Lara Patrícia Dezena Rangel Graduanda em Fisioterapia da Universidade Bandeirante de São Paulo.
Adriana Batista Souza Fisioterapeuta, Orientadora e Supervisora do curso de fisioterapia da Universidade Bandeirante de São Paulo.
Juliana Gomiero Fisioterapeuta, Co-Orientadora e Supervisora do curso de fisioterapia da Universidade Bandeirante de São Paulo.
I – INTRODUÇÃO
Se é um fato que a deficiência pode acarretar limitações, engana-se quem pensa que as mulheres deficientes, sejam quais forem suas limitações estejam escondidas. Cada vez mais, vemos estas, indo em busca de seus ideais, seus sonhos, não que seja fácil, nem agradável, expor-se a julgamentos e preconceitos. Mesmo que as desinformações leve muitas pessoas a acreditar que mulheres deficientes não podem e nem devem ter filhos, estas podem e lutam para ter seus filhos. Uma mulher com lesão medular poderá conduzir a gestação a termo, entrar em trabalho de parto e dar a luz por via vaginal, mas deverá receber cuidados pré-natais regulares com orientações de uma equipe multidisciplinar.
De forma alguma, o fato de ser paraplégica, pode impedir que, esta mulher, vivencie o prazer de poder ser mãe e conquistar esta vitória pessoal.
Segundo Maior (1988), obviamente haverá problemas específicos na gestante paraplégica, uns de aspecto geral, e outros de natureza obstétrica.
Esta presente pesquisa, pretende abranger a repercussão da gestação em mulheres paraplégicas, desde a sua fertilidade, período gestacional, até qual o tipo de parto mais adequado e como o trabalho na piscina terapêutica, enquanto recurso fisioterapêutico pode contribuir para o melhor bem estar, físico e psicológico desta mulher.
A pesquisa investigará as condições em que se encontra esta mulher, e quais serão os objetivos de trabalho neste período gestacional, e discutir como a piscina terapêutica pode contribuir para o seu bem estar, escolhendo um programa de tratamento mais adequado e adapta-lo criteriosamente a gestante, visando uma melhor qualidade de vida.
II – MATERIAIS E MÉTODO
Esta pesquisa consistiu de uma revisão da literatura, para qual foram consultados livros, artigos científicos, e sites da Internet, utilizando como palavra chave: lesão medular, gestante paraplégica, pós-parto, fertilidade, paraplegia, sexualidade, a partir de 1985 até 2002. Foram consultadas as bibliotecas da Universidade Bandeirante de São Paulo (UNIBAN), Universidade de Campinas (UNICAMP), Universidade de São Paulo (USP), Universidade do Estado de São Paulo (UNESP), sites como geocites, bireme, universia e proquest. Além disso foi realizado uma entrevista com a Deputada Célia Leão, a qual passou por três gestações saudáveis, após ter ficado paraplégica devido a uma lesão medular traumática.
II – DISCUSSÃO
A gravidez e o parto em mulheres com lesão medular, podem até ter suas limitações, mas não devem ser encarados com restrições, desde que se tenha o acompanhamento de um profissional especializado.
A maioria dos autores, afirmam que a probabilidade de gestação após a lesão não se altera, uma vez que a fertilidade não se modifica, a gravidez e o parto podem se dar sem maiores complicações.
Kottke (1994), Maior (1988) e Greve et al (2001) dizem que, modifica-se a capacidade da parturiente em perceber o trabalho de parto, quando a lesão é acima de T10. E a disrreflexia autonômica pode estar presente em mulheres com lesão a nível T4/T5, durante o trabalho de parto.
Fica claro pelas citações anteriores que é possível, já que a fertilidade não se altera, a mulher paraplégica conduzir uma gestação a termo, entrar em trabalho de parto e dar a luz por via vaginal. Em entrevista a Dep. Célia Leão que é paraplégica, pode-se costatar em seu relato que ela levou três gestações a termo, sendo que os três partos por via vaginal.
O parto normal é sempre preferível para a saúde da mãe e do bebé. Becker e Cole (2000) citam que seria indicado, o parto cesáreo no caso da gestante apresentar disrreflexia. Maior (1988) coloca que a principal indicação para o parto cesáreo é para se evitar a crise de disrreflexia, desencadeada com as contrações uterinas.
