MOTOR DEVELOPMENT OF CHILDREN AGED 0 TO 12 MONTHS: A DESCRIPTIVE STUDY
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ma10202504151030
Sara Caroline Fontoura Dall’Alba1
Carla Skilhan de Almeida2
Resumo. O objetivo deste estudo foi descrever, de forma cronológica, as etapas do desenvolvimento motor típico de crianças entre 0 e 12 meses de idade. Para isso, foram analisadas informações disponíveis na literatura científica, com o intuito de oferecer uma visão abrangente e detalhada sobre o tema. A metodologia adotada foi a de um estudo descritivo, baseado na análise de publicações científicas das últimas décadas, selecionadas em diferentes bases de dados. Foram incluídos estudos sobre desenvolvimento motor típico, enquanto pesquisas relacionadas a condições atípicas foram excluídas. Os dados foram analisados de forma descritiva, organizados em categorias cronológicas. Os resultados indicaram que o desenvolvimento motor nos primeiros dois anos segue uma sequência previsível. No primeiro ano, as crianças evoluem de reflexos primitivos e movimentos gerais para habilidades voluntárias como rolar, alcançar, sentar e engatinhar. No segundo ano, ocorre a transição para a posição ortostática, culminando na aquisição da marcha e no refinamento de habilidades manipulativas. Conclui-se que o pleno desenvolvimento motor depende da interação entre fatores biológicos e ambientais. Práticas parentais estimulantes e ambientes enriquecidos desempenham um papel crucial nesse processo. Este estudo contribui para a compreensão do desenvolvimento motor infantil e oferece subsídios importantes para intervenções e práticas profissionais voltadas à promoção de um desenvolvimento saudável.
Palavras-chave: Desenvolvimento infantil; Cuidado Materno; Marcha; Habilidades motoras;
Resume. The aim of this study was to describe, in a chronological manner, the stages of typical motor development in children aged 0 to 12 months. To achieve this, information available in the scientific literature was analyzed, with the goal of providing a comprehensive and detailed overview of the topic. The methodology adopted was a descriptive study based on the analysis of scientific publications from recent decades, selected from different databases such. Studies on typical motor development were included, while research related to atypical conditions was excluded. Data were analyzed descriptively and organized into chronological categories. The results indicated that motor development during the first two years follows a predictable sequence. In the first year, children progress from primitive reflexes to skills such as rolling, sitting, and crawling. In the second year, there is a transition to an upright position, culminating in the acquisition of walking and the refinement of manipulative skills. It is concluded that full motor development depends on the interaction between biological and environmental factors. Stimulating parenting practices and enriched environments play a crucial role in this process. This study contributes to the understanding of infant motor development and provides important support for interventions and professional practices aimed at promoting healthy development.
Keywords: Child development; Maternal Care; Walking; Motor skills;
Introdução
O desenvolvimento infantil é um processo contínuo, progressivo e previamente organizado (GALLAHUE, OZMUN, & D. GOODWAY, 2023; BROWN, 2024) e que se molda de acordo com as restrições individuais, ambientais e de tarefas executadas (Hayaood, 2022). Nessa fase, há alta plasticidade cerebral e ganhos de funcionalidades nas dimensões cognitiva, motora e psicossocial.
Essas aquisições podem ser dependentes dos estilos de cuidados familiares/parentais dedicados à criança (WILSON, 2024), que, por sua vez, dependem do contexto, estruturas e configurações em que a criança está inserida, sendo possível que a relação entre pais e filhos sofra interferência desses fatores.
Diversos estudos têm demonstrado as diferenças entre práticas maternas de acordo com os costumes e culturas locais, oportunizando desempenhos específicos de algumas habilidades. Pesquisadores (HOFF, 2020; WILSON, 2024) observaram relação entre os aspectos encontrados no ambiente familiar e suspeita de atraso no desenvolvimento. Outro autor (GOLDSTEIN et al., 2022) verificou a responsividade materna e observou que mães dispostas a apresentarem mais respostas positivas aos sinais emitidos pela criança estão voltadas à maior investimento de estratégias verbais menos coercitivas.
Os diferentes níveis do desenvolvimento infantil (físico, motor, cognitivo e psicossocial) são interligados e afetam-se mutuamente (PAPALIA e FELDMAN, 2021).
