CHALLENGES OF EXCLUSIVE BREASTFEEDING: A LITERATURE REVIEW
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8429076
Brenda Maria dos Santos de Melo1
Maria Irene dos Santos Sousa Fontes2
Adão Ferreira dos Santos3
Débora Francisca Batista da Silva4
Emereciana Araújo Dias5
Rosângela de Oliveira Ferreira da Silva6
Resumo
O aleitamento materno exclusivo (AME) consiste na oferta do leite materno sem a necessidade de complementar com outros líquidos e deve perdurar dessa forma por um período mínimo de seis meses. É a principal fonte de nutrientes e fornece proteção à saúde da nutriz e do lactente, além de estabelecer uma relação de vínculo afetivo entre mãe e filho. O presente estudo teve como objetivo geral analisar na literatura as evidências acerca dos benefícios e desafios durante o aleitamento materno exclusivo. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, descritiva, exploratória com abordagem qualitativa, realizada nas bases de dados Scielo (Biblioteca Eletrônica Científica Online), Biblioteca Virtual de Saúde, BDENF e Lilacs (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde). A seleção dos artigos foi guiada pelas seguintes questões norteadoras: Quais os benefícios e desafios encontrados no processo do aleitamento materno? Como o enfermeiro pode auxiliar as mães a aderirem o aleitamento materno exclusivo? Os resultados foram divididos por categorias: Fatores que contribuem para o desmame precoce; Aleitamento materno exclusivo e seus benefícios; Condições maternas que dificultam o aleitamento; Papel da enfermagem no incentivo ao aleitamento materno exclusivo. Observou-se que mesmo diante dos benefícios do leite materno ainda é prevalente a ocorrência do desmame precoce. O enfermeiro da atenção primária de saúde (APS), deve prover ações educativas do aleitamento que englobe não só a mulher, mas, também, toda a comunidade externa.
Palavras-chave: Aleitamento materno. Recém-nascido. Fisiologia nutricional do lactente.
Abstract
Exclusive breastfeeding (EBF) is the supply of breast milk without the need to supplement it with other liquids and should therefore last for at least six months. It is the main source of nutrients and provides protection to mother and baby’s health. This study aimed to analyze in the literature the evidence about the benefits and challenges during exclusive breastfeeding. This is a bibliographic, descriptive and exploratory research with a qualitative approach, conducted in the Scielo (Online Electronic Scientific Library), Virtual Health Library, BDENF and Lilacs (Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences).The selection of articles was guided by the following guiding questions: What are the benefits and challenges encountered in the breastfeeding process? How can the nurse help mothers to adhere to exclusive breastfeeding? The results were divided by categories: Factors that contribute to early weaning; Exclusive breastfeeding and its benefits; Maternal conditions that hinder breastfeeding; Role of nursing in encouraging exclusive breastfeeding. With the implementation of the present study, it was observed that even before the benefits of breast milk, the occurrence of early weaning is still prevalent. The primary health care nurse (PHC), should provide educational actions of breastfeeding that encompasses not only the woman, but also the entire external community.
Keywords: Breastfeeding. Newborn. Infant nutritional physiology.
1. INTRODUÇÃO
Define-se Aleitamento Materno Exclusivo (AME) a oferta do leite materno como fonte de alimento a criança exclusivamente até que se complete os seis meses de idade, sem adição de líquidos, sólidos e demais alimentos. Após esse período a recomendação é a continuidade como fonte complementar estendendo-se aos dois anos ou mais (FERREIRA, 2018).
O aleitamento materno exclusivo durante a primeira infância possui como foco nutrir a criança de forma natural e completa, favorecendo ainda o contato pele a pele. Além disso, a mãe pode usufruir de cuidados referentes à proteção contra cânceres, doenças e auxílio no controle do peso corporal. O AME corrobora na proteção à saúde física, psicológica e no desenvolvimento do indivíduo desde o seu nascimento, sendo considerado como uma estratégia de nível nacional frente às evidências científicas que comprovam a eficácia do AME (LIMA, 2017).
Todavia, mesmo diante dos benefícios, há ainda os desafios a serem enfrentados, sendo o AME um problema de saúde global devido às causas externas que impedem a prática do aleitamento (LIMA et al., 2018). Um dos principais problemas elencados é a baixa escolaridade de adolescentes que se tornam mães cedo e acabam por ter uma baixa adesão ao pré-natal, perdendo assim informações básicas de técnicas de amamentação, orientação e falta de conhecimento quando a nutrição do bebê.
