DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DO MANEJO E DESCARTE DE PERFUROCORTANTES POR PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM EM UM CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL NA REGIÃO NORDESTE DO PARÁ: UM ESTUDO OBSERVACIONAL E RETROSPECTIVO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8280260


Glória Letícia Oliveira Gonçalves Lima 1
Jeronimo Lameira Silva 2


Resumo

Objetivo: Analisar as práticas dos profissionais de enfermagem durante o manuseio e descarte de perfurocortantes, em um Centro de Atenção Psicossocial, localizado em um município do estado do Pará. Métodos: Trata-se de uma pesquisa observacional retrospectiva e descritiva, com abordagem qualitativa, onde a coleta de dados se deu por meio do método observacional, onde foi legível para este estudo, informações retrospectivas sobre o manejo e descarte correto de perfurocortante em um Centro de Atenção Psicossocial. Resultados:  Diversos foram os problemas observados, conforme destaca o quadro I. O CAPS, onde ocorreu o estudo, não apresenta um banco de dados sobre a quantidade de resíduos de serviços de saúde gerados, o que dificulta uma análise mais profunda sobre as boas práticas de descarte e medidas sustentáveis para o destino final dos perfurocortantes. Dentre os resíduos de serviços de saúde com maior quantidade de descarte, estão: luvas, agulhas, seringas, ampolas e algodão. Observou-se a inexistência de um POP (Protocolo Operacional Padrão), tão logo, tem-se uma lacuna para práticas ambientalmente incorretas, pois se cada profissional de enfermagem adere a uma técnica de descarte, acabamos por assim aumentar o risco de acidentes com material infectado. Conclusão: Por meio de ações educativas, orientações e práticas adotadas de gestão de resíduos, os profissionais de enfermagem se tornam agentes de mudanças para um futuro mais saudável e sustentável às gerações presentes e futuras. Essa aliança entre enfermagem, saúde ambiental e descarte consciente é uma ferramenta poderosa para a construção de uma sociedade mais equilibrada e consciente de seu impacto no planeta.

Palavras-chave: Gerenciamento de Resíduos. Meio Ambiente e Saúde Pública. Educação em Saúde Ambiental. Enfermagem.

1.INTRODUÇÃO

No Brasil, ainda são escassos os estudos sobre o manuseio e descarte correto de resíduos dos serviços de saúde, pois estes, se não manejados corretamente, agregam prejuízo ambiental, tornando-se inclusive um problema de saúde pública.

Na norma reguladora Nº32 (NR-32), fomentada pelo ministério do trabalho, é possível verificar a instituição de diretrizes básicas para a segurança do trabalhador que prestam atividades à serviços de saúde (ANDRADE et al., 2017).

Dentre os resíduos sólidos que mais agregam riscos à saúde ambiental e ao trabalhador são os perfurocortantes. O manejo e descarte adequado dos materiais perfurocortantes, ocorre fazendo a segregação de acordo com o real potencial de contaminação, o acondicionamento em recipiente padronizado, sendo descartado imediatamente após uso no seu local de geração, evitando à desconexão de agulhas, assim como o reencape e transporte de agulhas contaminadas (GAMA; DEODATO; MOURA, 2016).

A partir da RDC Nº 222, de 28 de março de 2018, que caracteriza e regulamenta as boas práticas em gerenciamento de resíduos de serviços de saúde, entende-se a relevância da implantação de um plano de gerenciamento de resíduos de serviços de saúde (PGRSS), onde é possível a visualização dos gestores sobre os riscos, geração, identificação, segregação, acondicionamento, coleta, armazenamento, transporte, destinação e disposição final adequada, além de ações de proteção à  saúde pública, do trabalhador e do meio ambiente (ANVISA, 2018).

