DISBIOSE INTESTINAL E O TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA

INTESTINAL DYSBIOSIS AND AUTISM SPECTRUM DISORDER: A SYSTEMATIC REVIEW

DISBIOSIS INTESTINAL Y TRASTORNO DEL ESPECTRO AUTISTA: UNA REVISIÓN SISTEMÁTICA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10086774


Camila Sanção de Macedo
Danielle Alves Torquato
Marília Gabriela Dias Nery
Tereza Cristina Carvalho de Souza Garcês
Ana Rachel Oliveira de Andrade


RESUMO

O intestino humano é colonizado por microrganismos, incluindo bactérias, fungos e vírus, constituindo a microbiota intestinal. Eles são influenciados por fatores externos, como o estilo de vida e hábitos alimentares, além de fatores intrínsecos incluindo hormonais, metabólicos e genéticos. Alterações que ocorrem no eixo intestino-cérebro constituem fatores que desencadeiam e geram hipóteses sobre algumas doenças, como o Transtorno do Espectro Autista, transtornos do humor e do afeto. As afecções decorrem da liberação de metabólitos pela microbiota intestinal, que agem afetando a permeabilidade intestinal, a função imune e a sensibilidade da mucosa, além de interferir na liberação de hormônios e neurotransmissores gastrointestinais. O objetivo deste estudo é analisar a relação entre a disbiose e o desenvolvimento do Transtorno do Espectro Autista. Trata-se de uma revisão sistemática, as informações foram obtidas por meio da busca sistemática de artigos científicos indexados nas bases de dados U.S. National Library of Medicine, Medline e Biblioteca Virtual em Saúde, Scientific Eletronic Library Online e Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde. Foram encontrados 963 artigos em base de dados, após critérios de exclusão restaram 27 artigos incluídos em síntese qualitativa. Assim, a disbiose intestinal, advinda de um desequilíbrio de bactérias intestinais, possui influência no desencadeamento e acentuação dos sintomas do transtorno do espectro autista, às custas do eixo microbiota-intestino-cérebro. Estratégias de saúde voltadas para a manutenção da carência de nutrientes e prevenção de futuros agravos seriam de grande relevância para o desenvolvimento neuropsicomotor de crianças e melhora da qualidade de vida de jovens autistas.

Palavas-chave: Disbiose; Eixo Cérebro-Intestino; Transtorno do Espectro Autista.

ABSTRACT

The human intestine is colonized by microorganisms, including bacteria, fungi and viruses, constituting the intestinal microbiota. They are influenced by external factors such as lifestyle and eating habits, in addition to intrinsic factors including hormonal, metabolic and genetic factors. Alterations that occur in the gut-brain axis are factors that trigger and generate hypotheses about some diseases, such as Autistic Spectrum Disorder, mood and affection disorders. The conditions result from the release of metabolites by the intestinal microbiota, affecting intestinal permeability, immune function and mucosal sensitivity, in addition to interfering with the release of gastrointestinal hormones and neurotransmitters. The aim of this study is to analyze the relationship between dysbiosis and the development of Autistic Spectrum Disorder. This is a systematic review, the information was passed through the systematic search of scientific articles indexed in the U.S. databases. National Library of Medicine, Medline and Virtual Health Library, Scientific Electronic Library Online and Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences. 963 articles were found in the database, after exclusion criteria, 27 articles remained included in the qualitative synthesis. Thus, intestinal dysbiosis, arising from a balance of intestinal bacteria, has an influence on triggering and accentuating psychopaths with autism spectrum disorder, at the expense of the microbiota-intestine-brain axis. Health strategies addressed to maintain the lack of nutrients and prevent future injuries would be of great success for the neuropsychomotor development of children and improvement of the quality of life of autistic young people.

Keywords: Dysbiosis; Brain-Gut Axis; Autism Spectrum Disorder.

RESUMEN

El intestino humano está colonizado por microorganismos, incluidas bacterias, hongos y virus, que constituyen la microbiota intestinal. Están influenciados por factores externos como el estilo de vida y los hábitos alimenticios, además de factores intrínsecos que incluyen factores hormonales, metabólicos y genéticos. Las alteraciones que se dan en el eje intestino-cerebro son factores que disparan y generan hipótesis sobre algunas enfermedades, como el Trastorno del Espectro Autista, los trastornos del estado de ánimo y afectivos. Las condiciones resultan de la liberación de metabolitos por parte de la microbiota intestinal, afectando la permeabilidad intestinal, la función inmune y la sensibilidad de las mucosas, además de interferir con la liberación de hormonas y neurotransmisores gastrointestinales. El objetivo de este estudio es analizar la relación entre la disbiosis y el desarrollo del Trastorno del Espectro Autista. Esta es una revisión sistemática, la información se pasó a través de la búsqueda sistemática de artículos científicos indexados en las bases de datos de Estados Unidos. Biblioteca Nacional de Medicina, Medline y Biblioteca Virtual en Salud, Biblioteca Científica Electrónica en Línea y Literatura Latinoamericana y del Caribe en Ciencias de la Salud. Se encontraron 963 artículos en la base de datos, después de los criterios de exclusión, 27 artículos quedaron incluidos en la síntesis cualitativa. Así, la disbiosis intestinal, derivada de un equilibrio de bacterias intestinales, influye en el desencadenamiento y acentuación de psicópatas con trastorno del espectro autista, a expensas del eje microbiota-intestino-cerebro. Las estrategias de salud dirigidas a mantener la carencia de nutrientes y prevenir futuras lesiones serían de gran éxito para el desarrollo neuropsicomotor de los niños y la mejora de la calidad de vida de los jóvenes autistas.

