REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202410251758
Raphael Barreto Lima;
Cláudia Nayana Viegas Ferreira Mendes;
Orientador: Prof. Dr. Graziano Medeiros
RESUMO
Os distúrbios da articulação temporomandibular incluem problemas relacionados às articulações e aos músculos que a rodeiam, freqüentemente, a causa do distúrbio da DTM é uma combinação de tensão muscular e problemas anatômicos nas articulações, às vezes, um componente psicológico também intervém, sendo mais comuns em mulheres entre 20 e 50 anos. Para o diagnóstico das patologias temporomandibulares, o exame dos músculos e articulações é essencial e requer educação e treinamento do examinador, o exame baseia-se na medição do movimento articular, na avaliação da função temporomandibular e na palpação dos músculos e articulações. O tratamento de todos os pacientes com patologias temporomandibulares visa reduzir ou eliminar a dor, restaurar a função mandibular e reduzir a necessidade de cuidados médicos futuros. Um determinante chave do sucesso terapêutico é a educação do paciente sobre o distúrbio que sofre, bem como o autocuidado, que inclui exercícios mandibulares, mudanças de hábitos e uso adequado da mandíbula. O presente trabalho tem por objetivo analisar acerca da etiologia, diagnóstico e manejo da disfunção temporomandibular e destaca o papel da equipe interprofissional na avaliação e tratamento de pacientes com essa condição.
Palavras-chaves: ATM; Diagnóstico; Manejo; Etiologia
ABSTRACT
Temporomandibular joint disorders include problems related to the joints and muscles that surround them. Often, the cause of TMD disorder is a combination of muscle tension and anatomical problems in the joints. Sometimes a psychological component also intervenes, these disorders are more common in women between 20 and 50 years old. For the diagnosis of temporomandibular pathologies, the examination of muscles and joints is essential and requires education and training from the examiner. The examination is based on measuring joint movement, evaluating temporomandibular function and palpation of muscles and joints. Treatment of all patients with temporomandibular disorders aims to reduce or eliminate pain, restore jaw function and reduce the need for future medical care. A key determinant of therapeutic success is patient education about the disorder they suffer from, as well as self-care, which includes jaw exercises, habit changes, and proper use of the jaw. The present work aims to analyze the etiology, diagnosis and management of temporomandibular disorder and highlights the role of the interprofessional team in the evaluation and treatment of patients with this condition.
Keywords: ATM; Diagnosis; Management; Etiology
1 INTRODUÇÃO
A articulação temporomandibular é composta por articulações temporomandibulares (ATMs) bilaterais, diartrodiais. A ATM e suas estruturas associadas desempenham um papel essencial na orientação do movimento mandibular e na distribuição do estresse produzido pelas tarefas cotidianas, como a mastigação, deglutição e fonética (Oliveira et al. 2023)
Os distúrbios da articulação temporomandibular (ATM)são uma classe de condições musculoesqueléticas degenerativas associadas a deformidades morfológicas e funcionais. A DTM inclui anormalidades da posição e/ou estrutura discal intra-articular, bem como disfunção da musculatura associada. Os sintomas e sinais incluem sons articulares dolorosos, amplitude de movimento restrita ou desviada e dor craniana e/ou muscular conhecida como dor orofacial (SASSI et al., 2018).
As disfunções temporomandibulares (DTM) são um grupo de condições de dor orofacial que constituem a queixa de dor não dentária mais comum na região maxilofacial. Devido à complexidade da etiologia, o diagnóstico e o manejo da DTM continuam sendo um desafio onde ainda falta consenso em muitos aspectos (Ferreira et al. 2016).
Embora o exame clínico seja considerado o processo mais importante no diagnóstico da DTM, os exames de imagem podem servir como um complemento valioso em casos selecionados. Dependendo do tipo de DTM, muitas modalidades de tratamento têm sido propostas, desde opções conservadoras até procedimentos cirúrgicos abertos (Marin et al. 2022).