Outros fatores externos que se destacam e contribuem para o desmame precoce é a utilização de chupetas, fissuras nas mamas ocasionando dor ao amamentar, consumo de bebidas alcoólicas, uso de drogas, falta de conhecimento da pega e posição correta para amamentar, além da presença de doenças congênitas na criança que dificulta ou impede o aleitamento (ALVES et al., 2018).
Diante disso, o profissional enfermeiro possui um papel fundamental na assistência a gestantes e puérperas, principalmente durante as consultas de pré-natal, incentivando a assiduidade às consultas para receber informações necessárias sobre os benefícios do aleitamento materno exclusivo no período oportuno. É papel do enfermeiro orientar através ações e práticas de programas e projetos já existente, por exemplo, o Programa Nacional de Incentivo ao Aleitamento Materno (PNIAM) e Iniciativa do Hospital Amigo da Criança (HAC) (atualmente no Brasil há 301 hospitais com essa iniciativa) (LUSTOSA & LIMA, 2020).
Cerca de 45,7% das crianças menores de 6 meses no Brasil recebem o aleitamento exclusivo, percebe-se que é um número considerável. Todavia, frente aos benefícios existentes essa porcentagem poderia ser ainda melhor. As estratégias de incentivo visam influenciar também a doação do leite materno para os bancos de leite, com o intuito de auxiliar mães que não podem amamentar por algum motivo (BRASIL, 2021).
Estudos mostram que 22,9% das crianças abandonam o peito pelo uso da introdução de bicos e mamadeiras precocemente. Nessa perspectiva a criança pode confundir os bicos e promover prejuízo no seu desenvolvimento orofacial, aumentando também o risco de adquirir infecções gastrointestinais e prejudicar a sucção do leite do peito (CAVALCANTI et al., 2021).
Dessa forma, é possível compreender a importância do aleitamento materno exclusivo, visto que pesquisas apontam seus benefícios para o crescimento e desenvolvimento do bebê, contribuição para o seu sistema imunológico, neurológico, entre outros. Diante disso, o presente estudo gira em torno dos seguintes questionamentos: Quais os benefícios e desafios encontrados no processo do aleitamento materno? Como o enfermeiro pode auxiliar as mães a aderirem o aleitamento materno exclusivo?
A enfermagem pode contribuir para minimizar os índices de desmame precoce, através da educação em saúde no pré-natal e sensibilização popular de desmitificação de mitos culturais com ações práticas que atuem na promoção e disseminação de informações. No entanto, compreende -se que ainda há uma fragilidade na execução e êxito das ações educativas dos enfermeiros frente a esta problemática.
Portanto, este presente trabalho deve ressaltar a relevância dos benefícios da prática do aleitamento materno exclusivo e os desafios que influenciam direta ou indiretamente no desmame precoce, assim como, analisar como a enfermagem contribui na adesão ao AME.
2. REVISÃO DA LITERATURA
2.1 Aleitamento Materno exclusivo e seus benefícios:
O leite materno é essencial para o crescimento e desenvolvimento do bebê. É por ele que a criança será nutrida e receberá todos os nutrientes necessários para sua sobrevivência. Além disso, vale destacar que é um alimento sem custo e que traz benefícios tanto para a mãe que está amamentando quanto para bebê que está sendo amamentado. Tais benefícios não auxilia somente no fator nutricional, mas, abrange também fatores psicológicos, imunológicos, desenvolvimento do sistema nervoso central, estomatomagnético, entre outros (ALVES, 2018).
Como benefício a longo prazo, é possível citar sobre a contribuição ao desenvolvimento craniofacial do bebê, pois, no momento da mamada recebe uma estimulação de extrema importância. É durante a sucção que será treinada a deglutição madura tonificando a língua, bochecha e lábios. Há ainda a influência na respiração, pois, os músculos orofaciais recebem estímulos facilitando a respiração nasal e quanto maior o tempo que se leva amamentando há ainda mais relevância no quesito de desenvolver uma respiração de padrão normal (ARAÚJO, 2019).
