DESAFIOS ENFRENTADOS PELA ENFERMAGEM NA PRESTAÇÃO DA SAÚDE DA MULHER VÍTIMA DE VIOLÊNCIA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11660364


Erica Lucia Morais Kerkhoff;
Orientadora: Prof.ª Jacqueline Ramos da Silva.


Resumo

O primeiro contato da mulher vítima de violência na atenção primária é feito principalmente pelo enfermeiro. Com isso o presente estudo tem como objetivo explorar o manejo de atendimento e as condutas seguidas pelos enfermeiros a essas vítimas na rede de atenção. É um estudo qualitativo exploratório. A população do estudo será constituída por sete Enfermeiros, de ambos os sexos, estes já prestaram atendimento a mulheres vítimas de violência. O instrumento de coleta de dados conta com dez questões qualitativas que irá caracterizar as dificuldades dos enfermeiros na prestação da saúde da mulher vítima de violência. A prática de acolhimento de enfermagem evidencia um trabalho humanizado que mostra o ato de receber, escutar e tratar o paciente, por meio disso a presente pesquisa vê a importância da qualificação do enfermeiro frente ao tema. 

Palavras-chave: assistência; humanização; atendimento; gênero; saúde.

1 INTRODUÇÃO

A violência pode se apresentar em todas as raças, idades e gêneros, independente da cultura, religião, credo ou classe social. Esta pode causar além dos danos físicos também danos psicológicos à vítima e aos envolvidos. Essa violência pode ocasionar também o aumento de taxas de suicídio, distúrbios gástricos intestinais devido ao estresse sofrido, distúrbios psíquicos e aumento da cefaleia (MOREIRA et al., 2008). Portanto, são necessárias ações de prevenção e tratamento para as vítimas (GARCIA et al., 2008). 

Segundo Ghebreyesus (2021): “A violência contra as mulheres é endêmica em todos os países e culturas, causando danos a milhões de mulheres e suas famílias, e foi agravada pela pandemia de COVID-19”. Nesse contexto é possível ver a importância do papel do enfermeiro em prestar esse primeiro atendimento a essas mulheres vítimas de violência. A rede de saúde tem um papel de destaque com as vítimas, pois são eles quem garantem os seus direitos. Diversas vezes essas mulheres vêm de encontro com a rede de atenção por outras razões. Nessas ocasiões, os enfermeiros fazem a identificação das vítimas de violência, por isso é importante atenção da equipe de atendimento à mulher (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).

O primeiro contato da mulher vítima de violência na atenção à saúde é feito principalmente pelo enfermeiro. Esse atendimento deve ser feito de forma humanizada visando o acolhimento da vítima, seguindo pela anamnese, coleta de exames laboratoriais, o agendamento de retorno e a administração de medicamentos visando o bem-estar da paciente. Esses são os passos que, na prática, devem ser seguidos para garantir um atendimento qualificado e que garanta a aderência ao atendimento (MATTAR et al., 2007).

O cuidar de enfermagem no âmbito de acolher tem como princípio a qualidade e a humanização juntamente com medidas, postura e atitudes profissionais com o paciente (TAKEMOTO et al., 2007). Na enfermagem tem que se compreender o indivíduo em sua plenitude, ouvir o paciente com sensibilidade e solidariedade, assim prestando um atendimento de qualidade ao paciente. Essa prática de acolhimento de enfermagem evidencia um trabalho humanizado que mostra o ato de receber, escutar e tratar (SOBRAL et al., 2004).

A teoria de Paterson e Zderad (2014) tem como foco central a Enfermagem Humanística, busca entender as experiências fenomenológicas vivenciadas pela enfermagem e pelo paciente que recebe o cuidado. É uma metodologia que se preocupa em compreender e descrever as situações de enfermagem, em uma abordagem filosófica da fenomenologia e do existencialismo 

Nesse sentido, a enfermagem procura entender a experiência da relação entre o ser-enfermeiro e o ser-cliente, de modo que esse estar-com seja feito de modo humano e curativo. A abordagem existencial-fenomenológico-humanista, tem como foco a necessidade de interação entre as pessoas para determinar o significado que vem da forma exclusiva de o indivíduo experimentar o mundo (PERSEGONA et al., 2008). Diante disso, essa pesquisa busca mostrar e refletir a importância do papel prestado pelo enfermeiro frente ao atendimento a mulheres vítimas de violência.

