DIABETES GESTACIONAL

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202504161109


Carolina Bilich Queiroz1
José Carlos Nogueira Naccer2
Yuri Silva Santos3
Bruna Parteli David4
Renan Ferreira Camargo5
Lyara Alves Lorenzini6
Ioannis Piantavinha Sakulis7
Gabriel Iure Ribeiro de Freitas8
Ana Beatriz Sirtoli Stefenoni9
Laura Terra Lannes Bussade10


RESUMO

A diabetes gestacional tem chamado atenção devido ao aumento de números nos últimos anos. Durante a gravidez, acontecem muitas mudanças hormonais no metabolismo feminino, para permitir o desenvolvimento do bebê acarretando no aumento do nível de glicose no sangue. O controle do diabetes gestacional é realizado através de uma reeducação alimentar, precisando ajustar suas necessidades de nutrientes e a prática de atividades físicas.

O presente artigo ao priorizar como eixo de suas análises, a diabete gestacional, tenta realizar uma revisão, cujo foco é mostrar que, no contexto da realidade brasileira, a diabete gestacional e suas consequências constituem questões sérias para a saúde da mãe e do bebê. Os muitos estudos que abordam a diabetes gestacional normalmente não existem sintomas e pode se desenvolver em qualquer mulher. Devido a isso, é de suma importância o acompanhamento de um médico na gestação, para que se possa descobrir qualquer problema que possa ser prejudicial a própria mãe e o filho o quanto antes.

Palavras-chave: Diabetes Gestacional – sintomas – glicose – reeducação alimentar

SUMMARY

The gestational diabetes is calling the attention for it’s increasing number in the last few years during pregnancy. There is a lot of metabolic changes in the woman body, so it can allow the baby’s develop properly. As an example glucose levels are increased in the pregnant bloodstream.

The control of Gestational Diabetes is, most often, made by physical activities and nutritional reeducations, considering the personal intake nedds.an increased levels of glucose in the bloodstream.

The present article, when prioritizing the Gestational Diabetes attempts to review and, considering the Brazilian reality, show that gestational diabetes and its consequences to the health of the pregnant woman and the baby are serious.

Keywords:  Gestational diabetes – symptoms – glucose – nutritional education.

1. INTRODUÇÃO

Na geração de uma nova vida, o corpo da mulher apresenta uma série de mudanças que garantem o desenvolvimento do feto e o seu nascimento. Estas mudanças podem trazer o agravamento de algum problema anterior ou mesmo o desenvolvimento de algum novo problema ou doença. Para que a mãe tenha um bom desenvolvimento da gravidez, bem como assegure os cuidados ao bebê, os programas de pré-natal nos serviços de saúde devem ser procurados desde os primeiros meses.

Dentre o grupo de doenças que podem ser controladas durante a gravidez, através do programa de pré-natal, temos o diabetes. Existem formas de diabetes que são desenvolvidas durante a gestação – diabetes gestacional, uma doença silenciosa que atinge a mulher na gravidez e não sendo controlada pode representar risco tanto para a mãe quanto para o bebê (RIO DE JANEIRO, 1999).

Este trabalho se justifica pelo oportuno interesse em aprofundamento no tema de diabetes na gestação e sua relevância no que concerne à necessidade de acompanhamento da gestação (pré-natal) a fim de prevenir diversas consequências à saúde da mulher e do bebê.

Apresenta-se como objetivo a conceituação do diabetes gestacional, bem como apresentar os diversos fatores que influenciam seu desenvolvimento, a partir do qual serão abordados aspectos pertinentes à prevenção e tratamento. 

2. O DIABETES

O diabetes mellitus se caracteriza como um grupo de alterações genéticas provenientes da intolerância aos carboidratos. 

O diabetes pode ser diagnosticado previamente e posteriormente à gravidez. São definidos como diabetes pré-natal e diabetes gestacional respectivamente.

O diabetes pré-natal pode complicar a gravidez, pois devido ao aumento da glicemia materna, acarreta hiperglicemia, hiperinsulinemia fetal, levando a um aumento de doenças e morte de bebês. 

