DESFECHOS FUNCIONAIS E DE QUALIDADE DE VIDA NA DOENÇA RENAL CRÔNICA: REVISÃO INTEGRATIVA SOBRE OS PROTOCOLOS DE REABILITAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7763497


Yasmim Xavier Arruda Costa1
Maria Mallyha da Cruz Bezerra2
Ricardo Rodrigues da Silva3
Marcella Cabral de Oliveira4


RESUMO

Introdução: Nos centros de diálise, a atuação do profissional fisioterapeuta torna-se crucial, imprescindível e fundamental, visto que, as alterações renais provocam efeitos  musculoesqueléticos e cardiopulmonares, aumentando a necessidade da presença do fisioterapeuta na reabilitação do paciente. O tratamento de hemodiálise causa alterações cardiopulmonares e musculoesqueléticas que afetam a função, a força muscular e a qualidade de vida do paciente. Objetivo: Evidenciar os efeitos de protocolos de reabilitação fisioterapêutica na melhora da qualidade de vida e capacidade funcional de pacientes em hemodiálise. Metodologia: Revisão integrativa da literatura, de abordagem exploratória realizada nas bases de dados científicas: PubMed, Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), que dispõem de base de dados reconhecidas como: LILACS e IBECS, e na SciELO. Resultados e Discussão: 12 artigos foram selecionados para compor a análise dos resultados. A partir da avaliação dos estudos selecionados para compor a amostra dos resultados, pode-se que os protocolos fisioterapêuticos utilizados em pacientes em hemodiálise mostraram-se eficazes em melhorias na capacidade funcional, qualidade de vida, função cardíaca, redução da dor e menos ocorrência de cãibras. Conclusão: Com base nos resultados obtidos, os programas de reabilitação física são benéficos na melhora do estado geral e qualidade de vida de pacientes com doença renal crônica. Pode-se concluir que os programas de reabilitação intradiálise podem ter efeitos positivos em pacientes em hemodiálise. No entanto, para alcançar a reabilitação completa e abrangente de pacientes com DRC, recomenda-se tratar esses pacientes tendo como requisito principal a qualidade de vida.

Palavras-chaves: Insuficiência Renal Crônica; Diálise Renal; Exercício Físico.

ABSTRACT

Introduction: In dialysis centers, the role of the physiotherapist becomes crucial, essential and fundamental, since kidney changes cause musculoskeletal and cardiopulmonary effects, increasing the need for the presence of the physiotherapist in the patient’s rehabilitation. Hemodialysis treatment causes cardiopulmonary and musculoskeletal changes that affect the patient’s function, muscle strength and quality of life. Objective: To highlight the effects of physiotherapeutic rehabilitation protocols in improving the quality of life and functional capacity of hemodialysis patients. Methodology: Integrative literature review, with an exploratory approach carried out in scientific databases: PubMed, Virtual Health Library (BVS), which have recognized databases such as: LILACS and IBECS, and SciELO. Results and Discussion: 12 articles were selected to compose the analysis of the results. From the evaluation of the studies selected to compose the results sample, it can be seen that the physiotherapeutic protocols used in hemodialysis patients proved to be effective in improving functional capacity, quality of life, cardiac function, reducing pain and less occurrence of cramps. Conclusion: Based on the results obtained, physical rehabilitation programs are beneficial in improving the general condition and quality of life of patients with chronic kidney disease. It can be concluded that intradialysis rehabilitation programs can have positive effects on hemodialysis patients. However, to achieve complete and comprehensive rehabilitation of patients with CKD, it is recommended to treat these patients with quality of life as the main requirement.

Keywords: Chronic Kidney Failure; Renal Dialysis; Physical exercise.

1. INTRODUÇÃO

Nos centros de diálise, a atuação do profissional fisioterapeuta torna-se crucial, imprescindível e fundamental, visto que, as alterações renais provocam efeitos  musculoesqueléticos e cardiopulmonares, aumentando a necessidade da presença do fisioterapeuta na reabilitação do paciente. Diante disso, o fisioterapeuta, destaca-se entre a equipe multiprofissional no que tange, os procedimentos que auxiliam no processo de reabilitação dos pacientes com doença renal que realizam o procedimento de hemodiálise (Rodrigues et al., 2021).

