REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10249201443
Emília Maria de Sá Santos¹
Marina Amanda Barth²
Sergio Celio Klamt³
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo realizar um levantamento sobre os currais localizados na fronteira Oeste do estado do Rio Grande do Sul, especialmente em Santana do Livramento e municípios limítrofes. Sabe-se que a base econômica desta região foi e continua sendo a criação de gado, assim os currais são marcos dessa atividade. A fim de aprofundar conhecimento a respeito da tipologia e localização das estruturas bem como ampliar o conhecimento histórico da área de estudo diferentes ações foram realizadas como: visitas técnicas, registro fotográfico, entrevistas com moradores e revisão bibliográfica. Constatou-se que diferentes atores ocupando a área de estudo, todos eles vivendo e explorando os criatórios de gado e erguendo os currais como forma de aprisionar e proteger seus rebanhos. Viveram na região índios, jesuítas, espanhóis, portugueses, negros escravos e libertos – uma gama de pessoas com interesse econômico na criação de gado que deixaram os currais como cultura material a ser estudada. Sendo assim este trabalho propõe algumas hipóteses sobre o surgimento e utilização dessas estruturas arqueológicas. Porém estudos mais aprofundados na arqueologia e consulta a mais fontes históricas são fundamentais para compreender contexto da criação de gado na fronteira oeste do Estado do Rio Grande do Sul.
Palavras-chave: currais – pampa – gado – indígenas.
ABSTRACT
The present work aims to carry out a survey of the corrals located on the western border of the state of Rio Grande do Sul, especially in Santana do Livramento and neighboring municipalities. It is known that the economic base of this region was and continues to be cattle breeding, so the corrals are landmarks of this activity. In order to deepen knowledge regarding the typology and location of the structures as well as expand the historical knowledge of the study area, different actions were carried out such as: technical visits, photographic records, interviews with residents and bibliographic review. It was found that different actors occupy the study area, all of them living and exploring cattle ranches and building corrals as a way of imprisoning and protecting their herds. In total, Indians, Jesuits, Spaniards, Portuguese, black slaves and freedmen passed through the region – a range of people with an economic interest in raising cattle who left the corrals as a material culture to be studied. Therefore, this work proposes some hypotheses about the emergence and use of these archaeological structures. However, more in-depth studies in archeology and consultation of more historical sources, especially Jesuit ones, are fundamental to understanding the context of cattle breeding on the western border of the State of Rio Grande do Sul.
KEYWORDS: corrals – pampas – cattle – indigenous people.
INTRODUÇÃO
A história e o desenvolvimento do estado do Rio Grande do Sul proporcionam diferentes versões, entendimentos e peculiaridades. Estudar e pesquisar a história deste estado significa percorrer a fronteira meridional e caminhar entre diferentes grupos humanos: índios autóctones, espanhóis, açorianos, bandeirantes, jesuítas, escravos, estancieiros, libertos, pequenos agricultores, peões e comerciantes. Uma vasta história a ser descortinada com temas e observações sobre um território de fronteiras incertas no período colonial e diversidade étnica desperta questionamentos para pesquisa histórica.
É com esta imensidão de personagens e histórias que este trabalho dedicou especial atenção, aqueles que estiveram junto à fronteira oeste do estado do Rio Grande do Sul. A pesquisa, que propiciou o desenvolvimento deste trabalho, teve início no ano de 2010 quando a equipe do Centro de Ensino e Pesquisas Arqueológicas – CEPA da Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC iniciou as atividades com visitas a região de Santana do Livramento e municípios próximos. O objetivo foi realizar o levantamento de sítios arqueológicos e de locais considerados de valor histórico, junto às áreas de implantação de parques eólicos e/ou pavimentação de rodovias na fronteira oeste do estado.
Durante a realização destas visitas diversos fatores chamaram a atenção da equipe. Como a existência de diversas estruturas para encurralar animais: currais e mangueiras de pedra ou de pedra e taipa, assim como casas, cemitérios, “bolichos”, existentes na região. Estes elementos, alguns ainda em funcionamento, outros abandonados remetem a um período de apogeu e próspero desenvolvimento econômico da região. Desenvolvimento marcado pelo ciclo do couro (RUCHEL e GUTFRIEND, 1995), muito apreciada na Europa, pela exportação de charque e lã para os mercados internos e já na sua fase final com a introdução dos frigoríficos até a decadência da região no início do século XX.
Santana do Livramento, assim como os demais municípios da região da fronteira Oeste, constituem ponto de encontro de diferentes grupos, culturas e modos de vida. Assim o objetivo deste trabalho é desvendar parte da história desta região, com base na pesquisa arqueológica, tendo como objeto de estudo a cultura material – os currais encontrados na fronteira oeste do Rio Grande do Sul.
O levantamento historiográfico da região demostrou que as primeiras ocupações ocorreram com os povos indígenas. Após a chegada dos espanhóis e a instauração das Missões Jesuíticas e a criação das estâncias indígenas, vinculadas a estas Missões. E em seguida, as incursões dos portugueses e as disputas pelo território com espanhóis marcam o período com limite de fronteiras incertas. Habitada por gamas de indivíduos que em comum tinham a preia e criação de gado com passar do tempo culminará na tradição da lida campeira do gaúcho.
Portanto a descrição dos currais em obras literárias que abordam a vida do gaúcho, os relatos de viajantes que estiveram na região no século XIX e as contribuições dos trabalhos científicos realizados sobre currais no estado do Rio Grande do Sul são importantes para tentar entender a localização e tipologia dos currais e suas características geométricas e de construção.
1. A FRONTEIRA OESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
1.1 Um espaço peculiar: o pampa gaúcho.
Antes de uma explanação mais específica sobre a história de formação da região da fronteira oeste do estado do Rio Grande do Sul é importante fixar algumas concepções sobre suas características naturais. Esta área é reconhecida como região Bioma do Pampa. Apresentando fauna, flora e condições climáticas únicas se comparadas ao território nacional.
A campanha do Sudoeste ficou assim a região campestre e pecuária por excelência. Acentuamos que este é seu caráter natural e geral, pois há trechos que fazem exceção e a técnica moderna pode de alguma maneira corrigir a natureza. (BRUXEL, 1960, p. 18)
“… haverá poucas regiões no Brasil que sejam mais aptas para a pecuária em grande escala do que a Campanha do Sudoeste.” (RAMBO, p. 422)
O bioma pampa, termo de origem indígena significa a região plana, corresponde a uma área de aproximadamente 176.496 Km², abrangendo mais da metade do território do estado do Rio Grande do Sul, Uruguai e Argentina. Este bioma esconde uma grande biodiversidade: cerca de três mil espécies vegetais, mais de cem espécies de mamíferos e quase quinhentas espécies de aves e uma diversidade de gramíneas com mais de quatrocentos e cinquenta espécies.
Não é somente na classificação geográfica que o bioma pampa se destaca. Grande parte de sua gente e de sua história se funde em entremeios econômicos, culturais. Na obra Tropeirismo no Brasil, Moacyr Flores destaca a região da Campanha gaúcha da seguinte maneira:
“A zona da Campanha forma uma unidade geográfica onde tudo se misturou, graças à facilidade de locomoção, a pé, em lombo de animais ou em carretas. O índio, trabalhando como campeiro, se misturou com o brasileiro, com o negro e com o espanhol; o trigo europeu com o milho americano; a batata doce com a laranja oriental; o umbu solitário com o exótico cinamomo e o avestruz corredor com o pacato bovino. Nessa combinação díspar surgiu uma unidade regional dada pelo clima, pela economia e pela identidade cultural em relações à pecuária, que são comuns à Campanha da República Oriental do Uruguai.” (FLORES, 2000, p.265).
A campanha gaúcha é um mundo de coisas, de gentes, de costumes e de interesses. Desta diversidade marcada pela geografia e pela subsistência da criação do gado surgiu o homem campeiro, o gaúcho. A pecuária representa as bases para a ocupação deste território desde sua introdução com jesuítas até o esplendor da época do charque. A Campanha é o ponto de encontro entre homens, animais, atividades econômicas e também cenário de batalhas, de disputas territoriais.
2. Os primeiros habitantes – nativos
Uma página importante sobre a história do Brasil e Rio Grande do Sul, trata das populações autóctones. Esses grupos que muitas vezes ganham a simples denominação de índios, como se tivessem um único modo de vida, de costumes e tradições. No entanto, possuem diversidade étnica e cultural facilmente comprovada pela arqueologia e etnologia. Seu conhecimento e relação com a natureza foram fundamentais para o início dos criatórios de gado na região pampiana do Rio Grande do Sul, Uruguai e Argentina.
Na região da fronteira oeste os grupos primitivos que ali chegaram são os pampeanos e anos depois os guaranis. No Atlas Histórico Del Nordeste Argentino há o seguinte mapa (Figura 1) sobre a chegada dos primeiros povos na região do Rio Grande do Sul:
Figura 1. Mapa de distribuição dos povos indígenas antes da chegada do europeu.
Fonte: GUTERREZ; MAEDER. Atlas Histórico Del Nordeste Argentino. 1995, p. 29
Sobre estes povos representados pelas setas em destaque, GUTERREZ e MAEDER caracterizam:
1- La corriente que proviene de la región meridional está representada por lós pámpidos. Siguieron rumbo hacia el norte y su espiritu expansivo los llevó hacia el extremo oriental, donde dominaban las sabanas abiertas em comunicación com las pampas. Fueron los guerreros y cazadores de venado e nãndú; recolectores de frutos silvestres y raíces.
