REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/dt10202505201448
Felipe Alves de AlmeidaI; Mailma Costa de AlmeidaII; Maria Clara de Queiroz BrazIII; Mariana Castro Ribeiro da CostaIV; Rachel Christine Monteiro PereiraV
RESUMO
A visita domiciliar é um elemento fundamental na Atenção Básica, a qual permite o fortalecimento da conexão com o contexto de vida dos usuários, permitindo uma integração entre a equipe multidisciplinar e a formação acadêmica em saúde, o que objetiva manter a qualidade do atendimento à população. Trata-se de um relato de experiência, do tipo descritivo, de abordagem qualitativa, realizado por discentes do curso de medicina da Faculdade Santa Teresa na cidade de Manaus-AM, direcionada à prática da Disciplina Interação em Saúde na Comunidade II, do segundo período da graduação. A visita domiciliar à paciente com Síndrome de Guillain-Barré, possibilitou uma avaliação abrangente de sua condição de saúde, permitindo identificar suas necessidades, o suporte familiar disponível e acompanhamento da evolução do quadro. A visita domiciliar é de extrema importância para que os pilares de integralidade, universalidade e equidade do Sistema Único de Saúde sejam devidamente cumpridos.
Palavras-chave: Visita domiciliar; Atenção primária à saúde; Desempenho acadêmico.
1. INTRODUÇÃO
A visita domiciliar é um elemento fundamental na Atenção Básica, a qual permite o fortalecimento da conexão com o contexto de vida dos usuários, permitindo uma integração entre a equipe multidisciplinar e a formação acadêmica em saúde, o que objetiva manter a qualidade do atendimento à população (Gomes et al., 2021; Oliveira et al., 2021).
Nesse contexto, este relato descreve a experiência de estudantes da Faculdade Santa Teresa durante uma visita a uma paciente com Síndrome de Guillain-Barré na área de cobertura da Unidade Básica de Saúde (UBS) Vila da Prata, em Manaus. A UBS Vila da Prata desempenha um papel central na promoção e supervisão da saúde à comunidade, e a demanda por visitas domiciliares tem aumentado, especialmente para pacientes cujas condições de saúde os impedem de ir à unidade (BRASIL, 2013; Oliveira et al., 2021). A Síndrome de Guillain-Barré é caracterizada por fraqueza muscular progressiva e paralisia, afetando significativamente a qualidade de vida e exigindo suporte contínuo das famílias. Assim, as visitas domiciliares são fundamentais para adaptar o cuidado às necessidades do paciente. Durante a visita, realizada em 12 de setembro, a equipe estudantil avaliou o estado de saúde da paciente e pode se informar com seus familiares sobre a rotina e o manejo da condição em casa (França; Maciel, 2014).
2. METODOLOGIA
Trata-se de um relato de experiência, do tipo descritivo, de abordagem qualitativa, realizado por discentes do curso de Medicina da Faculdade Santa Teresa na cidade de Manaus-AM, direcionada à prática da Disciplina Interação em Saúde na Comunidade II (IESC), do segundo período da graduação. Os cenários de prática foram na UBS Vila da Prata e a residência de uma usuária cadastrada na Unidade, realizadas no período de setembro de 2024 a outubro de 2024. Existem 1.064 famílias cadastradas, a maioria na faixa etária de 25 a 64 anos de idade. O presente estudo utilizou uma busca de literatura não-sistematizada, focada em artigos sobre visita domiciliar, Síndrome de Guillain-barré e educação em saúde médica, vislumbrando observar, avaliar e analisar as condições de saúde da usuária cadastrada na área que abrange a UBS com diagnóstico de Síndrome de Guillain-barré. Mediante a característica geral, buscou-se conhecer a importância da imersão na realidade do contato dos discentes do curso de medicina no segundo período de 2024 com a realidade local.
3. RELATO DE EXPERIÊNCIA
O ponto de partida para o desenvolvimento do relato de experiência emergiu através de outras práticas vivenciadas, uma discussão em grupo com os profissionais da UBS, sendo estes enfermeiros, médicos e agentes comunitários de saúde, sobre a visita que seria realizada na casa de uma usuária com diagnóstico de Síndrome de Guillain-barré. Após esse momento fora ajustado junto com a família e a paciente o horário da visita domiciliar.