Segundo a Sociedade Brasileira de Nefrologia, a doença renal crônica (DRC) é definida como uma perda lentamente progressiva e irreversível da função renal e está se tornando uma preocupação de saúde pública à medida que aumenta a incidência e a prevalência de pessoas submetidas a programas de diálise. O tratamento de hemodiálise causa alterações cardiopulmonares e musculoesqueléticas que afetam a função, a força muscular e a qualidade de vida do paciente. Nesse sentido, os programas de exercícios para reabilitação física e funcional de pessoas em hemodiálise são debatidos há cerca de 30 anos (Barcelos et al., 2022).

A prevalência de pacientes com problemas renais está aumentando no Brasil de forma incessante. Dados apresentados pela Sociedade Brasileira de Nefrologia em 2012 apontou que o número de pacientes em hemodiálise aumentou de 28.680 em 2011 para 91.314 em 2011, resultando em um gasto anual de 1,4 bilhão em tratamento dialítico e transplante, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) (Godinho et al., 2017).

            A hemodiálise passou por mudanças e inovações significativas nos últimos anos, assim, percebeu-se uma melhor sobrevida em pacientes em hemodiálise, embora com qualidade de vida reduzida, ou seja, em outras palavras, não houve benefício de sobrevida para esses pacientes (Krug et al., 2020).

Aspectos decorrentes do estado clínico, físico e social dos portadores de doença renal crônica correlacionam-se com a faixa etária de 35 a 50 anos, considerada o período que aumenta a produtividade pessoal. Os efeitos estabelecidos pela associação entre DRC e terapia dialítica causam um alto nível de alterações fisiológicas, psicológicas e sociais que limitam a qualidade de vida desses pacientes que precisam se adaptar a suas novas condições de vida e às atividades da vida diária (Lisboa et al., 2019).

Alterações na qualidade de vida

A OMS define qualidade de vida como “a percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações” (Fleck et al., 1999).

Os portadores submetidos a hemodiálise (HD) enfrentam uma variedade de alterações que não só envolvem o aspecto físico, mas psicológico, com consequências pessoais, familiares e sociais, modificando a sua qualidade de vida (QV) relacionada à saúde (Moraes et al., 2017). Estas e outras condições, como dor, inflamação sistêmica, diminuição da força muscular e mobilidade significam em uma redução da QV (Carvalho et al., 2020).

Alterações na capacidade funcional

A presença de baixa tolerância à prática de atividades de médio e grandes esforços e ao exercício físico é comum nos pacientes com DRC, acarretando a redução progressiva na funcionalidade e no condicionamento, diminuindo a força muscular e posteriormente impedindo a marcha que interfere negativamente na QV desses pacientes (Moreira et al., 2018).

Importância da Fisioterapia

O fisioterapeuta é reconhecido como o profissional que pode anunciar melhor reabilitação de pacientes com DRC durante hemodiálise. Com isso em mente, o procedimento ocorre em ambiente hospitalar. Assim, é perceptível que os pacientes em hemodiálise possuem complicações associadas não só sobre a doença, mas também sobre o tratamento (Moraes et al., 2017).

A Fisioterapia tem por finalidade melhorar a força muscular e a mobilidade articular, promovendo melhor tolerância aos exercícios realizados rotineiramente e capacidade funcional, amenizando o nível de dor, hipertrofia, contribuindo para uma performance positiva nas suas atividades de vida diária (AVD’s) (Lisboa et al., 2019).

A assistência de  protocolos  fisioterapêuticos  tem  evidenciado resultados competentes nos centros de hemodiálise e tem como finalidade obter aumento da capacidade funcional, melhora do quadro clínico e da qualidade de vida desses pacientes durante o tratamento (Moreira et al., 2018).