O diagnóstico e tratamento da causa mais comum continua a ser um desafio para os profissionais até hoje, apesar da extensa investigação clínica sobre o tema. Isso ocorre porque DTM é um termo amplo que abrange diferentes condições com etiologias complexas, com sintomas que variam em intensidade (Oliveira et al. 2023).
Curiosamente, alguns sinais e sintomas desaparecem espontaneamente mesmo sem tratamento, enquanto outros persistem durante anos, apesar de todas as opções de tratamento terem sido esgotadas. Mais desconcertante é que, embora alguns possam ter uma base física reconhecível, muitos casos de DTM também envolvem um componente biopsicossocial significativo com vários sintomas psicológicos associados, como depressão e ansiedade (SASSI et al., 2018).
Numerosas modalidades de tratamento foram propostas ao longo dos anos, algumas se tornando obsoletas enquanto outras estão ganhando popularidade. No entanto, parece que não existe uma solução única para cada caso, uma vez que muitos sintomas diferentes estão incluídos na DTM. Existem controvérsias na literatura em relação ao diagnóstico e ao protocolo de manejo da DTM, portanto, a seleção da modalidade de tratamento pode muitas vezes ser amplamente influenciada pela experiência do profissional de saúde responsável pelo tratamento (MARIN et al.,2022).
Em geral, acredita-se que a DTM afete entre 5 e 15% dos adultos da população mas foi relatado que sintomas relacionados à DTM estão presentes em até 50% dos adultos. Curiosamente, há evidências de que a prevalência de DTM parece estar aumentando nos últimos anos (Lim et al., 2010).
O fato de a DTM abranger uma ampla variedade de doenças clínicas é parcialmente responsável pela ampla gama de estimativas de taxas de prevalência entre os estudos, como a classificação dos diferentes tipos de DTM, a distinção entre doença e não doença, bem como a inclusão daqueles com doença inativa como tendo DTM, podem estar todos sujeitos às parcialidades dos pesquisadores clínicos avaliadores (Ferreira et al. 2016).
O presente trabalho tem por objetivo analisar acerca da etiologia, diagnóstico e manejo da disfunção temporomandibular e destaca o papel da equipe interprofissional na avaliação e tratamento de pacientes com essa condição.
A justificativa desse estudo elucida que a maior parte da população apresenta sinais de disfunção temporomandibular, mas apenas alguns relatam seus sintomas e necessitam de tratamento. A maioria dos casos de ATM são tratados de forma conservadora e empírica durante as fases iniciais do tratamento, mas não é recomendado permanecer na fase conservadora por um período prolongado quando a melhora clínica não é clara. Embora a cirurgia articular aberta seja rara hoje em dia e esteja reservada para situações específicas, podemos estar no meio de uma mudança de paradigma que favorece procedimentos minimamente invasivos precoces (Marin et al. 2022).
Os dados do presente estudo foram obtidos mediante um revisão de literatura.O levantamento dos artigos foi realizado utilizando as seguintes bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Scientific Electronic Library Online – SCIELO, e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Periódicos CAPES). Procedeu-se o cruzamentos dos principais descritores relacionados ao tema investigado: ATM AND Diagnóstico; ATM and Manejo; ATM AND Etiologia.
Foram adotados como critérios de inclusão trabalhos 10 publicações em inglês e português de forma online e gratuita no período de 2010 a 2023. Como critérios de exclusão, foram desconsiderados livros, capítulos de livros, editoriais, e demais formatos de textos. A primeira etapa de seleção dos estudos foi realizada através da leitura e a verificação dos títulos e resumos de todos os artigos identificados. Posteriomente, os estudos selecionados foram lidos na integra, possibilitanto assim que outros textos fossem excluídos por não atenderem à proposta da revisão. Por fim, as principais informações dos artigos foram sintetizadas em uma planilha para que pudessem servir de base para as análises descritivas e críticas dos estudos selecionados.
