela qual os conhecimentos acerca delas são firmados.
Na pesquisa, com base nas entrevistas, os quintais foram descritos como principais locais fornecedores de plantas de uso terapêutico, seguidos dos terrenos baldios ou capoeiras que se localizam nas laterais das ruas de passagem. Finalmente, as florestas circunvizinhas e as áreas externas à comunidade servem de repositório de exemplares vegetais para reprodução e continuidade dos cultivos.
2.3 Circulação das plantas medicinais no território estudado
Com base nas entrevistas realizadas na presente pesquisa, foi observado e traçado um mapa de circulação das plantas medicinais no território. O termo “casa” no mapa corresponde aos quintais dessas casas que têm plantas medicinais. Nesse mapa de fluxo vê-se, de acordo com as falas dos participantes da pesquisa, que acontece um tipo de ecossistema de trocas entre a floresta e a área urbana próxima das casas e do posto de saúde.
A Figura 11 foi produzida na perspectiva de gerar um mapa ilustrativo com a sinalização por setas direcionadoras que indicam de onde partiram doações ou as aquisições de espécies das plantas citadas no território.
Neste momento está especificado apenas o movimento das plantas citadas, sem especificação das espécies. As setas foram caracterizadas em se tratando da circulação das plantas, de onde vieram e para onde se dirigiram.
Os locais caracterizados em verde são as áreas naturais de reposição – Floresta, Áreas fora da comunidade, Capoeira na Barreira – e a Feira do bairro Malhado, que é uma estrutura de venda de produtos predominantemente provenientes de pequenos produtores rurais.
As casas estão sinalizadas em azul, sendo que a de Joana é a casa com maior quintal. As casas caracterizadas com trapézio azul são as com quintais menores. Já as com formatos circular e oval não possuem quintal, mas têm alguma planta específica em terreno ou caqueiro, de onde também já se forneceu algum componente para dispersão das plantas, em forma de muda, estaca ou semente. Essas últimas são as casas de Geilda e dos ACS.
Pode-se observar no mapa de fluxo de circulação das plantas no território estudado que existe um movimento de retirada das plantas da floresta para as casas e quintais do bairro e para o posto de saúde (7). Existe um fluxo intenso de retirada e recebimento de plantas na casa de Joana (34), atualmente o maior quintal com plantas medicinais do bairro.
As áreas de fora da comunidade são importantes fontes de material, com 16 plantas fornecidas. Capoeiras na Barreira ou caminhos de passagem representam o segundo local repositor, com 9 plantas, seguido da Feira do Malhado, com 4 plantas.
As setas ou flechas direcionais foram geradas no sociograma de acordo com o movimento das plantas no território realizado pelos especialistas locais, conforme o relato das entrevistas. O movimento dessas plantas locais se deu por meio do plantio de mudas, sementes, frutos ou estaquias.
O posto de saúde não possui quintal ou jardim para ser possível o cultivo no local, porém tem uma área central onde são confeccionadas as receitas e para onde são direcionadas as coletas com fornecimento para a população em geral. Nesse local de convergência, além de serem elaboradas as receitas, são feitas oficinas de ensinamento sobre as plantas envolvidas no preparo.
O fluxo de circulação das plantas informadas no território segue o movimento de acordo com as setas, com dois tipos de sentidos: unidirecional, quando segue apenas um sentido; e bidirecional, quando o movimento é nos dois sentidos, de ida e volta.
Entre as casas de Joana e Valquiria, Joana e Genilda, Lourdes e Noêmia, o fluxo é bidirecional; os demais fluxos seguem sentido único ou unidirecional. Esse mapa de circulação apresenta o movimento entre as principais áreas e quintais. Existe, porém, o fornecimento e movimento específico de cada quintal, com suas principais fontes individuais aos quais iremos detalhar melhor a seguir.
Na Tabela 9 estão descritas a quantidade de plantas terapêuticas que entraram nas casas e quintais das especialistas, especificando as origens.
Fonte: Elaborada pela autora com os dados da pesquisa.
Segundo os especialistas locais, as áreas que são fontes de recurso fitogenético das plantas terapêuticas são classificadas inicialmente como “de dentro da comunidade” e “de fora da comunidade”, sendo essa a primeira distinção referida.
Dentre as áreas de fora do bairro, entram aqui a Feira do bairro Malhado (06), local de comércio de produtos agrícolas da cidade e região, sítios e quintais de outros bairros, como também cidades circunvizinhas.
