DESAFIOS E RELEVÂNCIA DA ODONTOLOGIA HOSPITALAR NA SAÚDE DE PACIENTES EM UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA

CHALLENGES AND RELEVANCE OF HOSPITAL DENTISTRY IN THE HEALTH OF PATIENTS IN INTENSIVE CARE UNITS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202411211355


Gabriel Martins Lima1
Helber José Queiroz da Silva Filho2
Rebeca Barbosa Lopes3
Daniel Cavallero Colares Uchoa4


Resumo

Profissionais de odontologia enfrentam diariamente diversos obstáculos no cuidado de pacientes hospitalizados e na inserção profissional neste ambiente, inclusive em unidades de terapia intensiva, no qual os enfermos requerem cuidados de forma integral. O objetivo deste estudo foi analisar as necessidades, desafios e a importância da odontologia hospitalar em um contexto de pacientes assistidos em unidades de terapia intensiva. A metodologia empregada foram buscas de artigos nas bases de dados: PubMed, LILACS e Scielo, foram encontrados 473 artigos e 13 foram selecionados para compor o trabalho. O cirurgião dentista é um profissional essencial na equipe hospitalar, diagnosticando, tratando e prevenindo doenças. Os estudos apontaram diminuição no tempo de internação e de recuperação dos pacientes que recebiam cuidados orais no período de internação.

Palavras-chave: Odontologia. Pacientes Internados. Unidades de Terapia Intensiva. Saúde Bucal

1. INTRODUÇÃO

A odontologia hospitalar é a especialidade odontológica responsável por diversas ações preventivas, diagnósticas e terapêuticas de doenças do sistema oral de pacientes em ambientes hospitalares ou de indivíduos com algum comprometimento sistêmico que necessitam de cuidados especiais. Esse cuidado específico é necessário tanto pela exigência intrínseca de atendimento em um ambiente hospitalar quanto para atender pacientes já internados em diversas complexidades (SALDANHA et al., 2015).

No continente americano, a inserção da odontologia no contexto hospitalar remonta ao século XIX. Entretanto, foi apenas em meados de 2008 que começaram a ser implementadas avaliações orais pré-cirúrgicas em pacientes de alta complexidade. Essas avaliações mostraram-se extremamente promissoras na melhora da qualidade de vida dos pacientes e na redução de complicações operatórias, reconhecendo a saúde bucal como um componente crucial da saúde sistêmica (RAMALHO, 2020). Essa evolução histórica destaca a importância crescente da odontologia hospitalar e a necessidade de protocolos bem estabelecidos para a inclusão de avaliações orais em rotinas pré-cirúrgicas e em pacientes internados com condições de saúde complexas (SALDANHA et al., 2015).

No contexto do Brasil em 2012, os projetos de lei nº 2.776/2008 e nº 363/2011 foram aprovados, firmando a obrigatoriedade da presença de dentistas em hospitais públicos e privados que mantenham pacientes sob cuidados intensivos em UTI ou enfermarias. (AMARAL et al., 2013). 

Em agosto de 2023, o CFO reconheceu a odontologia hospitalar como especialidade odontológica, com a nova regulamentação entrando em vigor a partir de janeiro de 2024. Esse reconhecimento formaliza a importância do dentista nos hospitais e valoriza a especialização dentro da odontologia (CFO, 2024).

Nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), onde pacientes enfrentam condições críticas de saúde, a presença do dentista é essencial. A cavidade bucal pode ser uma fonte significativa de infecções, especialmente em pacientes com o sistema imunológico comprometido. O trabalho do dentista nessas unidades visa prevenir e controlar possíveis focos de patógenos, minimizando o risco de complicações adicionais. Além disso, problemas odontológicos não tratados podem levar a complicações respiratórias, o que é particularmente preocupante em um ambiente onde a função respiratória dos pacientes já está comprometida. (AMARAL et al., 2013).