As DTM têm sido descritas sob diferentes nomes: distúrbios craniomandibulares, síndrome de Costen (descrita pelo otorrinolaringologista James Costen); Também têm sido denominadas síndrome dolorosa por disfunção temporomandibular, lesão meniscal crônica, disfunção miofacial, artralgia temporomandibular, entre outras, sem padronização na definição, diagnóstico e tratamento. Os vários termos têm gerado confusão, razão pela qual a American Dental Association adotou o termo TTM considerando que este termo inclui a ATM, bem como todos os distúrbios associados à função do sistema mastigatório (Lim et al., 2010).
A etiologia de muitas DTM ainda é desconhecida, por isso a falta de acordo quanto à etiopatogenia, bem como às diversas manifestações clínicas, dificulta a compreensão da sua natureza. Existe uma classificação de DTM da que é bastante completa, porém, foi estabelecida uma classificação básica para DTM esta classificação permite um diagnóstico mais adequado, podendo ser classificado como Distúrbios musculares da mastigação: rigidez muscular, irritação muscular local, espasmos musculares, dor miofacial e miosite; Distúrbios devido à alteração do complexo disco-côndilo: aderências, alterações anatômicas, incoordenação disco-côndilar devido ao deslocamento ou luxação do disco, subluxação e luxação mandibular; Distúrbios inflamatórios da ATM: artrite, sinovite, retrodiscite, capsulite e tendinite; Hipomobilidade mandibular crônica: pseudoanquilose, fibrose capsular e anquilose; Distúrbios de crescimento: ósseo (agenesia, hipoplasia, hiperplasia ou neoplasia) e muscular (hipertrofia, hipotrofia ou neoplasia) (Marin et al. 2022).
Com o diagnóstico adequado da DTM, o plano de tratamento correto pode ser estabelecido imediatamente e em tempo hábil para restaurar ou limitar os danos à articulação e aos elementos do aparelho gnático. A DTM pode apresentar uma ampla gama de variantes clínicas, o que a torna de interesse de diversos profissionais de saúde, como cirurgiões-dentistas, cirurgiões bucomaxilofaciais, protesistas ou reabilitadores, clínicos gerais, traumatologistas, cirurgiões, radiologistas e otorrinolaringologistas (Mercuri et al. 2023).
Parte fundamental para se chegar ao diagnóstico da DTM é, sem dúvida, o interrogatório ou anamnese guiada e o exame físico. Com relação à anamnese, especial ênfase deve ser dada à história de trauma grave que pode ser direto (na região pré-auricular) ou indireto (no mento, transmitido pela mandíbula aos côndilos causando fratura condilar ou esmagamento do retrodiscal tecido), procurar a existência de trauma crônico causado por sobrecarga da articulação (bruxismo com sobrecarga do tecido discal) (Kapos et al. 2018).
Deve-se perguntar sobre hábitos que geram sobrecarga muscular ou de estrutura articular, por exemplo: onicofagia, segurar ou mordiscar instrumentos com a boca, posturas assimétricas, tocar instrumento musical. Não devemos deixar de lado a tensão emocional como fator fundamental na etiologia da DTM, pacientes que apresentam dor crônica de origem craniofacial geralmente estão associados a níveis elevados de tensão emocional, com tendência ao uso indiscriminado de medicamentos e tratamentos inadequados, além de perda de autoestima, apatia, comportamento de evitação e hostilidade (Schiffman et al. 2014).
Dentro das etapas da exploração da ATM, deve-se seguir adequadamente a palpação, onde a articulação será explorada diretamente com movimentos de abertura e laterais, bem como a palpação dos músculos da mastigação bilateralmente, em repouso e durante o movimento. A ATM deve ser examinada em busca de sons articulares, lembrando que a articulação deve realizar todos os movimentos sem ruídos, o estalido articular pode ser indicativo de aderências articulares, alterações anatômicas intra-articulares, deslocamentos de disco articular ou hipermobilidade mandibular, as crepitações estão associadas à degeneração da articulação temporomandibular (Marin et al. 2022).