Foram citados os locais externos ao bairro, ou seja, fora da comunidade, que são os seguintes: Feira do Malhado (06), sítio no Jairi (01), Sapucaieira – Aldeia indígena (02), estes dois últimos ainda na zona Sul da cidade. E citadas como locais originários, as cidades vizinhas de: Buerarema (01), Itabuna (01), Almadina (01), Salvador (02) e Jequié (02), estas duas últimas mais distantes do município de Ilhéus.
Já quando se trata das localidades dentro do bairro, essa gama fica maior em número de citações: são quintais dos próprios especialistas (34), principalmente o de E 2; quintais de outros vizinhos que têm algumas variedades (14); terrenos baldios e Capoeiras na Barreira (09); Floresta próxima, Mangue e Praia/restinga (07).
São utilizados como locais repositores os que foram nomeados no mapa de circulação como áreas de fora da comunidade, todos os sítios e cidades mais distantes, a exemplo de Couto, Jairi, e das cidades como Itabuna e Jequié. Desses locais, é observado apenas fluxo de saída, para entrada no sistema local de cura.
A casa de E 2 tem um intenso fluxo de entrada e saída de diversas plantas, tanto de mudas como de partes isoladas para as receitas.
A última tabela apresenta uma variação das plantas que não foram possíveis determinar a circulação, visto que nasceram sozinhas, ou seja, de desenvolvimento espontâneo. Foram 20 no total: Cidreira de folha (03), Tetrex (01), Anador (01), Cajueiro (01), Pitanga (01), Aroeira (03), Mastruz (01), Trançagem (01).
As mudas e partes removidas da floresta somente seguem um fluxo de saída, mostrando que ela é um importante repositor fitogenético no território estudado. Das florestas da cidade de outras localidades também partem espécimes para a Feira do Malhado.
A Feira do Malhado é um local procurado para reposição de espécies, principalmente as sazonais e as espécies pioneiras, a exemplo da Babosa, Hortelã e de algumas exóticas, como o Confrei. Aqui subentende-se as plantas que não são nativas e que em geral não têm a característica de invasoras, pois são cultivadas.
A Feira do Malhado, que como o nome indica fica no bairro do Malhado, localizado mais ao Norte da cidade de Ilhéus, é onde observa-se apenas o fluxo de saída das plantas.
Os especialistas locais identificaram as espécies como cultivadas e não cultivadas. As plantas cultivadas são predominantemente de origem de outros biomas.
As plantas medicinais não cultivadas são as que na área de estudo crescem espontaneamente ou que necessitam de poucos cuidados. Inicialmente acreditamos que seriam em maior número de citações de uso, porém foi constatado que a maioria das citações foram das cultivadas.
2.3.1 Circulação dos conhecimentos e saberes sobre as plantas medicinais
Esta etapa da pesquisa trata de como vem acontecendo a transmissão dos conhecimentos e saberes acerca das plantas de uso terapêutico na localidade do Bairro Nossa Senhora da Vitória, tendo em vista as respostas fornecidas pelos especialistas locais quando questionados quanto a quem os ensinou sobre as plantas medicinais nas entrevistas realizadas.
Foi possível observar que o aprendizado se deu de maneira vertical (09) e horizontal (08) em importância numérica próxima. Segundo Morais e Neves (2012), conhecimento transmitido de maneira vertical é caracterizado quando existe uma hierarquia (geracional, por exemplo), e horizontal é quando ocorre entre pares de mesma grandeza na estrutura social.
Os especialistas entrevistados são: três pertencentes à Pastoral da Saúde; cinco funcionários do Posto de Saúde; e dois são pessoas leigas e rezadeiras, não pertencentes a essas últimas estruturas organizacionais referidas.
As plantas foram conhecidas por meio dos ancestrais familiares: pai, mãe, avós, sogra e cunhado (este sendo 30 anos mais velho que a pessoa entrevistada), por isso com comportamento verticalizado, que é compreendido por Ulisses Albuquerque (2013) como mais lento, conhecido como a estratégia de evolução cultural de “muitos para um”.
Também houve o aprendizado por meio de estruturas oficiais. Na comunidade estudada, foram referidas a Pastoral da Saúde e o Posto de Saúde. Nesse caso, a estratégia de difusão utilizada é a horizontal “de um para muitos”, que, segundo Ulisses Albuquerque (2013), é mais rápida, menos conservadora e mais aberta a inovações.
