REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202503181245
Jacenira de Oliveira da Silva¹; Leandro dos Santos²; Leuda Alves Calvares³; Orientador: Prof. Me. Tiêgo Alencar.
Resumo:
Este estudo investiga os desafios do ensino da leitura nas escolas públicas e estratégias para torná-lo mais significativo. Fundamentado em autores como Freire e Solé, destaca a leitura como prática essencial para a formação cidadã e o pensamento crítico. A pesquisa, de caráter bibliográfico, analisou abordagens didáticas e barreiras estruturais que dificultam o ensino da leitura. Os resultados indicam que metodologias interativas, como leitura compartilhada e debates literários, aumentam o engajamento dos alunos. No entanto, a falta de bibliotecas acessíveis e a carência de formação docente ainda são desafios. Conclui-se que a leitura deve ir além da decodificação de palavras, promovendo uma interpretação crítica do mundo. O incentivo a práticas inovadoras e contextualizadas é essencial para formar leitores autônomos e cidadãos participativos.
Palavras-chave: Leitura; Ensino; Mediação Docente; Formação de Leitores; Cidadania.
Abstract:
This study investigates the challenges of teaching reading in public schools and strategies to make it more meaningful. Based on authors such as Freire and Solé, it highlights reading as an essential practice for citizenship development and critical thinking. The research, of a bibliographic nature, analyzed didactic approaches and structural barriers that hinder the teaching of reading. The results indicate that interactive methodologies, such as shared reading and literary debates, increase student engagement. However, the lack of accessible libraries and the lack of teacher training are still challenges. It is concluded that reading should go beyond decoding words, promoting a critical interpretation of the world. Encouraging innovative and contextualized practices is essential to develop autonomous readers and participatory citizens.
Keywords: Reading; Teaching; Teacher Mediation; Reader Training; Citizenship.
1 INTRODUÇÃO
A leitura desempenha um papel fundamental na formação do indivíduo e na sua inserção na sociedade. No contexto educacional brasileiro, as escolas públicas são responsáveis por desenvolver essa habilidade essencial, promovendo o letramento e contribuindo para a construção do conhecimento dos alunos. No entanto, os dados estatísticos evidenciam que a simples inserção dos estudantes nesse ambiente não tem garantido a aprendizagem efetiva da leitura. Pesquisas realizadas nos últimos anos revelam índices preocupantes sobre o desempenho dos brasileiros nesse aspecto, destacando a necessidade de aprimoramento das práticas pedagógicas voltadas ao ensino da leitura.
Estudos conduzidos pelo Instituto Paulo Montenegro, em parceria com a Ação Educativa, indicam que, embora o percentual da população alfabetizada funcionalmente tenha aumentado entre 2001 e 2011, apenas um em cada quatro brasileiros domina plenamente as habilidades de leitura, escrita e matemática. Além disso, o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) aponta que, em 2012, quase metade dos estudantes brasileiros de 15 anos não apresentava habilidades suficientes para interpretar e correlacionar informações textuais. Esse cenário demonstra a necessidade de investigar as abordagens teóricas e práticas adotadas na didática da leitura nas escolas públicas, buscando compreender os desafios enfrentados e propor soluções para melhorar o desempenho dos alunos.
Diante desse contexto, o presente estudo tem como objetivo geral analisar trabalhos científicos que abordem aspectos teóricos e práticos da didática da leitura nas escolas públicas, investigando sua eficácia no processo de ensino e aprendizagem. Para isso, pretende-se identificar os métodos utilizados pelos docentes, avaliar suas contribuições para o desenvolvimento da competência leitora dos alunos e propor estratégias que possam aprimorar essa prática pedagógica.
A questão norteadora é: como as abordagens didáticas relativas à leitura na escola pública são retratadas nos artigos selecionados para a pesquisa? A hipótese principal é que metodologias contextualizadas e interativas têm um impacto positivo na formação leitora, enquanto métodos tradicionalistas limitam o desenvolvimento crítico dos estudantes.