Palabras clave: Disbiosis; Eje Cerebro-Intestino; Desorden del Espectro Autista.

1. INTRODUÇÃO

O intestino humano é colonizado, em média, por 30 a 400 trilhões de microrganismos, incluindo bactérias, fungos e vírus – constituindo a microbiota intestinal. Sua composição pode ser influenciada por fatores externos, tais quais o estilo de vida, os hábitos alimentares, o uso de medicamentos e as infecções; assim como por fatores intrínsecos incluindo hormonais, metabólicos e genéticos (SACRAMENTO, 2020). Esses microrganismos agregam benefícios mútuos, além de desempenhar funções imprescindíveis para o funcionamento do corpo humano, na medida que influenciam na fisiologia e na sua relação com a suscetibilidade a doenças devido a suas atividades metabólicas coletivas, interações com o hospedeiro e ações sobre o sistema imunológico, resistência a patógenos e aproveitamento de alimentos (NESI; FRANCO; CAPEL, 2020).

Os microrganismos iniciam a colonização do intestino fetal durante a gestação por meio da placenta, membranas fetais, líquido amniótico e cordão umbilical. Entretanto, é imediatamente após o nascimento que há o estabelecimento e desenvolvimento efetivo dessa microbiota – possivelmente impulsionados e modulados por compostos específicos no leite materno; além da introdução alimentar. Desse modo, há um número crescente de dados experimentais que sugerem benefícios para a saúde a longo prazo provocados pela microbiota intestinal infantil e que também implicam na modulação de fatores de risco relacionados a determinadas condições de saúde do adulto (LOZUPONE, et al., 2012; MILANI, et al., 2017; QUINONES, et al., 2018).

Estudos apontam que os microrganismos mediam a comunicação entre os sistemas metabólico, imunológico periférico e nervoso central através do eixo microbiota-intestino-cérebro, mediante vários mecanismos como produção de neurotransmissores ou modulação do catabolismo do neurotransmissor do hospedeiro, inervação através do nervo vago ou ativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA). Por meio dessa ligação, ocorrem as sinalizações neural e imunológica desde metabólitos e microbiota até o cérebro (STRANDWITZ, 2018; MARESE, et a.l, 2019; SILVA; VERRUCK, 2021).  Assim, a microbiota intestinal possui um papel essencial no desenvolvimento e função cerebrais, bem como no desenvolvimento cognitivo através da produção hormonal, mediadores imunológicos e metabólitos (WANG; WANG, 2016; SACRAMENTO, 2020).

Nesse sentido, a má adaptação microbiana, devido ao desequilíbrio entre bactérias protetoras e agressoras, como Bacteroides spp e Clostridium spp respectivamente, é chamada de disbiose (PAIXÃO; DOS SANTOS CASTRO, 2016). Quando isso ocorre, há aumento da suscetibilidade ao crescimento de patógenos, os quais podem produzir toxinas que são absorvidas pela corrente sanguínea (NEUHANNIG, et al, 2019).

O eixo intestino-cérebro se refere à ligação entre o sistema nervoso central e o sistema nervoso entérico, conectando os centros emocional e cognitivo do cérebro às funções intestinais periféricas por meio de ligações neurais, endócrinas, imunes e humorais. Os estudos demonstram que a microbiota intestinal pode influenciar essas complexas relações, estando envolvida na manutenção da barreira intestinal, barreira hemato-encefálica, expressão de neurotransmissores e seus receptores, e modulação da atividade cerebral e do comportamento (PAIXÃO, 2016; VERAS, 2019). Destaca-se ainda, que a regulação do sistema imune no recém-nascido, durante os primeiros dias de vida, é feito pelo trato gastrointestinal (TGI). Portanto, qualquer alteração no TGI, seja por uma inflamação ou agressão imunológica, pode estar relacionado com alterações cerebrais, por exemplo. (ZORZO, 2017)

Alterações que ocorrem de forma bidirecional constituem fatores que desencadeiam e geram hipóteses sobre algumas doenças, como o Transtorno do Espectro Autista (TEA), além de transtornos do humor e do afeto, doença de Parkinson, depressão, esquizofrenia e dor crônica. As patologias decorrem da liberação de metabólitos pela microbiota intestinal, que agem afetando a permeabilidade intestinal, a função imune e a sensibilidade da mucosa, além de interferir na liberação de hormônios e neurotransmissores gastrointestinais. (VERAS, 2019)

O TEA caracteriza-se por ser um transtorno do desenvolvimento neurológico, em que o paciente apresenta dificuldades de comunicação e interação social, além de comportamentos e interesses repetitivos ou restritos. Essa condição sofre influência da genética, fatores ambientais e complicações no parto, além disso, o TEA possui ampla variedade, podendo ser classificado em leve, moderado ou severo. O diagnóstico é feito por critérios seguidos internacionalmente, com avaliação completa e uso de escalas avaliativas. (GOMES, 2015)

