DESIGUALDADE DE GÊNERO NO ESPAÇO RURAL

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102410090819


Nataly Neves Campelo1
Juraildes Barreira Nunes2
Jeany Castro dos Santos3
Rosa Maria da Silva Leite4
Tatiani Pereira de Souza Ferreira5


Resumo: Este estudo aborda as desigualdades de gênero no espaço rural, com foco nas experiências das mulheres em uma sociedade patriarcal e nos impactos dessa estrutura no cotidiano das mulheres rurais. A metodologia adotada segue a perspectiva do materialismo histórico-dialético, explorando aspectos históricos para compreender as configurações do sistema capitalista patriarcal, a partir de uma revisão de literatura. A pesquisa visa dar visibilidade às mulheres camponesas, destacando a falta de acesso à informação como um obstáculo ao fortalecimento das lutas contra as ideologias patriarcais, e reforça a importância de que os movimentos de emancipação cheguem às mulheres do meio rural.

Palavras-chave: Trabalho Rural. Patriarcado. Capitalismo. Movimentos Sociais.

ABSTRACT: This study addresses gender inequalities in rural areas, focusing on the experiences of women in a patriarchal society and the impacts of this structure on the daily lives of rural women. The methodology adopted follows the perspective of historical-dialectical materialism, exploring historical aspects to understand the configurations of the capitalist-patriarchal system through a literature review. The research aims to bring visibility to rural women, highlighting the lack of access to information as a barrier to strengthening the fight against patriarchal ideologies, and emphasizes the importance of ensuring that emancipatory movements reach women in rural areas.

Keywords: Rural Work. Patriarchy. Capitalism. Social Movements.

INTRODUÇÃO

A condição das mulheres, tanto no ambiente doméstico quanto no trabalho assalariado e na atividade rural voltada à subsistência e geração de lucro, especialmente sob a égide do agronegócio, requer um olhar atento e destacado. Essa atenção é necessária para fortalecer as lutas contra as desigualdades estruturais que permeiam essas realidades.

O objetivo geral desta pesquisa é apresentar uma discussão teórica sobre a desigualdade de gênero no espaço rural. Seus objetivos específicos incluem: a) Compreender o processo histórico da opressão das mulheres no sistema patriarcal; b) Analisar a situação das mulheres no sistema capitalista; c) Abordar a condição das mulheres no espaço rural, destacando suas lutas e conquistas.

Nesse contexto, a pergunta que orientou o estudo é: como o capitalismo afeta a vida das mulheres e qual é a relação entre o capitalismo e o patriarcado? A escolha deste tema parte da convicção de que o espaço acadêmico deve promover o diálogo e o questionamento sobre as realidades sociais, contribuindo para a reflexão sobre as relações de poder que se estruturam a partir do capitalismo, do patriarcado e do sexismo. O estudo busca ampliar a compreensão sobre essas dinâmicas, com o objetivo de promover a igualdade de gênero no espaço rural.

A pesquisa é de caráter bibliográfico, adotando o método crítico-dialético de Karl Marx e Engels. Essa abordagem foi escolhida pela sua capacidade de explicar a condição histórica das mulheres, particularmente em relação à exploração e exclusão pelo sistema capitalista. O estudo utiliza o método indutivo a partir da observação de experiências no meio rural e da análise de textos acadêmicos. A fundamentação teórica baseia-se nas ideias de autores como Davis (2016), Marx (2011), Saffioti (1976), Toledo (2008), Fontes (2018), entre outros.

O presente trabalho busca sistematizar informações sobre as desigualdades de gênero no espaço rural, onde as mulheres enfrentam de forma mais aguda as relações sociais de gênero impostas pelo capitalismo. Neste ambiente, o trabalho feminino é frequentemente invisibilizado, e as relações patriarcais, profundamente enraizadas, ainda são pouco exploradas nas pesquisas e nos dados estatísticos.

