DESAFIOS VIVENCIADOS PELOS PROFISSIONAIS DA REDE DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA DO CONSÓRCIO INTERMUNICIPAL DE SAÚDE DA REGIÃO AMPLIADA OESTE DE MINAS GERAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA

CHALLENGES EXPERIENCED BY THE PROFESSIONALS OF THE URGENCY AND EMERGENCY NETWORK OF THE INTERMUNICIPAL HEALTH CONSORTIUM OF THE EXPANDED WEST REGION OF MINAS GERAIS IN TIMES OF A PANDEMIC

DESAFÍOS VIVIDOS POR LOS PROFESIONALES DE LA RED DE URGENCIAS Y EMERGENCIAS DEL CONSORCIO INTERMUNICIPAL DE SALUD DE LA REGIÓN OESTE AMPLIADA DE MINAS GERAIS EN TIEMPOS DE PANDEMIA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.12601103


Regina Consolação dos Santos1
Lídia Maria Caetano2
Thais Stéfany Alves3
Maristela Cabral de Freitas Guimarães4
Alinne Nogueira Silva Coppus5
Ricardo Bezerra Cavalcante6


RESUMO

Objetivo: compreender os desafios enfrentados pelos profissionais do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência da Região Centro Oeste do Estado de Minas Gerais. Método: caracteriza-se por ser uma pesquisa descritiva, de abordagem direta e de caráter qualitativo, com levantamento de dados desenvolvidos através de uma entrevista no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência da Região Centro Oeste de Minas Gerais, tendo como público-alvo os profissionais da área da saúde de ambos os sexos, com faixa etária de 21 a 59 anos de idade, com dados coletados através de um questionário composto de 8 perguntas semi- estruturadas, aplicadas remotamente através do Google Forms e encaminhado para os 23 participantes da pesquisa. Resultados: com a análise das respostas foi possível identificar que, há principalmente consequências à saúde mental daqueles que atuam na assistência, bem como precarização no processo de trabalho e baixos salários. Conclusão: sugere-se  que os gestores deem a devida relevância ao assunto, realize reuniões com a equipe para avaliarem os pontos que necessitem de melhorias, com espaços de escuta, valorização dos funcionários, através de salários condizentes com a rotina de trabalho e do fornecimento adequado dos EPI’s.

Descritores: Serviços médicos de emergência; COVID -19; Saúde mental; Esgotamento Profissional.

ABSTRACT

Objective: to understand the challenges faced by professionals in the Mobile Emergency Care Service in the Midwest Region of the State of Minas Gerais. Method: it is characterized by being a descriptive research, with a direct approach and qualitative and character, with data collection developed through an interview in the Mobile Emergency Care Service of the Central West Region of Minas Gerais, having as target public health professionals of both sexes, aged between 21 and 59 years old, with data collected through a questionnaire composed of 8 semi-structured questions, applied remotely through Google Forms and forwarded to the 23 participants of the search. Results: with the analysis of the responses, it was possible to identify that there are mainly consequences for the mental health of those who work in the assistance, as well as precariousness in the work process and low wages. Conclusion: it is suggested that managers give due importance to the subject, hold meetings with the team to assess the points that need improvement, with spaces for listening, valuing employees, through salaries consistent with the work routine and supply appropriate PPE.

Descriptors: Emergency medical services; COVID-19; Mental health; Professional Exhaustion.

RESUMEN

Objetivo: comprende los desafíos que enfrentan los profesionales del Servicio Móvil de Atención de Urgencias en la Región Centro-Oeste del Estado de Minas Gerais. Método: se caracteriza por ser una investigación descriptiva, de abordaje directo y de carácter cualitativo, con recolección de datos desarrollada a través de entrevista en el Servicio Móvil de Atención de Urgencias de la Región Centro Oeste de Minas Gerais, teniendo como objetivo a los profesionales de la salud pública de ambos sexos, con edades comprendidas entre 21 y 59 años, con datos recogidos a través de un cuestionario compuesto por 8 preguntas semiestructuradas, aplicado de forma remota a través de Google Forms y reenviado a los 23 participantes de la búsqueda. Resultados: con el análisis de las respuestas, fue posible identificar que existen principalmente consecuencias para la salud mental de quienes actúan en la asistencia, además de precariedad en el proceso de trabajo y bajos salarios. Conclusión: se sugiere que los gerentes le den la debida importancia al tema, realicen reuniones con el equipo para evaluar los puntos que necesitan mejorar, con espacios de escucha, valoración de los empleados, a través de salarios acordes con la rutina de trabajo y provisión de EPP adecuados.

Descriptores: Servicios médicos de emergencia; COVID-19; Salud mental; Agotamiento profesional.

INTRODUÇÃO

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) o Coronavírus (COVID-19), é uma doença infecciosa causada pelo vírus SARS-CoV-2, transmitido por contato direto, através de gotículas de saliva ou secreção nasal. Esse vírus afeta as pessoas de diferentes formas, manifestando-se por um quadro de infecções respiratórias assintomáticas, quadros comuns como febre, tosse seca e cansaço, a sintomas menos comuns, como dores e desconfortos, dor de garganta, diarreia, conjuntivite, dor de cabeça, perda de paladar ou olfato, erupção cutânea na pele ou descoloração dos dedos das mãos ou dos pés e avançando(1).

A expansão da COVID-19 apontou a necessidade de ações globais, desde os governos de países mais ricos aos mais periféricos, desencadeando uma crise sanitária mundial, com grandes reflexos econômicos, financeiros, políticos, sociais e de resistência humanitária. Tal situação emanou a necessidade de respostas rápidas, num contexto coletivo mundial, estando no centro dessa crise, os sistemas de saúde devem ser estratégicos para a contenção da pandemia e retomada mundial da expansão da economia(2).

Os profissionais de saúde, mesmo com todo treinamento e orientações têm se contaminado. No fechamento da semana epidemiológica 9  (de 27/02/2022 a 05/03/2022) do Ministério da Saúde, foram notificados 197 casos de síndrome respiratória aguda (SRAG) hospitalizados em profissionais de saúde no SIVEP-Gripe. Desses, 126 (64,0%) foram causados por covid-19 e 43 (21,8%) encontram-se em investigação. Entre as profissões mais registradas no âmbito dos casos SRAG hospitalizados pela covid-19, 29 (23,0%) foram técnicos/auxiliares de enfermagem, 21 (16,7%), médicos e 18 (14,3%) enfermeiros(3)..

 No cenário atual até a semana epidemiológica 45 (de 06/11/2022 a 12/11/2022) do Ministério da Saúde, foram notificados 345 casos de SRAG hospitalizados em profissionais de saúde conforme o SIVEP-Gripe. Desses, 226 (65,5%) foram causados por covid-19 e 29 (8,4%) encontram-se em investigação. Entre as profissões com mais registros de casos SRAG hospitalizados pela covid-19, 52 (23,0%) foram técnicos/auxiliares de enfermagem, 39 (17,3%), médicos e 23 (10,2%), enfermeiros(4).

Diante a esses dados, podemos notar o grande estresse, pressão e risco que esses profissionais estão vivenciando na pandemia pelo COVID-19 no Brasil. Dentre esses profissionais, os profissionais do SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) vêm desempenhando um papel fundamental no atendimento imediato e na transferência dos pacientes classificados como suspeitos ou confirmados pelo COVID-19, para centros especializados. Isto posto, deve-se considerar que uma interação negativa entre o ambiente de trabalho e fatores humanos pode desencadear respostas físicas e emocionais que acarretam prejuízos à qualidade de vida e levam ao acometimento de doenças(5).

O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) é um programa criado pelo Governo Federal no ano de 2003 e regido pela Política Nacional de Atenção às Urgências, Portaria GM nº 1.863, de 29 de setembro de 2003. Tem como função principal, fornecer assistência de forma rápida a demandas urgentes, seja em casa, no trabalho ou em vias públicas, prestando uma assistência de 24 horas por uma equipe multiprofissional de saúde, composta por enfermeiros, técnicos de enfermagem, médicos, entre outros profissionais(6). O serviço de atendimento de urgência e emergência desempenha um papel vital na resposta a pedidos de assistência, na triagem de pacientes e no fornecimento de tratamento de urgência e emergência e transferência para pessoas doentes. No entanto, diferentemente do atendimento ao paciente no ambiente controlado de um estabelecimento de saúde, o atendimento e o transporte pelo SAMU apresentam desafios únicos devido à natureza do ambiente, espaço fechado durante o transporte, necessidade frequente de tomada de decisão rápida, intervenções com informações limitadas(7).

O sistema brasileiro a partir de 2010, optou em organizar a assistência de urgência e emergência por meio de redes em seu território. No Brasil essa proposta foi criada com a resposta do sistema a nova conformação epidemiológica, sendo seu objetivo prestar serviço de urgência e emergência de forma qualificada a todo território brasileiro. Para sucesso de sua implantação, foram disponibilizados investimentos e custeio. As ações executadas para o atendimento à vítima são efetuadas de forma sistemática, organizada e ordenada e tem como intuito dar continuidade a um atendimento previamente iniciado. Nas bases operacionais, os profissionais atuantes no serviço de atendimento pré-hospitalar móvel esperam pelo acionamento, uma vez acionadas, as equipes deslocaram-se para o local ordenado pela central. Chegando ao local, reportam a ocorrência para a central de regulação médica das urgências e iniciam a assistência ao paciente(8).

Sabe-se que os profissionais que atuam nos Serviços de Urgência e Emergência demonstram um forte laço com a profissão, por ser um serviço que exige conhecimento aprimorado e continuado, bem como competência de lidar com situações inesperadas e desafiadoras. Por ser um tipo de atividade em que o profissional está muito exposto, sofre cobranças da população, sendo diariamente avaliado na realização de suas tarefas. A atuação do enfermeiro está justamente ligada à assistência direta ao paciente, assim sendo, a prática de enfermagem desenvolvida no SAMU, envolve não apenas experiência e competência no atendimento prestado à vítima, mas também preparação física e autocontrole(9).

Diante a pandemia do COVID-19 houve um grande aumento no atendimento e os profissionais de saúde lidam ainda mais com decisões difíceis, vivenciando situações de risco, pressão e estresse, que podem afetar seu bem-estar físico e mental. O Estresse é considerado como o mal do século, tendo sua primeira definição em 1956 por Mihaly Csikszentmihalyi, que o definido como uma reação inespecífica do corpo a qualquer demanda, interna ou externa(10). De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), saúde mental é um estado de bem-estar no qual o indivíduo é capaz de usar suas próprias habilidades, recuperar-se do estresse rotineiro, ser produtivo e contribuir com a sua comunidade. A saúde mental implica muito mais que a ausência de doenças mentais(11).

Assim, identifica-se a necessidade de compreender como esses profissionais de saúde do SAMU estão lidando com essas situações trazidas pela pandemia, quais são os desafios enfrentados por eles e como estão sua saúde física e mental, uma vez que diante dessa pandemia, os cuidados em saúde física e mental para esses profissionais que estão na linha de frente, se fazem ainda mais necessários. O estudo tem como objetivo compreender os desafios, estresse, ansiedade e qualidade de vida enfrentados pelos profissionais do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência da Região Centro Oeste do Estado de Minas Gerais.

MÉTODOS

 Trata-se de um estudo que caracteriza-se por ser uma pesquisa descritiva, de abordagem direta e de caráter qualitativo faz parte de um Projeto Integrados/“Guarda-Chuva” onde eles se articulam e se desdobram em outros subprojetos que são desenvolvidos em parceria com profissionais de outras instituições e/ou centros de pesquisa ou com estudantes. Com levantamento de dados desenvolvidos através de uma entrevista no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência da Região Centro Oeste de Minas Gerais que é denominado Consórcio Intermunicipal de Saúde da Região Ampliada Oeste para Gerenciamento dos Serviços de Urgência e Emergência CIS-URG Oeste, constituído por 54 municípios, contendo assim 24 bases descentralizadas.

O público-alvo é composto por todos os profissionais da área da saúde do SAMU (Enfermeiros, técnicos de enfermagem e médicos) de ambos os sexos, com faixa etária de 21 a 59 anos de idade, que trabalham desde o início da pandemia COVID-19 no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência da Região Centro Oeste de Minas Gerais e estejam atuando no serviço citado da referida região no ano de 2020.

Os dados foram coletados através de um questionário composto de 8 perguntas semi- estruturadas e aplicadas remotamente através do Google Forms e encaminhado para 23 os participantes da pesquisa via e-mail com tempo máximo de 120 minutos para preenchimento do questionário. Os dados foram digitados no programa Microsoft Excel (2016) e apresentados em formas de tabelas e gráficos.

No momento da aplicação do questionário foram disponibilizados para a leitura e assinatura, o TCLE, igualmente assinado, em duas vias de mesmo teor. Para manter sigilo, os entrevistados foram identificados nas falas pela letra P, seguida do número arábico correspondente à ordem em que as entrevistas foram realizadas.

A aplicação do questionário ocorreu durante os meses de Maio a Junho de 2021, após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da UEMG, utilizando instrumento validado para análise das variáveis qualitativas. Somente após ser aprovado, foram coletados os dados da pesquisa. Foram respeitadas as exigências das Resoluções 466/2012, bem como da Resolução 580/2018 e Resolução 510/2016.

RESULTADOS

A pesquisa revelou que em relação à faixa etária, 30,1% (n=7) dos profissionais  têm entre 20 e 35 anos, 69,9% (n=16) entre 35 e 57 anos. Sendo 60 (n=14) homens e 40% (n=9) mulheres. Em relação ao estado civil, 56,50% (n=6) eram solteiros (as), 52,2% (n=13) casados (as) e 17,4% (n=4) divorciado (a). Em relação a especializações, 69,5% (n=16) possuem especialização. Quanto ao quadro psicológico dos profissionais, 26,1% (n=6) se sentiam deprimidos e 73,91% (n=17) se sentiam ansiosos.

Após levantamento e análise das respostas, foi possível estabelecer oito categorias: 1) Incômodos no cotidiano de trabalho em tempo da COVID-19; 2) Aspectos que afetam a rotina de trabalho dos profissionais; 3) Forma que os protocolos utilizados na pandemia por COVID-19 impactaram na rotina diária; 4) Fator que mais causou impacto diante o atendimento na pandemia por COVID-19; 5) Conhecimentos sobre os equipamentos de segurança que os profissionais devem utilizar para atender os pacientes com COVID-19; 6) Fortalecimento da profissão perante a sociedade na pandemia; 7) Retorno financeiro da especialidade de atuação em relação a relevância do cargo; 8) Reflexões e desafios que devem ser levados em consideração aos profissionais que atuam no combate ao COVID-19.

Categoria 1: Incômodos no cotidiano de trabalho em tempo da COVID-19.

Em relação aos incômodos no cotidiano de trabalho em tempo da COVID-19, foi possível identificar na fala dos profissionais, diversos incômodos.

“ Desvalorização, fake news sobre a vacina, os anti vacinas.” (P1)

“A desvalorização, fake news sobre a vacina, os anti vacinas.” (P2)

“Alta exposição doença infecto contagiosa.” (P10)

“Sobrecarga de trabalho.” (P21)

Categoria 2: Aspectos que afetam a rotina de trabalho dos profissionais.

A respeito aos aspectos que afetam a rotina de trabalho dos profissionais, foi possível perceber a exaustão/sobrecarga de trabalho dos mesmos.

“Cansaço físico e mental.” (P2)

“Exaustão.” (P6)

“Piorou a rotina, aumentou trabalho, risco de contaminação, pacientes mais graves, maior tempo em ocorrência, maior cansaço e desgaste.” (P7)

“Sobrecarga de trabalho / Insegurança quanto a doença covid.” (P17)

Categoria 3: Forma que os protocolos utilizados na pandemia por COVID-19 impactaram na rotina diária.

Em relação a forma de impacto na rotina diária dos profissionais devido aos protocolos utilizados na pandemia por COVID-19, foi possível evidenciar na fala dos mesmos, a mudança na rotina de trabalho e paramentação.

“São incômodos, traz mais cansaço devido o calor que a roupa do SAMU junto com o macacão proporciona.” (P3)

“Uma nova forma de lidar com este vírus! Um novo jeito de se viver , respeitando o próximo , mais amor e empatia, não sabemos se vamos voltar para casa ou se iremos rever nosso entes queridos , sabemos que vamos sair de casa mas a volta as vezes é indecisão.” (P8)

“Sobrecarga de serviço. Desinfecçoes terminais realizadas nas madrugadas. Roupas molhadas. Falta de logística da regularização ao empenhar as ocorrências. Longas distâncias. Alguns médicos não ajudaram na desinfecção das ambulância.” (P10)

“Impacto na vida social, econômica.” (P11)

Categoria 4: Fator que mais causou impacto diante o atendimento na pandemia por COVID-19.

Em relação ao fator que mais causou impacto diante o atendimento na pandemia por COVID-19, foi notório na fala dos mesmos, o medo, a sobrecarga de trabalho, bem como o quadro de saúde dos pacientes.

“O medo das pessoas em morrer.” (P3)

“Sobrecarga de trabalho.” (P6)

“Emocional pela situação inusitada. Lidar com o desconhecido em linha de frente. E física pela sobrecarga de serviço.” (P10)

“Aumento de atendimentos e desgaste da equipe.” (P17)

“Gravidade dos pacientes.” (P23)

Categoria 5:  Conhecimentos sobre os equipamentos de segurança que os profissionais devem utilizar para atender os pacientes com COVID-19.

Em relação aos conhecimentos básicos dos equipamentos de proteção individual (EPI’s) para o atendimento a pacientes com COVID-19 e sua disponibilidade para uso, foi possível identificar na fala dos profissionais.

“Óculos de proteção, Touca, Luvas, Capotes, Máscaras, Pro- pés. Atualmente sim são disponibilizados.” (P1)

“Macacão,N95, touca,luvas que estão disponíveis na ambulância.” (P5)

“EPIs necessários: Macacão impermeável, Capotes (CTI), Máscara N95, Luvas procedimento, face shild, gorro, óculos proteção. Maior parte disponível”(P6)

“Óculos, máscara, avental ou macacão, touca, luvas. Os Epis estão disponíveis,no entanto, houve piora na qualidade das luvas, rasgando facilmente, deixando profissional mais exposto.” (P7)

“Os equipamentos de segurança utilizados são: touca, avental ou macacão, óculos, máscara, luvas e face shield. Todos estavam disponíveis o tempo todo. Obs: É importante salientar que o material seja de qualidade também, por exemplo, existem luvas no mercado que rasgam facilmente e expõem o profissional ao risco da mesma forma.” (P13)

Categoria 6: Fortalecimento da profissão perante a sociedade na pandemia.

Em relação às dificuldades, a pandemia tem fortalecido a profissão perante a sociedade, foi possível identificar na fala dos profissionais, uma discordância de opiniões.

“Creio que sim, a sociedade percebeu o quanto somos importantes, pois estamos diretamente na linha de frente em contato com o paciente e estamos sempre na organização do processo.”(P4)

“Não, profissão muito desvalorizada com muitos conflitos entre colegas .”(P5)

“Discordo. O cenário que estou acompanhando e que profissionais da enfermagem e descartável, na primeira oportunidade as instituições diminuíram o quadro de profissionais, demitindo em massa, salários e carga horária incompatíveis com a real valorização.”

“Instituições seguirão desvalorizando essa categoria infelizmente a PANDEMIA não fortaleceu.” (P7)

“Em partes sim, vejo um respeito maior por parte dos usuários do serviço. Há um melhor reconhecimento dos nossos esforços.”(P9)

Categoria 7: Retorno financeiro da especialidade de atuação em relação a relevância do cargo.

Em relação ao retorno financeiro da especialidade que tem atuado na linha de frente no combate a COVID-19 é compatível com a relevância do cargo, é perceptível na fala dos mesmos sua insatisfação.

“Não, não mesmo, corremos muito risco pelo o pouco que recebemos.”(P3)

“Não é compatível mesmo se não houvesse pandemia.”(P4)

“Não. Incompatível e desvalorizado.”(P5)

“Não. Deveria ser mais valorizado, pra atuação nesta área. os profissionais da linha de frente recebem baixos salários e trabalham em condições desfavoráveis /muitas vezes não dá tempo de alimentar. “(P6)

“Não! Diante de tudo que se vive , não somos valorizados tanto o técnico quanto o condutor.”(P7)

Categoria 8: Reflexões e desafios que devem ser levados em consideração aos profissionais que atuam no combate ao COVID-19.

Em relação às reflexões e  desafios que devem ser levados em consideração aos enfermeiros que atuam no combate ao COVID-19, foi possível observar que a valorização salarial e profissional está bem evidente na fala dos profissionais P

Durante a pandemia ficou mais difícil conciliar vida pessoal e profissional.”(P2)

“Devemos ter serenidade e resiliência frente aos acontecimentos, mantendo o uso regular dos equipamentos para evitar a contaminação entre nós e à população atendida !.” (P3)

“Somos uma categoria essencial, para qualquer área da saúde, saúde pública, urgência e emergência, APH, atenção básica, etc, estes profissionais deveriam ter o respeito e reconhecimento, deveria deixar de ser coadjuvante e passar a assumir o papel principal em tudo que faz, não se faz saúde sem esse profissional.”(P6)

“Em suma, o desafio maior é de quem está no topo da pirâmide. A enfermagem como um todo precisa de uma nova formatação. Não dá para valorizar o mal profissional. Porém, os bons não podem ser desvalorizados. Na minha visão é valorizar quem merece ser de fato valorizado.”(P21)

“Amadurecimento profissional, reconhecimento da população, é necessário maior valorização da profissão pelas instituições.”(P22)

“Refletimos na necessidade da enfermagem trabalhar mais unida no que se refere política, mais força, os desafios foram pesados e continuam sendo, a pandemia mostrou para o mundo o poder do enfermeiro na assistência.” (P23)

DISCUSSÃO

Conforme os resultados do presente estudo, foi coletada informações por meio de  entrevista de 23 profissionais da rede de Urgência e Emergência, onde os mesmos expressaram suas opiniões a respeito dos desafios vivenciados. A maioria em questão relata que não há remuneração equivalente com sua profissão; falta de união no quesito de trabalhar em equipe ocasionando até em um a desvalorização da equipe; falta de material para se paramentar.

O cotidiano destes profissionais pode expor uma realidade difícil, repleta de obstáculos que compõem um cenário com situações adversas envolvendo a relação profissional-paciente. O risco de contaminação, no contexto atual, tornou- se tornou uma das objeções enfrentadas diante de uma rotina árdua em prol da saúde(12).

Os profissionais têm enfrentado rotineiramente  a precarização no processo de trabalho e inúmeros problemas no sistema de saúde, como falta de infraestrutura para o atendimento, escassez de insumos, dimensionamento inadequado de pessoal, falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), jornadas extensas, sobrecarga de trabalho, baixos salários e falta de capacitação, entre outros(13).

Graves e prejudiciais são as consequências à saúde mental daqueles que atuam na assistência aos pacientes infectados. Com base no exposto, foi visto que há grandes incertezas em relação ao atendimento prestado e com a constante falta de Epi ́s, se intensifica o risco de ser contaminado ou até pelo fato do vírus ser algo novo e não se ter muitas informações científicas que dê tranquilidade ao profissional que está em ocorrência. Um estudo transversal, com 1.257 profissionais de saúde em 34 hospitais que atendiam pacientes com COVID-19 em regiões da China, evidenciou-se uma quantidade considerável de profissionais de saúde com sintomas de angústia, ansiedade, insônia e depressão(14).

Uma análise demonstrou que os principais fatores que contribuem para o sofrimento psicológico em profissionais de saúde, estão relacionados ao esforço emocional, exaustão física ao se deparar com o crescente número de pacientes com doenças agudas, ansiedade em assumir papéis clínicos novos, preocupação em infectar membros da família e profissionais com pouco acesso aos serviços de saúde mental(15).

Conforme os dados apresentados na pesquisa do Fio Cruz que corroboram os dados expostos neste projeto, observa-se que as alterações mais comuns em seu cotidiano, citadas pelos profissionais, foram perturbação do sono (15,8%), irritabilidade/choro frequente/distúrbios em geral (13,6%), incapacidade de relaxar/estresse (11,7%), dificuldade de concentração ou pensamento lento (9,2%), perda de satisfação na carreira ou na vida/tristeza/apatia (9,1%), sensação negativa do futuro/pensamento negativo, suicida (8,3%) e alteração no apetite/alteração do peso (8,1%)(16).

LIMITAÇÕES DO ESTUDO

Evidenciou-se como limitação do estudo a circunstância de ocorrência da entrevista, uma vez que realizada de forma online, os profissionais da saúde, com a sobrecarga de trabalho acabaram por não responderem o questionário da entrevista devido não terem tempo para resposta, ocasionando em uma quantidade menor de participantes na pesquisa.

CONTRIBUIÇÃO PARA A PRÁTICA

Através da pesquisa apresentada foi possível observar que os profissionais de saúde se sentem inseguros em relação aos atendimentos de pacientes com COVID-19 e sobrecarregados com a demanda de serviço. A pesquisa contribui para que os profissionais de saúde e acadêmicos possam analisar sobre a importância da temática, fazendo com que os mesmos entendam a necessidade de atenção para sua saúde física e mental, e com isso, se sintam mais seguros para a prestação de assistência ao paciente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os profissionais da saúde da área de urgência e emergência lidam diariamente com contextos inesperados e sob pressão. Com o cenário da pandemia da COVID-19, os atendimentos realizados pelo SAMU aumentaram consideravelmente e juntamente a isto, o sentimento de esgotamento, acarretando em situações de estresse e ansiedade.

 Os resultados da pesquisa apontaram uma predominância para os tópicos de desgaste físico e mental, bem como a preocupação e insegurança quanto ao manejo ao paciente com COVID-19. Foi possível analisar a necessidade latente de meios de qualificação e gerenciamento da equipe, possibilitando melhores condições de trabalho e qualidade na prestação dos serviços para a população.

    Por se tratar de uma temática recente, se faz necessário a realização  de estudos sobre os desafios que os profissionais da área da saúde em urgência e emergência enfrentam uma vez que o tema é de suma importância para os profissionais e comunidade acadêmica. Diante do exposto, é necessário que os gestores deem a devida relevância ao assunto, realize reuniões com a equipe para avaliarem os pontos que necessitem de melhorias, com espaços de escuta, valorização dos funcionários, através de salários condizentes com a rotina de trabalho e do fornecimento adequado dos EPI’s.

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1  https://orcid.org/0000-0002-7393-3210
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Programa de Pós-graduação em Psicologia . Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil

2 https://orcid.org/2 0009-0002-4584-9035
Universidade Estado de Minas Gerais (UEMG),Departamento de Ciências e Reabilitação.Divinópolis, Minas Gerais, Brasil.

3  https://orcid.org/0000-0003-1981-8374
Universidade Estado de Minas Gerais (UEMG),Departamento de Ciências e Reabilitação.Divinópolis, Minas Gerais, Brasil.

4  https://orcid.org/0009-0000-6009-0907
Núcleo Clínico de Psicanálise e Singularidades – Universidade Federal de Juiz de Fora. Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil

5 https://orcid.org/0000-0002-4278-3707
Núcleo Clínico de Psicanálise e Singularidades – Universidade Federal de Juiz de Fora. Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil

https://orcid.org/0000-0001-5381-4815
Programa de Pós-graduação em Psicologia. Núcleo Clínico de Psicanálise e Singularidades – Universidade Federal de Juiz de Fora Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil.