DISPENSACIÓN DE CORTICOIDES EM ESTABELECIMENTOS FARMACÉUTICOS DENTRO DEL ESPIRITO SANTO Y LOS RIESGOS DE LA AUTOMEDICACIÓN
DISPENSATION OF CORTICOIDS IN PHARMACEUTICAL ESTABLISHMENTS INSIDE THE SPIRIT AND THE RISKS OF SELF-MEDICATION
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102410231757
Herminio Oliveira Medeiros1
Uemerson Souza Silva2
Welington Candido da Silva3
Leonardo Henrique Carvalho4
Resumo
Objetivo: Determinar os corticoides mais dispensados em cinco estabelecimentos farmacêuticos na cidade de Ibatiba-ES, relacionar os principais efeitos adversos relacionados ao uso dos corticoides e analisar se as informações contidas nas bulas estão de acordo com as expressas na literatura. Método: Utilizou-se informações contidas na literatura e artigos mais relevantes sobre os efeitos adversos relacionados ao uso de corticoides e levantamento de dados de dispensação de corticoides em cinco estabelecimentos farmacêuticos diferentes na cidade de Ibatiba-ES. Resultados: Percebeu-se que são muitos os danos causados por terapia com corticoides, em alguns casos mais graves podendo levar ao óbito, e que dentro de cinco estabelecimentos analisados em relação a dispensação, os fármacos mais potentes da classe têm um maior consumo pelos pacientes. Conclusão: Os corticoides devem sempre ser utilizados sob orientação de um profissional devido à variedade de alterações que podem causar no organismo, pois existem pacientes de risco ao serem submetidos ao tratamento.
Descritores: Corticoides. Dispensação de corticoides. Efeitos adversos de corticoides.
Abstract
Objective: To identify the main adverse effects related to the use of corticosteroids, to define by means of documentary research the corticosteroids most dispensed in five pharmaceutical establishments in the city of Ibatiba-ES and finally to identify whether the information contained in the package inserts is in accordance with those expressed in the literature. Method: Information from the literature and most relevant articles on adverse effects related to the use of corticosteroids and survey of corticosteroid dispensing data in five different pharmaceutical establishments in the city of Ibatiba-ES were used. Results: It was realized that there are many damages caused by corticosteroid therapy, in some cases more severe and may lead to death, and that within five establishments analyzed in relation to dispensing, the strongest drugs in the class have a higher number of consumption by patients. Conclusion: Corticosteroids should always be used under the guidance of a professional due to the variety of changes they can cause in the body, as there are patients at risk when undergoing treatment
Descriptors: Corticosteroids. dispensation. adverse effects.
Resumen
Objetivo: Identificar los principales efectos adversos relacionados con el uso de corticosteroides, definir mediante investigación documental los corticoides más dispensados en cinco establecimientos farmacéuticos de la ciudad de Ibatiba-ES y finalmente identificar si la información contenida en los prospectos se ajusta a las expresadas en el literatura. Método: Se utilizó información de la literatura y artículos más relevantes sobre efectos adversos relacionados con el uso de corticosteroides y encuesta de datos de dispensación de corticosteroides en cinco establecimientos farmacéuticos diferentes de la ciudad de Ibatiba-ES. Resultados: Se vislumbró que son muchos los daños provocados por la terapia con corticoides, en algunos casos más severos y pueden conducir a la muerte, y que dentro de los cinco establecimientos analizados en relación a la dispensación, los medicamentos más fuertes de la clase tienen un mayor número de consumo por pacientes. Conclusión: Los corticosteroides siempre deben usarse bajo la guía de un profesional debido a la variedad de cambios que pueden causar en el organismo, ya que hay pacientes en riesgo durante el tratamiento.
Descriptores: Corticosteroides dispensa. efectos adversos.
INTRODUÇÃO
Durante a formação de um profissional da área da saúde, especialmente farmacêuticos, faz-se importante o conhecimento sobre farmacologia, automedicação e interação medicamentosa, pois se os medicamentos forem usados sem orientação de um profissional aumenta o risco de ocorrer algum efeito adverso (PEREIRA et al., 2007).
