PUBLIC HEALTH CHALLENGES IN CONTROLLING NEGLECTED DISEASES
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202411300249
Gabriela Ricardo Alaby; José de Oliveira Fernandes; Ana Carolina Pontes Vianna; Sara Gabriela Veinberg; Bianca de Souza Albuquerque; Manuela colunna Balsimelli; Ana Cláudia Parucce; Juliana Manreza Sandrini; Nicolle Horie Gomes; Daniella Di Tommaso Latorre; Gabriel Zanetti Costa; Dâmarys Larissa Morais Rodrigues; Gabriel Zanetti Costa
RESUMO
O controle das doenças negligenciadas apresenta grandes desafios para a saúde pública, especialmente em países em desenvolvimento. Essas doenças, que afetam principalmente populações de baixa renda, enfrentam um histórico de desinteresse do mercado, resultando em recursos limitados para pesquisa, inovação em tratamentos e métodos diagnósticos. Embora avanços tenham sido feitos, como a criação de novas vacinas e a implementação de tecnologias inovadoras, esses progressos ainda são lentos e insuficientes diante da demanda. Além disso, questões como a falta de acesso a cuidados médicos, dificuldades de atendimento em áreas remotas e a desinformação agravam o cenário, levando a diagnósticos tardios e tratamentos inadequados. O estigma social associado a algumas dessas doenças, como a hanseníase e a tuberculose, também representa um obstáculo, pois muitas pessoas deixam de buscar tratamento por medo ou vergonha, o que pode resultar em abandono de terapias e piora do quadro clínico. Para superar esses desafios, é fundamental investir em políticas públicas que promovam a conscientização, a educação sanitária e a ampliação do acesso a diagnósticos e tratamentos, além de apoio psicológico para os pacientes. Campanhas informativas e um maior envolvimento governamental e internacional também são essenciais para combater o impacto dessas doenças.
Palavras- chave: Doenças negligenciadas, Dengue, Doença de Chagas, Leishmaniose, Malária, Hanseníase, Tuberculose
ABSTRACT
Controlling neglected diseases presents major challenges for public health, especially in developing countries. These diseases, which mainly affect low-income populations, face a history of lack of market interest, resulting in limited resources for research, innovation in treatments and diagnostic methods. Although advances have been made, such as the creation of new vaccines and the implementation of innovative technologies, this progress is still slow and insufficient in light of demand. Furthermore, issues such as lack of access to medical care, difficulties in providing care in remote areas and misinformation worsen the situation, leading to late diagnoses and inadequate treatments. The social stigma associated with some of these diseases, such as leprosy and tuberculosis, also represents an obstacle, as many people stop seeking treatment out of fear or shame, which can result in abandonment of therapies and worsening of the clinical condition. To overcome these challenges, it is essential to invest in public policies that promote awareness, health education and expanded access to diagnoses and treatments, as well as psychological support for patients. Information campaigns and greater government and international involvement are also essential to combat the impact of these diseases.
Keywords: Neglected diseases, Dengue, Chagas disease, Leishmaniasis, Malaria, Leprosy, Tuberculosis
INTRODUÇÃO
As doenças negligenciadas são um grupo de doenças infecciosas que afetam predominantemente populações pobres e marginalizadas em países em desenvolvimento. São chamadas de “negligenciadas” porque recebem menos atenção e financiamento em comparação com outras doenças de maior impacto global, como HIV, tuberculose e malária. O controle dessas doenças representa vários desafios para a saúde pública. O primeiro desafio é a falta de investimento em pesquisa e desenvolvimento, já que essas doenças não atraem o interesse das indústrias farmacêuticas, uma vez que a maior parte dos afetados vive em regiões de baixa renda. Isso resulta em uma escassez de novas tecnologias, medicamentos e vacinas para prevenção e tratamento dessas enfermidades. Outro grande obstáculo é o diagnóstico e tratamento inadequados. Muitos sistemas de saúde nos países afetados são frágeis e têm recursos limitados, dificultando o diagnóstico precoce e o tratamento adequado, além da falta de infraestrutura para manejar casos graves. Isso contribui para a perpetuação das infecções (Durán et al, 2010; Brasil, 2023).
