REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202505270953
Cleudine Felix Barros1
Orientadora: Profa. Esp. Naianne Georgia Sousa de Oliveira2
Resumo
O Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2) é uma doença crônica de alta prevalência mundial, responsável por elevadas taxas de morbimortalidade. A assistência terciária em saúde tem papel fundamental na redução das complicações associadas, sendo essencial para o controle clínico e prevenção de agravamentos. Este estudo tem como objetivo analisar os impactos do DM2 sobre os serviços de saúde terciários, destacando as principais demandas, desafios e estratégias de cuidado. A metodologia adotada é de revisão bibliográfica com enfoque qualitativo, utilizando artigos científicos publicados entre 2015 e 2024. Os resultados apontam para uma sobrecarga dos serviços de alta complexidade, elevada taxa de internações por complicações preveníveis e necessidade de integração com os demais níveis de atenção. Conclui-se que a qualificação do cuidado e o fortalecimento da linha de cuidado do DM2 são fundamentais para a efetividade da assistência terciária.
Palavras-chave: Diabetes Mellitus tipo 2. Atenção terciária. Complicações crônicas. Saúde pública.
Abstract
Type 2 Diabetes Mellitus (T2DM) is a chronic disease with high global prevalence, responsible for significant morbidity and mortality rates. Tertiary health care plays a fundamental role in reducing associated complications, being essential for clinical control and prevention of worsening. This study aims to analyze the impacts of T2DM on tertiary health services, highlighting the main demands, challenges, and care strategies. The methodology adopted is a qualitative literature review using scientific articles published between 2015 and 2024. The results indicate an overload on high-complexity services, high hospitalization rates due to preventable complications, and the need for integration with other levels of care. It is concluded that improving care quality and strengthening the T2DM care pathway are fundamental for the effectiveness of tertiary care. Keywords: Type 2 Diabetes Mellitus. Tertiary care. Chronic complications. Public health.
Keywords: Type 2 Diabetes Mellitus. Tertiary care. Chronic complications. Public health.
1. INTRODUÇÃO
O Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2) é uma doença crônica não transmissível caracterizada por resistência à insulina e comprometimento progressivo da função das células beta do pâncreas, resultando em hiperglicemia persistente. Essa condição representa um dos principais problemas de saúde pública da atualidade, com crescimento exponencial em todo o mundo, especialmente em países em desenvolvimento, onde fatores como sedentarismo, alimentação inadequada e envelhecimento populacional contribuem para seu aumento.
A atenção terciária à saúde é voltada para os casos de maior complexidade, sendo responsável pelo manejo de complicações graves associadas ao DM2, como nefropatias, retinopatias, neuropatias e doenças cardiovasculares. No entanto, o impacto dessa patologia sobre os serviços de saúde terciários é considerável, refletindo-se na superlotação hospitalar, aumento de custos assistenciais e demandas contínuas por tecnologias e equipes multiprofissionais especializadas.
No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) tem buscado estruturar a linha de cuidado do paciente com DM2, integrando os níveis primário, secundário e terciário. Apesar desses esforços, persistem desafios quanto à efetividade da assistência prestada no nível terciário, especialmente no que diz respeito ao acesso, à continuidade do cuidado e à prevenção de reinternações.
Diante desse cenário, o presente estudo tem como objetivo analisar o impacto do Diabetes Mellitus tipo 2 na assistência terciária à saúde, destacando os principais desafios enfrentados pelos profissionais e gestores, bem como as estratégias que podem contribuir para a qualificação do cuidado prestado aos pacientes com complicações crônicas dessa enfermidade.
2. MATERIAL E MÉTODOS
Este estudo trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa, com abordagem bibliográfica e descritiva. A pesquisa bibliográfica consiste na análise de publicações científicas previamente elaboradas por diversos autores, com o objetivo de reunir e interpretar informações relevantes sobre o tema em questão. A escolha desse método se justifica pela necessidade de compreender, a partir de evidências já estabelecidas, o impacto do Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2) na assistência terciária à saúde.
a) Tipo de pesquisa:
A presente investigação é classificada como uma revisão bibliográfica de abordagem qualitativa, que visa interpretar dados não numéricos, considerando os contextos sociais e de saúde em que estão inseridos.