A prática do aleitamento materno exclusivo se torna acessível também para as famílias de baixa renda. O custo/benefício de amamentar traz relevância para a mãe/filho e sociedade. Gastos com fórmulas e outros nutrientes não são necessários quando a mãe amamenta seu filho no período oportuno.
A nutriz também recebe benefícios. Na gravidez é alterado o tamanho do útero e é justamente a amamentação que auxiliará na redução da involução uterina, redução da quantidade de sangramentos, cânceres, doenças sistêmicas, além de auxiliar no peso e imagem corporal. Somado a isso, o leite materno possui alguns princípios bioativos dando sustentação ao leite materno, de macronutriente e micronutrientes (BRAGA, 2020).
2.2 Fatores que contribuem para o desmame precoce:
Mesmo diante dos mais variados benefícios da amamentação, ainda há um alto índice de desmame precoce. As interrupções da amamentação estão relacionadas a mitos, gravidez na adolescência, falta de informações, traumas, infecções, dores e características anatômicas, essa gama de tópicos influencia diretamente no processo que leva à insatisfação no ato de amamentar (ALVARENGA, 2017).
A educação em saúde durante o pré-natal é de grande valia para as gestantes terem o conhecimento sobre a importância de amamentar, formas de posicionamento correto e assim estimular a adesão da amamentação. Pesquisas mostram que muitas mulheres que se tornam mães no período da adolescência, tendem a abandonar a amamentação mais cedo, seja por influência da família, amigos, comentários sobre mudanças corporais e também pelo fato de muitas serem estudantes que necessitam ir à escola ou faculdade e termina por oferecer o leite artificial e introduzir outros alimentos antes da idade prevista (LUSTOSA & LIMA, 2020).
O mercado do consumo promove a cada dia uma variedade de bicos artificiais. Quando são oferecidos a criança que ainda mama, a mesma passa a fazer uma confusão de bicos que influencia na capacidade de reconhecer e se esforçar para pegar o peito da mãe. A sucção através de um bico artificial como a chupeta não oferece nenhum fator nutritivo (SAMPAIO et al., 2020).
É cabível relatar que a cultura também é um fator que influencia no desmame e que sustenta ideias de alguns mitos. Muitas nutrizes dizem ter leite fraco ou pouco leite, desconhecem e rejeitam o colostro (primeiro leite) e assim desistem da prática de amamentar (LIMA, 2017).
Algumas características anatômicas e individuais da própria mama da mulher e particularidade do bebê também podem se relacionar com o desmame. Mulheres com mamilos muito retraídos, ou, que desenvolvem problemas durante o processo de amamentar, a exemplo, a mastite, dores constantes no momento da pega, são fatores que influenciam no desmame (SANTOS, 2020).
2.3 Condições maternas que dificultam o aleitamento:
Amamentar nem sempre é uma realidade para todas as mulheres. Algumas doenças possuem a capacidade de ser transmitida pelo leite, a exemplo, o HIV, HTLV. A transmissão vertical do vírus do HIV pode ocorrer desde o período gestacional, somado a isso, foram implementadas medidas que minimizem o risco de a criança adquirir a doença.
Dentre as estratégias adotadas em mães soropositivas, há o uso de medicações a partir da 14° semana de gravidez, cuidados no parto e a não recomendação da amamentação, necessitando que a mãe busque outras alternativas para nutrir o seu filho, seja pela busca em bancos de leite, fórmulas ou leite pasteurizado que tenham composições capazes de nutrir e que se assemelham ao leite materno (MOIMAZ, 2020).
Outra patologia com risco de infecção significativa pelo leite materno, principalmente em prematuros e de baixo peso, é o Citomegalovírus (CMV). A transmissão do vírus pode ocasionar doenças graves, comprometimento neurológico ou até mesmo perda total ou parcial da audição. É dado maior atenção aos prematuros pelo fato dos mesmos não possuírem ainda anticorpos protetores suficientes. Todavia, mediante a situação apresentada, as formas de prevenção são através da pasteurização ou congelamento do leite com objetivo de inativar o vírus. A criança infectada apresenta dentre os variados sintomas a bradicardia, trombocitopenia, icterícia entre outros.