Neste artigo, discutiremos de maneira estruturada as múltiplas facetas da desigualdade de gênero no espaço rural. Inicialmente, exploraremos a opressão histórica das mulheres no sistema patriarcal, analisando como essa opressão se entrelaça com o capitalismo e perpetua a subordinação feminina. Em seguida, abordaremos a condição das mulheres no contexto do trabalho assalariado, destacando a precarização de suas funções e a desvalorização de seu trabalho. Por último, examinaremos as particularidades da vida das mulheres rurais, levando em conta as dificuldades que enfrentam em virtude do machismo, da invisibilidade de suas contribuições e das barreiras que limitam seu acesso à educação e à saúde. Além disso, daremos ênfase às lutas e conquistas dessas mulheres, mostrando como elas se organizam para desafiar as estruturas patriarcais e capitalistas que as oprimem. Ao final, nosso objetivo é evidenciar a importância da luta pela igualdade de gênero no espaço rural e como essa luta é fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa.

       AS  MULHER NO SISTEMA PATRIARCAL CAPITALISTA

A categoria de gênero surge como uma diferenciação sexual que inclui tanto traços biológicos (órgãos reprodutivos femininos e masculinos) quanto aspectos socialmente construídos, como a forma de realizar certas atividades e expressões corporais, entre outras. Assim, a análise de gênero possibilitou discutir a desigualdade enfrentada pelas mulheres, conforme argumenta Scott (1989), ao entender que o conhecimento dessa diferença sexual se reflete nas práticas cotidianas, nas instituições, nos rituais e em tudo aquilo que constitui as relações sociais.

A partir dos estudos de gênero, desvela-se a desigualdade de gênero, uma vez que, como afirma Beauvoir (1980), as diferenças biológicas são usadas como “desculpas” para negar direitos às mulheres e legitimar as desigualdades de gênero.

Quando um indivíduo ou um grupo de indivíduos é mantido numa situação de inferioridade, ele é de fato inferior; mas é sobre o alcance da palavra ser que precisamos entender-nos; a má fé consiste em dar-lhe um valor substancial quando tem o sentido dinâmico hegeliano: ser é ter-se tornado, é ter sido feito tal qual se manifesta. Sim, as mulheres, em seu conjunto, são hoje inferiores aos homens, isto é, sua situação oferece-lhes possibilidades menore” (Beauvoir, 1980, p. 18).

Essa formação de conceitos e condições é pautada no sistema biológico e na construção social, que se baseia na exploração de grupos por outros, como ocorre no modo de produção capitalista, o qual coloca as mulheres em uma posição de inferioridade. Nesse sentido, Beauvoir (1967, p. 9) ainda afirma: “não se nasce mulher, torna-se mulher; nenhum destino biológico, psíquico ou econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade”.

A comparação entre o que é imposto e o que se torna, conforme Beauvoir (1967), foge de um determinismo biológico, sendo uma construção social. Desde a infância, impõem-se modos de comportamento distintos para meninas, que, ao crescerem, passam a assumir papéis como atrair e ouvir o marido, esperar por ele enquanto trabalha, ou, mesmo não se casando, ainda se ajustam a padrões masculinos devido à pressão externa, como as indústrias da beleza, que levam à objetificação das mulheres (BEAUVOIR, 1967).

Além disso, o tratamento diferenciado entre meninos e meninas é evidente, pois, segundo Heywood (2004, apud Caldeira, s.d., on-line), “as meninas costumavam ser consideradas como o produto de relações sexuais corrompidas pela enfermidade, libertinagem ou a desobediência a uma proibição”.

Conforme Heywood (2004), a rejeição ao sexo feminino e sua inferiorização ocorriam desde a infância, com a ideia de que ter uma filha mulher era sinônimo de castigo. Ao longo da história, construiu-se a noção de que ser mulher é desvantajoso, pois a sociedade foi estruturada de modo a manter as mulheres em uma condição inferior, sendo-lhes negados os mesmos direitos dos homens, justificados por uma determinação biológica. No entanto, o problema da diferença sexual está na construção social e histórica, sustentada por ideologias que favorecem os homens, surgindo o patriarcado — um sistema que privilegia os homens, atribuindo-lhes autoridade moral, privilégio social e controle da propriedade. A família patriarcal, nesse contexto, baseia-se na propriedade privada.