b) Local de estudo:
O estudo foi realizado de forma remota, com consulta às bases de dados científicos online reconhecidas, como a Scientific Electronic Library Online (SciELO), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e Google Acadêmico.
c) População:
A população da pesquisa correspondeu ao conjunto de estudos científicos disponíveis nas bases de dados citadas, relacionados à temática do impacto do DM2 na atenção terciária.
d) Amostra:
A amostra foi composta por 20 artigos científicos publicados entre os anos de 2015 e 2024, em língua portuguesa e inglesa, selecionados por meio dos descritores “Diabetes Mellitus tipo 2”, “atenção terciária”, “complicações crônicas” e “sistema de saúde”. Foram incluídos estudos que abordavam o contexto hospitalar, estratégias terapêuticas e desafios na assistência terciária ao paciente com DM2.
e) Coleta de dados:
A coleta de dados foi realizada entre janeiro e março de 2025, com utilização de descritores controlados e combinação de palavras-chave em operadores booleanos (AND e OR), garantindo maior abrangência e precisão.
f) Aspectos éticos:
Por se tratar de um estudo de revisão bibliográfica, não houve envolvimento direto com seres humanos, o que dispensa a necessidade de submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa, conforme a Resolução do Conselho Nacional de Saúde nº 510/2016.
g) Recurso utilizado:
Os dados extraídos dos artigos foram organizados em fichas de leitura e sintetizados em quadros para facilitar a análise comparativa entre os estudos. Não foram utilizados softwares estatísticos, uma vez que o enfoque foi qualitativo e interpretativo.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A análise dos estudos selecionados evidencia que o Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2) impõe uma sobrecarga significativa aos serviços de atenção terciária à saúde. Isso se deve, principalmente, à elevada frequência de complicações crônicas decorrentes do controle glicêmico inadequado, o que leva à necessidade de intervenções de alta complexidade, como hemodiálise, cirurgias vasculares, tratamento de feridas complexas e internações prolongadas.
As internações hospitalares de pacientes com DM2 são recorrentes e muitas vezes evitáveis, o que indica falhas na linha de cuidado e na articulação entre os níveis de atenção. A retinopatia diabética, a nefropatia e a neuropatia são complicações comuns que exigem acompanhamento especializado e uso de tecnologias assistivas. Além disso, a presença de comorbidades, como hipertensão arterial e dislipidemias, agrava ainda mais o quadro clínico e dificulta o manejo durante a hospitalização.
Outro ponto recorrente é o alto custo associado ao tratamento das complicações do DM2 em hospitais de referência. Os gastos com internações, exames de imagem, medicamentos de uso contínuo e intervenções cirúrgicas representam um grande desafio para os gestores públicos de saúde, que precisam equilibrar a oferta de serviços especializados com a sustentabilidade do sistema.
A equipe multiprofissional que atua na atenção terciária enfrenta desafios como a fragmentação do cuidado, a rotatividade de profissionais e a dificuldade na adesão terapêutica por parte dos pacientes. A ausência de um acompanhamento longitudinal e a falta de comunicação efetiva entre os diferentes níveis de atenção comprometem a continuidade do cuidado e aumentam o risco de internações. A importância do trabalho em equipe, da educação em saúde e da humanização do atendimento é ressaltada como fundamental para a melhoria dos desfechos clínicos.
Os estudos apontam que a maioria dos pacientes com DM2 atendidos em unidades de alta complexidade apresentam baixo nível de escolaridade e condições socioeconômicas desfavoráveis, o que contribui para o atraso no diagnóstico e na procura por cuidados adequados. A falta de acesso a medicamentos, insumos para monitoramento da glicemia e consultas especializadas também são fatores que agravam a situação.
Frente a esse cenário, torna-se evidente a necessidade de fortalecer as ações preventivas e de promoção da saúde nos níveis primário e secundário, bem como de estruturar melhor os fluxos de encaminhamento e contrarreferência. A integração da rede de atenção à saúde, com foco na linha de cuidado do DM2, é essencial para reduzir os impactos da doença na assistência terciária, melhorar a qualidade de vida dos pacientes e otimizar os recursos públicos disponíveis.
