DISTRIBUIÇÃO DA MORTALIDADE EM PACIENTES COM HIV NA PARAÍBA NO PERÍODO DE 2010 A 2020 

DISTRIBUTION OF MORTALITY IN PATIENTS WITH HIV IN PARAÍBA FROM 2010 TO 2020

DISTRIBUCIÓN DE LA MORTALIDAD EN PACIENTES CON VIH EN PARAÍBA DE 2010 A 2020

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7963879


Luiz Carlos Pereira de Sousa1
Erikis Lucas Pereira Leite2
Ygor Sampaio de Oliveira3
Nairy de Sousa Monteiro4
Josefa Beatriz Gomes de Sousa5
Fernando Henrique da Silva Costa6
Camila Melo de Freitas7
Isabella Rezende Guimarães Amaral8
Bianca Oliveira Bomfim9
Gabriella Tolentino10
Luísa Campos Castro11
Ermeson Morais dos Santos12


Resumo: Objetivo: avaliar a distribuição da mortalidade em pacientes com o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) no estado da Paraíba no período de 2010 a 2020. Método: pesquisa do tipo epidemiológica e quantitativa, realizada a partir de dados secundários do banco de dados online do Sistema de Informações sobre Mortalidade. O estudo foi composto por todas as pessoas residentes no Estado da Paraíba, que foram a óbito pelo HIV no período de 2010 a 2020. Os dados obtidos foram examinados e tabulados por estatística simples e confrontados com a literatura pertinente ao tema. Resultados: ocorreram 1.521 óbitos em maior quantidade no ano de 2020, entre a faixa etária de 40 a 59 anos (40,7%), sexo masculino (70,4%), cor/raça parda (73,2%), escolaridade ignorada (50,2%), estado civil solteiro (52,6%), com predominância de mortes nos municípios de João Pessoa (70,5%) e Campina Grande (19,7%) e maior ocorrência nos hospitais (93,7%). Conclusão: é possível avaliar que a distribuição da mortalidade por HIV/Aids ainda permanece constante na Paraíba, o que se faz necessário a realização de políticas públicas que erradique ou diminua tal situação na região, por meio de medidas pelos profissionais de saúde com a identificação precoce e tratamento correto para reduzir a mortalidade. 

Palavras-Chave: Mortalidade. Vírus da Imunodeficiência Humana. Estudos de Séries Temporais.

Abstract: Objective: o evaluate the distribution of mortality in patients with the Human Immunodeficiency Virus (HIV) in the state of Paraíba from 2010 to 2020. Method: epidemiological and quantitative research, based on secondary data from the online database of the Mortality Information System. The study consisted of all people residing in the State of Paraíba who died from HIV in the period from 2010 to 2020. The data obtained were examined and tabulated using simple statistics and confronted with the relevant literature on the subject. Results: There were 1,521 deaths in greater numbers in the year 2020, among the age group from 40 to 59 years old (40.7%), male gender (70.4%), brown color/race (73.2%), unknown education ( 50.2%), single marital status (52.6%), with a predominance of deaths in the municipalities of João Pessoa (70.5%) and Campina Grande (19.7%) and a higher occurrence in hospitals (93.7% ). Conclusion: it is possible to assess that the distribution of mortality from HIV/AIDS still remains constant in Paraíba, which makes it necessary to carry out public policies that eradicate or reduce this situation in the region, through measures by health professionals with early identification and correct treatment to reduce mortality.

Keywords: Mortality. Human immunodeficiency virus. Time Series Studies.

Resumen: Objetivo: evaluar la distribución de la mortalidad en pacientes con el Virus de la Inmunodeficiencia Humana (VIH) en el estado de Paraíba de 2010 a 2020. Método: investigación epidemiológica y cuantitativa, con base en datos secundarios de la base de datos en línea del Sistema de Información de Mortalidad. El estudio consistió en todas las personas residentes en el Estado de Paraíba que fallecieron por el VIH en el período de 2010 a 2020. Los datos obtenidos fueron examinados y tabulados utilizando estadísticas simples y confrontados con la literatura relevante sobre el tema. Resultados: Hubo 1.521 defunciones en mayor número en el año 2020, entre el grupo de edad de 40 a 59 años (40,7%), sexo masculino (70,4%), color pardo/raza (73,2%), escolaridad desconocida (50,2%), estado civil soltero (52,6%), con predominio de las muertes en los municipios de João Pessoa (70,5%) y Campina Grande (19,7%) y mayor ocurrencia en los hospitales (93,7%). Conclusión: es posible evaluar que la distribución de la mortalidad por VIH/SIDA aún se mantiene constante en Paraíba, lo que hace necesaria la realización de políticas públicas que erradiquen o reduzcan esta situación en la región, a través de acciones de los profesionales de la salud con identificación temprana y tratamiento correcto para reducir la mortalidad.

