DESMAME PRECOCE: ESTUDO COMPARATIVO ENTRE MULHERES COM CLASSE SOCIAL DIFERENTES

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8277966


Elizabeth Lacerda da Silva Rosário;
Edson Alexandre;
Leucilene Maria Souza;
Marta Rodrigues Amorim;
Orientadora: Prof. Estela Mara Nicolau


 Resumo

O leite materno é a principal fonte de nutriente para lactentes nos primeiros meses de vida. Estudos comprovam sua importância e encorajam as mulheres a amamentarem seus filhos.

As mulheres que têm uma alimentação equilibrada, fornecem as condições ideais para a produção do leite materno. O desmame precoce é um dos responsáveis pelo aumento considerável da mortalidade infantil. O objetivo deste estudo, foi saber os fatores que levam às possíveis causas do desmame precoce, e este foi realizado na região sul da cidade de São Paulo, no 2° semestre de 2006. A pesquisa foi feita através de formulário com 3 mulheres que amamentaram seus filhos. Este foi um estudo descritivo com abordagem quantitativa e de campo. Todas as mulheres entrevistadas eram bem esclarecidas sobre o assunto, e as mesmas consideram o tempo de licença maternidade insuficiente, porém, não influenciando na sua amamentação. Das mulheres pesquisadas, as que tinham entre 31 e 35 anos, amamentaram seus filhos no período entre 3 e 6 meses, ou seja, não cumpriram o tempo suficiente necessário para a lactação do bebê. De acordo com a Unicef o tempo adequado de amamentação é de no mínimo 6 meses. Os resultados da pesquisa, mostraram que houve o desmame precoce entre as mulheres onde o maior percentual prevaleceu entre aquelas que pertenciam à classe social C com renda entre RS 1000,00 e R$ 2.500,00 mensais, seguidas das que pertenciam à classe social com renda entre R$ 500,00 e R$ 1.000,00 mensais. Isso nos mostra que independente da classe social a que pertença, seja ela A, B, C ou D, as mulheres deixaram de amamentar seus filhos até o período necessário, apesar de terem o conhecimento da importância sobre a amamentação, bem como os benefícios que o leite materno traz ao bebê.

Amigo da Criança. Esse projeto desencoraja o desmame visando diminuir a mortalidade infantil e oabandono dos recém nascidos. (REZENDE, 2005)

O leite humano é muito mais do que simples conjunto de nutrientes; pela sua complexidade biológica é uma substância viva, com atividade protetora e imunomoduladora. Não apenas proporciona proteção contra infecções e alergias, como também estimulam o desenvolvimento adequado do sistema imunológico e a maturação do sistema digestivo e neurológico. Nos primeiros seis meses de vida, o leite materno está naturalmente adaptado para atender às necessidades nutritivas e promover um crescimento e desenvolvimento adequado. Após, deverá ser completado com outros tipos de alimentos, e mantido se possível até dois anos de idade, pois, além de uma fonte significativa de energia e nutrientes, é um fator de proteção contra doenças. (REGO, 2002)

A composição do leite humano é determinada no sentido de oferecer energia e nutrientes necessários em quantidades apropriadas. O leite humano contém fatores que conferem a proteção contra infecções virais e bacterianas. As reações alérgicas raramente ocorrem com seu uso. Em uma visão sistêmica da composição, o leite humano reúne mais de 150 substâncias diferentes. Uma mistura homogênea que os microscópios apresentam em três frações: emulsão, suspensão e solução. A Fração emulsão corresponde à fase lipídica do leite humano, na qual se concentra os óleos, as gorduras, os ácidos graxos livres, as vitaminas e demais constituintes lipossolúveis. A fração de suspensão refere-se à fase suspensa do leite humano, na qual as proteínas e quase a totalidade do cálcio e fósforo encontram-se presentes na forma micelar, constituindo uma suspensão coloidal do tipo gel. (BARROS, 2002)

A fração solução congrega todos os constituintes hidrossolúveis, como vitaminas, minerais carboidratos, proteínas do soro, enzimas e hormônios, podendo ser considerado o soro do leite sendo a água o seu constituinte principal. (BARROS, 2002)

O artigo 392, da CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas), alterado pela Lei 10421/02, garante à empregada gestante, o direito à licença-maternidade de 120 dias, sem prejuízo do emprego e do salário.