Ao chegar na residência fomos muito bem recepcionados, observando uma aceitabilidade da família e da usuária para a visita dos discentes de medicina sob a supervisão de profissionais qualificados e responsáveis pelo território de abrangência. A experiência durante a visita foi de suma importância, pois a vivência do acompanhamento com a família e a usuária levou a uma proximidade com o cenário vivenciado, contribuindo para compreensão da realidade, e ajudar a usuária a se sentir mais acolhida, e sanar dúvidas inerentes a sua condição de saúde junto com os profissionais da UBS.
Foi significativa a experiência de fazer parte desse cenário e ajudar a mudar a visão da usuária da importância de seu acompanhamento e recuperação, pois estava acamada há mais de três meses, com diagnóstico de Guillain-barré, diabética e hipertensa e, devido a condição de saúde, desenvolveu crise de ansiedade e dificuldade para dormir.
Acreditamos que criar novas conexões e percepções ajuda a compreender que o diagnóstico não pode se tornar um limitador de uma vida, e todo trabalho realizado com a equipe multidisciplinar pode melhorar a sua qualidade de vida. Foi muito interessante ver a evolução dela de acordo com o relato da filha, que após o tratamento específico e o acompanhamento com fisioterapia, neurologia, clínica vem tendo uma boa evolução.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A visita domiciliar à paciente com Síndrome de Guillain-Barré, possibilitou uma avaliação abrangente de sua condição de saúde, permitindo identificar suas necessidades, o suporte familiar disponível e acompanhamento da evolução do quadro.
Entre os aspectos analisados, destacaram-se a mobilidade, a alimentação e os cuidados diários da paciente, o que facilitou a discussão sobre a adesão ao tratamento. No entanto, essa estratégia só pôde ser delineada após identificação das necessidades específicas da paciente.
Além disso, a visita revelou dificuldades no controle da diabetes e hipertensão, o que exige acompanhamento rigoroso.
A paciente, acamada há mais de três meses, apresentava não apenas os sintomas físicos da síndrome, mas também questões emocionais, como crises de ansiedade, demandando atenção psicossocial. A visita facilitou o diálogo entre os profissionais de saúde e a família, que expressou preocupações e necessidades, permitindo um suporte mais direcionado e eficaz.
A filha da paciente também relatou que, após o início do tratamento especializado, incluindo fisioterapia e acompanhamento neurológico, houve uma melhora significativa no estado de saúde da mãe, evidenciada por maior disposição e na retomada de atividades diárias.
A experiência da visita domiciliar proporcionou inúmeros aprendizados e reflexões sobre a importância da atenção integral à saúde. Desde o início, ficou evidente o valor dessas visitas para a compreensão do contexto social e familiar da paciente, oferecendo aos profissionais de saúde a oportunidade de identificar fatores que não seriam facilmente observados em uma consulta clínica tradicional (Melo; Mendonça, 2013). A interação direta com a paciente e sua família possibilitou uma abordagem mais humanizada e abrangente, reforçando a importância do cuidado centrado na pessoa (Tesser; Norman, 2014).
A abordagem multidisciplinar se destacou como essencial para o atendimento das múltiplas necessidades da paciente. A colaboração entre médicos, enfermeiros e agentes comunitários de saúde foi crucial, combinando diferentes conhecimentos e habilidades para oferecer uma assistência mais completa (Rodrigues; Peres, 2014). Esse trabalho em conjunto permitiu um cuidado mais holístico, considerando não apenas os aspectos físicos, mas também os emocionais e sociais envolvidos na saúde da paciente. Outro ponto relevante foi o impacto emocional e psicológico observado (Ceccim; Feuerwerker, 2004).
A condição de saúde da paciente não afetou apenas seu estado físico, mas também trouxe desafios emocionais consideráveis.
O suporte oferecido pela equipe foi fundamental, ajudando a paciente a lidar melhor com suas ansiedades e preocupações, o que resultou em uma sensação de acolhimento e diminuição do isolamento (Rodrigues; Peres, 2014).
