DESAFIOS DIAGNÓSTICOS NO MANEJO DE ANSIEDADE EM PACIENTES COM TRANSTORNO DE PERSONALIDADE MISTA

DIAGNOSTIC CHALLENGES IN MANAGING ANXIETY IN PATIENTS WITH MIXED PERSONALITY DISORDER

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202506061954


Juliana dos Santos Pravatto1, Layanne Vasconcelos Melo Rocha2, Luann Victor Rabelo Araújo3, Karleno Loureiro dos Santos4, Maria Eduarda Araújo Pinheiro5, Aureo Guilherme Tadiotto Sampaio Moraes6, Ítalo de Moura Sousa7, Ana Lina de Carvalho Cunha Sales8, Diego Leite Barros9


RESUMO

O transtorno de personalidade mista é caracterizado por uma combinação de traços pertencentes a diferentes tipos de transtornos de personalidade. A ansiedade é um sintoma altamente prevalente entre indivíduos com transtornos de personalidade. No entanto, o diagnóstico preciso da ansiedade em pacientes com transtorno de personalidade mista pode ser desafiador. O presente artigo tem como objetivo geral analisar os principais desafios diagnósticos no manejo da ansiedade em pacientes com transtorno de personalidade mista. A pesquisa é fundamentada em uma revisão abrangente da literatura existente, para a coleta dos dados, foi utilizada a base de dados PubMed e Scielo, a pesquisa foi conduzida com os termos “Transtornos da Personalidade”, “Transtornos de Ansiedade”, “Diagnóstico Psiquiátrico”, aplicando o operador booleano “AND”. A revisão bibliográfica revelou que o manejo da ansiedade em pacientes com transtorno de personalidade mista representa um desafio clínico significativo, devido à sobreposição de sintomas, à ausência de critérios diagnósticos claros e à complexidade do funcionamento psíquico desses indivíduos. A revisão bibliográfica evidenciou que os métodos convencionais de avaliação não são suficientes para captar a totalidade dos aspectos envolvidos nesses quadros, o que pode comprometer a eficácia terapêutica. Portanto, torna-se essencial investir em abordagens diagnósticas mais integradas e individualizadas, bem como em formações específicas para profissionais da área. O aprimoramento das práticas clínicas depende da capacidade de reconhecer as limitações dos modelos tradicionais e de adotar estratégias que contemplem a complexidade e a singularidade desses pacientes. Assim, será possível oferecer um cuidado mais eficaz, humanizado e fundamentado em evidências.

Palavras-chave: Transtornos da Personalidade. Transtornos de Ansiedade. Diagnóstico Psiquiátrico.

1 INTRODUÇÃO

O transtorno de personalidade mista é caracterizado por uma combinação de traços pertencentes a diferentes tipos de transtornos de personalidade, sem que um quadro específico se sobreponha de forma clara. Essa complexidade diagnóstica frequentemente gera dificuldades tanto na definição clínica quanto na condução terapêutica dos pacientes. A presença de múltiplos padrões comportamentais, emocionais e cognitivos pode confundir os profissionais de saúde mental e dificultar a elaboração de estratégias terapêuticas eficazes. (HONORATO, 2018).

A ansiedade, por sua vez, é um sintoma altamente prevalente entre indivíduos com transtornos de personalidade. Sua manifestação pode variar em intensidade e forma, sendo muitas vezes exacerbada pela instabilidade emocional, impulsividade e distorções cognitivas comuns nesses quadros. No entanto, o diagnóstico preciso da ansiedade em pacientes com transtorno de personalidade mista pode ser desafiador, pois os sintomas tendem a se sobrepor, mascarar ou até mesmo imitar manifestações de outros transtornos mentais. (JUNIOR, 2025).

O manejo clínico desses pacientes requer uma abordagem sensível, multidisciplinar e, sobretudo, individualizada. Estratégias padronizadas nem sempre se mostram eficazes, e o reconhecimento da singularidade de cada paciente é fundamental para o sucesso terapêutico. A escolha dos instrumentos diagnósticos, a escuta clínica qualificada e a integração entre diferentes especialidades são pilares essenciais nesse processo. Ainda assim, há uma carência de consenso na literatura sobre protocolos específicos para o diagnóstico diferencial nesses casos. (GOMES, 2019).

O objetivo geral deste artigo é analisar os principais desafios diagnósticos no manejo da ansiedade em pacientes com transtorno de personalidade mista, à luz de uma revisão bibliográfica, buscando identificar as limitações dos métodos convencionais e apontar caminhos mais adequados para a prática clínica.