Diante disso, a realização desta pesquisa, justifica-se pela sua relevância em apresentar melhoras na qualidade de vida dos pacientes, amenizar as complicações e custos de saúde, além de auxiliar para a base de evidências científicas na área.

2. OBJETIVO

Evidenciar os efeitos de protocolos de reabilitação fisioterapêutica na melhora da qualidade de vida e capacidade funcional de pacientes em hemodiálise.

3. METODOLOGIA

            Esta pesquisa, foi realizada por meio de uma revisão integrativa da literatura, de abordagem exploratória, cujo objetivo, se resumiu em investigar, através de artigos já publicados, informações relevantes que respondessem à pergunta norteadora. Para nortear esta pesquisa, foi aplicada a metodologia proposta por Mendes; Silveira; Galvão (2008), assim, seguiu-se respectivamente as seguintes etapas: 1) escolha do tema e questão de pesquisa, 2) delimitação dos critérios de inclusão e exclusão, 3) extração e limitação das informações dos estudos selecionados, 4) análise dos estudos incluídos na revisão, 5) análise e interpretação dos resultados e 6) apresentação da revisão ou síntese do conhecimento, como ilustrado na Figura 01.

Figura 1 – Descrição geral sobre o processo de revisão

Fonte: Autores, 2023

Para a construção da questão norteadora, utilizou-se a estratégia PICO: P – População; I – Intervenção ou exposição; C- Controle ou comparação; O – Desfecho (do inglês, Outcome), conforme apresentado na tabela 1 (Santos; Pimenta; Nobre, 2007).

           A pergunta norteadora definida foi: Quais os efeitos de protocolos na melhoria da qualidade de vida e capacidade funcional de pacientes em hemodiálise?

Tabela 1. Elaboração da questão norteadora da estratégia PICO.

Fonte: Autores, 2023.

O objetivo de uma revisão integrativa de literatura é coletar e resumir o conhecimento científico que já foi elaborado sobre o assunto sob investigação. Permitir a recuperação, avaliação e síntese das evidências disponíveis e contribuir para o desenvolvimento do conhecimento sobre o assunto (Lakatos; Markoni, 2010).

        Esse tipo de pesquisa simplifica a síntese do conhecimento ao reunir ideias sobre uma mesma temática e colocar em prática os resultados obtidos. É um método importante de estudar a prática baseada em evidências porque define o problema, utiliza a análise crítica para buscar pesquisas na área e identifica a aplicação dos resultados obtidos. Este é um método de revisão mais amplo, pois pode compreender estudos experimentais e não experimentais e transforma os estudos mais completos (Souza; Silva; Carvalho, 2010).

        Foi realizado um levantamento bibliográfico nas bases de dados científicas: PubMed, Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), que dispõem de base de dados reconhecidas como: Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Índice Bibliográfico Español em Ciencias de la Salud (IBECS), e na Scientific Electronic Library Online (SciELO), utilizando os descritores cadastrados no Descritores em Ciências da Saúde (DeCS):  “Diálise Renal”; “Insuficiência Renal Crônica”; “Fisioterapia”; “Exercício Físico”. Tendo em base também o Medical Subject Headings (MeSH), foram utilizadas também as palavras-chaves: “Renal Dialysis”; “Chronic Renal Failure”; “Physiotherapy”; “Physical exercise”,  a fim de se obter um maior abordagem de estudos correspondentes à temática, intermediadas pelo operador booleano AND e OR, respectivamente, como mostrado na tabela 02.

Tabela 2. Estratégias de cruzamento dos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), para pesquisas nas bases de dados.

Fonte: Autores, 2023.

Os artigos selecionados atenderam aos seguintes critérios de inclusão: estudos quantitativos, qualitativos, observacionais, casos clínicos, randomizados, transversais, estudos disponíveis na íntegra, nos idiomas português, inglês ou espanhol e sem recorte temporal.

        Dissertações, teses, monografias, revisões de literatura, estudos duplicados em mais de uma base de dados supracitados e que não focaram no tema proposto, foram excluídos desta revisão.