1.1 PROBLEMA 

A violência contra a mulher vem sendo um tema diariamente abordado pela Saúde Pública no Brasil. Pois além de ser uma temática complexa e um fenômeno social, acomete também filhos, familiares e a sociedade. Cerca de 20% a 50 % das mulheres no mundo já sofreram algum tipo de violência, sendo estes físicos ou sexuais cometidos principalmente por seus parceiros (OLIVEIRA, 2008).

Nota-se a falta de qualificação e educação continuada de profissionais da saúde no atendimento da mulher vítima de violência. Pode-se ver a necessidade de discutir sobre o assunto com os enfermeiros e mudar a forma de atendimento e do cuidar com essas vítimas, para que elas se sintam seguras e acolhidas no atendimento (MORAIS et al., 2010).

A busca pelo aprofundamento no tema em questão mostra a importância da qualidade do atendimento que esse enfermeiro vai proporcionar à vítima e a qualificação e educação do enfermeiro no tema para que se torne um atendimento mais humanizado possível. Diante da importância do tema apresentado surge a questão norteadora do presente projeto: Como é conduzido o atendimento de enfermagem referente à mulher vítima de violência?

1.2 JUSTIFICATIVA

Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública evidenciam que, em 2022, 17.775 mulheres foram agredidas em casos de violência doméstica no Paraná. Casos, como os de lesão corporal, representam um total de 48 vítimas por dia ou 2 mulheres agredidas por hora no estado (BORSUK, 2023).

Sabe se que o enfermeiro tem um papel primordial no atendimento a essas mulheres vítimas de violência, por serem o primeiro profissional a prestar contato com essa vítima. Eles apresentam um vínculo de profissional-paciente, e em casos como esses, esse vínculo causa segurança e ajuda na condução e resolução do caso de violência (MATTOS et al., 2012)

Sabendo da importância do enfermeiro na abordagem a mulheres vítimas de violência, nota-se que esse pode se sentir de certa forma não habilitado e capacitado para prestar esse atendimento. Já que as dificuldades podem vir desde a formação acadêmica, por ser um tema pouco discutido. Diante as informações fornecidas sobre a importância do enfermeiro nesse atendimento, é de forma indispensável que esse profissional seja capacitado para enfrentar esse tipo de situação, que haja recursos e materiais adequados para o atendimento, para que ele preste um atendimento qualificado de forma humanizada, garantindo o bem-estar físico, social e mental das pacientes vítimas de violência e orientar a família (DA ROSA, 2022).

2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Mediante o exposto, o presente trabalho tem como objetivo geral mostrar os desafios enfrentados pela enfermagem na prestação da saúde da mulher vítima de violência, na Unidade de Pronto Atendimento – UPA, localizada na Avenida Brasil, 3785, Bairro Itaipu, em frente ao Batalhão da Polícia Militar na Cidade de Medianeira – PR.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

O presente trabalho tem como objetivos específicos:

Analisar, através do questionário aplicado as principais dificuldades dos enfermeiros na prestação do atendimento na saúde da mulher vítima de violência.

Evidenciar a importância do profissional de enfermagem no atendimento a mulheres vítimas de violência. 

Evidenciar a falta de capacitação e educação contínua dos profissionais de enfermagem no presente estudo.

3 METODOLOGIA

3.1 TIPO DE ESTUDO

Trata-se de um estudo qualitativo exploratório. O estudo qualitativo busca ter um contato direto do pesquisador com o ambiente e a situação que está sendo estudada, tendo um trabalho árduo em campo buscando um material rico em descrições, situações e acontecimentos (OLIVEIRA, 2011).

3.2 LOCAL DO ESTUDO

O presente estudo foi realizado em uma Unidade de Pronto Atendimento – UPA no Município de Medianeira-PR, que conta com uma população de 54.369 habitantes, sedo que 50,82% desses habitantes são mulheres (IBGE, 2022). A referida UPA fica localizada na Avenida Brasil, 3785, Bairro Itaipu, em frente ao Batalhão da Polícia Militar, tem como horário de funcionamento 24 horas de segunda a domingo.  