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a estimativa é de que existam cerca de 70 milhões de pessoas diagnosticadas com autismo no mundo, sendo dois milhões delas no Brasil (BRASIL, 2020). Dados epidemiológicos revelam que a prevalência do transtorno do espectro autista vêm aumentando significativamente ao longo dos anos. Por exemplo, nos Estados Unidos da América, de um para cada 150 crianças de oito anos em 2000 e 2002, a prevalência aumentou para um para cada 68 crianças em 2010 e 2012 e, em 2014, a prevalência passou para um para cada 58 crianças. (BARRETO, 2022)

Os estudos demonstram um rápido aumento na prevalência do autismo, fazendo com que o diagnóstico seja feito muitas vezes de forma tardia, consequentemente atrasando no início do tratamento, gerando prejuízos no seu prognóstico. Uma das ações implementadas no tratamento do paciente com TEA é o uso de probióticos com base no eixo intestino-cérebro nos pacientes que apresentam distúrbios gastrointestinais ligados à disbiose. Estudos demonstram que em razão da disfunção desse eixo, muitos pacientes apresentam uma taxa mais alta de irritabilidade, raiva, comportamentos agressivos e distúrbios do sono. (GOMES, 2015; DA SILVA, 2020)

Concomitante a isso, observa-se um crescente interesse no eixo intestino-cérebro, devido ao envolvimento em distúrbios gastrointestinais, funcionais e neurodesenvolvimento, no qual o TEA está inserido. Dentre as principais alterações relacionadas com o TEA, estão as deficiências imunológicas inatas e principalmente as alergias alimentares (VERAS, 2019; CUPERTINO, 2019). Dessa forma, o presente trabalho tem como objetivo analisar através de uma revisão sistemática a relação entre a disbiose intestinal e o desenvolvimento do TEA.

2. METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão sistemática sobre a associação da Disbiose Intestinal e o Transtorno do Espectro Autista. As informações foram obtidas por meio da busca sistemática de artigos científicos indexados nas bases de dados U.S. National Library of Medicine (PubMed), Medline e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Scientific Eletronic Library Online (SciELO) e Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS).

Para a condução das buscas, foram utilizados os descritores presentes no tesauro multilíngue Descritores em Ciências da Saúde (DeCS/MeSH) (BIREME, 2022), utilizando o operador booleano “AND”, em português: “disbiose”, “eixo cérebro-intestino”, “transtorno do espectro autista”. Em inglês: “dysbiosis”, “Brain-Gut Axis”, “Autism Spectrum Disorder”. Em espanhol: “disbiosis”, “Eixo Cerebro-Intestino”, “Trastorno del Espectro Autista”.

Todos os artigos escolhidos respeitaram os critérios de inclusão, que são: conter dados primários, sendo considerados os tipos de estudo: relatos de casos, estudos clínicos, ensaios controlados randomizados e artigos originais, no período de 2009 a 2023. Foram excluídos artigos duplicados, tese ou dissertação, revisões de literatura, editoriais, anais de congresso, cartas ao editor, relatos de caso, revisões bibliográficas, pré-publicações, trabalhos que não referisse clareza do tema principal e que houvesse restrição de acesso.

Posteriormente à busca eletrônica, foi realizada uma análise qualitativa e crítica dos estudos, através da leitura dos títulos, com o intuito de descartar os estudos que não atendessem o critério de contemplar o tema central do presente trabalho. Logo em seguida, prosseguiu-se à leitura dos resumos, exclusão dos estudos não elegíveis e seleção dos artigos que seguissem os critérios para compor o corpo amostral deste trabalho. A etapa final foi realizada através da leitura dos textos completos, que posteriormente foram organizados em linhas e colunas na tabela do excel, contendo tópicos, como, título, revista, autores/ano, idioma, distúrbio, objetivo e resultados de cada artigo, para melhor visualização e compreensão dos estudos escolhidos. Após ser feita a organização, foi realizada a extração dos dados dos estudos incluídos na presente revisão sistemática

Essa revisão sistemática foi realizada baseada no conjunto de recomendações do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analysis (PRISMA), como evidenciado na Figura 1.

Figura 1- Fluxograma do processo de seleção dos estudos que compõem a revisão integrativa de literatura, baseado no modelo PRISMA

Fonte: Autores (2023).

3. RESULTADOS

Foram encontrados 963 artigos em base de dados com os descritores em português: “disbiose”, “eixo cérebro-intestino”, “transtorno do espectro autista”. Em inglês: “dysbiosis”, “Brain-Gut Axis”, “Autism Spectrum Disorder”. Em espanhol: “disbiosis”, “Eixo Cerebro-Intestino”, “Trastorno del Espectro Autista”, após a exclusão de duplicatas restaram 670, destes, 445 excluídos por títulos e 203 por resumos, restando 27 artigos incluídos em síntese qualitativa, que estão listados na Tabela 1. Dos artigos selecionados para a revisão sistemática, 7% são relacionados principalmente ao eixo intestino-cérebro, 51% se relacionam primordialmente com o Transtorno do Espectro Autista, 25% tem como assunto principal a Disbiose e 14% se relacionam essencialmente com patógenos da microbiota gastrointestinal.

Tabela 1 – Artigos selecionados para revisão sistemática de literatura.