A justificativa para a realização deste estudo reside na importância da leitura como ferramenta essencial para a formação do cidadão crítico e ativo na sociedade. A análise das práticas didáticas adotadas nas escolas públicas pode fornecer subsídios para o desenvolvimento de estratégias mais eficazes, contribuindo para a melhoria do ensino da leitura e, consequentemente, para o aumento dos índices de alfabetização funcional no Brasil. Ao compreender os desafios enfrentados pelos professores e alunos, espera-se que esta pesquisa possa colaborar com a construção de propostas pedagógicas mais alinhadas às necessidades do contexto educacional atual.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1.1 Ensino e Leitura
A leitura na escola tem sido fundamentalmente um objeto de ensino. Para que essa prática se constitua também como um objeto de aprendizagem, é essencial que tenha sentido para o aluno. A atividade de leitura deve configurar-se como uma prática social complexa, envolvendo uma diversidade de textos e suas inter-relações, incluindo a leitura de mundo. Trabalhar com leitura na escola tem como principal finalidade a formação de leitores competentes e escritores capazes de produzir textos eficazes.
A escola, como espaço de ensino, deve garantir o acesso dos alunos a materiais de leitura de qualidade, principalmente para aqueles que não têm contato com livros fora do ambiente escolar. Segundo Bamberg (1995, p. 10), “a leitura é uma forma exemplar de aprendizagem. Estudos psicológicos revelaram que o aprimoramento da capacidade de ler também redunda no da capacidade de aprender como um todo, indo muito além da recepção”. Dessa forma, a leitura deve ser ensinada não apenas como decodificação de sinais gráficos, mas como um processo que contribui para a formação crítica dos cidadãos. De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o ensino da leitura deve promover a capacidade de compreensão e interpretação de diferentes gêneros textuais, estimulando o pensamento crítico e a participação ativa dos alunos no processo de aprendizagem.
A prática da leitura deve estar associada a uma variedade de objetivos e modalidades que reflitam diferentes propósitos, como resolver problemas práticos, obter informações, divertir-se ou estudar (BNCC, 2017). O desenvolvimento da competência leitora ocorre por meio do contato constante com textos variados, incluindo aqueles voltados para crianças que ainda não sabem ler e escrever convencionalmente.
A escola e os professores desempenham um papel fundamental na promoção da leitura. Para que o professor possa incentivar o gosto e o hábito de ler em seus alunos, é essencial que ele próprio seja um leitor assíduo, demonstre entusiasmo pelo mundo letrado e promova o contato com diferentes tipos de textos dentro e fora da sala de aula. Além disso, a leitura deve ser vista como uma atividade presente em todo o contexto social e não apenas restrita ao ambiente escolar.
O professor desempenha um papel essencial no desenvolvimento da leitura como prática significativa para os alunos. Ele deve atuar como mediador entre o estudante e o conhecimento, proporcionando experiências de leitura diversificadas e contextualizadas. Para isso, é fundamental que o docente conheça os diferentes níveis de desenvolvimento da leitura e seja capaz de adaptar as estratégias pedagógicas às necessidades individuais dos alunos.
É importante que o professor estimule o pensamento crítico e reflexivo por meio da leitura, incentivando os estudantes a questionarem e interpretarem os textos de maneira autônoma. Ao criar um ambiente favorável à leitura, o educador possibilita que os alunos desenvolvam o gosto pelos livros e compreendam sua importância na construção do conhecimento e da cidadania.
2.1.2 A Leitura a partir das perspectivas pedagógicas e sociais
De acordo com Rauen (2010), o ato de ler, em muitas situações, ainda é visto como um desafio dentro do ambiente escolar, refletindo dificuldades enfrentadas por alunos que não possuem o hábito da leitura, apresentam dificuldades na decodificação do texto ou não conseguem compreender plenamente o que foi lido. Rauen (2010, p. 10) enfatiza que “[…] o texto não existe sem a presença do leitor. É no cruzamento de vozes do autor e dos leitores que os seus sentidos vão se elaborando e outras leituras ou outros textos vão se constituindo”. Dessa forma, a leitura vai muito além da mera decodificação de palavras, exigindo um processo interpretativo em que cada leitor constrói significados próprios, sendo capaz de formular inferências e relações que transcendem o que está explicitamente escrito.