A Herpes seja ela do tipo simples, 1, 2 ou herpes vírus manifestam a probabilidade de ser transmitida ao bebê quando há o contato do mesmo com a lesão, principalmente nas mães que apresentam lesões nas mamas, sendo necessário nesse caso interromper por um período a amamentação. O vírus pode provocar na criança bolhas dolorosas na boca, lábios, lesões cerebrais, lesões vasculares.
As gestantes diagnosticadas com Herpes necessitam receber o tratamento no terceiro trimestre da gestação e as crianças infectadas também devem ser tratadas. É importante lembrar que durante o aleitamento por mães com herpes é contraindicado quando se há lesões ativas, porém, após esse período, pode ser dado a continuidade do aleitamento, claro tomando as precauções de como lavagem das mãos e higienização (LAMOUNIER, 2019)
Mulheres que passaram ou que se encontram em tratamento para o câncer de mama enfrentam algumas dificuldades, a exemplo, em casos que a nutriz precisou retirar a mama com a mastectomia. Mesmo com a reconstrução mamária, não é possível produzir o leite na mama afetada. E em mães que estão sob tratamento há o risco de transmitir a medicação que está sendo tomada através do leite para o bebê (BRAGA, 2020).
2.4 Papel da enfermagem no incentivo do aleitamento materno exclusivo:
A promoção do aleitamento materno traz benefícios consideravelmente importantes para melhorar a condição de saúde nutricional das crianças. É nesse contexto que a enfermagem se insere ao favorecer essa promoção durante o período do pré-natal. A desmitificação dos mitos e a disseminação de informações devem ser implementadas por esses profissionais de saúde e os demais participantes da equipe multiprofissional (LUSTOSA & LIMA 2020).
É através do aleitamento materno que o vínculo afetivo entre mãe e bebê é fortalecido. Todavia, esse momento de amamentar pode ser doloroso e com dificuldades aparentes, caso a mãe não tenha recebido as devidas orientações. O enfermeiro deve orientar quanto às maneiras corretas de incentivar a pega do bebê a mama, acolher e estabelecer uma comunicação no qual a mulher sinta-se confortável para expor suas preocupações e retirar suas dúvidas (BARBOSA & FREITAS, 2020).
O aleitamento materno pode ser incentivado além das consultas no pré-natal. A organização de grupos de apoio à amamentação, ações que visem a divulgação na comunidade dos benefícios do aleitamento, contemplam não somente as gestantes, mas toda a comunidade da vizinhança. O enfermeiro é contribuinte não só da promoção do aleitamento materno, mas também do incentivo à participação familiar, do parceiro durante o processo de amamentação, auxiliando as famílias a terem essa coparticipação junto à mãe (SANTOS, 2021).
3. METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa descritiva, exploratória de revisão de literatura que consistiu na seleção de estudos recentes de pesquisa. A revisão de literatura é uma metodologia que reúne referências que contenham similaridade de conteúdo, seja a publicação de origem de livros ou artigos (GONÇALVES, 2019).
Foi realizada através de artigos completos publicados nas seguintes bases de dados: Scielo, Lilacs, Biblioteca virtual de Saúde e BDENF. A seleção dos artigos foi guiada pela seguinte questão norteadora: “Quais os benefícios e desafios encontrados no processo do aleitamento materno exclusivo?” “Como o Enfermeiro pode auxiliar as mães a aderirem o aleitamento materno exclusivo?”.
Estabeleceram-se como critérios de inclusão: artigos com texto completo, em português, inglês e espanhol e manuais do ministério da saúde. E de exclusão artigos que não responderam as questões norteadoras, não condizem com a temática do estudo. A análise ocorreu qualitativamente a partir de similaridade de conteúdo. Os descritores utilizados foram: Aleitamento materno; Recém-nascido; Fisiologia nutricional do lactente.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
De acordo com os estudos analisados, todos os autores definem o aleitamento materno exclusivo, aquele realizado dentro do período mínimo de 6 meses da oferta do leite humano sem a necessidade de adição de água e/ou outros líquidos, e que o mesmo traz benefícios para mãe/bebê. É o alimento principal da criança, contendo nutrientes que são essenciais para o desenvolvimento do lactente.
