CHALLENGES AND NURSING PRACTICES IN THE CARE OF HIV PATIENTS: AN EXPERIENCE REPORT FROM A UNIVERSITY HOSPITAL IN SERGIPE AFFILIATED WITH THE EBSERH NETWORK
DESAFÍOS Y PRÁCTICAS DE ENFERMERÍA EN LA ATENCIÓN A PACIENTES CON VIH: RELATO DE EXPERIENCIA EN UN HOSPITAL UNIVERSITARIO DE SERGIPE VINCULADO A LA RED EBSERH
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102410071812
Paula Akemi Fujishima1
Gilton José Ferreira da Silva2
RESUMO
Objetivo: Relatar a experiência da equipe de enfermagem no atendimento a um paciente com HIV no Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe, vinculado à EBSERH. Relato de experiência: Durante a internação hospitalar em julho de 2024, foi possível compreender profundamente o caso de um paciente, destacando-se tanto pela gravidade da condição clínica quanto pelo contexto social associado à doença. A equipe acompanhou o desenvolvimento do quadro e os desafios enfrentados, possibilitando uma visão abrangente do percurso da enfermidade. Considerações finais: O relato enriqueceu o entendimento sobre as condições clínicas da paciente e seu prognóstico, evidenciando a importância de uma abordagem integral por parte da enfermagem. Além de suporte técnico, é imprescindível que o enfermeiro ofereça também apoio psicológico, reconhecendo as complexidades emocionais e sociais envolvidas no cuidado de pessoas vivendo com HIV.
Palavras-chave: HIV-AIDS, Assistência de enfermagem, Cuidados.
ABSTRACT
Objective: To report the experience of the nursing team in caring for an HIV patient at the University Hospital of the Federal University of Sergipe, affiliated with EBSERH. Experience Report: During the hospital stay in July 2024, it was possible to deeply understand the case of a patient, standing out both for the severity of the clinical condition and the social context associated with the disease. The team closely monitored the progression of the condition and the challenges faced, providing a comprehensive view of the disease’s course. Final Considerations: The report enriched the understanding of the patient’s clinical conditions and prognosis, highlighting the importance of a holistic approach by the nursing staff. In addition to technical support, it is essential for the nurse to also provide psychological support, recognizing the emotional and social complexities involved in the care of people living with HIV.
Key words: HIV-AIDS, Nursing care, Care.
RESUMEN
Objetivo: Relatar la experiencia del equipo de enfermería en la atención a un paciente con VIH en el Hospital Universitario de la Universidad Federal de Sergipe, afiliado a EBSERH. Relato de experiencia: Durante la estancia hospitalaria en julio de 2024, fue posible comprender profundamente el caso de una paciente, destacándose tanto por la gravedad de la condición clínica como por el contexto social asociado a la enfermedad. El equipo monitoreó de cerca la progresión del cuadro y los desafíos enfrentados, proporcionando una visión integral del curso de la enfermedad. Consideraciones finales: El relato enriqueció la comprensión sobre las condiciones clínicas de la paciente y su pronóstico, destacando la importancia de un enfoque integral por parte del personal de enfermería. Además del apoyo técnico, es esencial que el enfermero también brinde apoyo psicológico, reconociendo las complejidades emocionales y sociales involucradas en el cuidado de personas que viven con VIH.
Palabras clave: VIH-SIDA, Atención de enfermería, Cuidados.
INTRODUÇÃO
O causador da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Acquired Immune Deficiency Syndrome – AIDS) foi reconhecido nos anos 1980, nos Estados Unidos, como uma enfermidade infecciosa de alta mortalidade que afetava principalmente homens que mantinham relações sexuais com outros homens (HSH), trabalhadores do sexo e usuários de drogas injetáveis. Desde seu aparecimento, estimativas indicam que cerca de 74,9 milhões de indivíduos foram contaminados pelo vírus da AIDS e 32 milhões faleceram devido a complicações da doença em todo o mundo (UNAIDS, 2019).