Os corticoides têm sua eficácia conhecida no tratamento de doenças inflamatórias e imunológicas, por exercer ação anti-inflamatória e imunossupressora. São medicamentos de elevado uso em todo o mundo, sendo usados, principalmente para tratar pacientes com inflamações crônicas como asma, artrites, dermatites, dentre outros. São semelhantes aos esteroides hormonais endógenos como cortisol e hidrocortisona, também produzidos na região cortical das glândulas suprarrenais, que exercem diversas funções fisiológicas. Os corticoides foram introduzidos na prática médica em 1949, para o tratamento da artrite reumatoide. Suas indicações, desde então, se espalham pelas diversas especialidades médicas, incluindo a dermatologia, a endocrinologia, a oncologia e a oftalmologia (FINAMOR et al., 2002)
A descoberta dessa classe de medicamentos proporcionou uma melhora na qualidade de vida de muitos pacientes, entretanto, o uso dos glicocorticoides, que são hormônios esteroides e apresenta uma ampla e diversa farmacologia não é isento de efeitos adversos importantes. Os corticoides, em especial, quando utilizado em altas doses e por longos períodos, expõe seu usuário a alguns riscos, por isso deve ser bem avaliada a necessidade do uso dessa classe de medicamentos, sempre levando em conta o tempo de tratamento, dose e tipo para cada patologia (FINAMOR et al., 2002).
O uso dos glicocorticoides sem uma avaliação podem gerar efeitos colaterais sistêmicos graves, como: osteoporose, dislipidemia, hipertensão, entre outros. A automedicação por essa classe de medicamentos pode gerar um grave risco, pois existe a busca por seus benefícios no tratamento de doenças ou alívio de sintomas sem a indicação de um prescritor. Pereira e colaboradores (2007) citam que o amplo uso de medicamentos sem orientação médica, quase sempre acompanhado do desconhecimento dos malefícios que esses podem causar, é apontado como uma das causas destes constituírem o principal agente tóxico responsável pelas intoxicações humanas registradas no país. O uso muitas vezes se dá através do compartilhamento dos medicamentos ou prescrições, da reutilização de antigas receitas, do prolongamento do
tratamento, além da aquisição do produto sem prescrição médica. E o uso indevido desse tipo de medicação sem avaliação por um profissional pode gerar reações adversas, aparecimento de sintomas inespecíficos e piora da condição de saúde, além de distúrbios fisiológicos. É necessário saber que:
[…] por apresentarem tantos efeitos paralelos indesejáveis, seu uso deve ser sempre individualizado e planejado, com os pacientes sendo supervisionados periodicamente. Algumas precauções devem ser priorizadas antes de sua administração, dessa forma, evitando ou minimizando seus vários efeitos colaterais (FINAMOR et al., 2002).
Levando-se em consideração a grande possibilidade de provocar reações adversas e/ou efeitos colaterais e também a representativa automedicação que os cidadãos brasileiros apresentam, o presente estudo buscou definir por meio de pesquisa qualitativa os corticoides mais dispensados em farmácias e drogarias, levantar informações na literatura sobre todos os danos decorrentes do uso inadequado de corticoides, identificar se as bulas dos corticoides mais dispensados estão de acordo com as informações que a literatura expressa e determinar por meio da literatura os pacientes que estão mais suscetíveis a efeitos danosos relacionados ao uso de corticoides, evidenciando um grupo de risco.
OBJETIVOS
Objetivo geral
- Identificar os corticoides mais dispensados em quatro drogarias e um posto de dispensação do município de Ibatiba-ES.
Objetivos específicos
- Relacionar os efeitos prejudiciais que podem ser desencadeados pelo uso indiscriminado e por automedicação dos corticoides mais vendidos do mercado.
- Encontrar na literatura informações sobre todos os danos decorrentes do uso inadequado de corticoides, evidenciando possíveis grupos de risco;
- Identificar se as bulas dos corticoides mais dispensados estão de acordo com as informações que a literatura expressa.
METODOLOGIA
O trabalho passou pela fase de revisão na literatura, onde foram utilizados termos-chaves, como: corticoides, glicocorticoides, automedicação, corticoterapia, mineracorticoides, nos bancos de artigos SciELO, PubMed/MEDLINE, Google Scholar e Lilacs, durante o período de junho de 2019 a junho de 2020. Para a seleção dos trabalhos, foram considerados os seguintes critérios de inclusão: trabalhos publicados nos idiomas português e espanhol, no período de 2006 a 2020, com exceção de um artigo científico publicado no ano de 1998, por este apresentar revisão bibliográfica histórica relevante de cinquenta e dois artigos relacionados aos corticoides, dentre eles um artigo clássico que se refere aos efeitos sistêmicos dos corticoides desenvolvido pela escola de medicina da Universidade Federal de São Paulo e publicado pela Revista da Associação Médica Brasileira.