O incentivo ao aleitamento materno é uma pauta que vem sendo discutida desde 1981. O Ministério da Saúde (MS) buscou implementar estratégias nacionais que diminuíssem os índices do desmame precoce. Foi então que se deu início ao Programa Nacional de Incentivo ao Aleitamento Materno (PNIAM) que soma com propostas de aperfeiçoamento à temática do aleitamento materno além dos âmbitos das maternidades (LUSTOSA & LIMA 2020) (SILVA et al., 2017).
Somado a isso, o Brasil é participante também de ações globais, à exemplo, a iniciativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) denominada Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC) criada em 1991 que atrelada aos 10 passos para o sucesso do aleitamento materno, visa capacitar equipes de saúde quanto a promoção da amamentação, trazendo então como estratégia de garantia do avanço na adesão ao leite materno até as gerações futuras.
Entre os passos a serem seguidos os dois primeiros referem-se a equipe em geral, o qual está a de ter uma norma escrita sobre o aleitamento materno, que deve ser rotineiramente transmitida a toda equipe, treinar toda a equipe de saúde, capacitando-a para implementar esta norma. Perante esses passos julgados essenciais, é possível discutir sobre a importância do conhecimento sobre o tema por todos os membros da equipe, não restringindo essa responsabilidade apenas para um profissional, mas um dever diário de todos. (LUSTOSA & LIMA, 2020) (BRASIL, 2021).
Os outros passos apresentados são de caráter prático, como: Ajudar as mães a iniciar o aleitamento materno na primeira meia hora após o nascimento do bebê; mostrar as mães como amamentar e como manter a lactação, mesmo se vierem a ser separadas de seus filhos; não dar ao recém-nascido nenhum outro alimento ou bebida além do leite materno, a não ser que tal procedimento tenha uma indicação médica; praticar o Alojamento Conjunto – permitir que mãe e bebê permaneçam juntos, 24 horas por dia;
Além disso, deve-se encorajar o aleitamento materno sob livre demanda; Não dar bicos artificiais ou chupetas a crianças amamentadas ao seio; Encaminhar as mães, por ocasião da alta hospitalar, para grupos de apoio ao aleitamento materno na comunidade ou em serviços de saúde; Todos esses passos servem para que seja incentivado a amamentação evitando ao máximo o desmame precoce, além de constituir como os critérios mínimos para a instituição hospitalar ser considerada Hospital Amigo da Criança (HAC) (BRASIL, 2021).
O leite materno por ser fonte nutricional da criança é uma das principais variáveis que controla a morbidade infantil. Entretanto, muitas mulheres costumam não alimentar seus filhos exclusivamente nos seis primeiros meses, julgam que o choro das crianças está relacionado à fome, concluindo que o leite não supriu a necessidade do bebê. A carência de informação e questões culturais influenciam diretamente na prática do AME fazendo com que as nutrizes realizem o desmame precoce e com isso ocorra o aumento de doenças prevalentes na primeira infância, como, a diarreia, comum ao se iniciar a alimentação em crianças menores de seis meses (LIMA, et al., 2018).
Sampaio et al., (2020) apresenta o uso de chupeta ou qualquer material artificial ofertado nos primeiros meses de vida como um dos provocadores do desmame precoce. Ressalta que um RN em sua fase de desenvolvimento dos reflexos orais deve aprender a pegar corretamente o mamilo da mãe, realizando o movimento de ordenha de forma adequada, mas, a partir do momento que se insere uma sucção artificial esse processo natural dos reflexos é interrompido.
O hábito do uso de chupetas não é algo atual e já foi objeto de pesquisa por muitos autores, o qual concluíram que o lactente em uso de chupeta, desenvolve uma confusão de bicos atrapalhando no reconhecimento do mamilo da mãe. Somado a isso, Santos et al., (2021) discute que essa prática além de influenciar negativamente no AME, também provoca a redução da produção de leite pela mãe, visto que reduz as mamadas diárias do bebê.
Alvarenga et al., (2017) discorre em seus resultados sobre os diversos motivos que levam as mães a deixarem de amamentar seus filhos de forma exclusiva. Dentre variados fatores cita o trabalho materno como uma das principais causas, colocando em pauta o grupo de mulheres que necessitam voltar a trabalhar antes mesmo dos seus filhos completarem os seis primeiros meses de vida.
O baixo nível de escolaridade é relatado por Cavalcanti (2021) como fator predisponente do desmame, pois, essas mulheres estão menos acessíveis a informações e geralmente as mesmas possuem baixa condição econômica o que corrobora ainda mais. Os serviços de saúde e aconselhamento médico sobre o tema nem sempre chegam a essas gestantes em tempo oportuno, isso se deve ao fato de que parte desse grupo de mulheres encontra-se em povoados distantes e carentes. O uso de chás e práticas culturais predominam nessas localidades sendo necessário intervenções por parte da equipe de saúde mais próxima.
É importante ressaltar que o desmame precoce ainda é um desafio no Brasil, todavia, diante de todos esses fatores acimas citados, muitos podem ser evitados através da intervenção dos profissionais de saúde com ações educativas que incentivem a prática da amamentação o mais rápido possível, evitando o surgimento de problemáticas para mãe e para o bebê (SANTOS et al., 2020).
Lustosa & Lima (2020) apresenta que a anatomia do mamilo é um fator que preocupa as mulheres na hora de amamentar. Porém ressalta que independente da anatomia do mamilo, seja plano, normal, investido, protuso pode influenciar na pega, mas, não é capaz de impedir a amamentação. Sugere então, que os profissionais tranquilizem essas mães e ensinem as técnicas que auxilie os RN a executarem a sucção corretamente.
Da pesquisa realizada por Alves et al., (2018) em um estudo transversal com um total de 429 mães, 38,2% não se mantinham com uma renda própria e 28,0% sustentavam-se com um valor inferior a um salário mínimo. Frente a esses dados os autores sintetizam que o nível socioeconômico é um fator preocupante. Por esse motivo é orientado as mulheres a realizarem o AME durante os seis meses e em complementação posteriormente, pois constitui uma fonte nutricional completa e gratuita, auxiliando na economia da família.
Diante de todos os estudos que elaboraram a temática do desmame precoce foram encontradas as seguintes variáveis, descritas das mais para menos citadas: Uso de chupetas e bicos artificiais, hábitos culturais, idade, manejo da lactação, traumas e patologias, escolaridade, carência de informações, trabalho materno, nível socioeconômico, primariedade, anatomia e fisiologia, estado civil.
Santos et al., (2020) parte do pressuposto que através do AME as crianças diminuíram em até 72% o número de internações decorrentes de doenças bacterianas, infecções respiratórias entre outras. Essa barreira protetiva oferecida pelo leite materno traz consigo a diminuição da exposição das crianças ao ambiente hospitalar, reduzindo os índices relacionados ao adoecimento de crianças por infecções adquiridas nos âmbitos hospitalares.
Somado a isso, Sousa (2021) reforça que o AME além de ser uma forma na melhoria do sistema imunológico, auxilia na função cardiorrespiratória, desenvolvimento, crescimento, deixa explícito também o quanto a mulher é favorecida ao fazer o papel de nutriz, afirmação essa que incentiva ainda mais a continuar exercendo a prática do aleitamento.
Igualmente ao ponto de vista de Sousa (2021), Santos (2020) expõe a relação entre o leite materno e sua capacidade de minimizar a ocorrência de doenças cancerígenas que costumam ser prevalentes nas mulheres, à exemplo, câncer de mama e ovário. Outra evidência destacada é a contribuição na aceleração da involução uterina, perda de peso, além de ser considerado um contraceptivo natural.
Braga et al (2020) ao se referirem ao sistema estomatognático, comentam que o mesmo consiste na junção de um grupo de estruturas bucais o qual são exercitadas durante a amamentação, sendo assim, esse sistema está inteiramente ligado com o desenvolvimento craniofacial. É no ato da sucção que o bebê trabalha e fortalece os músculos da mandíbula e da face, ajudando o lactente a se preparar para o processo de mastigação que será necessário futuramente.
Destarte, Araújo et al., (2019) discorre sobre os hábitos deletérios e seu desenvolvimento, citando o AME nos seis meses como influenciador no controle do processo desses hábitos. Levanta uma reflexão o qual relaciona que filhos desmamados antes de completar seis meses, possui chances maiores de acostumam com esses hábitos e como consequência serem acometidos por problemas de oclusão, pois, como não suprem o desejo de sucção pelas mamadas, é oferecido chupetas, mamadeiras e isso se torna nocivo para respiração bucal, desenvolvimento da arcada dentária futuramente, dificuldade no crescimento dos ossos da face entre outros.
Muito se discute na sociedade sobre doenças e amamentação, surgindo dúvidas sobre poder ou não amamentar em casos de mães portadoras de alguma patologia. A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) (2019), aponta orientações em alguns casos: Acrescenta-se que mulheres com Tuberculose tratadas e consideradas bacilíferas podem amamentar seus filhos naturalmente e aquelas com presença de sintomas em investigação da doença é orientado a ordenha do leite, além da adoção de medidas que evitem a transmissão por contato direto da mãe com o filho.
Puérperas que apresentam mastite recebem a orientação da continuidade do aleitamento associado a terapia medicamentosa, mas, em situações de possível contato do bebê com o conteúdo drenado deve ser priorizada a ordenha da outra mama. Em relação às lactantes com doenças parasitárias, com restrição da doença de chagas, não precisam realizar a descontinuação do aleitamento.
Para as mães acometidas por doenças virais, como Hepatite B ou Hepatite C, amamentar não consiste em uma contraindicação, mas, se a mama apresentar fissuras ou traumas se deve optar pela ordenha até que cicatrize o ferimento. Esses cuidados precisam ser orientados para essas mulheres, contribuindo assim para redução da contaminação pelo vírus.
Dentre as formas de transmissão do vírus do HIV, existe a infecção vertical que passa de mãe para filho durante a gestação, no momento do parto e amamentação, podendo o RN ser contaminado na entrada do vírus nas mucosas ou no trato gastrointestinal. No Brasil, gestantes com testes de resultados positivos para o HIV não podem amamentar ou realizar amamentação cruzada, sendo preciso adotar medidas para alimentação da criança, além de nunca esquecer de incentivar o alojamento conjunto mesmo que não seja possível a prática de amamentar (LAUMONIER & SANTIAGO, 2020).
Os autores Santos et al., (2020) e Barbosa & Reis (2020), apresentam o profissional enfermeiro como um dos principais incentivadores do aleitamento materno, o qual o mesmo deve colocar em prática estratégias que tenha por objetivo levar as mães a compreenderem a importância da amamentação exclusiva.
Destaca-se ainda que a promoção não acontece somente durante a consulta do pré-natal e sim que é possível realizar a educação em saúde das gestantes através de grupos, visitas domiciliares, palestras com as mulheres grávidas da sua área adscrita, podendo levar temas de relevância para discussão, a exemplo, mitos e crenças da amamentação e do desmame, além de ser um momento de interação entre profissional e gestante, favorece a busca de informações.
Santos et al (2020), faz a ressalva que o acolhimento por parte do enfermeiro, deve ser contínuo, desde o pré-natal ao pós-parto, com objetivo de detalhar a amamentação de forma prática e ter a certeza que a gestante está realizando corretamente as técnicas e ensinamentos repassados no pré-natal. Em contrapartida Barbosa & Reis (2020), salientou a necessidade de capacitação profissional do enfermeiro, sendo observado falhas no processo de abordagem à gestante e conhecimento técnico sobre amamentação. Nesse contexto, apresenta-se como resolução desse impasse a atualização profissional dos enfermeiros responsáveis por essa assistência.
A estimulação do aleitamento materno exclusivo durante os primeiros 6 meses não depende somente da mãe, todo o seu ciclo social influencia de forma significativa na aceitação ou rejeição da prática de amamentação. É por isso que se faz necessário que o enfermeiro inclua o parceiro e família da gestante durante as consultas de aconselhamento pré-natal (BARBOSA, 2020).
Nesse mesmo viés Alves; Oliveira & Rito (2018), destaca que as mulheres precisam ser acompanhadas pelo seu grupo social próximo em especial do seu parceiro para que a mesma se sinta apoiada e segura quanto ao aleitamento materno. Em seu estudo mostra uma queda de 24% do AM em situações das quais as mulheres não convivem com seu companheiro e consequentemente não recebem o apoio do mesmo. Em contribuição Cavalcanti; Silva; Nascimento (2021), expressa que as puérperas solteiras aderem menos ao AME por não usufruírem do apoio do esposo no processo de enfrentamento das dificuldades que surgem durante o período da amamentação.