A pessoa infectada pelo vírus da imunodeficiência humana (Human Immunodeficiency Virus – HIV), mesmo sem apresentar a doença, pode transmiti-lo a outros indivíduos de várias maneiras. Como o vírus está presente no sêmen, nas secreções vaginais, no leite materno e no sangue, qualquer contato com essas substâncias pode causar contágio. As principais formas de transmissão identificadas até agora incluem: transfusão de sangue, relações sexuais sem preservativo, compartilhamento de seringas ou objetos cortantes com resíduos de sangue, bem como a transmissão de mãe para filho, seja durante a gestação ou a amamentação (BRASIL, 2013).
A AIDS se destaca entre as enfermidades infecciosas pela enorme magnitude e abrangência dos danos causados às populações. Desde seu surgimento, cada uma de suas características e impactos tem sido debatida e pesquisada para proporcionar uma melhor qualidade de vida aos portadores do vírus HIV, assim como para reduzir a mortalidade entre os afetados pela doença (BRASIL, 2008).
Uma das principais particularidades do trabalho na enfermagem é o cuidado, que, nesse contexto, é entendido como o ato de se colocar na posição do outro, dedicando esforços para promover, proteger e preservar a dignidade humana, proporcionando conforto e apoio nos momentos de dor, sofrimento e enfermidade. Além disso, o cuidado também incentiva o desenvolvimento do autoconhecimento e a busca pela autocura dentro da integralidade do ser (SOUZA ML, et al., 2005).
O Brasil se destaca globalmente como uma nação preocupada com a epidemia de AIDS e, há bastante tempo, vem desenvolvendo vários planos de políticas públicas para enfrentar a doença. Entre as inúmeras conquistas estão a distribuição gratuita do coquetel anti-AIDS, melhorias no acesso ao diagnóstico, tratamento e prevenção (VITÓRIA MAA, 2005).
RELATO DE EXPERIÊNCIA
A vivência relatada ocorreu no Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe (HU-UFS), que faz parte da Rede Hospitalar da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH) desde 2013. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC). É totalmente integrado ao Sistema Único de Saúde (SUS). Funcionando como centro hospitalar dedicado ao ensino, à pesquisa, extensão e assistência à saúde dos cidadãos (UFS, 2024). No setor de Clínica Médica 2, composto por 12 leitos dedicados principalmente ao atendimento de pacientes com HIV/AIDS. Atualmente, adota-se o conceito de vulnerabilidade, reconhecendo que a AIDS é influenciada tanto pelo coletivo quanto pelo contexto social, o que pode afetar a visão da equipe de enfermagem em relação ao paciente hospitalizado.
Embora muitos profissionais forneçam cuidados humanizados, ainda existem aqueles que priorizam a terapia medicamentosa sobre as relações psicoafetivas. O ambiente de internação desses pacientes é frequentemente permeado por tensão, devido à incerteza sobre a existência de preconceito entre os profissionais (GOMES et al., 2012).
As experiências, valores e cultura de cada profissional influenciam as expectativas e a forma como enfrentam a realidade do setor. A imagem carregada de simbolismo, alimentada por comentários de profissionais mais antigos, pode interferir na prática do cuidado, que é intrinsecamente ligada à relação entre o profissional e o paciente.
O ambiente da Clínica Médica 2 abriga pacientes fragilizados física e emocionalmente, muitos dos quais foram abandonados por suas famílias, vivem nas ruas, ou são usuários de álcool e drogas. Embora seja sabido que uma pessoa vivendo com HIV pode ter uma vida saudável, a imagem de pacientes debilitados e emagrecidos continua impactante, especialmente quando comparada às expressões faciais de angústia, medo, desamparo, mas também de esperança.
Os cuidados de higiene e conforto, além da administração de medicamentos, são as práticas mais comuns. No entanto, questões como o tamanho reduzido dos quartos e a falta de espaço adequado para a movimentação durante procedimentos como banhos, representam desafios significativos para a equipe. O medo da contaminação ainda persiste entre alguns acadêmicos multiprofissionais que estagiam no setor, levando-os a adotar precauções excessivas.