Título do artigoRevistaAutores/ anoIdiomaDistúrbioObjetivo do artigoResultados
Disbiose intestinalRevista Brasileira de NutriçãoALMEIDA et al., 2009PortuguêsDisbiose intestinalRevisar sobre disbiose intestinal e sobre as condutas terapêuticas que têm sido adotadas para prevenir e tratar este distúrbio.O intestino é um dos melhores indicadores com que se pode contar para avaliar a saúde de um indivíduo e uso de produtos probióticos, prebióticos e simbióticos auxilia na prevenção e no tratamento das possíveis alterações da microbiota intestinal
A influência da microbiota intestinal no transtorno do espectro autistaAnima EducaçãoBARRETO et al, 2022PortuguêsTranstorno do Espectro AutistaInvestigar a relação entre autismo e a microbiota intestinalFicou evidente que o cuidado com a modulação intestinal no TEA, a partir da intervenção dietética, juntamente com a terapia nutricional, é necessário para uma melhor qualidade de vida dos portadores do espectro autista
Transtorno do espectro autista: uma revisão sistemática sobre aspectos nutricionais e eixo intestino-cérebroABCS Health SciencesCUPERTINO et al, 2019PortuguêsTranstorno do Espectro AutistaRevisar os estudos sobre distúrbios alimentares e do trato gastrointestinal apresentado pelo indivíduo portador do TEA, a fim de compreender como o comportamento alimentar influência na etiopatogênese e manifestações clínicas da doença, com foco no eixo intestino -cérebroConcluiu-se que, no cérebro dos pacientes avaliados há uma expressão alterada de genes associados à integridade da Barreira Hematoencefálica, associada a um aumento da neuroinflamação e comprometimento da barreira intestinal, reforçando a associação do cérebro com o intestino na etiologia, patogenia e sintomatologia do TEA.
Intervenção nutricional no tratamento da disbiose intestinal em crianças com transtorno do espectro autista: uma revisão de literaturaConexão UnifametroMYRTHE, Emilyana et al, 2020PortuguêsTranstorno do Espectro AutistaRevisar na literatura o impacto da intervenção nutricional no tratamento da disbiose intestinal em crianças com TEAEstudos indicam que a intervenção nutricional tem demonstrado resultados eficazes no tratamento da disbiose, resultando em melhoras significativas no comportamento de crianças com autismo.
A perturbação do microbioma e do eixo intestino-cérebro nos transtornos do espectro do autismoRevista Internacional de Ciências MolecularesGRETA, et al, 2018PortuguêsTranstorno do Espectro AutistaAvaliar o impacto do desequilíbrio do eixo microbiota-intestino-cérebro e suas repercussões clínicas quanto ao desenvolvimento ou agravo do transtorno do espectro autista (TEA)
A relação da disbiose com alterações neurológicas e as intervenções com terapias combinadas foram mais efetivas na melhora dos aspectos sociocomportamentais e funcionamento clínico global nos pacientes portadores do TEA.
A microbiota intestinal e os desenvolvimentos recentes sobre o seu impacto na saúde e na doençaRepositório da Universidade de LisboaGOMES, Ana Patrícia, 2017PortuguêsPatógenos da microbiota intestinalApresentar uma visão geral do conhecimento atual e desenvolvimentos recentes relativos ao impacto da microbiota intestinal na saúde humana.A microbiota intestinal é crucial para um funcionamento apropriado do sistema imunitário e saúde ao longo da vida.
Autism in Brazil: a systematic review of family challenges and coping strategiesJornal de PediatriaGOMES, et al., 2015InglêsTranstorno do Espectro AutistaDescrever os desafios encontrados pelas famílias na convivência com crianças portadoras de transtorno do espectro autista (TEA) no Brasil e as estratégias de superação empregadas.Observou-se que o TEA exerce forte influência na dinâmica familiar com sobrecarga dos cuidadores. O Sistema Único de Saúde necessita prover cuidado integral com vistas ao pleno desenvolvimento e inserção dessas crianças na sociedade.
Perfil nutricional e prevalência de disbiose intestinal em crianças com transtorno do espectro autistaRevista de NeurociênciasGONÇALVES, et al., 2022PortuguêsTranstorno do Espectro AutistaAvaliar o perfil alimentar e a prevalência de disbiose em crianças autistas atendidas em um centro de referência em Belém/ PA.Houve elevada incidência de seletividade alimentar, com consumo de alimentos inadequados para essa população, que resultou na prevalência de disbiose nesses pacientes (53,2%; p<0,009) e alterações no estado nutricional com maior ocorrência de excesso de peso (34%; p<0,000).
Aspectos alimentares e nutricionais de crianças e adolescentes com transtorno do espectro autistaPhysis: Revista de Saúde ColetivaMAGAGNIN, et al., 2021PortuguêsTranstorno do Espectro AutistaCompreender os hábitos, dificuldades e as estratégias alimentares de crianças e adolescentes com transtorno do espectro autista.As crianças e adolescentes autistas possuem um considerável consumo de alimentos processados e ultraprocessados, além de comportamentos relativos à recusa alimentar, disfagia, baixa aceitação de alimentos sólidos, compulsão alimentar e sintomas gastrointestinais.


Alterações na microbiota gastrointestinal de crianças com transtorno do espectro autista: Uma revisão sistemática
Psicologia e Saúde em debateMARTINS, et al., 2021PortuguêsPatógenos da microbiota intestinalAveriguar a microbiota gastrointestinal em crianças com TEA.Concluiu-se que há várias alterações da microbiota gastrointestinal nas crianças com autismo quando comparado a crianças com neurodesenvolvimento típico, sendo também afetada por questões anatômicas e metabólicas como causa ou consequência do TEA.
The first microbial colonizers of the human gut: composition, activities, and health implications of the infant gut microbiotaMicrobiology and molecular biology reviewsMILANI, et al. 2017InglêsPatógenos da microbiota intestinalDiscutir a relevância dos principais atores microbianos da microbiota intestinal infantil, em particular as bifidobactérias, no que diz respeito ao seu papel na saúde e na doença.Foi demonstrado que certos genomas comensais intestinais infantis, em particular os de espécies bifidobacterianas, são geneticamente adaptados para utilizar glicanos específicos do leite materno, representando um exemplo da coevolução do micróbio hospedeiro.
A disbiose da microbiota intestinal, sua associação no desenvolvimento de doenças neurodegenerativas e seus possíveis tratamentosBrazilian journal of developmentNESI, et al. 2020PortuguêsDisbiose IntestinalFornecer informações sobre a disbiose intestinal em uma relação com o eixo cérebro-intestino-microbiota e o desenvolvimento de doenças neurodegenerativas.Foi possível compreender melhor características inerentes à microbiota intestinal, a compreensão entre o desdobramento de doenças neurodegenerativas e a desarmonia da microbiota intestinal.
Intestinal dysbiosis: Correlation with current chronic diseases and nutritional interventionResearch, Society and DevelopmentNEUHANNIG, et al. 2019InglêsDisbiose IntestinalApresentar as principais implicações relacionadas à disbiose intestinal, sua correlação com as doenças atuais, com foco na promoção do desenho de estratégias nutricionais.Inúmeros fatores contribuem para o desenvolvimento da disbiose,, reforçando a necessidade de mudanças no estilo de vida e promoção de orientações alimentares orientadas pelo fornecimento de probióticos e prebióticos no controle dessa disfunção.
Atuação da equipe multidisciplinar no tratamento do transtorno do espectro autista e a importância da intervenção nutricionalBrazilian Journal of DevelopmentPEREIRA et al., 2021PortuguêsTranstorno do Espectro AutistaEntender de que forma se dá o Transtorno do Espectro Autista; Compreender o desenvolvimento da seletividade alimentar em crianças dentro do espectro; Identificar as principais formas de intervenção do nutricionista na dieta alimentar de autistas; Entender a importância de uma equipe multidisciplinar na qualidade de vida desse sujeito infante.Foi possível observar que a seletividade alimentar sendo um fator recorrente em autistas, se torna imprescindível o papel do nutricionista, entendendo-o como um orientador de ações que devem ser tomadas de forma articulada com os demais profissionais que atuam no tratamento do autista, enfatizando a necessidade de atendimento que perceba as suas especificidades quanto à textura, cor, aroma, e possa elaborar um plano nutricional que o beneficie com os nutrientes necessários.
A Metabologenomic approach reveals alterations in the gut microbiota of a mouse model of Alzheimer’s diseaseNeurobiology of agingFAVERO et al., 2022InglêsPatógenos da microbiota intestinalAnalisar ecossistemas microbianos intestinais complexos em um modelo de camundongo determinístico de DA familiar.Microbiota intestinal desregulada é associada ao início e progressão da DA, também indicando que uma disbiose pode ocorrer antes de sinais clínicos significativos.
Gut Microbiota Dysbiosis Induced by Decreasing Endogenous Melatonin Mediates the Pathogenesis of Alzheimer’s Disease and ObesityFrontiers in ImmunologyZHANG et al., 2022InglêsDisbiose intestinalAvaliar as alterações sistêmicas e possíveis riscos em um modelo de camundongo com redução de melatonina endógena (EMR)EMR causa alterações sistêmicas mediadas pela disbiose da microbiota intestinal, que pode ser um fator patogênico para DA e obesidade
Disbiose intestinal e uso de prebióticos e probióticos como promotores da saúde humanaRevista Científica de SaúdeQUINONES, Eliane Marta et al, 2018PortuguêsDisbiose IntestinalRevisar estudos relacionados a disbiose intestinal, suas causas e malefícios a saúde do hospedeiroA alimentação tem papel fundamental para a regulação da flora intestinal e que várias doenças estão associadas a problemas no intestino. Os alimentos funcionais como os probióticos e prebióticos vem com a proposta de modulação e equilíbrio dessa microbiota, assegurando grandes melhorias a saúde do hospedeiro.
Relação do eixo intestino-cérebro e suas influências no corpoAnais da Mostra de SaúdeRISTOV, Isabella Reis et al, 2017PortuguêsEixo intestino-cérebroRelacionar os fatores etiológicos, os moduladores e a associação com os sintomas somáticosO sistema nervoso entérico é conectado ao sistema nervoso central, compondo juntos o eixo intestino-cérebro. Essa ligação é mediada por moduladores, influenciada por fatores internos e externos, e é percebida ao passo que doenças que atingem o trato gastrointestinal (TGI) podem estar associadas a sintomas somáticos, como psíquico-comportamentais e extraintestinais