3.3 AMOSTRA

A população do estudo foi constituída por Enfermeiros, de ambos os sexos, que trabalham na UPA em questão, estes já prestaram atendimento a mulheres vítimas de violência. 

Considerando a população de 11 enfermeiros, erro amostral de 5% e nível de confiança de 90% a amostra será constituída de 11 enfermeiros.  

3.4 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO

As especificações dos Participantes da Pesquisa serão:

Enfermeiros, de ambos os sexos, que trabalham na UPA em Medianeira PR; enfermeiros que já prestaram atendimento a mulheres vítimas de violência e que aceitem assinar o TCLE;

3.5 CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO

Os critérios de exclusão do presente estudo foram enfermeiros que não trabalham na UPA em Medianeira PR, enfermeiros que não prestaram atendimento a mulheres vítimas de violência, enfermeiros que não assinaram o TCLE ou que não quiseram participar da pesquisa.

3.6 BENEFÍCIOS 

Para a região de Medianeira PR, o presente estudo irá contribuir e aprimorar o conhecimento dos Enfermeiros, assim trazendo novas formas de atuar e atender essas pacientes. Os participantes poderão compreender a importância da busca por conhecimento e aperfeiçoamento assim melhorando o atendimento de modo que este seja qualificado e humanizado, visando o bem-estar físico e psicológico das pacientes. Para o pesquisador o estudo o benefício é o conhecimento que será obtido, compreender e entender as dificuldades que o profissional de enfermagem enfrenta ao realizar o atendimento a mulheres vítimas de violência. Para o local da pesquisa o presente estudo apresentara quais as principais dificuldades dos profissionais de enfermagem na prestação do atendimento e a importância da qualificação e entendimento do tema. 

3.7 RISCOS

Os riscos da pesquisa são mínimos. Podendo haver a possibilidade de importunação do pesquisado, uma vez que esse irá responder um questionário qualitativo sobre como foi o seu atendimento a mulheres vítimas de violência, este pode causar constrangimento e estresse.

Caso alguma dessas situações ocorra, o pesquisado será questionado sobre a importância de interromper a pesquisa. Caso a resposta do pesquisado seja afirmativa a pesquisa será interrompida imediatamente.

3.8 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS

O instrumento de coleta de dados foi realizado por um questionário criado a partir do Trabalho de Conclusão de Curso – TCC desenvolvido por Da Rosa (2022) com o presente tema “O Atendimento do Enfermeiro da Atenção Primaria à Saúde Frente a Mulher Vítima de Violência”, pela Universidade Federal de Santa Catarina, já publicado e aceito pelo Comite de Ética. Os dados foram coletados por meio de questionário contendo dez questões abertas e entrevista.

Para foi realizado um comitê de forma presencial com os enfermeiros convidados, onde eles foram submetidos a uma breve explicação do tema, os objetivos da pesquisa, o tipo de pesquisa, e foram orientados sobre o questionário semiestruturado e o termo de consentimento. Após a leitura e assinatura do TCLE, a coleta de dados foi realizada através de um questionário qualitativo, que foi lido e interpretado pelos participantes. O instrumento de coleta de dados conta com dez questões qualitativas que irá caracterizar as dificuldades dos enfermeiros na prestação da saúde da mulher vítima de violência. A coleta dos dados foi iniciada somente após a aceitação do Comite de Ética em Pesquisa com Seres Humanos.

O pesquisado foi informado que em qualquer momento, poderia desistir de participar da pesquisa sem qualquer prejuízo. Para isso, deverá informar, por qualquer modo que lhe seja possível, que deseja deixar de participar da pesquisa e qualquer informação que tenha prestado será retirada do conjunto dos dados que serão utilizados na avaliação dos resultados.

O participante também recebeu informações que não receberá nenhum valor para participar do estudo, no entanto, tem direito ao ressarcimento de despesas decorrentes de sua participação. Caso tenha ocorrido algum transtorno ao pesquisado, decorrente de sua participação em qualquer etapa dessa pesquisa, os pesquisadores providenciaram acompanhamento e assistência imediata, integral e gratuita. 