A falta de dados epidemiológicos precisos também é um problema significativo. A subnotificação e a ausência de dados confiáveis tornam o planejamento de estratégias de controle menos eficaz. As populações afetadas, por estarem em áreas remotas e de difícil acesso, acabam ficando fora dos sistemas regulares de monitoramento de saúde. Além disso, as doenças negligenciadas afetam desproporcionalmente comunidades pobres, onde saneamento básico e acesso à água potável são precários. A falta de condições adequadas de moradia e a desnutrição agravam a vulnerabilidade dessas populações. Outro fator que influencia o aumento dessas doenças é o impacto das mudanças climáticas e a mobilidade populacional. Mudanças no clima e nos padrões de urbanização favorecem a disseminação de vetores que transmitem muitas dessas doenças, como mosquitos e caramujos. Além disso, a migração forçada devido a conflitos ou desastres ambientais expõe populações vulneráveis a novos ambientes onde podem estar mais suscetíveis a infecções (Mallapaty, 2022).
A baixa conscientização e educação das comunidades afetadas é outro grande desafio. Muitas dessas populações têm pouco acesso à educação sobre medidas preventivas, como o uso de repelentes ou a importância do saneamento adequado, resultando em uma baixa adesão a programas de controle e em comportamentos que facilitam a transmissão das doenças. Em muitos casos, os esforços para controlar essas doenças dependem de campanhas temporárias ou financiadas por doadores internacionais, o que gera um problema de sustentabilidade. Quando os recursos são interrompidos ou redirecionados para outras prioridades, as doenças podem ressurgir rapidamente. Além disso, a falta de integração desses programas com os sistemas de saúde locais enfraquece a eficácia das ações a longo prazo, dificultando uma resposta mais abrangente às necessidades da comunidade (Dorigatti et al., 2018).
O Brasil enfrenta um grande desafio em sua trajetória rumo à redução da desigualdade e à inserção plena na chamada “economia do conhecimento”, especialmente no que diz respeito à área da saúde. A falta de investimento adequado em educação, ciência e tecnologia compromete a capacidade do país de gerar inovações e competir globalmente, perpetuando as disparidades internas e em relação a outras nações. Historicamente, o Brasil tem tido dificuldades para implementar uma política industrial que integre de maneira eficiente os três principais atores do desenvolvimento científico e tecnológico: academia, governo e setor produtivo. Esse modelo de tripla hélice, fundamental para a criação de um ecossistema de inovação, não foi plenamente estabelecido, o que limitou a capacidade do país de transformar conhecimento em produtos e serviços de alto valor agregado (Biassoti et al., 2017).
O combate às doenças negligenciada é um desafio global definido pela ONU na Agenda 2030, particularmente na meta 3.3, que busca acabar com epidemias dessas doenças. Esse tema foi amplamente debatido no seminário “Doenças Negligenciadas e a Agenda 2030”, promovido pela iniciativa Brasil Saúde Amanhã e pelo Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz). O evento abordou os avanços e os desafios no combate a essas enfermidades, destacando o papel da Fiocruz, instituição de grande relevância para o Brasil e o mundo no desenvolvimento de produtos para essas doenças (Dorigatti et al., 2018).
Contudo, alguns avanços recentes demonstram um caminho positivo. A Lei de Inovação, por exemplo, é uma medida crucial para fomentar a colaboração entre universidades, centros de pesquisa e empresas. Sua aprovação e regulamentação indicam um marco importante no esforço de alinhar o desenvolvimento tecnológico com as necessidades do setor produtivo, facilitando o fluxo de conhecimento e a inovação. Essa legislação criou um ambiente jurídico mais favorável à pesquisa e desenvolvimento (P&D) no país, incluindo incentivos fiscais e parcerias público-privadas, algo que pode contribuir diretamente para a redução das desigualdades (Mallapaty, 2022).