Não foi relatado aprendizado por meio da estrutura oficial de maior relevância no processo de ensino/aprendizado, que é a escola. Não houve relatos de conhecimento de planta medicinal por meio desta, fato que gera preocupação, pois pode ser uma falha na malha de transmissão dos saberes e aumento do risco na resiliência do sistema.
Smith-Oka (2008) estudou os usos de plantas medicinais em saúde reprodutiva e observou que houve um hiato geracional na transmissão dos conhecimentos etnobotânicos por dois fatores principais: a introdução da biomedicina e o fato de não se fazerem novos aprendizes. Segundo a autora, a geração mais jovem não tem sido sensibilizada quanto à utilização medicinal das plantas e sugere a realização de pesquisas em comunidades periurbanas, pois é possível que isso ocorra por todo o mundo.
A seguir, a Tabela 10 trata da relação entre a participação em curso sobre o tema de plantas medicinais e possuir horta.
Fonte: elaborada pela autora com dados da pesquisa.
Participaram de atividades sobre plantas medicinais promovidas pela equipe de saúde do bairro 80% dos entrevistados, tendo 50% posse de horta medicinal.
Todos os participantes dos cursos específicos possuíam hortas anteriormente aos cursos, sendo que somente dois deles, E 8 e E 10, não participaram dos cursos e possuem horta com plantas terapêuticas.
Os cursos na Unidade de Saúde ocorreram no decorrer dos últimos oito anos. Esse dado reforça que a comunidade tem um vínculo com o tema “plantas medicinais” anterior à ocorrência das ações na Unidade de Saúde.
Os especialistas locais possuem horta medicinal em um período que varia de dez a trinta anos. Ulisses Albuquerque (2014) refere que o tempo de moradia interfere no conhecimento dos recursos naturais e na sua utilização de forma positiva, ou seja, quanto maior o tempo de permanência no território, maior é o conhecimento acerca dos recursos naturais existentes nele.
A circulação dos conhecimentos e saberes sobre plantas de uso medicinal na comunidade estudada tem sido realizada de maneira vertical entre pessoas com experiência reconhecida e entre familiares intergeracionalmente, e de maneira horizontal por meio da Pastoral da Saúde e do Posto de Saúde.
A entrevista semiestruturada possibilita o surgimento de novas inquirições no seu percurso, sendo acrescentado se houve algum momento tratado sobre a importância de plantas medicinais na escola e todos os respondentes foram unânimes na resposta negativa.
A não observação da transmissão desse conhecimento pelo sistema de ensino escolar é preocupante, pois a deterioração da transmissão de saberes tradicionais e transgeracionais é algo passível de acontecer em qualquer contexto social com acesso aos bens globalizados.
A transmissão do conhecimento vertical apesar de mais lenta é conservadora. Ela é observada na comunidade pesquisada associada à transmissão horizontal. A transmissão horizontal do conhecimento, que é mais rápida, tem um paradoxo de colocar a resiliência do sistema em risco, caso não haja sucessão entre os membros dos grupos.
Observa-se que a segurança e qualidade são aspectos reforçados nas atividades que ocorrem no bairro em estudo. Junto aos especialistas locais entrevistados, há um consenso quanto aos cuidados com a coleta das plantas medicinais. Elas devem ser colhidas de locais longe de sujeiras e possíveis contaminantes.
Os especialistas entrevistados ressaltaram de maneira consensual que as plantas medicinais devem ser limpas, selecionadas e lavadas antes do uso. Precisam ser confirmadas e coletadas por pessoas que realmente conheçam as plantas que serão necessárias.
Descrevem as formas de reprodução e cuidado com o solo, quantidade de água adequada, tipos de adubação e enriquecimento do solo, podendo assim atrelar a sustentabilidade com a utilização de resíduos orgânicos produzidos na cozinha e depositados junto à terra.
Observa-se que um dos produtos utilizados na adubação do solo são as cascas de verduras produzidas no preparo dos alimentos. De modo que se promove um ciclo de reaproveitamento de substratos produzidos, gerando uma forma de compostagem rudimentar e de possível redução da produção de lixo doméstico.
Além disso, em termos econômicos, a comunidade reconhece os benefícios da utilização dos produtos existentes no território, como se observa na fala de E 2:
Morei em Jequié antes de vir para Ilhéus. Lá eu tinha muitas plantas medicinais e muitas plantas de consumo para alimentos mesmo, como verduras e frutas. Gosto de ter minhas plantas com coisas que vou precisar. Assim, já não vou ter que comprar essas coisas e também é melhor do que o que é comprado, porque é limpo e não tem produto químico. Quando me mudei pra cá eu trouxe o que pude no caminhão de mudança. Em caqueiros, galhos e sementes, de acordo com a planta. O que não vingou ou não pegou, eu fui conseguindo por aqui, com vizinhos e parentes.
