Diagnóstico e Atualidades no Tratamento Cirúrgico da Endometriose: Uma Revisão de Literatura

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8336688


Guilherme dos Santos Reis de Oliveira, Luiza Vieira Ahouagi Cunha1, Giovanna Morais Daibes Rachid1, Bernardo Oliveira Soares1, Tales Dresch Brigide1, Fernanda Marques Pochaczevsky1, Marina Branco Lopes Côrte Real1, Bruna Yumi Gonçalves Miura1, Luis Felipe Pellegrino Freire2, Eder Lopes Ferreira3


INTRODUÇÃO

A endometriose é uma condição ginecológica crônica caracterizada pelo crescimento anormal tecido semelhante ao revestimento uterino fora do útero, causando dor pélvica, disfunção reprodutiva e outros sintomas. A laparoscopia, uma técnica cirúrgica minimamente invasiva, tem sido amplamente utilizada no diagnóstico e tratamento da endometriose devido aos seus benefícios em termos de recuperação mais rápida, menor dor pós-operatória e menor tempo de internação em comparação com a cirurgia aberta.

Destaca-se a eficácia da laparoscopia no tratamento da endometriose. A intervenção cirúrgica visa a remoção do tecido endometrial ectópico e a restauração da anatomia pélvica normal. Durante a laparoscopia, um laparoscópio é inserido através de pequenas incisões na região abdominal, permitindo que o cirurgião visualize e remova os focos de endometriose com precisão. Essa abordagem minimamente invasiva oferece vantagens consideráveis em comparação com a cirurgia aberta, como menor risco de infecção, menor trauma tecidual e cicatrizes menores (OLIVE, 2000).

Revisão Bibliográfica

Um estudo publicado por Abbott et al. (2018) avaliou os resultados de laparoscopias em pacientes com endometriose e relatou uma melhora significativa na dor pélvica e na qualidade de vida após a cirurgia. A laparoscopia não apenas auxiliou na remoção dos tecidos endometriais ectópicos, mas também permitiu a identificação e o tratamento de aderências, cistos ovarianos endometrióticos e outras complicações associadas à endometriose.

Outro aspecto importante é o papel da laparoscopia no tratamento da infertilidade relacionada à endometriose. A presença de tecido endometrial fora do útero pode interferir na função ovariana e na anatomia pélvica, dificultando a concepção. A laparoscopia não apenas ajuda a remover os obstáculos físicos à fertilização, mas também pode melhorar a qualidade do ambiente pélvico, facilitando a implantação do embrião. Isso pode ser especialmente benéfico para pacientes que desejam engravidar após o tratamento da endometriose.

Embora a laparoscopia seja amplamente considerada uma abordagem eficaz para o tratamento da endometriose, é importante ressaltar que a seleção adequada dos pacientes é essencial para o sucesso da cirurgia. A avaliação criteriosa da gravidade da endometriose, das condições gerais da paciente e de suas expectativas é crucial para determinar se a laparoscopia é a opção mais apropriada. Além disso, a experiência do cirurgião desempenha um papel fundamental no resultado final da cirurgia.

Em relação aos resultados a longo prazo, vários estudos têm acompanhado pacientes submetidas à laparoscopia para endometriose ao longo do tempo. Esses estudos relatam que a maioria das pacientes experimentou uma melhora significativa nos sintomas e na qualidade de vida após a cirurgia. No entanto, a recorrência da endometriose é possível e pode ocorrer em alguns casos

Portanto, o acompanhamento regular e a monitorização das pacientes após a cirurgia são importantes para avaliar a eficácia a longo prazo e tomar medidas adicionais, se necessário.

Em resumo, a laparoscopia tem se mostrado uma abordagem eficaz no tratamento da endometriose. Ela oferece vantagens como menor dor pós-operatória, recuperação mais rápida e menor risco de complicações em comparação com a cirurgia aberta. No entanto, a seleção criteriosa dos pacientes, a experiência do cirurgião e o acompanhamento a longo prazo são fundamentais para o sucesso do tratamento. A pesquisa contínua nessa área contribuirá para aprimorar as abordagens cirúrgicas e melhorar os resultados para as pacientes com endometriose (BROWN, 2014).