Palabras-clave: Mortalidad. Virus de inmunodeficiencia humana. Estudios de series temporales. 

INTRODUÇÃO:

O vírus da imunodeficiência humana (HIV) é um retrovírus de RNA que é responsável por causar a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) que possui como alvo os linfócitos T CD4 do sistema imunológico. Essa síndrome ocorre em estágio mais avançado da infecção por HIV em que os mecanismos de defesa do corpo humano estão deficientes, fazendo com que o indivíduo fique mais susceptível a infecções. Portanto, ser portador de HIV não é o mesmo que ter AIDS, uma vez que indivíduos soropositivos podem viver anos sem manifestar sintomas e sem desenvolver a doença (SANTOS et al., 2020). 

A epidemia mundial de HIV/Aids ainda constitui relevante problema de saúde pública, apesar dos inúmeros avanços conseguidos nos últimos anos, como por exemplo com a terapia antirretroviral que visa diminuir a replicação viral e o progresso da infecção pelo HIV. Essa terapia antirretroviral tem como objetivo restaurar o sistema imunológico e melhora na qualidade de vida em pessoas vivendo com HIV/Aids (CUNHA; CRUZ; PEDROZA, 2022; DIAS et al., 2020). 

Segundo Rachid e Schechter (2017) a infecção  pelo  HIV  é  dívida  em  três fases,  que são elas: a  fase aguda, assintomática e sintomática. A fase aguda é caracterizada por sintomas desde síndrome gripal até mononucleose-símile, febre, astenia etc. A fase assintomática constituída por indivíduos infectados pelo HIV que nunca apresentaram manifestações clínicas associadas à imunodeficiência causada pelo vírus. Já na fase sintomática que geralmente é dividida em precoce (onde ocorre manifestações em indivíduos com imunodeficiência inicial, mas podem ocorrer em indivíduos imunocompetentes) e tardia (decorre de infecções e/ou neoplasias que raramente afetam indivíduos imunocompetentes).

Umas das principais vias de transmissão do HIV/Aids é por meio das relações sexuais desprotegida, mas pode acontecer também por meio transfusão de sangue, de mãe para filho durante a gestação, parto e aleitamento materno, compartilhamento de agulhas entre usuários de drogas injetáveis e até de forma acidentalmente entre profissionais da saúde no ambiente de trabalho (MELO et al., 2018). 

A nível mundial foram registrados 690.000 óbitos por HIV/Aids no mundo em 2019, uma queda de 39% entre 2010 e 2019, já no Brasil foram registrados 349.784 óbitos por HIV/Aids desde o início da década de 1980 até dezembro de 2019, com queda na taxa de mortalidade no período entre 2009 e 2019 (CUNHA; CRUZ; PEDROZA, 2022). Vale ressaltar que o Brasil foi o primeiro país ente os países em desenvolvimento a disponibilizar gratuitamente pela rede pública de saúde medicamentos antirretrovirais contribuindo para o aumento da expectativa de vida (DIAS et al., 2020).

 Mesmo com esse aumento da expectativa de vida a infecção pelo vírus HIV/Aids ainda causam altos índices de mortalidade principalmente nos países em desenvolvimento como relatado anteriormente. Para que aconteça a redução desse índice de mortalidade e propagação do vírus HIV existe algumas medidas que são fundamentais como por exemplo: o manejo adequado da doença, o acesso à informação, medidas de prevenção, diagnóstico e tratamento com antirretrovirais (RAMOS et al., 2019).   

Assim, o presente estudo tem por objetivo avaliar a distribuição da mortalidade em pacientes com o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) no estado da Paraíba no período de 2010 a 2020.