Portanto, a atuação do dentista não se limita apenas à saúde bucal, mas também tem impacto direto na saúde geral e na qualidade de vida dos pacientes em UTIs. Ao garantir uma higiene bucal adequada e o tratamento precoce de problemas dentários, o dentista desempenha um papel fundamental na equipe multidisciplinar de cuidados intensivos, contribuindo para melhores resultados clínicos e uma recuperação mais rápida dos pacientes. (AMARAL et al., 2013).

Entretanto, existem poucos estudos publicados que destaquem a importância da atuação do profissional de odontologia na UTI e dos desafios vinculados à prática odontológica nesse local, logo este trabalho visa amplificar o entendimento sobre a atuação do dentista em ambientes intensivos e ratificar a sua valorização entre os profissionais que compõem a equipe multiprofissional de cuidados.

O objetivo geral da pesquisa é analisar a necessidade, desafios e importância da odontologia hospitalar em um contexto multiprofissional de pacientes assistidos nas unidades de terapia intensiva (UTI).

2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1 ATRIBUIÇÕES E IMPORTÂNCIA DO DENTISTA NA UTI:

As unidades de terapia intensiva (UTI) são voltadas ao atendimento de pacientes cujo estado clínico exige uma assistência e observação contínua dos profissionais de saúde, proporcionando cuidados ao paciente internado de forma integral (PINHEIRO & ALMEIDA, 2014). Assim, cirurgiões-dentistas são cruciais para garantir a saúde integral dos pacientes hospitalizados em UTI, pois estes requerem cuidados meticulosos devido a condições clínicas que os tornam mais suscetíveis a infecções bucais e/ou sistêmicas, agravando seu estado geral de saúde (AMARAL et al., 2013). 

A manutenção de um controle rigoroso da higiene bucal dos pacientes em UTI busca conter o desenvolvimento e a maturação de biofilmes patogênicos em diferentes locais da cavidade bucal, incluindo dentes, mucosa oral e língua. A higiene bucal deficiente decorre de diversos fatores, como a redução na ingestão de alimentos fibrosos, diminuição da movimentação da língua e das bochechas, redução do fluxo salivar induzida por medicamentos, sangramentos mucosos e ressecamento labial. A dependência desses pacientes para a realização de uma higiene bucal adequada e eficiente sinaliza a importância da intervenção de profissionais capacitados para restaurar e manter a higidez do ambiente bucal (AMARAL et al., 2013).

Ademais, a adesão e o desenvolvimento do biofilme ocorrem rapidamente nas superfícies intraorais, aumentando de forma diretamente proporcional ao tempo de internação e contribuindo para problemas como o aumento de patógenos respiratórios, agravamento de doenças periodontais e disseminação de infecções, incluindo a pneumonia nosocomial, considerada a segunda maior causa de infecção hospitalar. (AMARAL et al., 2013).

Nesse contexto, a higienização deve ser adaptada às necessidades individuais dos pacientes, levando em consideração sua consciência e estado de dentição. Para pacientes dentados, empregam-se dentifrícios fluoretados e escovas com cerdas macias e uniformes, com cabeças arredondadas e pequenas, complementada pelo uso de fio dental, já para pacientes desdentados, utiliza-se espátulas de madeira revestidas por gaze estéril, embebidas em solução de digluconato de clorexidina 0,12%. Em casos de pacientes em suporte ventilatório mecânico ou inconsciente, a aspiração da cavidade bucal é realizada por meio de sugador odontológico. Após a limpeza bucal, uma pequena quantidade de óleo de girassol é aplicada nos lábios e mucosas para hidratação (GALVÃO et al., 2023).

O cirurgião atuará também no setor preventivo, instruindo não só os pacientes acerca de uma higiene adequada, mas também dos outros profissionais e acompanhantes/cuidadores que compõem a equipe multidisciplinar de cuidados, alertando sobre dietas cariogênicas e auxiliando na reabilitação oral (SILVA & FORTE, 2021).

Portanto, as atribuições do cirurgião dentista vão muito além do que só uma higienização da cavidade oral e prescrição de colutório, o paciente é visto como um todo e, o zelo à cavidade bucal, se dá como forma de proteção contra microrganismos que possam comprometer a saúde do paciente. A presença do profissional de Odontologia na UTI é fundamental, tendo como função primordial a avaliação de toda a região maxilo facial dos pacientes em seus leitos, afim de realizar o tratamento indicado e adequado de acordo com a condição de cada indivíduo (FERREIRA, LONDE & MIRANDA, 2017).