O exame físico da ATM inclui também, como mencionado acima, os músculos mastigatórios e cervicais. Os músculos elevadores da mandíbula (masseter, temporal e pterigóideo interno) são facilmente palpáveis. O acesso ao músculo pterigóideo externo é difícil. A musculatura supra e infra-hióidea e o músculo esternocleidomastóideo também devem ser explorados. Embora a palpação muscular seja frequentemente dolorosa, deve-se realizá-la para determinar se há componente miogênico na dor na ATM ( Ferreira et al., 2016).
A oclusão pode ser a causa de uma alteração da articulação temporomandibular, se houver uma situação de instabilidade maxilomandibular descompensada que provoque sobrecarga articular, seja porque essa instabilidade gera bruxismo ou porque obriga a ATM a trabalhar em situação de carga desfavorável. Também pode ser que alterações da ATM ou dos músculos mastigatórios causem alterações na oclusão. Nas doenças degenerativas avançadas da articulação, como a artrite, a destruição das superfícies articulares pode causar mordida aberta progressiva, pelo encurtamento do comprimento total do ramo ascendente da mandíbula e rotação da mandíbula para trás (Mercuri et al. 2023).
O diagnóstico por imagem para avaliação da DTM pode ser direcionado ao estudo do tecido ósseo ou dos tecidos moles. Técnicas que forneçam imagens adequadas de tecidos duros serão necessárias para o diagnóstico de fraturas, distúrbios de interferência discal, distúrbios degenerativos, hipomobilidade crônica ou distúrbios de crescimento, porém, se houver distúrbios por interferência discal, danos discais ou alterações inflamatórias, também serão necessárias técnicas de imagem que permitam a observação de tecidos moles (Hiffman et al. 2014)
As técnicas radiológicas usuais para estudo das estruturas ósseas da ATM são a ortopantomografia e as projeções radiográficas submentovértex e transcranianas, que permitem avaliar a posição e integridade dos côndilos, para um estudo mais detalhado da morfologia das estruturas ósseas, caso sejam detectadas alterações clínicas ou radiográficas que o indiquem, é necessária a utilização de técnicas tomográficas, principalmente tomografia computadorizada e ressonância magnética, que oferecem uma excelente representação do disco articular e tecidos moles da ATM, permitindo diagnosticar alterações na posição, integridade ou mobilidade do disco, proliferações sinoviais, alterações ósseas degenerativas, inflamação retrodiscal, hemorragias, corpos livres, tumores , etc. (Smith et al. 2013)
Os tratamentos para disfunções temporomandibulares variam desde práticas simples de autocuidado, tratamento conservador até cirurgia. A maioria dos especialistas concorda que o tratamento deve começar com terapias conservadoras, deixando o tratamento cirúrgico como último recurso (Pelicioli et al., 2017)
As medidas de tratamento conservador incluem: aplicação de calor úmido ou compressas frias na área afetada, além de exercícios de alongamento conforme orientação do fisioterapeuta. Os hábitos alimentares são de grande interesse, é aconselhável comer alimentos moles em geral e evitar alimentos duros ou crocantes, bem como alimentos mastigáveis (Sassi et al., 2018)
O tratamento farmacológico de primeira escolha consiste em anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), embora possam ser utilizados analgésicos mais potentes, como narcóticos. O uso de relaxantes musculares pode ser útil. Os medicamentos ansiolíticos podem ajudar a aliviar o estresse que às vezes é considerado um fator que agrava a DTM (Pelicioli et al., 2017)
Este tratamento tem como objetivo modificar temporariamente a oclusão do paciente, permitindo o alívio dos sintomas clínicos desencadeados ou agravados por uma alteração na relação maxilomandibular. Para isso, são utilizadas placas superiores ou inferiores que proporcionam uma determinada posição da mandíbula.
Existem vários designs de aparelhos intermaxilares, para tratar dores musculares, são preferíveis placas planas ou de Michigan. A placa de Michigan é usada para o tratamento de distúrbios musculares e articulares, embora possa inicialmente reduzir o bruxismo, não o elimina, mas limita a sua capacidade prejudicial aos dentes e aos músculos da mastigação. A placa de Michigan é colocada na mandíbula superior, é ajustada em relação cêntrica, ou seja, de forma que os côndilos fiquem centralizados em relação à fossa mandibular (glenóide), em sua posição mais ântero-superior (Lim et al., 2010).