O possível papel do eixo microbiota-intestino-cérebro no transtorno do espectro do autismo.Revista Internacional de Ciências MolecularesSRIKANTHA, Piranavie; MOHAJERI, M. Hasan, 2019InglêsTranstorno do espectro autistaEstudar a possível conexão entre a microbiota/microbioma e o TEAMudanças frequentemente observadas em crianças com TEA foram uma diversidade bacteriana geralmente diminuída em comparação com as populações de controle e a proporção significativamente menor de Bacteroidetes para Firmicutes. Abundâncias elevadas de Clostridium spp em indivíduos autistas correlacionam-se com a gravidade do comportamento autista
Disfunções da microbiota gastrointestinal e o desenvolvimento de transtornos comportamentaisBrazilian Journal of Health Review
TEIXEIRA, Lívia Lima et al, 2022Português
Disbiose intestinalInvestigar a influência e relação da microbiota intestinal com o desenvolvimento dos transtornos comportamentaisA inter-relação entre a ocorrência e fisiopatologia de disbioses e transtornos comportamentais é expressiva. indivíduos que sofrem de disbiose intestinal e são acometidos por transtornos comportamentais podem ser experimentados por estratégias nutricionais para minimizar os efeitos desse desequilíbrio.
Conexão cérebro-intestino-microbiota no transtorno do espectro autistaRevista de Medicina de Família e Saúde MentalVERAS, Rafael dos Santos Cruz; NUNES, Carlos Pereira, 2019PortuguêsTranstorno do espectro autistaEsclarecer como alterações na microbiota intestinal pode levar a manifestações do transtorno do espectro autistaO estilo de vida atual pode levar a essas agressões que refletem diretamente em todo o organismo das crianças no TEA, sendo o trato gastrointestinal o grande acometido
Impacto do microbioma intestinal no eixo cérebro-intestino.International Journal of NutrologyZORZO, Renato Augusto, 2017PortuguêsEixo cérebro-intestinoLevantar o conhecimento científico atual acerca das relações entre o microbioma intestinal e o funcionamento do Eixo Cérebro-IntestinoEstímulos na vida precoce exercem forte influência na formação do perfil do microbioma intestinal, cujos desdobramentos se estendem por toda a vida do indivíduo. Alterações no perfil do microbioma podem resultar em prejuízo no desenvolvimento em vários sistemas corporais, e em especial no neurodesenvolvimento, aumentando risco de morbidades mentais na vida adulta
Aspectos fisiopatológicos da disbiose intestinal em estudantes de uma instituição de ensino privada do Distrito Federal.
Revista Eletrônica Acervo SaúdeVIEIRA, Giulia Causin., et al. 2021PortuguêsDisbiose IntestinalAvaliar os aspectos fisiopatológicos da disbiose intestinal, bem como estabelecer a prevalência desta nos indivíduos participantes.68% dos pacientes relataram sintomas de hipersensibilidade e 29% apresentaram disbiose intestinal, sendo que os portadores dessa desordem exibiram de forma significativa sintomas característicos de rinite alérgica (49,43%), desequilíbrios emocionais (48,28%), mentais (47,13%), falta de energia física (29,84%) e disfunções cutâneas. (21,84%),, ressaltando a influência das microbiota intestinal sobre o sistema imunológico e neuroendócrino.
Austism Spectrum Disorders and the Gut MicrobiotaNutrientsFATTORUSSO, Antonella et al. 2019InglêsTranstorno do Espectro AutistaAnalisar o conhecimento atual sobre disbiose e distúrbios gastrointestinais no tratamento das crianças com Transtorno do Espectro Autista.Evidências acumuladas mostraram uma ligação entre alterações na composição da microbiota intestinal, sintomas gastrointestinais e neurocomportamentais nas crianças com TEA.
Mapeamento dos serviços que prestam atendimento a pessoas com transtorno do espectro autista no BrasilCadernos de Pós Graduação em Distúrbios do desenvolvimentoPORTOLESE, Joana et al. 2017PortuguêsTranstorno do Espectro AustistaMapear as instituições brasileiras que prestam atendimento a indivíduos com TEA.Verificaram-se 650 instituições, das quais a maioria concentra-se nas regiões Sudeste e Sul. A maior parte consiste nas Associações de Pais Amigos dos Excepcionais-APAEs, seguidas pelos Centros de Atenção Psicossocial Infanto-juvenil-CAPSIs e AMAs. Há predominância do atendimento à infância e adolescência. O atendimento multiprofissional foi mais frequente e dentre as abordagens teóricas destacam-se os métodos TEACCH, Psicoeducação e ABA.
Perfil epidemiológico dos pacientes com Transtorno do Espectro Austista do Centro Especializado em Reabilitação.Pará Research Medical JournalDE LIMA REIS, Deyvson et al. 2019PortuguêsTranstorno do Espectro AustistaCaracterizar o perfil epidemiológico dos pacientes diagnosticados com Transtorno do Espectro AustistaDos prontuários avaliados, 23% dos pacientes eram do sexo feminino e 77% do sexo masculino. A faixa etária predominante era dos 5 a 8 anos (44%). A maioria estava no Ensino Fundamental (49%) enquanto 18% não estudavam. As comorbidades mais prevalentes foram Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)(11%), deficiência intelectual (11%) e perda auditiva (9%).
Autism spectrum disorders and intestinal microbiotaGut microbesDE ANGELIS, Maria et al. 2015InglêsTranstorno do Espectro AutistaPropor uma nova perspectiva sobre as implicações da interação entre a microbiota intestinal e o autismo.Tal estudo indica que os níveis de aminoácidos livres e compostos orgânicos voláteis diferem em indivíduos com autismo em comparação com crianças com transtorno invasivo do desenvolvimento, que são mais semelhantes à crianças saudáveis.