Diferencia-se diabetes em: tipo 1 que está relacionado à doença autoimune que atinge jovens; e tipo 2 relacionada à obesidade e ao sedentarismo (MAUAD FILHO, et al., 1998).

Identificado pela primeira vez durante a gravidez, o diabetes gestacional caracteriza-se como uma das complicações clínicas mais frequentes na gestação. Este pode persistir ou não após o nascimento do bebê e pode aumentar a chance de a mulher desenvolver o diabetes tipo 2 no futuro (REICHELT, OPERMANN e SCHIMIDT, 2002).

Os genes do diabetes gestacional e do diabetes tipo 2 são semelhantes, embora o que ocorre não é a deficiência acentuada na produção de insulina, mas a resistência à ação desta substância. Esta doença origina-se a partir da produção de hormônios pela placenta que podem bloquear a ação da insulina, responsável pelo transporte do açúcar do sangue para as células, associado ao aumento dos níveis séricos de estrogênio, prolactina, progesterona, cortisol e somatomamotrofina coriônica que visam manter constante o suprimento de glicose para o feto (MAUAD FILHO et al., 1998; REICHELT, OPERMANN e SCHIMIDT, 2002).

O diagnóstico pode ser identificado após a 20ᵃ semana de gravidez, pois a partir daí o nível desses hormônios começa a ficar mais elevado, fazendo com que a insulina tenha mais dificuldade de exercer sua função, aumentando as chances de desenvolver o diabetes gestacional. 

Alguns sinais ajudam a identificar a possibilidade de diabetes gestacional, quais sejam: muito desejo de urinar, sede intensa e ganho excessivo de peso. Além desses sinais, alguns fatores de risco devem ser considerados: herança genética, gravidez acima do peso com ganho de peso durante a gravidez, excessiva gordura corporal, baixa estatura (≤ 1,50), primeira gravidez depois dos 25 anos, portadoras de síndrome de ovário policístico, antecedentes de morte fetal ou neonatal, de macrossomia ou de diabetes gestacional anterior, bebês com má formação congênita anterior (REICHELT, OPERMANN e SCHIMIDT, 2002; RIO DE JANEIRO, 1999).

3. A PRODUÇÃO E AÇÃO DA INSULINA

O diabetes é considerado um fator de risco devido aos distúrbios causados no metabolismo. Um indivíduo que não tem glicose nas células, o organismo vai obter energia de outra fonte (lipídios). 

A produção da insulina é desenvolvida nas células betas das ilhotas pancreáticas e se inicia a partir da síntese da pré-pró-insulina. No retículo endoplasmático rugoso ocorre a síntese proteica e, a pré-pró-insulina se converte em pró-insulina. Essa pró-insulina é enviada para o complexo golgiense que glicosila e endereça a pró-insulina para a membrana plasmática que irá lançá-la na corrente sanguínea.

A insulina chega pelo sangue até sua célula alvo, por ser hidrossolúvel, não consegue atravessar a membrana plasmática. Sendo assim, ela possui um receptor específico denominado tirosina quinase. 

Quando a insulina se liga ao receptor específico estimula a transcrição gênica de um RNA mensageiro que codifica a proteína gluti-4. Essa proteína irá atuar na membrana plasmática permitindo a entrada de glicose na célula (DE ROBERTIS, 2006).

A glicose é o principal sinalizador para o pâncreas liberar a insulina pelas células β das ilhotas de Langerhans. A maior parte da glicose vai para a via glicolítica, onde a maior parte é transformada em glicogênio (estoque de glicose). Em situação de jejum prolongado e diabetes, as células estão com falta de glicose, há quebra dos triglicérides para obter energia. O diabetes é um distúrbio no metabolismo da glicose do organismo, no qual a glicose presente no sangue passa pela urina sem ser usada como um nutriente pelo corpo (GUYTON, HALL apud LUCENA, 2007).

