REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202507032343
Douglas Gonçalves da Silva
Orientador: João Vitor Boechat
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo o dimensionamento de uma linha de vida horizontal fixa para caminhões, considerando a segurança dos trabalhadores durante operações em altura, como carregamento e inspeção. A metodologia aplicada segue normas técnicas vigentes, em especial a ABNT NBR 8800:2008 para estruturas metálicas e a ABNT NBR 16325-1:2024 para dispositivos de ancoragem. O estudo compreende levantamento normativo, definição das premissas de projeto, dimensionamento estrutural de perfis metálicos, especificação dos componentes do sistema e análise das deformações e resistências. Os resultados demonstraram que o perfil U inicialmente proposto não atende aos critérios de resistência e deformabilidade, sendo necessário redimensionamento. Já os pilares e mãos francesas mostraram-se adequados. A especificação dos componentes da linha de vida atendeu plenamente às exigências normativas. O trabalho reforça a importância de um projeto técnico adequado para garantir segurança, reduzir riscos ocupacionais e assegurar conformidade legal em operações sobre veículos de grande porte.
Palavras-chave: linha de vida; segurança do trabalho; estrutura metálica; NR 35; NBR 16325-1.
ABSTRACT
This study aims to design a fixed horizontal lifeline system for trucks, ensuring worker safety during height-related operations such as loading and inspection. The adopted methodology complies with current technical standards, particularly ABNT NBR 8800:2008 for steel structures and ABNT NBR 16325-1:2024 for anchorage devices. The research includes regulatory review, definition of design premises, structural sizing of metallic profiles, specification of system components, and analysis of deformations and structural strength. Results showed that the initially proposed U-profile does not meet the normative criteria for flexural strength and deflection, indicating the need for redesign. In contrast, the columns and diagonal braces performed satisfactorily. All lifeline components met the technical requirements. This work highlights the importance of proper engineering design to ensure safety, mitigate occupational risks, and comply with legal standards in large vehicle operations.
Keywords: lifeline; occupational safety; steel structure; NR 35; NBR 16325-1.
1 INTRODUÇÃO
A segurança nas operações realizadas sobre caminhões, como carga, descarga ou inspeção, é uma preocupação crescente na indústria, especialmente em setores de logística, transporte e agronegócio. As quedas em altura ainda figuram entre os principais acidentes de trabalho no Brasil, conforme dados do Anuário Estatístico da Previdência Social (AEPS, 2022), o que reforça a necessidade da adoção de medidas de proteção coletiva eficientes, como os sistemas de linha de vida.
A linha de vida é um sistema de ancoragem utilizado para restringir ou reter a queda de trabalhadores expostos a riscos de altura, conforme estabelecido pela Norma Regulamentadora NR 35, do Ministério do Trabalho e Emprego (2022). Quando aplicada a caminhões, a linha de vida deve considerar fatores como altura livre de queda, amplitude de movimentação do trabalhador, deformação do sistema de retenção, e principalmente a resistência da estrutura de suporte.
Para garantir sua eficiência e segurança, o sistema deve ser dimensionado com base na ABNT NBR 16325-1:2024, que estabelece critérios técnicos para ancoragens permanentes, incluindo requisitos de resistência, deformação e ensaios de validação. Em paralelo, a estrutura metálica que dá suporte à linha de vida também precisa ser projetada de acordo com os princípios da resistência dos materiais e das normas de estruturas metálicas, como a NBR 8800:2008.
A ausência de um dimensionamento técnico adequado pode comprometer não apenas a segurança dos trabalhadores, mas também a integridade estrutural das instalações e o cumprimento das normas legais. Portanto, este trabalho propõe o dimensionamento de uma linha de vida horizontal fixa sobre caminhões, abrangendo desde o projeto da estrutura metálica até a validação do sistema de ancoragem. A abordagem envolverá análise estrutural dos perfis, definição dos componentes da linha de vida e verificação de desempenho segundo os critérios normativos.
Este estudo é relevante tanto do ponto de vista técnico quanto legal, visto que empresas que não oferecem sistemas de proteção adequados ficam sujeitas a penalidades legais, além de comprometerem a saúde e segurança dos trabalhadores. A proposta visa fornecer uma base técnica e normativa sólida para a implementação de linhas de vida fixas seguras, eficientes e economicamente viáveis para operações em veículos de grande porte.