Estudos têm apontado que esses diferentes fatores do desenvolvimento apresentam íntima relação com as práticas maternas e parentais (BOWEN, 2022; GARCÍA, 2023; LÓPEZ, 2021; WANG, 2022, KULAKOWSKA, 2021). Um estudo publicado em 2023, por Martins e Almeida, evidencia que o desempenho motor no 6º, 9º e 12º meses de vida se relaciona às diferentes práticas maternas quanto às posturas adotadas. Em 2023, Martins e colaboradores (MARTINS e ALMEIDA, 2023) verificaram que mães com mais de três filhos modificavam suas práticas maternas, resultando em um aumento significativo nas chances de atraso motor nas crianças mais novas. Um estudo publicado em 2023 por Santos (SANTOS et al., 2023) demonstrou que o nível de escolaridade materna altera as práticas realizadas pelas mães, sendo que o bebê da mãe com maior escolaridade possui melhor desempenho motor. Outro estudo realizado com 300 crianças (de 0 a 6 anos), sobre como a escolaridade das mães impacta no desenvolvimento cognitivo e social das crianças, evidenciou que mães mais escolarizadas proporcionam ambientes mais estimulantes para as crianças (COSTA e OLIVEIRA, 2024). Pereira e outros verificaram que os fatores ambientais apresentaram maior associação significativa quando comparados aos biológicos com os aspectos cognitivo e motor (PEREIRA et. al., 2023).
O ambiente familiar oferece os incentivos iniciais do bebê, sendo a primeira fonte de socialização e estimulação, onde ele realiza suas primeiras experiências motoras e cognitivas (MARTINS et al., 2024; SOUZA et al., 2023). Entretanto, há diferentes tipos de realidades e, consequentemente, estilos parentais variados que proporcionam experiências e desenvolvimentos diversos.
As práticas maternas e parentais, o acompanhamento e a estimulação do infante podem ser fundamentais para que o processo de desenvolvimento infantil aconteça de forma plena. Nesse sentido, confirmando que os estilos e práticas parentais podem modificar suas configurações de acordo com aspectos culturais e sociais, verifica-se a necessidade de analisar as repercussões e impactos dos diferentes estilos e práticas parentais no desenvolvimento infantil ao longo do tempo (ZHANG, 2022).
Sendo assim, o presente estudo teve como objetivo principal descrever, de forma cronológica, as etapas do desenvolvimento motor típico de crianças entre 0 e 24 meses de idade. Para isso, foram analisadas informações disponíveis na literatura científica, com o intuito de oferecer uma visão abrangente e detalhada sobre o tema.
Metodologia
Este estudo foi conduzido com uma abordagem descritiva, que tem como objetivo principal caracterizar e detalhar fenômenos ou processos com base em dados existentes, permitindo uma visão ampla sobre o tema investigado. O foco deste trabalho foi descrever o desenvolvimento motor infantil típico no período de 0 a 12 meses de idade, considerando as principais etapas e características desse processo. A coleta de dados foi realizada por meio da análise de publicações científicas que abordassem o desenvolvimento motor infantil. As fontes de dados incluíram artigos publicados nas bases científicas PubMed, Scopus, Web of Science e SciELO. Foram utilizados descritores como “Motor development”, “Infants”, “Typical development”, “0-12 months“; “Infant”; “Infant birth-12 months”, entre outros. A busca resultou em um total de 26 estudos, que foram selecionados com base nos critérios estabelecidos.
Para garantir a relevância dos dados, foram definidos os seguintes critérios de inclusão: estudos publicados na última década (2013-2023), disponíveis em texto completo, que abordassem o desenvolvimento motor típico de crianças de 0 a 12 meses de idade. Estudos que tratassem exclusivamente de condições atípicas, revisões narrativas, artigos duplicados ou que não respondessem diretamente ao objetivo do estudo foram excluídos.
Os estudos selecionados foram analisados de forma descritiva, com a extração de informações relevantes, como: autores, ano de publicação, objetivos, metodologia, principais resultados e conclusões. Os dados coletados foram organizados em categorias temáticas e apresentados de forma cronológica, detalhando as etapas do desenvolvimento motor infantil ao longo dos primeiros dois anos de vida.