A pesquisa foi respondida por sete enfermeiros participantes, sendo que a princípio eram onze, porem quatro desses não aceitaram o termo de TCLE. 

3.9 ANÁLISE DOS DADOS 

Os dados foram analisados através do método de Minayo (2001), visto que a pesquisa é qualitativa, de modo que se possa organizar as diferenças e similares diante das respostas dos participantes. Foi executado uma análise temática, onde se identifica as dificuldades dos enfermeiros no atendimento a mulheres vítimas de violência.

Segundo Minayo (2001), a análise do conteúdo é compreendida como um conjunto de técnicas, pois analisa as informações sobre o comportamento humano, assim podendo ter uma aplicação bem variada, tendo duas funções: análise de hipóteses ou questões e a descoberta do que se tem por trás do conteúdo evidente.

3.10 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS 

Para a execução do projeto, foram respeitadas as diretrizes da Resolução 466/2012, do Conselho Nacional de Saúde, que trata das normas regulamentadoras e dos aspectos éticos das pesquisas envolvendo seres humanos. O projeto foi encaminhado para avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa. Todos aqueles que aceitaram participar assinaram, juntamente com o pesquisador, em duas vias, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice F), sendo que uma via assinada ficou em posse do participante da pesquisa e a outra em posse do pesquisador responsável.

4 CRONOGRAMA

O cronograma da presente pesquisa segue abaixo.

Tabela 1 Cronograma da pesquisa intitulada Desafios Enfrentados pela Enfermagem na Prestação da Saúde da Mulher Vítima de Violência que ocorrerá no ano de 2024 após aprovação pelo Comitê de Ética.

ETAPASNov/23Dez/23Jan/24Fev/24Mar/24Abr/24
Revisão de literaturaX
Elaboração do projeto de pesquisaX
Envio do projeto de pesquisa ao CEPX
Coleta de dadosXX
Tabulação de dadosX
EscritaX
Revisão FinalX
Apresentação X

5 ORÇAMENTO

O orçamento para os recursos físicos e materiais que foram utilizados durante a realização da coleta de dados foi financiado por recursos próprios do pesquisador.

Tabela 2: Orçamento da pesquisa intitulada Desafios Enfrentados pela Enfermagem na Prestação da Saúde da Mulher Vítima de Violência que ocorrerá no ano de 2024 após aprovação pelo Comitê de Ética. 

RecursosValor total estimado
Passagem (Transporte)R$ 100,00
Deslocamento na cidadeR$ 120,00
HotelR$ 200,00
Impressões R$ 50,00
CanetasR$ 5,00
Total estimadoR$ 475,00

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A pesquisa foi desenvolvida em cima de 10 questões abertas, realizada com sete enfermeiros que trabalham na UPA localizada no município de Medianeira. As questões tinham como objetivo principal entender as dificuldades do enfermeiro no atendimento a mulheres vítimas de violência. 

Com base nas respostas obtidas pelos enfermeiros, foram selecionadas respostas semelhantes, que destaca a importância da escuta e comunicação como ferramenta de construção de vínculos para o cuidado adequado às mulheres em situação de violência, a necessidade de educação permanente dos profissionais de saúde sobre a temática, e a responsabilidade do enfermeiro no cuidado a essas mulheres.  

Para garantir a privacidade dos participantes não foi incluso o nome de cada e sim enumerado enfermeiro E1, E2, E3, E4, e assim por diante.

Como é realizado o atendimento à mulher vítima de violência? 

Segundos as respostas dos participantes, o enfermeiro é quem acolhe essas mulheres e evidencia um acolhimento seguro, uma relação de respeito e uma escuta qualificada as vítimas de violência. 

Enfermeiro E3 e E4 relatam que o atendimento é feito de forma prioritária, com garantia de privacidade, segurança e respeito, para que se possa passar confiança, conforto a vítima.