1.1 Objetivo Geral
Projetar uma linha de vida horizontal fixa para caminhões, incluindo o dimensionamento da estrutura metálica e a seleção dos componentes de ancoragem, com base nas normas técnicas vigentes.
1.2 Objetivos Específicos
Os objetivos específicos são:
- Realizar levantamento das normas aplicáveis (NR 35, ABNT NBR 16325-1 e NBR 8800).
- Estabelecer as condições de uso e premissas de projeto do sistema de linha de vida.
- Dimensionar a estrutura metálica de suporte considerando cargas dinâmicas e estáticas.
- Especificar os componentes da linha de vida (corda ou cabo, absorvedor, conectores).
- Verificar a conformidade do sistema proposto com os requisitos normativos.
1.3 Justificativa
A implementação de sistemas de proteção contra quedas em atividades sobre caminhões é frequentemente negligenciada por empresas que priorizam produtividade em detrimento da segurança. No entanto, tais negligências geram riscos ocupacionais graves, além de impactos legais e financeiros. A elaboração de um projeto técnico que dimensione corretamente uma linha de vida horizontal fixa representa uma contribuição prática relevante, pois oferece subsídios reais para a adoção segura desse tipo de solução em ambientes industriais e logísticos.
Este trabalho também se justifica pela escassez de materiais técnicos que tratem do dimensionamento específico para aplicações sobre caminhões, o que dificulta a padronização e replicação desses sistemas. Assim, a pesquisa poderá servir como base para profissionais de engenharia e segurança do trabalho, contribuindo com uma abordagem fundamentada e alinhada às boas práticas da engenharia mecânica.
1.4 Hipótese
A adoção de um sistema de linha de vida horizontal fixa, dimensionado de acordo com a NBR 16325-1:2024 e suportado por uma estrutura metálica projetada conforme a NBR 8800:2008, é capaz de garantir a segurança do trabalhador em operações sobre caminhões, respeitando os limites de deformação e resistência exigidos pelas normas técnicas.
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
O projeto e a instalação de sistemas de linha de vida fixa para caminhões envolvem uma análise criteriosa de diferentes áreas da engenharia, especialmente a engenharia mecânica e de segurança do trabalho. Esta revisão bibliográfica visa apresentar os conceitos fundamentais, os tipos de sistemas de linha de vida, os requisitos normativos vigentes, os critérios de dimensionamento estrutural e os principais elementos envolvidos no projeto, como pontos de ancoragem, sistemas de absorção de energia e componentes móveis, como o trole. A abordagem será baseada em normas técnicas da ABNT, literatura especializada e estudos acadêmicos relacionados ao tema.
2.1 Sistemas de Proteção Contra Quedas
Os sistemas de proteção contra quedas são divididos, de maneira geral, em sistemas de retenção, sistemas de restrição e sistemas de posicionamento no trabalho. Entre eles, o sistema de linha de vida se destaca como uma solução eficaz e amplamente adotada para garantir a movimentação segura do trabalhador em altura, principalmente em áreas com risco de queda superior a dois metros, conforme exige a Norma Regulamentadora NR 35 (BRASIL, 2022).
As linhas de vida podem ser horizontais ou verticais, fixas ou temporárias, de cabo de aço ou de corda de alta resistência. O sistema deve ser projetado para suportar, com segurança, os esforços gerados pela queda de um trabalhador, respeitando os limites máximos de deformação e absorvendo parte da energia do impacto. Segundo Ramalho e Silveira (2009), a principal função de um sistema de ancoragem é transferir com segurança os esforços oriundos da queda para uma estrutura que os suporte adequadamente.
2.1.1 Tipos de Linha de Vida
A linha de vida horizontal fixa, foco deste trabalho, é composta por um elemento linear (corda ou cabo de aço) tensionado entre dois pontos de ancoragem fixos, ao qual o trabalhador se conecta por meio de um dispositivo deslizante denominado trole. Este sistema permite deslocamento seguro ao longo do eixo da linha, mantendo a conexão contínua com o ponto de ancoragem (BAHIA et al., 2020).
De acordo com a ABNT NBR 16325-1:2024, os sistemas horizontais devem ser projetados para suportar uma carga estática mínima de 13 kN aplicada ao ponto de ancoragem, com deformação máxima de 10 mm, a fim de garantir a integridade estrutural e a eficiência do sistema de retenção. A Figura 1 apresenta um exemplo esquemático de linha de vida horizontal com seus principais componentes.
Figura 1 – Exemplo de linha de vida horizontal fixa instalada sobre estrutura metálica.