Muitos profissionais relatam sofrer violência devido à revolta dos pacientes com a doença, e temem ser expostos a materiais contaminados. Esses receios reforçam a necessidade de uma adequada disposição dos pacientes e de cuidados ideais, incluindo higiene e conforto, especialmente considerando a imunossupressão dos mesmos. Apesar do conhecimento científico disponível, o medo da contaminação ainda prevalece, limitando o tempo dedicado aos aspectos psicoafetivos do cuidado.
Em julho de 2024, um paciente em particular destacou-se pela complexidade de sua situação. Um homem que, após semanas de silêncio e mau humor, revelou ter sido abandonado pela família e por sua esposa, após transmitir-lhe o HIV. A depressão e o abandono frequente do tratamento levaram ao desenvolvimento de sarcoma de Kaposi afetando vários órgãos vitais (KARABOLSAK VLC, et al., 2022). Apesar de seu quadro grave, ele não recebia visitas familiares, criando um vínculo forte com a equipe de enfermagem.
Quando o paciente evoluiu para insuficiência respiratória grave, foi necessária sua transferência para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), aonde veio ao óbito quinze dias depois. No dia da intubação, ele expressou seu desejo de pedir perdão à família, destacando sua vulnerabilidade e necessidade de apoio emocional.
Esse relato ilustra a importância do papel da equipe de enfermagem, que mantém o maior contato com o paciente. Diante da complexidade emocional e social do caso, é fundamental que os profissionais da saúde, especialmente a equipe de enfermagem, estabeleçam uma relação terapêutica e humanizada com o paciente. Infelizmente, a falta de comunicação adequada entre a equipe de saúde, o paciente e sua família contribuiu para a propagação do vírus, uma situação que poderia ter sido evitada.
O direito do paciente à integralidade de assistência, conforme previsto na Lei Orgânica da Saúde (Lei nº 8.080/90), deve ser garantido, assegurando não apenas o acesso aos medicamentos, mas também a um cuidado que inclua suporte emocional e social como está previsto no artigo 7° da Lei Orgânica da Saúde 8.080/90 (BRASIL, 1990).
DISCUSSÃO
O papel do enfermeiro é crucial no suporte ao paciente durante o tratamento com antirretrovirais, sendo a equipe multiprofissional do Sistema Único de Saúde (SUS) essencial no aconselhamento e acompanhamento contínuo da terapia antirretroviral (TARV) (RUEDA S, et al., 2006). Desde a década de 1980, os medicamentos antirretrovirais têm sido distribuídos gratuitamente no Brasil, desempenhando um papel vital ao inibir a replicação viral no organismo. O uso consistente de antirretrovirais é fundamental para prolongar a vida e melhorar a qualidade de vida das pessoas vivendo com HIV, além de reduzir a carga viral, tornando o paciente indetectável e fortalecendo seu sistema imunológico, prevenindo, assim, a progressão para AIDS (OPAS, 2022).
O Brasil possui diversas leis que asseguram os direitos das pessoas que convivem com o HIV/AIDS. A Lei nº 12.984, de 2 de junho de 2014, criminaliza a discriminação contra essas pessoas. Adicionalmente, a Lei nº 7.670/1988 garante auxílio-doença e aposentadoria por invalidez, considerando a instabilidade provocada pelo vírus e os efeitos colaterais do tratamento diário (BRASIL, Planalto 1988). O direito ao sigilo médico, tanto no ambiente de trabalho quanto na vida pessoal, é igualmente importante, sendo obrigatório para todos os profissionais de saúde manter a confidencialidade. A Lei nº 14.289, de 3 de janeiro de 2022, reforça a obrigatoriedade de preservar o sigilo sobre a condição de pessoas que vivem com HIV, hepatites crônicas, hanseníase e tuberculose, estabelecendo punições para o descumprimento (BRASIL, Planalto 2022).