2.2 PREVENÇÃO DE INFECÇÕES ASSOCIADAS A UTI:

Pacientes com sistemas imunológicos enfraquecidos apresentam uma diversidade de microrganismos na boca, os quais podem colonizar áreas como o biofilme dental, a saburra lingual e o tubo orotraqueal durante procedimentos médicos, gerando presença de focos infecciosos agravados por condições bucais como a cárie, doença periodontal avançada e restos radiculares residuais. Além disso, certos medicamentos, como fenitoína, nifedipino e ciclosporina podem causar problemas bucais, como a hiperplasia gengival secundária – crescimento gengival anormal derivado de uso medicamentoso sistêmico (DE SOUSA et al., 2021).

Alterações no meio bucal tendem ao acúmulo de biofilme dental e saburra lingual colonizados por microrganismos mais virulentos que os encontrados em pacientes saudáveis, oferecendo mais riscos a pacientes imunocomprometidos, devido a quantidade e a complexidade do biofilme bucal que pode ser acumulado durante o tempo de internação (FERREIRA, LONDE & MIRANDA, 2017).

Na UTI, os pacientes têm um aumento de cinco a dez vezes de risco de contrair infecção, pois estão com o estado clínico comprometido. As infecções mais associadas a este tipo de paciente são a endocardite infecciosa (EI) e a pneumonia associada à ventilação mecânica (PAVM) (ZHANG et al., 2020).

A EI corresponde a uma inflamação do endocárdio, podendo ser infecciosa quando agentes causadores são fungos, vírus ou bactérias e estudos indicam que está diretamente relacionada com a ocorrência da periodontite agressiva localizada, possuindo fatores de virulência que a tornam um agente periodontopatogênico, associado após tratamento dentário invasivo ou imunidade deficiente. chegando ao coração e colonizando tecidos e válvulas danificadas ou anormais próximos a defeitos anatômicos. Ela é diagnosticada em pacientes imunodeficientes, com alterações degenerativas das válvulas cardíacas esquerdas, pacientes em hemodiálise, diabéticos ou usuários de drogas. Cerca de 30% da amostragem dos pacientes do grupo da UTI cardíaca possuem periodontite agressiva localizada (DA SILVA et al., 2019).

A PAVM é uma patologia que se desenvolve em indivíduos submetidos à ventilação mecânica por pelo menos durante 48 horas (ZHANG et al., 2020). As bactérias que causam a doença colonizam as superfícies orotraqueais por onde passa o ar para os pulmões, esta colônia bacteriana tem origem tanto pelo acúmulo de biofilme quanto pela aspiração de patógenos advindos de estruturas infectadas de áreas próximas à região orofaríngea. Além disso, pacientes intubados apresentam incidência de PAVM acima de 78% e taxa de mortalidade de 24% a 76%. Estudos apontaram que as bactérias que colonizam mais comumente o trato respiratório inferior são: Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenza e Mycoplasma pneumonia (BAPTISTA et al., 2018).

O meio de prevenção para a PAVM se dá pelo cuidado da equipe de saúde bucal da UTI, a escovação dentária deverá ser feita sempre que necessário, além da realização da limpeza da língua e aplicação de solução de digluconato de clorexidina 0,12% por toda mucosa oral, esta solução é a mais utilizada, sendo eficaz para o controle de placa bacteriana e tendo efeito bacteriostático por até 12 horas após sua aplicação, sendo absorvida pelas paredes dos tecidos orais (DUARTE et al., 2019). Soluções de bochecho/colutório, géis, raspador, escova dentária, de forma isolada ou combinada com a aspiração de secreções podem reduzir o risco de PAV nestes pacientes (ZHANG et al., 2020). O cirurgião dentista deve orientar a equipe sobre as condutas para o manejo do paciente, devendo este supervisionar a ação da equipe (DUARTE et al., 2019).