A visita domiciliar também proporcionou uma oportunidade de educação em saúde. Os profissionais puderam esclarecer dúvidas da paciente e de seus familiares sobre a condição e os cuidados necessários, o que fomentou um maior engajamento da família no processo de tratamento (Souza; Tesser, 2017). Isso reforça a importância da educação em saúde como uma ferramenta essencial para garantir a adesão ao tratamento e a melhora da qualidade de vida do paciente.
Por fim, essa experiência prática trouxe importantes reflexões sobre a formação acadêmica dos estudantes de medicina envolvidos. A aplicação de conhecimentos teóricos em um cenário real enriqueceu o aprendizado e contribuiu para a formação de profissionais mais empáticos e conscientes das complexidades do cuidado à saúde (Ceccim; Feuerwerker, 2004). O contato direto com a realidade dos pacientes é fundamental para a construção de uma prática médica mais humanizada e sensível.
Assim, a experiência reforça a necessidade de colaboração entre os profissionais de saúde e a educação em saúde como pilares para a melhoria da qualidade de vida de pacientes, especialmente aqueles que enfrentam condições complexas, como a Síndrome de Guillain-Barré.
5. CONCLUSÕES OU CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se, então, que a visita domiciliar é de extrema importância para que os pilares de integralidade, universalidade e equidade do Sistema Único de Saúde sejam devidamente cumpridos.
Isso porque, essa prática atinge a população que habita o território da UBS Vila da Prata de maneira quase personalizada, atendendo as necessidades de todos os pacientes, sem nenhum tipo de exceção, como foi relatado o caso da paciente com síndrome de Guillain-Barre.
O atendimento domiciliar possibilitou à paciente um atendimento integral com a equipe da unidade básica de saúde, permitindo a construção de vínculo e confiança entre a paciente e a equipe que, pela abrangência da visita domiciliar, pôde identificar todas as vulnerabilidades ocultas que atingem a paciente, sejam elas estruturais, econômicas, culturais ou de bem estar e saúde. Dessa forma, a experiência relatada reforça a visita domiciliar como uma prática indispensável que garante maior adesão da comunidade aos cuidados e recomendações médicas e melhora a qualidade de vida dos usuários da atenção primária.
REFERÊNCIAS
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FRANÇA, M. C.; MACIEL, B. C. Guillain-Barré Syndrome: clinical features and management. Journal of Clinical Neuromuscular Disease, v. 15, n. 4, p. 247-256, 2014.
GOMES, R. M. et al. A visita domiciliar como ferramenta promotora de cuidado na Estratégia Saúde da Família. Research, Society and Development, v. 10, n. 2, p. e40010212616, 2021.
OLIVEIRA, D. R. DA C. A. B. et al.. Epidemiological and clinical aspects of Guillain-Barré syndrome and its variants. Arquivos de Neuro-Psiquiatria, v. 79, n. 6, p. 497–503, jun. 2021.
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MELO, E. P.; MENDONÇA, A. V. C. A visita domiciliar no trabalho dos agentes comunitários de saúde: uma prática em construção. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 18, n. 6, p. 1613- 1622, 2013. DOI: https://doi.org/10.1590/S1413-81232013000600013.
RODRIGUES, I. C.; PERES, A. M. A importância do cuidado multiprofissional na saúde da mulher: desafios e perspectivas. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 67, n. 6, p. 1002-1008, 2014. DOI: https://doi.org/10.1590/0034-7167.2014670617.
SOUZA, E. E. M.; TESSER, C. D. O desafio de educar para a saúde em visitas domiciliares: reflexões sobre práticas de ensino. Saúde em Debate, Rio de Janeiro, v. 41, n. 3, p. 102-112, 2017. DOI: https://doi.org/10.1590/0103-1104201710603.
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IAcadêmica de Medicina. Faculdade Santa Teresa.
IIAcadêmica de Medicina. Faculdade Santa Teresa.
IIIAcadêmica de Medicina. Faculdade Santa Teresa.
IVAcadêmica de Medicina. Faculdade Santa Teresa.
VProfessor do curso de Medicina. Faculdade Santa Teresa.