REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202504301242
Alessandra Oliveira Pires
RESUMO
As infecções bacterianas nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) são um desafio significativo, prolongando a internação e aumentando a mortalidade. Patógenos multirresistentes, como Acinetobacter baumannii, Pseudomonas aeruginosa e Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA), são comuns nesses ambientes devido ao uso indiscriminado de dispositivos invasivos e à administração inadequada de antibióticos, o que contribui para a resistência bacteriana. As infecções mais prevalentes incluem pneumonia associada à ventilação mecânica, infecções da corrente sanguínea e infecções urinárias relacionadas ao uso de cateteres. Esses patógenos podem colonizar dispositivos invasivos e se espalhar entre pacientes e profissionais de saúde. A prevenção exige a adoção de práticas rigorosas, como protocolos de inserção e manutenção de dispositivos invasivos, vigilância epidemiológica contínua e treinamento da equipe de saúde. A higiene das mãos é essencial para prevenir a disseminação dos microrganismos. Tecnologias como monitoramento de infecções em tempo real e superfícies antimicrobianas também têm mostrado eficácia na redução de infecções. A gestão dessas infecções requer uma abordagem multidisciplinar, envolvendo médicos intensivistas, enfermeiros, microbiologistas e farmacêuticos, e a implementação de programas de gerenciamento de antimicrobianos, fundamentais para o controle da resistência bacteriana. Medidas eficazes de prevenção e controle podem melhorar a recuperação dos pacientes, reduzir a mortalidade e diminuir os custos hospitalares. A conscientização contínua da equipe sobre essas práticas é essencial para o sucesso das intervenções.
Palavras-chave: Controle de infecções, Infecções bacterianas, PVM, Resistência bacteriana, UTI.
ABSTRACT
Bacterial infections in Intensive Care Units (ICUs) are a significant challenge, prolonging hospitalization and increasing mortality. Multidrug-resistant pathogens, such as Acinetobacter baumannii, Pseudomonas aeruginosa, and methicillin-resistant Staphylococcus aureus (MRSA), are common in these environments due to the indiscriminate use of invasive devices and improper antibiotic administration, contributing to bacterial resistance. The most prevalent infections include ventilator-associated pneumonia, bloodstream infections, and urinary tract infections related to catheter use. These pathogens can colonize invasive devices and spread between patients and healthcare professionals. Prevention requires the adoption of strict practices, such as protocols for the insertion and maintenance of invasive devices, continuous epidemiological surveillance, and staff training. Hand hygiene is essential to prevent the spread of microorganisms. Technologies such as real-time infection monitoring and antimicrobial surfaces have also proven effective in reducing infections. Managing these infections requires a multidisciplinary approach, involving intensivists, nurses, microbiologists, and pharmacists, and the implementation of antimicrobial stewardship programs, which are crucial for controlling bacterial resistance. Effective prevention and control measures can improve patient recovery, reduce mortality, and lower hospital costs. Ongoing staff awareness of these practices is essential for the success of interventions.
Keywords: Bacterial infections, Bacterial resistance, Infection control, MVP, ICUs.
1. INTRODUÇÃO
As infecções bacterianas representam um dos principais desafios no ambiente de terapia intensiva, comprometendo a recuperação de pacientes críticos e prolongando o tempo de internação. Pacientes internados em unidades de terapia intensiva (UTIs) estão particularmente vulneráveis a infecções devido a diversos fatores, como imunossupressão, procedimentos invasivos e a presença de microrganismos multirresistentes (Vincent et al., 2020). O aumento da resistência bacteriana aos antibióticos agrava ainda mais essa problemática, tornando a escolha terapêutica mais complexa e elevando as taxas de mortalidade hospitalar (Tacconelli et al., 2018).
