DESAFIOS NUTRICIONAIS EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM TEA: ESTRATÉGIAS E SOLUÇÕES

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ma102407221820


Francisco Xavier Martins Bessa


RESUMO 

O transtorno do espectro autista apresenta desafios alimentares em larga escala, sobretudo quanto à seletividade alimentar, impactando o desenvolvimento infantojuvenil. Justificou-se, de modo primário, a seleção temática através da demanda por maiores investigações teóricas direcionadas para a ótica da nutrição contemporânea. Objetivou-se, portanto, compreender as práticas apropriadas de alimentação saudável aplicadas nos desafios da alimentação para crianças e adolescentes com transtorno do espectro autista. No panorama metodológico, aplicou-se uma revisão bibliográfica documental, exploratória e descritiva em conjunto com uma pesquisa qualitativa e observacional. Diante destes pontos, averiguou-se que a abordagem individualizada dessas dificuldades se torna essencial para superar os obstáculos e promover uma alimentação saudável, corroborando para o bem-estar físico, emocional e social dos adolescentes e crianças com transtorno do espectro autista.   

Palavras-chave: Alimentação. Crianças e Adolescentes. Transtorno do Espectro Autista. Obstáculos.    

1 INTRODUÇÃO 

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição neurológica complexa que afeta o desenvolvimento infantil e juvenil, apresentando adversidades em larga escala, incluindo na alimentação. Crianças e adolescentes com TEA enfrentam dificuldades correlatas à seletividade alimentar, caracterizada por restrições alimentares, aversões sensoriais e preferências restritas por alimentos específicos. Essas barreiras alimentares tendem a gerar consequências nutricionais adversas e impactar negativamente no desenvolvimento físico, emocional e social desses indivíduos. 

A seletividade alimentar é uma das manifestações comuns do TEA, variando em intensidade e abrangência entre os afetados. Crianças e adolescentes com TEA podem exibir recusa em experimentar alimentos novos, preferindo uma gama limitada de itens alimentares, o que pode resultar em dietas restritas e carentes de nutrientes essenciais. As aversões sensoriais também são frequentemente observadas, onde texturas, cores, aromas e sabores específicos podem ser intoleráveis para o indivíduo com TEA, limitando ainda mais a variedade alimentar (Campello et al., 2021). 

A alimentação de crianças e adolescente de forma geral, correspondem a dietas ricas em gorduras, açúcares e sódio, e com pouca ingestão de água, deixando de lado o consumo de frutas e hortaliças. Consequentemente podemos observar o crescimento acelerado da obesidade e de doenças crônicas não transmissíveis em nível mundial. Uma pesquisa feita pelo IBGE em 2019 mostrou que 97,3% dos estudantes brasileiros de 13 a 17 anos consumiram, pelo menos, um alimento ultraprocessado no dia anterior à pesquisa. Em contrapartida, somente 2,7% deles revelaram não ter consumido nenhum desses alimentos (IBGE, 2019).  

Em contraponto, um fato que chama a atenção é que, apesar do aumento expressivo da obesidade e das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), a população como um todo, demonstra noções elementares acerca do conceito de alimentação saudável (Abbade, 2021). 

Justificou-se esta pesquisa em razão das barreiras enfrentadas durante o desenvolvimento infanto-juvenil no contexto do TEA impactarem significativamente a qualidade de vida e bem-estar desses indivíduos, frisando a urgência por novos estudos neste eixo temático. Além das implicações nutricionais, as dificuldades alimentares podem gerar estresse, ansiedade e conflitos familiares em torno das refeições. Ademais, a seletividade alimentar pode levar a deficiências nutricionais.  

Nesse ínterim, surge a seguinte problemática norteadora para este trabalho: Quais as dificuldades encontradas pelo autista em sua alimentação no dia a dia, e como os profissionais da nutrição podem mudar essa realidade? 

Assim, o objetivo geral é compreender as práticas apropriadas de alimentação saudável aplicadas nos desafios da alimentação para crianças e adolescentes com transtorno do espectro autista. Em relação aos objetivos específicos, tencionou-se: caracterizar os sintomas do transtorno do espectro autista com ênfase na seletividade alimentar, examinar barreiras e adversidades relacionadas às práticas de alimentação em indivíduos com transtorno do espectro autista e evidenciar a relevância da Educação Alimentar e Nutricional no desenvolvimento de crianças e adolescentes com TEA. 

No panorama metodológico, este estudo se embasa em uma revisão bibliográfica documental, exploratória e descritiva, utilizando uma abordagem qualitativa e observacional. A pesquisa incorpora dados dos últimos 10 anos (2014 até 2024) e conduz-se por meio da análise de bases de dados reconhecidas como 

Scielo e Google Acadêmico, utilizando as seguintes palavras-chave norteadoras: “alimentação”, “crianças e adolescentes”, “transtorno do espectro autista” e “obstáculos”.    

Para a construção do embasamento teórico, foram selecionados artigos, textos e publicações que se relacionaram diretamente com o tema proposto. Estabeleceu-se critérios de seleção para a inclusão dos materiais, priorizando a incorporação de textos completos e artigos científicos que abordam de forma assertiva os aspectos pertinentes à interação entre os objetivos específicos selecionados previamente. 

Ademais, considerou-se para esta pesquisa apenas os artigos escritos em língua portuguesa, espanhola e inglesa, a fim de assegurar a conformidade com os parâmetros linguísticos predefinidos e garantir a abrangência e representatividade das fontes utilizadas na análise. O levantamento dos desafios da alimentação para crianças e adolescentes com TEA começou com resumos das principais fontes, buscando conceitos, funções, exemplos e o estado atual do conhecimento sobre o tema. Foram utilizados dados secundários coletados por meio de livros, sites, literatura, registros e artigos.  

2 VISÃO SOBRE EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL 

A Educação Alimentar e Nutricional (EAN) transcende o simples fornecimento de informações sobre nutrientes e dietas, englobando aspectos sociais, culturais, psicológicos e econômicos que influenciam o comportamento alimentar de indivíduos e comunidades. No cerne da Educação Alimentar e Nutricional reside o conceito fundamental de que a alimentação é uma dimensão intrinsecamente relacionada à qualidade de vida e ao bem-estar humano. Consiste em um processo educativo contínuo e participativo, que visa capacitar as pessoas a fazerem escolhas conscientes e informadas em relação aos alimentos que consomem, bem como entenderem a importância de uma nutrição adequada para a manutenção da saúde e prevenção de doenças (Campello et al., 2021). 

Uma característica crucial da EAN é sua adaptabilidade e individualização, reconhecendo que cada indivíduo possui necessidades nutricionais e preferências alimentares distintas. Embasando-se nesta perspectiva, programas e intervenções de EAN buscam não apenas difundir informações nutricionais, como também compreender o contexto social, cultural e econômico dos indivíduos, a fim de desenvolver estratégias efetivas e relevantes para a promoção da alimentação saudável (Fernandes et al., 2020). 

Similarmente, a Educação Alimentar e Nutricional reconhece a notabilidade da formação de parcerias entre diversos setores, como saúde, educação, agricultura e políticas públicas, para criar um ambiente favorável à adoção de hábitos alimentares saudáveis em diferentes contextos socioculturais (Fernandes et al., 2020). 

Partindo do princípio em respeitar as raças e etnias, a EAN valoriza as culturas alimentares bem como as necessidades especiais de cada indivíduo. Preocupa-se com a garantia do acesso regular e permanente, com práticas alimentares adequadas e saudáveis tanto do ponto de vista biológico como social. Com vistas para as questões da variedade, equilíbrio, moderação e prazer; incentivando a produção adequada e sustentável (Brasil, 2018).  

Contemporaneamente, ações de EAN como cadernos de culinária e oficinas de gastronomia têm sido adotadas em programas de promoção à saúde na rede pública de educação em todo território nacional. Um exemplo prático é o Guia Alimentar para a população Brasileira que tem se mostrado uma ferramenta de grande valia no que condiz com uma alimentação de qualidade (Campello et al., 2021). 

Em primeiro lugar, é cabível elucidar que a infância se trata de uma fase de grande plasticidade e sensibilidade a influências externas, sendo o momento propício para o estabelecimento de padrões alimentares adequados. Através da EAN, as crianças são expostas a informações e experiências que contribuem para o desenvolvimento de conhecimentos, atitudes e habilidades que favorecem a seleção de alimentos nutritivos e a compreensão dos benefícios de uma alimentação equilibrada (Campello et al., 2021). 

Ademais, a EAN garante uma abordagem preventiva no combate às doenças relacionadas à alimentação inadequada. Ao incentivar a escolha consciente de alimentos e a compreensão dos princípios nutricionais, a EAN tende a corroborar para a prevenção de doenças crônicas não transmissíveis, como a obesidade, diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares, que têm apresentado um aumento alarmante em prevalência entre crianças (Oliveira et al., 2022). 

Além disso, as crianças são agentes multiplicadores de conhecimento, podendo compartilhar informações e experiências adquiridas através da EAN com seus familiares e colegas. Dessa maneira, a disseminação do conhecimento nutricional promovida pela EAN pode impactar positivamente toda a comunidade em que a criança está inserida (Fernandes et al., 2020). 

Adicionalmente, a EAN oferta uma oportunidade fidedigna para abordar questões relacionadas à segurança alimentar e sustentabilidade, ensinando as crianças sobre o valor dos alimentos, o respeito ao meio ambiente e a importância de escolhas alimentares que contribuam para a preservação dos recursos naturais (Campello et al., 2021). 

3 DESAFIOS DA ALIMENTAÇÃO PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM TEA 

O Transtorno do Espectro Autista é classificado como um dos Transtornos do Neurodesenvolvimento, conforme a quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) e da Classificação Internacional de Doenças (CID10). 

As principais características do TEA abrangem as dificuldades na comunicação e interação social, padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses e atividades. Tais manifestações clínicas são observadas desde os primeiros anos de vida, geralmente antes dos três anos de idade, e podem variar em intensidade, severidade e perfil sintomático entre os indivíduos (Carvalho et al., 2022). 

No domínio da comunicação, crianças com TEA tendem a apresentar atrasos ou ausência de linguagem verbal, dificuldades na compreensão e uso da linguagem social, como gestos, expressões faciais e contato visual, e tendem a preferir a comunicação não-verbal ou através de objetos em detrimento da comunicação social. Inclusive, as habilidades de iniciar e manter uma conversa, compartilhar interesses e emoções com os outros e interpretar sutilezas sociais são frequentemente afetadas (Fernandes et al., 2020). 

Os padrões restritos e repetitivos de comportamento e interesses podem se manifestar de diversas formas. As crianças com TEA podem exibir comportamentos repetitivos, como movimentos estereotipados, fixações intensas e inflexíveis em determinados objetos ou assuntos, além de resistência à mudança e adesão rígida a rotinas (Oliveira et al., 2022).  

Outro aspecto comumente averiguado em indivíduos com TEA consiste na hipersensibilidade ou hipossensibilidade a estímulos sensoriais, como luzes, sons, texturas e sabores. Com isso, observa-se reações atípicas a estímulos sensoriais cotidianos, podendo variar entre hiperreatividade ou hiporreatividade, em função do estímulo primário (Fernandes et al., 2020). 

Assim, a heterogeneidade do TEA se dá através de uma ampla variabilidade na forma de apresentação e gravidade dos sintomas entre os indivíduos afetados, haja vista que o TEA pode coexistir com outras condições médicas ou transtornos psiquiátricos, tornando o diagnóstico e intervenção clínica ainda mais desafiadores (Carvalho et al., 2022). 

Para tanto, o diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista é um processo complexo que requer uma avaliação abrangente e criteriosa, envolvendo múltiplas áreas de especialização, como pediatria, psiquiatria, psicologia e fonoaudiologia. Tendo em vista a diversidade de manifestações clínicas e a heterogeneidade do TEA, é crucial a utilização de critérios padronizados para a identificação precisa e confiável dessa condição neuropsiquiátrica (Oliveira et al., 2022). 

Os critérios de avaliação do TEA são estabelecidos com base em dois importantes manuais de classificação de transtornos mentais: o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5 (American Psychiatric Association, 2014) e a Classificação Internacional de Doenças – CID-10 (Organização Mundial da Saúde, 1992). Ambos os sistemas de classificação fornecem critérios específicos que devem ser observados ao longo da avaliação diagnóstica. 

No DSM-5, os critérios de diagnóstico do TEA são agrupados em duas áreas principais: déficits persistentes na comunicação social e interação social; e padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses e atividades. Cada uma dessas áreas é subdividida em critérios singulares que devem ser observados, necessariamente, para atender aos critérios diagnósticos do TEA (American Psychiatric Association, 2014).  

No que condiz com os déficits na comunicação social e interação social, o DSM5 (2014) descreve a presença de dificuldades na reciprocidade socioemocional, déficits no desenvolvimento, manutenção e compreensão de relacionamentos sociais, além de padrões atípicos de comunicação não-verbal. Já os padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses e atividades são caracterizados pela presença de comportamentos motores ou verbais repetitivos, aderência inflexível a rotinas ou rituais, fixação intensa em interesses específicos e hipersensibilidade ou hipossensibilidade a estímulos sensoriais. 

Isto posto, muitos destes indivíduos exibem habilidades impressionantes, como uma aprendizagem visual facilitada, atenção meticulosa aos detalhes e busca pela exatidão. Além disso, demonstram notável concentração quando envolvidos em assuntos de interesse particular Embora existam numerosas pesquisas sobre o autismo, ainda não se descobriu uma cura específica ou medicamento para a condição (Dourado, 2021).  

Entretanto, o tratamento é fundamental e requer uma abordagem multidisciplinar, envolvendo médicos pediatras, neurologistas, psiquiatras, fonoaudiólogos, psicólogos e outros profissionais, conforme necessário. A intervenção precoce, juntamente com diferentes terapias, têm demonstrado resultados satisfatórios no manejo do autismo (Oliveira et al., 2022). 

O tratamento especializado enfatiza o aprimoramento da comunicação e interação social. Estratégias que promovem a comunicação funcional espontânea, jogos e apoio a atitudes positivas são implementadas na rotina de cuidados. Entre os métodos amplamente utilizados no tratamento do autismo, destacam-se a Análise Aplicada do Comportamento (ABA) e a Terapia Cognitivo-Comportamental (Cordeiro et al., 2018).    

Quando uma criança recebe o diagnóstico de autismo, familiares frequentemente são impactados emocionalmente. No entanto, é crucial ressaltar que a família desempenha um papel fundamental no tratamento do TEA, exigindo treinamento e engajamento de todos os envolvidos. O conhecimento detalhado sobre o autismo capacita a tomada de decisões e orienta futuras intervenções (Cordeiro et al., 2018).    

A participação ativa dos pais ou responsáveis é indispensável na busca por informações sobre os tratamentos disponíveis e na identificação da melhor abordagem para cada caso. Conviver e compreender o indivíduo dentro do espectro autista é uma jornada desafiadora, mas também uma oportunidade para o diálogo e reflexão, um processo de humanização que permite enxergar o outro em sua singularidade (Oliveira et al., 2022). 

A avaliação do TEA também envolve uma avaliação abrangente do desenvolvimento global da criança ou adolescente, levando em consideração marcos do desenvolvimento, habilidades cognitivas, linguagem, comportamento e interação social (Fernandes et al., 2020). 

Entrevistas com os pais ou responsáveis, observações diretas do comportamento da criança em diferentes contextos e a aplicação de questionários padronizados também são parte importante da avaliação diagnóstica. Além disso, é imprescindível que a avaliação seja realizada por uma equipe multidisciplinar, composta por profissionais de diferentes áreas, a fim de obter uma perspectiva abrangente e complementar sobre o quadro clínico do indivíduo (Campello et al., 2021). 

Isto posto, as variações e intensidade dos sintomas do Transtorno do Espectro Autista TEA são uma característica distintiva dessa condição neuropsiquiátrica complexa. Um dos aspectos que contribuem para a diversidade de sintomas no TEA é a presença de diferentes perfis cognitivos (Oliveira et al., 2022). 

Algumas crianças com TEA podem apresentar habilidades cognitivas na faixa da normalidade, demonstrando competências em áreas específicas, como memória visual, processamento de informações detalhadas ou habilidades matemáticas. Em contraste, outras podem apresentar deficiências intelectuais, com dificuldades acentuadas em habilidades de linguagem, aprendizagem e resolução de problemas (Magagnin et al., 2021). 

Outra variação observada no TEA diz respeito aos padrões de comportamento social. Alguns indivíduos podem demonstrar uma relativa capacidade para interações sociais e comunicação, ainda que com certa rigidez ou peculiaridades. Outros, por sua vez, podem apresentar déficits severos na capacidade de estabelecer relacionamentos interpessoais, com dificuldades na compreensão de pistas sociais, expressões faciais e na reciprocidade de emoções. Além das variações e intensidade dos sintomas, o Transtorno do Espectro Autista também pode desencadear reverberações diretas no comportamento alimentar das crianças e adolescentes afetados (Fernandes et al., 2020).  

As barreiras da alimentação para crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro Autista constituem uma questão de grande impacto no campo da saúde e nutrição, uma vez que a relação entre o TEA e a alimentação pode ser complexa e multifacetada. Dificuldades alimentares específicas são observadas de maneira majoritária nessa população, impactando a qualidade e a variedade da dieta, e podem desencadear consequências significativas para a saúde e o desenvolvimento desses indivíduos (Carvalho et al., 2022). 

A seletividade alimentar é uma das principais dificuldades alimentares associadas ao TEA. Crianças com TEA tendem a apresentar uma aversão a certos alimentos ou texturas, preferindo uma dieta restrita e monótona. Essa seletividade pode afetar a ingestão de nutrientes essenciais, vitaminas e minerais, comprometendo o equilíbrio nutricional necessário para o crescimento e desenvolvimento adequados. A resistência a alimentos não familiares ou a novas experiências sensoriais pode resultar em uma dieta pobre e desbalanceada, afetando negativamente a saúde geral dos indivíduos com TEA (Almeida et al., 2018). 

Outra dificuldade alimentar observada é a presença de comportamentos restritos e repetitivos associados à alimentação. Crianças e adolescentes com TEA podem aderir rigidamente a rotinas específicas de alimentação, evitando alimentos fora dessas rotinas. Mudanças na oferta de alimentos ou na preparação das refeições podem ser motivo de grande ansiedade e recusa alimentar. Além disso, a fixação intensa em determinados alimentos ou marcas pode restringir ainda mais a variedade da dieta, o que pode impactar negativamente a ingestão de nutrientes importantes (Galdino et al., 2020). 

Essas dificuldades alimentares específicas podem levar a consequências nutricionais significativas. A restrição alimentar pode resultar em déficits de nutrientes essenciais, levando à desnutrição e ao comprometimento do crescimento (Campello et al., 2021). 

Por outro lado, a preferência por alimentos altamente calóricos e com baixo valor nutricional pode contribuir para o desenvolvimento da obesidade e de problemas metabólicos em crianças e adolescentes com TEA. Além disso, a falta de variedade alimentar pode resultar em deficiências de vitaminas e minerais, o que pode afetar o funcionamento do sistema imunológico, a saúde óssea e outros aspectos da saúde (Campello et al., 2021). 

Para enfrentar esses desafios, a abordagem nutricional no TEA deve ser personalizada e adaptada às necessidades individuais de cada criança ou adolescente. A utilização de estratégias sensoriais pode ser benéfica para aumentar a aceitação de novos alimentos e texturas. A introdução gradual de alimentos menos familiares, associados a alimentos preferidos, pode auxiliar na ampliação da variedade alimentar. Além disso, o suporte nutricional e a orientação aos pais e cuidadores são essenciais para garantir que a dieta seja equilibrada e adequada às necessidades nutricionais do indivíduo com TEA (Almeida et al., 2018). 

Logo, a alimentação em indivíduos com TEA é influenciada por uma série de fatores complexos e inter-relacionados, que desempenham um papel significativo na manifestação das dificuldades alimentares específicas observadas nessa população. Esses fatores podem abranger características intrínsecas do TEA, como a presença de sensibilidades sensoriais, comportamentos restritos e repetitivos e déficits na comunicação e interação social. Além disso, fatores externos, como o ambiente alimentar, as práticas educativas e o suporte familiar também exercem influência sobre os padrões alimentares e a aceitação de novos alimentos por parte dos indivíduos com TEA (Magagnin et al., 2019). 

Por vezes, crianças e adolescentes com TEA podem apresentar hipersensibilidade ou hipossensibilidade a estímulos sensoriais, como texturas, sabores, odores e cores dos alimentos. Essas sensibilidades podem levar a uma aversão ou repulsa a determinados alimentos, tornando a alimentação uma experiência desagradável e desafiadora. A resistência a novas experiências sensoriais pode resultar na restrição alimentar, limitando a variedade da dieta e prejudicando a ingestão de nutrientes essenciais (Galdino et al., 2020). 

Porém, a aderência rígida a rotinas específicas de alimentação e a resistência a mudanças na oferta de alimentos podem dificultar a incorporação de novos alimentos na dieta. Além disso, a fixação intensa em determinados alimentos ou marcas pode restringir a variedade alimentar, contribuindo para uma dieta monótona e com baixa diversidade nutricional. Ainda mais dificuldade em expressar preferências alimentares ou em compreender a importância de uma alimentação equilibrada pode dificultar a aceitação de novos alimentos ou o entendimento da necessidade de uma dieta diversificada. A comunicação limitada pode impedir a expressão de desconfortos ou aversões alimentares, dificultando a identificação e abordagem das dificuldades alimentares (Magagnin et al., 2021). 

Para além dos fatores intrínsecos ao TEA, o ambiente alimentar e as práticas educativas também exercem influência sobre os padrões alimentares de indivíduos com TEA. A disponibilidade de alimentos saudáveis e diversificados no ambiente familiar e escolar pode impactar positivamente a alimentação desses indivíduos. Da mesma forma, estratégias educativas que visam ampliar a variedade alimentar e promover a aceitação de novos alimentos podem ser fundamentais para superar as dificuldades alimentares associadas ao TEA (Bottan et al., 2020).   

O suporte familiar é um fator crítico para o manejo das dificuldades alimentares em indivíduos com TEA. A orientação e o acompanhamento dos pais e cuidadores na oferta de alimentos diversificados, a criação de um ambiente alimentar positivo e a busca por estratégias sensoriais adequadas são essenciais para promover uma alimentação saudável e equilibrada (Almeida et al., 2018).  