O intuito desta pesquisa prevê a realização de um estudo observacional em Centro de Atenção Psicossocial, localizado na região nordeste do estado do Pará. O objetivo é conhecer o manejo e descarte de perfurocortantes, bem como elucidar boas práticas ambientais para destinação final do resíduo infectado. O interesse em realizar esta pesquisa, surgiu a partir da observância em minha pratica profissional acerca dos níveis de resíduos sólidos perfurocortantes gerados em um centro de atenção psicossocial no estado do Pará.

Sendo assim, esta pesquisa torna-se relevante por se tratar de um problema da saúde pública, pois justifica-se pela necessidade de estudos que possam não somente promover a educação ambiental, mas que possam agregar melhorias frente às necessidades e problemas citados acima. Além de contribuir com a ampliação de dados capazes de subsidiar futuras políticas públicas que fortaleçam as boas práticas à saúde ambiental.

Diante do exposto, elaborou-se o seguinte questionamento norteador para esta pesquisa: qual o diagnóstico situacional do manejo e descarte de perfurocortantes em um centro de atenção psicossocial na região nordeste do Pará?

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 

2.1 Resíduos de Serviços de Saúde: risco ambientais e o plano de gerenciamento de resíduos de serviços de saúde

De acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), Lei Federal nº 12.305/2010, estabelece diversos instrumentos que potencializam um meio ambiente salubre, a exemplo da educação ambiental, plano de resíduos sólidos, sistemas de logística reversa, entre outros. 

Ventura et al. (2021), aponta que do total de municípios brasileiros (5.570), 3.301 (59,2%) deles destinam seus rejeitos em lixões e 1.256 (22,5%) realizam coleta seletiva (BRASIL, 2019), devido ao número reduzido de programas dessa natureza no país. No período de 2019 a 2033, estimam-se R$ 28,7 bilhões de investimentos em medidas de caráter estrutural (intervenções físicas e obras em geral) e estruturantes (ações socioeducativas, instrumentos legais e suporte político-administrativo) para novos aterros sanitários e recuperação de lixões.

Nos estudos de Silva et al. (2020), evidencia-se que a normatização do Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (GRSS) no Brasil através da resolução n° 222/2018 regulamentada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), marcando a obrigatoriedade da elaboração de um Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS), de acordo com a seguinte divisão/classificação dos resíduos gerados, a saber: Grupo A: resíduos biológicos, Grupo B: resíduos químicos, Grupo C: rejeitos radioativos; Grupo D: resíduos comuns, e Grupo E: resíduos perfurocortantes.

Em 2010, criou-se a Lei de Nº 12,305, de 02 de agosto, onde institui-se a Política Nacional de Resíduos sólidos, caracterizando as atribuições de cada ente federal, conceitos gerais, funcionalidade, objetivos e instrumentos de articulação em rede nacional (BRASIL, 2010).

O plano de gerenciamento dos resíduos de serviços de saúde (PGRSS) é um documento descritivo que sinaliza todas as atividades relativas ao gerenciamento dos resíduos de serviços de saúde, considerando: geração, identificação, segregação, acondicionamento, coleta, armazenamento, transporte, destinação e disposição final ambientalmente adequada, como também as ações de amparo à saúde pública, do trabalhador e do meio ambiente (ANVISA, 2018).

2.2 Resíduos de perfurocortante e as práticas de enfermagem

A legislação nacional preconiza que a gestão dos resíduos da saúde é de responsabilidade exclusiva dos seus agentes geradores, podendo ser dos serviços de atendimento à saúde humana. Fazem parte das responsabilidades dos locais que geram os RSS as seguintes etapas: manejo, segregação, acondicionamento, coleta, armazenamento, transporte, tratamento e destinação final. Instituições que conseguem comprimir com essas etapas, estão visando a proteção à saúde pública e ao meio ambiente (GARCIA, 2022).

O Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) por meio da Resolução nº 303/2005 afirma que o enfermeiro é habilitado para atuar na gestão de RSS, bem como poderá elaborar o PGRSS e realizar ações no âmbito da prevenção a reabilitação da saúde de indivíduos e coletividade. Ressalta-se ainda que o enfermeiro dever avaliar as condições de trabalho, além de atuar no campo da educação permanente, capacitando sua equipe sobre o manuseio adequado com perfurocortantes (SILVA et al., 2020).