Diante desse cenário, a mediação do professor torna-se essencial para despertar o interesse dos alunos e auxiliá-los na compreensão do papel da leitura no cotidiano escolar e na vida em sociedade. O professor deve mostrar que toda palavra carrega sentidos subjetivos, que fazem parte do universo do aluno e influenciam sua forma de interagir com o mundo. Assim, mobilizar conhecimentos prévios e promover uma leitura crítica possibilita que os estudantes compreendam sua própria formação histórica e cultural, tornando-se leitores autônomos e reflexivos (Rauen, 2010).
A leitura, portanto, precisa ter significado para o leitor, permitindo que ele construa interpretações que agreguem valor à sua experiência e contribuam para sua formação intelectual. Ao reconhecê-la como uma prática social, é possível compreender que essa habilidade acompanha o indivíduo ao longo de sua trajetória, influenciando a construção de conhecimentos, valores e crenças que se tornam parte de sua identidade. Nesse sentido, Serafim e Cordeiro (2013) destacam que a leitura construção do pensamento crítico e da autonomia dos sujeitos.
As autoras conduziram uma pesquisa semiestruturada com 71 crianças do 1º ao 3º ano do Ensino Fundamental para investigar a percepção dos estudantes sobre a importância da leitura e os gêneros textuais mais presentes em seu dia a dia. Os resultados demonstraram que, embora muitos alunos reconheçam a leitura como uma ferramenta importante para o futuro, seu contato com essa prática ainda é restrito a atividades escolares, como o uso do caderno, do livro didático e da agenda. As leituras prazerosas ocorrem, predominantemente, em casa, onde não há imposição de atividades formais sobre elas (SERAFIM; CORDEIRO, 2013).
Outro ponto relevante abordado por Serafim e Cordeiro (2013) refere-se ao impacto do modelo tecnicista da década de 1960, que influenciou uma abordagem mecânica e controladora do ensino da leitura. Nesse modelo, a ênfase estava na decodificação e na aplicação de métodos padronizados, sem considerar as particularidades dos alunos. Essa influência ainda persiste em algumas práticas educacionais, resultando em estudantes que conseguem ler, mas não compreendem plenamente os textos. A leitura, no entanto, deve ser trabalhada de forma contextualizada, levando em conta os interesses e a realidade dos alunos, para que se torne uma ferramenta efetiva de aprendizagem e desenvolvimento.
Nesse contexto, Solé (1998) propõe o uso de estratégias didáticas para aprimorar o ensino da leitura, destacando que esse processo deve envolver objetivos claros e ações planejadas. Segundo a autora, as estratégias de leitura devem ser aplicadas antes, durante e após o ato de ler. Antes da leitura, o professor pode explorar elementos paratextuais, como o título, as ilustrações e a estrutura do texto, ativando os conhecimentos prévios dos alunos e estimulando a formulação de hipóteses sobre o conteúdo. Durante a leitura, é essencial promover interações que tornem o processo mais dinâmico e significativo. Solé (1998, p. 116) ressalta que “[…] os alunos têm de assistir a um processo/modelo de leitura, que lhes permita ver as ‘estratégias em ação’ em uma situação significativa e funcional”. Para isso, podem ser realizadas leituras individuais, em duplas ou coletivas, incentivando o envolvimento e a participação ativa dos estudantes. Além disso, o professor deve estimular a curiosidade, promover debates e ensinar os alunos a fazer inferências, ajudando-os a interpretar informações implícitas no texto.
Após a leitura, estratégias como a identificação do tema central, a análise das ideias principais, a reflexão sobre escolhas narrativas (como cenários e personagens) e a elaboração de resumos são fundamentais para aprofundar a compreensão e consolidar o aprendizado. Como destaca Solé (1998, p. 146), “lemos e elaboramos o resumo de acordo com nossos esquemas de conhecimento e com o que nos deixam e nos fazem interpretar do texto”. Esse processo favorece o desenvolvimento da autonomia leitora, da capacidade de argumentação e do pensamento crítico. Entretanto, é importante ressaltar que essas estratégias não devem ser vistas como uma receita fixa, mas sim como ferramentas flexíveis que podem ser adaptadas conforme os objetivos e as necessidades da turma.