Nesse sistema, a mulher é vista como propriedade do homem, passando da autoridade do pai para a do marido e sendo ideologicamente levada a aceitar esse sistema como natural, mantendo a postura ideal de mulher que o patriarcado exige. Isso está intimamente ligado à exploração de sua força de trabalho, pela sobrecarga imposta (SILVA, 2018).

O patriarcado surge a partir dos interesses de determinados grupos para legitimar a exploração das mulheres, utilizando-se da condição biológica como justificativa. Conforme Gomes (2019), o patriarcado não é um fenômeno natural que se desenvolveu progressivamente nas sociedades, com base nas características físicas, mas sim um complexo ideológico que levou milhares de anos para se consolidar, impulsionado por interesses específicos ao longo da história. Nesse sentido, Silveira e Costa (s.d., on-line) afirmam que “o capitalismo, impregnado pela ideologia patriarcal, reforça o sistema de opressão que subjuga as mulheres”.

O TRABALHO NO SISTEMA CAPITALISTA PATRIARCAL

O capitalismo, segundo Marx, é um sistema interligado por três pilares fundamentais: a produção de mercadorias, a propriedade privada dos meios de produção e um mercado de trabalho “livre”. Neste mercado, indivíduos sem acesso efetivo aos meios de produção são forçados a vender sua força de trabalho aos detentores de riqueza e bens de produção. Esses detentores não apenas controlam os meios de produção, mas também dominam o Estado, constituindo a chamada classe dominante.

A sociedade capitalista é essencialmente uma sociedade de classes, dividida em grupos com relações distintas em relação aos meios de produção. Esses grupos, mutuamente excludentes, podem ser resumidos como empregadores e empregados (MARIN, 2020, on-line).

Para Marx (2011), a categoria “trabalho” é fundante do ser social, pois transcende a relação do ser humano com a natureza, permitindo que o homem, ao transformá-la, garanta sua existência de maneira consciente. Ao aprimorar suas técnicas e modos de trabalho, o ser humano desenvolveu o modo de produção capitalista, baseado na propriedade privada e no trabalho assalariado. Esse trabalho, por sua vez, produz mercadorias e gera lucros para os que controlam os meios de produção. O excedente gerado é o valor central para a acumulação capitalista, afastando o trabalhador de sua verdadeira essência, tornando-o cada vez mais pobre, enquanto cria mais riqueza para os capitalistas (MARX, 2011, apud AMARAL, s.d.).

As evoluções no mundo do trabalho sob o capitalismo criam desigualdades, das quais o patriarcado se beneficia ao explorar as mulheres. Esse sistema ajusta a vida das pessoas de acordo com seus interesses. Por exemplo, se é favorável ao capitalismo que as mulheres permaneçam em casa, trabalhando para preparar outros membros da família para vender sua força de trabalho, o sistema encoraja essa prática. Se for mais lucrativo que as mulheres, além de cuidar da casa, também trabalhem em lavouras, fábricas e outros espaços de trabalho remunerado, o sistema também o permite (Arruzza; Bhattacharya; Fraser, 2019).

Atualmente, essa segunda configuração é a mais prevalente: as mulheres deixam suas casas em busca de trabalho externo, buscando maior reconhecimento e protagonismo enquanto seres sociais. No entanto, o sistema não lhes oferece condições mínimas para equilibrar suas obrigações domésticas — tradicionalmente impostas a elas — com o trabalho externo. A sociedade ainda impõe uma grande pressão sobre as mulheres, esperando que sejam mães exemplares e excelentes donas de casa (Arruzza; Bhattacharya; Fraser, 2019).

Essas ideologias geram consequências negativas que afetam toda a sociedade. Os modos de produção baseados na exploração do trabalho assalariado, resultado das revoluções burguesas impulsionadas pelo lema da Revolução Francesa — liberdade, igualdade e fraternidade —, promovem desigualdades entre os seres humanos, somadas às desigualdades econômicas (Coggiola, 2017).

No contexto da luta de classes, as questões de gênero e raça tornam-se mais evidentes devido à formação de uma estrutura social marcada por desigualdades e exploração de mulheres e indivíduos racializados, cujos padrões fogem aos estabelecidos pela classe dominante. Esse cenário é resultado de estratégias que visam a manutenção das ideologias que sustentam o sistema capitalista, frequentemente influenciado pelo eurocentrismo.

Fica claro que o capitalismo aprisiona os seres humanos, mas as mulheres, em especial as pobres, rurais e negras, sofrem de forma mais intensa os efeitos desse sistema, refletidos no patriarcado. Essas mulheres, de acordo com Cherfem (2019), não possuem os mesmos direitos e acessos em proporção equivalente às mulheres brancas e ricas, uma vez que o capitalismo, patriarcal e eurocêntrico, historicamente escravista e machista, necessita de tal estrutura para se perpetuar. Além disso, de acordo Barroso (2018, p. 446), “O capitalismo está fundamentalmente ligado ao patriarcado e ao racismo, não como legado, mas como necessidade, pois a relação entre exploração e opressão está diretamente relacionada à questão da relação estrutural entre patriarcado, racismo e capitalismo”.

Essa relação interdependente reflete-se na posição de poder social, econômico e político ocupada pelos homens, enquanto as mulheres são sobrecarregadas com obrigações e não desfrutam dos mesmos direitos. Ainda que o patriarcado permeie todas as classes sociais, ele mantém o controle de um gênero sobre o outro (Barroso, 2018).

As mulheres negras, pobres e sem acesso à educação formal sofrem de maneira mais acentuada os efeitos das dominações capitalistas patriarcais. Elas frequentemente estão nos empregos mais precarizados, quando não estão desempregadas. Uma reportagem da Folha de São Paulo, de 8 de outubro de 2019, revela que as mulheres negras são as que enfrentam maior dificuldade para encontrar sossego no Brasil. A taxa de desemprego entre elas é de 16,6%, o dobro da registrada entre homens brancos, que é de 8,3% (Estarque; Camazano, 2019).

Dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2022) revelam que, as mulheres dedicaram, em média, 21,3 horas semanais aos afazeres domésticos, enquanto os homens gastaram cerca de 11,7 horas. Isso representa uma diferença significativa, com as mulheres dedicando aproximadamente 9,6 horas a mais que os homens nessas atividades. No que diz respeito ao mercado de trabalho, a desigualdade salarial permanece evidente: as mulheres têm uma média salarial de R$ 2.281, enquanto os homens recebem R$ 3.336. Além disso, as mulheres ocupam apenas 37,4% dos cargos gerenciais, enquanto os homens ocupam 62,6% .

Os dados evidenciam que persistem as desigualdades de gênero no Brasil, refletindo a necessidade de ações mais eficazes para promover a equidade entre os gêneros.As mulheres, no entanto, apresentam uma taxa de frequência escolar no ensino médio dez pontos percentuais superior à dos homens, e uma maior proporção de formadas no ensino superior: 23,5% entre as brancas e 10,4% entre as negras. Esses números evidenciam a persistência de uma estrutura social pautada pela desigualdade de gênero e raça, resultado de um processo histórico de colonização e escravização, que visava à exploração de grupos inferiorizados em prol do lucro (Ferraz, 2018; Granda, 2018).

De acordo com a filósofa Silva (2018, on-line), o patriarcado está intrinsecamente ligado ao capitalismo e ao racismo, assim como ao fascismo em diferentes momentos históricos. O patriarcado, segundo ela, pode ser entendido como a aplicação do sistema capitalista às questões de gênero e sexualidade. Durante o sistema escravista, por exemplo, as mulheres negras eram vistas como unidades de trabalho lucrativas. Davis (2016) explica que as mulheres negras foram as mais exploradas economicamente, sendo submetidas tanto à exploração econômica quanto ao machismo e sexismo. Elas nunca estiveram confinadas ao ambiente doméstico, como as mulheres brancas, e ainda sofriam com o estupro, usado como arma de dominação (Davis, 2016).