De acordo com a pesquisa realizada e os relatos obtidos, notasse que o enfermeiro tem um papel importante na escuta qualificada e na criação de um vínculo com a vítima, devido ao fato de ser um dos primeiros profissionais a entrar em contato com as mulheres que sofreram ou sofrem violência. Além do enfermeiro, toda a equipe multiprofissional deve ser respeitosa, não julgar as vítimas e prestar um atendimento confidencial que permita que as mulheres vítimas de violência se sintam seguras e confiantes em relatar o ocorrido (SILVA et al, 2021).

Como o enfermeiro pode incentivar o encorajamento das mulheres vítimas de violência? 

Os sete enfermeiros participantes destacam que se pode incentivar ou encorajar essas vítimas, prestando um atendimento qualificado, uma escuta ativa, trazendo um ambiente seguro, livre se julgamentos e a orientando de forma a lhe passar confiança para fazer a denúncia da violência sofrida. 

Vale ressaltar que a educação em saúde é um dos métodos mais amplos e oportunos para combater a violência na comunidade. Os profissionais de saúde devem buscar desenvolver palestras, folders e imagens indicando locais de apoio onde essas mulheres podem denúncias e obter proteção de forma segura, como os Centros de Referência Especializados de assistência Social ou Centros de Referência de Assistência Social – CREAS (BENELLI SJ, 2016).

Vesse que as redes de apoio e acolhimento são de muita importância na proteção da mulher vítima de violência, assim como atendimento qualificado e humanizado do enfermeiro e da equipe multiprofissional, todo suporte e ajuda dado para a vítima tem como principal intuito interromper o ciclo de violência vivido, e poder de alguma forma ajudar essas mulheres a recuperar sua autoestima, autoconfiança e confiança. (Da Rosa, 2022)

Quais dificuldades você como enfermeiro, presencia nesta situação? 

Com base nas respostas obtidas pelos enfermeiros E1, E2, E3, E4 e E5, nota se que as principais dificuldades no atendimento são devido a vítima de violência ter uma relutância em falar sobre a violência, apresenta medo do que possa acontecer após a denúncia, medo de ser julgada, demonstra vergonha em relatar a violência sofrida e muitas das vezes está acompanhada pelo seu parceiro e por esse motivo não relatar a violência sofrida. 

A violência doméstica é um problema de saúde pública com graves consequências para a saúde física, psicológica, social, sexual e reprodutiva das vítimas, reconhecida como uma grave violação dos direitos humanos (Garcia-Moreno et al., 2006). 

Dessa forma mostrasse a dificuldade da mulher em relatar as agressões e outras formas de violências sofridas por cauda do medo, vergonha ou sentimento de culpa que a mesma sente, assim aumentando os riscos de desenvolver transtornos mentais, como depressão, ansiedade e isolamento social, entre outros sinais mostrados pela vítima, prejudicando a qualidade de vida pessoal e social da mesma (Da Rosa, 2022). 

Você já presenciou algum caso nesta unidade? Qual tipo de violência e faixa etária da vítima?

Quais os sinais demonstrados, são os mais comuns que indicam que aquela mulher está sofrendo violência? 

Segundo os enfermeiros entrevistados a violência doméstica foi umas das mais atendidas, apresentam sinais claros de violência, como hematomas espalhados pelo corpo, medo, desconfiança, mudanças de comportamento, entre outras, e muitas vezes a agressão é ocasionada pelo próprio parceiro, o que faz com que a vítima sinta insegurança, vergonhada e com medo de buscar a ajuda do profissional de enfermagem, assim dificultando um atendimento qualificado e cuidado adequado da saúde física e emocional da mulher. Através das respostas obtidas vemos que a principal faixa etária atendida é entre os 18 e 25 anos, o que se mostra que a maioria das mulheres afetadas são jovens.  Atualmente, a violência sofrida pelo parceiro e definida como violência doméstica, pois é um fenômeno generalizado que não está relacionado a uma região, cultura ou etnia especifica e nem ao nível econômico (Dickens, 2009). 

A violência doméstica é muitas vezes praticada pelo próprio parceiro ou membros da família, dentro de casa, essa violência ocorre como meio de manter uma relação de poder sobre a vítima, essa pode sofrer vários traumas, agressões, ofensas, calunia, injuria, espancamento e humilhações. Essa violência é uma questão muito complexa pois não apresenta nenhum motivo ou razão aparente e é desencadeada por vários fatores, é independente de sexo, religião, idade, raça, etnia, nível de educação, cultura, status social, ocupação, capacidade física ou mental. (LABRONICI et al., 2009)

Você acredita que na graduação é fornecido um preparo para esse tipo de atendimento? 

