DESAFIOS E ESTRATÉGIAS NO PÓS-OPERATÓRIO DE CESARIANA DE REINCIDÊNCIA: SAÚDE COLETIVA

CHALLENGES AND STRATEGIES IN THE POSTOPERATIVE PERIOD OF REPEAT CESAREAN SECTION: PUBLIC HEALTH

DESAFÍOS Y ESTRATEGIAS EN EL PERÍODO POSTOPERATORIO DE CESÁREA DE REINCIDENCIA: SALUD COLECTIVA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202408212046


Hafra Kelly Pessoas Martins1,
Márcia Letícia Carvalho Silva2,
Lilian Façanha da Silva Amorim3,
Lays Mayrah da Silva Alelaf 4


RESUMO

Objetivo: Relatar o caso de uma paciente na segunda ferida operatória de cessaria com complicações, cuidados realizados, acompanhamento e desfecho do caso. Método: As informações foram obtidas por meio do acompanhamento da paciente e por informações coletadas, registro fotográfico e revisão da literatura. Considerações finais: Se observou que a cesariana, agora comum, apresenta maiores riscos que o parto vaginal. O tipo de sutura não influencia a cicatrização. Histórico de cesáreas anteriores aumenta o risco. Cuidados pós-operatórios precisam de diretrizes claras para melhorar resultados.

  Descritores: Período Pós-Operatório; Cicatrização; Cesárea.

1. INTRODUÇÃO

A gestação é um processo natural e dinâmico em que o corpo feminino passa por diversas mudanças fisiológicas para sustentar o desenvolvimento do feto e prepará-lo para o nascimento. Essa transformação, na maioria das vezes, ocorre sem complicações, permitindo à mulher escolher o tipo e o método de parto desejado. No entanto, apesar dos cuidados, há situações em que a gestante enfrenta problemas de saúde, tornando a gravidez susceptível a complicações, especialmente nos casos de gestação de alto risco (GAR) (Pimentel e Oliveira, 2021).

A cesariana é uma intervenção cirúrgica originalmente concebida para preservar a vida da mãe e/ou do bebê em situações de complicações durante a gestação ou o parto. Como em qualquer procedimento cirúrgico, a cesariana apresenta riscos, e no Brasil e em outros lugares, está ligada a taxas mais altas de morbidade e mortalidade materna e infantil em comparação com o parto vaginal (Morais et al., 2022).

Observa-se um aumento nas taxas de cesariana em relação ao total de partos em todo o mundo, especialmente em países de renda média e alta. O Brasil é classificado como o segundo país com a maior proporção de cesarianas, com mais da metade dos nascimentos ocorrendo por meio desse procedimento cirúrgico. (Pimentel; Oliveira-filho, 2016; Oliveira; Penna, 2018; SIMÕES et al., 2022).

Portanto, este estudo objetiva discutir um relato de caso onde a paciente passou pelo processo de cirurgia cesariana, descrevendo desde a data prevista para retirada dos pontos ao desfecho final.

2. RELATO DO CASO

Paciente segunda gestação, abortos zero e dois parto submetido à cirurgia cesariana pela segunda vez.  No dia 05 de Março de 2024, em domicilio foi realizado a visita para retirada de pontos. Segundo relato de quinze dias do processo cirúrgico. Ao ter acesso a paciente, verificou-se ferida operatória higienizada, com focos de queloide e deiscência de ferida, impossibilitando a retirada da sutura. O tipo de costura realizada foi à sutura contínua, paciente relata preocupação quanto à possibilidade de infecção, coceira internamente e pequeno sangramento vermelho vivo no canto direito da ferida operatória.

Figura 1– Ferida operatória com sutura.

Figura 2– Ferida operatória após retirada da sutura.

2.1 EXAME FÍSICO:

Inspeção: Se observou queloide na região do hipogástrio, deiscência na fossa ilíaca direita e boa cicatrização na fossa ilíaca esquerda em sutura continuam.