A busca foi realizada em diferentes bases de dados. A pesquisa resultou em um total de 26 artigos selecionados sobre o tema. Após a remoção de duplicatas, os artigos foram submetidos a uma leitura criteriosa dos títulos e resumos, seguida da leitura completa daqueles que atenderam aos critérios de inclusão. Os dados extraídos dos estudos incluíram informações como: autor(es), ano de publicação, objetivo do estudo, metodologia, principais resultados e conclusões. A análise foi realizada de forma descritiva e interpretativa, permitindo a identificação de padrões, convergências e lacunas no conhecimento.
Os resultados foram organizados e descritos em categorias temáticas intituladas Desenvolvimento Motor – do nascimento até os 12 meses e Aquisição dos Movimentos Voluntários, de acordo com os principais achados da literatura. Essa estruturação permitiu uma apresentação clara e objetiva, facilitando a compreensão do panorama geral sobre o tema estudado. A descrição desses resultados foi em formato textual, com base nas informações extraídas dos estudos analisados, seguindo uma abordagem cronológica, destacando as principais aquisições motoras típicas de crianças em cada faixa etária, desde o nascimento até os 12 meses de idade. A abordagem descritiva adotada neste estudo possibilitou a sistematização e organização das informações disponíveis, contribuindo para a compreensão detalhada do desenvolvimento motor infantil e fornecendo subsídios para futuras pesquisas e práticas profissionais na área.
A metodologia adotada garantiu que o processo de revisão fosse meticuloso, proporcionando uma base sólida para a discussão dos resultados e a formulação de conclusões fundamentadas
Desenvolvimento Motor – do nascimento até os 12 meses
O desenvolvimento humano é multidimensional, envolvendo aspectos motores, cognitivos, sociais e afetivos. É um processo auto-organizado que se molda de acordo com as restrições individuais, ambientais e de tarefas (Newell, 1986). A interação entre aspectos individuais, características físicas e estruturais, assim como o ambiente em que a criança está inserida, junto à tarefa a ser aprendida, são determinantes na aquisição e refinamento das diferentes habilidades motoras, ocorrendo através de restrições, meta da tarefa e a auto-organização (HAYWOOD; GETCHELL, 2022).
Os primeiros anos de vida possuem um desenvolvimento acelerado, com alta plasticidade neuronal, passando por momentos variáveis de oscilações e estabilidades de maneira contínua, sequencial e relacionado à ordem cronológica (LIU; WANG, 2020; GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013), garantindo um rico repertório de habilidades motoras, progredindo de movimentos simples e desorganizados para habilidades motoras complexas, proporcionando bases de todos os processos psicossociais e cognitivos do sujeito (HAYWOOD ET AL., 2022).
Nos primeiros meses de vida, o controle que o bebê adquire surge de direção céfalo-caudal e próximo-distal ((HAYWOOD ET AL., 2022) com uma sequência ordenada, cronológica e previsível, podendo ser linear ou não (HAYWOOD E GETCHELL, 2023; MARTINS e ALMEIDA, 2023; GALLAHUE; OZMUN & GOODWAY, 2023). No período neonatal, o movimento é espontâneo, proveniente da subplaca cortical. Estão presentes também os reflexos primitivos. Em três a cinco meses, a subplaca se dissolve por completo e os reflexos primitivos são inibidos, iniciando o movimento voluntário através da interação sensório-motora. O movimento surge voluntariamente em razão do desenvolvimento do córtex cerebral superior em resposta às adaptações neuromusculares contra a força da gravidade, por meio das intensas possibilidades de experimentação (SOUZA et al., 2022; PEREIRA et al., 2021).
O desenvolvimento motor é um conjunto de características que permitem que o bebê saia da atividade motora essencialmente espontânea e reflexa ao nascer, para movimentos voluntários de alta complexidade e coordenação (ALMEIDA e BARBOSA, 2021). A influência do desenvolvimento infantil vem de uma tríade, chamada a tríade de Newell (SILVA e PEREIRA, 2022), que considera o papel do indivíduo, do ambiente e da tarefa (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2023). O desenvolvimento do movimento observável pode ser dividido em 3 categorias: movimentos estabilizadores (equilíbrio e sustentação), movimentos locomotores (mudança de localização) e movimentos manipulativos (apreensão e recepção de objetos). De acordo com cada faixa etária, estes movimentos estarão em estágios e fases diferentes (CARVALHO e LIMA, 2022).