Segundo as respostas obtidas pelos enfermeiros E2, E4, E5, E6 e E7, nota se que a graduação não oferece uma capacitação adequada ou não é o suficiente para que esse atendimento seja realizado de forma adequada e eficaz. 

Nota se que é de estrema importância a capacitação e a preparação desses enfermeiros na prestação da suade da mulher vítima de violência, que aja planos de ação, estratégia, qualificações e atualizações sobre o tema, para que o profissional se sinta preparado e seguro para desenvolver suas ações no manejo desses pacientes.

Da Rosa (2022) revelou que, embora o enfermeiro seja competente, ainda é um desafio abordar essas mulheres vítimas de violência. Notasse a falta de treinamento adequado na graduação, o que pode fazer com que o enfermeiro se sinta mais qualificado e preparado para esse tipo de atendimento. Além da falta de treinamento permanente que ajudaria os enfermeiros a prestar esse tipo de atendimento e identificar melhor as situações de violência. 

O que você acredita que possa contribuir com a diminuição da violência contra a mulher?

Segundo os participantes a educação é indispensável nesse meio, pois ele deve ser de forma continuada, pois é através dela o que os profissionais da enfermagem se qualificam, se preparam e fornecem orientação as essas mulheres, sendo uma grande aliada no preparo dos profissionais. Destaca se também a importância dos profissionais em promover campanha de combate à violência da mulher, para que possa passar para essas vítimas um conhecimento sobre a violência e seus direitos, para que possa de alguma forma encorajar essa mulher a fazer a denúncia. 

O Conselho Estadual da Condição Feminina de São Paulo, atribui diretrizes e promove atividades que visam os direitos da mulher, e a eliminação das discriminações que as atingem, bem como a plena integração na vida socioeconômica e político-cultural, sendo um conselho deliberativo e que se renova a cada quatro anos. Os programas de Governo no contexto federal, estadual ou municipal tem como objetivo defender os direitos e interesses dessas mulheres vítimas de violência, assim desenvolvendo estudos, debates e pesquisas sobre a problemática da mulher, conforme o Decreto nº 20.892, de 4 de abril de 1983, regido pela Lei nº 5.447, de 19 de dezembro de 1986 (CONDIÇÃO FEMININA, 2021).

A lei Maria da Penha que foi criada em agosto de 2006, obteve diversas mudanças no atendimento, além de fornecer novas medidas de diminuir a violência contra a mulher e dispor com maior rapidez o tratamento adequado a essas vítimas, como por exemplo, nas normativas anteriores as medidas de proteção emergencial a mulher era preciso de um advogado para realizar qualquer pedido ao juiz, atualmente o próprio delegado já providencia a solicitação ao juiz. A Lei também predispõe o desenvolvimento de trabalhos com diferentes órgãos governamentais, como Saúde, Justiça e Assistência Social. (SÃO PAULO, 2020)

A Secretaria de Políticas Públicas das Mulheres tem como principal objetivo à superação das desigualdades e o combate a todas as formas de preconceito e discriminação. Seus objetivos são divididos em três grandes linhas de ação: Combate à violência contra a mulher; política trabalhista e autonomia econômica da mulher; Programas de ações nas áreas de saúde, educação, cultura, participação política; igualdade e diversidade de gênero. Desde 2003, a Secretaria de Políticas para as Mulheres vem desenvolvendo políticas públicas para tentar combater à violência, como: “Desenvolver normas e padrões de serviço, melhorar a legislação, incentivar a criação de redes de serviços para apoiar programas educacionais e culturais Prevenir a violência e ampliar o acesso das mulheres à justiça Segurança Pública” (Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra a Mulher, 2015)

CONSIDERAÇÕES FINAIS  

Através desta pesquisa foi possível observar que o enfermeiro deve ser altamente qualificado ao prestar atendimento e assistência a mulher vítima de violência, respeitando a privacidade, a autonomia e o empoderamento dessas mulheres. O atendimento deve ser feito com escuta qualificada, fazendo com que a vítima se sinta segura e amparada, e que através da educação em saúde ela possa voltar a sua vida com mais autonomia, segurança e que possa através das orientações e atendimento romper o ciclo de violência sofrido. Vale ressaltar que esse atendimento deve ser de forma integral, focando também na saúde da mulher, para que ela possa se recuperar de forma plena. 