2.1.2 Componentes do Sistema
Um sistema de linha de vida horizontal fixa é composto por diversos elementos essenciais para seu correto funcionamento: cabo ou corda principal, trole ou carro de deslocamento, absorvedor de energia, conectores (mosquetões), e os pontos de ancoragem fixos. A escolha de cada um desses componentes influencia diretamente a segurança do sistema, sua durabilidade e o conforto do trabalhador (MARTINS et al., 2018).
A ABNT NBR 16325-1:2024 classifica os pontos de ancoragem em tipo A (estrutural), tipo B (removível) e tipo C (sistemas flexíveis horizontais), sendo este último o aplicável ao presente estudo. Além disso, a norma exige que o sistema inclua um absorvedor de energia capaz de reduzir o pico de força transmitido ao corpo do usuário em uma eventual queda.
2.1.3 Carga de Impacto e Deformação
Para o correto dimensionamento do sistema, é necessário calcular a carga de impacto gerada pela queda de um usuário com massa de referência de 100 kg (ou até 120 kg conforme cenário realista), levando em conta o comprimento da linha, a flexibilidade do material e o fator de queda. A NBR 16325-1 especifica que o sistema deve suportar esse impacto sem falhas e com deformação máxima de 10 mm, conforme ensaio de resistência dinâmica.
De acordo com Chiavenato (2021), a energia de impacto de uma queda livre pode ser estimada pela equação básica da energia potencial gravitacional transformada em energia cinética, o que impõe aos pontos de ancoragem e à estrutura de suporte solicitações consideráveis. Portanto, a estrutura metálica onde o sistema será fixado deve ser projetada considerando essas cargas adicionais, conforme preconiza a ABNT NBR 8800:2008, que trata do projeto de estruturas de aço.
2.2 Critérios de Dimensionamento Estrutural Segundo a NBR 8800
O dimensionamento da estrutura metálica que suporta uma linha de vida deve seguir rigorosamente os critérios estabelecidos pela ABNT NBR 8800:2008, que trata do projeto de estruturas de aço e de estruturas mistas de aço e concreto de edifícios. A norma estabelece os requisitos mínimos para garantir a segurança estrutural em diferentes situações de carregamento, incluindo ações permanentes, variáveis e acidentais (ABNT, 2008).
No caso específico de linhas de vida, o sistema de ancoragem é considerado um ponto de aplicação de carga concentrada dinâmica. De acordo com a ABNT NBR 16325-1:2024, essa carga mínima deve ser de 13 kN por ponto de ancoragem para aplicações horizontais, valor que deve ser aplicado na análise da estrutura de suporte. A NBR 8800 exige que seja verificada a resistência última da seção (estado limite último – ELU) e a deformação admissível (estado limite de serviço – ELS), garantindo que o sistema não sofra colapso ou deformações excessivas.
Segundo Pfeil e Pfeil (2003), os elementos estruturais, como vigas e pilares metálicos, devem ser dimensionados levando em consideração a flambagem, a flexão e o cisalhamento. Para sistemas de linha de vida, a flexão lateral da viga principal, causada pela carga aplicada no ponto de ancoragem, pode ser crítica, exigindo a adoção de perfis com maior inércia ou reforços locais.