2 METODOLOGIA

A pesquisa adotou uma metodologia que combina análise, descrição e exploração, fundamentada em uma revisão abrangente da literatura existente. O objetivo principal desta revisão é compilar, sintetizar e analisar os achados de estudos anteriores sobre miomas uterinos. Esse método integra informações já publicadas, oferecendo uma visão crítica e estruturada do conhecimento disponível. A abordagem metodológica combina diversas estratégias e tipos de pesquisa, possibilitando a avaliação da qualidade e coerência das evidências e a integração dos resultados (BOTELHO, DE ALMEIDA CUNHA, MACEDO, 2011).

Para a coleta dos dados, foi utilizada a base de dados PubMed e Scielo. Diversos tipos de publicações foram considerados, incluindo artigos acadêmicos, estudos e periódicos relevantes. A pesquisa foi conduzida com os termos “Transtornos da Personalidade”, “Transtornos de Ansiedade”, “Diagnóstico Psiquiátrico”, aplicando o operador booleano “AND” para refinar os resultados. As estratégias de busca adotadas foram: “Transtornos da Personalidade” AND “Transtornos de Ansiedade” AND “Diagnóstico Psiquiátrico”.

Os critérios para inclusão dos artigos foram: publicações originais, revisões sistemáticas, revisões integrativas ou relatos de casos, desde que fossem acessíveis gratuitamente e publicadas entre 2015 e 2024. Não houve restrições quanto à localização geográfica ou ao idioma das publicações. Foram excluídos artigos não científicos, bem como textos incompletos, resumos, monografias, dissertações e teses.

A seleção dos estudos seguiu critérios rigorosos de inclusão e exclusão. Após a definição desses critérios, foram realizadas buscas detalhadas nas bases de dados utilizando os descritores e operadores booleanos estabelecidos. Os estudos selecionados formam a base para os resultados apresentados neste trabalho.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os estudos revisados indicam que o diagnóstico de transtorno de personalidade mista ainda carece de critérios objetivos bem definidos. Embora o DSM-5 não reconheça oficialmente essa categoria, ela é frequentemente utilizada na prática clínica como um diagnóstico residual para casos complexos que não se encaixam em uma única categoria diagnóstica. Isso cria uma zona cinzenta na avaliação psiquiátrica, especialmente quando a ansiedade está presente de forma marcante. (GUTIÉRREZ et al, 2023).

A literatura mostra que os instrumentos diagnósticos tradicionais, como entrevistas estruturadas e escalas de autoavaliação, nem sempre conseguem capturar a complexidade do transtorno de personalidade mista. A presença de múltiplos traços de diferentes transtornos pode levar a interpretações equivocadas, atrasando o início de um tratamento adequado para os sintomas ansiosos. Esse cenário reforça a necessidade de protocolos específicos para esse subgrupo de pacientes. (CZEKÓOVÁ et al, 2020).

Outro aspecto observado nos estudos é a alta comorbidade entre transtornos de personalidade e transtornos ansiosos. Em muitos casos, os sintomas ansiosos são interpretados como reações situacionais ou secundárias a eventos de vida, quando na verdade fazem parte de um padrão mais duradouro e intrínseco à personalidade. Essa confusão diagnóstica contribui para um manejo inadequado, com tratamentos farmacológicos ou psicoterapêuticos pouco eficazes. (MOREY, HOPWOOD, 2020).

Algumas pesquisas sugerem que a avaliação psicodinâmica e os modelos baseados na teoria dos traços podem oferecer maior clareza diagnóstica nesses casos. Tais abordagens focam nas estruturas de personalidade e nos padrões de funcionamento psíquico, ao invés de se limitarem à descrição superficial de sintomas. Dessa forma, a ansiedade pode ser compreendida no contexto da organização da personalidade, permitindo intervenções mais precisas. (OZEN, DALBUDAK, TOPCU, 2018).

Além disso, foi identificado que o manejo da ansiedade nesses pacientes requer atenção especial à aliança terapêutica, pois traços como desconfiança, ambivalência emocional e impulsividade dificultam a adesão ao tratamento. Intervenções psicoterapêuticas, especialmente as de orientação cognitivo-comportamental e dialética-comportamental (DBT), têm demonstrado eficácia moderada quando adaptadas à complexidade do caso. (SAINI et al, 2021).

A literatura também aponta que o uso isolado de psicofármacos tende a ser menos eficaz em pacientes com transtorno de personalidade mista. Isso ocorre porque os medicamentos podem atenuar os sintomas ansiosos, mas não modificam os padrões rígidos de funcionamento que caracterizam a personalidade. Dessa forma, uma abordagem combinada, com psicoterapia e medicação, é geralmente mais recomendada. (KOENIG, THAYER, KAESS, 2021).

Um fator importante é a capacitação dos profissionais de saúde mental para reconhecer e lidar com os desafios diagnósticos apresentados por esses pacientes. Estudos mostram que muitos clínicos sentem-se inseguros ao lidar com quadros mistos e acabam adotando estratégias padronizadas que não consideram a individualidade do paciente, o que pode agravar o sofrimento psíquico e comprometer o prognóstico. (HEMMATI, RAHMANI, BACH, 2021).

Por fim, há consenso na literatura de que é necessário mais investimento em pesquisas voltadas para a elaboração de critérios diagnósticos específicos e para o desenvolvimento de abordagens terapêuticas customizadas. A escassez de estudos longitudinais e de protocolos validados limita o avanço no tratamento desses pacientes e evidencia a necessidade de maior atenção científica ao tema. (MASSÓ RODRIGUEZ et al, 2021).

4 CONCLUSÃO

O manejo da ansiedade em pacientes com transtorno de personalidade mista representa um desafio clínico significativo, devido à sobreposição de sintomas, à ausência de critérios diagnósticos claros e à complexidade do funcionamento psíquico desses indivíduos. A revisão bibliográfica evidenciou que os métodos convencionais de avaliação não são suficientes para captar a totalidade dos aspectos envolvidos nesses quadros, o que pode comprometer a eficácia terapêutica.

Portanto, torna-se essencial investir em abordagens diagnósticas mais integradas e individualizadas, bem como em formações específicas para profissionais da área. O aprimoramento das práticas clínicas depende da capacidade de reconhecer as limitações dos modelos tradicionais e de adotar estratégias que contemplem a complexidade e a singularidade desses pacientes. Assim, será possível oferecer um cuidado mais eficaz, humanizado e fundamentado em evidências.

REFERÊNCIAS

BOTELHO, Louise Lira Roedel; DE ALMEIDA CUNHA, Cristiano Castro; MACEDO, Marcelo. O método da revisão integrativa nos estudos organizacionais. Gestão e sociedade, v. 5, n. 11, p. 121-136, 2011.

CZEKÓOVÁ, Kristína et al. Dissociating profiles of social cognitive disturbances between mixed personality and anxiety disorder. Frontiers in Psychology, v. 11, p. 563, 2020.

GOMES, Alexandre de Ângelus Azerêdo Delfino. As contribuições do modelo de classificação dimensional dos Transtornos de personalidade do DSM V: uma revisão da literatura. 2019.

GUTIÉRREZ, Fernando et al. Severity in the ICD-11 personality disorder model: Evaluation in a Spanish mixed sample. Frontiers in Psychiatry, v. 13, p. 1015489, 2023.

HEMMATI, Azad; RAHMANI, Fateh; BACH, Bo. The ICD-11 personality disorder trait model fits the Kurdish population better than the DSM-5 trait model. Frontiers in Psychiatry, v. 12, p. 635813, 2021.

HONORATO, Tabata Galindo. Os transtornos da personalidade no cinema brasileiro. 2018.

JUNIOR, Mario Luiz Furlanetto. MICROESTRUTURA DE PERSONALIDADE DE SOBREVIVÊNCIA EMOCIONAL ONCS: AS ORIGENS NEUROBIOLÓGICAS DOS TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE E DA PARENTALIDADE DISFUNCIONAL. CPAH Science Journal of Health, v. 8, n. 1, p. e170-e170, 2025.

KOENIG, Julian; THAYER, Julian F.; KAESS, Michael. Psychophysiological concomitants of personality pathology in development. Current opinion in psychology, v. 37, p. 129-133, 2021.

MASSÓ RODRIGUEZ, Anna et al. Clinical features, neuropsychology and neuroimaging in bipolar and borderline personality disorder: a systematic review of cross-diagnostic studies. Frontiers in psychiatry, v. 12, p. 681876, 2021.

MOREY, Leslie C.; HOPWOOD, Christopher J. Brief report: expert preferences for categorical, dimensional, and mixed/hybrid approaches to personality disorder diagnosis. Journal of Personality Disorders, v. 34, n. Supplement C, p. 124-131, 2020.

OZEN, Secil; DALBUDAK, Ercan; TOPCU, Merve. The relationship of posttraumatic stress disorder with childhood traumas, personality characteristics, depression and anxiety symptoms in patients with diagnosis of mixed anxiety-depression disorder. Psychiatria Danubina, v. 30, n. 3, p. 340-347, 2018.

SAINI, Bhavneesh et al. Relationship pattern of personality disorder traits in major psychiatric disorders: A cross-sectional study. Indian journal of psychological medicine, v. 43, n. 6, p. 516-524, 2021.