Com o advento da Revolução Industrial no século XVIII, o trabalho feminino começou a ser incorporado de maneira definitiva à cadeia produtiva como mão de obra barata. Davis (2016) afirma que, com o desenvolvimento da indústria, as mulheres passaram a trabalhar fora de suas casas em troca de baixos salários, sendo novamente inseridas em atividades tipicamente masculinas, mas em condições precárias.

Marx (2010) observa que, como a população feminina cresce mais rapidamente que a masculina e o sistema capitalista necessita de trabalhadores para sustentar sua acumulação de capital, as mulheres acabam sendo relegadas à produção para os donos das fábricas. É importante ressaltar que, nas sociedades capitalistas, a reprodução social é uma tarefa atribuída quase exclusivamente às mulheres, que não é valorizada, mas vista como mero meio para gerar lucro. O capital evita pagar por esse trabalho, e as mulheres são subordinadas não só aos proprietários do capital, mas também aos trabalhadores com maior remuneração, que frequentemente transferem suas responsabilidades de reprodução social para elas (Arruzza; Bhattacharya; Fraser, 2019, p. 39-104).

Assim, cria-se uma sobrecarga de trabalho para as mulheres, que muitas vezes não é reconhecida nem valorizada. Elas são remuneradas apenas pelo trabalho fora de casa, e a maior parte de seus salários é apropriada pelos donos dos meios de produção sob a forma de mais-valia. Além disso, enfrentam a desvalorização salarial por serem mulheres, recebendo salários mais baixos que os homens, e as ferramentas de trabalho não são projetadas para elas, como no caso das trabalhadoras rurais, que utilizam ferramentas desenvolvidas para os homens. No entanto, para o capitalismo, é essencial explorar o trabalho das mulheres em todos os ambientes, sejam eles rurais ou urbanos (Arruzza; Bhattacharya; Fraser, 2019, p. 39, 104).

Saffioti (1976, p. 17) afirma que:

A mulher das camadas sociais diretamente ocupadas na produção de bens e serviços nunca foi alheia ao trabalho. Em todas as épocas e lugares ela tem contribuído para a subsistência de sua família e para criar a riqueza social. Nas economias pré-capitalistas, especificamente no estágio imediatamente anterior à revolução agrícola e industrial, a mulher das camadas trabalhadoras era ativa: trabalhava nos campos e nas manufaturas, nas minas e nas lojas, nos mercados e nas oficinas, tecia e fiava, fermentava a cerveja e realizava outras tarefas domésticas.

Mesmo desempenhando papéis importantes na esfera produtiva, o sistema capitalista, com suas evoluções, criou a divisão sexual do trabalho. De acordo com Stancki (2003), essa divisão ocorre pela separação das atividades de produção de bens e serviços de acordo com o sexo das pessoas que as realizam, fundamentada em interpretações que legitimam a distinção como consequência de supostos fatores naturais.

Desde a infância, as meninas são expostas a essa divisão, convivendo com papéis e expectativas sociais diferentes dos meninos, sendo vistas como frágeis e dependentes. Essa socialização diferencia as escolhas e oportunidades que terão na vida adulta, reproduzindo a subordinação de gênero. Lobo (2011, p. 174) reforça que “a divisão sexual do trabalho produz e reproduz a assimetria entre práticas femininas e masculinas, constrói e reconstrói mecanismos de sujeição e disciplinamento das mulheres, e reproduz a dominação de gênero.”

Essa divisão sexual do trabalho é uma construção histórica que, conforme Paulilo (1987), varia de acordo com a região e as concepções locais de trabalho pesado ou leve. No Nordeste, por exemplo, a ordenha é feita pelos homens, enquanto no Sul, essa tarefa é das mulheres. Isso demonstra que as delimitações de trabalho masculino e feminino são culturalmente construídas e não possuem fundamento biológico.