METODOLOGIA: 

Trata-se de um estudo epidemiológico descritivo e quantitativo, realizado com pacientes portadores do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) residentes no Estado da Paraíba, que foram a óbito no período entre 01 de janeiro de 2010 a 31 de dezembro de 2020, compreendendo os indivíduos de ambos os sexos e idades. 

Os dados sobre a mortalidade de pessoas com HIV foram obtidos a partir do Sistema de Informações sobre Mortalidade do estado da Paraíba (SIM), disponível no endereço eletrônico: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sim/cnv/obt10pb.def. Para a coleta de dados foram utilizadas as seguintes variáveis no SIM: óbitos por ocorrência, município do óbito, ano do óbito, macrorregião do óbito, local de ocorrência dos óbitos e as características sociodemográficas dos óbitos, que foram: faixa etária, sexo, cor/raça, escolaridade e estado civil. Todavia, o presente estudo foi baseado em um banco de dados secundários contendo as causas do óbito registradas com códigos da CID-10.

Os dados obtidos foram examinados e tabulados e dispostos por estatística descritiva e distribuídos em gráficos e tabelas, através do programa Microsoft Office Excel for Windows 2010 e foram confrontados com a literatura pertinente ao tema estudado. Os dados utilizados para a realização do estudo são de domínio público, disponíveis de forma livre e gratuita por meio do DATASUS, sendo, assim, dispensado de ser aprovado por um Comitê de Ética em Pesquisa (CEP). Contudo, todos os preceitos éticos estabelecidos pela Resolução n° 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde foram respeitados.

RESULTADOS 

A Tabela 1 apresenta o perfil sociodemográfico dos óbitos causados pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) na Paraíba no período de 2010 a 2020. Foi evidenciado um maior predomínio de mortes na faixa etária entre 40 a 59 anos, representando 40,7% do total de óbitos; o sexo mais acometido foi o masculino com 70,4%; cor/raça parda com 73,2%; escolaridade ignorada com 50,2% e o estado civil solteiro com 52,6% das mortes.

Tabela 1 – Perfil sociodemográfico dos óbitos causados pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) na Paraíba no período de 2010 a 2020.

VariáveisN%
Faixa etária
 <1 ano40,3
1 – 19 anos301,9
20 – 39 anos61940,7
40 – 59 anos71346,9
60 – 79 anos1449,5
 >80 anos 110,7
Sexo
Mas107170,4
Fem45029,6
Cor/Raça
Parda111473,2
Branca25616,8
Preta825,4
Indígena60,4
Amarela11
Ignorado624,1
Escolaridade
Nenhuma1499,8
1 – 3 anos26717,6
4 – 7 anos15610,3
8 – 11 anos1248,2
12 anos e mais603,9
Ignorado76550,2
Estado civil
 Solteiro80052,6
Casado19913,1
Separado judicialmente664,3
Viúvo573,8
Outro463,0
Ignorado35323,2
Total  1.521100,0

Fonte: DATASUS,2023.

O Gráfico 1 apresenta os dados relacionados à frequência de óbitos causados pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), correspondendo a 1521 casos nos anos de 2010 a 2020. Foram observados valores menores em 2010 a 2012 e 2018, com 3 picos entre esses anos, sendo eles em 2013, 2015 e 2017, e foi identificdo valores maiores nos anos de 2013, 2015 e 2020 com dois picos entre esses anos, sendo um em 2017 com 140 mortes e outro em 2019 com 147 mortes. 

Gráfico 1 – Frequência de óbitos causados pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) na Paraíba no período de 2010 a 2020.

Fonte: DATASUS,2023.

Como visto no gráfico anterior ocorreu um total de 1521 óbitos pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) no período de 2010 a 2020. A tabela 2 mostrará somente os municípios que tiveram mais mortes nesse período. Percebe-se que os municípios paraibanos com maiores índices de mortalidade por HIV foram João Pessoa 1072 (70,5%) e Campina Grande com 300 (19,7%).

Tabela 2 – Óbitos causados pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) nos municípios com maior número de casos na paraíba no período de 2010 a 2020.

MunicípiosN%
João Pessoa1.07270,5
Campina Grande30019,7
Sousa231,5
Patos191,2
Cajazeiras161,1
Santa Rita120,8
Total144294,8
Fonte: DATASUS,2023.

A tabela 3 apresenta os óbitos causados pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) por macrorregiões na paraíba no período de 2010 a 2020. Houve maior predomínio na Macrorregião I – João Pessoa, representando 1115 (73,3%) do total de óbitos. 