Dentre as principais infecções bacterianas adquiridas em UTIs, destacam-se a pneumonia associada à ventilação mecânica (PAV), a sepse de origem bacteriana e as infecções do trato urinário relacionadas ao uso de cateteres (Magill et al., 2018). A presença dessas infecções está diretamente associada a desfechos clínicos negativos, como insuficiência orgânica progressiva, necessidade prolongada de suporte ventilatório e maiores taxas de complicações neuromusculares (Klein Klouwenberg et al., 2015). Dessa forma, a prevenção e o controle das infecções hospitalares são aspectos fundamentais para otimizar a reabilitação dos pacientes críticos.
A reabilitação de pacientes de UTI é um processo complexo que visa restaurar a funcionalidade e melhorar a qualidade de vida após a alta hospitalar. No entanto, a presença de infecções bacterianas pode retardar esse processo, levando à maior perda de massa muscular, fadiga crônica e dificuldades respiratórias, sobretudo em pacientes que necessitaram de ventilação mecânica por longos períodos (Herridge et al., 2016). Além disso, as infecções prolongam a permanência na UTI e aumentam os riscos de desnutrição, um fator crítico para a recuperação funcional.
A implementação de estratégias eficazes de prevenção, como protocolos rígidos de higiene das mãos, uso racional de antibióticos e vigilância microbiológica contínua, é essencial para reduzir a incidência dessas infecções (Cassini et al., 2019). Além disso, programas de reabilitação precoce, incluindo mobilização ativa e fisioterapia respiratória, demonstraram ser eficazes na redução de complicações e na melhoria dos desfechos funcionais dos pacientes críticos (Schweickert et al., 2009).
Dessa forma, compreender o impacto das infecções bacterianas na reabilitação de pacientes de UTI é fundamental para aprimorar protocolos de cuidado e minimizar sequelas associadas à internação prolongada. O manejo adequado dessas infecções, aliado a estratégias de reabilitação precoce, pode contribuir para melhores prognósticos e maior independência funcional dos pacientes após a alta hospitalar.
Este estudo tem como objetivo analisar o impacto das infecções bacterianas na reabilitação de pacientes internados em unidades de terapia intensiva, destacando os principais desafios clínicos, as implicações funcionais e as estratégias de prevenção e manejo dessas infecções para otimizar o processo de recuperação.
2. METODOLOGIA
A metodologia adotada para esta pesquisa consistiu em uma revisão narrativa, com abordagem qualitativa e de caráter descritivo. O objetivo deste estudo foi analisar a literatura científica para descrever e discutir o impacto das infecções bacterianas na reabilitação de pacientes internados em unidades de terapia intensiva (UTIs), considerando os desafios clínicos, as complicações funcionais e as estratégias de prevenção e manejo dessas infecções para otimizar a recuperação dos pacientes.
A pergunta norteadora para o desenvolvimento do estudo foi: “De que forma as infecções bacterianas influenciam a reabilitação de pacientes internados em unidades de terapia intensiva e quais estratégias podem ser adotadas para minimizar seus impactos?”
O período cronológico da pesquisa foi delimitado entre os anos de 2005 e 2025, sendo realizada a partir da busca por artigos científicos na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), indexados nas bases de dados da Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e da U.S. National Library of Medicine (PubMed). Para complementar a busca, foram utilizados artigos da Scientific Electronic Library Online (SciELO) e do Google Acadêmico, empregando os seguintes descritores e suas combinações: (“infecções hospitalares” OR “infecção bacteriana”) AND (“unidade de terapia intensiva” OR “pacientes críticos”) AND (“reabilitação” OR “recuperação funcional”).
Os critérios de inclusão adotados foram: artigos publicados em português e inglês, disponíveis em texto completo e que abordassem o impacto das infecções bacterianas na recuperação de pacientes de UTI. Foram excluídos artigos publicados antes de 2005, aqueles indisponíveis na íntegra, que não correspondessem ao tema central da pesquisa, artigos duplicados e publicações restritas a resumos, revisões de literatura, reflexões e resenhas.