Contudo, nota se que o assunto ainda é pouco abordado principalmente no período de graduação dos profissionais de enfermagem, assim deixando algumas lacunas, fazendo com que esses profissionais se sintam um pouco perdidos e sintam falta de um suporte na fase acadêmica, para que possam atender de forma qualificada no dia a dia, assim tendo que aperfeiçoar esse entendimento no cotidiano do trabalho. 

Portanto notasse a importância da ampliação de práticas educativas, como forma de reforçar esse tipo de atendimento não só do enfermeiro, mas de toda a equipe multidisciplinar, trazendo atualizações, capacitações e qualificação de toda a equipe, garantindo educação continua e trazendo segurança para os enfermeiros e para as mulheres vítimas de violência.  

Dessa forma concluísse que o enfermeiro deve prestar um atendimento humanizado e sensibilizado com a vítima, para que ela possa se sentir segura e acolhida para assim relatar a violência, mas também deve ser firma e não deixar com que as emoções tomem o controle, pois como profissional comprometido com a ética e bem estar da paciente atendida, ele deve agir de forma imediata quando observa ou a mesma relata a violência sofrida, mas a vontade da vítima de levar a diante deve ser respeitada e mantida. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARRUDA, Flávia Silva. A violência contra a mulher: revisão integrativa. Anápolis-GO, 2020. 

BENELLI SJ. O atendimento socioassistencial para crianças e adolescentes: perspectivas contemporâneas. São Paulo: Editora UNESP, 2016; 342 p

COOK, Rebecca J.; DICKENS, Bernard. M. Dilemmas in intimate partner violence. International Journal of Gynecology and Obstetrics, v. 106, n. 1, p. 72-75, 2009

GARCIA-MORENO, Cláudia et al Prevalence of intimate partner violence: findings from the WHO multi-country study on women’s health and domestic violence. Lancet, v. 368, n. 9543, p. 1260-1269, 2006.

GARCIA MV, RIBEIRO LA, JORGE MT, PEREIRA GR, RESENDE AP. Caracterização dos casos de violência contra a mulher atendidos em três serviços na cidade de Uberlândia, Minas Gerais, Brasil. 2008. Acesso em: agosto de 2023  

Governo do Estado de São Paulo (ed.). Condição Feminina. 2021. Disponível em: https://justica.sp.gov.br/index.php/conselhos/condicao_feminina/. Acesso em: abril de 2024

Governo do Estado de São Paulo (ed.). Delegacia de Defesa da Mulher: institucional. Institucional. 2020. Portal do Governo (SP). Disponível em: https://www.ssp.sp.gov.br/fale/institucional/answers.aspx?t=7. Acesso em: abril de 2024

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Portal Cidades, Censo do Município de Medianeira, 2022. Disponível em: cidades.ibge.gov.br/brasil/pr/medianeira Acesso em: setembro de 2023 

LABRONICI, LILIANA MARIA et al. O CUIDADO DE ENFERMAGEM A VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. Cogitare Enfermagem, Curitiba, v. 04, n. 12, p. 755-759, 2009. Trimestral. Universidade Federal do Paraná. Disponível em: https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=483648977022. Acesso em: março de 2024.

MATTAR R, ABRAHÃO AR, ANDALAFT NETO J, COLAS OR, SCHROEDER MACHADO SJR, et al. Assistência multiprofissional à vítima de violência sexual: a experiência da Universidade Federal de São Paulo. 2007 Acesso em: agosto de 2023. 

MATTOS, P. R.; RIBEIRO, I. S.; CAMARGO, V. C. Análise dos casos notificados de violência contra mulher. Cogitare enfermagem, v.17, n.4, out./dez. 2012. Acessado em setembro de 2023. 