No primeiro ano de vida, a criança sai da postura horizontal para a posição de ortostase, na vertical, movendo-se contra a gravidade e experimentando o meio em que vive (SILVA e PEREIRA, 2021; CARVALHO e LIMA, 2022). O recém-nascido é um ser dinâmico e realiza movimentos amplos, diferenciados e estereotipados. Nos primeiros meses, o bebê possui, fisiologicamente, hipotonia de tronco e hipertonia flexora, ficando com os membros superiores e inferiores semifletidos, mesmo quando em suspensão vertical (SILVA e PEREIRA, 2021)
Quando o bebê fica em supino, a cabeça lateraliza com retração da cintura escapular e elevação de ombros. Os membros superiores ficam fletidos com movimentos em bloco, podendo abrir as mãos, mas com polegares aduzidos. A retroversão de pelve é acompanhada de flexão dos membros inferiores. Quando o bebê é puxado para sentar, a cabeça cai para trás, sem controle cervical (SILVA et al., 2010). Em prono, o peso do corpo se concentra mais na cabeça e no tronco superior, no sentido do desenvolvimento, impedindo a ampla movimentação dos membros superiores, havendo flexão de membros inferiores com os quadris sem tocar o apoio. O bebê consegue elevar a cabeça para liberar as vias aéreas e a levanta por alguns segundos (PAPALIA e FELDMAN, 2021).
Nessa fase, percebemos os reflexos que são respostas motoras a estímulos sensoriais, involuntários, sendo a primeira forma de organização motora. A modulação dos reflexos ocorre na medula e, em algumas vezes, pelo mesencéfalo. Podem ser divididos em reflexos primitivos e reflexos ou reações posturais. Os reflexos primitivos são respostas involuntárias, mediadas pelos centros cerebrais inferiores. Os reflexos primitivos iniciam em atividade na vida pré-natal, auxilia o feto no seu posicionamento para o nascimento e garante a sobrevivência nos primeiros dias de vida (PAPALIA & FELDMAN, 2021; GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2023).
Os reflexos de sobrevivência primitivos são aqueles que estão relacionados à sobrevivência do bebê, estreitamente ligados à nutrição e proteção, surgindo durante a vida fetal e persistindo até o primeiro ano. São eles: sucção; quatro pontos cardeais; moro; preensão tônica palmar e plantar; reflexos mão-boca; palmar-mental; reflexo palmar mandibular; reflexo tônico cervical assimétrico; reflexo tônico cervical simétrico. (HADDERS-ALGRA, 2018).
As reações são movimentos automáticos e controlados pelo mesencéfalo, que incluem padrões rítmicos já bem aprendidos. Podem ser reações posturais de equilíbrio, proteção e retificação, sendo movimentos ativos ou mudanças automáticas de tônus, controlando a postura normal do indivíduo, permitindo que os movimentos voluntários ocorram, já preparando para posturas eretas. As principais reações são: reação labiríntica (endireitamento); reação de endireitamento cervical e corporal; reação paraquedas ou extensão (proteção) (HADDERS-ALGRA, 2018).
Em prono, o reflexo de liberação de vias aéreas evolui para a reação labiríntica de retificação, a partir do estímulo dos canais semicirculares, verticalizando a cabeça. Progressivamente, com elevação da cabeça e ativação dos extensores da cabeça, o padrão flexor vai se atenuando. A descarga de peso vai sendo também transferida para o abdômen, sendo o final desse trimestre marcante em relação aos membros superiores (antebraços), estabilidade da cintura escapular e controle cefálico. Ainda há encurtamento de flexores de quadril com abdução e rotação externa de coxofemoral. Quando em supino, o bebê tem o padrão flexor fisiológico diminuído, visto que a gravidade impõe novos desafios de mobilidade, onde ocorrem chutes alternados que aumentam o trabalho da musculatura abdominal (CAMPOS et al., 2020).
O controle extensor em prono aumenta, o flexor em supino também e a transferência de peso anteroposterior, no plano sagital, aumenta. Apesar de a presença da assimetria postural ser normal nos três primeiros meses, assimetria muito acentuada é sinal de alerta para alguma anormalidade do desenvolvimento (FERNANDES e OLIVEIRA, et al., 2021).
Aquisição dos Movimentos Voluntários
Os padrões de movimento voluntários são posturas que possibilitam a execução das habilidades motoras em diferentes posições e ocorrem pelos mecanismos de feedback (pistas sensoriais) e feedforward (ajustes posturais antecipados após a automatização do feedback), resultantes da adaptação, evoluindo de acordo com o desenvolvimento neurológico (Shumway-Cook E Woollacott, 2023).
