DISFUNÇÃO VESTIBULAR EM MULHERES NA MENOPAUSA

VESTIBULAR DYSFUNCTION IN MENOPAUSAL WOMEN

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202509221208


Nathália Beatriz Alexandre Vitor1
Lauralice Raposo Marques2


RESUMO

Introdução:  A menopausa marca o fim da capacidade reprodutiva feminina e está associada a alterações hormonais que podem impactar o sistema vestibular, gerando sintomas como tontura, vertigem e instabilidade. A avaliação otoneurológica é essencial para identificar possíveis lesões no sistema auditivo e vestibular, especialmente em mulheres na menopausa. Objetivo: Verificar a ocorrência de disfunções vestibulares em mulheres na menopausa. Métodos: Estudo descritivo de corte transversal com 50 mulheres, entre 40 e 55 anos. A amostra foi dividida em dois grupos: G1, com 25 mulheres na menopausa, e G2, com 25 mulheres que não estão na menopausa. A coleta de dados incluiu anamnese otoneurológica, manobras de Dix-Hallpike e Head Holl, além de Vectoeletronistagmografia. Os dados foram registrados em planilhas do Excel e analisados por meio do Teste Qui-Quadrado, Exato de Fisher (p 0,050) e cálculo do Odds Ratio.  Resultados: A chance de disfunção vestibular em mulheres na menopausa foi aproximadamente 2,3 vezes maior do que em mulheres que não estão na menopausa. Conclusão: Os resultados indicam que mulheres na menopausa têm 2.3 vezes mais chances de apresentar disfunções vestibulares em comparação com mulheres não menopausadas. Foi observada uma ocorrência de 34% de disfunção vestibular entre as mulheres na menopausa. Esses achados sugerem uma possível tendência, mas estudos com amostras maiores são necessários para confirmar essa relação. 

Palavras-chave:  Menopausa. Vertigem. Eletronistagmografia. 

ABSTRACT 

Introduction: Menopause marks the end of female reproductive capacity and is associated with hormonal changes that can affect the vestibular system, leading to symptoms such as dizziness, vertigo, and instability. Otoneurological assessment is essential to identify possible lesions in the auditory and vestibular systems, especially in menopausal women. Objective: To verify the occurrence of vestibular dysfunctions in menopausal women. Methods: Descriptive cross-sectional study with 50 women, aged between 40 and 55 years. The sample was divided into two groups: G1, with 25 menopausal women, and G2, with 25 women who were not in menopause. Data collection included otoneurological anamnesis, Dix-Hallpike and Head Roll maneuvers, as well as Vector Electronystagmography. Data were recorded in Excel spreadsheets and analyzed using the Chi-Square Test, Fisher’s Exact Test (p ≤ 0.050), and Odds Ratio calculation. Results: The likelihood of vestibular dysfunction in menopausal women was approximately 2.3 times higher than in women who were not in menopause. Conclusion: The results indicate that menopausal women are 2.3 times more likely to present vestibular dysfunctions compared to non-menopausal women. An occurrence of 34% of vestibular dysfunction was observed among menopausal women. These findings suggest a possible trend, but studies with larger samples are necessary to confirm this relationship. 

Keywords: Menopause. Vertigo. Electronystagmography.

1. INTRODUÇÃO 

Menopausa, o último período menstrual, marca o término da vida reprodutiva da mulher. Ao nascimento, a mulher apresenta cerca de um milhão de folículos primordiais que é reduzido a aproximadamente cem mil no momento da menarca. Essa diminuição do estoque folicular se intensifica, normalmente após os 39 anos, culminando na senescência ovariana completa e, consequentemente, na menopausa (Dunneram; Greenwood; Cade, 2019). 