Tabela 3 – Óbitos causados pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) por macrorregiões na paraíba no período de 2010 a 2020.

MacrorregiãoN%
  Macrorregião I – João Pessoa1.11573,3
  Macrorregião II – Campina Grande 33321,9
  Macrorregião III – Alto Sertão734,8
Total1.521100,0

Fonte: DATASUS,2023.

A tabela 4 mostra os óbitos por local de ocorrência causados pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) no período de 2010 a 2020. Foi observado que a maioria dos óbitos ocorreram no hospital com 1426 (93,7%) e no domicílio com 76 (5,0%). 

Tabela 4 – Óbitos causados pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) por local de ocorrência na paraíba no período de 2010 a 2020.

Local de corrência dos óbitosN%
  Hospital1.42693,7
  Domicílio765,0
  Outro estabelecimento de saúde110,7
  Via pública 40,3
  Outro40,3
Total1.521100,0
Fonte: DATASUS,2023.

Discussão:

Os dados sociodemográficos dos óbitos ocorridos em pacientes com o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) no Estado da Paraíba no período de 2010 a 2020 apresentou uma maior quantidade na faixa etária entre 40 a 59 anos, sexo masculino, cor/raça parda, escolaridade ignorada e estado civil soteiro, o que demonstra a fragilidade do acesso e da assistência à saúde dessa população, o que requer novas formas de prevenções para diminuir a incidência, óbitos da doença e as desigualdades na saúde (LINS et al., 2019). 

A faixa etária predominante de óbitos de pessoas com o HIV foi entre 40 a 59 anos, o que foi possível identificar que esse número se aproxima de pessoas que estão próximas à terceira idade. Isso se justifica pelo aumento da expectativa de vida e a diminuição da taxa de natalidade, como também o avanço de medicamentos que possibilitam a ampliação da longevidade e os que melhoram o desempenho sexual, onde aumentam a qualidade e a frequência de relações sexuais entre pessoas nessa faixa etária (LIMA, 2020). 

Outros dados semelhantes foram tragos no estudo realizado por Lemes et al. (2021), onde evidenciou os principais aspectos que contribuem para a expansão do número de casos de HIV nessa faixa etária, foram: atividade sexual mais ativa e, muitas vezes, desprotegida; falta de percepção do risco da doença; expansão dos tratamentos de reposição hormonal e da impotência sexual; aumento da expectativa de vida e principalmente o diagnóstico tardio da doença.

O diagnóstico tardio do HIV/Aids se apresenta como um dos principais impasses para o controle da pandemia, por causa da disseminação da infecção e da morbimortalidade. Mundialmente, em 2015, havia 5,8 milhões de pessoas vivendo com HIV/aids com mais de 50 anos e que até 2030 esse número chegaria a 73%, muitas vezes, isso se justifica pela descoberta tardia e a não adesão ao tratamento (SILVA; BIGARAN; FEDOCCI, 2022). 

Foi observado que o sexo masculino se apresentou um maior número de óbitos em relação ao sexo femenino, com um total de 1071. Dados semelhantes foram encontrados no estudo realizado por Lins et al. (2019), realizado em toda a região Nordeste no período de 2006 a 2016, o qual identificou também o sexo masculino com o maior número, com um total de 940 óbitos. Estudos internacionais também comprovam as informações anteriores, visto que 68% dos óbitos foram na população masculina (CABRERA et al. 2021).

O estudo de Gonçales et al. (2021) relatou que os homens heterossexuais apresentam alta prevalência de contrair HIV e evoluir a óbito, pelo fato da maioria não participam de atividades que envolvam educação em saúde, como também as políticas de prevenção a serem direcionadas a outras populações consideradas mais vulneráveis. Destarte, durante os anos houve um aumento de casos de HIV em relação aos homens que fazem sexo com homens (HSH), o que justifica a grande incidência e óbitos nessa população, o que pode estar relacionado pelo não uso de preservativos e o coito anal não oferecer risco de gravidez, além do homem ter mais relações extraconjugais, elevando a probabilidade de contágio da doença. 