4. RISCOS PARA A MÃE E BEBÊ

Alguns efeitos podem ser identificados na mãe, como: pré-eclâmpsia (hipertensão na gestação), ganho de peso excessivo e, até um aborto precoce (tabela 1). 

Os riscos para o bebê incluem: crescimento fetal exagerado, maior sujeição à icterícia (amarelidão da pele), doenças respiratórias, insuficiência pulmonar, ou até sofrer traumatismos, como fraturar algum osso ao nascer. Como cerca de dois terços do açúcar da mãe vão para o bebê, a quantidade extra de glicose no corpo sobrecarrega o pâncreas da criança, que passa a produzir mais insulina (MENESES, ET AL., 1999; REICHELT, OPERMANN e SCHIMIDT, 2002).

Após o parto o bebê pode vir a sofrer, também, de hipoglicemia (teor do sangue abaixo do normal) ou até levar à morte (súbita), caso a doença não seja tratada adequadamente.

Na vida adulta (deste bebê) há maior chance de desenvolvimento de diabetes ou outros problemas metabólicos (REICHELT, OPERMANN e SCHMIDT, 2002).

Tabela 1: Fatores de risco para a diabetes gestacional Fonte: Sociedade Brasileira de Diabetes- Diabetes na parte Clinica.

5. DADOS E DISCUSSÃO

Estudo desenvolvido na década de 1990 apontou para a prevalência de 3% das gestantes com diabetes gestacional. Enquanto que, em estudos recentes apontam para uma prevalência de 7,6% das mulheres grávidas (DETSCH ET AL., 2011; MENESES ET AL., 1999).

No estudo desenvolvido por Meneses et al. (1999), foi encontrada uma maior morbidade neonatal no grupo de diabetes gestacional, comparada com os recém-nascidos de mães não diabéticas. E apresentou dados relativos à importância do controle da diabetes gestacional: houve uma menor morbidade neonatal entre as gestações que receberam o controle metabólico. Segundo a Associação Protetora Dos Diabéticos de Portugal, tem-se vindo a registrar o aumento de casos de Diabetes na Gestacional nos últimos anos. (Figura 1)

Figura 1: Relatório anual do observatório Nacional da Diabetes.

Fonte: Diabetes- Factos e Números 2012- Relatório Anual do observatório Nacional da Diabetes- Portugal.

6. RECOMENDAÇÕES

A Organização Mundial de Saúde (OMS), a Sociedade Brasileira de Diabetes, Reichelt, Opermann e Schmidt (2002), membros do Grupo de Trabalho de Diabetes e Gravidez de Porto Alegre-RS, apresentam como recomendações o rastreamento do diabetes gestacional para todas as gestantes, a partir da utilização do teste de glicemia em jejum. Este rastreamento releva-se pela simplicidade, seu baixo custo e validade, a partir disto pode (e deve) ser aplicado em todas as gestantes independente dos fatores de risco.

O ponto de corte da glicemia de jejum para o rastreamento positivo, independente do momento da gravidez, pode ser estabelecido em 85 ou 90mg/dl (Figura 2).

Este rastreamento deve ser recomendado na primeira consulta de pré-natal e repetido após a 20ᵃ semana. Se as mulheres apresentarem o teste de glicemia em jejum positivo na consulta de pré-natal, o caso de diabetes pré-gestacional será detectado – já possuíam diabetes antes da gestação e não sabiam, e estas devem ser encaminhadas para os especialistas. As mulheres que apresentarem o teste de glicemia em jejum negativo no pré-natal (a grande maioria), e após a 20ᵃ semana for repetido o teste e der positivo, estas deverão ser encaminhadas para o teste diagnóstico. Resultados com valores maiores ou iguais a 85(90)mg/dl deverão fazer o teste diagnóstico (figura 3).

tabela diabetes gestacional

Figura 2: Procedimento para o rastreamento do diabetes gestacional. Fonte: Reichelt, Opermann e Shimdt (2002, p. 575).