[…]
5- Los horticultores provienen de la Amazonia; llegan al nordeste por diferentes vias y em distintos momentos de su historia. Cultivaban maíz, tabaco, calabazas, mandioca y batata dulce. Trájeron la cerâmica. Generalmente, se desplazaban por los rios; algunos llegaran hasta la desembocadura del rio de la Plata (…)
Otros horticultores bajaran desde la Amazonia e invadieron el sur-sureste de Rio Grande Y tomaron contacto com los antiguos cazadores-recoletores de pinõnes del planalto riograndense. Se desplazaron por los rios Uruguay y Jacuí y se adaptaron a la planicie costera, antiguo habitat de los recolectores de moluscos.
Estos horticultores eran de tradición tupí-guaraní; fueron los primeiros y los más efectivos colonizadores em esa región. Ellos son los antepasados inmediatos de los Guaraní históricos y de aquellos que habitaron em las misiones jesuíticas. (GUTERREZ e MAEDER, 1995, p. 28)
Através deste relato é possível identificar o movimento migratório dentro do espaço latino e sua chegada a região que se tornaria Rio Grande do Sul. O primeiro grupo caçador coletor daria nome aos minuanos e charruas. O segundo, guaranis seriam posteriormente aldeados nas missões jesuíticas.
Aurélio Porto em sua obra História das Missões Orientais do Uruguai (1954) aprofunda esta distinção de grupos, mediante a análise da tabela abaixo percebe-se o elevado número de bandos indígenas que viviam por estas paragens já no século XVII.
Tabela 1 – Grupos indígenas presentes em território sulino no século XVII.
Grupo racial | Ramos | Nações | Tribos ou parcialidade | Província etnográfica |
MBAYA | Guaicurus do sul | Chaná | Guenoas | Província do Uruguai |
Chanás | ||||
Mboanes | ||||
Iarós | ||||
Charruas | ||||
Minuanos | ||||
JÊ | Guainás | Ibirajara | Caamoguaras | Província de Ibiaça |
Caatiguaras | ||||
Cariroiguaras | ||||
Tebiquariguaras | ||||
Piraiubiguaras | ||||
Taiaçuapeguaras | ||||
Ieiquiguaras | ||||
Ibianguaras | ||||
Guaibiguaras | ||||
JÊ | Guaranizados | Tape | Tapes | Província do Tape |
Arachanes | ||||
Caroguaras | Província do Uruguai | |||
Tabacanguaras |
Fonte: PORTO, Aurélio. História das Missões Orientais do Uruguai. 1954, p.49
Dar-se-á maior atenção a nação Chaná, esta agrega diferentes grupos entre eles os charruas e minuanos, que Guterrez e Maeder denominam Pampeanos. PORTO (1954) enfatiza em sua obra as relações de troca realizadas entre minuanos e portugueses que vinham ao território sulino através da região litorânea. O autor salienta principalmente as trocas de gado por postos de confiança aos minuanos dentro da região sul. O autor também destaca o momento da formação do tipo humano gaúcho:
Quando da expansão do Continente, localiza-se novos grupos na serra do Caverá, dominando os campos do Jarau, e do Quaraí. E aí que se processa a formação do gaúcho do campo, tipo semibárbaro do Pampa, cujos usos, costumes, indumentária e língua ficam como patrimônio da etnia rio-grandense e difundem-se também no Prata, criando esse factor étnico comum. (PORTO, 1954, p. 67)
O mesmo autor também apresenta algumas considerações sobre os modos de vida desses grupos, sua capacidade para a imitação e seus inventos ainda presentes na cultura campeira.
Quanto aos guaicurus do sul (charruas, minuanos, etc.), não era menos notável a tendência para a imitação. São os criadores da idade do couro, no Rio Grande do Sul. Introduzido o gado, tornam-se cavaleiros inimitáveis. Inventam o laço, as bolas, o tirador, a guaiaca, e bota de couro, feita de pernas de animal cavalar ou vacum, garroteado ou sovado. Suas casas têm paredes de couro e tecto do mesmo material. Nas pelotas feitas de um couro, atravessam os rios. Seus trabalhos, neste material, principalmente os entrançados, em que foram exímios, são dignos de apreço. (PORTO, 1954, p. 74)
Fábio Künh (2006) em sua tese também cita a relação quase que de irmandade entre os portugueses e índios. Irmandade com preço obviamente, à medida que a boa relação com os índios mantinha os portugueses nesse território e ainda lhes conferia uma atividade comercial bem interessante através das arreadas de gado. Cooptação de líderes, casamentos entre branco e indígena, distribuição de cargos aos autóctones, eram algumas das medidas utilizadas pelos portugueses para manterem a paz com os indígenas.
O próprio PORTO (1954, p. 70-71) cita a presença de um peão mestiço de espanhol e de minuano nas propriedades do Coronel Francisco Pinto Bandeira.
Já com relação aos charruas o autor denota sua influência na formação dos povos orientais e também a trucidação destes, mediante a atividade dos caudilhos em suas “limpezas” de território para o estabelecimento de estâncias criatórias de gado. Para finalizar ainda destaca sua participação na introdução da exploração de gado na região sul do país.
As marcas deixadas por esse grupo são muito presentes na atualidade, muitos dos costumes dos gaúchos são heranças dos mesmos. A Arqueologia, como ciência que estuda o legado material destas culturas consegue elucidar um pouco mais sobre a vida cotidiana dos mesmos. Dentro da pesquisa arqueológica os grupos Charruas, Minuanos, Guenoas são denominados como Tradição Umbu. Para Klamt e Soares tradição corresponde:
Tradição: é definido como “grupo de elementos ou técnicas, com persistência temporal.” É importante salientar que tradições são hábitos de manufatura de artefatos, não de culturas. Tradição não é grupo humano, sociedade ou tribo, nem língua, cultura ou comunidade, apenas características de confecção de objetos. (KLAMT e SOARES, 2005, p. 25)
Dessa tradição ainda são encontrados vestígios materiais como bolas de boleadeiras, pontas de flecha, lenticulares e outros.
Já ao grupo Jê, chegado posteriormente ao Rio Grande do Sul , cerca de 2000 a 1000 anos A.P. o vestígio mais característico é a presença de cerâmica. Conhecidos como Tradição Tupiguarani, esses povos sedentários foram reproduzindo seu modo de vida nas terras sulinas e à medida que se colocavam, espantavam os da nação Chaná. Tinham meios de subsistência que permitia ficarem num determinado local por mais tempo, pois já plantavam seus alimentos. De acordo com Klamt e Soares:
Sua subsistência tinha como base os produtos originários de uma ampla variedade de cultivos, que mantinham em pequenas roças abertas em clareiras nas matas próximas da aldeia. […] Entre os principais cultivos pode-se citar entre outros, a mandioca, o milho, a abóbora, o amendoim, o cará, o algodão e o feijão. Sua dieta alimentar era complementada através da coleta de frutas, raízes e outros vegetais disponíveis nos arredores, além do mel de abelhas. (KLAMT; SOARES, 2005, p. 51)
Este grupo por apresentar essas características próprias de acomodação territorial, foi catequizado pelos jesuítas e constituíram as Missões Jesuíticas.
1.3 As Missões Jesuíticas e o gado como fator econômico
Tendo em vista que todo o espaço latino americano era habitado por povos indígenas, e que espanhóis e portugueses passaram a tratar deste espaço, mesmo sem conhecê-lo direito. Ambas para acabar com as disputas por territórios resolvem dividir o mundo para si pelo firmamento do Tratado de Tordesilhas realizado entre Portugal e Espanha. A área platina e todo o território do atual estado do Rio Grande do Sul ficaram sendo possessão espanhola. (MAESTRI, 2010).
O processo de colonização desta região inicia com os espanhóis, principalmente na área do rio da Prata, por onde descia a prata extraída das minas de Potosí, Bolívia. Os mesmos instituíram povoados como Corrientes, Buenos Aires demarcando seu espaço. Estas cidades tinham sua economia baseada na agricultura e na pecuária utilizando grandes extensões de terra contando com a mão de obra africana e indígena.
Em 1540 ocorre a criação da Companhia de Jesus, esta instituição realizava dois trabalhos: atender a população urbana, bem como agregar os grupos indígenas. Este trabalho de catequese dos ameríndios que se encontravam em território sulino, aliava benesses tanto para o grupo, pois convertidos teriam suas almas salvas e cumprindo suas funções dentro da aldeia, estes não atrapalhariam os interesses dos espanhóis. (REICHEL; GUTFREIND, 1995)
O elemento a ser incorporado as Missões remete ao grupo indígena Guarani, estes oriundos da região amazônica entraram no atual território rio-grandense entre o século I e II da era cristã seguindo da parte nordeste do estado em direção a sua parte Leste. Fixaram-se principalmente nos ambientes onde podiam reproduzir seu modo de vida, povoando e ocupando principalmente as áreas ao longo dos vales dos rios nas bacias do Uruguai e Jacuí. Deste modo os indígenas do grupo Guarani, mais propensos ao aldeamento, ainda no início do século XVII começaram a ser reunidos em Missões.
De 1622 até 1628 ocorre a primeira grande expansão destas Missões na região do Guairá, na Argentina e no Rio Grande do Sul, em lugares mais longe dos espanhóis, expandindo e consolidando o território (SCHIMTZ, ROGGE; 2011). Nesses locais diferentes atividades eram desempenhadas para iniciar os indígenas na vida cristã, como o ensino de música, representação teatral, confecção de objetos e outros.