Na primeira seleção os artigos foram selecionados por títulos que se enquadram no tema pesquisado dentro do corte temporal. Na segunda etapa foram lidos todos os resumos e excluídos aqueles que não se tratavam de pesquisas sobre corticoides, ou que não se tratava de assuntos relacionados a farmacologia. Na terceira etapa os artigos restantes foram submetidos a uma leitura criteriosa e minuciosa para a última seleção. Como se trata de uma pesquisa o estudo usou-se de levantamento de dados relacionados a dispensação de medicamentos da classe dos anti-inflamatórios esteroidais. A pesquisa de campo contemplou o objetivo geral do estudo, dispensação de corticoides e seus efeitos prejudiciais decorrentes da automedicação.
A amostra de dados foi composta por relatórios de dispensações de drogarias e do posto de dispensação municipal de uma cidade do interior capixaba totalizando o total de cinco estabelecimentos, sendo um público e quatro privados. Os relatórios foram emitidos pelos bancos de dados dos sistemas integrados de gestão e dispensações feitas no estabelecimento durante o
período de um ano (entre junho de 2019 à junho de 2020), após apresentação prévia da classe farmacoterapêutica e apresentação da pesquisa aos responsáveis.
Os dados foram então analisados e elaborou-se um gráfico final para cada estabelecimento. Depois um novo gráfico foi feito no geral para análise completa, por fim, com esses gráficos em mãos, se fez a correlação e apresentação da relação de dispensações com o conteúdo científico.
REFERENCIAL TEÓRICO
Corticoideterapia
O uso de corticoides faz parte da história clínica devido à importância médica que essa classe carrega e pela promoção de sobrevida e qualidade de vida de milhares de pacientes pelo mundo. Classificados também como glicocorticoides, mineralocorticoides e androgênios pela literatura, os corticoides são hormônios esteroides produzidos no córtex adrenal a partir de moléculas de colesterol. São usados na terapia variadas moléculas que se diferem por potência, meia vida e efeitos colaterais. Ao longo dos anos se busca obter modificações a partir do cortisol para se encontrar ativos mais potentes e com menos efeitos colaterais (FREITAS; SOUZA, 2007).
Os corticoides são lipofílicos e por isso atravessam a membrana celular e entram no citoplasma onde se ligam a receptores específicos. Esses receptores funcionam como carreadores levando o ativo ao núcleo onde ocorre interação com o DNA, modificando mediadores inflamatórios e também a resposta imunológica (FARIA; LONGUI, 2006)
Como anti-inflamatórios os corticoides estabelecem a redução da concentração, distribuição e função dos leucócitos periféricos, das prostaglandinas, das enzimas pro inflamatórias, neutrófilos, eosinófilos e imunoglobulinas, gerando apoptoses e diminuição da inflamação. Eles causam vasoconstrição inibindo atividade de cininas, endotoxinas bacterianas e grande quantidade de histamina. Algumas das indicações da classe são para: insuficiência suprarrenal aguda e crônica, artrite reumatoide, lúpus eritematosos sistêmicos, esclerodermia, dermatoses, asma, reações alérgicas, broncoespasmo grave, urticaria, dermatites, cirrose não
alcoólica, gota, algumas patologias do sistema nervoso central, inflamações crônicas, dentre outras (FREITAS; SOUZA, 2007).
Todavia, o uso dos glicocorticoides de forma crônica, ou seja, de forma continua ou prolongada, pode oferecer riscos aos pacientes devido a efeitos colaterais que o mesmo pode apresentar, o que faz com que o tratamento com esses ativos precise ser monitorado, levando-se em consideração doses, tempo de tratamento, associação com outros fármacos, e por fim a retirada gradual do medicamento. Vale ressaltar que, a parada com esses medicamentos não pode ser imediata, deve ocorrer de forma lenta e gradual, pois deve-se evitar que o organismo sinta falta da cortisona e passe a produzir esse hormônio novamente. Esse processo de retirada lenta e gradual de medicamentos é chamado de desmame pelos profissionais da saúde (ALVES; ROBAZZ; MENDONÇA, 2008).