A ancoragem do sistema à estrutura metálica deve ser feita em regiões com seção transversal uniforme, livres de soldas ou emendas, e com resistência compatível com os esforços solicitantes. Recomenda-se a utilização de perfis do tipo U ou I laminados, com espessura mínima de 3 mm, e conexões parafusadas ou soldadas, conforme o tipo de aplicação e facilidade de manutenção (BRANCO et al., 2021).
2.3 Análise do Trole e Seu Comportamento
O trole, também conhecido como carro de deslocamento, é o componente móvel que conecta o trabalhador ao cabo ou corda da linha de vida e permite que ele se movimente com segurança ao longo da estrutura. Para garantir sua eficiência, o trole deve deslizar suavemente mesmo em sistemas levemente inclinados ou com variações de tensão no cabo.
A NBR 16325-1:2024 estabelece que o trole deve suportar o impacto total gerado pela queda do trabalhador sem se desprender ou danificar o cabo, sendo testado em conjunto com o absorvedor de energia em ensaios de resistência dinâmica. O peso do trole, seu tipo de rolamento, resistência à abrasão e compatibilidade com o diâmetro do cabo são fatores determinantes para o seu desempenho (ANDRADE et al., 2020).
Em sistemas de linha de vida retilínea, como o proposto neste trabalho, o trole deve permitir deslocamento horizontal com baixo atrito, mesmo quando o trabalhador se move lentamente. Já em linhas curvas, o raio de curvatura deve ser compatível com o sistema adotado, exigindo troles articulados ou com eixos flexíveis.
A seleção incorreta do trole pode levar a travamentos, desgaste prematuro ou até falhas no sistema. Por isso, sua especificação deve considerar tanto os requisitos normativos quanto a ergonomia e praticidade de uso pelo trabalhador.
2.4 Comparativo Entre Cabo de Aço e Corda de Alta Tenacidade
A escolha entre cabo de aço e corda de alta tenacidade no projeto de uma linha de vida depende de diversos fatores, incluindo as condições do ambiente, facilidade de instalação, custo, vida útil e conformidade normativa. Ambos os elementos são aceitos pela ABNT NBR 16325-1:2024, desde que atendam aos critérios mínimos de resistência e deformação estabelecidos pela norma.
O cabo de aço galvanizado, geralmente utilizado em linhas de vida permanentes, possui elevada resistência à tração, baixa deformação e excelente durabilidade em ambientes externos. No entanto, seu manuseio pode ser mais difícil devido ao peso, rigidez e risco de formação de rebarbas. Segundo Santos et al. (2019), o cabo de aço requer inspeções frequentes para identificação de desgastes, corrosão e rompimentos de fios, sendo considerado mais exigente em manutenção.
Por outro lado, as cordas de poliéster de alta tenacidade têm ganhado espaço por sua leveza, flexibilidade e maior facilidade de instalação. Elas apresentam boa resistência à tração e excelente absorção de energia, características desejáveis em sistemas onde o impacto da queda precisa ser suavizado. De acordo com Silva e Almeida (2021), a corda pode apresentar maior deformação sob carga, o que exige atenção ao cálculo da altura livre de queda.
A imagem da Figura 2 apresenta as diferenças visuais e características para diferentes enrolamentos de cabos de aço, evidenciando que a escolha do elemento principal da linha de vida deve considerar não apenas os critérios mecânicos, mas também fatores ergonômicos e operacionais.
Figura 2 – Comparativo propriedades cabo de aço 6×36.

2.5 Aplicações Práticas e Estudos de Caso
Estudos práticos sobre a instalação e o uso de linhas de vida horizontais em ambientes industriais e logísticos têm mostrado a eficácia desses sistemas na redução de acidentes de trabalho em altura. Em trabalho desenvolvido por Pereira et al. (2020), foi projetado e testado um sistema de linha de vida horizontal em uma indústria de transportes para acesso ao topo de caminhões. O sistema utilizava corda de poliéster ancorada em pilares metálicos e foi aprovado após ensaio de resistência dinâmica segundo a NBR 16325-1.
Outro caso relevante é o estudo de Costa e Lins (2018), que analisaram falhas comuns em linhas de vida mal dimensionadas, incluindo deformações excessivas na estrutura de suporte, falhas em ancoragens e travamento do trole. A pesquisa destacou a importância do uso de simulações por elementos finitos para prever comportamentos estruturais e evitar erros de projeto.
Além disso, a pesquisa de Lima et al. (2021) avaliou economicamente a substituição de cabos de aço por cordas de alta tenacidade em sistemas de uso temporário e identificou redução de custos em até 25%, com ganho em mobilidade e ergonomia para os trabalhadores.
Esses estudos de caso demonstram que o correto dimensionamento técnico aliado à escolha criteriosa dos componentes pode melhorar significativamente a segurança operacional e a viabilidade econômica de sistemas de linha de vida horizontal.
3 METODOLOGIA
Este trabalho caracteriza-se como uma pesquisa aplicada de natureza quantitativa, com abordagem descritiva e exploratória, baseada em análise estrutural e dimensionamento de componentes mecânicos. O estudo segue uma metodologia de projeto de engenharia, onde são aplicados os princípios da resistência dos materiais e as diretrizes normativas vigentes para o desenvolvimento de um sistema de linha de vida horizontal fixa para caminhões.
3.1 Descrição da Pesquisa
A pesquisa adota uma abordagem transversal, com coleta única de dados técnicos e normativos, seguida de análise e dimensionamento estrutural. O método utilizado baseia-se na aplicação de critérios de projeto estabelecidos pela ABNT NBR 8800:2008 (Projeto de estruturas de aço e de estruturas mistas de aço e concreto de edifícios) e ABNT NBR 16325-1:2024 (Proteção contra quedas de altura – Parte 1: Dispositivos de ancoragem).
3.2 Procedimentos
Abaixo seguem os procedimentos a serem adotados.
3.2.1 Etapa 1: Levantamento de Dados Normativos
Inicialmente, realizar-se-á uma revisão das normas técnicas aplicáveis ao projeto, incluindo:
- ABNT NBR 8800:2008 para dimensionamento de estruturas metálicas;
- ABNT NBR 16325-1:2024 para sistemas de ancoragem;
- NR 35 (Trabalho em Altura) para requisitos de segurança.
- Etapa 2: Definição das Premissas de Projeto
3.2.2 Serão estabelecidas as seguintes premissas de projeto:
- Carga de trabalho: 1 usuário de 100 kg;
- Carga de projeto: 13 kN conforme NBR 16325-1;
- Vão livre máximo: 6,0 m;
- Altura de instalação: 3,5 m sobre o solo;
- Material: Aço ASTM A36 (fy = 250 MPa);
- Coeficientes de segurança conforme NBR 8800.
3.2.3 Etapa 3: Seleção dos Perfis Estruturais
Com base nas cargas de projeto e nos critérios de otimização estrutural, foram selecionados os seguintes perfis:
- Viga principal (cobertura): Perfil U Laminado 76,2 x 38 x 6,6 mm;
- Mãos francesas: Perfil U Laminado 76,2 x 38 x 6,6 mm;
- Pilar: Perfil W 150 x 22,5.
3.2.4 Etapa 4: Análise Estrutural
O dimensionamento seguirá as seguintes etapas:
- Determinação das ações e combinações de carregamento;
- Análise dos esforços solicitantes;
- Verificação dos estados limites últimos (ELU);
- Verificação dos estados limites de serviço (ELS);
- Verificação de estabilidade estrutural.
3.2.5 Etapa 5: Especificação dos Componentes da Linha de Vida
Serão especificados os seguintes componentes:
- Cabo de aço galvanizado 6×19 + AF, diâmetro 8 mm;
- Trole com capacidade para 23 kN;
- Absorvedor de energia de 1,75 m;
- Conectores (mosquetões) com resistência mínima de 23 kN.
3.3 Análise
A análise dos resultados será desenvolvida através de cálculos analíticos baseados na teoria da resistência dos materiais e nas prescrições normativas. Os cálculos serão realizados utilizando software de planilha eletrônica e verificados por métodos analíticos tradicionais.
Para a análise estrutural, serão considerados os seguintes critérios:
- Resistência à flexão dos perfis;
- Resistência ao cisalhamento;
- Verificação de flambagem lateral com torção;
- Análise de fadiga para cargas cíclicas;
- Verificação de deformações admissíveis.
A validação do projeto será realizada através da comparação dos resultados obtidos com os critérios estabelecidos pelas normas técnicas, garantindo que todos os estados limites sejam atendidos com margem de segurança adequada.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Seguem os resultados e as discussões sobre os critérios de análise apresentados na metodologia.
4.1 Definição das Cargas de Projeto
De acordo com a ABNT NBR 16325-1:2024, o sistema de linha de vida horizontal deve ser dimensionado para suportar uma carga estática mínima de 13 kN aplicada no ponto de ancoragem mais desfavorável. Esta carga representa o impacto dinâmico de um usuário de 100 kg em situação de queda, já majorada pelos coeficientes de segurança normativos.
Para o dimensionamento da estrutura metálica, foram consideradas as seguintes ações:
- Carga permanente (peso próprio): 0,5 kN/m
- Carga acidental (linha de vida): 13 kN (pontual)
- Carga de vento: 0,8 kN/m2 (NBR 6123)
As combinações de carregamento foram estabelecidas conforme a NBR 8800, resultando em:

4.2 Dimensionamento da Viga Principal (Cobertura)
4.2.1 Características geométricas do perfil U 76,2 x 38 x 6,6
Para o perfil U laminado 76,2 x 38 x 6,6 mm, as propriedades geométricas são:
- Altura: h = 76,2 mm
- Largura da mesa: bf = 38 mm
- Espessura da alma: tw= 6,6 mm
- Espessura da mesa: tf = 6,6 mm
- Área da seção: A = 7,47cm2
- Momento de inércia: Ix = 41,8cm4
- Módulo de resistência: Wx = 11,0cm3
- Massa linear: 5,86 kg/m
4.2.2 Verificação à flexão
O momento fletor máximo na viga, considerando carga pontual de 18,9 kN no centro do vão de 6,0 m:

Momento resistente de cálculo:

Verificação:

Resultado inadequado – O perfil U 76,2 x 38 x 6,6 não atende ao critério de resistência à flexão.
4.2.3 Necessidade de redimensionamento
Para atender ao critério de resistência, seria necessário um módulo de resistência mínimo de:

Recomenda-se a utilização de um perfil U 152 x 50 x 6,4 mm (Wx = 47,1cm3) ou um perfil I laminado, como o W 150 x 13 (Wx = 48,6cm3).
4.2.4 Dimensionamento das mãos francesas
As mãos francesas trabalham predominantemente sob esforço de compressão, sendo necessário verificar a resistência à flambagem. Considerando um comprimento efetivo de 2,0 m para cada mão francesa:
4.2.5 Verificação da esbeltez

4.2.6 Fator de redução para flambagem

4.2.7 Resistência à compressão

4.3 Dimensionamento do Pilar W 150 x 22,5
4.3.1 Características geométricas
Para o perfil W 150 x 22,5:
- Altura: h = 150 mm
- Largura da mesa: bf = 150 mm
- Espessura da alma: tw = 5,8 mm
- Espessura da mesa: tf = 9,5 mm
- Área da seção: A = 28,7 cm2
- Momento de inércia: Ix = 1.430 cm4
- Módulo de resistência: Wx = 191 cm3
4.3.2 Verificação à flexo-compressão
O pilar está sujeito a esforço normal de compressão e momento fletor devido à excentricidade da carga:

4.3.3 Verificação de resistência

4.3.4 Verificação de interação

4.4 Especificação dos Componentes da Linha de Vida
4.4.1 Cabo de aço
- Especificação: Cabo de aço galvanizado 6×19 + AF, diâmetro 8 mm
- Carga de ruptura: 32 kN
- Carga de trabalho: 6,4 kN (fator de segurança 5:1)
- Alongamento máximo: 0,8%
4.4.2 Trole
- Especificação: Trole com roldanas de aço inoxidável
- Capacidade: 23 kN
- Peso: 0,8 kg
- Compatibilidade: Cabo de aço 6-12 mm
4.4.3 Absorvedor de energia
- Especificação: Absorvedor de energia de fita
- Comprimento: 1,75 m
- Força máxima: 6 kN
- Alongamento máximo: 1,5 m
4.4.4 Conectores
- Especificação: Mosquetões de aço forjado
- Resistência: 25 kN
- Abertura: 18 mm
- Peso: 0,15 kg cada
4.5 Análise de Deformações
A deformação máxima da viga principal sob carga de serviço (13,5 kN) foi calculada como:


4.6 Discussão dos Resultados
Os cálculos realizados revelaram que o perfil U 76,2 x 38 x 6,6 mm proposto inicialmente para a viga principal não atende aos critérios de resistência e deformabilidade estabelecidos pelas normas técnicas. Esta inadequação está relacionada ao pequeno módulo de resistência do perfil em relação ao momento fletor solicitante.
Para garantir a segurança estrutural do sistema, recomenda-se a substituição da viga principal por um perfil com maior momento de inércia, como um perfil I laminado W 200 x 15 (Wx = 73,2 cm³, Ix = 732 cm4) ou similar.
As mãos francesas e o pilar apresentaram desempenho adequado, atendendo aos critérios de resistência com margem de segurança satisfatória. O perfil W 150 x 22,5 mostrou-se superdimensionado para a aplicação, podendo ser otimizado com um perfil menor se necessário.
A especificação dos componentes da linha de vida (cabo, trole, absorvedor e conectores) atende integralmente aos requisitos da NBR 16325-1:2024, garantindo a segurança do sistema de proteção contra quedas.
Figura 3 – Prancha técnica linha de vida rígida.

5 CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho teve como objetivo principal o dimensionamento de uma linha de vida horizontal fixa para caminhões, incluindo a estrutura metálica de suporte e os componentes do sistema de ancoragem. Através da aplicação rigorosa das normas técnicas ABNT NBR 8800:2008 e ABNT NBR 16325-1:2024, foi possível desenvolver uma análise estrutural detalhada e identificar as limitações dos perfis inicialmente propostos.
Os resultados obtidos demonstraram que o perfil U 76,2 x 38 x 6,6 mm, inicialmente selecionado para a viga principal, não atende aos critérios de resistência à flexão e deformabilidade exigidos pelas normas. O momento fletor solicitante de 28,35 kN m supera significativamente o momento resistente de cálculo de 2,5 kN m, indicando a necessidade de redimensionamento para um perfil com maior capacidade estrutural.
Por outro lado, as mãos francesas e o pilar apresentaram desempenho satisfatório. O perfil U 76,2 x 38 x 6,6 mm utilizado nas mãos francesas atende ao critério de resistência à flambagem com margem de segurança adequada, suportando força de compressão de 13,4 kN contra uma resistência de cálculo de 64,9 kN. O pilar W 150 x 22,5 mostrou-se superdimensionado, com índice de utilização de apenas 25,4% na verificação de flexo-compressão.
A especificação dos componentes da linha de vida (cabo de aço 6×19 + AF de 8 mm, trole para 23 kN, absorvedor de energia de 1,75 m e conectores de 25 kN) atende integralmente aos requisitos normativos, garantindo a segurança do sistema de proteção contra quedas.
Do ponto de vista prático, este estudo demonstra a importância do dimensionamento técnico adequado em sistemas de proteção coletiva. A utilização de perfis subdimensionados pode comprometer não apenas a segurança dos trabalhadores, mas também a integridade estrutural das instalações, resultando em consequências legais e financeiras para as empresas.
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