No ano de 1630, os holandeses invadiram a capitania de Pernambuco, bem como importantes portos negreiros lusos na África o que gerou a falta de escravos em terras brasileiras para exercerem o trabalho. A solução encontrada foi escravizar os elementos autóctones, daí os ataques decorrentes em Guairá gerando a destruição destas reduções. Os indígenas, bem como os jesuítas que estavam naquelas Missões acabaram indo para outras regiões entre elas para o atual território do Rio Grande do Sul, dando origem as reduções do Tape, na qual se destaca a Redução de Jesus, Maria no vale do Rio Pardo. (MAESTRI, 2010)
Entre os anos de 1635 e 1650 os bandeirantes paulistas atacam a região do Tape, fazendo com os grupos aqui estabelecidos se mudassem para a outra margem do rio Uruguai. Situado na região platina esses grupos começaram a buscar maneiras de aumentar a sua subsistência, aparecendo como opção às criações de gado.
Para entender melhor o como esse processo ocorreu se torna importante conhecer as origens do gado tanto na região platina, quanto no território do atual estado do Rio Grande do Sul.
Em sua obra, O gado na antiga Banda Oriental do Uruguai, Bruxek(1960) destaca que o gado que chegou ao estado teve origem através do contrabando realizado pelos irmãos Góis, de São Vicente para Assunção, atual Paraguai. Daquele ponto em diante o mesmo começou a ser trazido para o Sul, sendo inserido em Buenos Aires já em 1580. A região da campanha, de qualidade de campos incomparável, garantiu o desenvolvimento destes rebanhos.
Sobre a introdução destes animais na Banda Oriental do rio Uruguai Vargas cita:
Em expedição no rio Uruguai em 1607, Hernandarias governador do rio da Prata, recomendou o povoamento das margens orientais do Rio Uruguai à coroa espanhola, pela condição do terreno e vegetação serem adequados à criação de gado nas bandas orientais e a colonização do território. Em 1611, introduziu pela primeira vez o gado nas bandas orientais através da Ilha Vizcaíno na confluência do rio Negro com o Uruguai. A segunda introdução do gado para o oriente se deu por balsas que transportaram da província do Paraguay, em 1617, para a Ilha Vizcaíno e a outra parte foi destinada a vacaria de São Gabriel, região mais central dos Tapes. (VARGAS, 2007, p. 23)
Com relação a essa inserção de gado no território sulino, por parte de Hernandarias, o padre Bruxel salienta a sua extinção. Estes animais não teriam conseguido sobreviver em larga escala como teremos posteriormente com os padres jesuítas. Deste modo cabe aos membros da Companhia de Jesus, o papel de fazerem o gado atravessar o rio e desenvolverem os criatórios de gado nas suas Missões. Vejamos como ocorreu esse processo de acordo com Bruxel:
De 1610 a 1628 temos a aproximação remota do gado vacum à Banda Oriental pela sua introdução e difusão na Banda Ocidental do Uruguai, ou seja, nas reduções que se iam fundando entre Paraná e Uruguai. (…) Em 1634 começa a introdução em grande escala de gado vacum na Banda Oriental, com a arreada de uma tropa de 1500 cabeças, levadas pelo Padre Pedro Romero e Cristóbal de Mendonza. Desde então até o fim, 1637 e 38, começam as notícias alviçareiras, que dão os padres, sobre o bom andamento da criação do gado vacum na Banda Oriental. (BRUXEL, 1961, p. 165-166, vol. II)
Nesse contexto, as Missões foram importante meio difusor da criação de gado na margem oriental do rio Uruguai. Cita-se como um dos membros mais atuantes nessas incursões de gado na região do Tape o do Padre Cristóvão de Mendonza. Este em 1634 trouxe cerca de 3000 cabeças de gado vacum e equinos para as reduções jesuíticas dos baixos rios Ijuí e Piratini e nos médios Ibicuí e Jacuí. Ruchel (2000).
Com o ataque as reduções do Tape, realizado pelos bandeirantes, gerando o abandono daquela região, o gado ficou abandonado. Os animais aumentaram em número assombroso originando a “Vacaria Del Mar”. Para os platinos o termo “vaqueria” indicava um sítio onde o gado que não era submetido a um cuidado periódico ficando solto.
A segunda metade do século XVII é caracterizada de acordo com Ruchel (2000), pela realização de viagens entre a Vacaria do Mar e as reduções dos povos guaranis além- Uruguai. Os índios vinham em grupos para caçar e reunir este gado, recolhendo centenas ou milhares de cabeças inclusive de equinos e muares os levando diretamente para suas comunidades ou para alguma estância ou posto de sua propriedade coletiva. Este movimento também se fazia de um posto a outro ou da estância até o povo respectivo.
Não eram somente os indígenas que consumiam esses animais. Portugueses que conheciam a riqueza que existia nesses campos também começaram a realizar trocas com os minuanos a fim de obterem o valioso produto. As matanças de gado para a extração do couro eram aterradoras e também mexiam com os espanhóis ávidos por lucros.
Os confrontos entre os interessados no gado da Vacaria do Mar eram inevitáveis. Por um lado, os jesuítas queixavam-se dos constantes saques a suas tropas, reclamando a posse das mesmas, por serem introduzidas pelos padres. Os espanhóis defendiam que por se tratar de animais soltos no território espanhol o dito gado lhes pertencia. E os lusos aproveitavam das benesses de possuírem permissão de alguns espanhóis para contrabandear os rebanhos, aproveitavam esta condição de terra de ninguém.
O fato de não se ter uma fronteira bem demarcada entre portugueses e espanhóis propiciou outras duas criações muito importantes no século XVII. A primeira delas foi à da Colônia do Sacramento pelos lusitanos na região platina (1680) e dois anos depois a criação dos Sete Povos das Missões, na área que atualmente corresponde ao Noroeste do Rio Grande do Sul.
Ainda em 1695, quando ocorre a descoberta de ouro na região do rio das Velhas em Minas Gerais, a demanda por mulas e gado vacum aumentou significativamente. Precisava-se de alimento para manter os trabalhadores nas minas bem como das mulas para efetuarem o transporte de carga na região Sudeste. Assim o gado da Vacaria Del Mar começa a ser arreado com mais empenho. Deste modo, os lagunenses muitas vezes entraram em território do Rio Grande com conhecimento dos espanhóis para obter esse gado, levá-los para Laguna, Santa Catarina, e lá fazer o charque, vendido para a região mineradora, ou então as mulas pra realizarem transporte.
Vendo esta situação os jesuítas dos Sete Povos das missões resolvem criar sua própria reserva de gado. No início do século XVIII, os indígenas introduzem animais nos campos acima da área dos Sete Povos, este gado ao se reproduzir deu origem a uma segunda vacaria, a dos Pinhais. Com esta vacaria se teve o mesmo processo de exploração realizado pelos indígenas com a Vacaria do Mar, num caminho de trazer as tropas para os Sete Povos. Este fluxo só diminuirá quando os paulistas também começarem a abater tais animais.
Os caminhos que este gado trilhava através do contrabando efetuado pelos lusos eram difíceis e demandavam tempo até chegarem ao destino. O mais antigo deles consistia em levar os animais pela costa litorânea até Laguna em Santa Catarina, além de longo, os animais deveriam vencer a nado os diversos canais e os rios que desaguavam no Oceano, ocasião em que muitos eram arrastados pela correnteza e morriam afogados.
A partir de 1730 os animais chegados dos campos de Viamão no Rio Grande do Sul, passaram a subir a Serra tomando a direção do rio Rolante, principal afluente do rio dos Sinos. Esta rota foi conhecida como o Caminho de Viamão. Após chegarem aos campos de Cima da Serra seguiam atravessando o rio Pelotas, se dirigindo após para Sorocaba, São Paulo (MAESTRI, 2010).
Com o passar do tempo, devido à exploração contínua dos rebanhos da vacaria do Mar os animais começaram a diminuir, sobre isso reforça REICHEL e GUTFREINDT:
Ao longo do século XVIII, esses rebanhos começaram a diminuir, ao mesmo tempo em que crescia a demanda por couro no mercado internacional. Devido a isso, os colonizadores passaram a se preocupar em criar e reproduzir o gado em estâncias, necessitando, para tal, ocupar, definitivamente, as terras do seu território, intensificando-se, desde então, os choques entre brancos e indígenas. (REICHEL; GUTFREIND, 1995, P. 11).
A criação de animais era muito importante para as populações indígenas, gado vacum, cavalar, muar, ovino, eram muito utilizados. Do rebanho bovino os indígenas obtinham alimento e outro bem muito valioso: o couro. O mesmo era utilizado em suas vestimentas, em seus ranchos, em alguns instrumentos de trabalho em armas, como a boleadeira. O couro também foi utilizado como valor de troca, sendo o principal artigo comercial com os europeus, através do qual os ameríndios podiam adquirir os tecidos, aguardente e facas, artigos que iam se tornando indispensáveis para eles conforme Maestri, (2010) e Reichel; Gutfreind (1995).
1.4 Yapeyu a grande estância missioneira
Como é perceptível nas análises de documentos do século XVII e XVIII a área que hoje corresponde ao Uruguai e a região da fronteira Oeste do estado do Rio Grande do Sul não conhecia limites territoriais. Nesse contexto ao longo destes séculos, XVII e XVIII, diferentes estâncias o ocuparam, sendo válido destacar a de Yapeyu, não somente por estar agregando quase todo o território de Santana do Livramento, quanto pela sua importância econômica se comparada as demais.
O povoado de Nossa Senhora dos Três Reis Magos de Yapeyu foi fundado em 1626, pelo Pe. Pedro Romero. Ficava precisamente às margens do atual rio Guavirarí, afluente do rio Uruguai, conhecido por Yapeyu, pelos indígenas no século XVII. Esta redução não tinha apenas uma função de agregar os indígenas, mas também segundo Vargas (2007) dos espanhóis controlarem o acesso ao Uruguai e também ao Escudo Rio-Grandense. A redução de Yapeyu também consistia em importante marco na expansão das demais reduções rumo a Banda Oriental na década de trinta do século XVII.
Sua organização obedecia ao molde espanhol com um núcleo urbano e uma vasta área rural. Assim logo após sua criação os missioneiros receberam cerca de três mil ovelhas, as quais serviam tanto para alimentar os moradores, quanto para fazer as roupas que os mesmos utilizavam. Em visita a esta redução no ano de 1691 o padre Antônio Sepp a descreve: “Do outro lado do rio víamos a redução, linda de ver-se sobre o outeiro, com a torre e a igreja, com a residência dos padres e com as quadras e ruas das casas e cabanas em que moravam os convertidos” (SEPP, 1980, p. 121)
Ainda no final do século XVII, com o declínio dos reservatórios de gado, os padres jesuítas e povos indígenas começaram a criar espaços para a reprodução destes animais de modo intencional. Nasciam deste modo as estâncias missioneiras. Sobre a característica dessas estâncias jesuíticas, Cesar (2005) as define como um largo espaço de campo, onde não havia propriamente uma morada fixa e grupos humanos estáveis, apenas uma vasta área com boas pastagens propensas para a reprodução destes animais.
O mesmo autor cita:
“Todavia, àqueles criatórios naturais, adequados às funções que a época e o aborígene deles exigem, os próprios jesuítas deram o nome de estâncias. E trataram de, muito previdentemente, de designar para elas pessoal encarregado de executar as lides do pastoreio, gente escolhida, supomos entre os aldeados. Contam alguns informantes que esses ‘posteiros’ primitivos submetiam o gado a rodeios periódicos e ali faziam, em torno de rústicos oratórios, as orações diárias a que estavam obrigados pela disciplina imperante nas missões Orientais.” (CESAR, 2005, p. 25)
Os yapeyuanos tinham nas tropas de gado da Vacaria do Mar importante fonte de alimento, assim já em 1656 criaram sua primeira estância denominada San Andrés. No ano seguinte separaram mil cabeças de gado para fundarem sua segunda redução, a de Santiago. Esta foi a primeira estância da margem Oriental do rio Uruguai, tendo por limites o rio Ibicuy, Uruguai, Quaraí e Ibirapuitã.
Em 1694, com o gado oriundo da Vacaria do Mar, foi criada a Estância de Rincón Del Quareim, tendo por limites o rio Negro e o rio Quequay. Estas duas estâncias, a de Santiago e Rincón Del Quareim, vão unir-se e dar origem a grande estância de Yapeyu. Vargas (2007).
O mapa seguinte (Figura 2) apresenta as estâncias que compuseram o território sulino. O município de Santana do Livramento abrange três dessas estâncias: São Borja, Apóstolos e Yapeyu.
Figura 2: Estâncias Missioneiras séculos XVII e XVIII.
A estância de Yapeyu, como é possível observar, corresponde a um marco para a expansão das reduções espanholas no território sulino ao longo do século XVII, e também reflete a modificação do processo de lida com o gado: das vacarias aos postos e criatórios (PANIAGUA, 2003). As distancias entre a redução de Yapeyu e as vacarias fez com que ao longo do caminho fossem aos poucos levantados postos que mais tarde tornaram-se estâncias. A captura do gado era uma tarefa difícil e exigia o trabalho de muitas pessoas como nos cita Aurélio Porto:
“Vão 50 ou 60 índios com cinco cavalos cada um. Põem eles num alto uma pequena manada de bois, ou vacas mansas, para serem vistos das selvagens (chimarronas), e à pequena distância as rodeiam ou as acurralam 30 ou 40 homens para sua guarda. Entremeadas com essas as chimarronas seguem as mansas. Fazendo-se à noite grandes fogos em torno para que aquelas não disparem. Assim em dois ou três meses, conseguem pegar e trazer para seus povos, de distâncias consideráveis, 6000 ou mais cabeças.” (PORTO, 1954, p. 329).
Com o surgimento dos postos e estâncias essa atividade foi facilitada à medida que havia locais determinados para os arreadores cuidarem e reunirem esses animais. Os postos em sua maioria eram muito simples, porém todos contavam com uma capela, marco da atividade religiosa empregada na redução, galpões e currais. Nestes locais além de permanecerem famílias responsáveis pelos cuidados com o gado, o mesmo era amansado e assim tornava-se mais lucrativo em sua venda ao mercado de Buenos Aires.
Pode-se perceber a importância econômica de Yapeyu. “Expressava-se pela quantidade, pela produção de excedentes e pela variedade de animais, viabilizando um comércio expressivo entre esta redução e os ofícios do Paraguai, Santa Fé, Buenos Aires e os demais povos missioneiros.” Paniagua (2003, p. 49)
Porém, fora da estância de Yapeyu os impasses entre portugueses e espanhóis, a crescente necessidade de se estipular uma fronteira entre as duas possessões, a continua e crescente prática do roubo de gado levaram Portugal e Espanha a assinar o Tratado de Madrid. O ano era 1750, e por este documento ficava decretada que a linha divisória instauraria os Sete Povos para os portugueses e a Colônia do Sacramento para os espanhóis.
Estabelecia, também, uma faixa de terra denominada Campos Neutrais, que separava as duas linhas de fronteira. Situada entre a lagoa Mirim, a lagoa Mangueira e a costa Atlântica, esta área serviria de espaço de neutralização para os constantes conflitos entre as duas metrópoles. Os Campos Neutrais tiveram outra finalidade, porém tornaram-se corredor de contrabando de gado entre Banda Oriental (Uruguai) e o Rio Grande do Sul.
A segunda metade do século XVIII foi marcada por profundas alterações no quadro geográfico e econômico do Rio Grande do Sul, período de assinatura do Tratado de Santo Ildefonso e do desenvolvimento das primeiras charqueadas. A criação destas, esteve ligada principalmente em decorrência das secas que castigaram o nordeste brasileiro, principal fornecedor de carne seca para a região das minas.
Todas essas mudanças também afetaram os yapeyuanos, a redução era a mais prospera dos trinta povos ainda existentes. A criação de gado, ovelhas e equinos realizada por esse povo representava 10% do total produzido por todos os Povos. Porém Yapeyu foi muito prejudicada após a expulsão dos jesuítas no ano de 1768. Os trabalhos com o gado e com a lã no fabrico de tecidos garantiram que a redução sobrevivesse até o início do século XIX, mesmo sob jurisdição laico-espanhola. Os espanhóis diferentemente dos jesuítas corroeram a economia missioneira, espoliaram suas tropas de gado e levaram o grupo a desmantelação.
De acordo com Raul Pont (1983) o território do povo yapeyuano possuiu mais de dez mil quilômetros quadrados. Abrangendo os atuais municípios sul rio-grandenses de Alegrete, Uruguaiana, Quaraí, Rosário do Sul e Santana do Livramento; aos departamentos de Artigas, Salto, Paysandú, Rio Negro e Tacuarembó no Uruguai e uma parcela da Província de Corrientes na Argentina.
Assim é possível vislumbrar a situação destes grupos humanísticos no final do século XVIII, em que índios missioneiros, portugueses e espanhóis disputavam a região que hoje se constitui como fronteira Oeste gaúcha. De acordo com Farinatti:
“Esse universo se tornaria mais complexo com o avanço dos colonos hispânicos vindos da região ao sul do rio Negro, no final do Setecentos, e suas disputas por terras e gado com os povoados missioneiros, enfraquecidos após a expulsão dos jesuítas. Ao mesmo tempo, ao norte os portugueses se infiltravam nas franjas daqueles territórios. A partir das praças de Rio Grande, ao sul e Rio Pardo a oeste, povoadores seguiram se estabelecendo nas fronteiras, adentrando nas áreas disputadas com o Império Espanhol. Em contrapartida, os espanhóis montaram um sistema de guardas na fronteira, contando com um plano elaborado por Félix de Azara, que tencionava criar vilas e estabelecer um cinturão urbano em toda a fronteira, com fim de barrar o avanço português.” (FARINATTI, 2010, p.71)
Este processo expansionista dos portugueses os levou a ocupar não somente a região dos Sete Povos, mas também os projetou além do rio Ibicuí e Quaraí. Neste mesmo período ocorriam os movimentos separatistas no Prata, o que levou ao surgimento do Exército Pacificador, comandado pelo General Dom Diogo de Souza, governador da província. Esta invasão resultou na posse do território compreendido entre os rios Ibicuí e Quaraí.
A ocupação desta área iniciou com o processo de distribuição de sesmarias. O domínio desta região unia a expansão territorial ao impulso econômico decorrente da possibilidade de se expandir a produção pecuária à medida que o pampa apresentava as áreas mais propicias. O momento também era oportuno não somente pela venda do couro como a do charque e também a possibilidade de saquear mais rebanhos. Farinatti (2010).
As demarcações territoriais, porém, ainda não tinham chegado a um desfecho. Artigas, insatisfeito, toma Montevidéu e os soldados rio-grandenses novamente interferem no país vizinho. Tomada a cidadela em 1817, foi realizado um acordo no qual os brasileiros receberam terras entre os limites de Quaraí e Arapeí, para saírem da cidade. Local este que após a independência do Uruguai retornou ao seu território fazendo divisa com o município de Alegrete.