Efeitos prejudiciais dos Corticoides
Os efeitos colaterais do uso de glicocorticoides está relacionado especialmente a ação metabólica e administração prolongada e por muitas vezes altas doses. A forma farmacêutica pode diferenciar os efeitos danosos aos pacientes, sendo os sistêmicos mais agressivos que os tópicos. Existe uma série de efeitos colaterais sistêmicos provocados pelos glicocorticoides e se destacam alguns relevantes como osteoporose, miopatia, dislipidemia, hipertensão, retardo de crescimento em crianças, impotência, glaucoma, hipocalemia, úlceras, depressão, síndrome de cushing, além de interferência imunossupressora (FAIÇAL; UEHARA, 1998).
[…]A síndrome de Cushing (SC) é o principal efeito adverso que ocorre com o uso crônico de glicocorticoides, afetando vários órgãos e sistemas. Esta síndrome é resultante da exposição crônica aos glicocorticoides (produzido no córtex adrenal) ou por sua utilização em altas doses, levando a várias alterações sistêmicas (OLIVEIRA, 2010, p.15).
A ação dos glicocorticoides na resposta imunológica se deve na maioria das vezes ao uso prologado e/ou crônico, entretanto não se conseguiu chegar a uma resposta exata sobre a correlação dos fármacos com a supressão imunológica, porém as altas doses inibem a resposta autoimune em tecidos lesados. No lugar onde a inflamação está localizada os níveis de leucócitos, macrófagos e linfocitose encontram baixos, o que é explicado pela inibição do fator ativador de plasminogênio provocada pelo glicocorticoide. Segundo Faiçal e Uehara (1998) a administração de glicocorticoides em humanos causa linfocitopenia, monocitopenia e eosinopenia.
Os glicocorticoides interferem na circulação das células imunes, diminuem o número de linfócitos periféricos, principalmente linfócitos T os quais são importantes para resposta inflamatória, além da inibição de transcrição de citocinas derivadas de linfócitos T o que modifica a resposta imune de Th1 para Th2 fisiologicamente o que inibe a resposta imune mediada por células (TORRES; INSUELA; CARVALHO, 2012).
Articulam direta e indiretamente a função das células B reduzindo seu número através da estimulação de apoptose de seus geradores, pelo mesmo mecanismo reduzem o número de mastócitos, principais células em respostas associadas a imunoglobulina E, o que é observado pela redução na produção de fator de célula tronco (SCF) e/ou IL-3 local, que são fatores de diferenciação e sobrevida de mastócitos (TORRES; INSUELA; CARVALHO, 2012).
Os eosinófilos também sofrem intervenção pela ação sobre a liberação de seus mediadores, e ainda sofrem apoptose associada à redução na produção Inter leucina 5 por exemplo, e fator estimulador de colônias de granulócitos-macrófago. Os glicocorticoides também vão apresentar efeitos prejudiciais no sistema reprodutor humano, o que pode ser observado mais explicitamente quando o medicamento é administrado em doses altas. As ações dos fármacos induzem a diminuição da concentração plasmática do principal hormônio sexual masculino, a testosterona o que é apenas resultado da inibição da produção de hormônio luteinizante (LH), e ações diretas nos testículos (FAIÇAL; UEHARA, 1998).
Em estudo realizado pela revista Pesquisa FAPESP em indivíduos que fazem o uso de corticoides para tratamento de lúpus, notou-se níveis do hormônio folículo estimulante FSH elevado e defeitos na produção de espermatozoides, esta alteração foi associada principalmente ao uso da ciclofosfamida. Já nas mulheres acontece supressão dos níveis plasmáticos de hormônio luteinizante (LH) basal e depois estímulo com hormônio hitalâmico, o qual não acontece com o FSH, dos níveis plasmáticos de estrógeno e progesterona, da ovulação e do início da puberdade (FAIÇAL; UEHARA, 1998).
Outra área em que os corticoides atuam de forma prejudicial é no metabolismo dos carboidratos, produzindo uma disposição à hiperglicemia basicamente devido ao aumento da gliconeogênese hepática, processo através do qual precursores como lactato, piruvato, glicerol e aminoácidos são convertidos em glicose e antagonismo periférico à ação da insulina o que resulta
em uma baixa absorção de glicose, podendo induzir o surgimento de diabetes, de forma moderada, estável, podendo ser reversível com a parada do uso, porém pacientes com predisposição genética podem continuar diabéticos. A pressão arterial também é afetada pelo uso prolongando dos corticoides, a hipertensão é encontrada em cerca de 15-20% dos indivíduos, o que é explicado pela retenção salina e reatividade vascular, gerada pela ação na musculatura lisa vascular, em células endoteliais e diretamente cardíaca, determinando uma elevação pressórica. Atuante na redução da produção de prostaglandinas, fortes vasodilatadores e principal produto do ácido araquidônico em artérias e veias, participa de outro mecanismo que é o sistema renina- angiotensina-aldosterona (VALENTE, SUSTOVICH; ATALLAH, 2013).
Os glicocorticoides também têm ação sobre os lipídios no organismo humano se são administrados em altas doses gerando alterações lipídicas, expressas pelo aumento de lipoproteínas de baixa densidade (LDL e VLDL), resultado em um aumento dos níveis de colesterol e triglicérides, a principal causa disso se dá pela influência na sínese de VLDL, produção de ácidos graxos e a ligação com a lipase endotelial (VALENTE, SUSTOVICH; ATALLAH, 2013).
A ação prejudicial em relação a proteína também existe e é observada pela baixa de síntese em pacientes crônicos, os corticoides atuam sobre a expressão de DNA e RNA celular, o que se explica esse resultado. Existe uma inibição de síntese de RNA em tecidos periféricos, já o DNA é degradado nesses tecidos (TORRES; INSUELA; CARVALHO, 2012).
Outros sistemas do organismo também são afetados pelo uso de corticoides, o sistema gastrointestinal sofre um aumento de síntese de ácido clorídrico na mucosa estomacal, o que abaixa o pH e gera feridas em associação com AINES, anti-inflamatórios não esteroidais (FAIÇAL; UEHARA, 1998).
Nos olhos, pacientes suscetíveis à pressão intraocular apresentaram uma elevação, a longo prazo alguns pacientes podem apresentar formação de cataratas. No sistema nervoso várias mudanças de humor são apresentadas na administração de altas doses, os pacientes se apresentam com um leve estado de tristeza e distúrbios de sono, onde ocorre uma tendência a redução da fase REM (FAIÇAL; UEHARA, 1998).
A classe exerce forte ação sobre os sais minerais no organismo, como cálcio, sódio e potássio. Sobre o metabolismo do cálcio os glicocorticoides exercem ação sobre intestino, rim e
ossos. A classe promove a diminuição da absorção intestinal e aumentam a excreção fecal de cálcio, pelo efeito antivitamina D a nível intestinal.
De acordo com Donatti (2011, p.7):
“Os efeitos sistêmicos dos GC em outros órgãos envolvidos no metabolismo do cálcio são importantes para explicar seus efeitos na mineralização óssea”. O metabolismo do cálcio nos rins também é prejudicado, devido a redução de reabsorção tubular renal, o cálcio é excretado pela urina de forma maior. O efeito intestinal ligado ao renal levam por resultado ao hiperparatiroidismo secundário e outros problemas ósseos acometidos pela falta de cálcio.
Sobre o metabolismo de sódio e potássio se apresenta uma elevada excreção de íons potássio e reabsorção de íons sódio. Em altas doses de corticoides os pacientes podem apresentar hipocalemia decorrente do fluxo urinário aumentado, uma alcalose metabólica pode ser encontrada se o paciente for exposto a altas doses por tempo prolongado como consequência da excreção acida, fosfatos e amônia. Um clearance de água livre é aumentado por efeito direto da corticoterapia sobre o túbulo renal e ao aumento de filtração glomerular (FAIÇAL; UEHARA, 1998).
Interações medicamentosas
Alguns fármacos têm interação com os glicocorticoides aumentando sua toxicidade e alguns alteram sua meia-vida prejudicando o efeito terapêutico esperado, a imagem ao lado aborda alguns exemplos; normalmente a toxicidade acontece pela inibição da CYP 3A4, algumas drogas induzem a CYP 3A4 como fenitoína, barbitúricos e carbamazepina. Antiácidos diminuem a absorção dos corticoides. A hipocalemia induzida pelos glicocorticoides, pode aumentar a concentração dos digitálicos, o que leva aos efeitos colaterais bem conhecidos. A redução de potássio também é um efeito dos diuréticos, uma interação que deve ser sempre lembrada para não ocorrer interações.
Uma interação importante é a de indução a resistência insulínica, resultando em aumento da glicemia podendo deixar alguns pacientes com diabetes (PEREIRA et al., 2007). Outras interações possíveis são entre os glicocorticoides e a varfarina que pode gerar uma alteração nos níveis de atividade anticoagulante. Segundo cita a autora Jacomini (2011) é preciso ter em mente
que os imunossupressores são medicamentos com baixo índice terapêutico, que vários medicamentos de uso frequente.
Quadro 1 – Interações entre glicocorticoides e outras medicações.
Fenitoina, barbitúricos, carbamazepina, rifampicina | Aceleram o metabolismo hepático dos GC | Podem diminuir o efeito farmacológico |
Antiácidos | Diminuem biodisponibilidade dos GC | Podem diminuir o efeito farmacológico |
Insulina, hipoglicemiantes orais, medicações para glaucoma, hipnóticos, antidepressivos | Têm suas necessidades aumentadas pelos GC | Alterações da glicemia, pressão arterial, pressão intraocular |
Digitálicos (na hipocalemia) | GC podem facilitar a toxicidade associada a hipocalemia | Pode haver acentuação da toxicidade digital devido a alteração eletrolítica |
Estrogênios e contraceptivos | Aumentam a meia-vida dos GC | Aumenta o efeito farmacológico |
Anti-inflamatórios não esteroidais | Aumento da incidência de alterações gastrointestinais | Aumento da incidência de ulcera |
Vacinas e toxoides | Atenuam a resposta | Potencialização da replicação dos microrganismos em vacina de vírus vivos |
Diuréticos depletadores de potássio | Acentuação da hipocalemia | Repercussão clínica devido a hipocalemia |
Salicilatos | Diminuição dos níveis plasmáticos | Diminuição da eficácia do salicilato |
Fonte: ANTI; GIORGI; CHAHADE, 2008, p 163.
RESULTADO E ANÁLISE
A pesquisa foi realizada em cinco estabelecimentos, sendo quatro drogarias privadas e um posto de dispensação municipal sendo emitido relatório dos sistemas de gestão farmacêutica referente ao período de junho de 2019 a junho de 2020 sobre a dispensação.
Na drogaria representada como estabelecimento 1(gráfico 1), prevaleceu a dispensação do fármaco betametasona em primeiro lugar como o corticoide mias dispensado, predominante na forma injetável intramuscular, seguida pela associação em creme e também em xarope. O
segundo fármaco mais dispensado da classe dos corticoides pelo estabelecimento é a dexametasona em sua forma de comprimido e xarope.
Gráfico 1: Dispensação de corticoides no estabelecimento farmacêutico 1, localizado no interior do estado do Espírito Santo.
Nos estabelecimentos 2, 3 e 4 ( gráfico 2,3 e 4) obteve-se os mesmos resultados, sendo betametasona injetável o principal corticoide dispensado seguido por outras formas do mesmo fármaco e como segundo fármaco a dexametasona.
Gráfico 2: Dispensação de corticoides no estabelecimento farmacêutico 2, localizado no interior do estado do Espírito Santo.
Gráfico 3: Dispensação de corticoides no estabelecimento farmacêutico 3, localizado no interior do estado do Espírito Santo.
Gráfico 4: Dispensação de corticoides no estabelecimento farmacêutico 4, localizado no interior do estado do Espírito Santo.
O estabelecimento cinco representado pelo posto municipal teve o seu resultado diferente, como mostra o gráfico abaixo, onde a dexametasona foi a mais dispensada na forma de comprimido e a terceira mais dispensada depois da betametasona em creme, na forma de xarope.
Gráfico 5: Dispensação de corticoides no estabelecimento farmacêutico 5, localizado no interior do estado do Espírito Santo.
Quando comparamos os cinco estabelecimentos, percebemos que eles dispensaram vários medicamentos em comum, sendo a betametasona a mais dispensada seguida de dexametasona, respectivamente, como mostra o gráfico a seguir.
Gráfico 6: Gráfico comparativo entre os 5 corticoides mais dispensados dentro dos estabelecimentos farmacêuticos analisados.
Gráfico 7: Dispensação geral dos 5 estabelecimentos farmacêuticos, localizados no interior do estado do Espirito Santo.
Os fármacos mais dispensados nos estabelecimentos pesquisados são os mais potentes da classe podemos ver isso através das tabelas abaixo. O quadro dois compara os fármacos entre si, já a segunda faz uma comparação com a hidrocortisona (cortisol). Nelas podemos ver que a tanto dexametasona como a betametasona apresentam uma dose muito baixa que tem equivalência com doses mais altas dos outros fármacos, além de ter um tempo de meia vida muito mais longo o que não é algo bom se usado de forma continua, e são altamente potentes se comparados com os demais. O quadro três apresenta as características gerais dos glicocorticoides. Os quadros apresentam nulas as probabilidades de função mineralocorticoides, o que ainda é algo discutível pelas ciências farmacêuticas.