3. INFECÇÕES BACTERIANAS EM UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTIS)
A fragilidade dos pacientes hospitalizados, frequentemente envolvidos em procedimentos invasivos e apresentando comorbidades, os transforma em alvos suscetíveis a infecções por bactérias resistentes a múltiplos medicamentos (BMR). Em 2017, a Organização Mundial de Saúde (OMS) publicou uma lista de 12 bactérias consideradas de alto risco para a saúde humana devido à resistência antimicrobiana. A lista está categorizada por ordem de prioridade (crítica, alta, média) e destaca a urgência de criar novos antibióticos para combater estas infecções. Entre as bactérias incluídas na lista contam-se algumas que já são resistentes a vários medicamentos, o que complica o tratamento de infecções comuns em meio hospitalar. Melo et al (2024).
Estudos já revelam a gravidade dessa situação, com o aumento de cepas resistentes, como Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA), Klebsiella pneumoniae produtora de B-lactamase de espectro estendido (ESBL) e Pseudomonas aeruginosa, dificultando o manejo clínico e elevando as taxas de morbidade e mortalidade. As culturas de vigilância epidemiológica são realizadas para determinar que organismos resistentes estejam presentes no ambiente hospitalar. O protocolo para esta cultura consiste em recolher amostras de pacientes admitidos ou a necessitar de admissão, particularmente em unidades de cuidados intensivos (UTI), para identificar a formação de colônias por agentes patogênicos em locais não esterilizados e para monitorizar a emergência de bactérias multirresistentes (BMR) durante e após a hospitalização. (Brasil, 2021).
A ocorrência dessas infecções em unidades de terapia intensiva está associada principalmente à situação clínica do paciente (cateteres, ventilação mecânica, uso de imunossupressores), hospitalização prolongada e colonização de doentes resistentes aos fármacos. A resistência antimicrobiana não só compromete a eficácia do tratamento, como também representa um encargo significativo para o sistema de saúde em termos de custos elevados de tratamento e hospitalização prolongada. Melo et al (2024) afirma que um histórico de utilização de antimicrobianos e uma hospitalização prolongada num determinado setor são fatores importantes que aumentam o risco de infecções por BMR.
A propagação destas infecções exige, por conseguinte, uma resposta de emergência que inclua práticas rigorosas de controlo das infecções e uma abordagem de colaboração entre os profissionais de saúde, os gestores e os decisores políticos. A importância da vigilância contínua e a educação dos profissionais de saúde para a utilização racional de antibióticos e alerta para a necessidade de esforços de colaboração para manter os doentes seguros. Só através de uma ação concertada é possível combater as bactérias resistentes e garantir melhores resultados clínicos nos cuidados hospitalares. Compreender a dinâmica das bactérias resistentes e adotar estratégias eficazes é crucial para proteger a saúde dos doentes e reforçar o sistema de saúde no seu conjunto.
As infecções bacterianas são uma das principais complicações enfrentadas por pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), impactando diretamente os desfechos clínicos, a duração da internação e os custos hospitalares. Essas infecções, frequentemente associadas ao uso de dispositivos invasivos, comprometem a recuperação dos pacientes e podem levar ao aumento da mortalidade (Kleinpell et al., 2019). A alta densidade de patógenos multirresistentes nesse ambiente torna essencial o desenvolvimento de estratégias eficazes de prevenção e controle.
As infecções mais comuns em UTIs incluem a pneumonia associada à ventilação mecânica (PAV), infecção da corrente sanguínea associada a cateter venoso central (ICS-CVC) e infecções do trato urinário relacionadas ao uso de cateter vesical (Vincent et al., 2020). A presença prolongada de dispositivos invasivos aumenta o risco de colonização bacteriana, especialmente por microrganismos como Acinetobacter baumannii, Pseudomonas aeruginosa e Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA) (Magill et al., 2018). A disseminação desses patógenos pode ocorrer tanto por contato direto com superfícies contaminadas quanto pela transferência entre profissionais de saúde e pacientes.
O desenvolvimento da resistência bacteriana é um fator que agrava ainda mais o cenário das infecções em UTIs. O uso indiscriminado de antibióticos, muitas vezes sem antibiogramas prévios, contribui para a seleção de cepas multirresistentes, dificultando o tratamento das infecções hospitalares (World Health Organization, 2021). Dessa forma, torna-se essencial a implementação de programas de gestão do uso de antimicrobianos (antimicrobial stewardship), que visam otimizar a terapia antimicrobiana e reduzir a disseminação de resistência (Timsit et al., 2019).
A prevenção e o controle das infecções em UTIs requerem uma abordagem multifatorial. Medidas como higiene rigorosa das mãos, adesão a protocolos de inserção e manutenção de dispositivos invasivos, vigilância epidemiológica e treinamento contínuo da equipe de saúde são fundamentais para reduzir a incidência dessas infecções (Boev & Kiss, 2017). Além disso, o uso de tecnologia avançada, como sistemas de monitoramento de infecções em tempo real e superfícies antimicrobianas, tem demonstrado potencial para mitigar a transmissão de patógenos dentro das UTIs.
Diante do impacto significativo das infecções bacterianas no prognóstico dos pacientes críticos, é essencial que as instituições de saúde adotem políticas eficazes de prevenção e controle. A colaboração entre diferentes profissionais da saúde, incluindo enfermeiros, médicos intensivistas, microbiologistas e farmacêuticos, é crucial para a implementação de estratégias baseadas em evidências que minimizem a incidência dessas infecções e promovam a segurança do paciente (Tacconelli et al., 2018).
4. IMPACTO DAS INFECÇÕES BACTERIANAS NA REABILITAÇÃO DE PACIENTES CRÍTICOS
As infecções bacterianas adquiridas em unidades de terapia intensiva (UTIs) representam um dos principais desafios na reabilitação de pacientes críticos, afetando significativamente sua recuperação funcional e aumentando o tempo de internação. Devido à complexidade do estado clínico desses pacientes, somada à necessidade frequente de suporte ventilatório invasivo e dispositivos médicos, o risco de infecção é elevado (Vincent et al., 2020). Essas infecções não apenas prolongam a hospitalização, mas também aumentam a taxa de morbimortalidade e comprometem a qualidade de vida pós-alta (Magill et al., 2018).
Dentre as infecções mais comuns em UTIs, destacam-se a pneumonia associada à ventilação mecânica (PAV), a infecção da corrente sanguínea associada a cateter venoso central (ICS-CVC) e a infecção do trato urinário associada a cateter (ITU-AC) (Kalil et al., 2016). A PAV, por exemplo, resulta da colonização bacteriana das vias aéreas inferiores e da incapacidade dos pacientes intubados de eliminar secreções, facilitando a proliferação de patógenos como Pseudomonas aeruginosa e Acinetobacter baumannii (Flores-Mireles et al., 2015). Já a ICS-CVC está associada à manipulação inadequada de cateteres venosos centrais, sendo frequentemente causada por Staphylococcus aureus e Klebsiella pneumoniae (Weiner-Lastinger et al., 2020). Esses agentes patogênicos frequentemente apresentam resistência a múltiplos antibióticos, tornando o tratamento mais complexo e prolongado (Tacconelli et al., 2018).
A presença de infecções em pacientes críticos impacta diretamente sua reabilitação, pois pode resultar em complicações sistêmicas, incluindo sepse e falência múltipla de órgãos, além de afetar a capacidade de recuperação funcional (Latronico & Bolton, 2011). A fraqueza muscular adquirida na UTI, resultado da combinação de imobilidade prolongada, inflamação sistêmica e uso de fármacos sedativos, é agravada pela presença de infecções bacterianas (Puthucheary et al., 2017). Estudos indicam que pacientes que desenvolvem infecções durante a internação apresentam maior risco de complicações motoras e respiratórias após a alta hospitalar, além de uma recuperação mais lenta e limitada (Schweickert et al., 2009).
Além das implicações fisiológicas, o impacto das infecções bacterianas na reabilitação se estende ao comprometimento da mobilização precoce. A mobilização precoce é um fator essencial para prevenir complicações como trombose venosa profunda, úlceras por pressão e disfunção neuromuscular, sendo um componente chave na reabilitação intensiva (Needham et al., 2012). No entanto, a presença de infecções frequentemente impede essa abordagem, pois pacientes instáveis hemodinamicamente necessitam de suporte intensivo e, muitas vezes, isolamento para controle da disseminação de microrganismos resistentes (Griffiths et al., 2013). O isolamento pode resultar em menor interação do paciente com a equipe multiprofissional e, consequentemente, menor estímulo para atividades de reabilitação (Herridge et al., 2016).
Diante desse cenário, medidas eficazes de prevenção e controle de infecções são fundamentais para otimizar a reabilitação de pacientes críticos. A adoção de protocolos de prevenção, como higienização rigorosa das mãos, uso racional de antibióticos e cuidados adequados com dispositivos invasivos, pode reduzir significativamente a incidência de infecções em UTIs (Allegranzi et al., 2017). Além disso, estratégias como o suporte nutricional adequado e programas individualizados de reabilitação podem minimizar os efeitos adversos das infecções e promover melhor recuperação funcional (Tamma et al., 2017).
A mobilização precoce, quando possível, deve ser incentivada, mesmo em pacientes com infecções controladas, para evitar a perda de massa muscular e melhorar a capacidade funcional pós-alta (Schweickert et al., 2009). Equipes interdisciplinares, compostas por fisioterapeutas, enfermeiros, médicos intensivistas e nutricionistas, desempenham um papel fundamental na implementação dessas estratégias. A colaboração entre esses profissionais permite a adaptação de planos de reabilitação às necessidades específicas de cada paciente, levando em consideração a presença de infecções e outras complicações clínicas (Needham et al., 2012).
Em conclusão, as infecções bacterianas são um fator crítico que impacta negativamente a reabilitação de pacientes internados em UTIs, prolongando a hospitalização e dificultando a recuperação funcional. Estratégias preventivas eficazes, controle rigoroso das infecções e abordagens individualizadas de reabilitação são essenciais para minimizar esses impactos e melhorar os desfechos dos pacientes. A implementação de políticas hospitalares que promovam a prevenção e o tratamento precoce dessas infecções pode contribuir significativamente para a redução da morbimortalidade e para a otimização da qualidade de vida dos sobreviventes de internações prolongadas em UTIs.
5. ESTRATÉGIAS PARA REDUÇÃO DAS INFECÇÕES E OTIMIZAÇÃO DA REABILITAÇÃO
A redução das infecções hospitalares em unidades de terapia intensiva (UTIs) é essencial para melhorar os desfechos clínicos e otimizar a reabilitação dos pacientes críticos. Estratégias baseadas em evidências científicas incluem a adoção de protocolos rígidos de controle de infecções, o uso racional de antimicrobianos e a implementação de programas de mobilização precoce, que podem reduzir a incidência de complicações e melhorar a recuperação funcional (Allegranzi & Pittet, 2017). Além disso, a educação continuada dos profissionais de saúde e o investimento em tecnologia são fatores determinantes para um ambiente hospitalar mais seguro e eficiente.
Um dos pilares da prevenção de infecções em UTIs é a adesão às medidas de controle de infecção, como a higienização rigorosa das mãos. Estudos demonstram que a prática adequada da higiene das mãos pode reduzir significativamente a incidência de infecções associadas a dispositivos invasivos, como cateteres venosos centrais e ventilação mecânica (WHO, 2018). Além disso, protocolos de descolonização seletiva, incluindo o uso de antissépticos como a clorexidina para a higiene oral e corporal, também são eficazes na redução da colonização por patógenos multirresistentes (Kalil et al., 2016). A adoção de precauções de contato, como o uso adequado de equipamentos de proteção individual (EPIs), é outra medida fundamental para minimizar a transmissão de microrganismos dentro das UTIs (Magill et al., 2018).
O uso racional de antibióticos é uma estratégia essencial para evitar a disseminação de bactérias resistentes e reduzir a ocorrência de infecções graves. Programas de gerenciamento antimicrobiano, conhecidos como antimicrobial stewardship, visam otimizar a prescrição de antibióticos, garantindo que sejam utilizados apenas quando estritamente necessários e por períodos adequados (Tacconelli et al., 2018). Estudos indicam que a implementação desses programas pode reduzir a taxa de infecções resistentes e melhorar a resposta dos pacientes aos tratamentos antimicrobianos (Weiner-Lastinger et al., 2020). Além disso, a realização de culturas microbiológicas e a utilização de biomarcadores inflamatórios, como a procalcitonina, auxiliam no diagnóstico precoce e na tomada de decisão clínica quanto ao uso de antibióticos (Tamma et al., 2017).
A mobilização precoce tem sido amplamente reconhecida como uma abordagem eficaz para minimizar os impactos negativos da hospitalização prolongada e acelerar a reabilitação dos pacientes críticos. Pacientes que permanecem imobilizados por longos períodos estão mais suscetíveis a complicações, como fraqueza muscular adquirida na UTI, disfunções respiratórias e trombose venosa profunda (Puthucheary et al., 2017). Estratégias de mobilização precoce incluem a fisioterapia intensiva, a posição sentada no leito e até a deambulação assistida, sempre que possível (Schweickert et al., 2009). Um estudo conduzido por Needham et al. (2012) demonstrou que pacientes submetidos à mobilização precoce apresentaram menor tempo de ventilação mecânica e maior independência funcional após a alta hospitalar.
A abordagem interdisciplinar é crucial para a otimização da reabilitação e a redução das complicações associadas às infecções. Equipes compostas por médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas e terapeutas ocupacionais podem desenvolver planos de cuidados individualizados que levem em consideração as necessidades específicas de cada paciente (Griffiths et al., 2013). A nutrição adequada, por exemplo, desempenha um papel fundamental na recuperação, pois influencia diretamente a resposta imunológica e a capacidade de cicatrização tecidual (Latronico & Bolton, 2011). A implementação de protocolos baseados em diretrizes internacionais pode padronizar condutas e reduzir a variabilidade na assistência, garantindo maior segurança para os pacientes (Herridge et al., 2016).
Por fim, a utilização de tecnologias inovadoras pode contribuir significativamente para a redução de infecções e para a otimização da reabilitação em UTIs. Sistemas automatizados de monitoramento da higiene das mãos, superfícies antimicrobianas e algoritmos de inteligência artificial para a detecção precoce de infecções são algumas das inovações que vêm sendo implementadas em hospitais de ponta (Magill et al., 2018). Além disso, o uso de prontuários eletrônicos facilita a integração das informações dos pacientes, permitindo um acompanhamento mais preciso da evolução clínica e da resposta ao tratamento (WHO, 2018).
6. CONCLUSÃO
As infecções bacterianas nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) representam um desafio multifacetado para a saúde pública, sendo responsáveis por prolongar o tempo de internação, aumentar a morbidade e mortalidade dos pacientes críticos e gerar um impacto econômico significativo. O ambiente das UTIs, com sua alta concentração de pacientes gravemente enfermos e a presença de dispositivos invasivos, cria condições ideais para a disseminação de patógenos multirresistentes, como Acinetobacter baumannii, Pseudomonas aeruginosa e Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA). Esses microrganismos, com sua capacidade de resistência aos tratamentos antimicrobianos, tornam o manejo das infecções mais complexo, exigindo estratégias mais eficazes de prevenção, controle e tratamento.