Segundo Allshouse et al. (2018) a menopausa é acompanhada por alterações metabólicas, físicas e psicológicas que desencadeiam na mulher um quadro de sinais e sintomas significativos para a qualidade de vida da mesma. Os sintomas mais comuns relatados são ondas de calor excessivo e suores noturnos, tonturas rotatórias e não-rotatórias, instabilidade, insônia, distúrbios de sono, dores de cabeça, palpitações, ganho de peso e alterações na função cognitiva. 

A atividade metabólica do sistema nervoso central (SNC) sofre influência hormonal que interfere na relação direta com o ouvido interno. A menopausa é caracterizada por alterações hormonais, que segundo Medeiros e Bittar (2002) podem desestabilizar a homeostase dos fluidos labirínticos ao impactar os processos enzimáticos e interferir na função dos neurotransmissores.  

Alterações no sistema vestibular se manifestam como tontura, definida como uma percepção equivocada de movimento do corpo ou do ambiente. A tontura se caracteriza por instabilidade, flutuação, sensação de queda, desvio de marcha, denominada vertigem, quando rotatória (Ribeiro; Mancini; Bicalho, 2023). A tontura pode ser aguda ou crônica e causar impacto na qualidade de vida do paciente, diversos fatores podem desencadear esse problema, já que o sistema vestibular é altamente sensível a influências que distúrbios que acometem outras partes do corpo humano.  

De acordo com Rivera et al. (2003), o aumento dos níveis de progesterona no organismo feminino pode resultar na retenção de líquidos, potencialmente causando problemas nos canais labirínticos devido ao edema nas vias vestibulares centrais.  

A relação da menopausa com os distúrbios vestibulares é enfatizada por De Lorenzi (2005), visto que são comuns relatos de mulheres com queixas de instabilidade, zumbidos, tontura e flutuação durante essa fase, sendo tais sintomas associados a insuficiência de estrógeno que ocorre durante e após a menopausa.  

A avaliação otoneurológica engloba a avaliação otorrinolaringológica, estudo da função auditiva e vestibular e a anamnese, por isso deve ser abrangente para um diagnóstico adequado de lesões auditivas e/ou vestibulares, a fim de determinar se a localização é periférica ou central e a intensidade da lesão, além de auxiliar na identificação do agente etiológico, e no estabelecimento do prognóstico e melhor tratamento para cada caso (Borges; Ganança; De Campos, 2008). 

Segundo Caovilla e Ganança (1999), em mulheres no período da menopausa a avaliação vestibular pode mostrar sinais de comprometimento vestibular periférico (Borges; Ganança; De Campos, 2008). 

Devido a carência de estudos abrangentes que envolvem a menopausa e a pertinência relacionada ao aumento da incidência de queixas otoneurológicas, como vertigem e sensação de instabilidade entre mulheres neste estágio, é crucial que elas sejam submetidas a uma avaliação que analise de maneira precisa e objetiva o funcionamento do sistema vestibular, com a finalidade de conceder ao paciente o conhecimento acerca dessas queixas, possibilitando assim a procura por tratamento especializado.  

Assim, o objetivo desta pesquisa é verificar a ocorrência de disfunções vestibulares em mulheres na menopausa, associando às suas queixas otoneurológicas.  

2. METODOLOGIA  

Trata-se de um estudo quantitativo, transversal, analítico e observacional, realizado em um Centro Especializado em Reabilitação de uma Universidade de Alagoas. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição sob parecer n° 6.859.994. 

A amostra do estudo foi composta por 50 mulheres, com idade entre 40 e 55 anos, distribuídas equitativamente em dois grupos: Grupo 1 (G1) e Grupo 2 (G2), cada um com 25 participantes. O Grupo 1 foi composto por participantes que se encontravam na fase da menopausa ou pós-menopausa, caracterizada pela ausência de menstruação por, no mínimo, 12 meses consecutivos. Já o Grupo 2 incluiu participantes da mesma faixa etária, não menopausadas. Para ambos os grupos, os critérios de exclusão incluíram diagnóstico prévio de disfunção vestibular antes da menopausa e histórico de alterações otológicas. 