Deve haver contato com todas as cúspides inferiores simultaneamente e uma guia que faça com que os movimentos laterais entrem em contato apenas com o canino inferior do lado para o qual a mandíbula se move (Pelicioli et al., 2017)
Nos deslocamentos de disco com quadros dolorosos, podem ser utilizadas dispositivos de avanço, que provocam maior trabalho mandibular em direção à posição anterior, na qual o côndilo avança e repousa sobre o disco articular em posição de repouso, porém, se a oclusão dentária do paciente não estiver estabilizada em uma posição anterior da mandíbula, quando o dispositivo de avanço for removido novamente ocorrerá uma recorrência dos sons articulares (Marin et al. 2022).
Embora os dispositivos de avanço mandibular sejam muito eficazes na redução da dor nas patologias intracapsulares (eliminando a dor em 75% dos pacientes), a longo prazo parecem ser pouco eficazes na redução dos ruídos articulares (persistindo em 2 terços dos pacientes), ou seja, o disco articular deslocado continua deslocado (Kapos et al. 2018).
O tratamento oclusal deve sempre começar de forma reversível, ou seja, com aparelho, se o paciente apresentar melhora da dor e da função articular, pode-se pensar que o componente principal é oclusal (Murphy et al. 2013)
Recomenda-se o uso de contenções e protetores noturnos, que são aparelhos plásticos que se ajustam sobre os dentes superiores ou inferiores e evitam o contato dos dentes, o que reduz os efeitos de apertamento e ranger dos dentes, também ajudam a corrigir a mordida, colocando os dentes na posição mais correta e menos traumática. Tratamentos dentários corretivos como colocação de pontes, coroas e aparelhos para equilibrar as superfícies mastigatórias dos dentes ou para corrigir problemas mastigatórios (Marin et al. 2022).
A estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS) é uma terapia que utiliza correntes elétricas de baixo nível para proporcionar alívio da dor, relaxando a mandíbula e os músculos faciais comuns. A Ultrassom é um tratamento térmico profundo aplicado na ATM para aliviar a dor e melhorar a mobilidade ( Ferreira et al., 2016).
Medicamentos para dor ou anestésicos que são injetados nos músculos faciais em áreas específicas, também conhecidas como “pontos-gatilho” para aliviar a dor. O tratamento cirúrgico só deve ser considerado depois de ter tentado as técnicas mencionadas anteriormente e continuar a sentir dores fortes e persistentes. Existem 3 tipos de cirurgia para esta síndrome: artrocentese, artroscopia e cirurgia aberta (Kapos et al. 2018).
A artrocentese é um procedimento menor realizado em consultório sob anestesia local envolvendo a inserção de agulhas na articulação afetada e a lavagem da articulação com fluidos estéreis. Às vezes, o procedimento pode ser aplicado à inserção de um objeto pontiagudo na articulação, o instrumento é usado em movimentos de varredura para remover faixas de tecido de adesão e desalojar um disco que ficou alojado na frente do côndilo (Ohrbach; Dworkin; 2016)
A artroscopia é realizado sob anestesia geral, em seguida, um pequeno e fino instrumento contendo lente e luz é inserido em uma pequena incisão na parte anterior do lóbulo da orelha, conectado a um equipamento de vídeo, permitindo ao cirurgião examinar a ATM e a área circunscrita. Dependendo da causa, o cirurgião pode remover tecido ou realinhar o disco ou côndilo. Comparado à cirurgia aberta, este procedimento é minimamente invasivo, possui pequenas áreas de cicatrização e está associado a complicações mínimas, bem como a um tempo de recuperação mais curto, dessa forma a cirurgia aberta permite visão completa e melhor acesso, embora o tempo de recuperação seja maior (Lim et al., 2010).