Na área da saúde, a criação do Departamento de Ciência e Tecnologia dentro da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde é outro passo significativo. Este departamento tem desempenhado um papel central no estímulo à inovação em saúde, lançando editais e programas que incentivam a pesquisa e o desenvolvimento de novos tratamentos e produtos voltados especialmente para as doenças negligenciadas, que afetam predominantemente as populações mais vulneráveis. Essas iniciativas, especialmente no contexto da saúde, não só promovem o avanço tecnológico como também respondem a questões de equidade e acesso. O desenvolvimento de soluções para doenças negligenciadas, por exemplo, coloca o Brasil em uma posição de destaque na luta global contra essas enfermidades, ao mesmo tempo em que contribui para melhorar a qualidade de vida das populações mais afetadas internamente (Dorigatti et al., 2018).
Apesar desses avanços, desafios estruturais permanecem. Para que o Brasil consiga se beneficiar plenamente da economia do conhecimento, será necessário aumentar o investimento em educação básica e superior, garantindo que mais pessoas tenham acesso a uma formação de qualidade nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM). Também é fundamental fortalecer a infraestrutura de pesquisa e inovação, com mais recursos para universidades e institutos de pesquisa, além de promover maior integração entre academia e setor produtivo, criando ambientes de inovação que facilitem a transformação de ideias em produtos. Ademais, é crucial estabilizar o financiamento público de longo prazo, garantindo a continuidade de projetos de P&D, especialmente nas áreas de inovação em saúde (Biassoti et al., 2017).
Portanto, embora medidas como a Lei de Inovação e os editais do Ministério da Saúde representem avanços, o sucesso pleno dessas políticas dependerá da continuidade de investimentos e de uma estratégia mais ampla e coesa de desenvolvimento que envolva tanto o setor público quanto o privado. Só assim o Brasil poderá reduzir a desigualdade interna e aumentar sua competitividade no cenário global. O objetivo do presente estudo avaliar a situação epidemiológica das doenças negligenciadas com maior ocorrência no Brasil.
MÉTODO
Trata-se de um estudo transversal, retrospectivo, com abordagem quantitativa. Os dados utilizados foram obtidos por meio do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), por consulta à seção do Sistema de Informações Hospitalares (SIH/SUS). A pesquisa abrangeu as patologias dengue, leishmaniose visceral, malária e tuberculose, doenças descritas por De Souza (2010) como “Doenças Negligenciadas”. Embora não haja consenso mundial sobre o grupo específico que compõe as Doenças Tropicais Negligenciadas (DTNs) — por exemplo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) não classifica a tuberculose como uma Doença Negligenciada —, o Brasil ainda inclui a dengue, a leishmaniose visceral, a malária e a tuberculose nesse grupo, considerando a persistência dessas patologias e seu impacto no sistema de saúde brasileiro devido à sua não erradicação.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
DOENÇA DE CHAGAS
A doença de Chagas (DC) é uma infecção causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, caracterizada por um espectro clínico que pode variar entre formas assintomáticas e quadros de doença cardio-digestiva graves. A evolução da doença depende de uma combinação de determinantes biológicos e sociais, que influenciam tanto a manifestação clínica quanto a progressão da doença. Entre os determinantes biológicos, destacam-se fatores como a carga parasitária, a resposta imunológica do hospedeiro e as condições de saúde preexistentes. Já os determinantes sociais incluem aspectos relacionados à pobrez, acesso limitado a serviços de saúde, condições inadequadas de moradia e saneamento básico, que aumentam a exposição ao vetor, o barbeiro (Triatoma infestans), responsável pela transmissão do parasita em áreas rurais e periféricas (Cardoso et al., 2018).