2.3 PRINCIPAIS DESAFIOS ENCONTRADOS PELO CIRURGIÃO DENTISTA NA PRÁTICA ODONTOLÓGICA EM UTI: 

A multidisciplinariedade em UTI é composta por diversos profissionais, porém, não podemos considerar que o paciente recebe um cuidado integral se não houverem profissionais de saúde bucal inseridos nesta equipe. Assim, muitos pacientes são admitidos com uma higiene insuficiente pela falta de comunicação da equipe com o cirurgião dentista, visto que uma das funções deste é supervisionar e orientar a equipe, em especial técnicos de enfermagem que fazem a assepsia oral dos acamados (AMARAL et al., 2013).

É essencial que todos os profissionais se integrem e reconheçam as atribuições do dentista na equipe, porém, esse reconhecimento ainda é limitado, isto fica claro, quando menos da metade dos profissionais que trabalham na UTI reconhecem a efetividade da presença do dentista neste local, segundo AMARAL (2013). 

Ademais, a falta de integração da equipe prejudica não só as relações interpessoais entre os profissionais, mas a qualidade do tratamento prestado ao paciente que muitas vezes não é higienizado de forma adequada. É importante que cada profissional conheça o seu papel, enquanto o dentista é encarregado de diagnosticar e mediar doenças e complicações na cavidade oral, a equipe de enfermagem é responsável por fazer a limpeza, ambos devem agir em sintonia e cooperação para um resultado eficaz. (DE SOUSA et al., 2021).

A prioridade da manutenção da saúde bucal em UTI é outro ponto chave para entender a valorização do dentista, muitas vezes, doenças orais são vistas como menos prioritárias em um plano de tratamento traçado pela equipe, porém, é essencial que os pacientes sejam avaliados e recebam higienização, principalmente nas primeiras 72 horas de internação em ambiente intensivo, neste intervalo, é quando os principais patógenos respiratórios se instalam na cavidade oral dos pacientes, principalmente os entubados sob ventilação mecânica deixando-os mais vulneráveis a infecções oportunistas (FERREIRA,  LONDE & MIRANDA, 2017).

Ante o exposto, fica clara a essencial efetivação do dentista na UTI, atuando tanto no diagnóstico e prevenção de doenças, quanto no treinamento e fiscalização da equipe quanto aos procedimentos relativos a cavidade oral, como o profissional que mais conhece e estuda o sistema estomatognático, o dentista se mostra como um elo primordial na equipe (FERREIRA, LONDE & MIRANDA, 2017).

3. METODOLOGIA 

O seguinte trabalho realizou um estudo do tipo revisão de literatura, utilizando as bases de dados: PubMed, LILACS e sciELO. Para a pesquisa ser realizada empregou-se as palavras-chaves: Dentistry; Inpatients; Intensive Care Units e Oral Health, foram encontrados inicialmente 473 artigos e ao excluir os artigos duplicados e inacessíveis, 236 foram selecionados para a leitura de título e resumo, destes, 62 foram lidos de forma integral e ao final 13 foram incluídos para compor a pesquisa. Optou-se em selecionar artigos nos idiomas português, espanhol e inglês que abordassem a atuação do cirurgião dentista em unidades de terapia intensiva; foram analisados artigos publicados ou aprovados para publicação em periódicos científicos nos últimos 10 anos, de 2013 a 2023. Como critério de exclusão, foram descartados da pesquisa artigos que não tratem diretamente da atuação do dentista em UTIs.

Figura 1: Elaboração dos autores. 2024. Fluxograma para seleção dos estudos

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A equipe multidisciplinar presente na UTI, como apontado por SILVA & FORTE (2021), está totalmente dedicada à avaliação, tratamento de patologias e busca por diagnósticos precisos abrangendo profissionais de diversas áreas, como médicos, fisioterapeutas e enfermeiros. Contudo, a implementação efetiva de cirurgiões-dentistas nessa equipe é essencial para garantir a integralidade dos cuidados de saúde prestados aos pacientes internados e fortalecer o conceito de assistência multiprofissional (AMARAL et al., 2013).