Com relação aos aspectos culturais, a dependência efetiva e o medo de muitas mulheres em perder o parceiro, faz com o que, as mesmas, se submetam a prática de sexo sem camisinha. Isso faz com que coloquem as mulheres em uma situações maiores de ricos, mesmo apresentando menor prevalência em relação aos homens (SILVA et al., 2022). Outra justificativa é o machismo que ainda existe em sociedade, gerando a ideia de que o homem não deve usar preservativo por diminuição do prazer, além de que os homens procuram menos os serviços de saúde colocando-os ,assim, como o maior grupo de risco de se contaminar (CHAVES et al., 2020).

A cor/raça parda apresentou o maior número de óbitos causados pelo HIV na Paraíba, refletindo as dificuldades que esses indivíduos apresentam em relação ao acesso aos serviços de saúde, e devido a outros aspectos como as condições sociodemográficas desfavoráveis, renda familiar baixa, menor índice de saneamento básico e entre outros (CASTRO et al., 2022).

No presente estudo, foi evidenciado um alto índice do resultado ignorado na variável escolaridade, pois demonstra uma grande falha durante a identificação dos pacientes e as notificações dos casos. É necessário obter um maior número de informações durante as notificações, uma vez que esses dados servirão para o planejamento de ações por parte do serviço de saúde para o enfrentamento da doença e como um importante indicador para caracterizar o perfil sociodemográfico e o grau de vulnerabilidade dessa população (GALVÃO; COSTA; GALVÃO, 2017).

Entretanto, existem evidências de que as altas taxas de infecções e mortes causadas pelo HIV está relacionada ao baixo grau de escolaridade do indivíduo, principalmente os classificados como analfabetos ou com até com o ensino fundamental completo, quando comparados com aqueles que concluíram o ensino superior, uma vez que não possuem percepções diante a transmissibilidade e o que esse vírus pode causar (GONÇALES et al., 2021).

A maior parte dos óbitos foram em solteiros (52,5%), inferindo um comportamento de risco para aqueles que possuem múltiplos parceiros sem a utilização de medidas de prevenção. O estudo realizado por Lins et al. (2019), constatou em todos os Estados da região Nordeste, que a variável solteiro apresentou a grande maioria dos óbitos, tendo a Paraíba 70,8%, Bahia 76%, Ceará 70%, Rio Grande do Norte 71,5%, Pernambuco 76%, Alagoas 69%, Maranhão 75%, Sergipe 75,1% e Piauí 66,1%, tal variável comparada somente com a variável casado.

Os solteiros se enquadram como a maior porcentagem de infecção e morte pelo HIV devido a o alto grau de exposição e risco que essa população possui. Isso se relaciona devido a variabilidade de parceiros, falta de cuidados com a saúde, consumo exacerbado de álcool e drogas, como também a falta de conhecimento de como ocorre a transmissão e as consequências que essa doença pode trazer, não só para si mesmo, como também para o coletivo (SILVA et al., 2021; TRINDADE et al., 2019).

É possível avaliar que a taxa de mortalidade de pacientes com o HIV no estado da Paraíba no período de 2010 a 2020 aumentou ao longo dos anos, obtendo uma quantidade maior de óbitos nos anos de 2013 com 150 mortes, 2015 com 162 e 2020 com 166. Desde o último pico que foi em 2015 os óbitos se mantiveram na média, havendo um aumento no ano de 2020, sendo o ano com a maior quantidade de óbitos avaliado nesse estudo desde 2010. 

Vários fatores podem estar atrelados para a causa desses óbitos, dentre eles a baixa testagem de HIV no público em geral e, especificamente, na população mais vulnerável para a contaminação, uma vez que a não testagem precoce leva ao desconhecimento da soropositividade e acarreta a mais uma etiologia importante dos óbitos como a não adesão ao tratamento (GUIMARÃES et al., 2017). Um estudo nacional apontou que a utilização precoce da terapia antirretroviral (TARV) aumenta a expectativa de vida em até mais de 80%, ocorrendo, assim, a queda acentuada nas taxas de mortalidade (MULLER; BORGES, 2020). 

Outro ponto importante referente ao diagnóstico custoso da doença e que influencia para o grande número de mortes de pessoas que vivem com HIV/Aids é a procura tardia pela realização dos testes, que na maioria das vezes é realizada somente após o aparecimento dos sinais e sintomas graves, pelo fato de que o medo do diagnóstico diminui a adesão a realização dos exames (SILVA et al.,2016). 