E 2 tem o quintal mais visivelmente biodiverso do bairro, bastante denso; tem mais plantas medicinais do que pôde recordar na entrevista. Algumas das plantas excedentes desse quintal, embora não estejam citadas na pesquisa, já começaram a ser coletadas para constar na exsicata.
A pessoa informante E 10 é a mais nova em idade no estudo e teve a transmissão de conhecimento acerca das plantas através de sua mãe e sua avó, portanto intergeracional e verticalizado, segundo as definições relatadas por Ulisses Albuquerque (2013).
A comunidade demonstrou interesse em dar continuidade aos usos e ampliação da transmissão dos conhecimentos. Para tanto, propõe-se a implantação do programa Farmácias Vivas e o registro de todas as plantas medicinais dos quintais mais procurados para a produção das receitas, além da confecção de um manual com a comunidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A circulação das plantas no território estudado desenhou um fluxo de fornecimento de sementes e mudas da floresta vizinha para os quintais do bairro. Desenvolveu-se assim um sistema ecológico baseado no sistema de cura tradicional local. Já a circulação de conhecimentos e saberes ocorreu com os fluxos vertical e horizontal com importâncias numéricas próximas, o que nos faz refletir quanto à resiliência do sistema como forte e de possível continuidade. Embora o tamanho da bola de neve em 10 entrevistados reflita a baixa adesão de novos especialistas.
Por outro lado, a estrutura oficial da escola não foi relatada como local de aprendizado sobre as plantas de uso terapêutico. Pode ser um ponto fraco no sistema local a ser observado e onde pode ser incentivado o aprendizado para as gerações futuras.
Durante a pesquisa houve ocorrência de situações que poderiam colocar em prova o sistema médico local: a morte de uma transmissora importante de saberes e a impermeabilização de área de quintal fornecedor de espécimes. No entanto, observou-se resiliência do sistema com a continuidade a partir de outros membros e com a procura das plantas em outros locais possíveis.
A existência de inúmeras áreas verdes públicas nos municípios de Ilhéus e Itabuna são pontos de partida para o desenvolvimento de diversos projetos, de hortas comunitárias a farmácias vivas, podendo ser realizadas em postos de saúde, terrenos de praças e jardins, escolas, dentre outros.
Com o presente trabalho de pesquisa e resultados obtidos, pode-se concluir que existem condições favoráveis à execução de trabalhos voltados ao incremento das ações com hortas medicinais na comunidade estudada, visando a manutenção das práticas, dos saberes e da diversidade fitogenética local.
Dialogar com os saberes locais visando a difusão de cuidados de saúde e conservação ambiental por meio da valorização do bioma local e suas interações com áreas periurbanas e florestas próximas é o ponto alto desta pesquisa.
Os usos das plantas elencadas foram descritos pelos atores locais prevalecendo o uso medicinal, seguido dos usos mágico, alimentar e cosmético. Dentre os usos medicinais, destacaram-se aqueles com as funções antiinflamatórias, cicatrizantes, para tratamentos de pele, problemas intestinais e respiratórios, que refletem questões deficitárias relacionadas ao saneamento básico, mais sensivelmente ao acesso à água encanada, tratamento do esgoto e coleta de lixo.
Quanto à circulação de conhecimentos e saberes, observou-se fluxos vertical e horizontal com importâncias próximas. Isso faz refletir a possibilidade de continuidade do fluxo que vem ocorrendo de forma intergeracional, tendo a participação de estruturas oficiais.
Das estruturas oficiais envolvidas com fluxo horizontal de conhecimentos e saberes, destacam-se o Posto de Saúde e a Pastoral de Saúde. Observou-se a exclusão da escola neste processo, como ponto em que se deve dar especial atenção às ações futuras de valorização do bioma. Pode ser sugerido à Secretaria de Educação para incluir no currículo escolar dos alunos não só do bairro estudado, mas do município e demais cidades da região, o tema de “Plantas medicinais” para fortalecimento dessa tradição.
