REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202505101617
Danielle Cristina Leandro Alves1, Júlia da Silveira Gross2, João Dorival Lucas da Costa Filho3, Victor André Fadul Soares Pinto4, Gabriel Antônio Roberto5, Vinícius Chagas Direito6, Juliana Tavares Silvestrini Tiezzi7, Edvaldo Santana Pereira Junior8, Nelson Pinto Gomes9
RESUMO
A depressão é um transtorno de humor. Ou seja, o sentimento contínuo de tristeza, astenia, associado ou não a um complexo de sintomas físicos e emocionais que interferem negativamente na aptidão e desempenho cotidiano. Independente da depressão não possuir predileção por sexo, existe prevalência no sexo feminino, a qual, geralmente é precedida por eventos marcantes, como a gestação, o parto e o período pós-parto. Os transtornos são representadas pela tríade: o baby blues iniciado no primeiro dia do puerpério, caracterizado por sintomas leves e progressão de intensidade no quinto dia, com resolução no décimo dia⁹. Com chance para conversão para DPP, em que os sintomas persistem até o terceiro mês pós parto, e potencial risco, na pré-disposição ou déficit terapêutico para psicose puerperal, um transtorno alarmante, cursando rapidamente com delírios, ideias de perseguição e alucinações. O seguinte artigo objetivou descrever de modo narrativo acerca do quadro clínico da depressão pós parto, visando disseminar informações relevantes sobre diagnóstico e manejo adequado.
Palavras -chave: Depressão pós parto; transtorno mental;
INTRODUÇÃO
A depressão condiz a um transtorno de humor, representado por um sentimento contínuo de tristeza, astenia, associado ou não a um complexo de sintomas físicos e emocionais que interferem negativamente na aptidão e desempenho cotidiano. Independente da depressão não possuir predileção por sexo, existe prevalência no sexo feminino, geralmente é precedida por eventos marcantes, como a gestação, o parto e o período pós-parto².
O puerpério representa uma potencial ameaça ao desenvolvimento de transtornos mentais, em que a depressão pós-parto é um problema frequente nas puérperas, em nível global. Conforme, a Organização Mundial da Saúde, a depressão pós-parto acomete de 10% a 15% das puérperas nos países desenvolvidos, e 19% nos países em desenvolvimento, representando um preocupante empecilho à saúde pública, em razão da elevada prevalência e oneração ao sistema público¹.
Geralmente, a depressão pós parto têm início da 4° a 8° semana após o parto, podendo incidir mais tardiamente e podem perdurar por mais de um ano. Conforme, DSM-IV-TR, o Transtorno Depressivo Maior pode ter como especificador o pós-parto, desde que este início ocorra no período de 4 semanas após o nascimento⁸.
O seguinte artigo objetivou descrever de modo narrativo acerca do quadro clínico da depressão pós parto, visando disseminar informações relevantes sobre diagnóstico e manejo adequado da depressão pós parto.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo qualitativo de revisão narrativa, adequado para dissertar acerca do quadro de depressão pós parto. É composto por uma análise abrangente da literatura, a qual o método baseou-se por ser uma análise bibliográfica, foram recuperados artigos indexados nas bases de dados do PubMed, Lilacs, SciELO, Latindex e demais literaturas pertinentes a temática, durante o mês de abril de 2025, tendo como período de referência os últimos 15 anos. Foram utilizados os termos de indexação ou descritores, “postpartum depression”; “mental disorder in pregnant women”; “puerperal psychosis”, isolados ou de forma combinada. O critério eleito para inclusão das publicações era ter as expressões utilizadas nas buscas no título ou palavras-chave, ou ter explícito no resumo que o texto se relaciona aos aspectos vinculados ao tema eleito. Os artigos excluídos não continham o critério de inclusão estabelecido e/ou apresentavam duplicidade, ou seja, publicações restauradas em mais de uma das bases de dados. Também foram excluídas dissertações e teses. Após terem sido recuperadas as informações-alvo, foi conduzida, inicialmente, a leitura dos títulos e resumos. Posteriormente, foi realizada a leitura completa dos 20 textos. Como eixos de análise, buscou-se inicialmente classificar os estudos quanto às particularidades da amostragem, delimitando aqueles cujas amostras são dos aspectos fisiopatológico, fatores de risco, quadro clínico e repercussões no binômio mãe e bebê. A partir daí, prosseguiu-se com a análise da fundamentação teórica dos estudos, bem como a observação das características gerais dos artigos, tais como ano de publicação e língua, seguido de seus objetivos. Por fim, realizou-se a apreciação da metodologia utilizada, resultados obtidos e discussão.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A busca das publicações científicas que fundamentaram este estudo identificou 35 referências sobre o tema proposto nas bases de dados referidas, das quais 18 publicações foram incluídas na revisão. Entre os estudos selecionados, 16 artigos são de abordagem teórica, os demais apresentam desenho transversal e estudo de caso. Observou-se a prevalência de publicações na língua inglesa, representando 84% do total, quando comparada às línguas espanhola (9,6%) e portuguesa (6,4%).
O seguinte estudo foi subdividido em subcategorias, para propiciar melhor organização e compreensão acerca das informações coletadas.
CONCEITO
A Depressão Pós Parto (DPP) pode ser conceituado por um acometimento clínico heterogêneo, majoritariamente veiculado a um evento depressivo maior ou de intensidade moderada a grave, que apresenta-se nos primeiros meses após o parto⁶.
Os transtornos emocionais são representados pela tríade: o Baby blues iniciado no primeiro dia do puerpério, caracterizado por sintomas leves e progressão de intensidade no quinto dia, com resolução no décimo dia⁹. Contanto, existe a possibilidade para conversão para DPP, em que os sintomas persistem até o terceiro mês pós parto, e potencial risco, na pré-disposição ou déficit terapêutico para psicose puerperal, um transtorno alarmante, cursando rapidamente com delírios, ideias de perseguição e alucinações⁷.
FATORES DE RISCO
O transtorno depressivo ou a DPP não possui um fator desencadeante único e bem esclarecido. Entretanto, singularidades individuais, socioeconômicas e habituais das mulheres, como ser jovem, multípara, histórico pregresso de depressão anterior e/ou familiar de depressão foram coerentes com a elevada duração de sintomas depressivos pós-parto. Ademais, estar no grupo de vulnerabilidade social, baixo poder aquisitivo, etilismo, experiência de uma gestação indesejada, histórico traumático no parto e ser vítima de violência por parceiro íntimo¹⁰.
FISIOPATOLOGIA
Na perspectiva fisiopatológica, a gestação é caracterizada pela oscilação hormonal, a qual a síntese da progesterona é exponencial, a qual fica acumulada na placenta. No parto, esta é expulsa, consequentemente declínio dos hormônios estrogênio e progesterona e alterações na metabolização das catecolaminas⁶.
Estima-se que cerca de 60% das puérperas com DPP manifestaram a patologia durante a gravidez. Outros precedentes consideráveis relacionados são o cesariana de emergência, contínuo estresse no cuidado com o filho, outras manifestações psíquicas antedatais e insuficiente suporte social⁴.
QUADRO CLÍNICO
Atualmente, a sintomatologia depressiva não é distinguível da depressão existente nos episódios não associados ao parto e abrangem instabilidade de humor e preocupações com o bem-estar do bebê, cuja intensidade pode variar de exagerada a francamente delirante¹¹.
O quadro clínico da Depressão Pós Parto (DPP) abrange irritabilidade, choro frequente, sensação de desamparo e desesperança, indisposição e déficit de motivação, baixa libido, mudanças nos hábitos alimentares, podendo ocorrer ganho ou perda ponderal significativa, alteração do ciclo de sono e vigia, sensação de inaptidão em lidar com novas situações e queixas psicossomáticas⁸. Uma mãe com depressão pós-parto pode apresentar também sintomas como cefaléia, dores nas costas, erupções vaginais e dor abdominal, sem causa orgânica aparente¹⁷.
Os transtornos veiculados à depressão acarretam repercussões desfavoráveis à saúde do binômio mãe e bebê⁵. Puérperas acometidas por depressão pós-parto manifestam níveis significativamente elevados de ansiedade, estresse e fadiga, vulnerabilidade da autoestima, qualidade de vida e interferências negativas nos relacionamentos interpessoais. Mulheres que apresentam condições graves de depressão pós-parto referem maior prevalência de ideação suicida, isto é, pensam, idealizam, planejam e anseiam em tirar a própria vida¹⁸. Ademais, é evidente que o vínculo entre a mãe e bebe é estreitado, devido à menor interação. Destaca-se que a mãe depressiva produz menos ocitocina, o famoso hormônio da alegria, prejudicando a amamentação¹³.
Os transtornos do humor que implicam as mulheres no período pós-parto são representadas pela melancolia da maternidade, popularmente denominada por “baby blues” ou “tristeza pós-parto”, além das psicoses puerperais. O “baby blues” se baseia por uma efêmera fase de instabilidade emocional, incidente entre o segundo e o quinto dia após o parto, tendo geralmente remissão espontânea. Acerca dos impactos no recém nascido abrangem déficit na realização do calendário vacinal; desnutrição; transtornos psicomotores; retardo no desenvolvimento da linguagem¹⁵.
Os transtornos psicológicos incidem por meio de sintomas intensos, incluindo ruminações graves ou idéias delirantes acerca do bebê, relacionados a um risco significativamente aumentado de danos ao mesmo. Consequentemente, o homicídio contra a criança está intimamente proporcional, a contextos psicóticos no pós parto, principalmente a alucinações de comando ou delírios de possessão envolvendo o bebê. Isto, urge por tratamento intensivo e inclusive hospitalização⁹.
Acerca da diagnose precoce e adequada da DPP, estudos apontam que na maioria dos casos, as manifestações de ansiedade e irritabilidade voltadas aos outros ou a si, sendo assim ressaltado o obstáculo e a relevância da detecção precoce desse transtorno⁴.
TRATAMENTO
A relevância na identificação precoce da DPP diante do déficit de informações e até de negligência em estimá-lo em um estado clínico patológico, buscando compreender os fatores de risco mais prevalentes, além de detectar os sintomas associados e que podem ser atenuados ou qualificados em outro transtorno mental recorrente na gestação¹².
A terapêutica direcionada ao transtorno depende da intensidade. Conforme o protocolo tradicional, a DPP com antidepressivos e psicoterapia. Cerca de duas medicações foram aceitos exclusivamente para depressão pós-parto, o bradanolanol administrado por via intravenosa e zuranolona administrado por via oral. A dupla são neuroesteroides que modulam os receptores GABA-A no cérebro. Em contextos em que a mulher tem ansiedade grave, pode-se maneja-la com ansiolíticos. A intervenção da psicose pós-parto normalmente requer hospitalização psiquiátrica e medicamentos antipsicóticos¹⁴.
CONCLUSÃO
A partir das análise das informações discutidas neste estudo, pode se elucidar que a depressão pós parto é um risco a saúde pública, devido ao caráter silencioso e até subestimado, a qual pode se iniciar de modo leve e progredir para a forma crônica. Consequentemente, a ausência de intervenções apropriadas pode acarretar em impactos negativos para a mãe e para o bebê. Nesse contexto, é imprescindível a abordagem multidisciplinar objetivando o cuidado holístico e diagnose precoce.
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1Médica, cursista em especialização em psiquiatria pela Associação de Psiquiatria Cyro Martins CCYM Federada da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP)
E-mail: daniellecla@hotmail.com
2Médica, cursista em especialização em psiquiatria pela Associação de Psiquiatria Cyro Martins CCYM Federada da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP)
E-mail: juliasgross@hotmail.com
3Médico, cursista em especialização em psiquiatria pela Associação de Psiquiatria Cyro Martins CCYM Federada da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP)
E-mail: Joaolc1@hotmail.com
4Médico, cursista em especialização em psiquiatria pela Associação de Psiquiatria Cyro Martins CCYM Federada da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP)
E-mail: victorpintomed@gmail.com
5Médico, cursista em especialização em psiquiatria pela Associação de Psiquiatria Cyro Martins CCYM Federada da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) Pós-graduação em Psiquiatria pela ISCMSP. E-mail: drgabrielroberto@gmail.com
6Médico, cursista em especialização em psiquiatria pela Associação de Psiquiatria Cyro Martins CCYM Federada da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP)
E-mail: viniciuschagaspsiquiatria@gmail.com
7Médica, cursista em especialização em psiquiatria pela Associação de Psiquiatria Cyro Martins CCYM Federada da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP)
E-mail: jutiezzi@hotmail.com
8Médico, Pós Graduando em Psiquiatria/Saúde Mental — EBRAMED
Email: edvaldospj@icloud.com
9Medico, Psiquiatra pela Ordem dos Médicos de Portugal
E-mail: Npgomes5@hotmail.com