Os rio-grandenses aproveitavam essas situações e se beneficiavam criando estâncias nas terras recém-agregadas ao território nacional, praticando o roubo de rebanhos de gado, enfim, isso acelerou o desenvolvimento de uma grande riqueza entre esses proprietários. No ano de 1817 é criada a povoação de Alegrete as margens do rio Ibirapuitã, sob as ordens do Marquês do Alegrete. Em 1846 e1857 dois de seus distritos mais distantes se emanciparam: Uruguaiana e Santana do Livramento, respectivamente. Farinatti (2010).
Este município, do qual se desmembrou Santana do Livramento teve importante contribuição ao desenvolvimento econômico daquela área. Avé-Lallemant em uma passagem de sua obra, Viagem a Província do Rio Grande do Sul cita:
Viajamos também esse dia sem encontrar qualquer cultura. Por toda a parte, extensa relva. Apenas uma barraca, uma estância longínqua. Passavam, entretanto muitas carretas indicavam ativo movimento comercial, pois sem dúvida a estrada de Alegrete a São Gabriel é uma das estradas de maior tráfego da expressão de acanhamento e dificuldades. Continuava sem poder acostumar-me a ver esses gigantescos carros rangedores de duas rodas, providos de eixos giratórios, com um rebanho de bois de reserva para as mudas e um pequeno rebanho de cavalos para os cavaleiros que os acompanhavam. (AVÉ-LALLEMANT, 1980, p. 319)
Neste trecho percebe-se que no século XIX, o negócio pecuarista ganhou forte impulso e disso decorriam esses êxodos, nesta via de ligação entre os municípios, transportando os bens produzidos na região para o porto em Rio Grande.
Para suprir estas dificuldades de uma inexistência de fronteiras entre Brasil e Uruguai e também o pouco respeito que os brasileiros tinham pelos limites, o governo de Prudêncio Berro (1860-64) adotou certas medidas para os rio-grandenses respeitarem as leis uruguaias. Criou um plano de colonização de terras situada junto à linha divisória entre Brasil e Uruguai. Através dele formaram vilas e chácaras que auxiliaram na defesa do território e difundiam os costumes e idiomas nacionais. Reichel; Gutfreind (1995)
Deste modo se configurou a campanha gaúcha, com vastas áreas ocupadas por pequenos e grandes proprietários, os quais mediante a lógica da lida com o gado estruturaram sua vida, costumes, economia e cultura. Devido ao gado durante a República Velha tivemos um dos mais violentos confrontos do estado a Revolução Federalista. Uma luta entre grandes estancieiros e os defensores do governo positivista de Júlio de Castilhos.
Com a produção ganadeira Santana do livramento, Bagé, Quaraí, Alegrete e outros municípios vão ser a base da economia gaúcha durante anos e também vão cair no ostracismo a partir da década de trinta do século XX. Os tempos áureos da criação ganadeira passaram, mas os costumes, a cultura e a tradição continuam arraigadas aos moradores daquela região e aos gaúchos de modo geral.
2. O QUE NOS DIZEM AS FONTES BIBLIOGRÁFICAS SOBRE OS CURRAIS
Após uma breve explanação sobre a história de formação da fronteira oeste do estado do Rio Grande do Sul, estando inclusa a formação do próprio município de Santana do Livramento e região, pode-se abordar o tema específico da pesquisa: os currais. Ocorrem em diversos textos algumas passagens, nas quais os autores relatam a existência de currais e/ou mangueiras atreladas a propriedade rural. A questão a ser tratada nesse capítulo remete a significação desses termos inicialmente com base no dicionário e após na bibliografia pesquisada. Nota-se que o curral e a mangueira pressupõem muito mais que um local de lida com o gado como visualiza-se adiante.
Segundo o Dicionário Aurélio os termos “curral” e “mangueira” significam respectivamente: “Curral. S.M. Lugar onde se junta e recolhe o gado, arribana, malhada, corte. (…). E para mangueira. Grande curral de gado, de pedra ou de madeira, junto ao edifício da estância.” Ambos servem para lida como gado, porém a mangueira é um espaço maior do que o curral.
O fato do termo curral ter diferente significados pode confundir um leigo no assunto. Dante de Laytano em sua obra cita curral dentro do desenvolvimento daquilo que viria a constituir a estância do futuro:
A evolução da propriedade rural até que ela atingisse o status econômico da sesmaria ou da estância, passou por um período inicial, que se denominou “invernada” e “curral”, “tapera”, “sítio” ou “rincão”. Estas definições, embora não muito precisas, principalmente as últimas, revelam a origem dos negócios da pecuária no Rio Grande do Sul.
Os currais serviam, na verdade, para determinar a localização de cada invernada e davam certa legitimidade de posse diante da ocupação precária, incerta e acidental dos campos. Lê-se, na documentação do começo do século XVIII, a palavra “curral” para assegurar o direito adquirido, como o curral de Frei Sebastião; aliás, a palavra “curral” tinha sinônimos em “tapera”, “rincão” e “sítio”. Seriam formas jurídicas de usucapião ou de direito de posse. (LAYTANO, p. 15).
Nessa designação curral poderia ser um pedaço de terra que sendo próximo ao local que passavam as tropas de gado foram sendo utilizados como pousos e locais de paragem, assim como a estrutura utilizada para recolher o gado. Após nestes espaços teriam origem as estâncias.
Como a atividade ganadeira esteve presente desde as origens mais primordiais de nosso estado, os espaços e os objetos necessários a mesma também se fixaram a nossa realidade. É o caso da campanha, do uso do cavalo, do churrasco, da boleadeira, do laço, do rodeio e também da mangueira e do curral. Mesmo que não tenhamos mais a economia estruturada totalmente no gado esse legado permaneceu e nos é comum. Assim como nas obras de estudo da história rio-grandense estes objetos são citados, eles também ganham espaço nas narrativas que tratam do gaúcho, fazendo-se presente na literatura, na música e na poesia.
2.1 História da história
A base bibliográfica para a realização deste trabalho, mais do que um desafio, se tornou ora gratificante, ora aterradora e desoladora para a pesquisa. Diversos autores falam do crescimento e desenvolvimento do estado, porém poucos citam em suas obras algum tema que remeta a construção dos currais ou mangueiras na fronteira oeste.
Gutfreind(1992) em sua obra destaca essa disparidade na hora de se narrar a história do Rio Grande do Sul situando características entre o grupo lusitano, com uma historiografia mais tradicional principalmente através das obras do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul e platino que davam maior atenção a região da fronteira e o contato entre os rio-grandenses e os elementos uruguaios e argentinos. A disparidade que nos referimos ao modo de narrar as origens deste estado são fatores determinantes nesta pesquisa.
Muitas obras desconhecem a primeira leva de Missões indígenas no estado, as Missões do Tape. Outras remetem apenas a presença dos bandeirantes e dos açorianos.
Uma das orientações identificadas denomina-se de Matriz Platina e a outra de Matriz Lusitana. À primeira filiam-se os historiadores que enfatizam algum tipo de relação ou de influência da região do Prata na formação histórica sul-rio-grandense e comumente defendem que a área das Missões Orientais, com os aldeamentos jesuíticos do século XVII, componha a história do Rio Grande do Sul. A outra, a matriz lusitana, minimiza as aproximações do Rio Grande do Sul com a área platina e, consequentemente, defende a inquestionável supremacia da cultura lusitana na região. (GUTFREIND, 1992, p. 11)
Paniagua (2003) em sua dissertação salienta a questão da historiografia sobre a fronteira oeste do estado. O autor detecta três formas de escrever sobre esse espaço durante os séculos XVII e XVIII. O primeiro deles faz referência ao período do estabelecimento das Missões jesuíticas, tanto as do primeiro período (1626-1638), quanto as do segundo período 1682-1768. Nestes dois momentos distintos sabe-se que há diversos documentos que tratam da vida cotidiana destas missões e das pessoas que nelas viviam. Há uma gama interessante de inventários e outros registros realizados pelos jesuítas que servem de fonte para a pesquisa. Esta abordagem é fundamental para entender o início do processo de povoamento do estado.
Com relação a segunda abordagem o mesmo autor destaca a ocupação da região da campanha com base na ação dos povos nômades, principalmente os Chanás-Timbu e Minuanos. Está marca na visão de Paniagua é uma maneira de mostrar a influência do elemento indígena na cultura gaúcha e ocultar o processo de extermínio exercido sobre os povos autóctones nas campanhas de limpeza de áreas.
Já a terceira leva de abordagens abarca obras que considera o espaço da região da fronteira Oeste como uma imensidão abandonada ao descaso. Fonte das mazelas e disputas entre portugueses e espanhóis, o local seria um ermo sem ninguém o que justificaria a presença dos portugueses e também o processo de expansão dos mesmos do litoral para o interior do estado. Para o autor:
“Esta percepção do espaço oeste do Rio Grande do Sul, visa única e exclusivamente justificar a expansão e a ocupação lusitana do litoral para o interior, apresentando como legitimas as disputas e conflitos advindos e negando consequentemente, qualquer outra organização econômica e social dessa área.” (PANIAGUA, 2003, p. 33.)
Ao longo da pesquisa bibliográfica certamente as obras de cunho platino foram mais interessantes, até por tratarem com maior prioridade as questões da região da fronteira Oeste e do tipo humano que se consolidou no pampa gaúcho. Porém não é de se desprezar as considerações oferecidas por livros de cunho mais lusitano sendo necessário mesclar essas informações a fim de obter melhores resultados. Deste modo, inicialmente o trabalho retrata o que contam as obras bibliográficas sobre os currais da região da fronteira Oeste do estado.
2.2 Os currais e os criatórios de gado na concepção dos viajantes: Saint-Hilaire e Baguet
Dois viajantes passaram pela região do atual estado do Rio grande do Sul e descreveram o modo de vida das pessoas, seus costumes, atividades e cotidianas. Saint-Hilaire e Baguet passaram no estado no século XIX e descrevem em suas obras o uso de currais e a lida com o gado.
Em viagem na província do Rio Grande de São Pedro Saint-Hilaire descreve ao passar pela região de Rio Grande a utilização dos currais para bater o trigo. Esse processo ocorre em dois currais tendo um uma forma qualquer e outro a forma circular. Capina-se a erva do último curral, espalhando nele as espigas de trigo. Reúnem-se jumentos bravios no primeiro curral, daí fazem passá-los ao segundo em que homens a cavalo fazem-nos correr à volta várias vezes, debulhando o trigo com as patas. Saint-Hilaire (1974).
É sabido que a função primordial dessa estrutura não era esta e sim a de possibilitar o aparte e cuidados com o gado. Porém esta é outra forma de uso que resolveu o problema da família em descascar o trigo.
Sobre o costume de proteger uma determinada área da invasão de animais Saint-Hilaire cita ao passar por esta mesma região:
“Devido ao gado solto nos campos há necessidade de cercar todas as culturas. Para isso fazem ao redor das lavouras uma vala profunda tendo ao lado das plantações moitas de verduras, a guisa de pequenos muros feitas com cuidado. Entre estas moitas são plantadas Cactáceas e Bromeliáceas de grandes folhas espinhosas que se apresentam em grandes rosetas, e, embora tais plantas tenham porte pequeno formam sebes difíceis de arrombar.” (SAINT-HILAIRE, 1974, p. 81).
Esta prática de utilizar-se de plantas espinhentas e valas para não permitir que o gado ultrapassasse determinado local é muito comum da região Sul do estado. Em alguns momentos, porém, ela também ocorre na região da campanha.
Com relação aos cuidados com o gado nesta Província, o mesmo autor salienta que a pecuária pouco trabalho dá nesta região, também salienta a realização dos rodeios para aquerenciamento do gado. Vejamos:
O único cuidado que os peões têm é o de acostumar os animais a ver homens e a entender seus gritos, a fim de que não fiquem completamente selvagens, deixem-se marcar quando preciso for, e possam ser laçados os que se destinarem ao corte e a castração. Para tal fim o gado é reunido, de tempos em tempos, em determinado local, onde ficam durante alguns dias, depois voltando para as pastagens, em liberdade. A essa prática chamam ‘fazer rodeio’ e o local onde prendem os animais dão o nome de ‘rodeio’. (SAINT-HILAIRE, 1974, p.28).
O viajante belga, Baguet, comenta em uma passagem de seu relato: “Chegados ao lugar, encontramos um enorme rodeio (rebanho) reunido no curral, onde os peões realizavam seus trabalhos com uma destreza surpreendente, sem tomar nenhuma precaução que se empregam na Europa.” (BAGUET, 1997, p.68).
Nestes trechos percebe-se o quanto a prática de se criar gado é algo arraigado aos hábitos da região da fronteira oeste. E também como chama a atenção dos viajantes o modo como estes animais eram criados. Sem muitos cuidados e sem dar muito trabalho. Os mesmos também destacam o uso do curral nas lides com estes animais.
2.3 Currais nas obras que tratam da história do surgimento do Rio Grande do Sul
Muitas são as obras que tratam da história de origem do estado do Rio Grande do Sul. Algumas omitem alguns fatos, outras destacam outros, porém com relação à pesquisa elas são muito parecidas: nenhuma delas aprofunda o assunto quando o tema é currais. Em sua maioria apenas destacam em seus escritos a utilizações de currais e mangueiras, porém não entram num maior detalhamento.
Aurelio Porto, salienta nas origens do povoamento do Rio Grande do Sul o trabalho dos padres jesuítas:
Em visita as reduções recém-fundadas na Banda oriental do Uruguai o Padre Vásquez Trujillo fez chegar até esse povo: Havia mandado trazer uma dúzia de vaquinhas para matar e dar-lhes alguma carne, coisa que estimam sobremaneira e era de ver o espanto e admiração que tinham ao vê-las, e embora estando encerradas, não se atreviam a chegar ao curral, e quando as tiravam ou levavam para encerrar subiam (os índios) sobre as casas não só por temor, como para vê-las melhor. E não era menor o espanto que mostravam em ver os cavalos, como sucedeu, em Caró, pois só em ouvir relinchar o cavalo em que eu ia, se escondiam as meninas espantadas de ver coisa que jamais haviam visto. […]Como estas vaquinhas destinadas ao corte é possível que outras, transpondo o Uruguai, hajam entrado no território rio-grandense com o mesmo fim. Quando o Padre Cataldino, a 5 de agosto de 1633, chega ao local em que fundou a redução de São José, aí já encontrou feito pelos índios, um pequeno curral para as vacas que esperavam. (PORTO, 1954, p. 270)
Porto contribuiu ao conhecimento do trabalho e vida nas estâncias missioneiras. Nessa passagem notamos a surpresa dos indígenas aldeados com a chegada das primeiras vacas e também marca a presença de currais utilizados para prendê-las. Nesta passagem podemos verificar essa prática com mais cuidado. Vejamos:
Com a introdução do gado, em 1634, e cuidados que exigiam os primitivos e diminutos rebanhos introduzidos nas Reduções, estabeleceram os Jesuítas pequenos currais, nas proximidades das aldeias, aonde os vaqueiros recolhiam, à noite, certo número de vacuns confiados a cada um deles, evitando assim se trasmalhassem ou fossem devorados pelas feras que abundavam nas matas circunjacentes. (PORTO, 1954, p. 319)
Guilhermino Cesar por sua vez, diferencia as atividades realizadas por luso-brasileiros ao levar gado do território sulino para São Paulo. O autor denota a utilização de currais (no mesmo sentido do Moacyr Flores – espaços de terra onde os tropeiros acampavam) como meio de facilitar o tráfico de animais entre essas distâncias, salientando a sua transformação posterior em propriedade.
Em razão desse tráfico de animais que chamou muita gente aos ermos sulinos, tropeiros lagunenses e paulistas foram deitando raízes aos campos litorâneos, sobretudo entre Laguna e a Barra do Rio Grande. Em consequência, as invernadas, os currais para o gado em trânsito, os pousos tudo quanto pertence ao sistema da tropeada germinou, cresceu transformou-se. De resto, a vida dos homens que labutavam na região rio-grandense tinham um só objetivo –tropear os gados entre o Prata e Laguna e São Paulo- escreve Borges Fortes. A ocupação das terras – continua – era temporária, no regime das invernadas, isto é, os tropeiros revezavam-se nas áreas e pastagem de que precisavam para seus rebanhos ao longo dos caminhos, durante o tempo que entendiam sem, entretanto, possuírem qualquer título de legitimidade a ocupação temporária e precária. […] Os currais marcavam a localização de cada uma das invernadas e investiam de legitimidade, pois que não se firmava ainda o direito de soberania naquelas paragens. (CESAR, 2005, p. 59).
Na mesma obra o autor salienta o movimento de expansão da estância gaúcha num processo que seguia de Oeste para Leste. Também discorre sobre o surgimento dos currais primitivos criados pelos jesuítas e do aproveitamento do gado como elemento econômico muito apreciado desde este período.
Cronologicamente, as estâncias, no Rio Grande do Sul, envolveram-lhe o território a partir do Oeste, a saber, desde que os jesuítas instalaram os aldeamentos indígenas à margem esquerda do rio Uruguai. Cada um dos pueblos tinha seu ‘retiro’ reservado a criação e engorde de gado. (…) Seja como for, desses núcleos improvisados, erguidos naturalmente e lugares onde havia abundancia de reses, nasceram os currais primitivos, tanto quanto as primeiras moradas fixas, as estâncias orientais mais remotas de que se guarda lembrança. O desfrute desses autênticos viveiros de proteínas era contudo, modesto. Restringia-se de início, à courama vendida para a Europa por intermédio da Colônia do Sacramento, de Buenos Aires e dos bucaneros mais atrevidos que rondavam o litoral abaixo de Punta del Este. (CESAR, 2005, p.67-68)
Mario Maestri (2010) em sua obra sobre a formação histórica do estado do Rio Grande do Sul denota o importante papel do tropeirismo como fator ao desbravamento daquela região e seu paulatino processo de ocupação. Essa ocupação passou por um processo cronológico que segue do curral a fazenda e que ainda são observados na atualidade. Vejamos:
O tropeirismo marcou profundamente as regiões atravessadas pelos caminhos de tropas, determinando a formação de ocupação do espaço, com currais, galpões e fazendas, induziu as relações sociais e influenciou os costumes e tradições.
As marcas ainda estão visíveis nas antigas fazendas, nas grandes mangueiras de pedras nos muros de taipa ao longo da trilha, no artesanato do couro e da lã, na comida, no café e nos causos. (…) Havia a crença que nas paredes de taperas ou nos antigos muros de taipa podiam existir panelas de ferro com moedas de ouro, ocultas por algum avarento. (MAESTRI, 2012, p.45).
Nem sempre os cuidados com o gado ocorriam mediante o uso do curral, então se fazia o rodeio. Um local no campo era demarcado para reunir e realizar os trabalhos de marcação e castração do gado. Sobre essa atividade o mesmo autor escreve:
Os dados primários conhecidos confirmam que, no século 19, de forma geral, um peão ocupava-se de seiscentos a novecentos animais. A forte tendência gregária e estacionaria do gado bovino facilitava a criação em campos não cercados, através da formação de rodeios. Para tal, durante semanas, cavaleiros reuniam o gado bravio em um terreno aberto e plano, no centro do qual se plantava um tronco de madeira. (…) O esforço inicial da constituição do rodeio, através de domesticação mínima do gado vacum, exigia um número considerável de trabalhadores. A seguir como o gado se aquerenciava ao local, mantendo-se em suas cercanias, caso não interviessem elementos extraordinários, como seca, fortes tempestades, etc., bastava um punhado de vaqueiros para reuni-lo, periodicamente, no rodeio, para que não disparasse e para realizar os principais trabalhos pastoris – marcação, castração, cuidado das bicheiras, separação das tropas, etc. (MAESTRI, 2010, p. 97).
Em sua obra sobre A vida dos estancieiros, seus costumes e tradições Jacques (2000), relata algumas atividades realizadas nestes locais entre elas dá destaque a prática do rodeio, sobre o qual decorre:
Os trabalhos nas estâncias são variados e dependem pela maior parte do rodeio, o qual não é mais do que a reunião dos gados em um certo lugar do campo, para onde se os levam facilmente, devido aos hábitos em que estão estes animais, reunir assim o gado se chama parar rodeio e que tem lugar para os seguintes fins: marcar o gado, castrar os potros e touros, tosar as éguas, apartar os novilhos e vacas para tropas que vão para as charqueadas e os açougues, curar os animais […] (JACQUES, 2000, p.81).
Nesta citação ficam explicitada os novos trabalhos a serem realizados na estância que vão de acordo com as mudanças nos costumes e tempos, antes apenas se reunia o gado para levar ao abate ou para seguir viagem. No contexto do autor pós 1850, quando se cria a Lei de Terras que presume a organização das propriedades já se percebe a necessidade de se ter um controle sobre esses bens. O processo de marcação, a contagem são elementos que denotam uma separação entre o que é de um e o que é de outro proprietário.
Ruchel e Gutfreind salientam também os trabalhos nas estâncias ressaltando os meses de maior movimento e a contagem de gado em rodeios coletivos:
Os meses de outono eram, talvez, os mais agitados em uma estância que se dedicava à venda de gado. Durante os meses de março a abril os animais eram marcados. Os peões e domadores, pagos por dia, auxiliavam nas tarefas de domar os cavalos e construir os currais. (…) A partir da primavera, os trabalhos voltavam a se intensificar com a preparação das obras necessárias para o enfrentamento da seca do verão e com o incremento das atividades de aquerenciamento e rodeio. Nesta época, como em tantas outras quando era necessário, as estâncias próximas reuniam o gado em rodeios coletivos a fim de separar seus animais. (REICHEL; GUTFREIND, 1995, P. 62-63).
Farinatti (2010) em sua obra sobre as relações sociais entre a elite agrária de Alegrete realizou um estudo com base em inventários dos quinze maiores estancieiros daquela região. O autor menciona a presença dos currais como um bem a ser deixado aos herdeiros e muitas vezes servindo a todos e não somente aquele que recebeu a parte de terra onde estava estabelecido o curral ou mangueira.
Nessas estâncias a base para o trabalho era muitas das vezes o negro escravizado. O trecho abaixo demonstra a utilização desses homens nas diferentes lidas necessárias a manutenção da propriedade, inclusive na construção de currais e mangueiras de pedra.
De fato, os escravos de cada um desses podiam trabalhar a serviço de outros. Isso é válido para os escravos campeiros que trabalhavam nas estâncias onde pastavam em conjunto rebanhos de vários parentes. O mesmo ocorria com cativos pedreiros e carpinteiros, que construíam instalações como mangueiras e currais que seriam aproveitados por todos. Nesse sentido, doar escravos aos filhos não significava sempre perder o trabalho desses cativos, já que muitas vezes, eles seguiriam desempenhando serviços que aproveitavam a vários membros da família. (FARINATTI, 2010, p. 271).
Nos inventários também ficam evidenciados que as tarefas conserto desses currais:
Nesse contexto, parece bem mais compreensível a conta que o Brigadeiro Olivério José Ortiz anexou ao inventário de sua esposa, em 1854. Ali constavam, entre outras despesas, gastos com reparos das mangueiras e currais, dinheiro que dera ao filho Major Olivério para que fosse a Porto Alegre (…) (FARINATTI, 2010, p. 402).
Face ao exposto, os currais constituíam um importante local onde a vida econômica da região era renovada. Aparecem nessas obras diferentes concepções de uso e de finalidades para os mesmos e também há a profusão de gentes e serviços envolvidos.
2.3 Estudos acadêmicos sobre os currais
No campo acadêmico, os trabalhos sobre os currais são escassos, sobre a região da fronteira oeste poucos são pautando somente nessas estruturas. Nessa pesquisa a fonte serão trabalhos que tratam da Estância Yapeyu, este desenvolvido por Vargas (2007); o trabalho sobre currais de palma, na região Sul do Estado, desenvolvido por Oliveira (2010); de Brochado (1970) na região dos Sete Povos das Missões e ainda uma entrevista com o jesuíta Pedro Ignácio Schmitz, grande conhecedor sobre os trabalhos dos jesuítas em território sulino.
Vargas ao realizar seu trabalho de conclusão se dedicou-se a conhecer mais sobre a história da Estância de Yapeyu. O autor ao apresentar seus anexos coloca uma imagem de três mangueiras as quais designa: “As mangueiras em forma circulares, teriam a função de manter os mulares vacuns e equinos vacuns, as mangueiras retangulares seria para o trabalho com o gado.” (VARGAS, 2007, p. 42 e 43).
Já o trabalho de Oliveira (2010), aborda a construção e utilização dos Currais de Palma, na parte denominada Campos Neutrais do estado. Sua dissertação trabalha com a prática de se construir currais contando com o auxílio de palmeiras para fechar o entorno da estrutura, elemento material que com o passar do tempo se deteriora. O estudo sobre estes currais indica a necessidade de se preservar e de se fazer conhecer a história sobre a estrutura pecuarista daquela região. Vejamos:
A provável técnica de construção dos currais foi à utilização das palmeiras já existentes na área, que foram transplantadas completando a forma desejada. Não sabemos exatamente o número de árvores naquele tempo, mas sabemos que o palmar era muito extenso e havia muitas concentrações, o que poderia favorecer a retirada das árvores centrais de um suposto círculo ou quadrado. (OLIVEIRA, 2010, p. 52).
Sobre a autoria da construção desses currais o autor também destaca:
A construção dos currais de palmas está relacionada aos tempos em que ainda viviam as populações indígenas nessa região. Segundo Becker (1982) pode ser classificado em dois grupos: os MINUANOS e CHARRUAS. Os sujeitos que ocuparam esses campos tinham dificuldades de encontrar no ambiente madeira (árvores) de grande porte para construir locais de encerras. (..) As estruturas possuem formas circulares e retangulares, estão localizadas na paisagem entre ladeiras que vão ao encontro de arroios e banhados, muitas associadas a potreiros construídos com árvores nativas. O espaço ocupado pelas estruturas possui esta característica de estar modificando a paisagem em proveito das tarefas empregadas pelo colonizador em seu benefício. (OLIVEIRA, 2010, p. 55).
Vale lembrar que em determinados momentos esta zona dos campos neutrais foi importante local de contrabando de gado efetuado pelos portugueses. Daí a utilização de currais para facilitar o trabalho. Naquela região também é comum encontrar-se currais de taipa (Figura 3) mediante a falta de pedras os grupos daquela região encontraram outra matéria prima que suprisse essa necessidade.
Figura 3. Imagem de curral de taipa no município de Santa Vitória do Palmar, RS.
Fonte: Arquivo pessoal dos autores.
Já nas pesquisas realizadas por José Brochado, na região dos Sete Povos das Missões há uma citação que remete a descoberta de uma estrutura de pedra que seria um curral utilizado para prender gado. Vejamos suas características:
[…] São todos sítios de habitação que ocupam áreas de que variam entre 400 e 2.500 m², excepcionalmente 10.000 m², e se encontram a distancias que variam entre 150 e 400 m do curso de água mais próximos e mais de um quilômetro do rio Ijuí. Somente nas proximidades de um destes sítios foi observada a presença de um muro de pedras amontoadas, com menos de um metro de altura e base muito larga, assim como depressões e outros amontoados de pedras, telhas e tijolos, sugerindo currais para o gado e habitações antigas. (BROCHADO, 1969-70, p. 20).
De acordo com o Schmitz, outro grande entendedor sobre a atividade jesuítica do estado havia algumas distinções nos currais encontrados na região da fronteira oeste. Em pesquisa sobre essas estâncias fora localizado um curral cujas características eram: “estrutura de pedra, com uma escavação ao redor dessas pedras e formando assim uma estrutura de terra e pedra que serviria para encerrar o gado.” (relato informal, Pedro Inácio Schmitz, junho de 2012).
Muitas são as designações sobre os currais, mas certamente a maior dificuldade é encontrar maiores dados que tratem especificamente dos da região oeste e que os caracterizem com maior exatidão. Esse garimpo de fontes rendeu algumas informações, mas ainda são muito escassas e difusas.
3. CURRAIS ENCONTRADOS NA REGIÃO DE SANTANA DO LIVRAMENTO
A pesquisa realizada não abarcou todo o território do município de Santana do Livramento e vizinhos e sim as áreas envolvidas para a instalação de parques eólicos e pavimentação de rodovias. Inicialmente procedeu-se um levantamento bibliográfico sobre a região para conhecimento prévio das suas características sócio-culturais e econômicas. Em seguida mediante o uso do software Google Earth foram marcadas em mapas as estruturas a serem visitadas.
O próximo passo consistiu na visita in loco dos locais e sempre que possível obter mais informações junto aos proprietários sobre os currais ou mangueiras, sendo feito nesse momento os registros fotográficos das estruturas encontradas, medição, forma geométrica e elementos construtivos dos mesmos.
Mais de trinta estruturas foram encontradas sendo que aqui apenas algumas ilustrarão o trabalho, ficando a publicação da totalidade para uma outra oportunidade.
Também é sabido que Santana do Livramento se caracteriza pela presença de muitas pedras em superfície. A presença dessa matéria-prima facilitou o processo de edificação de estruturas como residências, muros, cercas e currais todos em pedra.
Apesar das semelhanças impostas entre o material as áreas de pampa presente entre Uruguai, Rio Grande do Sul e Argentina, as primeiras atividades criatórias de gado na Argentina não foram muito fáceis devido a ausência de matéria-prima
Sierra diz que as vacas que se levaram eram quinhentas (n° 107), Coni prova que em 1585 as cabeças de gado vacum em Buenos Aires eram apenas 675. Deviam ser nem matos nem pedras para fazer cercas, tendo que ser vigiado continuamente por pastores. Pouco a pouco foi possível ir colocando os gados mais longe das hortas e dos roçados das povoações. Alguns arroios e o apego a querência formariam os limites e primeiros núcleos das estâncias. (BRUXEL, 1960, p. 90-91).
Nessa passagem torna-se notório como nos primórdios de ocupação já era corrente a utilização de meios de se prender o gado. Mesmo em locais com ausência de matéria-prima eficaz, como pedras, os criadores buscavam outras alternativas para prender seus animais. Santana do Livramento e praticamente toda a região da fronteira Oeste, são agraciadas com a abundância de pedras (Figura 4), isso talvez explique um dos motivos de existirem tantas estruturas erguidas com esse material.
Figura 4. Imagem panorâmica em área de campo ilustrando afloramento de rochas no município de Santana do Livramento, RS.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.
Ainda é válido destacar que a presença do arame para a construção das cercas é algo recente, começou em 1870, portanto até esse período qualquer demarcação ou separação de animais ocorria ou mediante a marcação do gado, ou com a presença das cercas, valas, currais e mangueiras de pedra.
Com base nos dados disponíveis verificou-se a presença de mangueiras, espaços amplos onde provavelmente se aprisionava o gado. Geralmente a mangueira não tem uma forma bem definida. Também identificamos diversos currais, estes por serem para lidar diretamente com o gado, seja para castrar, marcar ou apartar apresentavam tamanhos e formas diferentes. Os mais comuns e frequentes são as formas circulares (Figura 5 e 6), para prender o gado, ou cavalos e mulas. Há também os retangulares (Figura 7) alguns em tamanho e proporções menores, os quais definimos como locais para lidar com animais de pequeno porte como as ovelhas e também os caprinos.
Figura 5. Ilustração de curral de pedras em formato circular em Santana do Livramento, RS.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.
Figura 6. Ilustração de curral de pedras em formato circular em Dom Pedrito, RS.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.
Figura 7. Ilustração de curral de pedras em formato retangular em Santana do Livramento, RS.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.
Com relação aos materiais utilizados na construção o elemento principal é a pedra. Quase todos os currais e mangueiras são feitos com pedra. Apenas dois casos contrariaram essa regra. Trata-se de dois currais construídos em pedra e taipa de terra (Figura 8 e 9). Aos mesmos mediante as leituras e conversa pessoal com Pedro Inácio Schmitz, estamos lançando a hipótese de serem do período missioneiro jesuítico.
Figura 8. Ilustração de curral misto (pedra e taipa) em Santana do Livramento, RS.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.
Figura 9. Ilustração de curral misto (pedra e taipa) em Dom Pedrito, RS.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após o termino desta etapa da pesquisa algumas considerações merecem respaldo. Inicialmente deve-se considerar que uma pesquisa deste porte, não pode ser dada como finalizada apenas com essas considerações lançadas nesse estudo. Vários são os autores que citam os currais em suas obras, porém estes não explicitam com maiores detalhes como foram feitos os currais, quem os fez, quando, quais as finalidades, quem os utilizou. Estes são dados que em algumas obras aparecem esparsos, em alguma passagem que o autor comentou, muitas vezes são incompletas e repetitivas.
Nota-se que ocorrem em certas obras destaque à presença dos espanhóis ou dos jesuítas, das missões no estado. E em outras se destaca a importância do tropeiro lusitano que desbrava o continente no sentido Leste para o Oeste. Obviamente sejam portugueses ou espanhóis, ambos tiveram grande importância para a formação da sociedade, porém não devemos esquecer que realmente a primeira ocupação intencional destas paragens ocorreu pelos padres e indígenas nas Missões jesuíticas ainda no século XVII. Que a ocupação do que se tornou o estado rio-grandense ocorreu intencionalmente como meio a agregar territórios por parte dos espanhóis e que o estado gaúcho tem costumes e atitudes típicas dos grupos indígenas.
Deste modo o estudo sobre esta temática já inicia sob o respaldo de diferentes correntes historiográficas se complementando, dentro das distinções de matrizes lusitana e platina consideradas por Ieda Gutfreind. Outro fator que em certos momentos confundiu a pesquisa bibliográfica foi o significado do termo curral. Ora estamos acostumados a compreender curral como um espaço construído pela ação do homem, cuja finalidade é encurralar o gado para a realização de alguma atividade com o mesmo, seja a marcação, a castração ou até mesmo o aparte de animais. Porém dentro de algumas obras o termo confere a um espaço de terra ainda não ocupado, o qual é designado para paragens durante o percurso até o destino almejado. Nesse sentido curral designa área de terra e não uma construção.
Outra questão que deve ser observada, a fronteira oeste não teve as características que apresenta hoje desde o início de sua ocupação. A região sempre foi muito tensa em sua constituição e no próprio processo de ocupação. Diferentes grupos ora se uniram, ora guerrearam por objetivos múltiplos. Lidar com um espaço nesse contexto requer muito cuidado e leituras para conseguir se chegar a um entendimento. As características peculiares do pampa, o índio, espanhol, português e o negro, deram a região uma situação ímpar que teve seu reflexo em toda a constituição cultural e identitária do povo gaúcho.
A questão de relacionar estas construções como marcos econômico, cultural e social, tem a seguinte concepção: com relação ao fator econômico se torna evidente, pois essas estruturas eram para lidarem com as tropas de gado, equinos e ovinos fundamentais ao sustento daquela região por um longo período, cuja crise em si só começou a ser sentida no início do século XX. O posicionamento cultural e social corresponde, sem entrar em maiores detalhes, a questão dos costumes do gaúcho, peão campeiro que tem na atividade com o gado seu sustento e porque não seu status social. Lidar com gado xucro exige no mínimo agilidade, habilidade e coragem. Assim se torna um espaço de se reviver aquilo que muitos já fizeram e que continuam fazendo, onde os costumes são trocados, onde o menos capaz não é o que tem menos dinheiro e sim o que não domina o laço.
Falando então dessas construções toda a fronteira oeste tem como marco essas estruturas em pedra e/ou taipa. Uma por se constituir de modo barato e eficiente uma vez que pedra é a matéria-prima mais abundante e duradoura da região. Na região de Santana do Livramento essas estruturas quase são tidas como algo natural da paisagem. Percebe-se a existência de currais circulares, retangulares, mangueiras com uma enorme extensão, capaz de conglomerar muitos animais. A maioria dessas cercas é feita de pedra, porém nesse município dois currais apresentavam características diferentes. São compostos por terra e pedra. Sobre estes currais, mediante as leituras e com base no relato de Pedro Ignácio Schmitz (UNISINOS) foram denominados de possíveis currais do período missioneiro e suas características correspondem ao curral estudado por Arthur Barcellos em seu trabalho sobre Arqueologia nas missões.
Não afirmamos ser missioneiro e sim lançamos a hipótese de se constituir em uma construção daquele período. A falta de fontes e de pesquisa nessa área – o tema é inédito para aquela região – torna o trabalho muito mais complicado, pois não temos ainda autoridade no assunto para afirmar ou refutar alguma concepção. Esta pesquisa ainda terá de encaixar muitas peças para se chegar a uma conclusão mais eficiente. Até o momento, estas são as considerações mais pontuais.
REFERÊNCIAS
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VARGAS, José Afonso de. Estância Yapeyu: As margens Orientais do Médio Uruguai. Uruguaiana,2007. Trabalho de conclusão de curso.http://ibflorestas.org.br/pt/bioma-pampa.html
http://emdiv.com.br/pt/brasil/obrasil/626-campanha-gaucha-a-vasta-regiao-dos-pampas.html
1.Emília Maria de Sá Santos, Licenciada em história, especialista em História do Rio Grande do Sul. emiliasasantos@gmail.com
2.Marina Amanda Barth, historiadora e arqueóloga, professora substituta do Instituto Federal do Tocantins. barth.marina@yahoo.com
3.Sergio Celio Klamt. Arqueólogo Coordenador do Centro de Ensino e Pesquisas Arqueológicas da Universidade de Santa Cruz do Sul, RS. sergio@unisc.br