Os municípios do Nordeste Paraibano que também se configuram como macrorregiões e que possuíam mais óbitos foram João Pessoa e Campina Grande. Isso se relaciona pelo fato de que a capital Paraibana possui o maior número de habitantes, com aproximadamente 1,27 milhões, que respondem a 0,64% da população total do país (IBGE, 2010). Isso se deve não só pela maior facilidade de acesso aos meios diagnósticos e por serem os municípios com maiores níveis de complexidade de atenção à saúde na Paraíba, mas também pela grande concentração populacional que esses centros urbanos possuem (SILVA et al., 2022).

O estudo de Cunha et al. (2022) evidenciou que os Estados da região Norte e Nordeste apresentaram-se como um alto crescimento de mortalidade em relação aos demais Estados do país. Um fator importante que poderia ter influenciado esses óbitos são as desigualdades existentes, principalmente, na região Nordeste, falta de atenção e a escassez de oferta de serviços especializados e o acesso tardio ao tratamento, o que agrava o cenário da doença nesses locais, o que requer medidas maiores de atenção nesta região.

Outro parâmetro avaliado neste estudo foi o local de ocorrência dos óbitos, onde ocorreu em sua maioria em hospitais. Muitas vezes, esses óbitos ocorrem pela presença de infecções oportunistas (IOs), o que faz com que a causa do adoecimento e morte seja por outras patologias que se manifestam quando há o comprometimento da imunidade celular causada pelo vírus (GONÇALES et al., 2021).

A  infecção compromete o sistema imune de maneira sistêmica, tornando o indivíduo suscetível a diversas alterações, tais como: candidíase, herpes vírus, malária, pneumonia,  tuberculose, leucoplasia pilosa, sarcoma de Kaposi, linfoma não-Hodgkin, gengivite ulcerativa necrotizante aguda e periodontite (CHAVES et al., 2020). Dentre as IOs oportunistas citadas, vale destacar a Tuberculose como a coinfecção mais frequente, sendo a principal causa de morte no mundo e, por isso, é necessário que essa doença receba uma atenção especial para o seu controle (SILVA et al.,2016).

Apesar de que haja uma diminuição do crescimento da epidemia de HIV/AIDS, ainda continua havendo aumento de pessoas que vivem com essa doença maior em relação aos óbitos, estima-se que mais de 20 milhões de pessoas vivem com HIV no mundo, sendo que 70% dos estimados faleceram. Essa afirmativa é justificável devido ao aumento da sobrevida associada à disponibilidade da TARV (MULLER; BORGES, 2020).

Entretanto, ainda existem dificuldades em relação à adesão ao tratamento, visto que a quantidade de doses que são administradas podem influenciar para o não seguimento da terapêutica. O estudo realizado por Muller; Borges, (2020) comprovou tal hipótese, uma vez que esquemas que possuem um número de doses maiores, além de posologia complexa, reações adversas, dificuldades de acesso aos serviços e aos medicamentos e a presença de comorbidades se caracterizam com um impasse para o sucesso do tratamento, muitas vezes, havendo a desistência pelo paciente e levando a complicações, a transmissibilidade e até ao óbito.

Mediante o exposto, apesar de que a quantidade de pessoas vivas com HIV seja maior em relação aos óbitos no mundo, o HIV/Aids continua sendo um grave problema  de  saúde  pública e faz milhares de vítimas todos os anos, impondo desafios à comunidade científica  mundial. Dessa forma, faz-se necessário que os profissionais de saúde, frente a um infectado pela doença, sejam capacitados para atuarem na prevenção, controle e a erradicação da transmissibilidade, a medida que a falta de informação, a  prevenção e  o cuidado com  o HIV ainda são importantes questões a serem resolvidas (MOURA; FARIA 2017). 

As limitações do estudo estão relacionadas a falta de preenchimento ou o não preenchimento de forma correta no momento da notificação, como exemplo encontrado na variável escolaridade, visto que possui um alto número ignorado nos dados obtidos pelo DATASUS, o que dificulta o real conhecimento sobre a distribuição da mortalidade em pacientes com HIV na Paraíba. 