Palpação: Região pouco dolorosa ao toque, ao palpar saída de liquido, com um pouco de sangue escuro, ao redor da ferida presença dos sinais flogisticos, a saber, (dor, rubor, edema e calor).

2.2 CONDUTA:
  • Orientações
  • Encaminhada à unidade básica de saúde de sua referencia para avaliação do caso;
  • Cuidados quanto a Higienização, evitar esforço, repouso, dieta leve e hidratação.
  • E ficar em observação.
  • Conduta
  • Realizado higienização da ferida após exame físico.
3. DESFECHO DO CASO

Diante do caso relatado, após a visita a UBS a paciente foi encaminhada para o centro de parto normal (CPN), de referencia para atendimento de gestante. Onde foi atendida pelo medico que realizou a sua cessaria, fez a retirada de pontos e observou-se a abertura de 40% da ferida operatória, no qual foi realizado o curativo e a indicação de que continuasse a troca até a completa cicatrização. Para o curativo foi receitado, pomada de sulfato de neomicina. Após a realização dos cuidados no dia 26 de Março de 2024 a cicatrização estava fechada sem sinais de infecção e com reestabelecimento da integridade da pele.

Aos cuidados da enfermeira que acompanhou a paciente, realizando o curativo uma vez ao dia com a utilização de Polvidine tópico para limpeza ao redor da ferida operatória, soro fisiológico, espátula, neomicina, gaze e esparadrapo para fechamento do curativo, foram orientados a paciente a realizar o banho diário próximo ao horário da realização do curativo, retirar o anterior, lavar a região com água e secar com toalha limpa diferente da usada para secar o resto do corpo. Esse processo durou 20 dias de curativos ao desfecho com a recuperação completa da paciente.

4. DISCUSSÃO CLÍNICA:

Considerando a abordagem do tipo de sutura realizada nesta cessaria, o estudo realizado por Guidoni et al. 2007,que consistiu em comparar, macro e microscopicamente, cicatrizes uterinas pós-cesáreas, nas quais foram feitas suturas com pontos separados, contínuos e contínuos ancorados em coelhas, identificou que a técnica de histerorrafia na cesárea de coelhas (pontos simples, sutura contínua e contínua ancorada) não determinou diferenças estatísticas significativas em relação às parâmetros macroscópicos e microscópicos avaliados. Podendo revelar que o quesito tipo de sutura não foi o fator determinante para a dificuldade de cicatrização e o afastamento das bordas incisionadas.

Quanto ao passado gestacional a paciente passou por uma recidiva de cessaria a qual segundo Cunha et al., 2000 onde objetiva avaliar o antecedente de cessaria como fator de risco para cesariana identificou que se classifica como fator de risco.

Assim como Mascarello et al. 2018 identifica que  de 4244 mães acompanhadas, cerca da metade das mulheres (44,9%) foram submetidas à cesárea. O parto cesárea foi associado a um risco 56% maior de complicações precoces, 2,98 vezes maiores de infecção pós-parto, 79% mais risco de infecção urinária, 2,40 vezes maior de dor, 6,16 vezes maior de cefaleia e mais de 12 vezes maior de complicações anestésicas, quando comparado ao parto vaginal. A cesárea foi proteção contra a presença de hemorroidas.

Quanto a atuação de enfermagem frente aos curativos em estudo realizado por Marques et al, 2016 com o objetivo de  Conhecer o perfil do paciente com deiscência de FO e descrever as condutas com base no registro da equipe de saúde contido no prontuário. No qual identificou a utilização de soro fisiológico 0,9% sem associação, soro fisiológico 0,9% + AGE, soro fisiológico 0,9%+ clorexidina degermante, soro fisiológico 0,9% + álcool a 70%, soro fisiológico 0,9%+ alginato de cálcio + hidropolímero e álcool a 70%. E não haver uniformidade de condutas e cuidados.

5 CONCLUSÃO

Com base nas informações apresentadas, fica evidente que a cesariana é uma intervenção cirúrgica que, embora inicialmente destinada a situações de complicações, tornou-se excessivamente prevalente em muitos países, incluindo o Brasil. Este aumento na taxa de cesarianas está associado a maiores riscos de morbidade e mortalidade tanto para a mãe quanto para o bebê, em comparação com o parto vaginal. Além disso, o tipo de sutura utilizada durante a cesariana não parece ser um fator determinante significativo para a cicatrização e complicações associadas. A história obstétrica prévia, incluindo cesáreas anteriores, é identificada como um fator de risco para cesarianas subsequentes.

No entanto, apesar dos riscos associados à cesariana, as práticas de cuidados pós-operatórios, incluindo o manejo dos curativos, mostram uma falta de uniformidade, destacando a necessidade de diretrizes claras e padronizadas na atuação da equipe de saúde.

Portanto, é crucial que haja uma revisão cuidadosa das políticas de saúde relacionadas ao parto e à cesariana, buscando reduzir as taxas desnecessariamente altas de cesarianas e promover uma abordagem mais individualizada e segura para cada gestante, com o objetivo de melhorar os resultados maternos e neonatais.

REFERÊNCIAS

PIMENTEL, T. A.; OLIVEIRA-FILHO, E. C. Fatores que influenciam na escolha da via de parto cirúrgica: uma revisão bibliográfica. *Universitas: Ciências da Saúde*, Brasília, v. 14, n. 2, p. 187-199, jul./dez. 2016. DOI: 10.5102/ucs.v14i2.4186. Acesso em: 26 out. 2021.

OLIVEIRA, V. J.; PENNA, C. M. M. Cada parto é uma história: processo de escolha da via de parto. *Revista Brasileira de Enfermagem*, 2018; 71: 1304-1312.

MORAIS, M. K. L. et al. Parto cesáreo no Brasil: prevalência, indicações e riscos acarretados para o binômio mãe e filho. *Research, Society and Development*, v. 11, n. 10, e191111032466, 2022. ISSN 2525-3409. DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v11i10.32466.

OLIVEIRA, A. C. M. et al. Maternal factors and adverse perinatal outcomes in women with preeclampsia in Maceió, Alagoas. *Arq Bras Cardiol Internet*, 2016, v. 106, n. 2, p. 113-120. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4765009/>. Acesso em: 20 mar. 2018.

GUIDONI, R. G. R. et al. Avaliação anatomopatológica de cicatrizes uterinas de acordo com o tipo de sutura cirúrgica (modelo experimental). *Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia* [online], 2007, v. 29, n. 12, pp. 633-638. ISSN 1806-9339. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0100-72032007001200006>. Acesso em: 26 maio 2024.

CUNHA, A. A. et al. Cesariana de repetição. *Revista Ginecologia e Obstetricia*, 2000, v. 11, p. 167-173. Disponível em: <https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/lil-277351>. Acesso em: 26 maio 2024.

MASCARELLO, K. C. et al. Complicações puerperais precoces e tardias associadas à via de parto em uma coorte no Brasil. *Revista Brasileira de Epidemiologia* [online], 2018, v. 21, e180010. ISSN 1980-5497. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1980-549720180010. Acesso em: 20 ago. 2018.

CUNHA, A. A. et al. Vista do Estudo preliminar sobre registros de deiscência de ferida operatória em um hospital universitário. *Revista ginecol. obstet*, 11(3): 167-173, jul.-set. 2000. Disponível em: <https://www.epublicacoes.uerj.br/revistahupe/article/view/31605/23264>. Acesso em: 26 maio 2024.


1Enfermeira-UFPI
hafrakelly20@gmail.com
https://orcid.org/0000-0001-6342-3367

2Medica -Uespi
mletcs@hormail.com
https://orcid.org/0009-0001-6162-6387

3Medica pediatra- UFPI Residência medica UFPI- hospital infantil
limed2005@yahoo.com.br

4Fisioterapeuta -Uninovafapi