DERIVADOS CANABINÓIDES EM TRATAMENTOS FARMACOLÓGICOS PARA CONTROLE DA DOR

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7195942


Autoras:
Vitória Régia da Silva Almeida1
Tamyssa Simões2


RESUMO

Introdução: Conceituar o que é a Cannabis sativa, sua utilização nos meios de pesquisa para fins terapêuticos. O canabinóides como derivado da Cannabis sativa  e seus principais compostos ativos, o impacto que esses fármacos causaram na economia do Brasil e o ano em que a ANVISA incorporou a Cannabis sativa como planta medicinal na lista das Denominações Comuns Brasileiras (DCB). Descrevendo o grau de significância desses derivados para o controle da dor Objetivo: É descrever o uso de derivados farmacológicos a base de Cannabis sativa através da revisão de literatura. Método:estudo descritivo do tipo revisão de integrativa da literatura. Fonte de pesquisa; BVS,Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (Medline), Banco de dados em Enfermagem (BDENF) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs). Resultados: Após aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, a amostra do estudo foi composta por 12 artigos, filtrados entre os anos de 2017 a 2022, onde estes estudos abordam o uso de derivados canabinóides como tratamento para controle de dor. Conclusão: A Cannabis sativa é uma planta com um poder grande para diversos fins terapêuticos, sendo um deles a dor. Pouco se pode provar sobre sua eficácia, mas há muito o que explorar dos derivados desta erva. Mesmo com todo o pré-conceito que a envolve, ela se mostra promissora na terapia analgésica em diferentes dores crônicas.

Palavras-chave: Cannabis sativa; Dor, Uso medicinal; Endocanabinoides.

ABSTRACT

Introduction: Conceptualize what is Cannabis sativa, its use in research for therapeutic purposes. Cannabinoids as a derivative of Cannabis sativa and its main active compounds, the impact that these drugs had on the Brazilian economy and the year in which ANVISA incorporated Cannabis sativa as a medicinal plant in the list of Brazilian Common Denominations (DCB). Describing the degree of significance of these derivatives for pain control Objective: To analyze the use of pharmacological derivatives based on Cannabis sativa through literature review. Method: descriptive study of the integrative literature review type. Research source; VHL, Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (Medline), Nursing Database (BDENF) and Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences (Lilacs). Results: after applying the inclusion and exclusion criteria, the study sample consisted of 12 articles, filtered between the years 2017 to 2022, where these studies address the use of cannabinoid derivatives as a treatment for pain control. Conclusion: Cannabis sativa is a plant with great power for several therapeutic purposes, one of them being pain. Little can be proved about its effectiveness, but there is much to explore from the derivatives of this herb. Even with all the preconception that surrounds it, it shows promise in analgesic therapy in different chronic pains.

Keywords: Cannabis sativa; Pain, Medicinal use; Endocannabinoids.

INTRODUÇÃO

Cannabis Sativa, também conhecida por vários nomes populares (Maconha, erva, marijuana, cânhamo, haxixe, bagha, entre outros) é uma planta da família das Canabiáceas, Biologicamente, a Cannabis faz parte do gênero de plantas angiospermas que produzem flor, cultivada em várias regiões de todo o mundo, a Cannabis atualmente refere-se a drogas psicoativas e medicamentos derivados da planta (CARNEIRO, 2018).

Os canabinóides naturais são derivados da planta Cannabis sativa, que possui como principais compostos ativos o delta-9-tetrahidrocanabinol (Δ⁹-THC), o canabinol (CBD) e o tetrahidrocanabivarin. O mecanismo de ação dos canabinóides baseia-se na ativação do sistema endocanabinoide, através de receptores canabinóides, que resulta na liberação de neurotransmissores, com destaque para o glutamato. No sistema nervoso são encontrados dois tipos de receptores canabinóides, o CB1, predominante no sistema nervoso central, e o CB2, que constitui o principal receptor nos tecidos periféricos (CAMARGO, 2019).

Os medicamentos à base dos compostos canabinóides vem sendo considerado como uma alternativa promissora para o tratamento de inúmeras morbidades em muitos países. No Brasil, a introdução destes fármacos ainda é recente e os seus impactos sobre a saúde encontra em processo de formulação no âmbito das políticas públicas. Nesta perspectiva, mesmo existindo inúmeras evidências científicas sobre o potencial terapêutico da Cannabis, os desafios para conseguir acesso às terapias têm se mostrado latentes tanto para as famílias, quanto para os pacientes que dependem destes medicamentos (VIEIRA, 2020).

No ano de 2017, no Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) incorporou a Cannabis sativa como planta medicinal na lista das Denominações Comuns Brasileiras (DCB) por meio da resolução de diretoria colegiada – RDC Nº 156, de 5 de maio de 2017.  Tal lista contém várias substâncias, plantas medicinais e princípios ativos de grande relevância para a indústria farmacêutica no país. Isso não quer dizer que a medida modificou as regras referente a maconha no Brasil, mas oficializa a Cannabis Sativa como planta medicinal e/ou como insumo de medicamentos com registro, por meio de algumas pesquisas científicas realizadas (LIMA, 2021).

Atualmente, o uso da Cannabis com objetivo terapêutico tem aumentado significativamente sendo indicado para as mais variadas doenças e sintomas, como dor crônica, náusea e vômito induzidos pela quimioterapia, esclerose múltipla, anorexia nervosa, ansiedade, demência, distonia, doença de Huntington, doença de Parkinson, transtorno de estresse pós-traumático, psicose, síndrome de Tourette, epilepsia, além da Doença de Alzeimer (MORAES, 2022).

A C.  sativa pode interagir com o sistema  endocanabinóide,  mas  com uma ação distinta.  Ele exibe uma variedade de ações, incluindo efeitos  anti-epilético,  anti-inflamatório, sedativo,  antipiscótico,  hipnótico,  antio-xidante e propriedades neuroprotetoras.  A planta inalada ou digerida desencadeia um relaxamento corporal como se fosse uma anestesia e ameniza a dor (SILVAFORTUNA, 2017).

A Cannabis também se mostrou efetiva em potencializar os efeitos analgésicos de agonistas opióides e anti-inflamatórios não esteroidais, além de representar uma opção para aqueles pacientes que não respondem aos analgésicos existentes no mercado. É importante ressaltar que juntamente com os efeitos analgésicos da Cannabis, há a ocorrência de efeitos psicomiméticos, como sedação (SUNAGA, 2018).

As drogas farmacêuticas disponíveis são purificadas apenas com CBD, ou formulações contendo THC, conhecidas como full spectrum. Quanto mais THC o medicamento contém, mais psicoativo ele outros extratos sem o THC, conhecida como broad spectrum, ou será, o que torna imperativo ajustar as doses equivalentes de CBD e THC para minimizar os efeitos contendo CBD, outros extratos e o deletérios deste último composto (MARIANO, 2021).

É de amplo conhecimento científico que os canabinoides possuem ativação bioquímica de eficácia conjunta, atuando melhor no corpo humano quando o consumo da planta ocorre “in natura”, ou seja, quando são utilizados na modalidade “full spectrum” (espectro completo). Isto é, a planta autêntica e íntegra, em suas variadas formas: pela combustão, ingestão, vaporização, resignação, etc, atuando em todo o corpo humano (ANTUNES, 2022).

Neste contexto, os efeitos dos derivados de canabinóide através de tratamentos farmacológicos têm um alto potencial terapêutico para o controle da dor. Consequentemente, o objetivo deste trabalho é descrever o uso de derivados farmacológicos a base de Cannabis sativa através da revisão de literatura.

MÉTODO

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, que buscou identificar o potencial terapêutico de derivados canabinóides para controle da dor. Para o desenvolvimento desta revisão integrativa, foram adotados os passos metodológicos preconizados por Mendes, Silveira e Galvão (2019): 1) Elaboração da pergunta da revisão; 2) Busca e seleção dos estudos primários; 3) Extração de dados dos estudos; 4) Avaliação crítica dos estudos primários incluídos na revisão; 5) Síntese dos resultados da revisão e 6) Apresentação do método.

A questão norteadora “Qual a eficácia dos medicamentos derivados de canabinóides para o controle da dor?” foi elaborada com a aplicação da estratégia PICo (conforme detalhado na figura 1), a saber, P- população/paciente: derivados canabinóides; I – Intervenção: Controle da dor; Co: Contexto: terapêutico.

Quadro 1 – Formulação da questão norteadora com base na estratégia PICo. Maceió – AL, 2022.

P –  PopulationDerivados canabinóides
I –  InterventionControle da dor
Co – ContextoTerapêutico
Fonte: Autores, 2022.

Os artigos, fundamentais no aprofundamento do tema, com levantamento de dados científicos para análise e interpretação dos resultados, foram selecionados no período de março de 2022, nas seguintes bases de dados: Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (Medline), Banco de dados em Enfermagem (BDENF) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs).

Foram critérios para inclusão dos artigos pré-selecionados, artigos científicos, disponíveis na íntegra, publicados no período de 2017 a 2022, no idioma português.

Foram utilizados, para levantamento dos artigos, os descritores (DeCs), em português, sendo: Cannabis sativa; Dor, Uso medicinal; Endocanabinoides. Foi critério de exclusão: duplicidade de artigos.

Foram encontrados, com a estratégia de busca (cannabis) 48 artigos científicos que foram analisados a partir do esquema proposto por Barros (2019). Conforme demonstrado na figura 2, após leitura do título, foram selecionados 32 artigos. A partir da leitura do resumo, totalizaram 24 artigos que demonstravam responder à questão norteadora, por conseguinte, após a leitura na íntegra, foram selecionados um total de 13 artigos, contudo, 1 destes artigos foi excluído, por estar repetido nas bases de dados, e por fim, 12 artigos constituíram a amostra desta revisão, conforme demonstrado na (Figura 2).

Figura 2. Sistematização da busca de artigos científicos nas bases de dados LILACS, BDENF E MEDLINE. Maceió – AL, 2022.

Fonte: Autores, 2022.

As informações obtidas a partir dos artigos científicos foram analisadas criticamente, de acordo com o objetivo proposto por esta pesquisa. Os autores usados neste estudo foram devidamente referenciados, respeitando e identificando as fontes de investigação, analisando o vigor ético quanto à característica intelectual dos textos científicos que foram analisados, no que se refere ao uso do conteúdo e da citação das partes das obras examinadas.

RESULTADOS

Essa revisão contou com uma amostra de doze artigos científicos. Os dados extraídos dos artigos selecionados foram interpretados e expostos por meio de um quadro sinóptico, com a descrição dos seguintes aspectos: título, autor(es), periódico/ano, objetivo, metodologia e conclusão, com sua respectiva codificação, conforme aponta o (Quadros 1). Dentre os artigos apresentados, dois foram publicados em 2019, quatro foram publicados em 2020, dois foram publicados em 2021 e cinco em 2022. Abaixo serão expostos os objetivos, metodologias e conclusões dos artigos que compõem este estudo (Quadro 1).

Quadro 1 – Trajetória metodológica da pesquisa nas bases de dados BDENF, LILACS e MEDLINE (2022), matriz de síntese; apresentação das características dos artigos identificados na revisão integrativa.

Título do ArtigoAno de Publicação Base de dadosRevista CientíficaObjetivoMétodoSujeito da PesquisaSíntese dos Resultados
AVALIAÇÃO DOS EFEITOS TERAPÊUTICOS DA CANNABIS E SEUS METABÓLITOS NO TRATAMENTO DA DOR ONCOLÓGICA: UMA REVISÃO  BDENF, 2020Salão do ConhecimentoDescrever os estudos farmacológicos e ensaios clínicos suportam parcialmente o uso dos agentes canabinóides como analgésicos para a dor oncológica.  Trata-se de uma revisão bibliográfica realizada no primeiro semestre de 2020, pelo acesso as bases de dados, Scientific Electronic Library Online (Scielo), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE/Pubmed), Google acadêmico  Pacientes oncológicos que fazem uso de cannabis no tratamento de dorO uso dos agentes canabinóides como analgésicos para a dor oncológica, criando a perspectiva de que os fármacos à base de fitocanabinóides sintéticos possam vir a ser utilizados como adjuvantes no tratamento da dor.  
Uso medicinal da Cannabis em dores crônicas  BDENF, 2022TÓPICOS ESPECIAIS EM CIÊNCIAS DA SAÚDE: TEORIA, MÉTODOS E PRÁTICASDescrever a eficiência do uso da Cannabis sativa para o tratamento da dor crônica. Esse tratamento alternativo para diversos tipos de dores crônicas, proporciona desde a redução da dor, até a melhora da qualidade de vida dos usuários    Trata-se de uma revisão bibliográfica no primeiro semestres de 2020, efetuada nas bases de dados PubMed; Scielo; Google Acadêmico e Lilacs.Pacientes com dores crônicasO uso de  Cannabis sativa está cada vez mais presente no cotidiano dos portadores de dores crônicas como forma de tratamento alternativo para controle da dor.  
USO DA CANNABIS NO TRATAMENTO DA FIBROMIALGIABDENF, 2022REVISTA CIENTÍFICA ELETRÔNICA DE CIÊNCIAS APLICADAS DA FAITApresentar estudos demonstrando o potencial da cannabis no tratamento da fibromialgia.  Estudo de revisões bibliográficas de bancos de dados como Bireme, Pubmed e Scielo, publicados entre 2016 e 2019, durante os meses de Fevereiro e Março de 2020.  Pacientes com fibromialgiaOs estudos encontrados mostraram o efeito benéfico da cannabis em dores crônicas associadas a diversas patologias, incluindo a fibromialgia. A cannabis possui grande potencial como analgésico, como alternativa no arsenal terapêutico para tratamento da fibromialgia.  
Cannabis medicinal como conduta terapêutica: uma revisão integrativaBDENF, 2020Revista Eletrônica Acervo MédicoAnalisar o padrão de prescrição dos compostos de cannabis, relacionando, assim, com o diagnóstico em que foi prescrito  A abordagem metodológica deste estudo propõe uma compilação bibliográfica de pesquisa qualitativa de caráter descritivo a partir de uma revisão integrada da literatura  Pacientes com fibromialgiaFoi observado que a fibromialgia, colite ulcerativa e dor crônica foi prescrito o cannabis com resposta satisfatória. Medicação a base de tetrahidrocanabinol associado com canabidiol.  
Propriedades anti-inflamatórias e analgésicas da cannabis Terpeno Mirceno  MEDLINE, 2022Jornal Internacional de Ciências Moleculares  Analisar o papel do mirceno e do canabidiol (CBD) no controle a inflamação e a dor articular crônica  Estudo transversal, analítico, com abordagem quantitativaPacientes com artriteO mirceno tópico tem o potencial de reduzir a dor crônica da artrite e inflamação.
Terapia de óleo de longo prazo à base de Cannabis e Padrões de prescrição de analgésicos: um estudo observacional italiano  MEDLINE, 2022Revisão Europeia de Ciências Médicas e FarmacológicasAvaliar os efeitos da consumo de óleo à base de cannabis a longo prazo em a distribuição de pacientes com prescrição de analgésicos para dor crônica em uma Clínica de Medicina da Dor Unidade no norte da Itália.Trata-se de um estudo retrospectivo, observacional, no qual pacientes tratados com longo prazo à base de cannabis medicinal óleos, seguidos entre junho de 2016 e julho de 2019Pacientes com dores crônicasOs medicamentos derivados canabinóides, representam um aspecto crucial do processo de tratamento da dor, juntamente com os protocolos de desprescrição.
Cannabis e dor: uma revisão de escopoMEDLINE, 2022Revista Brasileira de AnestesiologiaAvaliar o uso de cannabis em prática clínica no controle da dorTrata-se de uma revisão integrativa da literatura, com base em ensaios clínicosPacientes com dores crônicasMedicamentos à base de cannabis parecem ser mais seguros, tendo efeitos adversos leves comuns, como tontura e euforia; no entanto, há um controle da dor.
Valores e preferências em relação à medicina cannabis entre as pessoas que vivem com dor crônica: métodos mistos revisão sistemática  MEDLINE, 2021Revista BMJ OpenDescrever o uso medicinal da cannabis entre pessoas que vivem com dor crônica.Trata-se de um estudo objetivo exploratório sobre cannabis medicinal entre pessoas que vivem com dor crônica.Pacientes com dores crônicasA variabilidade dos valores e preferências dos pacientes enfatizam a necessidade de considerar cannabis medicinal para dor crônica.  
CONHECIMENTO DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM ACERCA DE FITOTERÁPICOS A BASE DE CANABINOIDES: Uma revisão integrativa  LILACS, 2020Revista SALUSVITARevisar a literatura científica sobre o conhecimento dos profissionais de enfermagem relacionado ao cuidado de pacientes que utilizam à terapia medicamentosa a base de canabinoides.  Revisão integrativa de literatura, buscando reunir resultados e desenvolver uma explicação sobre o tema, com os descritores “Cannabis”, “Maconha” ou “CBD/THC”, combinados com “Enfermagem” ou “Nurse”.  Enfermeiros que atuam no cuidados a pacientes com dores crônicasFornecer uma melhoria na qualidade do ensino relacionado à Cannabis medicinal, buscando garantir uma melhora na qualidade do cuidado para com os pacientes.  
O que as Revisões Sistemáticas Cochrane dizem sobre as intervenções terapêuticas com Cannabis?  LILACS, 2019Diagn TratamentoO presente estudo teve como objetivo avaliar as revisões sistemáticas desenvolvidas pela Cochrane, no que concerne à eficácia dos princípios ativos da Cannabis para tratamento de doenças.  Trata-se de overview de revisões sistemáticas Cochrane. Procedeu-se à busca por revisões sistemáticas na Cochrane Library databaseUso da Cannabis sativa em fins terapêuticosNão há evidências de efetividade dos princípios ativos da Cannabis em estudos realizados, porém há melhora e controle da dor.  
USO MEDICINAL DA CANNABIS SATIVA E SUA REPRESENTAÇÃO SOCIALLILACS, 2019Revista Baiana de Saúde Pública  Descrever a importância do uso medicinal da Cannabis sativa apontando as representações sociais sobre a temática, com vistas a reduzir a falta de informação sobre a substância.  Trata-se de uma revisão não sistemática da literatura, descritiva, exploratória e de caráter qualitativo.  Uso medicinal da Cannabis sativa  A partir da constatação de que um simples medicamento poderia minimizar a dor de muitas pessoas, pacientes decidiram travar uma batalha jurídica, política e social no sentido de conseguir a autorização da Anvisa para a importação do produto para uso medicinal.  
Eficácia dos canabinóides na fibromialgia: uma revisão de literatura  LILACS, 2020Revista Colombiana de AnestesiologiaDescrever a Eficácia atual sobre o uso de medicamentos derivados canabinóides na fibromialgia.  Trata-se de uma revisão integrativa da literaturaPacientes com fibromialgiaConclui-se que ainda são necessários para estabelecer sua real eficácia no controle da dor, qualidade de vida e melhora dos sintomas associados.  

DISCUSSÃO

A cannabis é uma planta complexa que contém várias famílias de compostos, incluindo canabinóides, flavonóides e terpenos. Enquanto um crescente corpo de evidências destaca os benefícios terapêuticos dos canabinóides, pouco se sabe sobre os efeitos fisiológicos das moléculas não canabinóides (MCDOUGALL et al, 2022).

A dor é uma experiência subjetiva composta por psicológicos, fisiológicos, motivacionais, cognitivos e afetivos fatores. A dor é um processo complexo modulado por muitos fatores subjetivos, o que dificulta a criação de alvos farmacêuticos. A cannabis raramente é a primeira droga usada para tratar a dor, pois os pacientes geralmente começam com medicamentos anti-inflamatórios (AINEs), inibidores da ciclooxigenase (COX) e opióides (PANTOJA-RUIZ et al, 2022).

A dor afeta 15% da população mundial, com maior prevalência entre idosos (48% a 83%). No Brasil, temos 51,44% de afetados com este sintoma, evidenciando um problema de saúde pública e podendo ou não se relacionar a outra patologia. Diversas culturas utilizam a Cannabis sativa em diversos fins terapêuticos, até que a droga caiu em desuso, por não se conhecer integralmente seu mecanismo de ação (ALVES et al, 2020).

A utilização de Cannabis, como método terapêutico legal, é de certa forma recente para os profissionais da saúde. Além da carência de conhecimento curricular, questões relacionadas ao conforto e segurança do profissional na adoção do modelo terapêutico são necessárias, uma vez que tais implicações refletem direta ou indiretamente na qualidade de tratamento ofertado ao paciente (JORGE et al, 2020).

A  introdução  da  maconha  na  vida  cotidiana  de  diferentes  grupos  sociais  e  as discussões que ela traz são de fato agressivas, pois o senso comum contempla o lado negativo da planta, não se atentando aos benefícios oferecidos pela erva que vêm sendo estudados e demonstrados, em grande parte devido ao avanço da ciência. A barreira imaginária associando o uso da droga a uma possível dependência é um grande empecilho para o uso medicinal da Cannabis. É necessário que as pessoas entendam que  o  uso  medicinal  difere  por  completo  do  uso  recreativo,  já  que  o  primeiro  se  utiliza  do canabidiol, que não possui o princípio ativo que provoca os efeitos psíquicos da substância (SANTOS et al, 2019).

A estrutura carbocíclica dos compostos da Cannabis sativa, chamados de canabinóides, é formada por 21 átomos de carbono e três anéis. São eles: cicloexano, tetrahidropirano e benzeno. Eles podem ser endógenos (endocanabinóides), fitocanabinóides (derivados de plantas) e sintéticos. Os quatro canabinóides mais comuns são: o D-9-tetra-hidrocanabinol (D9-THC), o canabinol (CBN), o canabidiol (CBD) e o D-8-tetra-hidrocanabinol (D8-THC). A planta em questão possui ainda outros canabinóides e mais compostos importantes para sua ação medicinal. É importante ressaltar que esses compostos da Cannabis sativa são os grandes responsáveis pelo elevado potencial medicinal da mesma (BAENA et al, 2022).

O sistema endocanabinóide é encontrado em todo o ser humano corpo, geralmente associado ao tecido neuronal, mas também expandido por outros órgãos e sistemas como pele, osso, articulações e células de defesa hematopoiéticas. Esse sinal lipídico sistema naling modula a dor, humor, apetite, promoção sono, vômitos, memória, imunidade, desenvolvimento celular, o sistema cardiovascular, e a “luta ou fuga” (PANTOJA-RUIZ et al, 2022).

O uso de cannabis como tratamento para dor crônica, incluindo dor neuropática, bem como câncer e dor associada a doenças reumáticas, como fibromialgia, aumentou nas últimas décadas. Tetrahidrocanabinol (THC) e  canabidiol (CBD) interagem com o sistema endocanabinóide para reduzir e controlar a dor, o que resulta em melhora da qualidade de vida de pacientes com doenças crônicas e dor neuropática. É importante destacar a preferência pelo uso de CBD, uma vez que o THC é responsável pela efeitos psicoativos no sistema nervoso central sistema e tem sido associado a mais efeitos adversos (ANAYA et al, 2021).

Para a dor crônica não relacionada ao câncer, o efeito analgésico permanece obscuro, incluindo cannabis fumada, extratos oromucosos de medicamentos à base de cannabis, nabilona, dronabinol e um novo análogo de tetrahidrocanabinol (VIANA et al, 2022).

Outro medicamento atualmente disponível no mercado é o THC sintético, denominado dronabinol (Marinol) para uso oral, e é indicado para redução da pressão intraocular no glaucoma. Estudos clínicos também apontam eficácia no aumento do apetite e manutenção do peso para pacientes com síndrome de imunodeficiência adquirida (Aids) (SANTOS et al, 2019).

No seu artigo, Santos et al (2019), relata que em um estudo divulgado na publicação especializada Journal of Neuroscience, cientistas mostraram que o uso da maconha pode reduzir a inflamação associada ao Alzheimer e, assim, evitar o declínio mental.Em seguida estudaram células conhecidas como microglia, responsáveis pela ativação da resposta do sistema imune cerebral. Essas células se concentram próximas a depósitos de placas associados ao mal de Alzheimer que, quando ativos, causam inflamação. Nos cérebros de pessoas que sofrem de Alzheimer, é bem menor a presença de receptores capazes de se ligar aos canabinóides, o que indica que esses pacientes perderam a capacidade de utilizar os efeitos protetores da substância.

Em um estudo realizado na Alemanha que teve como objetivo avaliar a eficácia, tolerabilidade e segurança dos medicamentos à base de Cannabis, comparados com placebo ou drogas convencionais, para dor crônica neuropática em adultos. foram incluídos nessa revisão sistemática 16 estudos primários, totalizando 1.750 participantes. Os medicamentos à base de Cannabis provavelmente aumentam o número de pessoas que alcançam alívio da dor de 30% ou mais em comparação com o placebo (39% versus 33%). Neste estudo os autores concluíram que os benefícios potenciais dos medicamentos à base de Cannabis na dor crônica neuropática podem ser maiores que eventuais danos (PERSON et al, 2019).

Os canabinóides são geralmente  inalados ou  tomados por via oral,  a via  retal,  administração sublingual, administração transdérmica, colírios e aerossóis foram usados em poucos estudos e são de pouca relevância na  prática  atual.  A  farmacocinética do tetrahidrocanabinol  varia  em  função de sua  via  de administração.  A inalação  de  THC   causa  uma  concentração  plasmática  máxima  em  minutos  e  efeitos  psicotrópicos em segundos a alguns minutos. Esses efeitos atingem seu máximo após 15 a 30 minutos e diminuem dentro de duas a três horas. Após a ingestão oral, os efeitos psicotrópicos se manifestam em 30 a 90 minutos, atingem seu  efeito máximo após duas a  três horas  e duram  cerca  de quatro  a 12  horas,  dependendo da dose (VIANA et al, 2022).

Em uma pesquisa, Zeng et al (2021) encontrou diferenças importantes entre os pacientes que usam cannabis apenas por razões médicas e aqueles que relataram o uso combinado (médico e recreativo) nas preferências em relação ao conteúdo de cannabis e via de administração.

Outros estudos observacionais mostraram que a maioria dos consumidores de cannabis endossam medicamentos médicos e recreativos para usar, que apresenta um desafio para o uso terapêutico. Os usuários recreativos geralmente priorizam a cannabis com alta concentração de THC, um canabinóide psicotrópico que é associado a danos maiores do que o CBD. Pacientes que usam cannabis para fins médicos e recreativos também são mais propensos a preferir formas de administração inalatórias, que têm um início muito mais rápido e maior biodisponibilidade do que a ingestão, mas também fatores de risco devido à inalação de toxinas e partículas assunto (ZENG et al, 2021).

O potencial terapêutico da cannabis medicinal no tratamento da dor, especialmente em casos de difícil controle, aliado à sua segurança, pode viabilizá-la como opção terapêutica. Os canabinóides têm proporcionado melhora de sintomas relacionados como redução da dor neuropática, espasticidade e melhora do sono na esclerose múltipla. A eficácia no tratamento de dor neuropática na quimioterapia também pode ser observada, bem como em cefaleia e neuropatia orofacial, onde os canabinoides podem reduzir efeitos dose dependente causados por opióides e antiinflamatórios, com efeitos colaterais e tolerância muito menores. Até o momento não existem relatos de óbitos por overdose de cannabis (ALVES et al, 2020).

Como todo fármaco a Cannabis apresenta efeitos colaterais, como, confusão mental, sonolência, tonturas, hipotensão e náusea. Nem todos os efeitos colaterais foram experimentados por todos os pacientes, mas esses efeitos tendem a se tornar mais prevalentes com o aumento das doses. Há uma falta de diretrizes de dosagem para o uso de terapias baseadas em canabinóides na prática clínica, a dosagem é desafiadora devido a diferentes vias de administração, formulações e oscilação na quantidade absorvida. O ideal seria aquela que forneça controle da dor, mas não produza efeitos colaterais, no entanto, existem desafios no estabelecimento dessa dose na população de pacientes com câncer, uma delas é a variabilidade inter paciente, ou seja, as doses ideais variam de paciente para paciente (GLITZENHIRN et al, 2020).

Uma pesquisa observacional encontrou uma redução de até mais de 60% no consumo de opióides na dor crônica pacientes prescritos com cannabis medicinal, enquanto uma série de casos de pacientes com dor crônica não oncológica descreveram uma diminuição nas doses de opióides após fumar cannabis (NUNNARI et al, 2022).

Portanto, diante do exposto, conclui-se que esta revisão integrativa de literatura alcançou seu objetivo evidenciar na literatura estudos que discutem a utilização de medicamentos e tratamentos que usam derivados de canabinóides para controle da dor.

Constatou-se que a cannabis sativa pode dar origem a vários componentes que atuam de maneiras diferentes no corpo humano, e um deles é o controle da dor através de derivados canabinóides. Ao mesmo tempo, ainda não se tem uma tabela com doses exatas para tratamentos e controle de algia, o que implica diretamente em efeitos colaterais. O que categoriza o tratamento com derivados de cannabis em tratamentos alternativos na maioria dos casos.

Além disso, foi possível destacar que existe um preconceito histórico-cultural com essa planta. O que acarreta em uma série de empecilhos para pesquisas, implantação de tratamentos e legalização do cultivo para tais fins.

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1Enfermeiranda do Centro Universitário Mário Pontes Jucá – UMJ.
Email: vitoria.almeida1991@gmail.com

2Enfermeira. Mestre em Educação em Ciências da Saúde – UFRJ. Docente do Centro Universitário Mário Pontes Jucá – UMJ.
Email: simoestamyssa@gmail.com