Conclusão: 

Nos últimos anos foi possível avaliar que a distribuição da mortalidade por pessoas vivendo com HIV/Aids ainda permanece constante, visto que é uma doença prevalente que acomete toda a população. Entretanto, ao longo dos anos essa doença segue as características do cenário nacional de transição do perfil epidemiológico da infecção pelo HIV, Já que persiste em acometer o sexo masculino, cor/raça parda, baixo grau de escolaridade e o público solteiro. 

Além disso, outro perfil predominante na amostra foi da faixa etária de 40 a 59 anos, o que justifica pelo avanço de medicamentos, melhora no desempenho sexual, diagnóstico tardio da doença e o primeiro aparecimento dos sinais e sintomas, visto que o indivíduo infectado por HIV fica em um longo período latente e os sinais e sintomas aparecem de forma tardia. Dessa forma, os dados sociodemográficos apresentaram a maior parte das variáveis semelhantes de outras pesquisas. 

Por outro lado, a região Nordeste merece atenção especial diante os casos e mortes causadas pelo HIV, uma vez que mesmo com todos os métodos existentes contra a infecção e mortes, ainda se apresenta prevalente em relação às demais regiões do País. Dessa forma, faz-se a necessidade da realização de políticas públicas que erradique ou diminua tal situação na região, por meio da adoção de medidas pelos profissionais de saúde com a identificação precoce e tratamento correto para reduzir, assim, o contágio e a morte.

Por fim, constatou-se que os objetivos da pesquisa diante da caracterização da distribuição de mortes causados pelo HIV na Paraíba no período de 2010 a 2020 foram alcançados, e espera-se que os achados possam contribuir para a estratégia e adoção de ações mais robustas direcionadas para o público mais acometido pela doença, sendo que a definição do perfil epidemiológico mostra-se como um importante instrumento para o direcionamento destas medidas visando à minimização do número de óbitos.

Referências:

BRASIL. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 510, de 07 de abril de 2016. Dispõe sobre as normas aplicáveis a pesquisas em Ciências Humanas e Sociais. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 24 maio 2016, 2016.

CABRERA, S. et al. Mortalidad por sida en Uruguay: perfil de las personas fallecidas en 2014. Revista Medica Del Uruguay, v. 35, n. 3, p. 181–192, 2019. 

CASTRO, L. et al. Epidemiologia da mortalidade pelo HIV/AIDS no Brasil entre os anos de 2016 e 2021: uma revisão integrativa. Revista Eletrônica Acervo Saúde, v. 15, n. 9, p. 1-11, 2022.

CHAVES, L. L. et al. Prevalência de infecções oportunistas em pacientes HIV positivos atendidos no Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) em município do Pará, em 2015 e 2016. Revista Eletrônica Acervo Saúde/Electronic Journal Collection Health, n. 51, p. 1-9, 2020.

CUNHA, A. P.; CRUZ. M. M.; PEDROSO, M. Análise da tendência da mortalidade por HIV/AIDS segundo características sociodemográficas no Brasil, 2000 a 2018. Revista Ciência & Saúde Coletiva, v. 27, n. 3, p.895-908, 2022.

DIAS, J. O. et al. Principais sintomas e alterações imunológicas decorrentes da infecção pelo vírus HIV: uma revisão bibliográfica. Revista Eletrônica Acervo Saúde / Electronic Journal Collection Health, v. 40, n. 40, p. 1-11, 2020.

GALVÃO, J. M. V.; COSTA, A. C. M.; GALVÃO, J. V. Perfil sócio demográfico de portadores de HIV/AIDS de um serviço de atendimento especializado. Revista de Enfermagem da UFPI, v. 6, n. 1, p. 4-8, 2017.

GONÇALES, L. F. R. et al. Caracterização epidemiológica e clínica do HIV/Aids: associações com a mortalidade. Revista Eletrônica Acervo Saúde/Electronic Journal Collection Health, v. 13, n.1, p. 1-10, 2021. 

GUIMARÃES, M. D. C. et al. Mortalidade por HIV/Aids no Brasil, 2000-2015: motivos para preocupação? Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 20, n. 1, p. 182-190, 2017.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Censo brasileiro de 2010. Rio de janeiro: IBGE, 2010. Disponível em: <https://www.ibge.gov.br/>.

LINS, M. E. V. S. et al. Perfil epidemiológico de óbitos por HIV/AIDS na região nordeste do Brasil utilizando dados do sistema de informação de saúde do DATASUS. Brazilian Journal of health Review, v. 2, n. 4, p. 2965-2973, 2019.