Por fim, o que traz esperança de transformação é a luta das mulheres pela emancipação e pela desconstrução do patriarcado, como enfatiza Gramsci (1978). Apenas por meio da organização coletiva e da conscientização do sistema de opressão, as mulheres podem avançar em suas conquistas e alcançar maior reconhecimento na sociedade.

A CONDIÇÃO DA MULHER NO ESPAÇO RURAL

No espaço rural, as mulheres enfrentam de maneira ainda mais acentuada os efeitos do patriarcado, manifestados através do machismo. Nessas comunidades, é comum que o homem ocupe a posição central de poder na família, e as mulheres aceitam como natural a responsabilidade de servir, obedecer e submeter-se à autoridade masculina, frequentemente representada pelo “chefe da família”. Isso se reflete até mesmo nas decisões cotidianas, como quando uma criança solicita algo à mãe e a resposta comum é “não sei, veja com seu pai”. Esse exemplo ilustra a profundidade com que a ideologia patriarcal permeia a vida das mulheres rurais, tornando suas vozes secundárias dentro da própria família.

O isolamento das áreas rurais, a falta de acesso à informação, a distância entre os vizinhos e a ausência de serviços essenciais, como saúde e assistência às mulheres, agravam a submissão feminina. Torres (2019) destaca que o isolamento facilita a permanência da opressão, uma vez que a falta de apoio e comunicação reforça o papel subordinado das mulheres.

Além disso, o trabalho reprodutivo — o trabalho doméstico, fundamental para o funcionamento da sociedade mas desvalorizado pelo capitalismo por não gerar lucro — é ainda mais invisibilizado no espaço rural. Muitas vezes, as mulheres são responsáveis tanto pelas atividades agrícolas quanto pelas tarefas domésticas, porém, quando os produtos agrícolas são vendidos, elas não participam do processo de comercialização, permanecendo em casa, cuidando dos afazeres e dos filhos pequenos. Essa divisão reforça a percepção de que o trabalho agrícola feminino é uma extensão natural das atribuições domésticas, e não uma atividade produtiva por si só (Brumer, 2004).

As mulheres rurais, mesmo quando desempenham atividades agrícolas tradicionalmente atribuídas aos homens, são vistas apenas como “ajudantes”, recebendo pouca ou nenhuma remuneração. Esse fenômeno está profundamente arraigado na cultura patriarcal, que minimiza o valor do trabalho feminino na agricultura (Jahn, Santos e Rodrigues, 2020, p. 136).

A religião também exerce um papel significativo na perpetuação dessas desigualdades. Como afirma Lemos (2013), o patriarcado se utiliza da estrutura religiosa para reforçar a submissão das mulheres, estruturando tanto as relações sociais quanto as práticas religiosas de maneira a privilegiar o homem. Nas comunidades rurais, onde a religião tem forte presença, essa influência é ainda mais evidente.

Além disso, o analfabetismo é outro fator que limita a emancipação das mulheres rurais. Dados do IBGE de 2012 revelam que a taxa de analfabetismo nas zonas rurais em 2011 era de 21,2%, mais que o dobro da taxa encontrada nas áreas urbanas (Saraiva, Martins, 2012). Essa carência educacional impede que muitas mulheres conheçam seus direitos e lutem por eles.

A luta das mulheres do campo, no entanto, é marcada por importantes movimentos sociais. Desde as Ligas Camponesas na década de 1940 até a Marcha das Margaridas, iniciada em 2000, esses movimentos têm se posicionado contra a expropriação de terras, a exploração capitalista e as ideologias patriarcais. A Marcha das Margaridas, em particular, se destaca por suas conquistas, como a criação de políticas públicas voltadas para a documentação das mulheres trabalhadoras rurais, o acesso à terra e a saúde, e o enfrentamento à violência contra as mulheres no campo (Ricardo, 2020).