Complicações associadas ao DM2 as principais complicações crônicas do DM2 incluem a nefropatia diabética, que é uma das causas mais comuns de insuficiência renal crônica e requer terapias como hemodiálise; a retinopatia diabética, importante causa de cegueira; a neuropatia diabética, associada a dor, úlceras e amputações; e as doenças cardiovasculares, como infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral (ADA, 2024).
Essas condições demandam hospitalizações frequentes, exames especializados, cirurgias, uso contínuo de medicamentos de alto custo e reabilitação, exigindo ampla estrutura da assistência terciária.
Sobrecarga dos serviços terciários segundo dados do Ministério da Saúde (BRASIL, 2023), o número de internações por complicações do DM2 cresce anualmente. Isso representa um impacto direto na ocupação de leitos hospitalares, nas filas de espera por procedimentos e nos custos do sistema público de saúde.
Além disso, os profissionais de saúde enfrentam desafios para manejar pacientes com múltiplas comorbidades, o que exige equipes multidisciplinares e cuidados prolongados. A importância da prevenção estudos apontam que o controle glicêmico rigoroso e intervenções precoces reduzem significativamente a incidência de complicações (MALERBI; FRANCO, 1992). O investimento em educação em saúde, acompanhamento na atenção básica e mudanças no estilo de vida são estratégias fundamentais para evitar a progressão da doença e a necessidade de atendimento terciário.
Atuação da enfermagem apresenta-se como forma eficiente de se atingir os níveis terapêuticos desejáveis para o controle do DM II, em que o desenvolvimento de programas com intervenções de enfermagem são eficazes em ajudar os pacientes com diabetes tipo II a melhorar suas práticas de autocuidado. A educação em saúde destaca-se como campo estratégico para implementação de intervenções de enfermagem com vistas à promoção do autocuidado às pessoas com DMII.
As intervenções de enfermagem que obtiveram resultados satisfatórios foram realizadas a partir de um acompanhamento ao paciente, demandando mais tempo e um número maior de encontros do que os apresentados nos atendimentos de rotina. A implementação de um programa planejado de apoio desenvolvi mental de enfermagem, envolvendo ensino, orientações, apoio e um ambiente adequado para prática de promoção do autocuidado a pacientes diabéticos, apontou resultados satisfatórios em relação aos escores das práticas de autocuidado quando comparado ao grupo controle, que recebeu o atendimento de rotina.
A Diabetes Mellitus II (DM) é uma doença de alta prevalência global e um dos principais desafios de saúde pública. Tratasse de uma condição de saúde, na qual o corpo não consegue usar a insulina de forma eficaz; o que ao longo do tempo pode causar várias complicações, incluindo problemas cardíacos, circulatório, renais, ocular, entre outros, no rins, nos olhos e problemas nos pés, entres outros. É importante gerenciar o diabetes tipo II com cuidado, seguindo as recomendações médicas e adotando um estilo de vida saudável para reduzir o risco de complicações. (ARTASENSI et al., 2020).
O DM II está associado a um alto custo econômico para os indivíduos e para a sociedade, devido aos custos diretos do tratamento e às complicações associadas à doença, bem como aos custos indiretos decorrentes da perda de produtividade e das baixas por doenças. A prevenção adequada é crucial para reduzir a carga sobre o sistema terciária e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES MELLITUS, 2020).
A adesão ao tratamento de pessoas com DM tem sido um desafio aos profissionais de saúde, pelo fato de ser influenciada por diversas variáveis e por exigir mudanças tanto no comportamento como no estilo de vida do paciente. Uma das principais mudanças necessárias são os hábitos alimentares; contudo, essas mudanças sofrem influências de diversos fatores e nem sempre são fáceis de serem internalizadas e colocadas em prática. A dificuldade de mudança nos hábitos alimentares pode ser compreendida pela complexidade que envolve o comportamento alimentar. Nos estudos analisados, o hábito alimentar foi o principal fator limitante para a adesão ao tratamento nutricional. Sobre isso, é preciso considerar que os hábitos alimentares são formados desde a infância. Modificá-los na vida adulta não é algo fácil e envolve aspectos diversos19. Além de que, o comportamento alimentar pode ser determinado por muitos fatores, que incluem desde aspectos emocionais, sociais, culturais e econômicos até aspectos ambientais de um indivíduo ou de uma coletividade. O aspecto emocional foi o segundo fator limitante mais relatado, porque as emoções podem acarretar impactos na adesão à dieta, pois os hábitos alimentares vão além de atender às necessidades fisiológicas do homem, uma vez que possuem um caráter simbólico, que envolve emoções e sentimentos. O modo de preparar e de servir certos alimentos, por exemplo, são alguns dos valores simbólicos, inscritos na alimentação, que exprimem identidades sociais e confirmam o caráter simbólico da comida.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Diabetes Mellitus tipo 2 representa um dos maiores desafios para a saúde pública na atualidade, especialmente no contexto da atenção terciária. A elevada incidência de complicações crônicas decorrentes do mau controle glicêmico tem resultado em uma demanda crescente por cuidados de alta complexidade, sobrecarregando hospitais e unidades especializadas. Os impactos são perceptíveis tanto no aspecto clínico, com piora na qualidade de vida dos pacientes, quanto no aspecto estrutural e financeiro dos serviços de saúde.
A análise da literatura demonstrou que grande parte das internações por DM2 poderia ser evitada com ações eficazes na atenção primária e secundária. No entanto, a fragmentação da rede de atenção, aliada à falta de recursos e à baixa adesão dos pacientes ao tratamento, contribui para o agravamento do quadro clínico e a necessidade de cuidados especializados.
Nesse contexto, é imprescindível que os gestores de saúde invistam na qualificação das equipes multiprofissionais, na integração entre os níveis de atenção e no fortalecimento das estratégias de prevenção e promoção da saúde. A organização de uma linha de cuidado contínua e eficiente para o portador de DM2 pode reduzir significativamente os impactos negativos da doença na assistência terciária, promovendo um atendimento mais resolutivo, humanizado e sustentável.
Portanto, reforça-se a importância de um olhar ampliado sobre o cuidado ao paciente com Diabetes Mellitus tipo 2, que vá além do tratamento hospitalar e considere a integralidade da atenção, garantindo acompanhamento adequado e permanente em todas as fases da doença.
REFERÊNCIAS
AMERICAN DIABETES ASSOCIATION. Standards of Medical Care in Diabetes – 2024. Diabetes Care, v. 47, supl. 1, 2024. Disponível em: https://care.diabetesjournals.org/. Acesso em: 01 abr. 2025.
Brasil, Ministério da Saúde. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica: diabetes mellitus. Brasília: Ministério da Saúde, 2013.
BRASIL. Ministério da Saúde. DATASUS – Sistema de Informações Hospitalares. Brasília: MS, 2023. Disponível em: http://www.datasus.gov.br. Acesso em: 01 abr. 2025
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BRASIL. Ministério da Saúde. DATASUS – Sistema de Informações Hospitalares. Brasília: MS, 2023. Disponível em: http://www.datasus.gov.br. Acesso em: 01 abr. 2025.
MALERBI, D. A.; FRANCO, L. J. Multicenter study of the prevalence of diabetes mellitus and impaired glucose tolerance in the urban Brazilian population aged 30–69 yr. Diabetes Care, v. 15, n. 11, p. 1509–1513, 1992.
OLIVEIRA, J. S. et al. A atenção terciária e as demandas dos pacientes com doenças crônicas. Revista Saúde em Debate, v. 44, n. 1, p. 123-132, 2020.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Global report on diabetes. Geneva: WHO, 2016. Disponível em: https://www.who.int. Acesso em: 01 abr. 2025.
BRASIL. Diretriz Sociedade Brasileira de Diabetes. 2020. Disponível em: http://www.saude.ba.gov.br/wp-content/uploads/2020/02/Diretrizes-Sociedade-Brasileira-de-Diabetes-2019-2020.
SBD – Sociedade Brasileira de Diabetes. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes 2023. São Paulo: Clannad Editora Científica, 2023.
SOUZA, M. T.; SILVA, M. D. C. Complicações do diabetes tipo 2 em pacientes hospitalizados. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 73, n. 2, p. 45-51, 2020.
1Graduando em Enfermagem pela Faculdade Santa Luzia.
2Docente Especialista do Curso de Enfermagem. Faculdade Santa Luzia – FSL e orientadora.