4. RESULTADOS

         Dos 6.339 artigos encontrados nas buscas iniciais, 54 foram lidos na íntegra e 12 foram selecionados para o estudo, por se tratar de produções que descrevem os efeitos de protocolos de reabilitação fisioterapêutica na melhora da qualidade de vida e capacidade funcional de pacientes em hemodiálise, conforme apresentado na figura 02.

No segundo momento, as produções científicas foram analisadas segundo o ano e local de publicação, metodologia, objetivos e principais tendências conceituais.

Figura 2. Fluxograma do processo de seleção dos artigos.

      Fonte: Autores, 2023.

Para a procura dos artigos foram utilizadas as seguintes estratégias: 1. Exercício Físico AND Diálise Renal AND Insuficiência Renal Crônica; 2. Fisioterapia AND Diálise Renal AND Insuficiência Renal Crônica; 3. Physiotherapy AND Chronic Renal Failure OR Renal Dialysis; 4. Physiotherapy AND Pshysical exercise OR Renal Dialysis, com base na pesquisa através das estratégia, obtiveram-se os seguintes resultados apresentado na tabela 03.

Tabela 3. Seleção de artigos conforme busca nas bases de dados utilizando as estratégias com os descritores.

Fonte: Autores, 2023.

A caracterização dos estudos selecionados nesta pesquisa foi sintetizada conforme apresentado na tabela 04. Organizada conforme a autoria e ano de publicação, periódico, título do artigo, objetivo e desfecho.

Tabela 4. Caracterização dos estudos selecionados.