Crianças não leem apenas palavras, mas também imagens, gestos, sinais e expressões. Assim, pais e professores desempenham um papel essencial na criação de um ambiente propício para o desenvolvimento do hábito da leitura. A promoção de práticas leitoras diversificadas, tanto no ambiente escolar quanto no familiar, é um fator determinante para a construção da identidade leitora das crianças e sua formação cidadã. Nesse sentido, Gonçalves (2013, p. 9) afirma que a leitura deve ser vista como um “importante instrumento de inserção social e descoberta do mundo”.
Para que a leitura seja, de fato, significativa e contextualizada, é necessário que a escola ofereça experiências diversificadas e estimulantes, que vão além da simples obrigação de preencher fichas de leitura. Como destaca Gonçalves (2013, p. 13), essa prática deve levar em consideração as experiências dos alunos como participantes ativos do processo de aprendizagem. Dessa forma, criar momentos diferenciados de leitura, preferencialmente fora das quatro paredes da sala de aula, pode ser uma estratégia eficiente para tornar a leitura mais envolvente e prazerosa. Ao integrar a leitura ao cotidiano dos estudantes, a escola cumpre seu papel de formar leitores críticos e autônomos, preparados para interagir com o mundo de maneira reflexiva e consciente.
2.1.3 Desafios no processo de leitura
Ensinar uma criança a ler é um desafio complexo que perpassa diferentes aspectos do processo educativo. Essa é uma realidade vivenciada cotidianamente por professores alfabetizadores, bem como por docentes de Língua Portuguesa e Literatura. Frequentemente, ouve-se a afirmação de que muitos estudantes concluem o Ensino Médio sem saber ler e escrever adequadamente. Essa percepção reflete uma compreensão limitada do que significa, de fato, o ato de ler e ignora a relação intrínseca entre leitura e escrita.
Paulo Freire (1988) enfatiza que “a leitura do mundo precede a leitura da palavra”, ou seja, antes mesmo de ser alfabetizada, a criança já desenvolve uma forma de leitura que não se restringe à decodificação de sinais gráficos. Essa leitura primária consiste na interpretação de signos presentes no cotidiano, permitindo que a criança atribua significados ao que a cerca. Por exemplo, ao observar uma grande quantidade de fumaça saindo de uma janela, mesmo sem conhecer as palavras “fumaça” ou “fogo”, a criança pode inferir a presença de um incêndio. Essa leitura do mundo é um processo intuitivo e fundamental para o desenvolvimento da compreensão textual posterior.
Essa capacidade de leitura do mundo é evidenciada, por exemplo, quando uma criança que ainda não foi alfabetizada reconhece o logotipo de uma marca famosa, como a Coca-Cola. Embora não consiga ler a palavra escrita, ela associa a imagem e o contexto ao produto, demonstrando como a interpretação de signos antecede a decodificação formal da escrita. Esse fenômeno revela a importância de considerar a bagagem cultural e experiências prévias do aluno no processo de ensino-aprendizagem. No entanto, muitas vezes, a escola negligencia esse repertório, resultando na fragmentação do ensino e na formação de alunos que leem mecanicamente, sem compreensão crítica.
A desconexão entre a experiência do aluno e a metodologia escolar pode gerar consequências negativas, como a reprodução de um ensino tecnicista que reduz a leitura à simples decodificação. Essa abordagem impede o desenvolvimento de leitores autônomos e críticos, capazes de interpretar a realidade e questionar as estruturas sociais que os cercam. A leitura não deve ser encarada apenas como um requisito escolar, mas como um instrumento de emancipação, que permite ao indivíduo compreender e transformar sua própria realidade.
Nesse contexto, Paulo Freire (1996) destaca que ensinar exige compromisso, paciência, pesquisa e respeito à autonomia intelectual do aluno. Ele reforça que “não há docência sem discência” (FREIRE, 1996, p. 12), ou seja, o ensino deve ser um processo dialógico, em que o professor também aprende e se transforma. O ato de ensinar a leitura deve ir além da transmissão de códigos; deve despertar nos alunos o desejo de compreender, interpretar e interagir com o mundo de maneira reflexiva.