Após o consentimento e assinatura do TCLE, foi realizada uma anamnese (anexo V) composta por vinte e sete perguntas fechadas, em lugar reservado e privativo. Em seguida, os participantes foram submetidos à otoscopia, com otoscópio da marca Heine, modelo Mini 3000, para verificar obstruções no meato acústico externo. O objetivo desta inspeção foi identificar se havia obstrução no meato acústico externo, além de verificar a integridade da membrana timpânica. Após a otoscopia foi realizada a avaliação otoneurológica, utilizando a Prova de Dix-Hallpike para verificar a presença de vertigem e nistagmo de posicionamento e a Prova de Head Holl para avaliar os canais semicirculares laterais. Em seguida, a avaliação foi composta pelas etapas de calibração, observação e registro dos movimentos na pesquisa de nistagmo espontâneo (com os olhos abertos e fechados) e nistagmo semi-espontâneo (nas quatro direções cardeais), a realização de provas oculomotoras (rastreio pendular e pesquisa do nistagmo optocinético) e provas calóricas (Bohlsen; Zanchetta; Nishino; Natal, 2012).  

Os participantes foram orientados a se absterem do consumo de bebidas alcoólicas nas 72 horas anteriores ao exame, suspender o uso de estimulantes labirínticos como café, chocolates, chás e refrigerantes por um período de 24 horas, bem como não utilizarem medicamentos como antivertiginosos, antialérgicos e calmantes para evitar interferência no resultado das provas vestíbulo-oculomotoras. Foi solicitado jejum de 3 horas antes do exame associado a uma alimentação leve nas refeições anteriores. 

A obtenção dos registros vestibuloculares com eletrodos e análise dos resultados foram realizadas utilizando o Sistema Computadorizado de Vectoeletronistagmografia Contronic Sistemas Automáticos Ltda., e na estimulação da prova calórica foi utilizado o otocalorímetro a ar (modelo E107AR Contronic) programado para as temperaturas de 50ºC e 24ºC (Albertino e Bittar, 2013). 

Os valores relativos e absolutos considerados alterados na prova calórica foram os seguintes: predomínio labiríntico (PL) maior que 19%; preponderância direcional (PD) maior que 17%; soma dos valores da velocidade angular da componente lenta (VACL) das provas fria e quente da orelha direita ou esquerda menor que 5º/s (hiporreflexia unilateral); soma dos valores da VACL nas quatro provas menor que 12º/s (hiporreflexia bilateral); soma dos valores da VACL das provas fria e quente do ouvido direito ou esquerdo maior que 62º/s (hiperreflexia unilateral); soma dos valores da VACL nas quatro provas maior que 122º/s (hiperreflexia bilateral) (Albertino; Bittar, 2013). 

Após a realização dos exames, caso identificadas disfunções vestibulares, os participantes foram encaminhados para uma avaliação otorrinolaringológica e posteriormente terão acompanhamento fonoaudiológico no CER III da Uncisal. 

Cada resultado de exame foi identificado através de números cardinais, sendo este de restrito conhecimento dos pesquisadores. Nenhum dado que revele a identificação dos participantes será divulgado durante a pesquisa. Com isso, as informações coletadas permaneceram desconhecidas por terceiros até a divulgação da pesquisa, sem registro ou exposição de dados. 

Os dados coletados foram armazenados em fichas de extração e registrado em documento eletrônico (Software Excel 2010) e mantidos em sigilo, com acesso restrito aos pesquisadores. Ao término da pesquisa, os dados serão destruídos. 

A análise estatística foi realizada a partir dos dados obtidos por meio do programa Jamovi. Para avaliar a associação entre os resultados do exame vestibular com grupo etário, queixa de tontura, queixas auditivas e antecedentes patológicos foram utilizados os testes Qui-Quadrado e Exato de Fisher, com nível de significância de 5% (p 0,05). Para verificar se o risco de disfunções vestibulares era maior nas mulheres na menopausa, foi utilizado o odds ratio. Os resultados encontrados foram apresentados na forma de análise estatística descritiva em números absolutos e percentuais e na forma de tabelas, produzidos no programa de Software Microsoft Excel.  

3. RESULTADOS 

Os dados analisados referem-se às variáveis relacionadas aos sinais e sintomas otoneurológicos coletados a partir da anamnese e avaliação vestibular entre dois grupos distintos. O Grupo 1 (G1) foi constituído por 25 mulheres na menopausa, com idades entre 40 e 55 anos (média = 52,1 anos). O Grupo 2 (G2) incluiu 25 mulheres não menopausadas, na mesma faixa etária (média = 46,1 anos). 

A tabela 1 apresenta a análise em percentual da incidência de sinais e sintomas referidos durante a anamnese otoneurológica nos grupos estudo (G1) e controle (G2).  

Tabela 1 – Incidência dos sintomas referidos durante a anamnese – Brasil, 2025.

Fonte: Própria 

Abreviatura: G1 – mulheres na menopausa, G2 – mulheres que não estão na menopausa Teste Exato de Fisher: diferença estatisticamente significativa quando p ≤ 0, 05.

Os resultados da análise descritiva entre os grupos: Estudo (G1) e Controle (G2), demonstra maior prevalência de sinais e sintomas entre as mulheres na menopausa (G1). Entre os sinais e sintomas mais relatados no grupo G1 estão: visão turva (48%), questões emocionais (40%), cefaleia (40%), náusea (38%), flutuação (42%). No grupo G2, os relatados foram: visão turva (38%), náusea (34%), cefaleia (34%) e questões emocionais (26%).  

Dentre os sinais e sintomas apresentados, os resultados foram significantes para a queixa de flutuação (p=0.007), influência emocional (p=0.038), ansiedade (p=0.038).

Em relação aos sintomas auditivos referidos durante a anamnese otoneurológica, no grupo G1, os sintomas auditivos mais prevalentes foram zumbido (22%), plenitude auricular (28%) e hipoacusia (12%). No grupo G2, as queixas auditivas também estão presentes, mas em menor frequência. O zumbido foi relatado por 26% das mulheres, seguido por plenitude auricular (06%) e hipoacusia (8%). Dentre os sintomas auditivos, a queixa de zumbido apresentou significância (p=0.025). 

Os testes que avaliam as funções cerebelares estiveram presentes em 02% das mulheres avaliadas. Não foi encontrada alteração no Head Roll Test, enquanto na Dix Hallpike foi observada alterada em 04% da população, dois resultados positivos.  

Tabela 2 – Resultados encontrados na pesquisa da manobra Dix Hallpike – Brasil, 2025.

Fonte: Própria

Abreviatura: G1 – mulheres na menopausa, G2 – mulheres que não estão na menopausa. 

A calibração dos movimentos oculares da vectoeletronistagmografia foi regular no exame de todas as mulheres, tanto na vertical quanto na horizontal.  

Através da tabela 3, demonstra-se os resultados referentes ao desempenho das participantes encontradas na prova do Rastreio Pendular.  

Tabela 3 – Resultados encontrados na pesquisa de rastreio pendular – Brasil, 2025.

Fonte: Própria

Abreviatura: G1 – mulheres na menopausa, G2 – mulheres que não estão na menopausa.

Nos dados analisados foi observado que mulheres na menopausa (G1) apresentaram uma maior proporção de respostas sugestivas de alteração no rastreio pendular, especialmente no Tipo II (28%), em comparação com mulheres fora da menopausa (G2), que apresentaram maior frequência de respostas normais (Tipo I – 36%).  

A pesquisa do Nistagmo Optocinético na horizontal e na vertical, apresentou-se simétrico em todas as participantes avaliadas. A pesquisa do Nistagmo Semi-espontâneo apresentou-se ausente para as quatro direções em todas as mulheres avaliadas. Assim como no nistagmo pré-calórico, a ausência foi predominante em ambos os grupos 

Na tabela 4, são apresentados os resultados encontrados na pesquisa do Nistagmo Espontâneo e Nistagmo Pós Calórico.

Tabela 4 – Resultados encontrados na pesquisa do nistagmo espontâneo e nistagmo pós-calórico – Brasil, 2025.

Fonte: Própria 

Abreviação: G1 – mulheres na menopausa, G2 – mulheres que não estão na menopausa 

Ambos os grupos apresentaram ausência de Nistagmo Espontâneo em olhos abertos e fechados (G1: 46%; G2: 42%), o que indica um padrão de normalidade vestibular na maioria dos casos. No entanto, um número reduzido de participantes apresentou nistagmo ausente de olhos abertos e  presente com olhos fechados, especialmente em G2 (6%) e em menor proporção em G1 (4%). O caso de nistagmo presente de olhos abertos e ausente de olhos fechados foi observado em apenas uma participante do grupo G2 (2%). 

O desempenho das participantes segundo os resultados referentes à presença ou não de alteração na pesquisa do Nistagmo Pós-calórico, demonstram que o grupo G2 (não menopausa) apresentou uma maior proporção de normorreflexia (26%), indicando respostas vestibulares dentro do padrão esperado em um número maior de participantes, em comparação com G1 (18%). Entretanto, as alterações na resposta pós-calórica foram mais frequentes em G1, especialmente a preponderância labiríntica à esquerda (12%), preponderância direcional do nistagmo à esquerda (8%) e hiperreflexia bilateral (4%). A preponderância labiríntica à direita, que não ocorreu em G1, apareceu em 6% das mulheres em G2, sugerindo que os dois grupos apresentaram diferentes padrões de assimetria vestibular. As preponderâncias direcionais (para esquerda ou direita) se fizeram presentes em ambos os grupos, com maior prevalência no grupo G1. A hiporreflexia à esquerda foi pouco frequente em ambos os grupos (2%), assim como a hiperreflexia bilateral. 

O gráfico 1 apresenta a distribuição dos resultados encontrados conforme a conclusão do exame vectoeletronistagmográfico. 

Tabela  5 – Resultados encontrados após a conclusão do exame de Vectoeletronistagmografia – Brasil, 2025.

Fonte: Própria 

Abreviação: G1 – mulheres na menopausa, G2 – mulheres que não estão na menopausa Teste Exato de Fisher: diferença estatisticamente significativa quando p  ≤ 0, 05.

Os dados revelam que o grupo G1 (mulheres na menopausa) apresentou um maior percentual de exames alterados (34%) e um menor percentual de resultados normais (16%), em comparação com o grupo G2, que teve 26% de exames normais e 24% de exames alterados. No entanto, essa associação não foi estatisticamente significativa (p=0.252) 

A avaliação vestibular final indica que a chance de disfunção vestibular em mulheres na menopausa é aproximadamente 2.3 vezes maior do que nas mulheres que não estão na menopausa. 

4. DISCUSSÃO 

A ocorrência de disfunções vestibulares e a presença de sinais e sintomas otoneurológicos podem estar associados à menopausa (De Lorenzi, 2005), entretanto, a relação entre essas alterações ainda não se encontra plenamente estabelecida na literatura. 

Os grupos avaliados neste estudo foram homogêneos quanto à quantidade. Portanto, a amostra ficou na proporção igual entre os grupos.  

Na Tabela 1, foi possível verificar que a sintomatologia esteve presente na maior parcela das mulheres, entretanto, a mesma demonstra uma maior prevalência de sinais e sintomas entre as mulheres na menopausa (G1). Sinais e sintomas relatados durante a pesquisa da anamnese, como cefaleia, náuseas, visão turva, sudorese, quedas, desmaios, flutuação, questões emocionais e ansiedade são referidos na literatura como sendo comumente encontrados em mulheres na menopausa. Nos achados desse estudo, verificou-se a presença desses sintomas em maior ocorrência no grupo de mulheres na menopausa (G1), corrobora a literatura de Monteleone et al.  (2017), Kanuzitz et al.(2015) e Owada et al. (2014). 

De acordo com Guyton & Hall (2002), a maioria dos sintomas típicos da menopausa resulta na diminuição dos níveis de estrogênio circulantes, sendo frequentemente citadas a instabilidade vasomotora e sintomas psicológicos como a ansiedade, os quais foram relatados em grande número na amostra avaliada, especialmente no G1, com aspectos emocionais alterados (p=0.038) e ansiedade (p=0.038). 

As ondas de calor figuram entre os sintomas vasomotores mais frequentemente relatados, afetando mais de 70% das mulheres na menopausa, conforme apontado por Melo et al. (2000). No entanto, no presente estudo, esse sintoma foi observado em apenas 30% das participantes do grupo G1 e em 26% do grupo G2, o que indica que não houve uma diferença significativa entre o grupo Estudo e o grupo Controle (p = 0.776). 

De acordo com Pedro et al. (2003), em um estudo de base populacional com mulheres na menopausa, dentre os sintomas mais citados está a cefaleia, flutuação, visão turva e sudorese. Esse dado corrobora aos achados deste estudo, em que 42% das mulheres na menopausa se queixam  de flutuação (p=0.007), apesar de 40% dessas mulheres terem relatado episódios de cefaleia, nesse estudo não foi estatisticamente significante (p=0.520). 

Ainda segundo Pedro et al. a intensidade e frequência dos sinais e sintomas do climatério variam de indivíduo para indivíduo. Entretanto, de acordo com os dados coletados durante a pesquisa, é possível perceber que todas as mulheres do G1 relataram no mínimo quatro sinais e sintomas sendo esses de forte intensidade e maior frequência, enquanto o G2 varia o número mínimo de respostas positivas, prevalecendo entre um e dois, com intensidade leve e pouca frequência. Portanto, é perceptível que as mulheres na menopausa apresentam uma maior frequência e intensidade dos sintomas. 

Por meio da Tabela 1, é possível observar a presença das queixas de sintomas auditivos, como hipoacusia, zumbido, plenitude auricular e otite. A queixa de zumbido associado a tontura esteve presente em 32% das mulheres na menopausa, plenitude auricular em 28% e a  hipoacusia em 12%. O G2 apresentou um percentual mais baixo, sendo o zumbido 26%, plenitude auricular 18% e hipoacusia 08%. A otite foi relatada em apenas 04% da população total.  

De acordo com Turek et al. (2023), a ocorrência de zumbido associado à tontura em mulheres durante a menopausa pode estar diretamente relacionada à insuficiência estrogênica característica desse período. A queda nos níveis de estrogênio influencia funções fisiológicas, inclusive aquelas envolvidas no equilíbrio e na audição. Os dados coletados corroboram a pesquisa de Turek, visto que a queixa de zumbido apresentou significância estatística (p=0.025). 

Em uma pesquisa conduzida com o objetivo de identificar a sintomatologia climatérica em mulheres no período pós-menopausal, Lorenzi et al. (2005) observou uma alta prevalência de queixas relacionadas a sintomas auditivos e vestibulares, sendo o zumbido e a tontura os mais frequentemente relatados. Esses achados sugerem uma possível associação entre as alterações hormonais próprias da menopausa — especialmente a queda nos níveis de estrogênio — e disfunções nos sistemas auditivo e vestibular. De forma semelhante, os dados obtidos no presente estudo também evidenciam a presença desses sintomas entre as participantes, reforçando a hipótese de que a instabilidade hormonal do climatério pode contribuir significativamente para o surgimento de manifestações otoneurológicas.  

Na avaliação das funções cerebelares, as alterações foram observadas em apenas duas das mulheres examinadas, indicando baixa ocorrência de disfunções nesse domínio. Em relação aos testes específicos para investigação de vertigem posicional, o Head Roll Test apresentou resultados normais em 100% da amostra, não indicando alterações relacionadas ao canal horizontal do labirinto. Já o teste de Dix-Hallpike, utilizado para detectar vertigem posicional paroxística benigna (VPPB) do canal posterior, se mostrou positivo em 4% das participantes, porém sem significância estatística (p=0.490). Segundo Jeong (2020), a VPPB é uma das mais frequentes patologias do sistema vestibular e é caracterizada por episódios de vertigens recorrentes desencadeados por movimentos da cabeça ou mudanças posturais, entretanto, esse estudo não corrobora os dados descritos na literatura.  

Em relação às provas oculomotoras, a calibração dos movimentos oculares da vectoeletronistagmografia foi regular no exame de todas as mulheres, tanto na vertical quanto na horizontal. A avaliação do nistagmo optocinético, nos movimentos horizontais e verticais, revelou respostas simétricas em todas as participantes. No que diz respeito à pesquisa do nistagmo semi-espontâneo (NSE), não foram observadas respostas em nenhuma das quatro direções avaliadas. De forma semelhante, o nistagmo pré-calórico também se apresentou ausente na maioria das participantes, sendo essa ausência predominante nos dois grupos analisados.  

A maioria das participantes de ambos os grupos apresentou ausência de nistagmo espontâneo com olhos abertos (NEOA) e fechados (NEOF), sendo essa condição observada em 46% das mulheres do grupo G1 e em 42% do grupo G2, o que sugere um padrão compatível com a normalidade vestibular. No entanto, um pequeno número de participantes apresentou um comportamento diferenciado: em 6% das mulheres do grupo G2 e em 4% do grupo G1, o nistagmo esteve ausente com olhos abertos, mas se manifestou com olhos fechados. Já a ocorrência inversa — presença de nistagmo com olhos abertos e ausência com olhos fechados — foi identificada em apenas uma participante do grupo G2 (2%), representando um achado isolado. 

Na pesquisa do Rastreio Pendular,a análise dos dados revelou diferenças significativas entre os grupos estudados. As mulheres pertencentes ao grupo G1, composto por participantes na menopausa, apresentaram uma maior proporção de respostas sugestivas de alteração nesse teste, com destaque para o padrão classificado como Tipo II, observado em 28% das participantes. Esse tipo de resposta pode estar relacionado a alterações na coordenação oculomotora ou a uma possível disfunção do sistema vestibular central, o que pode ser influenciado pelas modificações hormonais típicas do período menopausal, especialmente pela redução dos níveis de estrogênio, que afeta o funcionamento neurossensorial. Por outro lado, no grupo G2, composto por mulheres fora da menopausa, houve predominância de respostas compatíveis com a normalidade, com 36% das participantes apresentando o padrão Tipo I no rastreio pendular. Esse resultado sugere que, nessa faixa etária e condição hormonal, o sistema responsável pelo controle dos movimentos oculares rítmicos tende a manter sua integridade funcional. 

A prova pós-calórica evidenciou que grupo G2 (não menopausa) apresentou uma maior proporção de normorreflexia em 13 (26%) das participantes, indicando um número mais elevado de respostas vestibulares dentro dos padrões de normalidade, em comparação ao grupo G1 que apresentou 09 (18%). Por outro lado, as alterações nas respostas pós-calóricas foram mais frequentes no grupo G1, destacando-se a preponderância labiríntica à esquerda (12%), a preponderância direcional do nistagmo à esquerda (8%) e a hiperreflexia bilateral (4%). Observou-se, ainda, que a preponderância labiríntica à direita, ausente em G1, esteve presente em 6% das participantes do grupo G2, o que sugere diferentes padrões de assimetria vestibular entre os grupos. As preponderâncias direcionais, tanto à esquerda quanto à direita, foram identificadas em ambos os grupos, com maior prevalência no G1. A hiporreflexia à esquerda e a hiperreflexia bilateral apresentaram baixa ocorrência em ambos os grupos (2%). 

Os resultados das provas oculomotoras desta pesquisa divergem dos achados de Borges et al. (2008) sobre sintomas observados ao exame vestibular em mulheres na menopausa. Em que foi identificado um predomínio de respostas dentro dos padrões da normalidade em todos os parâmetros analisados. No entanto, os resultados encontrados na prova pós-calórica corroboram a pesquisa de Borges, visto que em ambas pesquisas, mulheres na menopausa apresentam maior variedade de padrões vestibulares. 

Assim, a avaliação final do sistema vestibular indica que o grupo G1 (mulheres na menopausa) apresentou um percentual mais elevado de exames com alterações (34%) e uma menor proporção de resultados dentro da normalidade (16%), quando comparado ao grupo G2, que apresentou 26% de exames normais e 24% de exames alterados. O presente estudo indica que existe um risco de 2,3 vezes maior de disfunção vestibular em mulheres na menopausa.  

Esses dados corroboram ao estudo de Orendorz-Fraczkowska et al (2004), que avaliou a condição de equilíbrio estático e dinâmico em mulheres na menopausa, apresentando o resultado de que em seu grupo de estudo composto por mulheres na menopausa, a avaliação vestibular final se deu alterada em 70% das participantes. 

No confronto destes dados com a literatura, o risco 2,3 vezes maior de disfunção vestibular em mulheres na menopausa encontrado neste estudo, pode ser justificado por autores como Mor et al. (2001), Tiensoli et al. (2004), Castillo-Bustamante et al. (2020, 2024), onde estes revelam em seus estudos que a deficiência de estrogênio característica do período menopausal podem comprometer a homeostase dos fluídos labirínticos, favorecendo o surgimento de alterações  vestibulares. A maior prevalência de alterações no grupo de mulheres na menopausa pode, portanto, estar associada à intensificação dessas mudanças fisiológicas no contexto da menopausa. 

5. CONCLUSÃO 

Os resultados sugerem que mulheres na menopausa apresentam maior risco de disfunção vestibular e indicam uma ocorrência de 34% de disfunção vestibular em mulheres menopausadas.  

Os achados da sintomatologia e da avaliação otoneurológica deste estudo demonstram que o grupo composto por mulheres na menopausa (G1) apresentou uma maior ocorrência de sinais e sintomas otoneurológicos, em maior frequência e intensidade. 

A prevalência de alterações no teste de Dix-Hallpike, indicativo de VPPB, foi maior no grupo de mulheres menopausadas, indicando uma possível associação entre o período menopausal e o aumento da ocorrência dessa disfunção vestibular. 

A avaliação vestibular final indica que a chance de disfunção vestibular em mulheres na menopausa é aproximadamente 2,3 vezes maior do que nas mulheres que não estão na menopausa. 

Os resultados sugerem que, embora o risco de disfunção vestibular em mulheres na menopausa seja maior, a falta de significância estatística e a baixa precisão requerem ampliação da amostra. Para uma melhor implicação clínica, seria recomendado que futuras pesquisas ampliassem o número da amostra para uma análise detalhada da avaliação vestibular. 

REFERÊNCIAS 

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1Discente do Curso Superior de Fonoaudiologia da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas. E-mail: nathaliabeatrizalexandre@gmail.com
2Docente do Curso Superior de Fonoaudiologia da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas. Doutora em Saúde Materno Infantil, pelo Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira (IMIP). E-mail: lauralice.marques@uncisal.edu.br