Esses movimentos são fundamentais para a emancipação das mulheres camponesas, que, através da organização coletiva, conseguem vislumbrar mudanças nas estruturas patriarcais e capitalistas que as oprimem. É necessário que essas lutas sejam anticapitalistas, antirracistas e inclusivas, reconhecendo as necessidades particulares de cada grupo de mulheres e promovendo uma verdadeira igualdade de gênero e raça (Arruzza, Bhattacharya, Fraser, 2019).

A luta pela igualdade no espaço rural é, portanto, uma questão de sobrevivência e resistência. As mulheres precisam ser incentivadas a se organizar, buscar conhecimento e reivindicar seus direitos, pois só assim será possível avançar na conquista de uma sociedade mais justa e equitativa.

      CONSIDERAÇÕES FINAIS

A condição da mulher no sistema capitalista, que se configura por um sistema patriarcal e machista, é marcada por repressão e exploração, como discutido ao longo deste artigo. Os corpos das mulheres são controlados e suas mentes ideologicamente condicionadas a se realizarem conforme os interesses desse sistema, perpetuando a sua contribuição para a manutenção dessas estruturas de poder. A liberdade feminina, portanto, torna-se uma utopia, na medida em que as mulheres não podem se realizar plenamente nem sobre seus próprios corpos, devido à apropriação patriarcal da sua condição enquanto mulheres. Além disso, o racismo está intrinsecamente presente nesse contexto, sendo o preconceito étnico-racial uma questão particularmente acentuada no meio rural, merecendo maior destaque nas análises estatísticas e sociais.

Com isso, podemos concluir que os objetivos deste estudo foram alcançados. Primeiramente, compreendeu-se o processo histórico da opressão das mulheres no sistema patriarcal, evidenciando como as mulheres foram historicamente relegadas a posições de subordinação, tanto no espaço público quanto privado. Essa análise revelou que, no espaço rural, os efeitos do patriarcado são ainda mais arraigados, dificultando o acesso das mulheres a posições de destaque e autonomia.

Além disso, foi analisada a situação das mulheres no sistema capitalista, destacando-se como o capitalismo não apenas explora o trabalho feminino, mas também reforça as desigualdades de gênero. A invisibilidade do trabalho reprodutivo, especialmente no contexto da agricultura familiar, é uma clara manifestação desse fenômeno. Mesmo quando envolvidas em atividades produtivas, as mulheres continuam sendo vistas como “ajudantes”, sem receber o devido reconhecimento ou remuneração.

Por fim, foi abordada a condição das mulheres no espaço rural, onde, apesar da opressão intensificada pelo isolamento e pela falta de acesso a recursos, há também um histórico de luta e resistência. Movimentos como a Marcha das Margaridas e o Movimento de Mulheres Camponesas são exemplos emblemáticos das conquistas que essas mulheres têm alcançado ao longo do tempo, buscando uma maior visibilidade e direitos. Entretanto, o patriarcado rural ainda permanece forte, e a mudança só poderá ocorrer por meio de uma luta constante por direito de fala, lugar e equidade, e pela ampliação da participação dessas mulheres nos movimentos sociais.

Portanto, a luta das mulheres, especialmente no campo, deve continuar a ser informada, impulsionada e fortalecida. Somente por meio de movimentos sociais anticapitalistas, antirracistas e inclusivos, que contemplem todas as classes sociais e grupos étnicos, será possível avançar na busca por igualdade de gênero e na garantia dos direitos fundamentais das mulheres camponesas.

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1 Graduaada em Serviço Social pela Universidade Estadual do Tocantins (UNITINS). E-mail: natalycampelo.2017@gmail.com

2 Docente do Curso de Serviço Social da Universidade Estadual do Tocantins (UNITINS). E-mail: judnunes42@gmail.com

3 Docente do Curso de Serviço Social da Universidade Estadual do Tocantins (UNITINS). E-mail:jeany.cd@unitins.br

4- servidora publica da Universidade Estadual do Tocantins (UNITINS). E-mail: rosa.ms@unitins.br

5-  Graduada Engenharia Agronômica pela Fundação Universidade Federal do Tocantins E-mail: taty@gamil.com