Os indivíduos com TEA frequentemente apresentam obstáculos alimentares associados a suas características específicas, como sensibilidades sensoriais, comportamentos restritos e repetitivos, bem como déficits na comunicação e interação social. Esses aspectos podem influenciar diretamente as experiências emocionais e comportamentais relacionadas à alimentação, contribuindo para dificuldades alimentares e impactando a relação com a comida e o comportamento alimentar (Bottan et al., 2020).   

As sensibilidades sensoriais atípicas podem desencadear respostas emocionais negativas associadas à alimentação. Crianças e adolescentes com TEA podem experimentar ansiedade, repulsa ou desconforto diante de determinadas texturas, sabores ou odores dos alimentos, o que pode gerar aversão e recusa alimentar. Essas experiências emocionais podem levar a comportamentos de evitação alimentar, onde o indivíduo se recusa a experimentar ou ingerir alimentos com características sensoriais desagradáveis (Almeida et al., 2018). 

Uma das principais consequências físicas da seletividade alimentar é o risco aumentado de desnutrição. A restrição alimentar pode levar a uma ingestão insuficiente de grupos alimentares importantes, como frutas, legumes, proteínas e grãos integrais, privando o organismo de nutrientes essenciais para o funcionamento adequado. A desnutrição pode afetar o crescimento e desenvolvimento, causando atrasos no ganho de peso e estatura, bem como comprometimento do desenvolvimento cognitivo e motor (Dourado, 2021). 

Além disso, a seletividade alimentar pode predispor ao desenvolvimento de deficiências de vitaminas e minerais. A baixa variedade de alimentos consumidos pode levar a carências de nutrientes importantes, como vitamina D, ferro, cálcio, zinco e vitaminas do complexo B. Essas deficiências podem ter um impacto negativo na saúde óssea, função imunológica, metabolismo energético e outras funções vitais do organismo (Faria, et al. 2021). 

Outra consequência nutricional da seletividade alimentar é o aumento do risco de obesidade em alguns indivíduos com TEA. Crianças com seletividade alimentar podem preferir alimentos altamente calóricos, mas com baixo valor nutricional, como doces, salgadinhos e refrigerantes, o que pode levar ao consumo excessivo de calorias e ao ganho de peso inadequado. Esse padrão alimentar desequilibrado pode contribuir para o desenvolvimento de problemas metabólicos associados à obesidade, como diabetes tipo 2 e dislipidemia (Faria, et al. 2021).  

Além das consequências físicas e nutricionais, a seletividade alimentar pode ter impactos psicológicos e sociais. A restrição alimentar e a dificuldade em participar de refeições sociais podem gerar estresse e ansiedade relacionados à alimentação, afetando o bem-estar emocional dessas crianças. Além disso, a seletividade alimentar pode causar dificuldades nas interações sociais, uma vez que compartilhar refeições com outras pessoas é uma atividade social importante e central em muitas culturas (Cordeiro et al., 2018).   

Para minimizar as consequências físicas e nutricionais da seletividade alimentar em crianças com TEA, é fundamental abordar as dificuldades alimentares com uma abordagem multidisciplinar. O acompanhamento por profissionais de saúde, como nutricionistas, terapeutas ocupacionais e fonoaudiólogos, é essencial para elaborar planos alimentares individualizados que levem em consideração as preferências e aversões sensoriais específicas de cada criança. Além disso, a oferta de suporte emocional e comportamental é crucial para ajudar as crianças a lidar com a ansiedade e os desafios relacionados à alimentação (Dourado, 2021). 

Os comportamentos restritos e repetitivos também podem influenciar significativamente a alimentação. A resistência a mudanças na oferta de alimentos e a aderência rígida a rotinas específicas podem gerar ansiedade e estresse em relação à alimentação. A ausência de flexibilidade alimentar pode tornar as refeições uma fonte de tensão para o indivíduo e sua família, uma vez que alterações no cardápio ou na rotina alimentar podem ser mal toleradas e desencadear comportamentos desafiadores (Oliveira et al., 2022). 

Além disso, os déficits na comunicação e interação social podem dificultar a expressão de preferências ou desconfortos alimentares. A falta de habilidades de comunicação pode impedir que o indivíduo com TEA expresse suas necessidades e preferências em relação à alimentação, dificultando a identificação e abordagem de possíveis dificuldades alimentares. Isso pode levar a um mal-entendido das necessidades do indivíduo e a uma oferta inadequada de alimentos (Campello et al., 2021). 

As experiências emocionais e comportamentais relacionadas à alimentação podem gerar uma dinâmica complexa e desafiadora na relação com a comida. A alimentação pode se tornar uma fonte de ansiedade e tensão, tanto para o indivíduo com TEA quanto para seus cuidadores. A oferta de novos alimentos ou a introdução de mudanças na dieta pode ser percebida como ameaçadora e desencadear comportamentos de resistência ou recusa alimentar (Oliveira et al., 2022). 

Para abordar esses aspectos emocionais e comportamentais que afetam a alimentação, é fundamental adotar uma abordagem sensível e personalizada. A compreensão das preferências e aversões sensoriais individuais é essencial para a elaboração de estratégias que promovam uma alimentação mais tranquila e prazerosa. A criação de um ambiente alimentar positivo, com refeições estruturadas e previsíveis, pode ajudar a reduzir a ansiedade em relação à alimentação. Além disso, a oferta gradual de novos alimentos, associada a reforços positivos, pode incentivar a experimentação e a ampliação da variedade alimentar (Carvalho et al., 2022). 

A oferta de apoio e compreensão aos indivíduos com TEA pode ajudá-los a lidar com as experiências emocionais associadas à alimentação, promovendo uma relação mais positiva com a comida. Além disso, o trabalho conjunto com profissionais de saúde especializados, como terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos e psicólogos, pode fornecer estratégias específicas para abordar as dificuldades emocionais e comportamentais relacionadas à alimentação (Bottan et al., 2020).   

Neste prisma, a seletividade alimentar é uma condição caracterizada por uma restrição significativa na variedade de alimentos consumidos, seja pela recusa em experimentar novos alimentos ou pela preferência excessiva por um número limitado de itens alimentares (Carvalho et al., 2022). 

Essa condição é frequentemente observada em crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro Autista, embora também possa ocorrer em indivíduos sem esse diagnóstico. A seletividade alimentar no contexto do TEA pode ser influenciada por uma interação complexa de fatores, incluindo sensibilidades sensoriais atípicas, comportamentos restritos e repetitivos, bem como aspectos emocionais e comportamentais relacionados à alimentação (Bottan et al., 2020).   

As características da seletividade alimentar são variadas e podem abranger diferentes aspectos da alimentação. Indivíduos com seletividade alimentar tendem a restringir sua dieta a um número limitado de alimentos familiares e bem tolerados, geralmente preferindo alimentos com texturas, sabores e odores conhecidos e 

previsíveis. Novos alimentos ou alimentos com características sensoriais menos familiares podem ser evitados ou rejeitados categoricamente, levando a uma dieta monótona e com baixa diversidade nutricional (Oliveira et al., 2022). 

Além disso, a seletividade alimentar pode estar associada a comportamentos restritos e repetitivos. Crianças e adolescentes com seletividade alimentar podem apresentar rituais ou rotinas específicas em relação às refeições, buscando previsibilidade e controle sobre a experiência alimentar. Alterações no cardápio ou na rotina alimentar podem ser mal toleradas e desencadear comportamentos desafiadores ou de recusa alimentar. Portanto, a seletividade alimentar acarreta em consequências negativas para a saúde e o desenvolvimento dos indivíduos afetados. A restrição alimentar pode resultar em déficits de nutrientes essenciais, levando à desnutrição, ao comprometimento do crescimento e ao desenvolvimento inadequado. Além disso, a falta de variedade alimentar pode aumentar o risco de deficiências de vitaminas e minerais, predispondo a problemas de saúde relacionados à dieta inadequada (Campello et al., 2021). 

O manejo da seletividade alimentar requer uma abordagem personalizada, uma vez que a compreensão das preferências e aversões sensoriais individuais é um passo primário e indispensável para a elaboração de estratégias que promovam a aceitação de novos alimentos e a ampliação da variedade alimentar. A oferta gradual de novos alimentos, associada a reforços positivos, pode incentivar a experimentação e a incorporação de alimentos mais nutritivos na dieta. Além disso, o suporte emocional e comportamental adequado é essencial para abordar os aspectos emocionais e comportamentais relacionados à seletividade alimentar (Galdino et al., 2020). 

A alimentação de crianças com TEA envolve desafios específicos e constantes, demandando adaptações e abordagens personalizadas da Educação Alimentar e Nutricional. Dentre as estratégias-chave está a possibilidade de melhorar a aceitação de novos alimentos, considerando as sensibilidades sensoriais atípicas e as preferências individuais. A oferta gradativa de novos alimentos, associada a reforços positivos, incentivam a experimentação e a ampliação da variedade alimentar, contribuindo para o desenvolvimento de hábitos alimentares mais saudáveis em crianças com TEA (Moura et al., 2021). 

O desenvolvimento de hábitos alimentares saudáveis fundamenta-se para promover a adequação nutricional e prevenir problemas de saúde relacionados à dieta. Estratégias que envolvam a repetição de exposição a novos alimentos, a modelagem de comportamentos alimentares saudáveis pelos cuidadores e a criação de um ambiente alimentar positivo podem ajudar a estabelecer hábitos saudáveis e a superar as resistências alimentares comuns em crianças com TEA (Carvalho et al., 2022). 

A abordagem da EAN para crianças com TEA deve ser multidisciplinar, isto é, envolvendo profissionais de saúde especializados, como nutricionistas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos e psicólogos. A colaboração entre esses profissionais é essencial para considerar os aspectos nutricionais, sensoriais, comportamentais e emocionais relacionados à alimentação e para desenvolver estratégias abrangentes e eficazes de intervenção (Moura et al., 2021).  

Aspectos históricos sobre seletividade alimentar mostram que essa condição tem sido reconhecida há décadas, mas ainda é pouco compreendida em sua totalidade. Avanços na pesquisa têm proporcionado maior conhecimento sobre as causas e os fatores associados à seletividade alimentar em crianças com TEA, impulsionando a busca por intervenções mais eficazes e personalizadas (Moura et al., 2021).  

Paralelamente, a seletividade alimentar pode estar relacionada a problemas gastrointestinais, como constipação, que é uma questão recorrente nessa população. O manejo adequado da dieta e o monitoramento das questões gastrointestinais são importantes para garantir o conforto e o bem-estar das crianças com TEA (Galdino et al., 2020).  

Não obstante as Doenças Crônicas Não Transmissíveis também podem ser influenciadas pela alimentação inadequada em crianças com TEA. A restrição alimentar e o consumo excessivo de alimentos pouco nutritivos podem contribuir para o desenvolvimento precoce de problemas metabólicos e obesidade, ressaltando a importância de abordagens nutricionais efetivas e adaptadas (Carvalho et al., 2022). 

Por conseguinte, a desnutrição é outra reverberação negativa correlata à seletividade alimentar, principalmente quando a variedade e a quantidade de alimentos consumidos são insuficientes para suprir as necessidades nutricionais. A desnutrição pode ter efeitos negativos no crescimento, no desenvolvimento cognitivo e na saúde geral da criança, ressaltando a importância de monitorar o estado nutricional regularmente (Galdino et al., 2020).    

Neste prospecto, a influência da mídia nos hábitos alimentares, especialmente entre jovens e adolescentes, tem sido objeto de intensa investigação acadêmica. A mídia exerce um poder significativo na modelagem das escolhas alimentares, pois é capaz de transmitir imagens e mensagens que afetam diretamente a percepção dos indivíduos em relação à alimentação. Ao promover padrões de beleza estereotipados e idealizados, a mídia pode levar os jovens a buscar dietas restritivas e não saudáveis para alcançar tais padrões, gerando preocupações com a saúde e o desenvolvimento físico (Santos et al., 2021).    

Essas influências se tornam ainda mais preocupantes no contexto de Transtorno do Espectro Autista, uma vez que indivíduos com TEA podem ter uma relação peculiar com a alimentação e um perfil de sensibilidade sensorial que pode interferir nos hábitos alimentares. A exposição aos estímulos midiáticos pode ampliar as dificuldades alimentares desses indivíduos, levando-os a evitar certos alimentos ou adotar comportamentos alimentares restritivos, prejudicando seu estado nutricional e bem-estar geral (Micheletti; Mello, 2020). 

As estratégias persuasivas da mídia, como a inserção de propagandas de alimentos altamente processados e ricos em açúcar e gorduras saturadas, podem contribuir para o aumento do consumo de alimentos pouco saudáveis (Alcantara et al., 2019).   

A facilidade de acesso a informações errôneas e descontextualizadas sobre nutrição através da internet e redes sociais também pode afetar negativamente a tomada de decisões alimentares dos jovens, que muitas vezes carecem de discernimento para avaliar a veracidade e a qualidade das informações disponíveis (Monteiro; Goedert; Rosa, 2020). 

Diante desse cenário preocupante, é fundamental que os profissionais de saúde, educadores e familiares desempenhem um papel ativo na promoção da educação alimentar e mídia responsável. Assim, a conscientização sobre os impactos da mídia nos hábitos alimentares deve ser abordada tanto no ambiente escolar quanto em casa, visando desenvolver a capacidade crítica dos jovens em relação às informações midiáticas e promovendo escolhas alimentares saudáveis e equilibradas. Além disso, o cuidado específico com indivíduos com TEA é essencial, garantindo abordagens nutricionais individualizadas e sensíveis às suas necessidades particulares (Alcantara et al., 2019).    

4 PAPEL DO NUTRICIONISTA EM RELAÇÃO AO SELETIVIDADE ALIMENTAR E SUAS COMPLICAÇÕES 

A atuação do nutricionista no contexto do Transtorno do Espectro Autista (TEA) é de extrema importância para garantir a adequação nutricional e o manejo dos desafios alimentares enfrentados por crianças e adolescentes com essa condição. O nutricionista desempenha um papel fundamental na avaliação das necessidades nutricionais individuais, considerando as particularidades do TEA, como seletividade alimentar, sensibilidades sensoriais e comportamentos alimentares restritos e repetitivos (Bottan et al., 2020).   

O nutricionista utiliza abordagens personalizadas para adaptar a dieta e promover a variedade alimentar, levando em consideração as preferências e aversões sensoriais das crianças com TEA. Além disso, é responsável por desenvolver estratégias para melhorar a aceitação de novos alimentos e estimular hábitos alimentares mais saudáveis, buscando prevenir deficiências nutricionais e o desenvolvimento de problemas relacionados à alimentação (Cordeiro et al., 2018).   

A atuação do nutricionista também envolve a orientação dos cuidadores sobre a importância da alimentação saudável e equilibrada para o desenvolvimento e bem estar da criança com TEA. Os cuidadores são instruídos a criar um ambiente alimentar positivo, oferecer uma variedade de alimentos nutricionalmente adequados e implementar estratégias para tornar a hora das refeições uma experiência mais tranquila e prazerosa (Cordeiro et al., 2018).    

No que diz respeito à avaliação nutricional em crianças e adolescentes com TEA, o nutricionista realiza uma análise detalhada do estado nutricional, considerando fatores como o crescimento, o desenvolvimento físico e a ingestão alimentar. Essa avaliação pode envolver a coleta de informações sobre a variedade e quantidade de alimentos consumidos, as preferências e aversões alimentares, bem como a ocorrência de problemas gastrointestinais (Oliveira et al., 2022). 

A avaliação nutricional também abrange a identificação de possíveis deficiências de vitaminas e minerais, desequilíbrios calóricos, sobrepeso ou obesidade, e a adequação dos nutrientes essenciais para o desenvolvimento adequado da criança com TEA. Com base nessa avaliação, o nutricionista pode desenvolver um plano alimentar individualizado que atenda às necessidades nutricionais específicas e auxilie na superação dos desafios alimentares (Carvalho et al., 2022). 

É importante ressaltar que a avaliação nutricional em crianças com TEA requer sensibilidade e compreensão das dificuldades alimentares enfrentadas por esses indivíduos. A parceria entre o nutricionista, a criança com TEA e seus cuidadores é fundamental para o sucesso da intervenção nutricional, garantindo o bem-estar físico, emocional e social da criança e contribuindo para sua qualidade de vida geral (Moura et al., 2021) 

A atuação do nutricionista no contexto do TEA desempenha um papel crucial na promoção de uma alimentação saudável e equilibrada, com abordagens adaptadas e sensíveis às necessidades individuais, visando a melhoria da qualidade de vida dessas crianças e adolescentes (Galdino et al., 2020). 

A elaboração de planos alimentares adaptados às necessidades individuais é uma das principais atribuições do nutricionista no contexto do TEA. Cada criança com TEA apresenta suas próprias preferências, aversões sensoriais e desafios alimentares específicos, tornando essencial a criação de planos alimentares personalizados (Oliveira et al., 2022). 

O nutricionista leva em consideração as restrições alimentares, as necessidades nutricionais específicas e os objetivos de saúde de cada criança para desenvolver um plano que atenda suas necessidades individuais e contribua para uma alimentação equilibrada (Dourado, 2021). 

As intervenções e estratégias para lidar com a seletividade alimentar em crianças com TEA são desenvolvidas com base em uma abordagem sensível e adaptada às características individuais. Uma das estratégias comumente utilizadas é a exposição gradual a novos alimentos. O nutricionista pode recomendar a introdução de alimentos não familiares em pequenas porções e em um ambiente seguro, de forma a minimizar a ansiedade e resistência (Cordeiro et al., 2018).   

Outra intervenção eficaz é a técnica de modelagem, na qual o nutricionista incentiva a criança a observar seus cuidadores consumindo os alimentos que ela reluta em experimentar. A modelagem de comportamentos alimentares saudáveis pode encorajar a criança a imitar e eventualmente aceitar novos alimentos (Carvalho et al., 2022). 

Além disso, o nutricionista pode usar reforços positivos para incentivar a experimentação e aceitação de novos alimentos. Elogiar e recompensar a criança quando ela demonstra interesse ou consome um novo alimento pode reforçar comportamentos alimentares positivos e estimular novas experiências alimentares (Pereira et al., 2020).   

O suporte multidisciplinar é essencial para o sucesso das intervenções e estratégias relacionadas à seletividade alimentar. A colaboração entre o nutricionista, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos e outros profissionais é fundamental para abordar as diversas dimensões da seletividade alimentar e desenvolver um plano de tratamento abrangente e integrado (Cordeiro et al., 2018).   

Do mesmo modo, estratégias sensoriais específicas podem ser empregadas para ajudar a diminuir a aversão a determinadas características dos alimentos. A exposição gradual e controlada a novas texturas e sabores, associada a reforços positivos, pode ser benéfica para aumentar a aceitação de novos alimentos. Além disso, é importante considerar as preferências sensoriais individuais ao planejar uma dieta adequada, buscando a inclusão de alimentos que sejam mais bem tolerados e apreciados pelo indivíduo (Dourado, 2021). 

O suporte familiar e o acompanhamento de profissionais de saúde especializados também são relevantes na abordagem das aversões sensoriais relacionadas à alimentação. Os pais e cuidadores desempenham um papel crucial ao fornecer um ambiente alimentar positivo e encorajador, buscando a incorporação gradual de alimentos mais variados e nutritivos (Oliveira et al., 2022). 

O trabalho conjunto com profissionais da área de nutrição e terapia ocupacional pode fornecer estratégias e orientações específicas para lidar com as aversões sensoriais e promover uma alimentação mais saudável e equilibrada (Sígolo et al., 2022).   

Neste enfoque, o nutricionista denota-se como necessário na elaboração de planos alimentares adaptados às necessidades individuais de crianças com TEA, sobretudo de forma contínua. Suas intervenções e estratégias para lidar com a seletividade alimentar são fundamentais para promover uma alimentação saudável e equilibrada, superando os desafios alimentares comuns nessa população (Dourado, 2021). 

O suporte multidisciplinar e a abordagem sensível às necessidades individuais são elementos-chave para o sucesso na intervenção nutricional e para garantir o bem-estar geral e a qualidade de vida dessas crianças e adolescentes (Pereira et al., 2021).    

4 CONCLUSÃO  

No decorrer deste estudo, verificou-se que a seletividade alimentar, as dificuldades sensoriais e comportamentais, bem como os impactos nutricionais associados ao TEA, são obstáculos na promoção de uma alimentação saudável e equilibrada para essa população.   

Neste contexto, evidenciou-se que a figura do nutricionista é fundamental na equipe multidisciplinar que cuida de crianças e adolescentes com TEA. Sua expertise na avaliação nutricional e no planejamento de intervenções personalizadas é essencial para superar os desafios impostos pela seletividade alimentar e garantir a oferta de uma dieta equilibrada, que atenda às necessidades individuais de cada criança ou adolescente com TEA.  

Contudo, apesar dos avanços gradativos na compreensão e abordagem dos desafios alimentares relacionados ao TEA, ainda existem áreas que carecem de investigação científica aprofundada. A investigação de estratégias mais efetivas para lidar com a seletividade alimentar, bem como o desenvolvimento de intervenções baseadas em evidências científicas sólidas, são tópicos que merecem maior atenção por parte da comunidade acadêmica e profissionais de saúde. 

Ademais, é dever da nutrição considerar as perspectivas futuras no campo da alimentação para crianças e adolescentes com TEA. O desenvolvimento de tecnologias assistivas e aplicativos móveis pode desempenhar um papel relevante na promoção da alimentação adequada e na facilitação da interação entre indivíduos com TEA e o ambiente alimentar. Através da inovação tecnológica, possibilita-se a elaboração de ferramentas interativas e acessíveis que possam auxiliar na identificação e oferta de alimentos adequados às preferências e necessidades específicas de cada indivíduo. 

Por fim, ressalta-se a relevância do tema abordado neste estudo e suas implicações práticas na promoção da saúde e bem-estar de crianças e adolescentes com TEA. Através de uma visão integrada, onde a EAN e o apoio nutricional se unem ao conhecimento e sensibilidade sobre as particularidades do TEA, é possível corroborar para a melhoria da qualidade de vida e inclusão social dessa população. 

Consequentemente, a atenção aos desafios alimentares enfrentados por crianças e adolescentes com TEA deve continuar a ser uma prioridade na agenda de pesquisas e práticas em saúde. Ao promover uma abordagem multidisciplinar, que envolva profissionais de diferentes áreas em um esforço conjunto com a nutrição, pode-se alcançar resultados efetivos na melhoria da saúde nutricional e qualidade de vida desta população.   

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