A Mulher terá direito após o nascimento do filho, e até que ele complete 6(seis) meses de idade a 2(dois) intervalos de meia hora cada um para a amamentação,durante a jornada de trabalho.

A Medida Provisória n° 242 de 24 de março de 2005 altera algumas regras do salário maternidade. Art. 1° O art. 392 da Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei n° 5.452, de 1° de maio de 1943, passa a vigorar com a seguinte redação:

É necessário lembrar que não existe carência para a concessão de salário-maternidade em caso de trabalhadoras empregadas, empregadas domésticas e trabalhadoras avulsas. Esta norma permanece sem alteração. A data de início do salário-maternidade é fixada de acordo com a data do atestado médico (que pode ser emitido em até 29 dias antes do parto) ou de acordo com a certidão de nascimento da criança. (PLANALTO, 2002)

Segundo o pesquisador da UNICAMP Waldir Quadros, divide-se a classe média em três níveis de renda: alta classe média considerada A (renda familiar acima de R$ 5.000), média classe média considerada B (de R$ 2.500 a R$ 5.000) e baixa classe média considerada C (de R$ 1.000 a R$ 2.500), abaixo estão à massa trabalhadora considerada D (renda familiar de R$500 a R$1.000), os pobres E (menos de R$500). (QUADROS, 2004)

 2. Objetivo

Esse estudo tem como objetivo avaliar o tempo de amamentação de mães com diferenças sócio-econômicas das mães que residem na região Sul da cidade de São Paulo e o conhecimento delas quanto à amamentação.

3. Metodologia

3.1 Tipo de estudo

Trata-se de um estudo descritivo, com abordagem quantitativa e de campo. Foram realizados através de questionários elaborados com 16 questões envolvendo questões sócio-econômicas e de amamentação, conforme anexo II. Onde as participantes foram informadas acerca dos objetivos do estudo e justificativa da pesquisa.

3.2 Amostra, local e período de coleta

Para a realização deste estudo foi utilizada uma amostra de conveniência no total de 3 mulheres em diferentes classes sócio-econômica.

A coleta de informações foi realizada no 2° semestre de 2006, na região Sul da cidade de São Paulo, onde existe um contraste de classes sócio-econômicas independentes de sua localização.

O questionário foi entregue individualmente para as mães.

3.3 Respeitando os direitos dos pesquisados

Em respeito aos direitos dos sujeitos, foi solicitado sua participação voluntária. Cada entrevistada assinou o termo de consentimento livre e esclarecido inserido no estudo como anexo I atendendo as exigências da resolução 196/96 do CNS.

 4. Resultados e Discussões

TABELA 1 – Distribuição de idade por faixa etária das mães entrevistadas que amamentaram seus filhos. São Paulo, 2006.

O maior percentual de mulheres que amamentaram seus filhos neste estudo, encontravam-se na faixa etária entre 31 e 35 anos sendo elas 33% do total, seguidas por aquelas entre 26 e 30 anos com 24%, respectivamente 36 a 40 anos com 18%, 21 a 25 com 13%, de 41 a 46 com 9% e a menor porcentagem está entre 15 a 20 anos com 3%.

TABELA 2- Distribuição de Escolaridade das mulheres entrevistadas. São Paulo, 2006.

A escolaridade das mulheres entrevistadas que amamentaram seus filhos prevaleceu com 33% das quais tinham somente ensino fundamental, enquanto 27% com ensino superior incompleto, 24% do ensino médio e 16% com ensino superior concluído.

TABELA 3-Distribuição de profissões de mulheres entrevistadas. São Paulo, 2006.

O maior índice da profissão das mulheres pesquisadas foram com 36% outras profissões que se incluem: recepcionistas, Aux. de Limpeza, Copeira, Ascensorista e Merendeira. Já com 30% às Profissões Técnicas, 12% para mulheres do Lar e com Nível Superior, 10% Domésticas.

TABELA 4- Distribuição de estado civil das mulheres entrevistadas. São Paulo, 2006.

O maior percentual das mulheres pesquisadas com 58% são casadas, seguidas de 42% que são solteiras, isso mostra que nesse estudo há um grande número de mulheres solteiras.

TABELA 5- Distribuição das mulheres pesquisadas em diferentes classes econômicas. São Paulo, 2006.

Considerando que os valores referentes à alta classe média A (renda familiar acima de R$ 5.000), média classe média B (de R$ 2.500 a R$ 5000,00) e baixa classe média C (de R$1.000,000 à R$ 2500,00); Abaixo estão a massa trabalhadora D (renda familiar de R$ 500,00 à R$ 1000,00) e os pobres classe E (menos de R$ 500).

TABELA 6 – Distribuição de Tipo de Moradia as Mulheres pesquisadas. São Paulo, 2006.

O Maior percentual das mulheres pesquisadas no que diz respeito ao tipo de moradia neste estudo prevaleceu com 66% que residiam em imóvel próprio e 34% residem em imóvel de aluguel.

TABELA 7- Distribuição de acesso a meios de comunicação (tais como televisão, rádio, Internet, revista, jornal) das mulheres pesquisadas. São Paulo, 2006.

O maior percentual no presente estudo das mulheres pesquisadas em relação ao acesso a meios de comunicação (tais como televisão, rádio, Internet, revista, jornais) foi 100%.

TABELA 8 – Distribuição de números de filhos das mulheres pesquisadas. São Paulo, 2006.

Considerando o número de filhos das mulheres pesquisadas neste estudo foram 42% que tiveram apenas 1 filho, 27% tiveram 2 filhos e 3% com 3 filhos, os demais 27% tiveram mais de 3 filhos.

 TABELA 9- Distribuição sobre Orientação suficiente sobre o Aleitamento Materno entre as mulheres pesquisadas. São Paulo,2006.

No que diz respeito à orientação suficiente sobre o aleitamento materno entre as mulheres pesquisadas, foram 81% as que receberam orientação adequada, seguidas de 19% que não receberam orientações suficientes.

TABELA 10 – Distribuição sobre o tempo que cada mãe amamentou seu filho, São Paulo, 2006.

Das mulheres pesquisadas no que diz respeito ao tempo que cada uma das mães amamentou seu filho, temos os seguintes resultados: 6% amamentaram seus filhos de 3 a 6 meses, onde nos mostrou que houve o desmame precoce, 21% por mais de 1ano, 13% de 6 meses a 1ano e 0% até 3 meses.

 TABELA 11 – Distribuição sobre o tempo suficiente de amamentação entre as mulheres pesquisadas. São Paulo – 2006.

Os dados obtidos das mulheres pesquisadas concluiu que 51% amamentaram seus filhos por tempo suficiente, sendo que 49% não amamentaram seus filhos pelo período suficiente, sendo elas divididas em classe C com o maior percentual de 27%, classe D com 13% e a classe C com 9%.

TABELA 12 – Distribuição sobre a importância da Amamentação entre as mulheres entrevistadas. São Paulo, 2006.

Segundo o estudo, a prevalência foi 100% em relação ao que diz respeito à importância da amamentação para as mulheres pesquisadas, pois todas elas tinham conhecimento suficiente da importância do aleitamento materno para seus filhos.

TABELA 13 – Distribuição sobre a substituição do leite materno por outro alimento para as mulheres pesquisadas. São Paulo, 2006.

O maior índice no que diz respeito à possível substituição do leite materno por outro alimento entre as mulheres pesquisadas foram 80% não substituiriam o leite materno por outro alimento e 20% substituíram, dentro dos 20% fica a classe E com 9%, C com 6% e a D com 5%, apesar de terem conhecimento sobre a importância do leite materno, bem como os benefícios para os seus filhos.