Sobre os conhecimentos locais a respeito das plantas de uso terapêutico elencadas, vislumbramos como essas sendo possíveis propulsores da implantação do programa Farmácias Vivas, podendo gerar um fortalecimento maior da tradição local no uso de plantas medicinais, que é persium serviço ecossistêmico possível de se manter com a preservação do bioma local de Mata Atlântica. Isso pode ser alcançado com a manutenção das áreas verdes, jardins e quintais e incentivo em manter essas áreas permeabilizadas pelo Poder Público e comunidade.
O bairro estudado na presente pesquisa demonstrou potencial para ser fornecedor de propágulos e de conhecimentos e saberes sobre as plantas medicinais para outros locais do município.
Pode-se ainda fomentar a criação de um plano municipal para o programa Farmácias Vivas dos municípios da região ou de outras áreas de Mata Atlântica, como também, pode-se incentivar a manutenção e ampliação de áreas permeáveis nas áreas urbanas e periurbanas.
Foi realizado levantamento de unidades de saúde com áreas verdes no entorno da estrutura física e com interesse reconhecido da equipe em cultivar árvores e plantas de uso terapêutico no município de Ilhéus, despontando o mesmo interesse de escolas com o potencial já elencadas.
Indica-se a adoção de áreas para o plantio, tanto em unidades de saúde como unidades escolares, ampliando ainda para terrenos baldios, podendo ser subsidiados para a cultura de plantas alimentares e medicinais, que muitas vezes se confundem e se entrelaçam.
Há a possibilidade de se conseguir mudas de árvores nativas de uso medicinal junto ao Órgão municipal de meio ambiente com a sinalização positiva para as espécies Aroeira, Amescla, Cajueiro, Ipê Amarelo e Pitanga.
O plantio e a proteção dessas árvores em ambiente urbano e periurbano juntos, com o cultivo de outras espécies arbustivas e ervas medicinais, podem gerar conservação e formar ilhas de biodiversidade como encontradas no meio de florestas produzidas pelo mesmo comportamento dos indígenas de trazer para próximo de si as espécies de interesse medicinal.
1*Fito: referente a plantas e vegetais; genética: ramo da biologia voltado para o estudo da hereditariedade e do modo pelo qual as informações contidas dentro do material genético são expressas nos indivíduos (TASSARA, 2008).
2*Fabuloso e diversificado mosaico de ecossistemas, estruturas e formas vegetais. Em 1988 foi declarada como patrimônio nacional, em alguns trechos remanescentes de floresta os níveis de biodiversidade e a riqueza de espécies endêmicas são consideradas as maiores do planeta. (TASSARA, 2008).
3*Representa o conjunto de espécies animais e vegetais viventes. Termo que se refere à variedade de genótipos, espécies, populações, comunidades, ecossistemas e processos ecológicos existentes em uma determinada região. (PIZZATO, L.; PIZZATO, R., 2009).
4*Amplo conjunto de ecossistemas, em vasta extensão geográfica que abarca tipos fisionômicos semelhantes de vegetação, definindo assim condições ambientais características. É a unidade ecológica imediatamente superior ao ecossistema, podendo ser terrestre ou aquático. (TASSARA, 2008).
5*Condição de equilíbrio e harmonia de todas as funções orgânicas, podendo ser definida como: “estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente a ausência de doença ou enfermidade” (OMS, 1979, p. 2).
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1Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Formação: Graduada em Enfermagem, Mestre em Desenvolvimento Sustentável e Conservação da Biodiversidade pelo Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ). E-mail: enfermeirajuliana_1@hotmail.com. Orcid: 0009-0003-6295-1506
2Instituição: Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Formação: Enfermagem, mestrado em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia- UESB. E-mail: lssfarias@uesc.br ORCID: 0000-0002-0855-082X
3Instituição: Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Formação Geografia. E-mail: jakilheus@hotmail.com Orcid: 0009-0001-1464-0522
4Instituição: Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Formação: Filosofia Email: naldomy@gmail.comOrcid: 0009-0009-1639-7659
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7Universidade Norte do Paraná UNOPAR Formação: Graduada em Serviço Social. E-mail: amanda182002@hotmail.com
8Instituição: Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Formação: Graduado em Comunicação Social, graduando em Direito na Faculdade de Ilhéus e Mestre em Desenvolvimento Sustentável e Conservação da Biodiversidade pelo Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ).E-mail: emilio.gusmao@gmail.com Orcid: 0009-0003-8367-0367
9Instituição: Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC Formação: Enfermagem e Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente. E-mail: cdcdutra@uesc.br ORCID: 0000-0003-0866-1519