À vista disto, a presença do profissional de Odontologia na UTI é vital, tendo como função primordial a avaliação de toda a região maxilo facial dos pacientes em seus leitos, afim de realizar o tratamento indicado e adequado de acordo com a condição de cada indivíduo (FERREIRA, LONDE & MIRANDA, 2017)

Porém, para AMARAL et al. (2013) poucos profissionais reconhecem quais são as funções do dentista na equipe, na pesquisa realizada pelo autor, 100% dos profissionais de outras áreas reconhecem a importância da saúde oral para um bom prognóstico no suporte a pacientes nas UTIs, todavia, 57% discordam que a presença do dentista seja realmente necessária nesse ambiente, ratificando a desvalorização profissional da classe odontológica nesse espaço.

Ademais, os trabalhos de FERREIRA, LONDE & MIRANDA (2017) e DUARTE et al. (2019) demonstram resultados parecidos, afirmando que os procedimentos odontológicos muitas vezes são deixados em segundo plano diante de problemas médicos, desmerecendo a atuação odontológica.  Tal prática, invalida a autonomia laboral do dentista e aumenta o risco para os enfermos, haja vista que a manutenção de um controle rigoroso da higiene bucal dos pacientes em   UTI busca conter o desenvolvimento e a maturação de biofilmes patogênicos em diferentes locais da cavidade bucal, incluindo dentes, mucosa oral e língua. A higiene deficiente decorre de diversos fatores, como a redução na ingestão de alimentos fibrosos, diminuição da movimentação da língua e das bochechas, redução do fluxo salivar induzida por medicamentos, sangramentos mucosos e ressecamento labial (AMARAL et al., 2013).

Os artigos também entram em consonância a respeito do papel da equipe de enfermagem na higienização intraoral, pois apesar de ser uma função que pode ser realizada tanto pelo enfermeiro como pelo dentista, a maioria dos enfermeiros não se sentem capacitados para realizar uma higiene satisfatória nos pacientes internados (DUARTE et al., 2019; FERREIRA, LONDE & MIRANDA, 2017). 

SILVA & FORTE (2021) entendem que nesses casos o odontólogo atuará no setor preventivo, instruindo não só os pacientes no tocante a uma higiene adequada, mas também os demais profissionais que compõem a equipe e acompanhantes/cuidadores que compõem a equipe multidisciplinar de cuidados, alertando sobre a importância de uma boa higiene oral, cuidados com o paciente internado, lesões orais e objetos que acumulam placa e que devem ser removidos como aparelhos ortodônticos, próteses sob implantes e próteses totais e/ou removíveis. 

Fica evidente, portanto, que as atribuições do cirurgião dentista vão muito além da higienização da cavidade oral e prescrição de colutório, o paciente é visto como um todo e o zelo à cavidade bucal se dá como forma de proteção contra microrganismos que possam comprometer a saúde do paciente (FERREIRA, LONDE & MIRANDA, 2017). 

A tabela abaixo, esclarece as principais conclusões dos autores no que concerne aos problemas que os dentistas hospitalares enfrentam para lograr uma saúde adequada em unidades de terapia intensiva:

NTÍTULOAUTOR E ANOCONCLUSÕES
1Importância do Cirurgião-Dentista em Unidade de Terapia Intensiva: Avaliação MultidisciplinarAMARAL et al., 2013Conhecer o papel da odontologia amplia a atuação desse profissional e efetiva a sua atuação, porém, a maioria das outras classes profissionais reconhecem a saúde oral e a sua importância para um bom prognóstico, mas não valorizam o profissional de odontologia nem reconhecem sua permanência na UTI.
2Colonization of oropharynx and lower respiratory tract in critical patients: risk of ventilator-associated pneumoniaBAPTISTA et al., 2018Bactérias presentes na cavidade oral podem migrar para as vias respiratórias inferiores, principalmente em pacientes vinculados a tubos respiratórios, isso aumenta a chance de complicações.
3Resolução CFO-262 de 25 de Janeiro de 2024: Reconhece a Odontologia Hospitalar como Especialidade OdontológicaCFO, 2024Esta resolução do Conselho de Odontologia formaliza a odontologia hospitalar como especialidade odontológica.
4Endocardite infecciosa por aggregatibacter actinomycetemcomitans em pacientes predispostos.DA SILVA et al., 2019Ainda é um desafio para a odontologia estar presente em todos os centros de terapia intensiva, a falta de dentistas traz riscos a saúde dos pacientes devido a falta de orientação, aumentando o risco de desenvolver infecções.
5Atuação do cirurgião-dentista no ambiente hospitalar frente ao controle das complicações sistêmicas.DE SOUSA et al., 2021Muitos profissionais ainda não entendem a importância do cirurgião dentista na UTI, ele evita que pacientes imunossuprimidos desenvolvam uma série de complicações sistêmicas, eliminando focos infecciosos de origem oral em conjunto com a equipe multidisciplinar.
6A Importância do Técnico em Saúde Bucal na Odontologia Hospitalar: Relato de ExperiênciaDUARTE et al., 2019A presença do dentista na equipe ainda é muito restrita e muitas vezes a saúde oral é deixada em segundo plano perante outros fatores, além disto o autor relata o despreparo e qualificação específica da equipe de enfermagem quanto a realização de uma higiene oral adequada.
7A Relevância do Cirurgião-Dentista na UTI: Educação, Prevenção e Mínima IntervençãoFERREIRA, LONDE & MIRANDA, 2017A prática de saúde bucal adequada ainda é escassa as UTIs, principalmente em locais que não tem dentista disponível, ficando a cargo da equipe de enfermagem realizar a higiene, muitas vezes de forma inadequada. Isto deriva da falta de valorização da atuação do dentista.
8Odontologia hospitalar no contexto da atenção à pessoa com câncer: revisão da literaturaGALVÃO et al., 2023O dentista deve fazer parte da equipe multidisciplinar para assegurar um cuidado integral à saúde com ações preventivas e terapêuticas.
9A Saúde Bucal em Pacientes de UTIPINHEIRO & ALMEIDA, 2014Ainda existem poucos estudos sobre a presença do dentista em UTI e em nível nacional, os estudos carecem de protocolos assertivos acerca da presença desse profissional neste local.
10Odontologia Hospitalar no BrasilRAMALHO, 2020No Brasil, a assistência odontológica em redes de atenção à saúde e a nível hospitalar são considerados desconhecidas por outros profissionais de saúde da equipe devido à não interação multiprofissional sobre o impacto das enfermidades orais diante de doenças sistêmicas  não controladas pelo tratamento odontológico
11A Odontologia Hospitalar: RevisãoSALDANHA et al., 2015A falta de um cirurgião dentista em UTI aumenta os custos, tempo de internação e riscos de desenvolver complicações provenientes da região oral em pacientes internados.
12A Odontologia em Programas de Residência Multiprofissional Hospitalares no BrasilSILVA & FORTE, 2021As mínimas vagas ofertadas em programas de residência multiprofissional em hospitais, geram escassez de cirurgiões dentistas nas equipes multiprofissionais, diminuindo suas competências, habilidades e atitudes.
13Oral hygiene care for critically ill patients to prevent ventilator-associated pneumonia.ZHANG et al., 2020A aplicação de métodos de higiene de forma isolada ou combinada tem se mostrado bastante efetivas no combate a infecções de origem oral, principalmente a pneumonia associada à ventilação mecânica (PAVM).

Quadro 1: Principais conclusões sobre os desafios enfrentados pelo cirurgião dentista na UTI.

5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

Destarte, a atuação do dentista na UTI não se limita apenas ao manejo de condições orais, mas inclui a prevenção de manifestações sistêmicas e a manutenção do conforto do paciente em uma abordagem multiprofissional para melhorar os resultados clínicos. Os desafios apresentados exigem adaptações técnicas e a superação de obstáculos comunicacionais entre as equipes de cuidado, pois, a intervenção odontológica, quando realizada precocemente pode diminuir o risco de infecções e o tempo de recuperação dos pacientes. Dessa forma, a atuação odontológica em unidades de terapia intensiva mantém uma saúde bucal estável e impacta positivamente a saúde geral dos pacientes internados. 