A complexidade da doença de Chagas reside justamente nessa interação entre fatores biológicos e sociais, que contribuem para sua persistência como um problema de saúde pública, especialmente em países da América Latina. O Brasil, que concentra uma significativa parte dos casos, continua enfrentando desafios no diagnóstico precoce e no tratamento adequado dos pacientes, além de questões relacionadas à vigilância epidemiológica e ao controle do vetor (Silva et al., 2022).
A doença tem dois estágios principais: a fase aguda e a fase crônica. Na fase aguda, que ocorre logo após a infecção, os sintomas podem ser leves ou ausentes, dificultando o diagnóstico precoce. No entanto, quando sintomática, a fase aguda pode apresentar febre, inchaço no local da picada e mal-estar generalizado. Se não tratada, a doença pode evoluir para a fase crônica, onde o parasita se instala principalmente no coração e no trato digestivo, resultando em complicações sérias como miocardiopatia chagásica (que pode causar insuficiência cardíaca, arritmias e morte súbita) e alterações digestivas, como megaesôfago e megacólon, que levam a dificuldades para engolir e constipação severa (Silva et al., 2022).
Os determinantes sociais desempenham um papel fundamental na perpetuação da doença de Chagas. A doença está intimamente associada à pobreza, especialmente em áreas rurais onde o contato com o vetor é mais frequente devido às condições precárias de moradia, como casas de barro e palha, que são propícias ao alojamento do barbeiro. Além disso, o acesso limitado a serviços de saúde impede que muitas pessoas recebam diagnóstico e tratamento adequados. Em muitos casos, os indivíduos infectados permanecem sem diagnóstico por anos, até que apresentem sintomas avançados da fase crônica, momento em que o tratamento se torna menos eficaz (Cardoso et al., 2018).
Embora haja tratamento disponível, o benznidazol e o nifurtimox são os principais medicamentos utilizados contra a doença de Chagas, mas sua eficácia é maior na fase aguda. Na fase crônica, o tratamento pode desacelerar a progressão da doença, mas não a cura completamente. Além disso, o tratamento é frequentemente longo e pode causar efeitos colaterais significativos, o que representa outro desafio, especialmente em populações vulneráveis que podem ter dificuldade em aderir ao regime terapêutico (Silva et al., 2022).
Portanto, a complexidade da doença de Chagas vai além dos aspectos biológicos, refletindo uma questão estrutural de desigualdade e vulnerabilidade social. Para alcançar o controle eficaz da doença, são necessárias políticas públicas integradas que abranjam desde o controle do vetor até o fortalecimento dos sistemas de saúde, com foco na ampliação do acesso ao diagnóstico precoce, tratamento adequado e medidas preventivas em populações de risco (Cardoso et al., 2018).
LEISHMANIOSE
A leishmaniose visceral (LV), também conhecida como calazar, é uma doença infecciosa causada por protozoários do gênero Leishmania, sendo transmitida ao ser humano pela picada de mosquitos fêmeas infectadas do gênero Phlebotomus ou Lutzomyia (conhecidos como flebotomíneos ou “mosquito-palha”). A LV é predominante em regiões tropicais, subtropicais e temperadas, e afeta, sobretudo, áreas rurais e periurbanas de países em desenvolvimento. A estimativa global de incidência é de 200 a 400 mil novos casos por ano, o que a classifica como uma das doenças negligenciadas mais preocupantes, especialmente em regiões da África, Ásia, América Latina e, particularmente, no Brasil (Igor et al., 2021).
A LV afeta predominantemente crianças e indivíduos imunocomprometidos, como aqueles com HIV/AIDS. A manifestação clínica da doença é variada, podendo ser assintomática ou evoluir para quadros graves e letais, se não tratada a tempo. Os sintomas típicos incluem febre prolongada, aumento do fígado e do baço (hepatoesplenomegalia), perda de peso, fraqueza e pancitopenia (diminuição das células do sangue: hemácias, leucócitos e plaquetas). A pancitopenia resulta em anemia, susceptibilidade a infecções e hemorragias, agravando o quadro clínico (Aguiar; Rodrigues, 2017).
O diagnóstico precoce é crucial, pois a LV é uma doença progressiva, e, sem tratamento adequado, a taxa de mortalidade pode chegar a 90% dentro de dois anos. As formas graves da doença, que se manifestam com insuficiência hepática e renal e infecções secundárias, podem ser fatais, especialmente em contextos onde o acesso a cuidados de saúde é limitado. O tratamento da leishmaniose visceral inclui o uso de antimoniais pentavalentes, como a glucantime, e medicamentos mais recentes, como a anfotericina B lipossomal, que tem se mostrado eficaz, especialmente em casos resistentes ou em pacientes com co-infecções como o HIV. No entanto, o tratamento ainda enfrenta desafios como toxicidade, alto custo e dificuldade de acesso em áreas endêmicas. O controle da leishmaniose visceral também exige uma abordagem integrada, incluindo o controle do vetor, a proteção de cães, que atuam como reservatórios da doença, e a melhoria das condições de saneamento (Igor et al., 2021).
No Brasil, a leishmaniose visceral tem se expandido para áreas urbanas nos últimos anos, representando um desafio crescente para a saúde pública. Além da disseminação em zonas periurbanas e rurais, há uma maior dificuldade no controle da transmissão devido à falta de recursos e à subnotificação dos casos, especialmente em populações mais vulneráveis. Dessa forma, são necessárias estratégias mais efetivas que aliem educação em saúde, controle ambiental e acesso a tratamento para reduzir a incidência e os impactos da doença (Aguiar; Rodrigues, 2017).
HANSENÍASE
A hanseníase, também conhecida como lepra, é uma doença infecciosa crônica causada pelo bacilo Mycobacterium leprae. Essa enfermidade afeta principalmente a pele, os nervos periféricos, as mucosas e os olhos. Embora a hanseníase tenha sido historicamente associada a estigmas e preconceitos, hoje sabe-se que é uma doença tratável, com transmissão que ocorre de maneira relativamente baixa, através do contato próximo e prolongado com uma pessoa infectada. A hanseníase ainda é um problema de saúde pública em muitos países, especialmente em regiões tropicais e subtropicais. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), existem cerca de 200 mil novos casos diagnosticados anualmente em todo o mundo. O Brasil ocupa a segunda posição em número de casos, atrás da Índia, e a doença tem uma prevalência maior em populações vulneráveis, onde as condições sociais e econômicas podem contribuir para sua propagação (Souza, 2012).
Os sintomas da hanseníase podem variar amplamente, dependendo da forma clínica da doença. Na forma tuberculóide, caracterizam-se por lesões cutâneas secas e hipoestésicas (com diminuição da sensibilidade), que podem ter bordas bem definidas. Os nervos periféricos afetados podem apresentar dor e fraqueza muscular. Na forma lepromatosa, as lesões cutâneas são mais disseminadas, incluindo nódulos e manchas avermelhadas, além de um maior comprometimento dos nervos periféricos, o que pode levar a deformidades. A forma indeterminada apresenta manchas claras na pele que podem ou não progredir para outras formas, com sensibilidade alterada (Oliveira et al., 2015).
O diagnóstico é realizado por meio da avaliação clínica e, em alguns casos, pela realização de biópsias de pele ou testes laboratoriais para identificar o bacilo. A hanseníase é tratável com a terapia medicamentosa conhecida como poliquimioterapia (PQT), que é fornecida gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil. O tratamento consiste em uma combinação de antibióticos, geralmente rifampicina e dapsone, e, em alguns casos, clofazimina, que deve ser administrada por um período que varia de seis meses a um ano, dependendo da forma da doença. O tratamento é eficaz e, após algumas semanas, o paciente deixa de ser contagioso (Cortela, 2020).
O controle da hanseníase envolve a detecção precoce e o tratamento imediato dos casos, além de estratégias educativas para combater o estigma associado à doença. A informação sobre a transmissão e a disseminação de conhecimentos sobre os sinais e sintomas são essenciais para encorajar a busca por tratamento. Campanhas de conscientização têm sido implementadas em várias regiões, visando à redução do número de novos casos e à promoção de um ambiente de acolhimento para os portadores da doença (Silveira et al., 2013).
Em conclusão, a hanseníase é uma doença que, apesar de tratável e curável, ainda carrega um forte estigma social. É fundamental que a sociedade reconheça a hanseníase como uma condição médica que pode ser tratada com sucesso, permitindo que os indivíduos afetados vivam plenamente sem discriminação. A continuidade dos esforços de controle e prevenção, combinados com políticas de saúde pública que promovam a inclusão e a educação, são cruciais para a erradicação da hanseníase como problema de saúde pública.
TUBERCULOSE
A tuberculose (TB) é uma doença infecciosa causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis. Ela afeta principalmente os pulmões (TB pulmonar), mas também pode atingir outros órgãos, como os rins, a coluna e o cérebro (TB extrapulmonar). Se não tratada adequadamente, a tuberculose pode ser fatal. A transmissão da TB ocorre pelo ar, quando uma pessoa com TB ativa nos pulmões tosse, espirra ou fala, liberando gotículas que contêm a bactéria. Essas gotículas, quando inaladas por outras pessoas, podem causar infecção. No entanto, nem todos os infectados desenvolvem a doença. Existem duas formas de infecção por TB: a TB latente e a TB ativa. Na TB latente, a bactéria está presente no corpo, mas o sistema imunológico consegue controlá-la, de modo que a pessoa não apresenta sintomas e não transmite a doença. Já na TB ativa, a bactéria se multiplica, causando sintomas, e a pessoa infectada pode transmitir a doença a outros. Os principais sintomas da TB ativa incluem tosse persistente (por três semanas ou mais), tosse com sangue ou catarro, dor no peito, fadiga, perda de peso involuntária, febre, suor noturno e perda de apetite (Nogueira, 2012).
O diagnóstico da tuberculose pode ser feito por meio de diferentes exames, como o teste tuberculínico (ou teste de Mantoux), no qual uma pequena quantidade de tuberculina é injetada sob a pele para observar a reação. Também existem exames de sangue, como os testes de liberação de interferon-gama (IGRAs), que detectam a presença da bactéria no sangue. Radiografias de tórax são usadas para verificar anormalidades nos pulmões, amostras de escarro (muco dos pulmões) podem ser testadas para a presença da bactéria. O tratamento da TB é feito com antibióticos e, embora seja longo (geralmente seis meses), a tuberculose é tratável e curável. O regime padrão inclui medicamentos como isoniazida, rifampicina, etambutol e pirazinamida. É essencial que o tratamento seja concluído para evitar o desenvolvimento de TB resistente a medicamentos (Martins et al., 2020).
A TB resistente a medicamentos surge quando a bactéria não responde aos antibióticos tradicionais. Casos de tuberculose multirresistente (TB-MDR) e de tuberculose extensivamente resistente (TB-XDR) são mais difíceis de tratar e exigem tratamentos mais prolongados e complexos. A prevenção da tuberculose pode ser feita por meio da vacinação com a BCG, que oferece proteção, especialmente em crianças. Além disso, medidas de saúde pública, como a detecção precoce e o tratamento de casos ativos, o uso de máscaras e a ventilação adequada de ambientes, ajudam a evitar a transmissão. O tratamento de pessoas com TB latente, principalmente aquelas em grupos de risco, também pode prevenir o desenvolvimento da forma ativa da doença. Apesar de ser uma preocupação de saúde pública, especialmente em países de baixa e média renda, a tuberculose é uma doença evitável e tratável com o devido cuidado médico (Nogueira, 2012).
