DERMATOFITOSE EM FELINO ASSOCIADO A ZOONOSE: RELATO DE CASO

REGISTRO DOI:10.69849/revistaft/pa10202407302123


Dâmaris Carolini Teodoro Alves Costa1


Resumo.

O presente estudo tem como objetivo discorrer sobre um estudo de caso acerca da dermatofitose em felino associado a zoonose em humanos. Constatou-se que a dermatopatias que acometem animais apresentam elevada relevância clínica, tanto pela alta incidência, quanto pela preocupação dos proprietários, uma vez que os sinais clínicos são perceptíveis e, na maioria das vezes, causam incômodo. A metodologia apresentada trata-se de um estudo de caso sobre a dermatofitose em felino associado a zoonose em humanos. O estudo é importante evidencia-se a importância dos cuidados com a transmissão das zoonoses, especialmente as dermatofitoses, e da necessidade de informação aos proprietários sobre os perigos ocasionados por essa zoonose. Entretanto cabe ao proprietário ter consciência que seu animal necessita de cuidados e que o tratamento deve ser realizado até o final da prescrição. Contudo, fica clara a importância do médico veterinário na pesquisa dessas doenças de forma comparativa, e não isolada em uma única espécie, no diagnóstico e tratamento, assim como na orientação dos proprietários quanto aos riscos e prevenção da transmissão para outros animais contactantes e, principalmente, para o ser humano.

Palavras-chave: Dermatófito, Felino, Zoonose, Microsporum canis

Introdução

De acordo com Cavalcante et al., (2003) as dermatofitoses são um grupo de micoses cutâneas produzidas por fungos, do gênero Microscoporum spp., Epidermophyton spp. e Trichophyton spp. Os dermatófitos existem em todo mundo e podem ser divididos em três grupos com base em seu habitat natural em: geofílico, normalmente habitando o solo; zoofílico, sendo mais adaptado aos animais e antropofílico mais adaptados aos seres humanos.

Nesse sentido, Pena (2006) destaca dermatofitoses são infecções superficiais causadas por fungos dermatófitos, capazes de colonizar e causar lesões em tecidos queratinizados, como estrato córneo da pele, pelos e unhas de animais e seres humanos.

As zoonoses são definidas como doenças transmitidas naturalmente entre animais e o homem (PAIXÃO et al., 2001).

Em gatos, as lesões causadas pela dermatofitose são descamação e crostas sem ou com alopecia, sendo esta focal, difusa ou generalizada, podendo os pelos ficarem tonsurados. Além disso, a pele pode sofrer hiperpigmentação (CAVALCANTI et al., 2003).

É considerada uma enfermidade com alto potencial zoonótico, ocasionando alopecia, eritema, crostas e prurido. (LIMA et al., 2016).

O modo de transmissão ocorre por pentes, escovas, cortadores, camas, caixas de transporte e todo o material associado à tosa, manutenção e movimentação do animal em casa são fontes potenciais de infecção e reinfecção (PALUMBO, et al., 2011).

Vale lembrar que o diagnóstico deve ser baseado no histórico clínico do animal, exame físico, exame com luz ultravioleta, coleta de material como pelos, escamas ou garras para análise microscópica e cultura fúngica, a fim de identificar o agente (BALDA, 2016).

No que se refere ao tratamento em casos de dermatofitoses localizadas podem ser tratados com produtos tópicos à base de derivados imidazólicos (pomadas, loções e cremes) e xampus à base de princípios antifúngicos como cetoconazol ou miconazol, associados ou não ao clorexidine. Porém, nos casos generalizados, deve ser associada terapia sistêmica antifúngica (BALDA, 2016).

Material e métodos

No dia 20 de novembro de 2023 foi atendido no Hospital Veterinário Faculdade Anclivepa – Porto Alegre – RS, um animal advindo da cidade de Porto Alegre – RS, da espécie felina, fêmea, não castrada, sem raça definida, com quatorze anos de idade, pesando 2 kg. A tutora descreveu como queixa principal alopecias, animal se coça, há aproximadamente dois meses. A tutora relatou que apareceram manchas avermelhadas circulares pelo corpo (Figura 02) e muita coceira no local.

Sobre a alimentação atual do animal, a tutora oferece ração seca, mas não soube informar o nome da marca, a ingestão hídrica está normal, urina de cor amarelada, quantidade e frequência normais.

Ao exame físico, já na inspeção geral observou-se, alopecias, crostas secas, escamação, em pescoço ventral, membro anterior direito e esquerdo, região frontal do crânio, narina, orelhas. Como observado em (Figura 01: A. B. C. D).

Figura 1: A.B.C.D: Paciente na primeira consulta no setor de Dermatologia do Hospital Veterinária Faculdade Anclivepa – Porto Alegre- RS, no dia 20 novembro de 2023. Observa se alopecias em membro torácicos, região do pescoço, e face.

Fonte: Acervo pessoal.

A tutora relata que a dois meses está com uma mancha avermelhada em abdômen e que coçava muito. (Figura 02).

Figura 02: Tutora da paciente, na primeira consulta no setor de Dermatologia do Hospital Veterinária Faculdade Anclivepa – Porto Alegre- RS, no dia 20 de novembro de 2023. Observa se lesão em pele com formato de anel, com bordos avermelhados

Fonte: Acervo pessoal.

Os parâmetros do paciente, dentre eles, a frequência cardíaca 126 bpm, frequência respiratória 30 mpm, temperatura corpórea 38 °C, mucosas normocoradas, TPC < 2, pulso forte e rítmico e apresentava-se normohidratado.

Na palpação dos linfonodos submandibulares, pré-escapulares e poplíteos, constatou-se que estavam com tamanhos normais e que o animal estava livre de algia em palpação abdominal.

Para o diagnóstico diferencial a fim da avaliação geral e fechamento de diagnóstico do paciente, foram solicitados exames complementares laboratoriais como: hemograma e bioquímica sérica (uréia, creatinina, gama glutamil transferase, alanina aminotransferase), aplicação da Lâmpada de Wood, cultura fúngica.

Os exames laboratoriais de hemograma e bioquímico tiveram como resultados números satisfatórios e dentro da referência, segundo o laboratório de Patologia Clínica.

Realizado na consulta aplicação da Lâmpada de Wood, em que é aplicada na região afetada uma luz UV de baixo comprimento de onda para verificar se há emissão de fluorescência, já que alguns fungos reagem na presença da luz. Tendo o resultado positivo. (Figura 03).

Figura 03: A. B. C: Paciente na primeira consulta no setor de Dermatologia do Hospital Veterinária Faculdade Anclivepa – Porto Alegre- RS, no dia 20 novembro de 2023. Observa se resultado de fluorescência positiva em cor verde – amarelada em lesões na pele.

Fonte: Acervo pessoal.

Foram realizadas retiradas de pelos das lesões e encaminhados para o laboratório de micrologia, para cultura fúngica, com suspeita inicial de dermatomicose.

O exame de cultura fúngica tive como resultados, positivo para Microsporum canis. (Figura 04).

Figura 04: Exame de cultura fúngica da paciente, após consulta no setor de Dermatologia do Hospital Veterinária Faculdade Anclivepa – Porto Alegre- RS. Observa se resultado resultados, positivo para Microsporum canis.

Fonte: Acervo pessoal.

Como já foi descrito, o diagnóstico baseia-se nos sinais clínicos, histórico do animal e exames complementares laboratoriais, os quais revelaram dermatofitose.

O tratamento instituído foi o terapêutico, prescrevendo Itraconazol 25 mg/kg via oral (VO) uma vez ao dia (SID) durante trinta dias e aplicação por todo pelo e lesões de Cetoconazol 2% spray um vez por semana, por trinta dias, sendo marcado o retorno em aproximadamente trinta dias. O retorno ao HV foi no dia 20 de dezembro de 2023, o animal estava pesando 2,5 kg. Na anamnese de retorno, a tutora relatou que o animal não apresentou coceiras, teve crescimento dos pelos nas regiões de alopecias, relatou normofagia, normodipsia e normoúria, foi realizado exame físico no paciente, não sendo observado nenhuma alteração. Realizado nova coleta de matérias para cultura fúngica.

Tutora relata que procurou atendimento médico e foi realizado tratamento derivados de imidazólicos. Relata que lesão desapareceu.

Conclui se o paciente apresentou melhora após fim do tratamento, realizado aplicação da Lâmpada de Wood sobre a pele do animal, sendo negativo para emissão de fluorescência, os resultados das culturas fúngicas sendo negativas, uma após trinta dias do tratamento e outro após quarenta e cinco dias do tratamento. Observado na (Figura 05: A.B.C.D).

Figura 05: A.B.C.D Paciente no retorno após tratamento, no setor de Dermatologia do Hospital Veterinária Faculdade Anclivepa – Porto Alegre. Observa se paciente sem alopecias pelo corpo.

Fonte: Acervo pessoal.

Resultados e discussão

De acordo com o estudo de caso relatado no que diz respeito a dermatofitose em felino associado a zoonose em humanos. Pode ser destacado diagnóstico deve ser baseado no histórico clínico do animal, exame físico, exame com luz ultravioleta, coleta de material como pelos, escamas ou garras para análise microscópica e cultura fúngica, a fim de identificar o agente.

Em seres humanos, os sinais clínicos também são variáveis e a maioria das lesões ocorre em regiões do corpo que entraram em contato com animais infectados como por exemplo membros superiores, couro cabeludo e tronco.

Nesse sentido de acordo com Neves al., (2011) lesões podem ser não inflamatórias (áreas alopécicas arredondadas, descamativas e com pelos quebradiços) ou inflamatórias (áreas eritematosas com alopecia, descamação, crostas e formação de pústulas).Corroborando as ideias acima para Moriello (2004) o diagnóstico das dermatofitoses, a lâmpada de Wood é uma importante ferramenta, principalmente quando o agente etiológico é o M. canis, uma vez que a pele e os pelos podem manifestar fluorescência amarelo-esverdeada sob a luz ultravioleta direta, contribuindo na seleção dos pelos para exame tricográfico, cultura fúngica e controle de tratamento.

No que refere ao tratamento Balda (2016) destaca que a fluorescência ocorre, pois o M. canis produz metabólitos do triptofano, permitindo essa reação sob a luz ultravioleta, em 50 a 70% dos casos.

Uma observação importante destacada por Cafarchia et al., (2006) a utilização da lâmpada de Wood pode gerar resultados falso positivos quando outras substâncias estiverem presentes nos pelos. E falso-negativos, uma vez que cerca de 50% das espécies de M. canis e outros dermatófitos não emitem fluorescência quando submetidos a esta modalidade de radiação ultravioleta.

Contudo, o cultivo micológico é o teste de eleição para diagnosticar dermatofitose, pois permite a identificação do gênero e espécie do agente etiológico. Com base nos sinais clínicos do animal, foram realizados raspados das lesões e encaminhados para o laboratório de micrologia, para cultura fúngica, com suspeita inicial de dermatomicose. Assim, de acordo o estudo de caso e relatos da tutora do animal, vale ressaltar que no que diz respeito ao diagnóstico e tratamento a tutora relatou que o animal não apresentou coceiras, teve crescimento dos pelos nas regiões de alopecias, a tutora relatou ainda que foi realizado exame físico no paciente, não sendo observado nenhuma alteração e quando procurou atendimento médico e realizado tratamento com derivados imidazólicos por trinta dias e assim, a lesão desapareceu.

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