Fonte: Autores (2023).

4. DISCUSSÃO

SRIKANTHA, 2019; ALMEIDA, 2009 e VIEIRA, 2021 relataram que a disbiose intestinal é um distúrbio na homeostase da microbiota natural do intestino, secundária a um desequilíbrio na própria composição (Firmicutes/Bacteroidetes), comumente advindo da prevalência de bactérias nocivas comparadas às benignas. Através da classificação de etiologias, a disbiose pode ter três causas: 1. Perda de bactérias benéficas, 2. Crescimento excessivo de bactérias patogênicas e 3. Perda da diversidade bacteriana geral. Quando a disbiose se instala, a quebra dos peptídeos e reabsorção de toxinas do lúmen intestinal ocorrem de maneira inadequada, promovendo o surgimento de patologias em decorrência ao funcionamento ineficaz da relação simbiótica.

GONÇALVES, 2022 e RISTOV, et al 2017, observaram que na microbiota anormal, situação na qual bactérias desfavoráveis colonizam o intestino delgado, consequências arriscadas podem ser desenvolvidas, como nutrientes serem digeridos de forma errada e a combinação de toxinas com proteínas, formando peptídeos perigosos para o corpo. Nos últimos anos, houveram evidências indicativas de que as patologias causadas pela disbiose intestinal não se limitam apenas ao trato gastrointestinal, mas comprometem outros eixos, como o intestino-cérebro, podendo influenciar piamente no neurodesenvolvimento e no comportamento do indivíduo. O sistema nervoso entérico possui estreita ligação com o intestino, e atua como um condutor na comunicação entre a microbiota gastrointestinal e o sistema nervosos central, o que explica o fato de haver diversas alterações comportamentais, alterações de humor, depressão, ansiedade, e perturbações do espectro do autismo quando há mudanças patológicas nesse eixo.

CUPERTINO, et al 2019; VERAS 2019 e ZORZO 2017 esclareceram sobre o fato da microbiota intestinal estar envolvida na manutenção da barreira intestinal, barreira hemato-encefálica, expressão de neurotransmissores e seus receptores, e modulação da atividade cerebral e do comportamento. Ademais, o caminho principal do eixo acontece por intermédio do nervo vago, o que implica grande relação entre a comunicação da microbiota e os efeitos comportamentais centrais. Dentre os inúmeros neurotransmissores que participam do eixo intestino-cérebro, a serotonina possui um destaque importante, ela é capaz de modular o neurodesenvolvimento e é responsável pelas funções sociais do indivíduo e seus comportamentos repetitivos. Existem algumas bactérias intestinais que influenciam no metabolismo da serotonina e dentre elas pode-se destacar as do gênero Clostridium e Lactobacillus, essas bactérias estão presentes de forma exacerbada em indivíduos com transtorno do espectro autista (TEA).

FATTORUSSO, 2019; NESI, 2020 e GRETA, 2018 evidenciaram que o TEA é um aglomerado complexo de transtornos do neurodesenvolvimento, caracterizado por interações sociais e comunicacionais prejudicadas, alterações motoras e cognitivas, juntamente com comportamentos restritivos e repetitivos, desregulação imunológica e problemas gastrointestinais. Vários fatores têm sido associados ao desenvolvimento de TEA, incluindo causas ambientais e genéticas, malformações durante o fechamento do tubo neural embrionário, exposição a vírus, sistema imunológico disfuncional e alergias.

GOMES, 2015; PORTOLESE, 2017 e DE LIMA REIS, 2019 comprovaram que a prevalência mundial do TEA é alta, estima-se que um a cada 88 nascidos vivos apresenta esse transtorno, e no Brasil, dados do ano de 2010 comprovaram cerca de 500 mil pessoas com autismo. Estudos epidemiológicos relataram que a incidência do TEA em crianças seja maior do que a incidência de outras doenças como Diabetes, Câncer, e Síndrome de Down combinadas. O Center of Disease Control and Prevention (CDC) estimou também em 2010 que o transtorno afeta mais frequentemente meninos do que meninas, na proporção de 4-5 meninos para 1 menina.

MARTINS, 2021 e BARRETO, 2022 observaram que através do eixo intestino-cérebro, e da influência microbiana na modulação de triptofanos, serotonina, quinurenina, e ácidos de cadeia curta, a disbiose intestinal pode estar associada à seletividade alimentar, sintoma muito comum no TEA, tornando-se um ciclo vicioso, onde a microbiota alterada desencadeia ou acentua os sintomas do autismo, e tais sintomas provocam alterações indesejadas na microbiota. Em razão dessa seletividade, e da deficiência em alguns aminoácidos, o autista não tem o poder de ofertar todos os nutrientes necessários ao seu desenvolvimento e manutenção da saúde, contribuindo para o surgimento sucessivo de outros distúrbios.