Souza et al. (2021), apontam que é de fundamental importância a participação dos profissionais de saúde enquanto agentes gerenciadores de resíduos, a exemplo do descarte correto com perfuro cortantes. A medida que esses profissionais compreendem os impactos gerados pelo manuseio e tratamento de resíduos que são gerados pelas suas ações profissionais, bem como as leias que normatizam o fluxo de desfecho correto de RSS, tem-se a possibilidade da geração de impactos positivos ao meio ambiente.

Nos últimos anos, instituições publicas e privadas vem fomentando ações de capacitações aos profissionais de saúde para diminuição dos acidentes com perfucortante. Entretanto, é notório a necessidade de ser capacitar as equipes de saúde e de se fornecer equipamentos de proteção individual adequados. PEREIRA et al. (2021) revelam que as patologias de maior incidência e relevância epidemiológica quanto à exposição a materiais biológicos são: o vírus da imunodeficiência humana (HIV), a hepatite B (HBV) e a hepatite C (HCV). A enfermagem por ser mais numerosa acaba sendo a categoria de profissionais de saúde que mais sobre acidentes com perfuro cortante.

Na pesquisa de Silva et al. (2020), foi possível identificar que os enfermeiros, em parte, desconhecem o plano de gerenciamento de resíduos da unidade de trabalho, bem como há poucos apontamentos dos enfermeiros sobre a preservação do meio ambiente e a relevância da temática para a comunidade. Estudos apontam riscos ocupacional, ambiental e social relacionados ao gerenciamento inadequado de resíduos. Salienta-se que resíduos com acondicionamento inadequado, podem provocar comprometimento do solo, a água e o ar. Na mesma forma, os manejos inadequados de perfurocortantes podem gerar ao individuo exporto infecções, distúrbios neurológicos em crianças, febre, cânceres, hepatite, AIDS, dentre outras patologias por perfurocortantes contaminados com material biológico.

3. METODOLOGIA 

Trata-se de uma pesquisa observacional, retrospectiva e descritiva, com abordagem qualitativa, onde a coleta de dados se deu por meio do método observacional, sendo legível para este estudo, informações retrospectivas sobre o manejo e descarte correto de perfurocortante em um Centro de Atenção Psicossocial.

A pesquisa foi realizada no período fevereiro e abril de 2023, em um Centro de Atenção Psicossocial- CAPS, localizado na região nordeste do estado do Pará, Brasil. Tal instituição de saúde oferta cerca de 600 atendimentos ao mês, tendo alcance territorial de 10 mil usuários do serviço. O CAPS apresenta equipe multidisciplinar e especializada no atendimento de usuários com transtorno mental. Considerando a natureza do serviço, é ofertado administração de fármacos por via parenteral, o que gera contato com resíduos sólidos do tipo perfurocortante.

A pesquisa apresenta como foco a observância do manejo e descarte correto de RSS, praticado por profissionais de enfermagem do CAPS. A formação atual da equipe é composta por sete enfermeiros e onze técnicos de enfermagem, conforme descrição abaixo.

Quadro 1- Caracterização da equipe de enfermagem.

Categoria ProfissionalQuantidadeMedia do Tempo de FormaçãoGênero
Enfermeiros0701 a 20 anos06 sexo Feminino 01 sexo Masculino
Técnicos de Enfermagem1102 a 23 anossexo Feminino sexo Masculino
Fonte: Lima, 2023.

Essa pesquisa não envolveu testes com seres humanos, logo seu início e realização não apresentaram necessidade de aprovação de Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), de acordo com a preconização da resolução 466/12 do Ministério de Saúde. Entretanto, por meio de carta de anuência, foi uma pesquisa autorizada pela Coordenação Municipal e local de saúde mental do município do nordeste do Pará, Brasil.