LIMA, A. P. R. Sexualidade na Terceira Idade e HIV. Revista Longeviver, n. 5, p. 18-42, 2020. 

LEMES, C. D.; FAVORETTO, C. K.; GOMES, C. E. Fatores associados à mortalidade por hiv/aids em idosos: análise espacial para as microrregiões do sul e do sudeste do brasil. Revista Econômica do Nordeste, v. 52, n. 2, p. 81-101, 2021.

MELO, B. O. et al. Epidemiologia e aspectos imunopatológicos do vírus da imunodeficiência humana (HIV): revisão de literatura. Revista Ceuma Perspectivas, v.31, p. 86-100, 2018.

MULLER, E. V.; BORGES, P. K. O. Sobrevida de pacientes HIV/AIDS em tratamento antirretroviral e fatores associados na região dos Campos Gerais, Paraná: 2002-2014. Brazilian Journal of Development, v. 6, n.5, p.28523-28542, 2020.

MOURA, J. P.; FARIA, M. R. Caracterização e perfil epidemiológico das pessoas que vivem com hiv/aids. Revista de Enfermagem UFPE On Line, v. 11, n. 12, p. 5214-5220, 2017.

RAMOS, F. B. P. et al. A educação em saúde como ferramenta estratégica no desenvolvimento de ações de prevenção da transmissão do HIV: um relato de experiência. Revista Eletrônica Acervo Saúde / Electronic Journal Collection Health, v. 19, p. 1-6, 2019.

RACHID M.; SCHECHTER A. Manual de HIV/AIDS. 10 ed – Rio de Janeiro – RJ: Thieme Revinter Publicações Ltda. 2017. 276p.

SANTOS, A. C. F. et al.   Perfil epidemiológico dos pacientes internados por HIV no Brasil. Revista Eletrônica Acervo Saúde / Electronic Journal Collection Health, v. 48, n. 48, p. 1-9, 2020.

SILVA, A. C. R.; BIGARAN, L. T.; FEDOCCI, E. M. M. Implicações do diagnóstico tardio da infecção pelo HIV/AIDS. Research, Society and Development, v. 11, n. 5, p. 1-9, 2022.

SILVA, H. R. T. et al. Perfil sociodemográfico de pacientes portadores de HIV/AIDS internados no Hospital Universitário Alcides Carneiro para tratamento de infecções oportunistas.  Brazilian Journal of Development, v. 8, n. 7, p. 51769–51791, 2022. 

SILVA, A. L. et al. Análise dos índices de mortalidade por HIV/AIDS no estado de Pernambuco, 2010 A 2019. Brazilian Journal of Health Review, v.4, n.3, p. 12257-12266, 2021.

SILVA, R. A. R. et al. Perfil clínico-epidemiológico de adultos hiv-positivo atendidos em um hospital de Natal/RN. Revista de Pesquisa Cuidado é Fundamental Online, v. 8, n. 3, p. 4689–4696, 2016. 

TRINDADE, F. F. et al. Perfil epidemiológico e análise de tendência do HIV/AIDS. Journal Health NPEPS, v. 4, n. 1, p. 153-165, 2019. 


1Centro Universitário de Patos – UNIFIP: luizcarlosperreira.15@gmail.com
2Universidade Norte do Paraná – UNOPAR: erikis.lucas1@gmail.com
3Centro Universitário de Patos – UNIFIP: ygor.patos1@hotmail.com
4Centro Universitário de Patos – UNIFIP: nairymatheus1979@gmail.com
5Centro Universitário de Patos – UNIFIP: bya_sousa@hotmail.com
6Centro Universitário Facisa – Unifacisa: fernandohenriquenurse@gmail.com
7Faculdade Pitágoras: Milamelof@gmail.com
8Universidade de Rio Verde – UniRV: isabellarezendegamaral@gmail.com
9Universidade Evangélica de Goiás – UniEVA: biancabomfim2001@hotmail.com
10Universidade Evangélica de Goiás – UniEVA: gabriella-tolentino@hotmail.com
11Universidade Evangélica de Goiás – UniEVA:camposcastroluisa@gmail.com
12Centro Universitário Santa Maria – UNIFSM: ermeson_morais@hotmail.com