O diagnóstico recomendado pela Organização Mundial de Saúde e Associação Americana de Diabetes é o teste de tolerância com sobrecarga oral de 75g de glicose, o qual deverá seguir/respeitar uma série de recomendações padrão do teste, que deverá ser aplicado entre a 24ᵃ e a 28ᵃ semana de gestação – esta variação deve-se ao resultado positivo no primeiro trimestre e aos demais fatores de risco.

diabetes 2

Figura 3: Procedimento para o rastreamento do diabetes gestacional. Fonte: Reichelt, Opermann e Shimdt (2002, p. 576).

O grupo de estudos de diabetes e gravidez preconiza o ponto de corte de 110mg/dl para glicemia em jejum e 140mg/dl para o valor de 2h após sobrecarga de glicose para o diagnóstico de diabetes gestacional. 

Após diagnosticado a diabetes gestacional, o tratamento adequado deve ser empregado. O tratamento deve incluir orientação alimentar para diabetes, associado a exercícios físicos (REICHELT, OPERMANN e SCHMIDT, 2002).

Geralmente o diabetes gestacional pode ser controlada com medidas simples com dieta e exercícios aeróbicos leves, como caminhada, natação e hidroginástica devido à possibilidade de reduzir a taxa de glicose no sangue e evitar a obesidade – um dos principais fatores de risco desta doença. Os adoçantes artificiais devem ser usados moderadamente evitando aqueles à base de sacarina (RIO DE JANEIRO, 1999).

Em alguns casos será necessária a administração medicamentosa, como a administração de insulina, a qual deverá ser seguida de monitoramento domiciliar das glicemias capilares realizadas de 3 a 4 vezes por dia. A insulina é orientada quando o nível glicêmico continuar elevado (jejum ≥105mg/dl e após 2h ≥120mg/dl), apesar da dieta e exercícios físicos. Em geral deverá haver um controle glicêmico permanente semanal (REICHELT, OPERMANN e SCHMIDT, 2002).

Aproximadamente 68% das mulheres que desenvolveram a diabetes gestacional, apresentavam história familiar de diabetes (gráfico 1) e no terceiro trimestre de gestação 74% foi confirmado, por esse período ser de maior produção dos hormônios placentários e que tem ação hiperglicemiante (gráfico 2).

7. CONCLUSÃO

O diabetes representa um fator de risco na gestação e no nascimento do bebê, mas o acompanhamento pré-natal nos serviços de saúde e o cumprimento de suas recomendações de controle metabólico, por parte da mãe, garantem a redução destes riscos a níveis mínimos e possibilitam à mãe e à criança uma gravidez e um parto normais e o nascimento de uma criança sadia (MENESES ET AL., 1999; REICHELT, OPERMANN e SCHMIDT, 2002).

Com o acompanhamento adequado de mães com diabetes gestacional tem-se observado uma queda na incidência de prematuridade. Os estudos de Langer et al. (apud MENESES ET AL., 1999) afirmam que os níveis de glicemia maternos quando mantidos entre 87-104 mg/dl durante a gestação, mantém o peso do recém-nascido comparável ao da população geral de recém-nascidos.   

REFERÊNCIAS

DE ROBERTIS, E.M.F.; HIB, J. Bases da Biologia Celular e Molecular. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. 389p.

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MENESES JA, DINIZ EMA, SIMÕES A, VAZ FAC. Morbidade neonatal em recém-nascidos de mães com diabetes gestacional. Rev Pediatria, v.21, n.1, p.30-36, 1999. [Citado em: 16 mar 2019]. Disponível em: http://bases.bireme.br/cgi-bin/wxislind.exe/iah/online/?IsisScript=iah/iah.xis&nextAction=lnk&base=LILACS&exprSearch=268434&indexSearch=ID&lang=p.

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Sociedade Brasileira de Diabetes: Diabetes na prática clínica, capítulo 8, Tratamento do Diabetes gestacional e da gestante com diabetes. Disponível em: https://www.diabetes.org.br/ebook/component/k2/item/59-tratamento-do-diabetes-gestacional-e-da-gestante-com-diabetes