As primeiras aquisições ocorrem até os três meses de idade, o lactente adquire simetria postural: a cabeça fica mais na linha média, em alinhamento com o tronco e os membros superiores e inferiores se movimentam de forma mais simétrica. As mãos muitas vezes se juntam na linha média e os membros inferiores fazem movimentos que lembram o pedalar (HADDERS-ALGRA, 2021).
Com quatro meses, os bebês estão mais simétricos e estáveis, com equilíbrio, controlando a cabeça em diferentes posturas (TECKLIN, 2015; PAYNE; ISAACS, 2023; GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2023). No sexto mês, a criança movimenta a cabeça livremente em diversas posturas, com completo controle superior (HADDERS-ALGRA, 2018).
No segundo semestre, as reações posturais estão em pleno desenvolvimento, as experimentações de transferência de peso látero-lateral e rotações de tronco iniciam o rolar de decúbito dorsal para lateral e ventral com dissociação de cinturas, de forma espontânea, saindo do plano sagital para o transversal. Em posição supina, as mãos se encontram na linha média, a retirada da cabeça do apoio, a ponte, a colocação das mãos nos joelhos e nos pés, leva os pés à boca e rola de decúbito lateral para prono. Na posição prono ocorre o balconeio dos membros superiores, com transferências de peso látero-lateral e ântero-posteriores e o treino da posição de quatro apoios. A flexão e extensão ativas são realizadas de forma adequada no segundo semestre de vida (HADDERS-ALGRA, 2020).
A posição sentada evolui de maneira rápida entre 4 e 6 meses, inicialmente precisam de apoio na região lombar, pois o controle de tronco é mais superior (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2023), logo após, inicia o movimento de sentar lateral, com transferências de peso para os membros superiores. Ao sentar-se sozinho, usa a base alargada e mãos apoiadas para se estabilizar, por meio da reação de proteção (HADDERS-ALGRA, 2020). Muitas vezes, a criança inicia um padrão de movimento de deslocamento para trás, o rastejar retrógrado (PAYNE; ISAACS, 2023). Ao sexto mês, quando puxado para sentar, eleva a cabeça, ombros e braços, antecipando a posição (De BUTLER, 2022).
As capacidades manipulativas iniciam com alcance de objetos, de maneira lenta e desajeitada, envolvendo ombro e cotovelo, o polegar está estendido e um pouco aduzido (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2023). As aquisições dos planos sagital e transversal proporcionam as transferências e dissociações, variando padrões motores de movimento e ampla mobilidade nas posições supino e prono. Nessa fase desaparecem todos os padrões tônicos posturais e reação de Moro (BUTLER, 2022). Os reflexos que ainda permanecem de maneira sutil são: preensão palmar (coloca-se o dedo na palma da mão do bebê e ele flete os dedos com força), reação de retificação em supino, de anfíbio em prono, de landau em suspensão vertical, e de proteção à frente sentado (TRETTIEN, 2023).
No terceiro semestre, o bebê troca de posturas e explora o ambiente (ADOLPH, 2017). Ele descarrega peso nos membros superiores, faz balanços anteriores e posteriores que fortalecem os membros superiores e inferiores (HAYWOOD; GETCHELL, 2022), com estabilidade na cintura escapular e trabalho na musculatura intrínseca da mão, que se molda aos objetos de feedforward. Com o amadurecimento da posição sentada, ocorre a liberação dos membros para manipulação frequente de objetos, beneficiando a relação olho-mão (PAYNE; ISAACS, 2023) desenvolvendo uma melhor preensão palmar, mas ainda não eficiente. Posteriormente, a pinça se desenvolve (FERNANDES et al., 2021). O engatinhar evolui de bloco para a dissociação de cinturas e aos 8 ou 9 meses o bebê começa a explorar o ambiente dessa maneira.