É imperativo que os direitos humanos dos portadores de HIV/AIDS sejam respeitados, garantindo sua inclusão social sem preconceito ou discriminação. Qualquer violação desses direitos deve ser penalizada. A sociedade global deve acolher essas pessoas, abordando a temática com maior atenção e empenho para reduzir o número de novos casos no Brasil e no mundo (DA SILVA ES, et al., 2023).
A enfermagem, como parte integral da equipe de saúde, tem como um de seus principais objetivos cuidar, o que inclui assistência, acolhimento e a reintegração do indivíduo ao seu ambiente. As práticas e a capacitação dos profissionais de enfermagem são fundamentais para desenvolver a confiança do paciente em relação ao tratamento e para oferecer um atendimento integral e humanizado. Isso vai além de identificar as necessidades físicas dos pacientes, exigindo também a percepção dos aspectos psicossociais e das vulnerabilidades individuais, para assim desenvolver estratégias que assegurem uma assistência de qualidade (SAVIETO RM e LEÃO ER, 2016).
A qualidade do cuidado prestado, uma comunicação eficaz e o estabelecimento de uma boa relação entre os profissionais de saúde e o paciente são cruciais para a adesão ao tratamento com antirretrovirais, essencial para a recuperação. Essas comunicações, quando bem estabelecida entre profissionais, pacientes e suas famílias cria um ambiente de confiança mútua, onde medos e dúvidas podem ser resolvidos (DOMINGUES JP, et al., 2018).
Para proporcionar esse tipo de assistência, é necessário que os profissionais possuam não apenas conhecimento técnico, mas também habilidades práticas para executar seu trabalho diário. A educação em saúde deve ser eficaz, com orientações competentes e claras para garantir que o paciente compreenda totalmente os cuidados necessários e participe ativamente do plano de tratamento (BRITO JLOPD, et al., 2017).
Ao prestar cuidados a pacientes com HIV, a equipe de enfermagem enfrenta desafios adicionais, como o medo de contrair o vírus e a responsabilidade de preveni-lo. As práticas de cuidado e prevenção são fundamentais tanto para os enfermeiros quanto para os pacientes com HIV, sendo a prevenção uma das principais preocupações no contexto do cuidado (SANTOS SMP, et al., 2019).
No acompanhamento de pacientes diagnosticados com HIV, diversos desafios são evidentes, como a não aceitação do diagnóstico, a falta de adesão ao tratamento, e a escassez de informações e recursos humanos e materiais. Reconhecer os fatores de risco e as consequências do HIV no organismo, além de entender as melhores práticas de tratamento e prevenção, é crucial para implementar ações e intervenções eficazes (OLIVEIRA MLS, et al., 2023).
Nos últimos anos, o Brasil tem apresentado uma redução na mortalidade entre pessoas com HIV/AIDS, em grande parte devido ao enfoque da saúde pública no cuidado desses pacientes (GUIMARAES MDC, et al., 2017). A distribuição gratuita da terapia antirretroviral pelo SUS tem sido um fator significativo nessa redução, beneficiando indivíduos de todas as classes sociais.
Este estudo de caso permitiu relacionar a prática em enfermagem com os conhecimentos teóricos sobre a doença, proporcionando uma compreensão mais aprofundada das questões que envolvem o HIV/AIDS e do papel da enfermagem na estabilidade do paciente. O estudo promoveu um amadurecimento significativo, tanto pessoal quanto profissional, ao permitir um contato próximo com o paciente e sua vida pessoal. A história é comovente, especialmente ao considerar que a falta de organização e comunicação da equipe de saúde pode ter acelerado a progressão da patologia.
REFERÊNCIAS
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- BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. HIV/AIDS, Hepatites e outras DST. Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para adultos vivendo com HIV/AIDS. Brasília: Ministério da Saúde, 2013.
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1 Hospital Universitário de Sergipe da Universidade Federal de Sergipe, vinculado a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), Aracaju – SE. *E-mail: paula.fujishima@ebserh.gov.br.
2 Universidade Federal de Sergipe (UFS), São Cristóvão – SE.