Um diagnóstico preciso de DTM necessita de um histórico médico detalhado, um exame clínico abrangente e investigações auxiliares, como análises de imagem. As modalidades de tratamento disponíveis para DTM são diversas, variando de farmacoterapia, fisioterapia e intervenções comportamentais a intervenções cirúrgicas, que visam aliviar a dor, melhorar as deficiências funcionais e restaurar o funcionamento normal da articulação da mandíbula e dos músculos mastigatórios na medida do possível segundo Ferreira et al. (2016).
Conforme Schiffman et al. (2014) as implicações da DTM vão além da dor local e das deficiências funcionais, pois essa condição pode potencialmente induzir ou agravar problemas de saúde psicológica, como ansiedade e depressão, impactando ainda mais a qualidade de vida geral dos indivíduos afetados. Consultas médicas frequentes, testes diagnósticos e tratamentos colocam uma carga adicional sobre os pacientes, causando estresse, ao mesmo tempo em que levam a um consumo significativo de recursos médicos, portanto, o manejo eficaz da DTM é de grande importância tanto do ponto de vista social quanto econômico e contribuiria positivamente para melhorar a qualidade de vida dos pacientes e otimizar a utilização dos recursos médicos disponíveis
De acordo com Ohrbach R; Dworkin (2016) a neurociência desempenha um papel indispensável na compreensão e tratamento da DTM, oferecendo uma perspectiva fundamental para desvendar os complexos mecanismos patológicos da DTM e formular estratégias terapêuticas eficazes de acordo. Os avanços na pesquisa em neurociência aprofundaram a compreensão dos mecanismos neurobiológicos subjacentes à DTM, elaborando todos os aspectos dessa condição, desde a percepção e condução da dor até a modulação. Pacientes com DTM apresentam percepção de dor aprimorada, mecanismos de condução alterados e desregulação, o que ressalta o papel central do sistema nervoso na DTM e destaca a importância da pesquisa intensiva sobre os mecanismos neurobiológicos subjacentes a essa condição. O surgimento de novas abordagens terapêuticas no campo da neurociência, como neuromodulação melhorou substancialmente o potencial de tratamento da DTM por meio de uma regulação precisa das atividades neurais.
Essas tecnologias avançadas oferecem opções de tratamento não invasivas e personalizadas para alcançar uma melhora significativa nos resultados terapêuticos e na qualidade de vida de pacientes com DTM, no entanto, vários aspectos dos mecanismos neurais subjacentes à DTM permanecem elusivos, e a pesquisa existente é limitada por limitações e desafios que exigem soluções inovadoras e novas direções de acordo com Marin et al. (2022).
Segundo Yap et al. (2020) pesquisas futuras sobre a etiologia da DTM devem incluir avaliações mais detalhadas de estressores da vida, variantes genéticas raras e estudos de associação genômica ampla (GWAS). Apesar do progresso substancial na compreensão dos determinantes biológicos e psicológicos da DTM dolorosa, a investigação de fatores sociais e contextuais multiníveis tem sido deficiente
Em um nível individual, as DTMs estão associadas à redução da qualidade de vida. Os sintomas — dor persistente na mandíbula, dores de cabeça e dificuldade para comer e falar — são angustiantes o suficiente para abalar o ânimo até mesmo dos pacientes mais resilientes. Além disso, as DTMs são frequentemente correlacionadas a outros problemas de saúde, como síndrome da fadiga crônica, fibromialgia e distúrbios do sono, que agravam ainda mais o sofrimento físico e emocional vivenciado pelos pacientes de acordo com Hiffman et al. (2014)
À luz desses desafios significativos, é fundamental adotar uma abordagem de tratamento que seja eficaz e econômica e que represente risco mínimo aos pacientes. Embora as abordagens cirúrgicas sejam dificultadas por certas complicações, as terapias conservadoras e não invasivas possuem todas essas características e, por esse motivo, agora representam a primeira linha de tratamento para DTMs como apresenta Schiffman et al. (2014) em seus estudos.