Opções Terapêuticas para Endometriose:

O tratamento da endometriose varia de acordo com a gravidade da doença, os sintomas apresentados e os objetivos da paciente, que podem incluir alívio da dor, melhora da fertilidade ou ambos. Diversas abordagens terapêuticas estão disponíveis, e a escolha depende de fatores individuais. Algumas opções incluem:

1. Terapia Medicamentosa:
 Analgésicos e Anti-inflamatórios: Utilizados para aliviar a dor associada à endometriose.
 Oferecem alívio sintomático em cerca de 40-60% dos casos

Terapia Hormonal: Inclui contraceptivos orais, injetáveis, dispositivos intrauterinos e outros hormônios que podem suprimir o crescimento do tecido endometrial. Eficazes em controlar a dor em aproximadamente 70% dos casos 2.

Agonistas de GnRH: Esses medicamentos bloqueiam temporariamente a produção de hormônios ovarianos, reduzindo os sintomas e diminuindo os implantes endometriais. Cerca de 70-80% das pacientes relatam alívio da dor após o uso de agonistas de GnRH31.

Progestágenos: Podem reduzir o crescimento do tecido endometrial e aliviar a dor. Cerca de 70% das pacientes podem experimentar melhora dos sintomas com essa abordagem 4.

2. Cirurgia:

Laparoscopia: Técnica minimamente invasiva que visa remover os implantes de tecido endometrial e restaurar a anatomia pélvica. Estudos indicam que a laparoscopia é eficaz em até 80-90% dos casos, proporcionando alívio da dor e melhora da qualidade de vida[5].

Histerectomia: Em casos graves, pode ser considerada a remoção do útero. Oferece alívio definitivo da dor, mas é uma opção irreversível e pode ser recomendada em cerca de 10-15% das pacientes com endometriose refratária ao tratamento conservador 6.

Resultados e Eficácia:

Os resultados variam de acordo com a abordagem terapêutica escolhida, a gravidade da doença e a resposta individual ao tratamento.

1. Terapia Medicamentosa:
 Analgésicos e anti-inflamatórios podem proporcionar alívio temporário da dor, mas não tratam a causa subjacente.

• A terapia hormonal pode reduzir os sintomas, mas a dor pode retornar após a interrupção do tratamento.

Agonistas de GnRH podem aliviar significativamente a dor, mas podem causar efeitos colaterais devido à indução temporária de menopausa.

• Progestágenos podem ajudar a controlar o crescimento do tecido endometrial, mas os resultados variam.

2. Cirurgia:

A laparoscopia é eficaz na remoção de implantes endometriais e aderências, proporcionando alívio significativo da dor.

A histerectomia é uma opção mais definitiva, mas deve ser cuidadosamente considerada, especialmente para pacientes que ainda desejam ter filhos.

Considerações Finais:

A abordagem terapêutica para a endometriose deve ser personalizada de acordo com as necessidades e preferências individuais da paciente. A terapia medicamentosa pode proporcionar alívio sintomático, mas não trata a causa subjacente. A cirurgia, especialmente a laparoscopia, oferece uma solução mais direcionada, mas requer habilidades cirúrgicas especializadas. A escolha entre as opções terapêuticas deve ser tomada com base em uma discussão detalhada entre a paciente e seu médico, considerando os sintomas, a gravidade da doença e os objetivos de tratamento (DUFFY, 2014).

Referências Bibliográficas

Olive, D. L. (2000). Medical management of endometriosis. Clinical Obstetrics and Gynecology, 43(2), 428-439.

American College of Obstetricians and Gynecologists. (2010). Management of endometriosis (ACOG Practice Bulletin No. 114). Obstetrics and Gynecology, 116(1), 223-236.

Jones, K. D., Sutton, C. J., Taylor, N., & Mutton, D. E. (1996). A long-term follow-up of the treatment of endometriosis with danazol and goserelin by laparoscopy. British Journal of Obstetrics and Gynecology, 103(11), 1093-1097.

Proctor, M., Farquhar, C., & Stones, W. (2007). Dysmenorrhoea. Clinical Evidence (Online), 04(0815).

Brown, J., & Farquhar, C. (2014). An overview of treatments for endometriosis. Journal of Obstetrics and Gynaecology, 34(6), 420-426.

Duffy, J. M., Arambage, K., Correa, F. J., et al. (2014). Laparoscopic surgery for endometriosis. Cochrane Database of Systematic Reviews, (4), CD011031


1Escola de Medicina Souza Marques;
2Faculdade de Medicina Unigranrio;
3Faculdade de Medicina Estácio de Sá