DEPRESSÃO PÓS-PARTO: CONHECIMENTOS E ATITUDES DA EQUIPE DE ENFERMAGEM AOS FATORES RELACIONADOS A SAÚDE MENTAL DA PUÉRPERA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10139130


Beatriz Barbosa Felix1
Ester Alves de Souza2
Erika Fabris do Nascimento3


RESUMO

Objetivo: O presente estudo possui como objetivo avaliar o conhecimento e atitude do enfermeiro aos fatores que estão ligados a saúde mental da puérpera, na detecção e prevenção da depressão pós-parto. Método: Revisão integrativa dos artigos científicos publicados nas bases de dados acadêmicos-científicos SciElo (Scientific Eletronic Library Online), MEDLINE (Sistema Online de Busca e Análise de Lite- ratura Médica), LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), entre outros. Resultados: Torna-se essencial o conhecimento do enfermeiro a cerca do estado mental da puérpera, suas condições de bem-estar, como também examinar se existe mais de uma patologia correlacionada, sendo ele, a pessoa que direciona devidamente a puérpera no que se refere à terapêutica e prevenção. É essencial que a equipe de enfermagem acompanhe essa puérpera por meio de ações/intervenções, fazendo o acompanhamento da mulher de forma integral, a partir do período gestacional até o período puerperal. Conclusão: O enfermeiro bem preparado para perceber os primeiros sinais e sintomas, compreender e acolher mulheres com sintomas de depressão pós parto- DPP, possibilita a intervenção precoce e a restauração na saúde psíquica dessas pacientes.

Palavras-chave: Transtorno mental. Puérpera. Depressão e Cuidados de Enfermagem.

1. INTRODUÇÃO

A depressão durante a fase puerperal envolve uma série de transformações psíquicas, físicas, fisiológicas, sociais e emocionais, pois o puerpério é a fase de ajustamento psicológico, de adaptação ao desempenho do novo papel, onde ocorrem alterações hormonais bruscas e significativas às quais acresce o cansaço decorrente do processo de parturição.

Na maioria dos casos a fase puerperal é um processo saudável, mas pode surgir alguns desvios da normalidade que podem, através do acompanhamento na fase gestacional com profissionais da Enfermagem na atenção básica serem evitados, pois o enfermeiro tem um papel privilegiado desde o planejamento da gravidez, no acompanhamento da mesma e no pós-parto para prevenir situações de risco e promover um plano de intervenção que minimize os efeitos nefastos.

O enfermeiro tem autonomia de reconhecer e promover cuidados de enfermagem em relação à DPP, ressaltando a importância do conhecimento ao tema abordado. As pesquisas analisadas abordaram a importância do conhecimento acerca dos fatores de risco, sendo a principal causa do desenvolvimento da DPP. É evidente a importância da atuação da enfermagem durante a gestação e no puerpério, uma vez que através dos diálogos no decorrer do pré-natal, pode-se conhecer os medos e preocupações da mulher durante a gestação e puerpério, e assim, intervir no que venha ocorrer a DPP. SOUSA. et al. (2022 p. 73 -74)

Portanto, o presente estudo possui a finalidade de esclarecer sobre a depressão pós-parto mediante aos cuidados da equipe de enfermagem, investigando o conhecimento sobre a saúde mental da puérpera, uma vez que os transtornos mentais na gravidez constituem importantes preditores de depressão pós-parto, pois a detecção da DPP torna-se difícil, pelos sintomas serem facilmente confundidos com as de uma tristeza pós-parto. Quando detectado a DPP em puérperas, é recomendável a realização de intervenção e acompanhamento por especialista e, em alguns casos, é imprescindível o uso de drogas para o tratamento, porque a DPP materna pode influenciar no desenvolvimento infantil, tendo reflexos até a adolescência. A gravidez, o parto e o puerpério são fases da vida da mulher que provocam na maioria das vezes mudanças de papéis e estilo de vida. Toda a rotina da mulher sofre alterações pela gravidez, contribuindo para o desenvolvimento de uma doença mental.

O presente estudo possui como objetivo avaliar o conhecimento e atitude do enfermeiro aos fatores que estão ligados a saúde mental da puérpera, na detecção e prevenção da depressão pós-parto (DPP), desta forma o estudo se baseia na seguinte questão norteadora: qual a atuação do enfermeiro na detecção precoce dos sinais e sintomas no puerpério com depressão pós-parto?

2. METODOLOGIA

Este trabalho trata-se de uma revisão integrativa, que tem o propósito de fazer um agregado de informações dos artigos mais atuais a respeito dos fatores de riscos mais comuns relacionados aos conhecimentos e atitudes do enfermeiro na identificação da depressão no puerpério. Desta forma, essa revisão é descritiva, de abordagem qualitativa e que tem a seguinte questão norteadora para o direcionamento deste estudo: “Qual a atuação do enfermeiro na detecção precoce dos sinais e sintomas no puerpério com depressão pós-parto?”. A busca de artigos para a construção deste trabalho foi realizada nas seguintes bases de dados: SciElo (Scientific Eletronic Library Online), MEDLINE (Sistema Online de Busca e Análise de Literatura Médica), LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e Google Acadêmico.

Para a elaboração deste trabalho, os artigos selecionados foram encontrados a partir dos seguintes descritores: Transtorno mental, Puérpera, Depressão e Cuidados de Enfermagem, que estão indexados nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS). Os critérios de inclusão utilizados para agregar a esta revisão foram artigos gratuitos, publicados nos últimos 6 anos que estão em português e que estão baseados na questão norteadora.

3. RESULTADOS

Foram traçados critérios de inclusão e exclusão de artigos publicados como prática padrão e necessária na elaboração de protocolos da pesquisa, como aqueles que incluem as características da problemática do estudo. Com isso, identificaram-se no total 40 publicações, e após aplicações dos critérios de inclusão, foram excluídos 24 estudos, pois não estavam relacionados ao tema e não continham os seguintes

Figura 1 – Seleção dos artigos para revisão integrativa. Brasília, DF, Brasil, 2023

Fonte: adaptado MONTEIRO ASJ, et al., 2020

Após análise dos artigos, foram selecionados 16 trabalhos que se enquadraram nos critérios de inclusão de modo a serem analisados no presente artigo, sabendo-se que o levantamento de dados foi realizado através de artigos científicos que abordam o tema, relacionado as alterações puerperais que estão ligadas a flutuações hormonais, ao estresse do parto e a própria chegada do bebê, o qual é um momento de sobrecarga emocional, interligando ao cuidado de enfermagem.

A tabela abaixo apresenta os dados dos trabalhos selecionados segundo autoria, ano da publicação, título, revista e base de dados dos estudos selecionados sobre Depressão pós-parto: Conhecimentos e atitudes da equipe de Enfermagem aos fatores relacionados à saúde mental da puérpera, respondendo à pergunta norteadora sobre a atuação do enfermeiro na detecção precoce dos sinais e sintomas no puerpério com depressão pós-parto.

Tabela 1: Síntese das obras. Brasília-DF, Brasil, 2023

AtoreseanoTipodeestudoTítuloObjetivosConclusões
BALLESTEROS. et al., 2019Estudo de caso único (díade mãe-bebê), baseado no modelo bioecológico de Bronfenbrenner“Saúde mental e apoio social materno: influências no desenvolvimento do bebê nos dois primeiros anos.”Investigar indicadores de saúde mental materna e o apoio social recebido durante a gravidez e o pós-parto, avaliando as influências e repercussões dessas variáveis sobre o desenvolvimento durante os dois primeiros anos de vida do bebê.Faz-se mister incentivar o aprimoramento de programas de prevenção voltados à saúde mental de todas as mulheres a serem desenvolvidos antes, durante e após a gravidez, e em especial, para aquelas que dispõem de uma rede social de apoio frágil.
GONÇALVES; ALMEIDA. 2019Revisão bibliográfica do tipo narrativa.“A Atuação da Enfermagem Frente à Prevenção da Depressão Pós- Parto.”Este estudo tem como objetivo descrever como deve ocorrer a atuação da enfermagem buscando a prevenção da DPP, paraNo estudo proposto nota-se a importância da qualidade da assistência e orientações durante o pré- natal pelo profissional de enfermagem, a fim
ASSEF et al., 2021Estudo descritivo.“Aspectos dos transtornos mentais comuns ao puerpério.”Descrever e discutir as principais síndromes psiquiátricas que podem ocorrer no período puerperal, identificando seus fatores causadores mais comuns.A partir da análise da literatura, verificou-se que, além das oscilações bioquímicas comuns na mulher após o parto, outros fatores como a privação de sono, baixa autoestima, ansiedade, falta de apoio do companheiro e da família, gestação não planejada, bebês com anomalias e antecedentes familiares contribuem para o desenvolvimento ou agravamento de doenças psiquiátricas. Entre essas doenças, observou-se que, em nível mais leve, tem- se a disforia pós- parto e em nível moderado a depressão pós-parto. A psicose puerperal, por sua vez, é a manifestação de maior gravidade de transtorno psiquiátrico puerperal. Dessa forma, ressalta-se a importância da atenção à mulher e ao recém-nascido neste período, com o acolhimento da equipe de saúde e oferecimento de tratamento integral e humanizado
LEAL et al., 2021Revisão integrativa.“Atuação do enfermeiro durante o pós- parto de pacientes com transtornos mentais puerperais.”Destacar a importância da atuação do enfermeiro durante o pós-parto de mulheres que apresentam transtornos mentais no puerpérioConclui-se que há a necessidade de que o enfermeiro tenha conhecimento sobre transtornos mentais puerperais para, assim, acompanhar a mulher de forma ampla, oferecendo-lhe uma assistência integral, a partir do período gestacional até o puerpério, reduzindo o risco de agravos futuros à sua saúde e à de seu bebê.
COSTA. et al. 2023Pesquisa quali- tativa exploratória.“Atuação dos enfermeiros no atendimento prestado às mulheres com depressão pós-parto nas unidades básicas de palhoça.”Compreender a atuação profissional dos enfermeiros di- ante de casos suspeitos de puérperas com depressão pós- parto.Os achados aponta- ram as ações dos profissionais diante da suspeita de de- pressão pós-parto e a formação profissional. Abordando sobre a falta de tempo e qualificação desses profissionais, gerando assim, encaminhamentos para a equipe multiprofissional quando há casos suspeitos de depressão pós-parto. Também se fala sobre o apoio emocional.
SOUSA et al., 2022Revisão integrativa da literatura, com abordagem qualitativa“Saúde da mulher: atuação do enfermeiro na assistência a puérpera na depressão pós-parto.”Analisar o trabalho realizado pelo enfermeiro na atenção a puérpera com depressão pós-parto.Os fatores de risco que mais acometem a DPP são, questões socioeconômicas desfavoráveis, baixo escolaridade, intercorrências em gestações anteriores e falta de apoio familiar. É evidente que a atuação da enfermagem é essencial no decorrer do período gestacional e no pós- parto, proporcionando apoio psicológico, orientações de autocuidado e cuidado com o bebê. Assim, destacando a importância do enfer- meiro ter conhecimento teórico-científico relacionado à DPP, para juntamente com a equipe multiprofissional melhor acolher, orientar e cuidar dessa mulher durante a gestação e puerpério. Em todos os estudos ficou claro que o papel da enfermagem desde o início da gestação é amenizar a DPP no puerpério melhorando a qualidade de vida nessa fase.
MACIEL LP. et al., 2019Pesquisa qualitativa, de caráter descritivo.“Transtorno mental no puerpério: riscos e mecanismos de enfrentamento para a promoção da saúde.”Compreender os riscos e os mecanismos de enfrentamento apresentados pelas puérperas diante dos transtor- nos mentais no pós- parto.Identificou-se que fatores como gravidez precoce ou não planejada, carência de apoio do companheiro, instabilidade familiar e baixas condições socioeconômicas podem contribuir como agentes facilitadores no surgimento de algum transtorno mental na puérpera.
MONTEIRO. et al. 2020Estudo bibliográfico com abordagem qualitativa e descritiva.“Depressão pós-parto: atuação do enfermeiro.”Listar os cuidados do enfermeiro às mulheres com de- pressão pós-parto e suas repercussões psicossociais.Quanto ao cuidado de enfermagem junto a puérpera com DPP, os estudos relatam que a atuação do enfermeiro junto a puérpera normalmente volta-se a realização do rastreamento da depressão, no acompanhamento de sua evolução nos atendimentos psicoterapêuticos individuais, grupais, nas ações educativas orientativas prestadas a este público e a seus familiares, sobretudo esclarecendo as medidas interventivas que são necessárias para garantir o bem-estar da mãe e do bebê.
GONÇALVES et al., 2018Pesquisa de atualização.“Reconhecendo e intervindo na de- pressão pós- parto.”Objetivou-se através deste estudo maior esclarecimento sobre a depressão pós-parto e o papel do enfermeiro frente aos desafios apresentados durante a gestação e o período pós- parto.O olhar integral e o conhecimento técnico e científico do enfermeiro durante toda a gestação serão fatores determinantes para reconhecer e intervir logo na fase inicial da depressão pós-parto, desenvolvendo programas e métodos para interagir com a gestante e familiares assim criando vínculos de confiança onde ela se sentirá mais segura. Faz-se ne- cessária a atuação do enfermeiro baseada em conhecimento específico para sua área profissional, buscando sempre atualização, aprimorando suas técnicas e a executando com proficiência.
SOUZA et al., 2018Revisão integrativa“Depressão pós-parto: um olhar criterioso da equipe de enfermagem.”O estudo tem como objetivo conhecer a assistência de enfermagem designada para mulheres com quadro de de- pressão pós-parto, bem como, sensibilizar profissionais e acadêmicos de áreas afins para aspectos relacionados ao diagnóstico, percepção familiar e tratamento da DPP em puérperas.Considerando os resultados obtidos neste estudo, cabe a enfermagem uma dedicação total, a fim de criar estratégias capazes de proporcionar a essas puérperas o apoio que precisam de forma eficiente e humanizada.
REIS; RACHED. 2017Revisão narrativa.“O papel do enfermeiro no acompanhamento de pré- natal de baixo risco utilizando a abordagem centrada na pessoa-gestante.”Propor que a abordagem centrada na pessoa–gestante, possa ser uma ferramenta utilizada no acompanhamento de pré-natal de baixo risco, realizado pelo enfermeiro em Saúde da FamíliaFoi possível perceber que a abordagem centrada na pessoa, vai totalmente ao encontro de toda a diretriz proposta para o cuidado na Estratégia de saúde da família e que com o enfermeiro possui em sua formação acadêmica e profissional, muitos saberes para uso e implementação da ACP.
VARELA. 2021Revisão integrativa“O papel da enfermagem no acompanhamento puerperal da mulher com sinais de depressão pós-parto.”Descrever o papel e as condutas de en fermagem no acompanhamento de mulheres com sinais de depressão pós- parto no puerpérioObservou-se que a maioria dos profissio nais não são capacitados para agir diante de casos de depressão pós-parto, visto que há falhas na observação dos sintomas para possível diagnóstico e não há padronização nas condutas a serem aplicadas.
PEREIRA et al., 2021Revisão de Literatura.“Causas de depressão pós-parto em mulheres: fatores de risco.”Identificar por meio da revisão de literatura os principais fatores de riscos que envolvem o desenvolvimento da Depressão pós-parto.Os principais os fatores de risco que podem desencadear o desenvolvimento da depressão pós-parto estão relacionados com fatores fisiológicos, hormonais, sociodemográficos, assim como os psicossociais. Dentre esses fatores, os estudos apontaram relaçõefamiliares prejudica- das, estresse, ansiedade, baixa escolaridade e principalmente casos de depressão e outras alterações psicológicas anteriores. Outrossim, ressalta-se a escassez de estudos acerca da temática envolvida.
ANDRADE. et al., 2017Literatura Cientifica“Fatores associados à Depressão Pós- Parto em mulheres em situação de vulnerabilidade social.”Avaliar possíveis fatores associados com a depressão pós-parto (DPP), como o uso de substâncias e o suporte psicossocial em uma amostra de 102 mulheres em situação de vulnerabilidade social.Aproximadamente 20% das puérperas apresentaram critérios para a DPP além de um padrão de uso de álcool e maconha superior àquelas que não tinham o transtorno. Observou-se também associação entre violência, falta de suporte psicológico e apoio familiar com a DPP. Observou-se uma associação entre a DPP com outras comorbidades de modo que algumas variáveis estudadas possam estar envolvidas na etiologia e manutenção deste transtorno.
SERRATINI; INVENÇÃO. 2019Revisão bibliográfica“Depressão pós-parto.”O presente trabalho teve como objetivo ampliar os conhecimentos em relação à depressão pós- partoOs resultados demonstraram que a depressão pós-parto tem como principais desencadeadores os fatores de risco psicossociais e socioeconômicos, dentre esses, a presença de estresse, ansiedade e depressão durante a gestação; a falta de apoio do parceiro; a falta de apoio social no puerpério; baixa renda; baixo nível de escolaridade, entre outros. Verificou-se que a depressão pós-parto apresenta sintomas que podem ser considerados normais no puerpério, como falta de apetite e sono.
FERRARI. et al., 2023Revisão integrativa da literatura.“A diversidade do puerpério na depressão pós-parto: uma revisão integrativa.”Identificar na literatura científica os fatores que levam as puérperas a evoluírem com depressão pós-parto.Os estudos mostram que após o nascimento da criança ou até no período pós-parto as mulheres apresentam a depressão pós- parto.


4. DISCUSSÃO

Nos primeiros anos de vida, o indivíduo forma a personalidade, por isso, se a relação mãe e filho se inicia com um déficit de atenção, isso pode acarretar importantes repercussões para o desenvolvimento da criança no futuro. Sabe-se que os primeiros meses após o parto identifica um período muito sensível para a realização de intervenções, tendo em vista uma série de sentimentos vividos pela mãe após o nascimento do bebê. O papel do enfermeiro, neste cenário é associado ao apoio emocional, com oferta de palavras de afeto e de conforto tanto à gestante, quanto à família, a fim de tranquilizá-los para diminuir a angústia e a ansiedade ocasionado pelo período gestacional.

É importante ressaltar que, a identificação precoce dos sinais apresentados pela mulher desde o pré-natal é fundamental e vai direcionar os cuidados que serão prestados pelo Enfermeiro, por este motivo é importante que o profissional esteja atento as relações familiares, contexto social e função psíquica desta mulher, a atendendo com atenção e respeito, não desvalorizando suas tristezas e dores, para que não haja agravos na saúde.Leal, et al. (2021. p. 8)

O pré-natal se constitui por ações desenvolvidas pelos profissionais da atenção básica como o acolhimento que visa o bom desenvolvimento gestacional e a saúde materno-fetal. Para estabelecer os cuidados durante a gestação é necessário compreender o contexto no qual a gestante está inserida, pois para garantir uma assistência que atenda de forma integral é importante extrapolar os cuidados que atentam apenas para o lado biológico, incorporando também ações no âmbito de saúde mental, investigando contexto familiar, histórico familiar de DPP, fatores socioeconômicos e culturais, baixa escolaridade, intercorrências em gestações anteriores e falta de planejamento e apoio familiar.

A gestação é um período crítico do ciclo vital da mulher, que exige adaptações e reorganização psíquica, e que é imprescindível ao enfermeiro o domínio sobre a fisiologia da gravidez e como esta afeta a condição clínica da mulher para minimizar agravos futuros, tanto para a sua saúde, quanto para a do bebê. No entanto existe desconhecimento, por parte destes profissionais, em relação aos transtornos mentais puerperais e limitado número de pesquisas sobre esta temática, que amplifiquem o seu conhecimento e definam, assertivamente, a sua atuação. Leal, et al. (2021. p. 12) Apesar da DPP ser uma doença grave que afeta a saúde tanto da mulher, quanto do bebê, ainda não existem pesquisas que auxiliem amplamente os profissionais da enfermagem para lidarem com essa temática. Por isso, se torna primordial, que se amplifiquem pesquisas e projetos sobre a importância do acompanhamento psíquico da mulher, tanto no pré, quanto no pós-parto.

Estudos relatam que a atuação do enfermeiro junto a puérpera normalmente volta-se a realização do rastreamento da depressão, no acompanhamento de sua evolução nos atendimentos psicoterapêuticos individuais grupais, nas ações educativas orientativas prestadas a este público e a seus familiares, sobretudo esclarecendo as medidas interventivas que são necessárias para garantir o bem estar da mãe e do bebê. Alves AM, et al., 2007 apud Monteiro et al., (p. 7. 2020)

Para GONÇALVES e ALMEIDA (2019) “nota-se a importância da qualidade da assistência e orientações durante o pré-natal pelo profissional de enfermagem, a fim de atingir a meta principal, que é garantir uma gestação saudável, segura e sem complicações futuras”.

Existem evidências de associação entre a DPP e prejuízo no desenvolvimento emocional, social e cognitivo da criança, pois, uma mãe depressiva não consegue estabelecer um vínculo afetivo com seu filho, porque a tristeza, o cansaço e o desanimo interferem negativamente no convívio diário entre mãe e filho.

“O caráter preventivo do pré-natal é fundamental para diminuir os índices de mortalidade materna e perinatal, pois um acompanhamento durante o período gestacional bem feito previne patologias, tais como anemias, doenças hipertensiva gestacional (pré-eclâmpsia, eclâmpsia); também favorece o preparo psicológico para o parto, além de garantir a perfeita estruturação do organismo fetal, prevenção do abortamento e o risco de parto prematuro e óbito perinatal…” REIS E RACHED (2017)

Parafraseando Reis e Rached (2017), o enfermeiro faz parte de uma equipe multidisciplinar e possui atribuições importantes para o processo de acolhimento na atenção básica de saúde, por ter atribuições especificas, como cuidar integralmente da saúde das mulheres gestantes, prescrevendo cuidados de enfermagem e medicamentos previstos em programas de saúde, solicitando exames complementares, realizando Consulta de Enfermagem, com avaliação integral da mulher, fortalecendo assim, o vínculo entre a gestante e sua equipe. Tal profissional pode através de sua formação, que é voltada para o cuidado, ser um facilitador durante o pré-natal, conduzindo a gestante a empoderar-se de si, e ser a protagonista da gestação. Além de aumentar a autonomia dessa mulher através do cuidado, e tudo isso através da ferramenta de escuta sensível e do cuidado centrado na pessoa.

“Algumas mudanças que ocorrem no período do pós-parto há uma sobrecarga das atribuições de esposa, dona de casa e atualmente de se tornar mãe, havendo assim, grandes expectativas na maternidade para esta mulher.” PEREIRA, et al. (2021)

Nesse período, as mulheres se sentem mais cansadas e a falta de apoio social e principalmente familiar interfere a mulher a conseguir desenvolver o seu papel de mãe, refletindo uma falta de cuidar de si mesma, da sua vaidade, relatando cansaço, irritação e choro. Neste período delicado, muitas não se sentem como antes, relacionado às altas expectativas que muitas pessoas relacionam a vida materna, trazendo consequências que são preocupantes, comprometendo a saúde física e mental da mãe em um dos momentos mais importantes de sua vida.

Destaca-se que esse período acarreta outros estresses, como o sentimento de estar sozinha sem ninguém para auxiliá-la, problemas socioeconômicos e familiares também são relatados nesse período pós-parto. Essa sensação ocorre nos seis primeiros meses após a chegada da criança; é necessário que o emocional da mãe esteja bem, que não apresente sentimentos negativos para não ocasionar um quadro depressivo. MOLL et al., 2019 apud FERRARI et al., 2023.

Torna-se essencial o conhecimento do enfermeiro a cerca do estado mental da puérpera, suas condições de bem-estar, como também examinar se existe mais de uma patologia correlacionada, sendo ele, a pessoa que direciona devidamente a puérpera no que se refere à terapêutica e prevenção. Por meio desta, é possível se relacionar com a paciente e compreender toda sua interação com o mundo que a cerca. É essencial que a equipe de enfermagem acompanhe essa puérpera por meio de ações/intervenções, fazendo o acompanhamento da mulher de forma integral, a partir do período gestacional até o período puerperal, ofertando uma assistência adequada como: identificar sinais e sintomas da depressão puerperal, realizar consulta de pré- natal, realizar educação em saúde, incentivar o parto normal, encaminhar para serviço especializado, na busca de uma assistência adequada e capacitada para as pacientes.

5. CONCLUSÃO

A partir desses argumentos, no estudo proposto nota-se a importância da qualidade da assistência e orientações durante o pré-natal pelo profissional de enfermagem, sendo de extrema importância a equipe de enfermagem na prevenção e promoção de saúde, capacitando-os na área de saúde mental puerperal, estimulo para a promoção da educação permanente, investimento em meios de reconhecimento, diferenciação e acompanhamento dos transtornos mentais puerperais, incitação à realização de pesquisas que busquem identificar fatores de risco e contribuam para o desenvolvimento de protocolos de cuidados assistenciais, sem deixar de lado a atenção humanizada, pois a partir dessas prevenções supracitadas, evitaremos um déficit de estabelecimento de vínculo afetivo favorável entre mãe e filho, o que futuramente pode interferir na qualidade dos laços emocionais entre ambos.

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1. Discente do Curso de Enfermagem da Faculdade Ls, email: beatrizbarbosa870gmail.com

2. Discente do Curso de Enfermagem da Faculdade Ls, email: esteralves.souza27@gmail.com

3. Professora de Enfermagem/Faculdade LS, e-mail: erika.nascimento@unils.edu.br