DE ANGELIS, 2015; MAGAGNIN, 2021 e MILANI, 2017 descrevem por meio da observação de maiores comorbidades gastrointestinais em portadores de TEA, que níveis mais elevados de endotoxinas e biomarcadores de estresse oxidativo em crianças autistas quando comparadas a crianças neurotípicas. Uma investigação da composição de amostras fecais permitiu caracterizar uma taxonomia bacteriana diferente, com presença aumentada de Bacteroidetes à custa de Firmicutes, e uma colonização alterada por Bifidobacter, gêneros Lactobacillus, Prevotella e Ruminococcus. Tal alteração pode transformar o equilíbrio de uma comunidade microbiana comensal para um ecossistema potencialmente patogênico e privado de atividade anti-inflamatória protetora, à medida que a abundância relativa de Bacteroidetes promove a produção de short-chain fatty acids (SCFA), do português: ácidos graxos de cadeia curta, ocasionando em efeitos deletérios para o eixo intestino cérebro.

GOMES, 2017; FAVERO, 2022 e MYRTHE, 2020 evidenciaram que a disbiose também induz o fenótipo do “intestino permeável”, ou seja, um intestino com aumento da permeabilidade da sua mucosa. Crianças com TEA têm níveis mais elevados de zonulina, uma proteína responsável pela modulação da permeabilidade intestinal, e sua concentração está intimamente ligada à gravidade dos sintomas. Nesse sentido, mediante ao advento fisiopatológico discutido, torna-se identificável a estreita relação da disbiose intestinal e o transtorno do espectro autista.

ZHANG, 2022 e QUINONES, 2018 chegaram a conclusão que o eixo intestino-cérebro está intimamente relacionado através de ligações neurais, endócrinas, imunes e humorais, sendo a microbiota intestinal responsável por influenciar essas complexas relações, estando envolvida na manutenção da barreira intestinal, barreira hemato-encefálica, expressão de neurotransmissores e seus receptores, e modulação da atividade cerebral e do comportamento.

TEIXEIRA, 2022 e NEUHANNIG, 2019 afirmam que a regulação do sistema imune no recém nascido é feita pelo trato gastrointestinal (TGI), portanto, qualquer alteração no TGI pode estar relacionada com alterações cerebrais, que ocorrem devido a liberação de metabólitos pela microbiota intestinal, que agem afetando a permeabilidade intestinal, a função imune e a sensibilidade da mucosa, além de interferir na liberação de hormônios e neurotransmissores gastrointestinais.

PORTOLLESE, 2017; PEREIRA 2021 e BARRETO et al., 2022 concordam que para pacientes com TEA é de grande relevância realizar um cuidado integral voltado para terapias nutricionais, em conjunto com a modulação intestinal, visando tratar a microbiota. Esse tratamento dietético pode ser feito através do uso de probióticos, acompanhado de um plano alimentar com baixo consumo de alimentos ultraprocessados. Associado ao cuidado voltado para o trato gastrointestinal, insere-se também outras atividades que contribuem para a melhoria dos sintomas e comportamentos expressos pelos portadores do TEA, como acompanhamento psicopedagógico e terapia ocupacional, garantindo uma melhor qualidade de vida para os mesmos.

5. CONCLUSÃO

Acerca da temática, é conclusivo que a disbiose intestinal, advinda de um desequilíbrio de bactérias intestinais, possui influência no desencadeamento e acentuação dos sintomas do transtorno do espectro autista, às custas do eixo microbiota-intestino-cérebro. Ao final da análise, concluiu-se que o desarranjo na modulação de triptofanos, prevalência de bactérias nocivas (Bacteroidetes) comparada com as benignas (Firmicutes), níveis elevados de endotoxinas, maior permeabilidade da mucosa intestinal, e prejuízo da ação de neurotransmissores -principalmente serotonina- contribuem para um sintoma comum e deletério, chamado de seletividade alimentar, que predispõe o autista a ter hábitos alimentares repetitivos, limitados ao consumo de apenas algumas classes de alimentos, corroborando para uma futura carência nutricional.

Em razão dos números crescentes de casos de crianças autistas, estudos demonstraram que o TEA não se trata apenas de um distúrbio exclusivamente neurológico, sofrendo um processo complexo de interferência significativa da mucosa intestinal, necessitando de maiores pesquisas para elucidar o assunto.

Por fim, sabe-se que estratégias de saúde voltadas para a manutenção da carência de nutrientes e prevenção de futuros agravos seriam de grande relevância para o desenvolvimento neuropsicomotor de crianças e melhora da qualidade de vida de jovens autistas. Estratégias essas que visam o recrutamento de uma equipe terapêutica focada em um acompanhamento multidisciplinar, composta por neuropediatras, fonoaudiólogos, psicopedagogos, nutricionistas e educadores físicos, em prol da evolução holística nos âmbitos sociais, nutricionais, e escolares. Dessa forma, conclui-se que há relação da disbiose intestinal com o transtorno do espectro autista.

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Camila Sanção de Macedo
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0343-3421
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Tereza Cristina Carvalho de Souza Garcês
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Ana Rachel Oliveira de Andrade
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