TABELA 14 – Distribuição sobre como as mães que amamentaram seus filhos consideraram sua alimentação durante a amamentação. São Paulo, 2006.

Para as mulheres pesquisadas em relação à sua alimentação durante o período da amamentação foram 39% classificadas bom, 34% sima, 81% regular e 9% classificaram ruim, com isso trazendo possíveis prejuízos em relação ao  estado nutricional das mulheres em questão.

TABELA 15 – Distribuição sobre se houve ou não influência da alimentação na produção do leite materno entres as mulheres pesquisadas. São Paulo- 2006.

O maior percentual sobre a influência ou não da alimentação na produção do leite materno, é de 61% das mães pesquisadas que acharam que uma boa alimentação influencia na produção do leite, enquanto 39% que pertence às classes E com 18%, C com 15% e D com 6%, acharam que a alimentação não influencia na produção do leite materno.

TABELA 16 – Distribuição sobre o tempo suficiente de licença maternidade para as mães pesquisadas. São Paulo, 2006.

No que diz respeito ao tempo suficiente da licença maternidade para as mulheres pesquisadas foram 52% disseram que o tempo da licença maternidade não é suficiente, enquanto 48% acharam que sim.

5. Conclusão

Com este estudo podemos concluir que maior número as mulheres pesquisadas, no que diz respeito ao desmame precoce, bem como classe sócio-econômica diferenciada, prevaleceu para as de 31 a 35 anos, com 33% do total. A escolaridade teve índice de 33% de mulheres com ensino fundamental, sendo que 36% da profissão de nível técnico, que incluem recepcionistas, auxiliar de limpeza, copeira, ascensorista e merendeira, 58% das mulheres são casadas. Em relação à classe sócio-econômica prevaleceu a classe C com 43%, já 66% residem em imóvel próprio, 10% tem acesso a meios de comunicação, 42% das mulheres pesquisadas tiveram apenas 1 filho.

No que diz respeito à orientação sobre o aleitamento materno 81% receberam orientação. 51% acharam que o seu tempo de amamentação foi suficiente, enquanto 49% sendo elas divididas em classe C com o maior percentual de 27%, D com 13% e E com 9%, acharam o seu tempo insuficiente. 100% das mulheres consideraram a amamentação importante. 20% substituíram leite materno por outro alimento, dentre estes estão às classes E com 9%, C com 6% e a classe D com 5%. 39% consideraram sua alimentação adequada no período da amamentação. 61% acharam que uma boa alimentação influencia na produção do leite, entretanto 39% separados por classes E 18%, C 15% e D 6% das mães pesquisadas acharam que não influencia.

E quanto à licença maternidade, 52% consideraram que este não é suficiente e que poderia ser prorrogado por mais tempo.

Já 66% das entrevistadas amamentaram seus filhos de 3 a 6 meses, mostrando que houve dentre desse percentual o desmame precoce entre 9 das mulheres pesquisadas onde o maior percentual prevaleceu aquelas que pertenciam à classe social C com renda entre R$1000,00 à R$ 2.500,00, seguidas de 7 mulheres que pertenciam à classe social D com renda de R$500,00 a R$1000,00 e por fim 5 mulheres da classe E com renda menor que R$500,00. Isso nos mostra que independente da classe social, seja ela C, D ou E, nesse estudo foi comprovado que as mulheres apesar de terem o conhecimento  necesário sobre alimentação, aleitamento materno, a importância da amamentação bem como os benefícios que o leite materno traz ao bebê, deixaram de amamentar seus filhos até o período necessário.

Portanto, acreditamos que todos os objetivos propostos neste estudo, que foram avaliar o tempo de amamentação de mães com diferentes classes sócio-económicas e os conhecimentos delas quanto à amamentação, foram contemplados. 

Diante destes fatos, faz-se necessário criar estratégias diferenciadas para conscientizar as mulheres da importância do aleitamento, e sobretudo dos malefícios que a ausência deste pode causar às crianças.

6. Referências Bibliográficas

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