Figura 1. Etapas para o desenvolvimento da pesquisa.

Fonte: Lima, 2023.

Tabela 1. Estratégia de PICo e a busca aplicada a pergunta de pesquisa.

AcrônimoDescrição
(P)Equipe de Enfermagem
(I)Descarte de resíduos de serviço de saúdo do tipo perfuro cortante
(Co)Comparará os principais manejos de enfermagem no descarte de material perfuro cortante.
Pergunta         de pesquisaQual o diagnóstico situacional do manejo e descarte de perfurocortantes em um centro de atenção psicossocial na região nordeste do Pará?
Fonte: SOUSA et al., 2017. Com adaptação da autora.

Por se tratar de uma pesquisa observacional e retrospectiva, os riscos serão ínfimos, o que poderá ocorrer através da interpretação equivocada das informações ou uso indevido das orações gramaticais. A pesquisa apresenta como benefício dispor informações acerca do processo gerencial de resíduos de serviços de saúde, bem como estimular a adoção de medidas de biossegurança que visam proteção à saúde do profissional e do meio ambiente. Esta pesquisa resultou na elaboração de uma tecnologia educativa em forma de cartilha, que tem por intuito auxiliar na divulgação de manejos e descarte adequados para o resíduo sólidos, do tipo perfurocortantes. Desta forma, tem-se o fomento para a comunidade cientifica no que tange as boas práticas frente à saúde ambiental.

A pesquisa foi regida pelos preceitos éticos da resolução nº 466 de 12 de dezembro de 2012, do Conselho Nacional de Saúde que dispõe sobre a pesquisa: autonomia, beneficência, não maleficência, justiça e equidade. E por se tratar de um estudo observacional, não foi necessário a submissão ao Comitê de Ética. 

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS

Em observação ao cenário de estudo, é notório o estabelecimento da rotina no manuseio e descarte do perfurocortante. Entretanto diversas variáveis foram identificadas e caracterizadas como problematizadas. A primeira percepção é apontada pelo manejo adequado com perfurocortante. Indagou-se neste estudo observacional se os técnicos de enfermagem e enfermeiros, apresentavam em suas práticas profissionais ações deliberadamente positivas e termos de manejo e ambiente seguro para manipulação do RSS. Para tanto, formulou-se as seguintes questões norteadoras para orientação deste estudo observacional.

QUADRO1: Resultados obtidos pela observação em lócus. 

HIPÓTESEOBSERVAÇÃO/RESULTADO
1. O local de estudo apresentada descarte correto do perfurocortante?Sim. Existe espaço delimitado para manejo e descarte de perfurocortante, por meio de caixa coletora de papelão, com identificação de risco.
2. A equipe de enfermagem demonstrou pratica padrão para manusear e descartar RSS?Não. Foi observado falta de padronização no manuseio e descarte correto.
3. Há desconexão dos equipamentos ao utilizar a caixa de coleta de perfurocortante?Sim. 30% dos profissionais de enfermagem observados, realizam a desconexão de perfurocortantes sem instrumental de segurança adequado
4. A equipe de enfermagem recebe algum tipo de treinamento sobre resíduos de serviços de saúde?Não. Todos os profissionais relataram que durante o período de experiência profissional, nunca receberam treinamento institucional sobre resíduos de serviços de saúde.
5. Em caso de acidente com perfurocortante, os enfermeiros conhecem o protocolo da instituição para esta situação?Apenas três enfermeiros apontaram conhecimento sobre como proceder caso ocorra acidentes com perfurocortante.
6. A equipe de enfermagem conhece o PGRSS do município?Não. Todos os profissionais observados nesta pesquisa desconhecem, inclusive a aplicabilidade e funcionalidade do PGRSS.
7. Como ocorre o armazenamento do perfurocortante neste serviço de saúde? O armazenamento ocorre por meio de caixa coletora para perfurocortante, com as devidas identificações. Entretanto ao serem preenchidas por completo, observou-se o acumulo das caixas coletoras em ambiente inadequado, até que haja o recolhimento pela empresa de transporte de RSS.
8. Como ocorre o transporte do perfurocortante gerado no serviço de saúde em observação?Por meio de empresa especializada em resíduos de serviços de saúde.
9. Como advém a destinação final do perfurocortante gerado pelo serviço de saúde?Por incineração.
10. Há banco de dados sobre os Resíduos sólidos do tipo E no município?Não.
11. Qual tempo de recolhimento das caixas de perfurocortante neste serviço de saúde?Média de quatro meses para a empresa coletar o material e prover destino final.
12. Existe processo de educação continuada para a equipe de enfermagem?Não.
13. Existe fluxo de notificação e condutas sobre acidentes com perfurocortantes no local de estudo? Não.
14. Existe no local observado protocolo operacional padrão para praticas de enfermagem que envolvam a saúde ambienta?Não. 
Fonte: Lima, 2023.

A seguir, o quadro 02 demonstra a relação entre ações de riscos praticadas pelos profissionais do CAPS, bem como os possíveis malefícios ambientais gerados.

Quadro 02: Ações de riscos e os possíveis malefícios ambientais gerados.

CLASSIFICAÇÃOTIPO DE RESÍDUORISCO AMBIENTAL
Grupo EPerfurocortantesExposição ocupacional a material biológico
Grupo DLuvas sem contato com material sanguíneo. EPI (Equipamento de Proteção Individual).Risco de contaminação ambiental.
Fonte: adaptado pela autora.

Outro ponto de relevância nos resultados encontrados, foi a falta de conhecimento dos profissionais em relação ao Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde – PGRSS. Diversos estudos convergem na concordância que locais e municípios com implementação real do PGRSS tendem a diminuir os impactos ambientais gerados pelos RSS. Contudo, os profissionais apresentaram desconhecer inclusive, a correlação do PGRSS com as ações de proteção à saúde pública, do meio ambiente e do trabalhador.

Foi identificado como ponto de risco, o acumulo por três meses, em média, das caixas de perfurocortantes. Sabe-se que com a falta da segregação e destinação final adequados, os impactos à saúde humana por meio da contaminação ambiental, se potencializam.

DISCUSSÃO

Entende-se por perfurocortante qualquer utensilio que tenha apresentação em lâminas de barbear, agulhas, escalpes, ampolas de vidro, brocas, limas endodônticas, pontas diamantadas, lâminas de bisturi, lancetas; tubos capilares; ponteiras de micropipetas; lâminas e lamínulas; espátulas; e todos os utensílios de vidro quebrados no laboratório (pipetas, tubos de coleta sanguínea e placas de Petri) e outros similares.

A enfermagem é a terceira maior categoria de trabalhadores de saúde do Brasil, segundo COFEN (Conselho Federal de Enfermagem). Tal característica agrega maior risco de acidentes com perfurocortantes, bem como os torna a categoria com maior contato para as boas práticas de manejo e descarte correto com esse tipo de resíduo sólido. 

Nos estudos de Oliveira e Murofusi (2001), é possível concluir que os trabalhadores de enfermagem por manipularem frequentemente os objetos perfurocortantes, acabam sendo responsáveis por seu descarte inadequado e, assim, ocasiona exposições aos diversos trabalhadores de saúde.

Diversos foram os problemas observados, conforme destaca o quadro I. O CAPS, onde ocorreu o estudo, não apresenta um banco de dados sobre a quantidade de resíduos de serviços de saúde gerados, o que dificulta uma análise mais profunda sobre as boas práticas de descarte e medidas sustentáveis para o destino final dos perfurocortantes.

Dentre os resíduos de serviços de saúde com maior quantidade de descarte, estão: luvas, agulhas, seringas, ampolas e algodão. Observou-se a inexistência de um POP (Protocolo Operacional Padrão), tão logo, tem-se uma lacuna para práticas ambientalmente incorretas, pois se cada profissional de enfermagem adere a uma técnica de descarte, acabamos por assim aumentar o risco de acidentes com material infectado.

Um outro fator observado foi a falta do estabelecimento da educação continuada capaz de potencializar a pratica profissional segura e com foco na saúde ambiental. Aponta-se também a necessidade do fortalecimento de políticas públicas eficazes sobre as correlações humanos e o meio ambiente.

APONTAMENTO DOS RISCOS AMBIENTAIS PELO DESCARTE DO PERFUROCORTANTE.

É existe o risco para pessoas que manuseiam os perfurocortantes foram dos ambientes geradores desses resíduos, pois o descarte inadequado do RSS afeta direta ou indiretamente pessoas que compõem ou não a comunidade do serviço de saúde, agregando riscos ambientais, transmissão de doenças e alteração na qualidade de vida de indivíduos expostos aos manejos inadequados (CAFURE; PATRIARCHA-GRACIOLLI, 2015).

Dentre os principais riscos encontrados estão a contaminação dos lençóis freáticos, quando não ocorre a incineração correta dos RSS, o que pode por culminar em epidemias. Além, também, do risco por exposição acidental com perfurocortante o que gera via de transmissão para diversas patologias como as hepatites B/C e HIV.

Ressalta-se que o risco de contaminação se estende a uma dimensão social, ambiental e ocupacional, que se inicia pelos profissionais executores dos procedimentos, perpassando pelos pacientes e catadores de lixo, por exemplo. Considerando a RDC ANVISA 306 de 2004 e Resolução CONAMA 358 de 2005, tem-se a classificação dos RSS em cinco grupos, conforme tabela abaixo:

Tabela 1– Divisão dos grupos de RSS.

GRUPOCARACTERÍSTICAS DEFINIDORAS
AEngloba os componentes com possível presença de agentes biológicos que, por suas características de maior virulência ou concentração, podem apresentar risco de infecção.
BContém substâncias químicas que podem apresentar risco à saúde pública ou ao meio ambiente, dependendo de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade e toxicidade.
CQuaisquer materiais resultantes de atividades humanas que contenham radionuclídeos em quantidades superiores aos limites de eliminação especificados nas normas da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).
DNão apresentam risco biológico, químico ou radiológico à saúde ou ao meio ambiente, podendo ser equiparados aos resíduos domiciliares.
EMateriais perfurocortantes ou escarificantes.
Fonte: Garcia (2022), adaptado pela autora.

SOLUÇÕES PARA BOAS PRÁTICAS DE DESCARTE AMBIENTALMENTE CORRETO.

O descarte adequado de materiais perfurocortantes, como agulhas, seringas, lâminas e outros objetos pontiagudos, é crucial para garantir a segurança e evitar riscos de contaminação ao meio ambiente. A seguir estão algumas soluções para boas práticas de descarte de perfurocortantes.

Destinatários específicos: utilize recipientes adequados para o descarte de perfurocortantes, como caixas ou recipientes rígidos com tampa, devidamente identificados como “Descarte de Perfurocortantes” ou com o símbolo de risco biológico. 

Treinamento e conscientização: é fundamental fornecer treinamento adequado para profissionais da área da saúde, como médicos, enfermeiros e técnicos de laboratório, sobre o tratamento seguro e o descarte apropriado de materiais perfurocortantes. Isso inclui instruções sobre como utilizar os recipientes específicos, como manipular os materiais com segurança e quais os procedimentos corretos para o descarte.

Embalagem segura: além de utilizar recipientes apropriados, é importante embalar corretamente os materiais perfurocortantes antes do descarte. Isso pode incluir o uso de luvas ou pinças para evitar contato direto com os objetos, especialmente no caso de materiais contaminados.

Informações de identificação: os recipientes utilizados para o descarte de materiais perfurocortantes devem ser devidamente identificados. Isso pode ser feito por meio de rótulos ou etiquetas que indicam claramente que o conteúdo é perfurocortante e representa um risco.