A resistência bacteriana nas UTIs é uma preocupação crescente, sendo amplamente associada ao uso indiscriminado e inadequado de antibióticos, bem como à utilização prolongada de dispositivos invasivos. O uso excessivo de antibióticos em pacientes críticos tem sido uma das principais causas para o desenvolvimento de resistência, o que resulta em infecções mais difíceis de tratar e em piores prognósticos para os pacientes. Além disso, a capacidade desses patógenos de colonizar dispositivos médicos e superfícies do ambiente hospitalar contribui para a propagação rápida e disseminação das infecções. As infecções bacterianas que ocorrem em UTIs estão frequentemente relacionadas à pneumonia associada à ventilação mecânica (PAV), infecções do trato urinário devido a cateteres vesicais e infecções da corrente sanguínea associadas a cateteres venosos centrais, condições que, além de aumentar a complexidade do tratamento, aumentam consideravelmente a carga sobre os recursos hospitalares.
Portanto, o controle das infecções bacterianas nas UTIs exige a implementação de estratégias de prevenção que vão além da simples administração de antibióticos. O cumprimento rigoroso dos protocolos de inserção e manutenção de dispositivos invasivos, a vigilância constante das infecções, a educação contínua da equipe de saúde e a adesão aos protocolos de higiene das mãos são práticas essenciais que reduzem a disseminação de microrganismos patogênicos. Além disso, o uso de tecnologias inovadoras, como superfícies antimicrobianas e sistemas de monitoramento em tempo real, tem mostrado resultados promissores no controle da propagação de infecções e na identificação precoce de surtos bacterianos, permitindo uma intervenção mais eficaz e o controle imediato da situação.
Um aspecto fundamental para o sucesso da gestão de infecções bacterianas em UTIs é a abordagem multidisciplinar. O envolvimento de médicos intensivistas, enfermeiros, microbiologistas e farmacêuticos é crucial para garantir a implementação eficaz de estratégias de prevenção e o uso racional de antibióticos. O trabalho conjunto entre essas equipes permite uma abordagem integrada, onde cada profissional contribui com seu conhecimento e expertise para a redução das infecções e a promoção da segurança do paciente. A atuação de farmacêuticos, por exemplo, é essencial na implementação de programas de antimicrobial stewardship, que visam otimizar o uso de antibióticos, prevenindo a resistência bacteriana e garantindo que os pacientes recebam o tratamento mais adequado.
Além disso, políticas institucionais baseadas em evidências científicas, como o programa de gestão do uso de antimicrobianos (antimicrobial stewardship), são fundamentais para reduzir o impacto da resistência bacteriana nas UTIs. Essas políticas devem ser implementadas de forma abrangente, com monitoramento constante dos resultados, e sua eficácia deve ser avaliada de forma contínua. O envolvimento da alta gestão do hospital é essencial para garantir que recursos adequados sejam alocados para a implementação dessas políticas e que as práticas recomendadas sejam seguidas de maneira consistente.
A implementação de medidas eficazes de prevenção e controle das infecções bacterianas não só resulta na melhoria da qualidade do atendimento aos pacientes críticos, mas também tem um impacto direto na redução da mortalidade, tempo de internação e custos hospitalares. Reduzir as infecções nas UTIs leva a uma recuperação mais rápida dos pacientes, diminuindo a sobrecarga sobre os sistemas de saúde e promovendo uma utilização mais eficiente dos recursos disponíveis. Isso, por sua vez, contribui para a sustentabilidade do sistema de saúde e para o aumento da segurança do paciente, um objetivo central em qualquer instituição de saúde.
Em última análise, as infecções bacterianas em UTIs continuam sendo um problema de saúde global, mas é possível minimizar seu impacto por meio de uma combinação de práticas rigorosas de controle, uso racional de antimicrobianos, treinamento contínuo da equipe de saúde e a adoção de novas tecnologias. Com o avanço das pesquisas e a implementação de protocolos baseados em evidências, espera-se que a mortalidade associada a essas infecções seja reduzida, proporcionando aos pacientes uma recuperação mais eficaz e segura. A constante vigilância e adaptação às novas realidades e desafios das UTIs são fundamentais para enfrentar o panorama das infecções bacterianas e a resistência microbiana, garantindo uma abordagem de saúde mais eficiente, segura e sustentável.
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