Autoria e Ano de PublicaçãoPeriódicoTítuloObjetivoDesfecho
Brito et al., 2022Complementary Therapies in Clinical PracticeExercício em bicicleta ergométrica durante hemodiálise e seu impacto na qualidade de vida, aptidão aeróbica e adequação da diálise: um estudo pilotoAvaliar o efeito de um programa de exercícios aeróbicos intradialíticos na qualidade de vida e na aptidão aeróbica em pacientes em HD.Um programa de exercício aeróbio intradialítico de 12 semanas foi eficaz em melhorar a qualidade de vida, a aptidão aeróbica e a eficácia da diálise em pacientes submetidos à HD.
Carletti et al., 2017  Fisioterapia em MovimentoExercício intradialítico e controle postural de doentes renais crônicos em hemodiáliseAvaliar o efeito do exercício intradialítico sobre o equilíbrio postural de pacientes renais crônicos submetidos a hemodiálise.Apesar dos ganhos na massa magra total, o programa de exercícios aeróbicos durante a hemodiálise de doze semanas não resultou em melhorias no controle postural de pacientes com doença renal crônica em hemodiálise.
Rosa et al.,  2018Clinical rehabilitationEfeito do treinamento resistido progressivo contínuo durante a hemodiálise na composição corporal, função física e qualidade de vida em pacientes com doença renal terminal: um ensaio clínico randomizadoinvestigar o efeito do treinamento resistido progressivo contínuo na composição corporal, capacidade funcional e qualidade de vida autorreferida em pacientes com doença renal terminal.Avanços significativos na massa magra dos membros inferiores, desempenho no teste de sentar e levantar e densidade mineral óssea, porém não se observaram vantagens nos testes de marcha, força do assoalho pélvico e bem-estar.
Guio et al., 2017Jornal Brasileiro de NefrologiaEfeitos benéficos da reabilitação cardiopulmonar intradialíticaAnalisar a evolução clínica e laboratorial de pacientes em HD ambulatorial submetidos à RCP intradialítica.A reabilitação cardiopulmonar intradialítica nesse grupo de pacientes demonstrou ser segura e resultou em melhorias mensuráveis na capacidade funcional e na capacidade de exercício. Além disso, houve uma melhora subjetiva na percepção do esforço, um aumento significativo na função cardíaca e melhorias na QV em várias áreas.
Sanchez et al., 2018Fisioterapia em MovimentoBenefícios da fisioterapia intradialítica na qualidade de vida, dor, edema e função respiratória de doentes renais crônicosVerificar a influência da fisioterapia intradialítica na qualidade de vida e na função respiratória de pacientes renais crônicos.Os benefícios da fisioterapia durante a hemodiálise na qualidade de vida (QV) e na função respiratória de pacientes com doença renal crônica são evidentes.
Moreno-Collazos et al., 2017Revista de nefrología, diálisis y trasplanteQuestionário PAR-Q & YOU e história cardiovascular de idosos em diálise e praticantes de atividade físicaDeterminar a avaliação do ingresso em um programa de atividade física terapêutica por meio da aplicação do Questionário PARQ & YOU em um grupo de idosos participantes com diversos tipos de hemodiálise, e sua relação com fatores de risco cardiovascular.A regressão logística mostrou que a história cardiovascular tem 10,44 vezes mais influência na relevância da aplicação do PAR-Q & YOU, como instrumento básico para ingresso em programas de atividade física na reabilitação renal a partir da fisioterapia.
Paglialonga et al., 2014Pediatric NephrologyCiclagem intradialítica em crianças e adultos jovens em hemodiálise crônicaAvaliar a aceitabilidade, segurança e eficácia do exercício intradialítico em crianças e adultos jovens em HD.A implementação de um programa de ciclismo intradialítico de 30 minutos é factível para a maioria das crianças em hemodiálise crônica, e essa abordagem é bem recebida. Essa iniciativa pode resultar em um avanço notável na capacidade de exercício desse grupo de pacientes.
Magnard et al., 2013BMC NephrologyEfeitos de um programa de atividade física intradialítica de seis meses e suporte nutricional adequado no desperdício de proteína-energia, funcionamento físico e qualidade de vida em pacientes em hemodiálise crônica: protocolo de estudo ACTINUT para um ensaio clínico randomizadoInvestigar o efeito do treinamento físico progressivo intra-dialítico e da suplementação nutricional adequada sobre marcadores de desperdício de proteína-energia, capacidades funcionais e qualidade de vida de pacientes adultos em hemodiálise.A conclusão bem-sucedida deste estudo atual pode fornecer pistas preciosas para a compreensão do desperdício de proteína-energia e encorajar os nefrologistas a ampliarem a prescrição de programas de exercícios, bem como intervenções terapêuticas e preventivas nesta população de alto risco.
Silva et al., 2013Brazilian Journal of NephrologyFisioterapia durante a hemodiálise de pacientes com doença renal crônica.Avaliar os efeitos de um programa de fisioterapia em pacientes com DRC durante a HD.Através da fisioterapia, utilizando um programa de exercícios durante o tratamento de diálise, é possível alcançar uma melhoria considerável na qualidade de vida e na capacidade física dos pacientes com DRC.
Freire et al., 2013Fisioterapia em MovimentoAplicação de exercício isotônico durante a hemodiálise melhora a eficiência dialíticaAvaliar o Kt/V em indivíduos com DRC submetidos ao exercício físico isotônico de baixa intensidade durante a hemodiálise.A prática de exercícios físicos isotônicos de intensidade reduzida em pacientes com DRC, realizados durante a sessão de hemodiálise, evidenciou uma melhoria na eficácia do tratamento de diálise.
Padulla et al., 2011Ciência, cuidado e saúde (Impresso)Fisioterapia pode influenciar na qualidade de vida de indivíduos em hemodiálise?Avaliar e comparar a qualidade devida de pacientes submetidos à fisioterapia com controles. Foram selecionados sessenta doentes renais crônicos de ambos os gêneros.A inclusão da fisioterapia mostrou uma tendência de melhora na QV. Além disso, o estudo ressalta a importância de integrar a nefrologia na formação de fisioterapeutas e conscientizar outros profissionais de saúde sobre a fisioterapia para pacientes com DRC.
Chaves et al., 2011Arq. Ciências saúde UNIPARFisioterapia transdiálise em doentes renais crônicos.Identificar se um programa de fisioterapia aplicado durante a hemodiálise melhora a qualidade de vida e aumenta a força muscular do doente renal crônicoO programa de exercícios físicos transdiálise mostrou-se benéfico para capacidade física com consequente melhora da QV desses pacientes.
Fonte: Autores, 2023.