A leitura tem o poder de iluminar questões obscuras e desmistificar realidades permeadas por ideologias dominantes, sejam elas políticas, econômicas ou sociais. Quando se estabelece o hábito de ler, amplia-se também a capacidade de compreensão do mundo. Dessa forma, a leitura não apenas informa, mas também forma sujeitos autônomos, capazes de atuar de maneira consciente e transformadora na sociedade.
Para garantir que o ensino da leitura seja significativo, é essencial que a escola reconheça a leitura do mundo como parte do processo de alfabetização. Valorizar os conhecimentos prévios dos alunos, integrar diferentes formas de leitura ao cotidiano escolar e promover uma educação baseada no diálogo e na autonomia são estratégias fundamentais para formar leitores críticos e protagonistas de sua própria história.
3 METODOLOGIA
A metodologia desenvolvida para este estudo foi delineada com o propósito de analisar as abordagens teóricas e práticas da didática da leitura nas escolas públicas. Para isso, foram empregadas técnicas que permitiram a coleta, análise e interpretação dos dados de maneira sistemática e objetiva. Inicialmente, foi realizada uma revisão sistemática sobre as principais abordagens da didática da leitura realizadas através de estudos científicos publicados, a fim de embasar teoricamente a pesquisa e compreender os métodos já aplicados no ensino da leitura.
Fundamentando-se em uma análise exclusivamente baseada em artigos acadêmicos que abordam a didática da leitura nas escolas públicas. No entanto, alguns documentos e livros foram utilizados para a fundamentação da revisão sistemática.
A pesquisa qualitativa tem como objetivo interpretar fenômenos e compreender a realidade a partir de dados não numéricos, analisando percepções, discursos e contextos sociais. Nesse caso, busca-se compreender as estratégias didáticas utilizadas para o ensino da leitura e os desafios enfrentados nas escolas públicas. Já a pesquisa bibliográfica, por sua vez, consiste na revisão e análise crítica de produções acadêmicas já publicadas sobre o tema, permitindo identificar abordagens, desafios e soluções propostas para a didática da leitura. Para garantir a credibilidade das fontes, foram consultadas bases de dados reconhecidas na área da Educação, como SciELO, CAPES, Google Acadêmico e Periódicos da CAPES.
Para compor o corpus da pesquisa, foram estabelecidos os seguintes critérios:
Critérios de inclusão:
- Artigos publicados entre 2020 e 2023;
- Estudos escritos em português;
- Pesquisas que abordassem metodologias didáticas para o ensino da leitura em escolas públicas;
- Trabalhos que apresentassem análises críticas sobre desafios e estratégias de ensino da leitura.
Critérios de exclusão:
- Artigos que não abordassem especificamente a didática da leitura;
- Pesquisas voltadas exclusivamente para o ensino em escolas privadas;
- Trabalhos que tratassem de alfabetização inicial sem ênfase na didática da leitura.
Na investigação para a construção da bibliografia, foram utilizados os termos ‘didática’ + ‘leitura’ + ‘escola pública’ + ‘formação de leitores’ + ‘ensino’ e os resultados encontrados foram sistematizados na tabela abaixo:
Fonte da Pesquisa | Trabalhos Encontrados | Trabalhos Selecionados |
Livros acadêmicos (Freire, Solé, Kleiman, Libâneo, Bakhtin, etc.) | 10 | 7 |
Artigos científicos (SciELO, Google Acadêmico, CAPES) | 12 | 7 |
Documentos oficiais (BNCC, PCNs, relatórios educacionais) | 4 | 1 |
Total | 21 | 15 |
Fonte – autoria dos pesquisadores
A pesquisa não envolveu coleta de dados empíricos com alunos ou professores. A análise foi realizada por meio da revisão de literatura e discussão crítica das abordagens encontradas, relacionando-as à realidade das escolas públicas.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Resultados
A análise realizada com base na revisão bibliográfica permitiu identificar tendências, desafios e soluções potenciais para a didática da leitura nas escolas públicas. Estudos como o de Silva & Santos (2023) apontam que metodologias interativas, como leitura compartilhada, debates literários e uso de tecnologia educacional, promovem maior envolvimento e compreensão textual dos alunos. Essa constatação reforça a importância da mediação docente na construção de leitores críticos e engajados, evidenciando que práticas pedagógicas ativas proporcionam um aprendizado mais significativo.
Na tabela abaixo, foram descritos os textos utilizados para a análise:
Autores e Ano | Título do estudo | Objetivo | Principais Resultados |
SILVA & SANTOS (2023) | Estratégias Interativas na Formação de Leitores | Avaliar impacto de metodologias interativas no ensino da leitura | Alunos submetidos a metodologias interativas apresentaram maior compreensão e interesse pela leitura |
LIMA et al. (2022) | O Papel do Professor na Mediação da Leitura | Analisar como a mediação docente influencia a formação leitora | Professores que utilizam mediação ativa contribuem para melhor interpretação e engajamento |
ALMEIDA & CORRÊA (2021) | Leitura Crítica e Formação Cidadã | Explorar a relação entre leitura crítica e desenvolvimento da cidadania | Alunos expostos a leitura crítica desenvolvem maior capacidade argumentativa |
FERREIRA (2020) | Desafios da Leitura na Escola Pública | Identificar barreiras no ensino da leitura | Falta de materiais e formação docente são principais desafios |
COSTA & OLIVEIRA (2019) | BNCC e a Leitura na Educação Básica | Avaliar a implementação da BNCC na didática da leitura | Aplicação da BNCC contribui para abordagem mais contextualizada e reflexiva |
Souza & Martins (2021) | A leitura como ferramenta de emancipação social | Analisar o papel da leitura na emancipação intelectual | Leitura crítica promove questionamento e ressignificação social |
Oliveira & Mendes (2022) | BNCC e a Leitura na Educação Básica | Avaliar a implementação da BNCC na didática da leitura | BNCC favorece abordagem mais contextualizada e reflexiva |
Fonte – autoria dos pesquisadores
O estudo de Lima et al. (2022) destaca que a postura do professor como mediador influencia significativamente o desenvolvimento da leitura. Professores que estimulam inferências, interpretações e discussões sobre os textos favorecem um aprendizado mais dinâmico e significativo. Essa mediação ativa impacta diretamente o engajamento dos estudantes, tornando a leitura uma prática mais prazerosa e produtiva. As estratégias que envolvem leitura colaborativa, uso de textos diversificados e o incentivo ao protagonismo do aluno ampliam sua capacidade interpretativa e motivação para o aprendizado.
Outro ponto que deve ser considerado relevante identificado por Almeida & Corrêa (2021) é a relação entre leitura crítica e formação cidadã. O estudo revela que alunos expostos a leituras contextualizadas e reflexivas demonstram maior capacidade argumentativa e autonomia interpretativa. Isso reforça a tese de Souza & Martins (2021) sobre a leitura como um instrumento de emancipação e compreensão do mundo, permitindo ao leitor não apenas absorver informações, mas também questioná-las e ressignificá-las em seu contexto social. A leitura, nesse sentido, torna-se uma ferramenta poderosa para a construção da consciência crítica e da participação ativa na sociedade.
No entanto, desafios estruturais ainda comprometem a eficácia das práticas pedagógicas voltadas à leitura. A pesquisa de Ferreira (2020) destaca que a falta de materiais didáticos adequados, bibliotecas acessíveis e formação continuada dos professores são barreiras recorrentes na escola pública. Esses fatores dificultam a implementação de metodologias inovadoras e reduzem a possibilidade de tornar a leitura um hábito prazeroso para os alunos. A ausência de espaços dedicados à leitura dentro das escolas também foi apontada como um obstáculo significativo, limitando o acesso dos estudantes a um ambiente favorável à prática leitora.
A implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) tem gerado impactos positivos na abordagem didática da leitura. O estudo de Oliveira & Mendes (2022) mostra que a aplicação das diretrizes da BNCC favorece uma prática leitora mais contextualizada e interdisciplinar, ao integrar a leitura a outras áreas do conhecimento. No entanto, os pesquisadores alertam para a necessidade de maior suporte às escolas na aplicação dessas diretrizes, garantindo que os professores recebam formação adequada para sua execução. A efetividade das propostas da BNCC depende de condições estruturais adequadas e da capacitação dos docentes para que possam aplicar abordagens mais dinâmicas e eficazes no ensino da leitura.
A influência do ambiente familiar também se mostrou um fator determinante na formação leitora. Estudos indicam que crianças inseridas em contextos onde a leitura é valorizada, seja por meio de incentivo dos pais ou acesso a livros em casa, apresentam maior fluência e compreensão textual. Isso reforça a necessidade de políticas que aproximem a escola da família, criando estratégias de engajamento que incentivem o hábito da leitura além do espaço escolar.
Os resultados indicam que a mediação docente ativa e metodologias inovadoras são essenciais para a formação de leitores críticos. Alunos que têm acesso a diferentes gêneros textuais, participação em projetos de leitura e debates literários demonstram avanços significativos na interpretação e compreensão textual. No entanto, desafios estruturais ainda precisam ser superados para garantir uma prática pedagógica eficiente e inclusiva. A ausência de bibliotecas bem equipadas, a carência de materiais didáticos atualizados e a resistência a métodos inovadores são entraves que precisam ser superados por meio de investimentos contínuos na educação.
A leitura deve ser promovida como uma prática viva e transformadora, estimulando a criatividade, a autonomia e a reflexão dos alunos. Nesse sentido, professores bem preparados, metodologias contextualizadas e acesso a materiais diversificados são fatores fundamentais para garantir uma aprendizagem significativa. Os achados desta pesquisa reforçam a necessidade de um esforço conjunto entre escola, família e políticas educacionais para fortalecer a cultura da leitura, garantindo que os estudantes desenvolvam não apenas habilidades técnicas, mas também uma visão crítica e reflexiva sobre o mundo ao seu redor.
Os resultados obtidos na pesquisa realizada, reforçam a importância de uma abordagem didática da leitura que seja significativa e contextualizada, garantindo o desenvolvimento da autonomia e do pensamento crítico dos alunos. O estudo revelou que a mediação ativa do professor e o uso de metodologias interativas impactam positivamente o aprendizado da leitura, corroborando com os achados de autores como Solé (1998) e Paulo Freire (1988), que enfatizam a leitura como um ato de compreensão do mundo, e não apenas de decodificação de palavras.
Os dados analisados demonstraram que, quando a leitura é trabalhada de forma isolada, sem conexão com o contexto social e cultural do aluno, há um desinteresse crescente por parte dos estudantes, o que dificulta sua aprendizagem. Esse fenômeno é evidenciado no estudo de Rauen (2010), que aponta a leitura como um processo interpretativo que necessita de estímulo e interação. Assim, percebe-se que metodologias tradicionais, que priorizam a mecanização da leitura, apresentam limitações na formação de leitores autônomos e críticos.
A pesquisa também destacou a relevância do papel do professor como mediador. Como apontado por Lima et al. (2022), docentes que estimulam inferências, questionamentos e debates sobre os textos proporcionam aos alunos um aprendizado mais dinâmico e participativo. Essa abordagem favorece a construção do sentido e amplia a capacidade argumentativa dos estudantes, fortalecendo a leitura como ferramenta de empoderamento social.
Outro ponto central na discussão é a relação entre leitura e cidadania. Almeida & Corrêa (2021) evidenciaram que alunos que têm contato com leituras críticas demonstram maior capacidade de argumentação e tomada de decisão, reforçando a visão freiriana de que a leitura deve servir como meio de compreensão e transformação da realidade. Assim, fica evidente que a leitura ultrapassa o limite da sala de aula, tornando-se um instrumento de emancipação intelectual e social.
Entretanto, desafios estruturais ainda comprometem o ensino da leitura nas escolas públicas. Como exposto na pesquisa de Ferreira (2020), a falta de materiais didáticos adequados, bibliotecas acessíveis e formação docente continuada são entraves significativos para a implementação de metodologias inovadoras. Esses fatores contribuem para a reprodução de práticas engessadas que limitam o potencial da leitura na formação do aluno.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) surge como um elemento importante na reestruturação do ensino da leitura. Conforme apontado por Costa & Oliveira (2019), a BNCC propõe uma abordagem mais contextualizada e interdisciplinar, buscando integrar a leitura ao cotidiano dos estudantes. No entanto, a pesquisa revela que a efetiva aplicação dessas diretrizes ainda depende de melhores condições estruturais e pedagógicas.
Na tabela a seguir, é apresentado indicações relevantes para leituras de obras relevantes para o contexto de escolas públicas.
Referência | Indicações para a Leitura na Escola Pública |
Freire (1995) – A importância do ato de ler | A leitura deve ir além da decodificação de palavras e permitir uma interpretação crítica do mundo. |
Solé (1998) – Estratégias de leitura | Uso de estratégias antes, durante e após a leitura para aprimorar a compreensão textual. |
Rauen (2010) – Práticas pedagógicas que estimulam a leitura | O professor deve atuar como mediador, estimulando a construção de significados e o interesse dos alunos. |
Bamberg (1995) – Teoria da leitura e aprendizagem | A leitura contribui para o desenvolvimento cognitivo e social, sendo essencial para a aprendizagem em todas as áreas. |
BNCC (2017) | Propõe a leitura como prática interdisciplinar, incentivando o pensamento crítico e a interpretação de diferentes gêneros textuais. |
Serafim & Cordeiro (2013) – A leitura para as crianças | Destaca a importância da leitura prazerosa e da interação entre professor e aluno no desenvolvimento da competência leitora. |
Lima et al. (2022) – O papel do professor na mediação da leitura | Professores que utilizam mediação ativa contribuem para uma melhor interpretação e engajamento dos alunos. |
Almeida & Corrêa (2021) – Leitura crítica e formação cidadã | A leitura deve estar associada à formação crítica e cidadã, incentivando o posicionamento reflexivo dos alunos. |
Fonte – autoria dos pesquisadores
Assim, a discussão sobre a didática da leitura nas escolas públicas deve considerar tanto os avanços metodológicos quanto os desafios estruturais. Os resultados desta pesquisa sugerem que, para tornar o ensino da leitura mais eficiente e significativo, é necessário investir na capacitação dos professores, na ampliação do acesso a materiais didáticos de qualidade e na criação de espaços de leitura atrativos para os alunos. Somente com a conjugação desses fatores será possível garantir uma educação leitora que forme indivíduos críticos, reflexivos e preparados para interagir com o mundo de forma consciente.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A leitura se estabelece como um pilar essencial na formação do pensamento crítico e da autonomia dos indivíduos. Este trabalho de conclusão de curso evidenciou que a didática da leitura, quando fundamentada em metodologias interativas e contextualizadas, promove um aprendizado mais significativo e estimula a participação ativa dos alunos no processo educativo. A mediação docente, associada ao uso de materiais diversificados e estratégias inovadoras, mostrou-se um fator determinante para o desenvolvimento da competência leitora e da cidadania.
Contudo, desafios estruturais ainda persistem, como a escassez de bibliotecas acessíveis, a falta de materiais didáticos adequados e a necessidade de maior formação continuada para os professores. Para que a leitura seja promovida de forma eficaz, é fundamental que políticas públicas assegurem melhores condições de ensino e incentivem práticas pedagógicas mais dinâmicas e inclusivas.
Sendo assim, a leitura não deve ser vista apenas como um requisito acadêmico, mas como uma prática social que possibilita a compreensão e transformação da realidade. O fortalecimento da cultura leitora dentro e fora da escola depende de um esforço conjunto entre educadores, gestores, famílias e governos. Garantir o acesso a uma educação leitora de qualidade é um passo essencial para a formação de cidadãos mais críticos, reflexivos e engajados na sociedade.
REFERÊNCIAS
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SOUZA, P.; MARTINS, L. A leitura como ferramenta de emancipação social. Salvador: EDUFBA, 2021.
¹Graduanda do Curso de Licenciatura em Letras Português, da Universidade Federal do Amapá. E-mail: jeceniracmlj.leg@gmail.com
²Graduando do Curso de Licenciatura em Letras Português, da Universidade Federal do Amapá. E-mail: leandrodbsl1992@gmail.com
³Graduanda do Curso de Licenciatura em Letras Português, da Universidade Federal do Amapá. E-mail: leudacordeiro33@gmail.com