No quarto trimestre, a posição ortostática tende a se aperfeiçoar, surge a reação de proteção para trás nos membros superiores, amplia-se a capacidade de exploração e locomoção. Em ortostase, entre 9 e 10 meses, ainda com apoio, ocorre a transferência de peso e caminhada lateral, com ativação da musculatura intrínseca do pé (IVANENKO, 2019; GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2023; KAIL, 2004; PAYNE; ISAACS, 2023). Possui flexão de joelhos por não apresentar ainda o domínio da postura em pé, a base é alargada. As reações de equilíbrio em diversas posturas se apresentam (dorsal, ventral e sentada) assim como o reflexo postural de Landau (HADDERS-ALGRA, 2020).
Aos 11 meses, o controle muscular é melhor (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2023) a ortostase é usada para exploração, com marcha livre e braços abertos (“urso”) que dá estabilidade, pois as reações de equilíbrio ainda estão amadurecendo (ADOLPH, 2021). Com 12 meses, experimenta soltar os apoios, ocorrendo os primeiros passos (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2023; GETCHEKK, 2004; PAPALIA E FELDMAN, 2021).
A marcha depende do equilíbrio, da motivação para explorar o ambiente e da força dos membros. A aquisição da marcha permite que os membros superiores fiquem livres, melhorando a interação do bebê com o mundo (PAPALIA e FELDMAN, 2021). As reações posturais de retificação estão integradas, as reações de equilíbrio são eficazes, assim como as de proteção (WOJCIECHOWSKA e ZWIERZCHOWSKA, 2022). O ato de correr surge por volta dos 16 meses, aumentando a velocidade, o comprimento e a consistência das passadas, onde a capacidade de subir e descer degraus também aparece (PAPALIA e FELDMAN, 2021; Haywood; Getchell, 2022).
Aos 14 meses, os membros inferiores estão fortes (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2023) o bebê agarra objetos em diversas posições, ajusta pressão e tensão palmar, transfere objetos de mão em mão e coordena o olhar, a supinação do antebraço já é adequada, (PAYNE; ISAACS, 2023). A pinça é desenvolvida e a pega ultrapassa a linha média corporal (SAFRONOVA et al., 2022; SMITH, B.; THELEN, 2020)
Aos dezoito meses, a coordenação da mão é bem controlada (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2023). A estabilidade traz o equilíbrio necessário para a locomoção, levando à exploração constante do ambiente e às trocas de postura rapidamente. O centro de gravidade está entre os pés, facilitando diversas locomoções (ADOLPH, e FRANCHAK, 2017; SAFRONOVA,, 2022; HADDERS-ALGRA, 2018; FERRE, 2015). Nesse período, o bebê refina as habilidades já adquiridas nos primeiros 12 meses de vida (TECKLIN, 2015).
Nessa fase, caso ocorra qualquer insulto, seja ele genético ou hereditário, ambiental ou biológico, ocorrido pré, peri ou pós-natal, que afete o sistema nervoso central, promoverá desordens no desenvolvimento postural, biológico, psicossocial e cognitivo. Dessa maneira, percebemos prejudicadas as aquisições do bebê na fase fundamental dos primeiros anos de vida em todos os seus aspectos, limitando as possibilidades de interação do indivíduo com o meio (HADDERS-ALGRA, 2010; SHONKOFF, 2012; HADDERS-ALGRA, 2018).
Conclusão
O presente estudo apresentou uma visão abrangente e cronológica sobre o desenvolvimento motor típico de crianças entre 0 e 12 meses, destacando as etapas fundamentais desse processo. Os resultados literários demonstram que o desenvolvimento motor ocorre de maneira previsível, com progressões que vão agindo contra a gravidade, culminando na aquisição de habilidades motoras mais refinadas. Foi demonstrado através dessa pesquisa alguns passos do desenvolvimento motor no primeiro ano de vida.
A análise descritiva dos dados permitiu identificar padrões e lacunas no conhecimento, contribuindo para uma melhor compreensão do desenvolvimento motor infantil. Assim, este estudo ofereceu subsídios para auxiliar os leitores na promoção de um desenvolvimento saudável, focando no desenvolvimento motor inicial da criança e servindo como referência para futuras pesquisas e intervenções na área de desenvolvimento infantil.
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1Fisioterapeuta na AACD RS, M.Mestranda pelo Programa de Pós Graduação em Ciências do Desenvolvimento Humano – Universidade do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS, Brasil ORCID: 0000-0002-4995-3086, Especializada em Fisioterapia Neurofuncional e Motricidade Infantil UFRGS.
2PhD Universidade de Barcelona (UB), docente da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS, Brasil. ORCID: 0000-0003-1271-2876