5. DISCUSSÃO

         A partir da análise dos estudos selecionados para compor a amostra dos resultados, pode-se evidenciar os principais desfechos relacionados aos protocolos fisioterapêuticos utilizados para a reabilitação do paciente em tratamento de hemodiálise. Assim, nesta pesquisa, constatou-se que os protocolos utilizados em pacientes em hemodiálise mostraram-se eficazes no aumento da força muscular, melhora da capacidade funcional e da QV em centros de hemodiálise (Padulla et al., 2011).

        A melhora do índice de depuração da ureia (Kt/V) por meio da aplicação de exercícios isotônicos de baixa intensidade durante as sessões de hemodiálise é o resultado principal. Esse resultado confirma achados anteriores que demonstraram vantagens em parâmetros como funcionalidade, QV, força muscular e eficácia dialítica com exercícios de intensidade reduzida. A vasodilatação periférica induzida pelo exercício durante a diálise parece ser responsável pelo aumento do Kt/V, contribuindo para aprimorar a qualidade do tratamento (Freire et al., 2013).

A fisioterapia respiratória e motora nos pacientes renais crônicos e dialíticos é necessária, visto que, ajuda na melhora dos volumes e nas capacidades pulmonares, na função cardiovascular, especialmente a força muscular dos membros superiores e inferiores, na capacidade funcional e  na resistência muscular, de forma a proporcionar uma melhora significativa no bem-estar geral e consequentemente, na QV desses pacientes (Guio et al., 2017).

           Um programa que consistiu em três sessões semanais de exercícios durante a hemodiálise obteve progresso significativo no grupo intervenção em sintomas, função física e bem-estar emocional. O grupo controle também apresentou melhorias em função física e gestão da doença renal. Embora a força muscular não tenha melhorado estatisticamente, cinco dos seis pacientes na intervenção mostraram ganhos. Esses resultados destacam o impacto positivo dos exercícios na capacidade física e na QV dos pacientes (Chaves et al., 2011).

        Da mesma forma, aspectos relacionados ao descanso apresentam efeitos potenciais da atividade física. Um aumento físico funciona depois de executar o programa de exercício aeróbico, que também mostra aumento e melhora da força muscular, melhorando a qualidade de vida com treinamento muscular periférico (Magnard et al., 2013).

        Com isso, o tratamento fisioterapêutico tem impacto nos diversos domínios da qualidade de vida, como: no domínio físico (aquele que trata de assuntos relacionados a dor, mobilidade e atividades diárias), no domínio fisiológico (autoestima, sentimentos negativos/positivos), no domínio das relações sociais (apoio social e relações) e no domínio ambiental (ambiente doméstico, cuidados de saúde, oportunidades de adquirir novas informações e lazer) (Moreno-Collazos et al., 2017).

       Após um estudo de 12 semanas de treinamento de resistência com zona de repetições máximas, houve melhorias notáveis na massa muscular dos MMII, densidade mineral óssea, teste de sentar e alcançar e flexibilidade em comparação ao grupo de controle. No entanto, a capacidade de caminhada, força de preensão manual e QV não apresentaram diferenças entre os grupos (Rosa et al., 2018).

Nos 3 meses de exercícios aeróbicos realizados num programa durante as sessões de hemodiálise, observou-se uma tendência de melhoria no domínio de papel físico na avaliação da QV dos pacientes, conforme medido pelo questionário SF-36. Aqueles que participaram do ciclismo estacionário durante a diálise também apresentaram aumento na distância percorrida no TC6 e na Kt/V. Resumindo, o programa resultou em benefícios na QV, capacidade física e desempenho no TC6 em pacientes com DRC submetidos à hemodiálise (Brito et al., 2022).

      A prática de exercícios durante a hemodiálise resulta em avanços significativos, incluindo a redução da frequência cardíaca e respiratória, a estabilização da pressão sanguínea, o aumento da resistência, a diminuição da dor e um melhor desempenho nas AVD´s. O uso da bicicleta ergométrica durante a hemodiálise melhorou a FC e FR, mantendo a pressão arterial estável. A força muscular aumentou, beneficiando atividades como caminhar e subir escadas (Silva et al., 2013).

         Melhorias significativas foram evidenciadas por todos os pacientes nos seguintes parâmetros: aumento no TC6 e teste da cadeira, bem como um incremento de 29,3% nos valores do força da extremidade superior. Além disso, os níveis de albumina, creatinina e proteína total pré-hemodiálise, bem como as taxas  de creatinina pós-hemodiálise, também registraram mudanças significativas. Não houve aumento na ocorrência de sessões sintomáticas durante o período do estudo, e nenhum evento adverso foi registrado (Paglialonga et al., 2014).

       Um estudo de 12 semanas de exercícios aeróbicos durante a hemodiálise não impactou o controle de equilíbrio, mas resultou em ganhos de massa magra corporal e indicou melhorias nos testes funcionais e equilíbrio funcional. No entanto, o impacto do exercício no controle de equilíbrio é complexo e ainda não foi completamente compreendido, com fatores como alterações metabólicas, disfunções do sistema neurológico periférico e comprometimento cognitivo desempenhando papéis importantes (Carletti et al., 2017).

A terapia está correlacionada com a redução da ocorrência de edema e cãibras, bem como com o alívio da dor e aprimoramento da capacidade respiratória. Assim, a intervenção frequente da fisioterapia parece proporcionar benefícios substanciais aos pacientes com DRC, aprimorando diversos aspectos de sua QV. Além disso, exerce influência positiva na melhoria da função respiratória, como evidenciado pela progressão dos valores de PImax, PEmax e pico de fluxo expiratório (Sanchez et al., 2018).

6. CONCLUSÃO

          Os resultados do presente estudo nos permitem afirmar que os protocolos de reabilitação evidenciados promovem ao paciente renal crônico em tratamento hemodialítico a prevenção de complicações a níveis sistêmicos. Sendo assim, proporciona uma melhor capacidade funcional, e por conseguinte, melhorias na qualidade de vida desse grupo-alvo.

        A literatura apontada para o modo de execução da reabilitação fisioterapêutica traz controvérsias associadas à frequência da terapia, tempo de treinamento e o protocolo utilizado. Os estudos utilizaram de protocolos individualizados, evidenciado pela presença de materiais e equipamentos em intensidade e volumes diferentes, o que dificulta a padronização de um protocolo padrão ouro. Esta revisão também evidenciou a necessidade da implementação de melhores suportes no quesito qualidade de vida, assim como, a importância de expandir e considerar as ações de auxílio e promoção à saúde voltadas para os pacientes em hemodiálise. 

      Ademais, é importante que sejam realizados estudos mais amplos e aprofundados quanto ao entendimento e verificação em protocolar a quantidade, intensidade e período da reabilitação fisioterapêutica para determinar uma maior validação na prescrição de protocolos de reabilitação em pacientes renais.

     No entanto, para alcançar a reabilitação completa e abrangente de pacientes com DRC, recomenda-se tratar esses pacientes tendo como requisito principal a qualidade de vida. Propõe-se, portanto, abrir novas perspectivas e estimular novas pesquisas nesta área com uma gama mais ampla de pacientes para confirmar esses resultados.

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1Fisioterapia pela Universidade Potiguar – UnP
E-mail: yasx.fisio@gmail.com
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2440-2613
2Fisioterapia pela Universidade Potiguar – UnP
E-mail: mallyhacruz@gmail.com
ORCID: https://orcid.org/0009-0000-0679-3732
3Docente do curso de Fisioterapia – Universidade Potiguar – UnP
E-mail: ricardo.rodrigues@academico.ufpb.br
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7705-8855
4Docente do curso de Fisioterapia – Universidade Potiguar – UnP
E-mail: marcella.oliveira@ulife.com.br
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6737-5032