O objetivo deste trabalho com a gestante paraplégica é proporcionar uma gestação mais confortável, prepará-la para o trabalho de parto, promover no geral uma melhor qualidade de vida, contribuindo não somente com o físico, mas com o psíquico. A gestante paraplégica apresenta alguma alterações específicas, como o aumento de peso e a dificuldade em se transferir da cadeira de rodas, a espasticidade entre outros. A piscina terapêutica com todos os seus princípios hidrodinâmicos, colabora para a reabilitação e restabelece as atividades possíveis, pois permite ao paciente toda liberdade de movimento.
Campion (2000), coloca que os efeitos da água quente, os princípios de turbulência como uma forma de resistência e o uso da flutuabilidade para auxiliar músculos fracos, podem ser utilizados de maneira efetiva durante o tratamento aquático.
Segundo Skinner (1985) e Katz (1999) a força da flutuação é capaz de fornecer suporte completo ao corpo, resultando em efeitos que não são possíveis em terra. A liberdade de movimentação em flutuação, ajuda a manter amplitude de movimento, que é as vezes difícil superar em terra. Esta liberdade de movimento proporciona alegria e reforça a moral o que é apreciado pelas participantes.
Segundo Ruoti (2000), o objetivo final de qualquer tipo de treinamento de exercícios, em pessoas com lesão medular, não visa somente boa saúde global, mas funcionamento eficiente na vida diária. O terapeuta deve ser estimulado a criar e adaptar técnicas conforme exija a individualidade de cada um. A única limitação é a imaginação do fisioterapeuta.
Para Guttman (1981), atividades na água estimulam o crescimento de independência e auto-expressão e dão as pessoas com incapacidade uma oportunidade de misturar-se com o resto da sociedade. Representa uma das formas naturais de exercícios terapêuticos, e tem-se um resultado valioso na reabilitação, que é a auto¬confiança.
A gestante apresenta algumas condições especiais, e utilizar dos exercícios aquáticos para conseguir realizar movimentos que em solo se toma difícil, esta pode levar para a vida em terra segurança confiança e benefícios que podem lhe ajudar no dia-dia, como realizar transferência em cadeira de rodas, cuidar de seu bebé, segurá-lo e amamentá-lo. Segundo Skinner (1985), entrar na água é uma experiência única, e permite a qualquer um realizar movimentos incríveis, que em solo seriam realizados com dificuldades.
Segundo Campion (2000) e Katz (1999), dentre os principais benefícios dos exercícios aquáticos durante a gestação estão a ausência de peso, onde a flutuabilidade dá uma sensação de leveza na água, que é acentuada pela pressão hidrostática. Pelo fato da pressão hidrostática exercer uma força proporcional a profundidade da imersão, o edema dos pés e tornozelos será mais fácil de ser reduzido. Existe uma menor discordância entre as articulações e músculos, devido ao empuxo da água, dando suporte a medida que o exercício e executado. Os movimentos são mais lentos, e de controle mais fácil que em solo, e as articulações são sustentadas pela água.
Campion (2000) ainda cita que, o diafragma pode ser elevado para acomodar o útero em crescimento durante a gestação. A taxa respiratória de repouso aumenta, consequentemente as mulheres gráyidas podem sentir falta de ar. Durante a imersão a pressão hidrostática causa alterações na função pulmonar. A mecânica do tórax fica alterada pela pressão hidrostática sobre a parede do tórax, com essas alterações reduzem a capacidade vital e o volume de reserva expiratória e produzem aumento na capacidade de inspiração. Os músculos inspiratórios trabalham contra a pressão hidrostática e a pressão causada pelo abaixamento do diafragma, os exercícios na água de certa forma tonificam os músculos inspiratórios.
O efeito diurético para Campion (2000) e Katz (2000), pode favorecer a gestante que apresenta problemas com retenção de fluido, uma vez que a imersão por 20 a 40 minutos resulta em uma perda de 300 a 400ml de fluido.
Exercícios aquáticos podem ser formas agradáveis e prazerosas de manter um programa de exercícios. Com o exercício na piscina terapêutica, é possível manter músculos fortalecidos, tonificados além do prazer e ser confortável o ambiente.
Para Campion (2000), a força muscular, o condicionamento físico e a amplitude de movimento podem ser mantido aumentados. O equilíbrio e a coordenação podem ser melhorados; a dor pode ser diminuída e as habilidades de natação e segurança são adquiridos.