É necessário que os cursos de saúde abordem de maneira incisiva ao longo da graduação a importância da multidisciplinariedade em saúde, e que os setores de unidades de terapia intensiva implementem protocolos rígidos e claros acerca do papel do cirurgião dentista nesse espaço garantindo que o seu trabalho seja reconhecido e assegurado.

REFERÊNCIAS

AMARAL, Cristhiane Olívia Ferreira do et al. Importância do cirurgião-dentista em Unidade de Terapia Intensiva: avaliação multidisciplinar. Revista da Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas, v. 67, n. 2, p. 107-111, 2013.

BAPTISTA, Ivany Machado de Carvalho et al. Colonization of oropharynx and lower respiratory tract in critical patients: risk of ventilator-associated pneumonia. Archives of Oral Biology, v. 85, p. 64-69, 2018.

CONSELHO FEDERAL DE ODONTOLOGIA. Resolução CFO-262 de 25 de janeiro de 2024: Reconhece a Odontologia Hospitalar como Especialidade Odontológica. Brasília, 2024.

DA SILVA, Junior et al. Endocardite infecciosa por aggregatibacter actinomycetemcomitans em pacientes predispostos. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo-Supl, v. 29, n. 3, p. 297-301, 2019.

DE SOUSA, Elcione Silva et al. Atuação do cirurgião-dentista no ambiente hospitalar frente ao controle das complicações sistêmicas. Facit Business and Technology Journal, v. 1, n. 31, 2021.

DUARTE, Fernanda et al. A importância do técnico em saúde bucal na odontologia hospitalar: relato de experiência. Revista Eletrônica Acervo Saúde, n. 17, p. e57-e57, 2019.

FERREIRA, Júlia Alvares; LONDE, Larissa Pereira; MIRANDA, Alexandre Franco Miranda. A relevância do cirurgião-dentista na UTI: educação, prevenção e mínima intervenção. Revista Ciências e Odontologia, v. 1, n. 1, p. 18-23, 2017.

GALVÃO, Joyce Gabrielly Barbosa et al. Odontologia hospitalar no contexto da atenção à pessoa com câncer: revisão da literatura. Anais do COPAM, v. 2, p. 12-12, 2023

PINHEIRO, Tarsila Spinola; ALMEIDA, Tatiana Frederico. A saúde bucal em pacientes de UTI. Journal of Dentistry & Public Health (inactive/archive only), v. 5, n. 2, 2014.

RAMALHO, Anthonelle Gonçalves Paixão. Odontologia hospitalar no Brasil. Orientador: Claudia Cristiane Baiseredo de Carvalho. 10f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharel em Odontologia) – Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos, 2020.

SALDANHA, Karla Ferreira Dias et al. A odontologia hospitalar: revisão. Archives of Health Investigation, v. 4, n. 1, 2015.

SILVA, Michelle Almeida; FORTE, Franklin Delano Soares. A Odontologia em Programas de Residência Multiprofissional Hospitalares no Brasil. Revista da ABENO, v. 21, n. 1, p. 1191-1191, 2021.

ZHANG, Qi et al. Oral hygiene care for critically ill patients to prevent ventilator-associated pneumonia. Cochrane Database of Systematic Reviews, n. 12, 2020.


 1Discente do Curso Superior de Bacharelado em Odontologia do Centro Universitário Metropolitano da Amazônia Campus Doca. E-mail: gabrielmlima.gl@gmail.com
2Discente do Curso Superior de Bacharelado em Odontologia do Centro Universitário Metropolitano da Amazônia Campus Doca. E-mail: helberhbr@gmail.com
3Discente do Curso Superior de Bacharelado em Odontologia do Centro Universitário Metropolitano da Amazônia Campus Doca. E-mail: rebecaodonto9@gmail.com
4Docente do Curso Superior de Bacharelado em odontologia do Centro Universitário Metropolitano da Amazônia Campus Doca; Mestre em Estomatologia (UNICAMP-SP). E-mail: danieluchoa20@gmail.com