Após análises dos relatórios verificou-se um comportamento diferente no número de dispensações de dexametasona dos estabelecimentos no período de abril, maio e junho de 2020, conforme o gráfico número 7 demonstra a seguir:
Gráfico 7: Dispensação em trimestres da dexametasona.
O aumento de dispensações do fármaco é, possivelmente, relacionada ao uso do mesmo para tratamento da COVID-19,ao qual se fez noticiado em sites como: A Gazeta, G1.com e UOL noticias, o que não foi aprovado pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira, da Sociedade Brasileira de Infectologia e da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. Em sua diretriz o tratamento por glicocorticoides fez-se saber a seguinte consideração:
O painel de recomendações entendeu que não há evidências que suportem o uso de corticosteroides de rotina na COVID-19. Glicocorticosteroides devem ser evitados nos primeiros 7 a 10 dias do início dos sintomas, momento no qual a resposta viral é mais relevante, havendo evidências de que corticosteroides podem retardar a negativação viral. (FALAVIGNA et al., 2020, p. 17).
Isso aponta para um grave problema, pois na literatura não são encontrados muitos artigos com como foco nos corticoides, e os que são encontrados não são artigos recentes, evidenciando que, o conhecimento dos prejuízos relacionados ao uso da dexametasona devem ser estudados mais a fundo, principalmente pela inibição imunológica que ela pode gerar.
Posteriormente ao se conseguir a resposta de que a betametasona injetável foi a mais dispensada nos estabelecimentos ao longo de um ano, verificou-se a bula farmacêutica do medicamento Diprospan®, medicamento referência fabricado pela Mantecorp® para analisar se os efeitos adversos prejudiciais à saúde dos usuários estão com concordância com a literatura.
Após leitura, observou-se a instrução para orientação médica para o uso correto, a bula apresenta interações medicamentosas bem resumidas e de acordo com a literatura, e por fim as reações adversas foram colocadas de uma forma bem completa visando entendimento dos seus leitores e de forma resumida para ser bem entendível.
Observando a literatura e os possíveis casos de reações adversas que podem ser desencadeadas pelo uso dos glicocorticoides, uma análise foi traçada para encontrar quais pacientes devem evitar o uso dos corticoides. Pacientes hipertensos, renais crônicos, imunossuprimidos, pacientes diabéticos ou com histórico familiar que possa gerar diabetes hereditário, gestantes, pacientes com problemas oculares tem que ser acompanhados no uso dessa classe de medicamentos, principalmente pacientes com pressão arterial elevada e com uso de diuréticos de forma contínua.
CONCLUSÃO
Com o desenvolvimento do presente trabalho, através de referências bibliográficas e a pesquisa realizada, foi possível compreender de forma mais ampla a necessidade de se conhecer os efeitos adversos dos corticoides que são disponibilizados atualmente em farmácias, drogarias e postos de medicamentos, a fim de entender melhor como esses fármacos agem no organismo e os riscos que os mesmos podem apresentar se utilizados sem orientação de um profissional da saúde. Através da pesquisa realizada, foi possível identificar que dentro da classe os medicamentos mais dispensados são a betametasona e a dexametasona, respectivamente. Identificou-se também um aumento no número de dispensação da dexametasona, no período inicial da COVID-19, ao qual se fez noticiado o uso desse fármaco como tratamento. Pode-se também verificar que as bulas estão de acordo com a literatura, e que alguns pacientes têm facilidade em ter riscos com o uso dos medicamentos. Tudo isso aponta para um necessário estudo da classe dentro da farmacologia e da farmacodinâmica, além de um cuidado dos médicos ao prescreverem a medicação, avaliando bem os seus pacientes.
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1 Farmacêutico, Doutor em Saúde Pública, Docente da Faculdade do Futuro, herminiofar@gmail.com.
2 Farmacêutico Generalista, Faculdade do Futuro, souzauemerson@gmail.com.
3 Farmacêutico Generalista, Faculdade do Futuro, welington1208.silva@gmail.com.
4 Farmacêutico Generalista, Faculdade do Futuro, leonardo15henrique@hotmail.com.
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