É importante ressaltar que os tratamentos conservadores ressaltam a importância do aconselhamento, das práticas de autocuidado e das modificações no estilo de vida, que podem ter um impacto considerável no gerenciamento dos sintomas de DTM. Incentivar os pacientes a adotar hábitos saudáveis, como manter uma dieta de alimentos leves, praticar uma boa postura e evitar movimentos extremos da mandíbula, pode desempenhar um papel crítico no gerenciamento e possivelmente na prevenção da progressão de DTMs segundo estudos de Murphy et al. (2013)
Segundo Di Giacomo et al. (2022)no geral, a importância da estratégia de tratamento conservador e não invasivo reside em sua abordagem centrada no paciente. Ao priorizar a educação do paciente, o autogerenciamento e as técnicas não invasivas, essa abordagem respeita a autonomia dos pacientes e apoia seu bem-estar geral. Portanto, representa a primeira linha de defesa na batalha contra as DTMs, enfatizando a prevenção, o atendimento abrangente e o fomento de um caminho de recuperação fortalecido pelo paciente de acordo com Di Giacomo et al. (2022)
Conforme Sassi et al. (2018) um novo sistema de classificação para todos os distúrbios de dor orofacial, incluindo DTM, está em desenvolvimento. A Classificação Internacional de Dor Orofacial (ICOP) foi lançada recentemente, apesar de ser uma nova classificação, quando se trata de DTM, a maioria dos critérios e exames sugeridos na ICOP são os mesmos da DC/TMD validada
Além disso, como houve alguma melhora na compreensão da fisiopatologia por trás da DTM e outros distúrbios de dor, a taxonomia futura provavelmente começará a incluir uma classificação mais mecanicista, isso significa que não apenas a classificação seria dividida em que tipo de distúrbio de dor está presente com base em sinais e sintomas, mialgia, por exemplo, mas também incluirá: o tipo de mecanismo responsável pela mialgia, como sensibilização periférica e/ou central; o alvo molecular que é responsável por esse mecanismo específico, por exemplo, CGRP ou fator de crescimento nervoso conforme achado de Kapos et al. (2018).
Essas melhorias no diagnóstico podem esclarecer a heterogeneidade substancial do prognóstico e da resposta ao tratamento dentro das categorias de diagnóstico observadas no sistema atual. Os próximos desenvolvimentos de pesquisa provavelmente apoiarão uma previsão de risco mais precisa, desenvolvimento de tratamento e administração, permitindo que diferentes vias causais sejam abordadas de acordo com Ferreira et al. (2016).
Segundo Mercuri et al. (2023) pesquisas futuras precisam alavancar o conhecimento e as técnicas da neurociência para entender melhor a DTM, desde os aspectos das alterações funcionais nas redes de dor até o potencial das terapias com células-tronco e, consequentemente, desenvolver tratamentos eficazes para a DTM, portanto, focar na neurociência é crucial para revelar os fundamentos neurobiológicos da DTM e também para impulsionar a pesquisa e o tratamento da DTM em uma nova direção.
A DTM é um distúrbio complexo que afeta a saúde bucal e o estado geral de saúde de um indivíduo, os mecanismos fisiopatológicos da DTM estão intrinsecamente ligados a múltiplas disciplinas, incluindo neurociência, odontologia e psicologia. A neurociência permite a exploração dos mecanismos de transmissão, percepção e modulação dos sinais de dor, fornecendo assim uma perspectiva crucial para a compreensão da complexidade da DTM.
As DTM, são um conjunto de alterações que geram uma série de manifestações clínicas que estão, sem dúvida, presentes em grande parte da população, por isso o clínico deve levá-las em consideração, saber diagnosticá-las e poder encaminhá-los com diagnóstico preciso ao paciente em nível de atendimento especializado. Com essa temática espera-se ter gerado a curiosidade de leitores para uma pesquisa mais específica e especializada sobre o tema, além de fornecer as ferramentas para direcionar um diagnóstico e iniciar o tratamento adequado da DTM.
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