DENGUE
A dengue é uma infecção viral transmitida por mosquitos, especialmente o Aedes aegypti, comum em regiões tropicais e subtropicais. A doença pode ser leve ou grave, e os sintomas incluem febre alta, dor de cabeça intensa, dor atrás dos olhos, dores nas articulações e músculos, erupções cutâneas e pequenos sangramentos, como nas gengivas ou fácil formação de hematomas. Em casos mais severos, pode evoluir para formas como a Febre Hemorrágica da Dengue ou a Síndrome do Choque da Dengue, que podem ser fatais (Durán et al., 2010).
A transmissão ocorre quando um mosquito pica uma pessoa infectada e, posteriormente, pica outra pessoa, espalhando o vírus. Esses mosquitos são mais ativos durante o dia, especialmente no início da manhã e no fim da tarde. Como não existe tratamento antiviral específico para a dengue, a prevenção é fundamental. Isso inclui o uso de repelentes, roupas que cubram o corpo e a eliminação de focos de água parada, onde os mosquitos se reproduzem. Em alguns países, há vacinas disponíveis para grupos específicos da população, mas elas ainda não são amplamente utilizadas. O tratamento da dengue é baseado no alívio dos sintomas e na prevenção de complicações, com foco na hidratação e no controle da febre, usando medicamentos como paracetamol. Deve-se evitar anti-inflamatórios como ibuprofeno ou aspirina, que aumentam o risco de sangramento (Biassoti et al., 2017).
A dengue pode ter diferentes níveis de gravidade, e a recuperação varia de alguns dias a semanas, dependendo da resposta do corpo e da gravidade da infecção. Nos casos mais graves, é essencial o monitoramento hospitalar para evitar complicações fatais, como o choque hemorrágico. A dengue é causada por quatro tipos diferentes de vírus, e a infecção por um deles gera imunidade para aquele tipo específico, mas não para os outros. Assim, é possível contrair dengue mais de uma vez, e infecções subsequentes podem aumentar o risco de formas graves da doença. A chave para reduzir a incidência da dengue está na eliminação dos focos de reprodução do mosquito, conscientização da população e melhorias nas condições de saneamento e controle de vetores. (Maciel et al., 2008).
MALÁRIA
A malária é uma doença infecciosa transmitida pela picada de mosquitos do gênero Anopheles, que carregam parasitas do gênero Plasmodium. Os principais tipos de parasitas que causam malária em humanos são P. falciparum, P. vivax, P. ovale, P. malariae e, em alguns casos, P. knowlesi. A doença é comum em regiões tropicais e subtropicais, especialmente na África, Ásia e América Latina. A transmissão ocorre quando um mosquito infectado pica uma pessoa e injeta os parasitas na corrente sanguínea. Esses parasitas viajam até o fígado, onde se multiplicam antes de invadir os glóbulos vermelhos, causando os principais sintomas da malária. Os sintomas geralmente aparecem entre 10 e 15 dias após a picada do mosquito e incluem febre alta, calafrios, dor de cabeça, náuseas, vômitos, dores musculares, cansaço e anemia, devido à destruição dos glóbulos vermelhos (Samesima, 2019).
Em casos graves, podem ocorrer complicações como insuficiência renal, problemas respiratórios e coma. A malária causada pelo Plasmodium falciparum é a mais perigosa e pode ser fatal se não for tratada rapidamente. O diagnóstico é feito por exames de sangue, que detectam a presença do parasita, e o tratamento depende do tipo de malária e da gravidade da infecção. Os antimaláricos mais utilizados incluem a artemisinina e seus derivados, além de outros medicamentos como cloroquina e mefloquina, dependendo da região e da resistência dos parasitas. Nos casos graves, o tratamento deve ser feito em hospital, com medicamentos intravenosos e suporte intensivo. A prevenção é essencial e inclui o uso de mosquiteiros impregnados com inseticida, repelentes, roupas protetoras, além da pulverização de inseticidas e drenagem de áreas alagadas para reduzir os criadouros de mosquitos. (Lima, 2019).