Skinner (1985) e Ruoti (2000) afirmam que, durante a terapia em piscina, o calor da água ajuda a aliviar a espasticidade, mesmo que o alivio seja temporário. Entretanto à medida que a espasticidade diminui, movimentos passivos podem ser administrados em maior amplitude e com menor desconforto para o paciente. Deste modo a amplitude articular pode ser mantida.
Os benefícios da atividade na água em termos gerais são amplamente conhecidos. É divertido, refrescante e relaxante participar de exercícios aquáticos. Recreação, resistência, fortalecimento, amplitude de movimento, coordenação, aptidão respiratória e redução da espasticidade são todos os benefícios ganhos com um programa na piscina terapêutica. A escolha correta das atividades aquáticas direcionadas às necessidades do paciente só aumentam a eficácia dos benefícios.
Optou-se por selecionar os métodos Halliwick e Bad Ragaz e tentar apresentar e satisfazer de maneira coerente as necessidades da gestante paraplégica.
O método Halliwick deve enfatizar habilidades dos pacientes na água e não sua limitações em terra. Enquanto o objetivo do método é um nadador mentalmente ajustado, e fisicamente equilibrado, os vários aspectos físicos e psicológicos asseguram que a confiança e a auto estima adquiridas na piscina. Através do método Halliwick, poderá se alcançar estes objetivos com a gestante paraplégica. Na água ela poderá através do programa dos dez pontos, se adaptar ao meio, manter a postura e equilíbrio, ter independência, o que muitas vezes, fora deste meio, não é possível, melhorar a condição física em geral. Poderá levar para a vida em terra, a auto confiança, auto estima, a sua independência, melhorando sua qualidade de vida. A paciente passará a apreciar os efeitos da flutuabilidade, que lhe permitirá movimentos mais amplos, dando-lhe maior liberdade.
Quando a paciente conseguir esta progressão no meio, será capaz de aprender movimentos básicos, não movimentos perfeitos, mas perfeitos dentro de sua capacidade.
O método dos anéis de Bad Ragaz, oferece versatilidade, podendo existir uma variação nos exercícios. Cabe ao terapeuta, adaptá-los a gestante paraplégica da melhor maneira. Os exercícios de membros superiores e tronco vão enfatizar o trabalho de força e resistência, reeducação da musculatura, do alinhamento e da estabilidade do tronco. A nova situação, o da gestação, traz à mulher mudanças significativas no seu corpo e prepará-lo, toma-se importante para facilitar as suas tranferências, o trabalho de parto, acomodar o seu filho no colo, amamenta-lo e vivenciar o dia a dia dos cuidados com ele, os cuidados de ser mãe. Os exercícios de membros inferiores podem ser adaptadas segundo as condições específicas de cada paciente sem destacar a necessidade da movimentação passiva.
A gestante paraplégica toma-se diferenciada em relação as suas condições física e emocional. E perfeitamente possível proporcionar esse contato mágico entre a mãe e o bebé, o contato com o seu próprio corpo, fazê-la sentir-se confiante, melhorar a sua auto-estima através das atividades aquáticas, uma vez que segundo Odent, a água é um símbolo feminino, a água é o símbolo da mãe!
IV – CONCLUSÃO
Com este levantamento bibliográfico, observou-se que uma mulher paraplégica, pode conduzir uma gestação a termo, realizar o parto por via vaginal e vir a cuidar de seus filhos. Pode-se verificar que ainda hoje, existe pouco material a respeito deste assunto. Por isso a necessidade de novas pesquisas.
Colocou-se em discussão sobre a utilização da piscina terapêutica por suas vantagens, como recurso utilizado para promover à gestante paraplégica um melhor bem estar tanto ao aspecto físico como ao psicológico. As atividades na água podem proporcionar a esta mulher independência, colaborar para a reabilitação, melhorar a auto estima, confiança e a coloca em posição de igualdade, e tudo o que pode ser conquistado em água pode ser transferido para a vida em terra.
Não devemos olhar a gestante, principalmente a paraplégica, como uma pessoa incapaz, devemos agir como profissionais responsáveis, sem ignorarmos a necessidade e a capacidade individual destas mulheres, e usar destas capacidades para atingirmos com sucesso nossos objetivos.