DESENVOLVIMENTO DA GAIOLA SENSORIAL PARA O USO TERAPÊUTICO  NA CLÍNICA DE FISIOTERAPIA DA UNIVERSIDADE SANTA CECÍLIA

DEVELOPMENT OF THE SENSORY CAGEFOR THERAPEUTIC USE AT THE PHYSIOTHERAPY AT THE SANTA CECÍLIA UNIVERSITY

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.12594107


Maria Vitoria Zeminian Hirata¹,
Nicoli Cristine Nunes Silva¹,
Orientadora: Profa. Raquel Cristovão Gonçalves²


RESUMO

Visto a falta da estrutura como recurso sensorial no ambulatório de fisioterapia neurofuncional pediátrica da Universidade Santa Cecília para melhor atender os pacientes foi idealizada e construída a gaiola sensorial.  O objetivo do artigo é relatar a construção, o desenvolvimento e os benefícios que  o equipamento é capaz de promover. A idealização da gaiola foi durante o estágio curricular obrigatório de neurofuncional pediátrica para formação de fisioterapia das autoras. Não foi encontrado o equipamento em outras universidades para auxílio nos atendimentos obrigatórios propostos pela graduação sendo um diferencial para os alunos por ser um equipamento utilizado em clínicas na vida profissional. A construção da estrutura foi pensada de uma forma diferente do mercado atual para trazer maior conforto. Já o balanço é utilizado para estimulação sensorial, proprioceptiva, regulação do sistema vestibular, reorganização tônica e comportamental sendo um benefício no tratamento de doenças como síndrome de Down, paralisia cerebral, transtorno do espectro autista e auxiliar no desenvolvimento motor de recém nascidos. Conforme o presente artigo foi possível concluir os benefícios que a gaiola sensorial pode trazer para o desenvolvimento dos pacientes no ambulatório de fisioterapia neurofuncional pediátrica na Universidade Santa Cecília.

Palavras-chave: fisioterapia, sistema vestibular, paralisia cerebral, transtorno do espectro autista

ABSTRACT

Given the lack of structure as a sensory resource in the pediatric neurofunctional physiotherapy outpatient clinic at Universidade Santa Cecília to better serve patients, the sensory cage was designed and built.  The objective of the article is to report the construction, development and benefits that the equipment is capable of promoting. The cage was created during the mandatory pediatric neurofunctional curricular internship for the authors’ physiotherapy training. The equipment was not found at other universities to assist in the mandatory services proposed by graduation, making it a differentiator for students as it is equipment used in clinics in their professional lives. The construction of the structure was designed differently than the current market to bring greater comfort. The swing is used for sensory and proprioceptive stimulation, regulation of the vestibular system, tonic and behavioral reorganization, being a benefit in the treatment of diseases such as down syndrome, cerebral palsy, autism spectrum disorder and assisting in the motor development of newborns. According to this article, it was possible to conclude the benefits that the sensory cage can bring to the development of patients in the pediatric neurofunctional physiotherapy outpatient clinic at Universidade Santa Cecília.

Keywords: Physical therapy, vestibular system,cerebral palsy, Autism Spectrum Disorder.

INTRODUÇÃO

A gaiola de habilidades é um recurso utilizado na fisioterapia para  reabilitação neurofuncional com uma proposta de terapia intensiva que conta com o uso da estrutura e veste terapêutica.1 A terapia intensiva é dividida em três ou quatro horas por dia de tratamento, durante 5 dias, por 3 semanas, com objetivo de, na primeira semana reduzir tônus e melhorar força muscular; na segunda semana aquisição de força em musculaturas específicas, e na terceira semana aprimorar força e resistência alcançados nas fases anteriores.1 Esse tipo de terapia busca o alcance rápido de objetivos terapêuticos específicos, como habilidade funcional, melhora da função motora , aumento no grau de independência e participação social.1

A estrutura utilizada neste tipo de terapia, também pode ser aproveitada para realização de terapias convencionais, com duração de30 a 60 minutos, realizadas uma ou duas sessões por semana, com possibilidade de fornecer um repertório de movimentos que trazem benefícios que incluem melhora da estabilidade, equilíbrio, interação sensorial, coordenação motora, autonomia, estímulo proprioceptivo e vestibular.1,2

A partir dos benefícios propostos com o uso da gaiola, e mediante a necessidade de equipamentos que pudessem proporcionar maiores ganhos aos pacientes atendidos no Ambulatório Neurofuncional Pediátrico na Clínica de Fisioterapia da Universidade Santa Cecília (UNISANTA), foi construído, em parceria com o laboratório de engenharia mecânica, da mesma universidade, uma gaiola sensorial com dispositivo para balanço.

Com isso, o presente artigo tem como objetivo descrever detalhadamente o desenvolvimento do equipamento denominado gaiola sensorial.

METODOLOGIA

Este estudo trata-se de uma pesquisa descritiva, no qual é relatada a construção de uma gaiola sensorial dentro do Ambulatório Neurofuncional Pediátrico da Clinica de Fisioterapia da UNISANTA com intuito de promover alternativas de tratamento aos pacientes atendidos durante os estágios obrigatórios do curso de fisioterapia.

A ideia da gaiola surgiu a partir de atendimentos realizados pelas autoras, sob supervisão da Professora Raquel Cristovão Gonçalves, aos pacientes E.H.H de seis anos, com diagnóstico de pé equino e Transtorno do Espectro Autista (TEA), e o paciente O.D.C de 10 anos diagnosticado com paralisia cerebral e TEA, que pelas dificuldades impostas pela complexidade dos casos se sentiram motivadas a buscar auxilio para a construção dessa estrutura.

A proposta das alunas e autoras do artigo, foi facilitar e proporcionar alternativas de tratamento e qualidade aos atendimentos prestados para as crianças em seguimento no serviço, além de promover aprendizado diferenciado e vivência para os alunos do curso de Fisioterapia da UNISANTA, e assim contribuir para a formação dos mesmos e enriquecer experiências que possam auxiliar o ingresso no mercado de trabalho.

DISCUSSÃO

A gaiola sensorial será utilizada em terapias convencionais, sem uso da terapia intensiva, para patologias como paralisia cerebral, TEA, atraso no desenvolvimento motor e outras doenças com alterações cognitivas e motoras.

Até o presente momento, não foram encontradas menções ou referências que nos façam crer que existam equipamentoscomo esse, ou mesmo similares,dentro das universidades da região, utilizados como ferramenta no atendimento a pacienetes e oportunidade de aprendizado único, durante a graduação.

A gaiola de habilidades, presente no mercado atual, é similar a gaiola de Faraday®, confeccionada com uma trama de estrutura, responsável pela fixação de ganchos elásticos, que podem gerar sensação de aprisionamento para o paciente. Visando um maior conforto sensorial e pensando na necessidade de se fixar estruturas de estímulos sensoriais no teto da gaiola, a equipe avaliou uma nova forma de construção, diferente da encontrada no mercado. Essa ideia foi pensada utilizando o método da ergonomia, o qual é subdivido em categorias sendo uma delas a ergonomia ambiental que conta com os mecanismos fisiológicos, motivacionais, relações interpessoais e as características do ambiente como luz, cores, temperaturas e formas.3

Com isso em mente, foi projetadauma gaiola sensorial, que permitisse maior espaço interno, confeccionada com barras diferentemente da gaiola existente no mercado, constituída por tramas, algo que se tornou possível por ter não ter como objetivo o uso da veste como principal recurso de terapia. As laterais do equipamento foram projetadas para que pudessem ser utilizadas com função de espaldar, ocasionando suporte para diversos exercícios de alongamento, fortalecimento muscular, amplitude de movimento e flexibilidade.

Após projeto pronto e aprovado pela diretoria da UNISANTA, foi solicitado a compra do material necessário para então dar seguimento com a montagem e posteriormente a soldagem das barras de aço. As cores utilizadas para pintar o equipamento, também passaram por processo de pesquisa, de forma a contribuírem na estimulação sensorial dos pacientes; o azul tem proposta de trazer calma, o rosa traz sensação de paz, o branco por ser neutra é uma cor relaxante e o amarelo remete ao acolhimento, criatividade, autoconfiança e bem estar.4,5 Por fim, foi construído o balanço como um dos acessórios para compor a estrutura, para ser utilizado de forma proprioceptiva e sensorial, além de funcionar como regulador sensorial.

O laboratório de engenharia mecânica realizou a construção da gaiola a partir de tubos de aço de carbono vazados, encaixados e soldados por garantia. Na armação, foram utilizados tubos quadrados 40x40x1,5mm galvanizado, nas laterais foram tubos redondos de ¾ pol.Shc 40, nas barras de cima os tubos também foram redondos, entretanto, foi utilizado os de 1pol. Shc 40. As cantoneiras presentes no quadro traseiro facilitam na montagem e desmontagem do equipamento e os parafusos para fixação da estrutura são de alta resistência.

As imagens a seguir são representadas de forma renderizada, com cotas e real as medidas utilizadas referente ao tamanho da estrutura,  distância da fixação da estrutura na parede, o espaçamento entre as barras de aço e as medidas do balanço.

A seguir são descritas as medidas utilizadas para construção da gaiola e do balanço.

Painel 1 – lado direito

  • 2000 mm – profundidade
  • 2000mm – altura
  • 1920mm – distância interna
  • 250mm- distância entre as barras horizontais
  • 300mm- distância da base ao furo de fixação do painel
  • 650mm- distâcia do primeiro furo  a base de fixação do painel
  • 950mm – distância da base ao furo de fixação do painel
  • 38x38x3,0mm – medidas da cantoneira
  • 40x40x1,5mm- medidas do perfil quadrado
  • Tubos de ¾ pol. Shc 40

Painel 2- lado esquerdo

  • 2000 mm – profundidade
  • 2000mm – altura
  • 1920mm – distância interna
  • 250mm- distância entre as barras horizontais
  • 38x38x3,0mm – medidas da cantoneira
  • 40x40x1,5mm- medidas do perfil quadrado
  • Tubos de ¾ pol. Shc 40

Painel 3- Fundo

  • 2000mm- altura
  • 2000mm- largura
  • 40x40x1,5mm- medidas do perfil quadrado
  • 710mm- distância entre as barras paralelas
  • 38x38x3,0mm – medidas da cantoneira
  • 250mm- distância da base a primeira barra paralela

Painel 4 – Teto

  • 2000mm- largura
  • 2000mm- profundidade
  • 400mm- distância entre as barras paralelas
  • 1920mm – distância interna
  • 40x40x1,5mm- medidas do perfil quadrado
  • Barras paralelas tubo de aço carbono 1pol. Shc 40

Balanço

Madeira

  • 600mm – comprimento
  • 400mm – largura
  • 19mm – espessura

Armação

  • 20x20x1,5mm – Tubo quadrado
  • 4 unidades – olhal de sustentação de vergalhão de aço de carbono 3/8 de diâmetro.

A construção do balanço foi associada ao projeto por esse ser um recurso terapêutico utilizado no atendimento de crianças com Síndrome de Down e lactentes com atraso do desenvolvimento motor, como instrumento para estimulação do equilíbrio e reações de proteção, controle de tronco, alinhamento cervical e de cabeça, auxiliar para as atividades de alcance, estimulação de diferentes posturas, auxiliar na regulação do sistema vestibular, proprioceptivo, integração sensorial, reorganização tônica e comportamental, equilíbrio e proporcionar relaxamento e diminuição do estresse.6,7

Crianças com TEA possuem um conjunto de sintomas característicos, dentre eles o comportamento sensorial incomum,8 regulado pelo movimento de balançar para equilibrar, acalmar e trazer atenção para as atividades propostas na terapia.9Além dos benefícios propostos, o balanço também é capaz de permitir a inclusão e liberdade de movimentos para crianças com deficiências que restringem o movimento como acontece na paralisia cerebral.10

CONCLUSÃO

O presente artigo buscou descrever as etapas do processo de construção de um equipamento utilizado para atendimento de criança no ambiente da UNISANTA, desde sua idealização até sua instalação, além de trazer as perspectivas de contribuição para o tratamento dos pacientes e enriquecimento curricular dos futuros profissionais formados por essa instituição de ensino.

REFERÊNCIAS

  1. Cantareli FJS. O thera suit como recurso fisioterapêutico  no tratamento de crianças com paralisia cerebral.  Brasil; 2013; 1(1):1-8  [Acessado em 10 de junho de 2024]. Disponível em: http://www.qualifique.com/
  2. Apae de Casa Branca. APAE de Casa Branca destaca a importância da gaiola de habilidade – PEDIASUIT. Revista FEAPAES – SP. 2023. [Acessado em 10 de junho de 024]. Disponível em: https://revista.feapaes.com.br/
  3. COSTA LHSC. Análise do ambiente em salas de atendimento da Fisioterapia Pediátrica sob o foco da percepção do usuário. Repositório Digital da UFPE. 2019; 1(1): 2-27.
  4. Bohrer T. Conheça as cores que mais acalmam o ambiente. Blog Plaenge . 2022. [Acessado em 17 de junho de 2024]. Disponível em: https://blog.plaenge.com.br/
  5. Lima LS. Quais sensações as cores despertam. Blog Cerâmica Portinari. 2017.  [Acessado em: 17 de Junho de 2024]. Disponível em: https://www.ceramicaportinari.com.br/
  6. Arenhart, MM, Grave MQ, Jaeger LK., Capalonga L, Fleig, TC. Influência do uso do balanço como recurso terapêutico na aquisição da posição quadrúpede em bebês com Síndrome de Down. Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences. 2023; 5(5): 2664-2680.
  7. Sucupira KSMB. Efeitos da estimulação sensorial vestibular no desenvolvimento neuromotor por meio de posicionamento em rede de balanço em prematuros tardios: ensaio clínico randomizado. Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFTM. 2022; 1(1): 12-14.
  8. Sella AC, Ribeiro DM. Análise do comportamento aplicada ao transtorno do espectro autista. Appris Editora e Livraria Eireli-ME, 2018; 1(1): 12-19.
  9. Furtuoso P. Teoria da integração sensorial na aprendizagem de crianças com transtorno do espectro do autismo. Biblioteca Central – UEM. 2023; 1(1): 24-35.
  10. Martins NBR, Müller M, Heidrich RO. Utilização de brinquedos para inclusão de crianças com paralisia cerebral: desenvolvimento de um balanço ergonômico. Revista Digital.[Internet]. 2008; 13(2): 127-128.

1Discente da Faculdade de Fisioterapia da Universidade Santa Cecília (UNISANTA) – Santos – SP.

2Docente da Fisioterapia da Universidade Santa Cecília (UNISANTA) – Santos – SP