Em regiões endêmicas, o uso de medicamentos preventivos, como a quimioprofilaxia, é recomendado para viajantes e populações locais. Recentemente, foi desenvolvida uma vacina contra a malária, a RTS, S/AS01, que oferece proteção parcial contra o Plasmodium falciparum e está sendo distribuída em alguns países africanos. A malária continua sendo uma das principais causas de mortalidade em regiões da África Subsaariana, especialmente entre crianças menores de cinco anos. O controle e a erradicação da malária são prioridades para organizações de saúde global, que buscam aumentar o acesso a diagnósticos, tratamento, vacinas e medidas preventivas para reduzir o impacto da doença no mundo (Samesima, 2019).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nos últimos anos, as doenças negligenciadas passaram por avanços significativos, com melhorias na quantidade e qualidade de métodos diagnósticos, inovações em tratamentos, surgimento de vacinas e novas pesquisas sobre essas infecções. No caso da dengue, por exemplo, novas vacinas apresentam eficácia de até 80%, e a introdução de bactérias nos mosquitos conseguiu reduzir sua capacidade de transmissão do vírus em 77%.
Entretanto, o desinteresse do mercado em investir no combate a essas doenças, especialmente devido ao baixo retorno financeiro, faz com que os avanços ocorram de maneira mais lenta, sem acompanhar a evolução da medicina e da tecnologia. Enquanto isso, milhões de pessoas continuam a ser infectadas e a morrer ao redor do mundo, principalmente em populações de baixa renda. No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece tratamento gratuito para doenças negligenciadas, mas desafios como desinformação, dificuldade de acesso em locais remotos e estigmas sociais ainda persistem.
O estigma associado a doenças como hanseníase e tuberculose é particularmente relevante na abordagem dessas infecções. Muitas pessoas não procuram atendimento médico por vergonha ou medo de serem diagnosticadas, o que pode levar a diagnósticos tardios ou até mesmo à não identificação da doença. Aqueles que descobrem a infecção frequentemente enfrentam sentimento de culpa, isolamento social e preconceito, o que pode resultar no abandono do tratamento, causando sequelas e até mesmo a morte. Portanto, campanhas informativas são essenciais para reverter esse quadro, juntamente com o apoio psicológico, para garantir que os infectados possam realizar o tratamento e ter uma melhor qualidade de vida.
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1Graduando pela Universidade Santo Amaro. São Paulo- SP. gabyalaby@gmail.com;
2Graduando pela Universidade Santo Amaro. São Paulo- SP. jose.oliveirafernandes902@gmail.com;
3Graduando pela Universidade Santo Amaro. São Paulo- SP. viannapontes@gmail.com;
4Graduando pela Universidade Santo Amaro. São Paulo- SP. saahveinberg1@gmail.com;
5Graduando pela Universidade Santo Amaro. São Paulo- SP. bsalbuquerque3@gmail.com;
6Graduando pela Universidade Santo Amaro. São Paulo- SP. Manuela.colunna@gmail.com;
7Médico pela Universidade Santo Amaro. São Paulo- SP. anacp31@hotmail.com;
8Graduando pela Universidade Santo Amaro. São Paulo- SP. Juliana@maxpreel.com.br;
9Graduando pela Universidade Santo Amaro. São Paulo- SP. Nicollehorie@gmail.com;
10Graduando pela Universidade Santo Amaro. São Paulo- SP. dani-latorre@hotmail.com;
11Graduando em Medicina;
12Enfermeira pela UFCG – Campus Cajazeiras – PB. Cajazeiras – PB. damarysmoraisenf@gmail.com;
13Graduando de Medicina