Descarte em local apropriado: é essencial descartar os materiais perfurocortantes em locais específicos designados para esse fim. Esses locais geralmente estão presentes em hospitais, clínicas ou postos de saúde, onde há infraestrutura adequada para coletar, armazenar e transportar os materiais de forma segura.

Regulamentação e legislação: Em muitos países, existem regulamentações e legislações específicas que tratam do descarte de materiais perfurocortantes. É importante estar de acordo com essas regulamentações e segui-las rigorosamente para garantir a conformidade e a segurança.

Tratamento adequado: Após o descarte adequado de materiais perfurocortantes, eles devem ser tratados de acordo com as regulamentações locais. Isso pode incluir procedimentos de esterilização ou incineração, dependendo das diretrizes proibidas.

Monitoramento e avaliação: É importante estabelecer um sistema de monitoramento e avaliação para garantir a eficácia das práticas de descarte de materiais perfurocortantes. Isso pode incluir auditorias internas, relatório de conformidade e revisão regular das políticas e procedimentos existentes.

Ressalta-se que as práticas de descarte de materiais perfurocortantes podem variar de acordo com a região e a legislação local. Portanto, é fundamental consultar as autoridades competentes, como órgãos de saúde pública ou agências reguladoras, para obter orientações específicas sobre o descarte seguro de materiais perfurocortantes em sua localidade.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nos resultados obtidos nesta pesquisa, conclui-se que o objetivo do estudo foi alcançado e ressalta-se que a maior parte dos membros da equipe de enfermagem observados não apresentaram conhecimento sobre o manejo e descarte correto de perfurocortante, bem como há uma lacuna no conhecimento sobre o plano gerencial de resíduos de serviços de saúde do município de pesquisa.

Observou-se que há descarte correto, porem ocorreu uso indevido de equipamento de proteção individual. Houve existência de acondimento em recipiente adequado, porem há falha no período de armazenamento desses recipientes com perfurocortantes, que se estende por meses em local inapropriado.

Após levantamento bibliográfico, pode-se notar o baixo quantitativo de pesquisas em relação ao tema de estudo, faz-se necessário que haja novas pesquisas afim de fomentar a pratica dos profissionais de enfermagem quanto a manipulação correta dos perfurocortantes, bem como os impactos que estes geram a saúde ambiental. No âmbito assistencial à saúde, a enfermagem é responsável por garantir o descarte adequado de materiais, evitando a contaminação do meio ambiente. A implementação de protocolos para separação e reciclagem de resíduos é essencial para minimizar o impacto ambiental das unidades de saúde. Além disso, a enfermagem desempenha um papel significativo na prevenção de doenças relacionadas ao meio ambiente, como infecções transmitidas por vetores e doenças respiratórias.

Através do desenvolvimento de estratégias que promovem a saúde ambiental e o descarte consciente, a enfermagem pode influenciar positivamente a saúde de comunidades inteiras. Com ações preventivas, é possível reduzir a incidência de doenças relacionadas ao meio ambiente e melhorar a qualidade de vida das pessoas.

Sendo assim, este estudo conclui que a enfermagem exerce um papel central na promoção da saúde ambiental e do descarte responsável. Por meio de ações educativas, orientações e práticas adotadas de gestão de resíduos, os profissionais de enfermagem se tornam agentes de mudanças para um futuro mais saudável e sustentável às gerações presentes e futuras. Essa aliança entre enfermagem, saúde ambiental e descarte consciente é uma ferramenta poderosa para a construção de uma sociedade mais equilibrada e consciente de seu impacto no planeta.

REFERÊNCIAS

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1Discente do Curso de Pós Graduação em Ciências e Meio Ambiente – Universidade Federal do Pará  e-mail: glorialleticia@yahoo.com

2Pós-Doutorado. University of Southern California, USC, Estados Unidos