5. CONCLUSÃO
Diante do exposto é possível compreender a necessidade da criança em ser alimentada exclusivamente pelo leite materno nos primeiros seis meses de vida frente ao teor nutritivo que o mesmo apresenta. Somado a isso, os benefícios e contribuições do AME demonstram eficácia garantindo proteção, promoção e prevenção contra problemas na saúde da mãe e do bebê.
Somado a isso, é essencial que haja mais pesquisas relevantes quanto ao grupo de gestantes de alto risco para que seja claro as situações que são permitidas a amamentação, quais as exceções e cuidados necessários, além de fornecer uma assistência integral e individualizada a essas mulheres, com objetivo de torná-las mais seguranças quanto a forma de nutrição dos seus filhos.
A partir disso, concluímos que a atenção primária através das unidades básicas de saúde é o nível de atendimento mais importante na disseminação de informações por educação em saúde, utilizando de estratégias para abranger toda a comunidade e assim influenciar na desmitificação de mitos e costumes culturais que dificultam o processo do AME. Além da inserção do parceiro e núcleo familiar no incentivo ao aleitamento.
Toda a equipe multiprofissional é responsável pelo comprometimento na orientação do aleitamento, todavia, destaca-se o profissional enfermeiro como o principal provedor desse acolhimento, por ser um dos que mais está próximo da gestante durante as consultas de pré-natal, por exemplo, e este deve estar sempre se atualizando quanto ao conhecimento científico e técnico para prover seu cuidado baseado em evidências.
Além de fonte de alimento, o leite materno influencia positivamente no crescimento e desenvolvimento dos sistemas, como, imunológico, cardiorrespiratório, neuromuscular, fonológico, esquelético, estomagnático e favorecendo também no que se diz respeito a sucção natural que o bebê desenvolve.
As variáveis maternas que interferem na descontinuidade da amamentação são passíveis de intervenção e devem ser levadas em consideração de forma que sejam aplicadas medidas que auxiliem essas mães e a responsabilidade compartilhada seja exercida.
Contudo, o desmame precoce ainda é prevalente e para que não ocorra é preciso comprometimento materno em dedicar a colocar em prática os conselhos aprendidos para o momento da amamentação e também comprometimento dos profissionais da saúde no incentivo ao aleitamento materno exclusivo antes, durante e após a gestação.
REFERÊNCIAS
ALVES, J.S; OLIVEIRA, M.C; RITO, R. V. V. F. Orientações sobre amamentação na atenção básica de saúde e associação com o aleitamento materno exclusivo. Revista ciência e saúde coletiva, v.23, n.04, p. 1077-1088, 2018. Disponível em: Acesso em: 27 nov 2021.
ALVARENGA, Sanda Cristina, et al. Fatores que influenciam o desmame precoce. Revista Aquichan, v. 17, n. 1, 2017. Disponível em: http://www.scielo.org.co/pdf/aqui/v17n1/1657-5997-aqui-17-01-00093.pdf. Acesso em: 28 nov 2021.
ARAÚJO, H. R. V; CARVALHO, M. T; IMPARATO, J. C. A importância do aleitamento materno no controle do desenvolvimento de hábitos deletérios: Revisão de Literatura. Id on Line Revista Multidisciplinar, v.13, n.47, p. 1135-1144, 2019. Disponível em: https://idonline.emnuvens.com.br/id/article/view/2109/3213. Acesso em: 28 nov 2021.
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1Enfermeira pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI). Campus Poeta Torquato Neto. e-mail: enf.brendamelo@gmail.com
2Enfermeira pelo Centro Universitário Planalto do Distrito Federal (UNIPLAN). Campus Caxias. e-mail: irenesousafontes1@gmail.com
3Enfermeiro pelo Centro Universitário Planalto do Distrito Federal (UNIPLAN). Campus Caxias. e-mail: adaocba@hotmail.com
4Enfermeira pelo Centro Universitário Planalto do Distrito Federal (UNIPLAN). Campus Caxias. e-mail: debatistasilva033@gmail.com
5Enfermeira pelo Centro Universitário Planalto do Distrito Federal (UNIPLAN). Campus Caxias. e-mail: sntnluiza@gmail.com
6Enfermeira pelo Centro Universitário Planalto do Distrito Federal (UNIPLAN). Campus Caxias. e-mail: rosangelaof@outlook.com.br