MINAYO, MCS (Org.). (2001). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Rio de Janeiro: Vozes. Acesso em: setembro de 2023.

Ministério da saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas, PREVENÇÃO E TRATAMENTO DOS AGRAVOS RESULTANTES DA VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA MULHERES E ADOLESCENTES, Série Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos – Caderno nº 6, Brasília, 2012. Disponível em:  https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/prevencao_agravo_violencia_sexual_mulheres_3ed.pdf  Acesso em: agosto de 2023. 

MARTINS, Ana Paula Antunes et al. A Institucionalização das Políticas Públicas de Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres no Brasil: (versão preliminar). (Versão Preliminar). 2015. Ipea. Disponível em: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ipea. Acesso em:

MOREIRA SNT, GALVÃO LLLF, MELO COM, AZEVEDO GD. Violência física contra a mulher na perspectiva de profissionais de saúde. Revista Saúde Pública. 2008 Acesso em: agosto de 2023.

NAYARA RUBIA COELHO, LILIAN MAUREIRA VERGANA. Teoria de Paterson e Zderad: aplicabilidade humanística no parto normal. Universidade de Mogi das Cruzes, 2014. Acesso em: setembro de 2023. 

OLIVEIRA AR, D’OLIVEIRA AFPL. Violência de gênero contra trabalhadoras de enfermagem em hospital geral de São Paulo (SP). Revista saúde pública. 2008; Acesso em: agosto de 2023  

OLIVEIRA, MAXWELL FERREIRA DE. Metodologia científica: um manual para a realização de pesquisas em Administração / Maxwell Ferreira de Oliveira. — Catalão: UFG, 2011. 25 p. Acesso em: agosto de 2023.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). Violência contra as mulheres é ‘pandemia global’, diz chefe da ONU, 2018. Disponível em: https://nacoesunidas.org/violencia-contra-as-mulheres-e-pandemia-global-diz-chefe-da-onu/. Acesso em: agosto de 2023.  

PERSEGONA KR; ZAGONEL IPS. A relação intersubjetiva entre o enfermeiro e a criança com dor na fase pós-operatória no ato de cuidar. Esc Anna Nery Revista Enfermagem. 2008. Acesso em: setembro de 2023  

SHEILA COELHO RAMALHO VASCONCELOS MORAIS, CLAUDETE FERREIRA DE SOUSA MONTEIRO, SILVANA SANTIAGO DA ROCHA. O cuidar em enfermagem à mulher vítima de violência sexual. Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Piauí (UFPI). 2010. Disponível em: https://www.scielo.br/j/tce/a/ckVMC5bHyNsndMSgKy7RQLz/# Acesso em: agosto de 2023. 

SOBRAL V, TAVARES CMM, SILVIERA MF. Acolhimento como instrumento terapêutico. In: Santos I, Figueiredo NMA, Padilha MICS, Souza SROS, Machado WCA, Cupello AJ. Enfermagem assistencial no ambiente hospitalar. realidade, questões, soluções. São Paulo (SP): Atheneu; 2004. Acesso em: agosto de 2023.

TAKEMOTO MLS, SILVA EM. Acolhimento e transformações no processo de trabalho em enfermagem em unidades básicas de saúde de Campinas, São Paulo, Brasil. 2007. Acesso em: setembro de 2023.  

Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, DEBORA SANTOS DA ROSA, O Atendimento do Enfermeiro da Atenção Primária à Saúde Frente à Mulher Vítima de Violência, pela Universidade Federal de Santa Catarina em 02 de agosto de 2022. Acesso em: agosto de 2023.  

Violência contra a mulher. Site RIC. Com.2023. DANIELA BORSUK. Disponível em: https://ric.com.br/prja/seguranca/violencia-contra-a-mulher/violencia-contra-a-mulher-o-perigo-esta-em-todo-lugar/ Acesso em: setembro de 2023.  

CATRACA LIVRE (Brasil). Entenda como funcionam as Delegacias de Defesa da Mulher: saiba como denunciar a violência contra a mulher. Saiba como denunciar a violência contra a mulher. 2020. Revista Eletrônica. Disponível em: