REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102411211918
Suênia Maria Barbosa De Lima
José Paulo Batista da Silva
Sofia Braga Cavalcante
Tacyana Ferraz da Silva Gomes
Vânia Maria Vasconcelos
Roseclair da Silva Correia
Márcio Balbino Cavalcante
Orientação da Profª Drª Vânia Maria Vasconcelos
RESUMO
O presente trabalho visa refletir acerca da importância do registro da literatura surda no Instagram para a textualidade visual do povo surdo. Mais especificamente, procura definir e analisar os impactos positivos destes registros no ciberespaço para o processo cultural e da identidade do povo surdo e apontar como a cultura influencia na literatura surda, tecendo um cenário literário na “ciberinstacultura”, ao passo que identifica os “instapoetas” e “instapoemas” surdos. O registro da poesia surda no Instagram estrategicamente não apenas registra, mas dissemina nesta rede social a literatura surda, tornando-a mais fluída, circulando no ciberespaço desterritorializado e impactando a reorganização social e artística da cultura e ressignificando a trajetória histórica da literatura surda que ao longo de muito tempo ficou sem registro. As principais argumentações da eficácia estratégica da inserção da literatura surda na cibercultura estão baseadas no conceito de inteligência coletiva de Pierre Lévy (1998), através da representação do povo surdo, utilizando como base os livros: Cultura e representação, de Stuart Hall (2016) e As imagens do outro sobre a cultura surda, de Karin Strobel (2008). Para tanto, através de uma metodologia qualitativa explanatória ilustrativa foi feito um levantamento bibliográfico sobre cultura, literatura surda, representatividade da comunidade surda e também sobre ciberespaço e inteligência coletiva e por último utilizamos ilustração dos instapoemas. Como resultados dessas análises, além de caracterizar e qualificar tais obras, percebemos que o texto poético visual espalhado e fortalecido nos discursos de identidades, alia as especificidades do povo surdo à sua alteridade política, colaborando para uma cibercultura surda fortalecida pelo conceito de inteligência coletiva, resultando num discurso de empoderamento da identidade do sujeito surdo, seus artefatos culturais influenciadores, enquanto forma semiótica e imagética fundamentais para a inserção, registro e disseminação na mídia visual digital em ciberespaço.
Palavras-chave: Cultura surda-Literatura surda-poesia surda- Instagram.
ABSTRACT
This work intends to reflection the importance of recording deaf literature on Instagram for the visual textuality of deaf people. More specifically, it attempts to determine and analyze the positive effect soft these records in cyberspace for the cultural process and identity of deaf people. Furthermore, it also seeks to emphasize how culture influences deaf literature, creating a literary cyberculture scenario through Instagram while identifying the “instapoets” and deaf “instapoems”. The recording of deaf poetry on Instagram not only registers but also spread deaf literature on this social network, making it more fluid, circulating in the peripheral cyberspace, and impacting the social-artistic reorganization of culture, thus, redefining the historical path of deaf literature that for a long time was undercover. The primary arguments for the strategy efficacy of inserting deaf literature in cyber culture are based on Pierre Lévy’s (1998), concept of collective intelligence, through these presentation of deaf people, based on the books: Cultura e Representação, by Stuart Hall (2016) and As imagens do Outro Sobre a cultura surda, by Karin Strobel (2008). On this account, through an illustrative explanatory qualitative methodology, a bibliographical survey was held on culture, deaf literature, representation of the deaf community, and also on cyberspace and collective intelligence. Finally, we used the illustration finstapoems. As a result of such analyses, in addition to classifying and qualifying such works, we comprehend that the visual poetic text spread and strengthened in identity discourses, combining features of deaf people with their political alterity, contributing to deaf cyberculture in forced by the concept of collective intelligence, leading to a discourse of empowerment of the deaf subject’s identity, its influencing cultural features, as a fundamental semiotic and imagery form for inclusion, recording, and distribution in cyberspace digital visual media.
Keywords: Deafculture-Deaf. Literature-deaf. Poetry- Instagram.
1 INTRODUÇÃO
O tema da literatura surda vem ganhando espaço no campo dos estudos culturais, uma vez que desde 24 de abril do ano de 2002, a lei número 10.436, regulamentada pelo decreto-lei 5.626, de 22 de dezembro de 2005, torna a LIBRAS um meio legal de comunicação e expressão do surdo. (BRASIL, 2005).
Nesse sentido, a lei 10.436 tem surtido efeito nos planos educacionais e também no campo dos estudos culturais de produções literárias dos sujeitos surdos no Brasil, tendo em vista que o despertar dos estudos culturais literários surdos são resultado da valorização da LIBRAS enquanto língua legalizada no nosso país.
Os estudos culturais surdos nem sempre foram registrados na história, de modo que não temos um marco temporal que nos mostre exatamente quando eles tenham começado. Sabemos da peculiar história da literatura surda quando percorremos a história geral do povo surdo, e, dessa maneira, o contexto histórico da comunidade surda nos permite abrir um leque de estudos e indagações no campo da pesquisa literária.
Os fragmentos históricos do movimento surdo nos levam aos vestígios culturais e dentre eles, a literatura surda, embora a bibliografia sobre o povo surdo mostre que enquanto a LIBRAS não foi reconhecida e enquanto foi proibida de ser um instrumento de comunicação tido como língua visual, portanto impedida de circular na sociedade, assim também era a condição literária do surdo.
Refletido sobre a literatura surda, temos a seguinte compreensão: se não há reconhecimento da língua, não há reconhecimento da expressão literária. Segundo afirma Karnoop (2008), “o ensino priorizava o aprendizado da fala e da língua portuguesa. Nas escolas, não havia espaço nem aceitação para as produções literárias em sinais.” (KARNOOP, 2008, p.3). Antes disso, o autor ainda afirma que a literatura surda é diferente da literatura ouvinte:
Ela se manifesta nas histórias contadas em sinais, mas o registro de histórias contadas no passado permanece na memória de algumas pessoas, ou foram esquecidas. Assim, estamos privilegiando a literatura surda contemporânea, após o surgimento da tecnologia da gravação de histórias através de fitas VHS,CD, DVD ou textos impressos que apresentam imagens, fotos ou traduções para o Português. O registro da literatura surda começou a ser possível principalmente a partir do reconhecimento da LIBRAS e do desenvolvimento tecnológico, que possibilitaram formas visuais de registro de sinais. (KARNOOP, 2008, p. 2)
Hodiernamente, com a expansão tecnológica em vários setores da vida humana temos identificado registros visuais da literatura surda em diferentes meios, sejam eles eletrônicos, como fitas de vídeo e DVDs, ou virtuais, através da internet e das redes sociais. O ciberespaço tem se expandido e chegado a diversas comunidades, e, conforme Ramos e Martins (2018), tem acontecido uma reorganização das relações sociais e culturais, impactando o fazer artístico. A esse respeito, os autores citam como exemplo a poesia em redes sociais, que tem registro e fluidez nas redes digitais. Nesse cenário a poesia surda também encontra lugar e tem se expandido através das redes sociais.
Sendo assim, o presente trabalho tem o objetivo geral de refletir acerca da importância do registro da literatura surda no Instagram para a textualidade visual do povo surdo. Para isso, procurar-se-á nos objetivos específicos: definir e analisar os impactos positivos destes registros no ciberespaço para o processo cultural e da identidade do povo surdo; apontar como a cultura surda influencia na literatura surda, tecendo um cenário literário na “ciberinstacultura”, identificando os “instapoetas” e “instapoemas” surdos.
O principal referencial teórico para a presente análise reside na ideia de inteligência coletiva de Pierre Lévy (1998)[1], através da representação do povo surdo, utilizando como base os livros: Cultura e representação, de Stuart Hall (2016) e As imagens do outro sobre a cultura surda, de Strobel (2008). Essas obras abrigam conceitos entendidos a partir do pressuposto de que cultura é um termo vasto, mas que determina uma maneira de ver o mundo, de interpretar e de compreendê-lo.
Sobre o conceito de cultura, Hall (2016, p. 19) retoma a ideia de que esse é um termo pensado tradicionalmente como algo “que engloba ‘o que de melhor foi pensado e dito’ numa sociedade. É o somatório das grandes ideias, como representadas em obras clássicas da literatura, da pintura, da música e da filosofia”.
Toda cultura tem as suas representatividades, nesse sentido o conceito de cultura e literatura surda está lado a lado com o conceito de representação, pois os estudos culturais consideram a literatura um artefato cultural, portanto um instrumento de representatividade, não são apenas objetos e materialidade, mas também, “tudo o que se vê e se sente”. (STROBEL, 2008, p.37)
As relações entre artefatos culturais, cultura e representação justificam-se no fato de que para existir representatividade de uma cultura deve-se antes existir artefatos culturais, sejam materiais ou subjetivos, afinal, um “traço comum em todos os sujeitos humanos seria o fato de que somos todos artefatos culturais e assim, os artefatos ilustram uma cultura.” (STROBEL, idem).
Para uma melhor compreensão do trabalho, temos a seguinte hipótese a ser confirmada: consideramos que com o avanço tecnológico a literatura surda pode não só ser registrada, mas disseminada na sociedade em rede, ou seja, no ciberespaço, a partir de instrumentos da tecnologia como o aplicativo em rede Instagram, fortalecendo assim discursos de identidade, especificidades do povo surdo, e sua alteridade política, além de colaborar para a criação de uma cibercultura surda fortalecida pelo conceito de inteligência coletiva. Portanto a problemática consiste em compreender como e identificar quais os discursos fortalecem o protagonismo da cultura surda na sociedade em rede.
Além de uma discussão de base teórica e bibliográfica, a metodologia utilizada tem como embasamento a pesquisa exploratória explicativa e ilustrativa, realizada através do levantamento de registros de usuários surdos na rede social Instagram.
Para tanto, selecionamos bibliografias que tratam sobre cultura, representação e cultura surda. Abordamos também o processo histórico da literatura surda ao longo do tempo, o qual perpassa também pela história da educação dos surdos; em seguida abordamos conceitos e dissertamos sobre o que é literatura surda; depois seguimos para o foco desta pesquisa, que é a literatura surda na sociedade em rede no Instagram; articulando-a com as teorias de Lévy (1998) sobre inteligência coletiva e ciberespaço, bem como com a teoria de representatividade de Hall (2016). Por último, apresentamos a poesia surda de poetas que veiculam o seu trabalho através do Instagram, em um formato de poesia denominado instapoemas, tendo como foco a análise dos instapoemas de Luiza Pelliz, no perfil “@lilica_art”, e de Yanna Porcino, no perfil “@sinaisqueexpressam”.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 CONHECENDO A TRAJETÓRIA DO POVO SURDO
Antes de entendermos conceitos sobre a literatura surda, é importante viajarmos no tempo para conhecermos a história do povo surdo, para que possamos refletir sobre o que vivenciamos hoje no processo cultural do surdo num espaço conquistado graças à tecnologia e a superações de discursos ultrapassados. Conforme Strobel (2009), a escola de surdos dividiu-se em três principais partes: Revelação cultural, Isolamento cultural e o despertar cultural.
Na primeira fase os sujeitos com surdez eram bem sucedidos no quesito educação, tinham boa escrita liberdade de expressão, não havia problemas com a escrita. Ou seja, antes do Congresso de Milão os surdos eram um povo bem desenvolvido e tinham suas especificidades respeitadas para livre expressão, pois havia professores e escritores surdos bem sucedidos.
Na segunda fase da historicidade, pessoas surdas sofreram um isolamento na sociedade como consequência dos resultados discursivos do Congresso de Milão; o qual abordaremos mais adiante neste tópico. Os surdos eram proibidos não só de ter acesso aos estudos, mas proibidos de sinalizarem, circularem nas ruas, comunicando-se em língua de sinais.
Na terceira fase da historiografia do povo surdo, nos anos 60, tivemos um despertar cultural marcado na história da cultura surda. Nesta década tivemos muitos movimentos culturais espalhados por vários países no mundo, e a cultura surda também teve um certo grau de ascensão histórica, porque ocorreu um “renascimento na aceitação da língua de sinais e cultura surda após muitos anos de opressão ouvintista para com os povos surdos.’’ (STROBEL, 2009, p. 12)
A história dos surdos perpassa pelo mundo inteiro. Segundo aponta Strobel (2009), em civilizações antigas como Roma, os surdos eram rejeitados por serem considerados enfeitiçados, e, por isso, eram jogados em rios, ou feitos de escravos. Na Grécia antiga os surdos não eram bem vistos pela sociedade, pois eram considerados um referencial de incapacidade, e, por isso eram condenados à morte.
No Egito e na Pérsia antiga, considerava-se que a surdez era a representação de algo divino. Devido ao silêncio que o povo surdo transmitia, acreditava-se que estes conversavam com deuses em segredo, em uma espécie de meditação. Nessas sociedades havia respeito, e os surdos eram adorados, mas em compensação “os surdos tinham vida inativa e não eram educados.” (STROBEL, 2009, p. 18.)
Alguns filósofos da Antiguidade pensaram sobre a surdez, dentre eles destacam-se Sócrates e Aristóteles. Ainda Segundo Strobel (2009), para Aristóteles não falar significava a mesma coisa de não ter linguagem e inteligência, pois a audição era sinônimo de capacidade intelectual.
Sócrates, ao questionar sobre a pessoa surda, afirmou: “Suponha que nós não tenhamos voz ou língua, e queiramos indicar objetos um ao outro. Não deveríamos nós, como os surdos-mudos, fazer sinais com as mãos, a cabeça e o resto do corpo?”. (CRATYLUS DE PLATO apud STROBEL, 2009, p.18).
Ainda convém destacar que na Idade Média os surdos eram muitas vezes condenados à morte, como também eram proibidos de exercer atividades básicas, como se confessar, casar, ou receber heranças. (STROBEL, 2009).
Na Idade Moderna, entre o período de 1510 a 1584, criou-se na Espanha a primeira escola para surdos em um monastério na região de Valladolid. Nessa instituição o monge beneditino Pedro Ponce de Léon, conhecido das aulas a filhos de nobres, ensinou vários idiomas aos surdos, além de disciplinas como física e economia. Um outro importante nome da história da educação dos surdos é o filósofo Girolamo Cardamo, defensor da ideia de que “…a surdez e mudez não é o impedimento para desenvolver a aprendizagem e o meio melhor dos surdos aprenderem é através da escrita… e que era um crime não instruir um surdo-mudo.” (GIROLAMO CARDAMO apud STROBEL, 2009, p. 19).
Na Espanha, Juan Pablo Bonet, um padre e educador, iniciou o ensino para surdos através de sinais, usou a oralização, pois treinava a fala dos surdos e utilizava a datilologia. A educação de surdos foi marcada pelo primeiro livro publicado sobre o assunto, intitulado Reduccion de la letras e arte para enseñar a hablar a los mudos.
A história do povo surdo é marcada por pessoas lembradas até hoje, como Charles Michel de Lepée (1712-1789), que ajudou jovens surdos que viviam nas ruas de Paris, excluídos da sociedade. Além disso, instruiu os surdos em sua casa, ensinando língua de sinais e gramática francesa em seu método denominado de “Sinais metódicos”.
Desse modo, a história surda foi construída por pessoas que se comprometeram a atuar e a transformar a sociedade, para que pessoas surdas pudessem ser incluídas. Michel de L’Epée, ao tentar inserir o seu método educacional para surdos, sofreu muitas críticas de personalidades oralistas. Ainda sobre esse contexto, destacamos a fala de Strobel (2009, p. 22):
Todo o trabalho de abade L’Epée com os surdos dependia dos recursos financeiros das famílias dos surdos e das ajudas de caridades da sociedade. Abade Charles Michel de L’Epée fundou a primeira escola pública para os surdos ‘Instituto para Jovens Surdos e Mudos de Paris’ e treinou inúmeros professores para surdos. O abade Charles Michel de L’Epée publicou sobre o ensino dos surdos e mudos por meio de sinais metódicos: “A verdadeira maneira de instruir os surdos-mudos”, o abade colocou as regras sintáticas e também o alfabeto manual inventado pelo Pablo Bonnet e esta obra foi mais tarde completada com a teoria pelo abade Roch-Ambroise Sicard.
De acordo com Strobel (2009, p.39), antes do cenário marcadamente ouvintista do Congresso de Milão[2], os surdos tiveram sua era de ouro, a qual se pode denominar de Revelação Cultural, pois houve uma grande produção de cultura surda, através dos trabalhos de professores, poetas, artistas e militantes surdos.
É interessante notar que esta fase reveladora da cultura surda deu início às discussões e marcas profundas deixadas pelo congresso de Milão na história dos surdos em todo o mundo. Até hoje sentimos os traços culturais ouvintistas e oralistas na sociedade em que vivemos, a qual tem se adaptado cada vez mais para comportar surdos e ouvintes.
Tal Congresso também é criticado por outros autores que tecem comentários a respeito da cultura surda, a exemplo de Peixoto (2016, p. 37): “Já quanto ao prejuízo cultural é possível destacar que, proibidos de falar em língua de sinais, os surdos estavam impossibilitados de transmitir sua cultura para outras gerações através da sua tradição sinalizada”. A autora ainda destaca:
Como consequência inevitável ocorre o evidente prejuízo literário. As piadas, histórias, poesias, e fábulas criadas por surdos não podiam mais ser sinalizadas. Antes os surdos tinham liberdade de organizar encontros como os Banquetes de surdos, mas agora isto ficou proibido de acontecer. Então as histórias e poesias não eram compartilhadas nas festas, encontros ou em rodas de bate-papo de surdos. Esta literatura surda criada antes de 1880 foi perdida, ficou apenas nas lembranças, na mente dos surdos que já morreram. (PEIXOTO, 2016, p. 37-38).
Ainda cabe destacar que o Oralismo foi o responsável pelos danos culturais que sofreu a comunidade surda com as proibições impostas sobre sua cultura e identidade.
2.2 CONCEPÇÕES ACERCA DA LITERATURA
Segundo Compagnon (1999), o termo literatura “é certamente, novo (data do início do século XIX); anteriormente, a literatura, de acordo com a etimologia, eram as inscrições, a escritura, erudição, ou o conhecimento das letras […]” (COMPAGNON, 1999, p.29).
Apesar de o termo literatura ser considerado novo na história, ele é muito antigo, uma vez que desde os primórdios o ser humano se utiliza da linguagem para criar histórias. Ainda que não tenha se manifestado através da escrita, a literatura existia pela “vivência comunicativa dos povos primitivos transmitidas de geração para geração por meio da tradição oral, que consiste na transmissão de conhecimentos de uma geração para a seguinte por meio da comunicação presencial.” (PEIXOTO, 2016, p. 19)
Ainda sobre o conceito de literatura, podemos reafirmar que não se limita a textos escritos. Para Peixoto (2016, p.19), o fato de existirem as letras e suas manifestações textuais na sociedade, não fez com que a literatura deixasse de existir em outros formatos como a oralidade literária. Nesse sentido, Soares (1997) afirma:
A tradição oral tem sido, ao longo dos tempos, a forma predominante de transmissão da memória coletiva no continente africano, seja na África Negra, seja no Maghreb (África do Norte). É através das histórias narradas pelos mais velhos, pelos contadores de histórias ou pelos griots[3] que as crianças africanas são iniciadas nas lendas, nas crenças ancestrais, na doutrina religiosa e na própria história de seus povos. Mesmo durante o domínio europeu, que se estendeu do século XIX a meados do século XX, a tradição oral se manteve viva no continente (SOARES, 1997, p. 123).
É interessante notar de que maneira as observações de Soares (1997) se relacionam sobre a construção da ideia do que seja literatura. Essas afirmações do conceito literário foram fundamentais na formação do entendimento do que seja a literatura surda, tendo em vista a literatura não apenas como mera modalidade de expressão escrita, mas também como expressão oral e visual, conforme veremos mais adiante em nossa pesquisa.
Ainda sobre a literatura e seu significado convém destacar as palavras de Candido (2011):
Toda obra é pessoal, única e insubstituível, na medida em que brota de uma confidência, um esforço de pensamento, um assomo de intuição, tornando-se uma “expressão”. A literatura, porém, é coletiva, na medida em que requer certa comunhão de meios expressivos (a palavra, a imagem), e mobiliza afinidades profundas que congregam os homens de um lugar e de um momento, – para chegar a uma comunicação. Assim, não há literatura enquanto não houver essa congregação espiritual e formal, manifestando-se por meio de homens pertencentes a um grupo (embora ideal) segundo um estilo embora (embora nem sempre tenham consciência dele); enquanto não houver um sistema de valores que enforme a sua produção e dê sentido à sua atividade; enquanto não houver outros homens (um público) aptos a criar ressonância a uma e outra; enquanto, finalmente, não se estabelecer a continuidade (uma transmissão e uma herança), que signifique a integridade do espírito criador na dimensão do tempo (CANDIDO, 2011, p. 147).
Ao mesmo tempo em que podemos dizer que literatura é este emaranhado de comunhão entre palavras, imagens e expressões coletivas, podemos ainda elencar outras maneiras de descrevê-la. Segundo Gouveia (2009, p. 63), a literatura tem três gêneros essenciais: o épico (ou narrativo), o lírico (que moderadamente convencionou-se chamar “poesia”) e o dramático (texto voltado para a encenação teatral). O gênero lírico, que se refere à poesia na literatura, possui características bem definidas:
Um texto lírico não necessita de um narrador, mas possui características próprias. Este tipo de texto possui uma voz poética denominada de ‘eu lírico’ que consiste em uma voz fictícia que emite sentimentos como tristeza, alegria, amor, ódio, medo, saudade, etc. Outra característica marcante e distintiva é o fato de uma poesia apresentar a interioridade do ser humano. Com isto, mesmo que uma poesia se baseie em um fato histórico, diferente do texto narrativo o foco texto lírico, não será relatar os acontecimentos, mas externalizar sentimentos relacionados aos fatos (GOUVEIA, 2009, p. 63).
Tendo em vista esta definição, notamos que a poesia, enquanto parte do gênero lírico, expressa diversos sentimentos, refletindo a subjetividade humana. A poesia surda, portanto engendra a força imagética e subjetiva, tendo o corpo como ponte para a externalização da força poética.
2.3 ALGUNS CONCEITOS SOBRE A LITERATURA SURDA
Assim como a literatura ouvinte, a literatura surda destaca-se em diferentes gêneros: poesia, história de surdos, piadas, literatura infantil, clássicos, fábulas, contos entre outros Nessa toada, Strobel (2008) afirma:
A literatura surda refere-se às várias experiências pessoais do povo surdo que, muitas vezes, expõem as dificuldades ou vitórias das opressões ouvintes, de como se saem em diversas situações inesperadas, testemunhando as ações de grandes líderes e militantes surdos e sobre a valorização de suas identidades surdas. (STROBEL, 2008, p.56).
A cultura surda influencia a literatura surda, uma vez que os artefatos culturais se mesclam ao mundo literário do povo surdo. A singularidade da literatura inicia-se a partir da sua experiência visual, pois essa é a maneira pela qual os sujeitos surdos percebem o mundo e refletem sobre suas vidas e histórias. Através da experiência visual que provoca reflexões e traz questionamentos como: “De onde viemos? O que somos? E para onde queremos ir? Qual é a nossa identidade?” (STROBEL, 2008 p. 39), o surdo substitui a ausência da audição percebendo o mundo através da visão e “percebem o mundo através de seus olhos” (idem).
Assim, a experiência visual é o primeiro artefato que explica a cultura surda. Devemos acrescentar ainda as palavras de Perlim e Miranda (2003) ao falarem sobre primeiro artefato cultural vivenciado nas experiências dos sujeitos surdos:
Experiência visual significa a utilização da visão, em (substituição total á audição), como meio de comunicação. Desta experiência visual surge a cultura surda representada pela língua de sinais, pelo modo diferente de ser, de se expressar, de conhecer o mundo, de entrar nas artes, no conhecimento científico e acadêmico. A cultura surda comporta a língua de sinais, a necessidade do interprete, de tecnologia de leitura (PERLIM E MIRANDA, 2003, p. 218).
Além do artefato da experiência visual temos também outro elemento importante: a língua de sinais. O artefato linguístico é imprescindível para se entender a cultura do povo surdo, pois esta qualifica a literatura surda. Como afirma Strobel (2008):
O segundo artefato cultural do povo surdo é o lingüístico, a língua de sinais é um aspecto fundamental de cultura surda. No entanto incluem também os gestos denominados “sinais emergentes” ou “sinais caseiros” dos sujeitos surdos de zonas rurais ou sujeitos isolados de comunidades surdas que procuram entender o mundo através dos experimentos visuais e se procuram comunicar apontando e criam sinais, pois não tem conhecimentos de sons e palavras (STROBEL, 2008, p.44).
Nichols (2016, p. 54) afirma que a aquisição da língua de sinais é inerente à produção da cultura surda, pois perpassa comportamentos aprendidos do povo surdo como língua valores e tradições, atravessando experiências visuais, as quais acompanham a vida cotidiana do surdo. O surdo antes de tudo é um sujeito visual, por isso a experiência visual é o primeiro fator cultural do sujeito com surdez.
Segundo o mesmo autor, cabe ressaltar alguns pontos importantes para a produção de uma literatura surda de qualidade: primeiro é necessário que o poeta ou narrador tenha fluência na língua de sinais; segundo, que seja bilíngue; terceiro, que tenha habilidade com o gênero literário e conhecimento sobre artes. Todavia cabe ressaltar a importância da literatura visual inserida na cultura surda, pois não existe cultura literária surda sem esses artefatos, ou seja, a experiência visual e linguística está em consonância quando vemos na literatura surda recursos imagéticos.
Sendo assim, de acordo com Porto e Peixoto, (2011, p.167), as produções literárias estão interligadas às produções imagéticas de sua língua, ou seja, as representações imagéticas e também aos padrões imagéticos linguísticos da língua gestual visual, que se no caso do Brasil, tem a sua materialização na Libras. Nessa toada, recorremos às palavras de Hegel (2004) para apresentar o conceito de imagético:
Em geral, podemos designar o representar poético imagético, na medida em que ele conduz diante dos olhos, em vez de essência abstrata, a efetividade concreta da mesma, em vez da existência contingente, uma aparição tal em que reconhecemos imediatamente o substancial por meio do exterior mesmo e da sua individualidade inseparada dele e, com isso, temos diante de nós o conceito da coisa mesma, bem como a sua existência, como uma única e mesma totalidade no interior da representação. (HEGEL, 2004, 50)
O imagético visual faz parte da linguagem cultural do surdo, e segundo Hall (2016, p. 18), “[…] a linguagem é um dos meios através do qual, pensamentos, ideias e sentimentos são representados numa cultura. A representação pela linguagem é, portanto, essencial aos processos pelos quais os significados são produzidos”.
Assim, temos o entendimento de que o imagético está inserido como um dos artefatos culturais surdos e faz-se presente nas vivências e produções literárias surdas quando as informações das poesias são passadas de forma visual e não sonoras. Por fim, as palavras de Karnoop (1989) sintetizam as ideias que aqui apresentamos: “[…] utilizamos a expressão ‘literatura surda’ para histórias que têm a língua de sinais, a questão da identidade e da cultura surda presentes na narrativa. […]” (KARNOOP, 1989, p. 102).
2.3.1 Poesia surda
Na pesquisa que ora se apresenta, utilizamos o conceito de poesia surda, produção literária do povo surdo, em contraposição ao conceito de poesia ouvinte, ou seja, gênero poético pertencente à cultura denominada por alguns estudiosos surdos como ouvinista, uma alusão à oposição língua oral versus língua de sinais.
A poesia surda tem as suas singularidades, partindo do pressuposto de que o processo de criação da poesia surda é distinto da poesia ouvinte, pois se trata de uma produção de poetas surdos que se utilizam de sua língua visuoespacial para a representatividade natural de sua cultura visual.
Assim como a poesia ouvinte, a poesia surda tem suas especificidades, uma delas é a representação através da visualidade. É através da língua de sinais e de seus recursos imagéticos, como a configuração de mãos, expressões corporais, faciais, iconicidade e arbitrariedade presentes na língua de sinais que se faz poesia surda.
Segundo Miglioli (2018, p.46), “os poetas surdos utilizam a performance para promoverem ato essencialmente linguístico e cultural, utilizando uma variedade de abordagens para garantir que o público compreenda a linguagem empregada e o significado do poema.”
É comum entre as performances citadas por Miglioli (2018) que os poemas surdos possuam classificadores que fazem parte oficialmente da língua do surdo. Os Classificadores são fortemente marcados na língua de sinais e, portanto na poesia surda também. Além disso, os classificadores auxiliam os ouvintes a entenderem melhor a poesia surda, pois por serem, em maioria, icônicos, de uma maneira ou de outra desenham no espaço gestos que muitas vezes lembram a fala.
A poesia na língua de sinais é inerente à visualidade e contribui para a criação como transmissão da poética literária surda, o que a possibilita a sua materialização, ser conhecida na sociedade e ser compreendida. Ainda para Miglioli (2018), dois pontos fundamentais a serem destacados na poesia de sinais que definem a metalinguística dos poemas são: a cinestesia e a sinestesia.
A primeira o autor define como sendo o “domínio do corpo para expressão precisa dos sinais, e a sinestesia inerente à poesia, através da relação de planos sensoriais diversos. Vê-se então o domínio da metalinguística” (MIGLIOLI, 2018, p. 46). A consciência poética do surdo está contida na própria língua de sinais. A especificidade visual deste tipo de literatura devido a sua essência imagética a torna assim, uma poesia mais concreta e menos abstrata.
A poesia surda, assim como alguns seguimentos da poesia ouvinte, seguiu à margem da sociedade por extenso período de tempo, e esse distanciamento do eixo central da literatura trouxe prejuízos como a limitação do surdo ter conhecimento literário apenas, por traduções da literatura de língua oral para a língua de sinais ou então a criação escrita da língua oral.
Dentre as várias especificidades da poesia surda presentes em nosso trabalho destaca-se a combinação entre performance e poemas em línguas de sinais combinam, que unidos corroboram para “a sequência abstrata de signos e construções gramaticais com o uso estético dessa sequência” (MIGLIOLI, idem).
Diante dessa informação, entendemos que o poeta surdo cria uma poesia performática usando as mãos, o corpo e as expressões corporais. Esses elementos unidos criam efeitos poéticos, pois se a consciência poética está na metalinguística do surdo, a língua de sinais e toda sua estrutura também está presente.
Quando unidos, a configuração de mão, o ponto de articulação, o movimento, a orientação da mão, os marcadores não manuais, os classificadores de forma e os classificadores pronominais, criam visualmente a poesia e seus efeitos estéticos. Nesse sentido, para (CRASBORN, 2006, p. 71): “[…] os parâmetros podem ser utilizados para criar sinais ou construções simétricas, com as duas mãos, sendo imagens- espelho uma da outra, como também podem ser usadas para adicionar múltiplas camadas simultâneas de sentido, quando cada uma articula informação diferente”.
A poesia tem por natureza a característica do ritmo, sendo formada por palavras que rimam na língua oral. A repetição de sons e palavras também é uma característica inerente à poesia, a qual se dá o resultado rítmico. Cabe a nós a indagação: E na poesia surda também acontece o mesmo? Sim, porque o movimento também gera rima, portanto o ritmo não está presente apenas em línguas orais, como se costuma pensar, mas nas línguas de sinais também há como proporcionar este elemento na poesia, pois o movimento performático do poeta surdo inscreve com o corpo “ritmicamente o poema no ar.” (RIBEIRO; PEREIRA; SOUZA JÚNIOR, 2016, p.100).
O ritmo faz parte da poesia surda e ajuda a criar significação através da formação imagética, já que “criar imagens em um poema em língua de sinais empodera o poema de identidade visual. Por exemplo, o poema pode incluir o uso explícito de verbos fazendo referência direta à visão ou aos olhos” (MIGLIOLI, 2018, p. 47).
Outros elementos que especificam a literatura surda são os usos de classificadores e metáforas, que podem aumentar o efeito poético e significado identitário. São sinais motivados pelo elemento da iconicidade na língua de sinais e sua interpretação pode variar dependendo do contexto o qual o poema está inserido. Dá-se assim, a criação de neologismos na língua de sinais, trazendo criatividade e beleza estética através das imagens poéticas compostas (MIGLIOLI, 2018, p. 47-48).
Analisamos até aqui a histórica trajetória do povo surdo e refletimos sobre a aplicabilidade da cultura surda como potencial influenciador da literatura surda; como também trouxemos reflexões acerca das especificidades da poesia surda, ou seja, do processo de iconicidade, visualidade e estética, os quais compõem os poemas visuais surdos, marcados por significados históricos e culturais do povo surdo.
Hoje o fato de os poemas sinalizados poderem ser registrados e disseminados traz um discurso de empoderamento à comunidade surda, tendo em vista as temáticas de experiências de vida do povo surdo. Ao considerarmos esse cenário, empreenderemos uma reflexão sobre a importância do registro e circulação da poesia surda no ciberespaço, especificamente no Instagram. Para tanto, vamos analisar a importância desta rede social para a textualidade visual dos poemas surdos, o que será de fundamental importância para chegarmos ao melhor entendimento de nosso trabalho.
2.4 METODOLOGIA
2.4.1 A poesia surda no Instagram
Esta pesquisa é qualitativa, de caráter exploratório e baseia-se no levantamento de dados da realidade, ao passo que busca refletir acerca dos fatos e explicar o estado da obra da poesia surda por meio de pesquisa documental, que se refere à fundamentação teórica, levando em consideração o fato de haver poucos registros da poesia surda ao longo do tempo, por ser uma poesia de característica visual, uma vez que não poderia ser registrada sem apoio tecnológico. Quanto à coleta dos dados, com o avanço das novas tecnologias, hoje temos o auxílio do ciberespaço para registro e circulação da literatura surda, mais especificamente a poesia surda no Instagram, que é nosso objeto de estudo.
Nossa pesquisa levanta a hipótese de que com o avanço tecnológico, a literatura surda pode não só ser registrada, mas disseminada na sociedade em rede e no ciberespaço, a partir do uso da tecnologia como aplicativo em rede Instagram. Assim, utilizando-o como textualidade visual na estratégia de disseminar a literatura surda, fortalecendo discursos de identidade, especificidades do povo surdo e alteridade política, colaborando para a criação de uma cibercultura surda. Portanto a problemática consiste em compreender e identificar quais os discursos fortalecem o protagonismo da cultura surda através da poesia surda na sociedade em rede.
O Instagram hoje é uma rede social que antes começou como um aplicativo chamado Burbn e foi se desenvolvendo através de inovações em suas ferramentas e tem variadas funcionalidades. Como afirma Aprobato (2018), “o instagram permite aos usuários uma forma instantânea de capturar e compartilhar seus momentos de vida com os amigos, familiares, ou quem quer que seja através de uma seqüência de imagens e vídeos manipulados por filtros” (APROBATO, 2018, p. 159).
O Instagram foi criado pelo norte-americado Kevin Systrom, e pelo brasileiro Mike Krieger, tendo surgido para todos no ano de 2010. Da origem do Burbn como aplicativo à transformação em rede social, houve a ampliação da aplicabilidade de experiências e registros no ciberespaço (RAMOS E MARTINS 2018, p.120).
A era do ciberespaço marca o início de um novo estilo de vida e de novos padrões sociais marcados por informação e tecnologia. As relações sociais, pessoais e até mesmo as artes se recolocam na sociedade através do conceito denominado por Lévy (1998) de “sociedade em rede”, associado ao conceito de inteligência coletiva.
Observando os registros e a circulação da poesia surda no ciberespaço, pode-se dizer que isso é tido como uma estratégia de autonomia e empoderamento da cultura surda? Em nosso entendimento sim, porque o fato de hoje, com o auxílio da tecnologia, o povo surdo tem conseguido registrar sua poesia surda, não se limitando apenas à garantia de uma memória literária, mas principalmente, garantindo a ampliação do seu discurso identitário.
O Instagram é uma terra desterritorializada, pertencente ao ciberespaço acessível a todos. Esse fator traz uma nova realidade, diferente do que se vivia em outros momentos, quando eventos literários surdos sofriam as barreiras da territorialidade, limitando-se a manifestações em associações e grupos limítrofes em números de pessoas.
Com a expansão de espaços, a poesia surda passou a entrar em contato com novas realidades, podendo ser acompanhada por diversos sujeitos, imersos ou não na cultura surda. Nesse esteio, destaca-se a fala de Lévy (2015):
Quem é o outro? É alguém que sabe. E que sabe as coisas que eu não sei. O outro não é mais um ser assustador, ameaçador: como eu, ele ignora bastante e domina alguns conhecimentos. Mas como nossas zonas de experiência não se justa põem ele representa uma fonte possível de enriquecimento de meus próprios saberes. Ele pode aumentar meu potencial de ser, e tanto mais quanto diferir de mim. Poderei associar minhas competências às suas, de tal modo que atuemos melhor juntos do que separados. (LÉVY, 2015, p. 27-28)
O desenvolvimento da tecnologia e do ciberespaço tem contribuído para a diminuição do estranhamento do outro. Ao fazermos um entrelaçamento entre o pensamento de Lévy (1998, 2015) com a cultura surda e também sobre o que ele denomina de “o outro”, podemos refletir da seguinte maneira: a cultura do outro, ou seja, neste caso, a literatura surda, disseminada no ciberespaço proporcionado pelas redes sociais como Instagram, tem contribuído para a diminuição do estranhamento de culturas diferentes e tem estreitado as relações entre culturas, por exemplo, entre a cultura surda e a ouvinte, pois podemos levar em conta que com os registros culturais surdos na era da tecnologia estabelece um novo olhar sobre a comunidade surda. Não se trata mais de um isolamento social, e sim de um fortalecimento de sua cultura. A partir do momento em que outras culturas se apresentam através do Instagram, revela-se ao mundo que não existe uma única cultura, ou seja, uma única língua e forma de se comunicar, mas pelo contrário, demonstra-se que aquilo que se aprende enquanto sujeito não é a única verdade do mundo (Lévy, 2015, p. 27-28).
Para Kress, (2003, p. 1) “[…] o mundo contado é diferente do mundo mostrado” […], portanto podemos refletir que a cultura visual do surdo entra então, em consonância com a experiência virtual do mundo através do ciberespaço. O Instagram composto por imagens mostra ao mundo conteúdos visuais como fotos ou vídeos, que podem ser reais ou de cunho artístico. Dessa forma, segundo Ramos e Martins, (2018, p. 122),
Cada postagem (mensagem escrita, vídeo, fotografia), é um texto produzido e arquivado nesse macrotexto denominado perfil; cada uma é igualmente uma materialização de discursos e, portanto, uma textualidade, construída praticamente na instantaneidade, sob parâmetros que, em certa medida, unem escrita e oralidade.
Podemos ainda ressaltar um terceiro parâmetro do Instagram para composição de textualidade, que no caso dos surdos é o contrário da oralização, trata-se da sinalização. Segundo Rosa e Klein (2011),
A expansão dessas tecnologias cria condições de possibilidades de os surdos compartilharem suas experiências, de estabelecerem espaços de construção de significados sobre o ser surdo, utilizando-se das diversas mídias, postando histórias, anedotas, informações das mais diversas. O ser surdo não mais se restringe a um encontro surdo-mudo presencial, mas potencializa-se nos múltiplos encontros virtuais que surgem na atualidade. (ROSA; KLEIN, 2011, p. 93)
Isso significa dizer, baseado nas ideias de Lévy (2015), que a comunidade surda potencializa seus discursos de identidade e especificidades da cultura através do Instagram, aproveitando o espaço da nova mídia digital e toda a tecnologia de rede inovadora, aumentando a manifestação da inteligência coletiva humana, continuando a evolução cultural do surdo. Com essas novas ferramentas e espaços pode-se, então, desenvolver a inteligência coletiva centrando na reflexão do desenvolvimento da pessoa enquanto comunidade. (Lévy, 2015)
A relevância do conceito de inteligência coletiva para a comunidade surda, além de ser uma estratégia de disseminação da poesia surda, que é fundamental para a sua cultura, torna os membros desta comunidade cientes da forma como se pensa, do fortalecimento de sua própria identidade quanto sujeitos surdos e de suas singularidades no mundo, da forma como se comunicam e do que fazem enquanto coletivo, pois a ideia de inteligência coletiva remete à ideia de interdependência. Ainda ressaltando a teoria de Lévy (2015):
[…] O papel da informática e das técnicas de comunicação com base digital não seria ‘substituir o homem’, nem aproximar-se de uma ‘hipotética inteligência artificial’, mas promover a construção de coletivos inteligentes, nos quais as potencialidades sociais e cognitivas de cada um poderão desenvolver-se e ampliar-se de maneira recíproca (LÉVY, 2015, p. 25-26).
Sobre o fato de a tecnologia hoje suprir a necessidade de registro da cultura surda e mudar este cenário histórico de ausência de memória de uma cultura literária surda, temos:
A questão que move o interesse por este objeto é o fato de os surdos não possuírem, até o advento de tecnologias mais elaboradas, um arquivo cultural como os ouvintes construíram ao longo de tantos séculos de registro escrito. Sendo a escrita um registro que está fortemente ligado á oralidade, penso que a comunicação entre os surdos pela internet é algo fundamental para compreender essa necessidade de registro (SCHALLENBERGER, 2010, p.20).
As diversas redes sociais, mais especificamente o Instagram chamam atenção pelos seguintes fatores:
“[…] Múltiplas semioses, que se cruzam hiper e textualmente, em constantes coautoria com seguidores, por meio de comentários e curtidas ou de publicação de conteúdos de outros perfis. Esse procedimento sugere um rastro de leituras e escritas do outro e, portanto, vestígios de atualização. Concomitantemente, tem-se a consolidação da própria autoria dessas textualidades (fotografias, vídeos, mensagens verbais) : o texto é escrito e publicado por determinado dono do perfil, o seu autor; posteriormente, seguidores-leitores sinalizam sua leitura, marcando-as com curtidas e/ou comentários. Cada autor publica, assim, seus conteúdos, que virtualmente, ficam encapsulados na materialidade textual compartilhada, atualizando-se, no ato da leitura, na interação com seus receptores (RAMOS E MARTINS, 2018, p. 126).
Além de o Instagram proporcionar o registro da poesia surda ao permitir que as produções poéticas se misturem na rede, favorece o estreitamento das diferenças entre surdos e ouvintes, cada qual com suas especificidades, mas iguais em direitos de registros e circulação de suas produções.
A autoridade surda no Instagram se constitui pelo perfil dos “instapoetas-surdos” e pelo compartilhamento de seus conteúdos. Por isso concordamos com Ramos e Martins (2018), quando afirmam: “Nessa rede social unem-se elementos verbais, visuais, sonoros, cinéticos e hipertextuais em uma linguagem híbrida e digital, que para ser acessada, requer de seu leitor-seguidor um mergulho pelos links, de toque em toque. Em uma superfície luminosa e multimídia […]” (RAMOS E MARTINS, 2018, p. 127).
Dessa forma, utilizamos essas redes sociais para fazer levantamento de perfis de “instapoetas” surdos como objeto de pesquisa, analisando sua interação com o público surdo e ouvinte, além de seus poemas surdos, com recursos imagéticos, de percepção visual, ao lado do movimento.
3 ANÁLISE E RESULTADOS
3.1 “INSTAPOETAS SURDOS[4]”
Com base nesses conceitos de poesia surda na nossa literatura contemporânea e do neologismo “instapoetas”, ou seja, poetas do Instagram, é que analisamos dois perfis do Instagram autodenominados surdos e pertencentes à cultura surda.
O perfil @lilicaart é da instapoeta surda Luiza Pelliz (Imagem 01), que publica suas poesias de empoderamento surdo no Instagram, potencializando a identidade surda através de conteúdos visuais semióticos, como fotos de desenhos criados, destacando as especificidades visuais que neste artigo foram ressaltadas. Atualmente a poeta tem 3.230 seguidores.
Imagem 01- Perfil @lilicaart, visualizado em smartphone
Fonte: https://www.instagram.com/lilica_art/?igshid=1aqi2bgijfw1o. Acesso em 18 de maio de 2021.
Os poemas imagéticos do instagram @lilica_art que escolhemos para estudo são: Maduro e Neve. A artista dá ênfase às configurações de mão em ambos os poemas. No primeiro poema ela reproduziu a imagem da neve através do desenho do boneco de neve. Usou o classificador de neve que possui iconicidade, pois as mãos abertas se movem para baixo, enquanto os dedos oscilam, ao representar os flocos de neve caindo do céu.
Imagem 02 – Representação do poema Neve, de Luiza Pelliz
Fonte: https://www.instagram.com/p/B3fZ6skpsg-/?utm_medium=copy_link. Acesso em: 20 de maio de 2021.
O segundo poema significa maduro no contexto pessoa madura usando mão vertical aberta, palma para a esquerda, dedo médio flexionado, tocando a ponta do dedo médio no lado direito da cabeça.
Imagem 03 – Representação do poema Maduro, de Luiza Pelliz
Fonte: https://www.instagram.com/p/B4SkqSzJ3V_/. Acesso em: 20 de maio de 2021.
Esse tipo de iconicidade é denominado de iconicidade estática, e é o mais comum entre a estética da arte surda, “pois refere-se às características icônicas que sinais individuais exibem independentemente do contexto do discurso em que ocorreram” (MIGLIOLI, 2018, p. 50). Assim como Luiza Pelliz, outra poeta do ciberespaço garante o registro e circulação de seus instapoemas surdos na rede social Instagram. Trata-se Yanna Porcino, com seu perfil @meussinaisexpressam, que conta com 2.612 seguidores.
O interessante nos poemas de Porcino é que há vários poemas com tradução da LIBRAS para o Português, seja escrito ou versão voz de tradução. Assim como outras instapoetas surdas, seus poemas possuem características e especificidades da poesia surda, tais como o uso de classificadores, configurações de mão as quais fazem parte da gramática de sua primeira língua, a LIBRAS.
Seus poemas são em maioria em vídeos, todos imagéticos com ricos recursos visuais, ao contrário, dos poemas de Luiza Pelliz, que produz recursos imageticamente ricos, mas expõem para registro e circulação em rede a maioria de seus poemas através das fotos das suas criações e poucos vídeos, o que nos fez refletir que cada poeta tem suas preferências para a arte imagética.
Imagem 04 – À esquerda o perfil de Yanna Porcino e à direita o mosaico das postagens de seus poemas.
Fonte: https://www.instagram.com/meussinaisexpressam/. Acesso em: 20 de maio de 2021.
Em ambos os perfis percebemos interações do público com os poemas, pois são quase sempre propostas de criação coletiva, como continuar uma narrativa por meio de imagens, formando um todo como uma concha de retalhos. Isso é feito de forma imagética com a intenção de promover o interesse pela obra de arte surda, fazendo espalhar a sua cultura nas redes sociais e assim divulgar o modo de ver e pensar o mundo pelo olhar surdo.
Corroborando assim com o que diz Ramos e Martins (2018) a respeito desses tipos de produção artística nesse espaço e tempo: “A circulação do poema é garantida pós-postagem, de maneira que, quem as lê, as compartilha ou reescreve, escrever-se-á também a autoria, a criação; se apenas compartilhadas, impulsionadas no ciberespaço […]” (RAMOS; MARTINS, 2018, p. 130).
Também nos chamou a atenção o uso de hastags # abaixo dos poemas postados, e no perfil de Yanna Porcino elas são ainda mais ressaltadas, fazendo referência direta à temática abordada no poema, auxiliando também na compreensão dos instapoemas, além de contribuir para a disseminação de suas obras.
Mais uma vez, nosso ponto de vista vai ao encontro às afirmações de Ramos e Martins (2018), que veem o uso das hastags como a função “de facilitar a divulgação e a localização de conteúdos e perfis nas redes sociais, ampliando o número de seguidores.” (RAMOS E MARTINS, idem).
Os discursos observados nos instapoemas dos perfis mencionados são discursos de apropriação e empoderamento da identidade cultural surda, a partir do momento que usam recursos visuais e de sua própria língua gestual visual, a LIBRAS. O discurso contra a opressão do ouvintismo é marcado no poema Privilégio ouvinte, exposto na figura 2. Esse é um tema marcadamente relevante nos poemas criados por pessoas surdas, pois apenas eles podem definir o sentimento causado pelas representações dos ouvintes sobre os surdos.
Para embasar a análise que aqui apresentamos, utilizamos o termo ouvintismo dado por Skliar (1998): “trata-se de um conjunto de representações dos ouvintes, a partir do qual o surdo está obrigado a olhar-se e a narrar-se como se fosse ouvinte.” (SKLIAR, 1998, p. 15).
No perfil @meussinaisexpressam, temos a postagem do poema denominado Identidade, no qual a poeta expressa que há várias identidades surdas, o que nos remete à base teórica de Hall (1997) sobre as múltiplas identidades, pois estão em constante construção e mudanças “empurram o sujeito em diferentes posições.” (HALL, 1997, p. 21).
Ainda segundo Hall (1997 apud SKLIAR, 1998, p.53):
Nenhuma identidade social pode alinhar-se a uma identidade mestra; a erosão da identidade mestra faz emergir novas identidades sociais pertencentes a uma base política definida pelos novos movimentos; a identidade cultural é formada através do pertencimento a uma cultura.
Diante disso entendemos que a identidade surda é pautada pela identidade cultural, e a representação dessa identidade é marcada em ambos os perfis de poemas visuais apresentados neste trabalho, pois a identidade cultural surda “é uma identidade subordinada com o semelhante surdo, como muitos surdos narram. Ela se parece a um imã para a questão de identidades cruzadas.” (SKLIAR, 1998, p. 54).
A representatividade de poemas surdos no Instagram auxilia no fortalecimento das múltiplas identidades surdas e da identidade cultural do povo surdo, fazendo desta circulação virtual da literatura surda uma estratégia de disseminação cultural e fortalecimento da inteligência coletiva pelo ciberespaço “enquanto necessidade do que é fácil entender por sujeito surdo.” (SKLIAR, ibden).
Em consonância com a ideia de inteligência coletiva presente neste artigo, a poeta Yanna Porcino fala sobre o registro da poesia surda no ciberespaço em entrevista para o canal do Youtube Porto Dragão[5], no vídeo intitulado “Arte em rede~ artistas surdes: conhecendo produções e trajetórias – Yanna Porcino (PE)”:
É preciso que haja parceria com os trabalhos de tradução e interpretação para que a literatura surda seja contemplada e ganhe visibilidade não só dentro da comunidade surda, mas que a gente consiga trazer a mesma emoção que nós sentimos para a sociedade de modo geral. Por isso, demanda um esforço maior, uma busca por estratégias e eu acredito na possibilidade de avançarmos neste sentido buscarmos estratégias para contemplar também a sociedade ouvinte por exemplo: Através de legendas de traduções voz a partir da nossa sinalização eu acredito nessa possibilidade. Por exemplo quando nós utilizamos música nas nossas sinalizações é importante que haja essa tradução, então todo esse trabalho de registro possibilita a valorização das nossas produções, pois é uma estratégia de memória a partir do que nós estamos construindo de agradecimento de orgulho, das nossas próprias criações e da nossa história, assim, como a gente percebe que há diante da literatura por ouvintes por exemplo que são registradas há muito mais tempo. Diante desse processo de registro fazer presença diante de eventos, de produções. Eu lembro que dentro da comunidade surda havia um conhecimento a respeito, uma possibilidade de se produzir língua de sinais. Essa visibilidade sendo alcançada, eu fico pensando também na possibilidade que nós temos de emocionar e impactar outras pessoas a partir de nós assumirmos o nosso papel enquanto surdos, de sermos referenciais para outros surdos. (PORCINO, 2020)
Ao mesmo tempo em que registrar a poesia surda na sociedade em rede ao alcance do conhecimento de todos encurta relações entre as comunidades surdas e ouvintes, também potencializa o discurso e a visibilidade da cultura surda, diminuindo os efeitos do discurso de poder da sociedade ouvintista, e como afirna Skliar (1998), “essa resistência não é no sentido de excluir a cultura vigente, mas no sentido de abrir o acesso a ela de uma forma onde se sobressaia a diferença” (SKLIAR, 1998, p.71).
Nota-se na entrevista da poeta Yanna Porcino o empoderamento cultural do discurso do povo surdo estrategicamente aplicado no Instagram pela poesia surda em rede, com isso, vale lembrar que segundo Foucault (1980), o poder não funciona na forma de uma cadeia; ele circula, e que “não pesa em nós como uma força que diz não, mas (…) atravessa e produz coisas, induz ao prazer, as formas do conhecimento, produz discurso. “Ele precisa ser pensado como uma rede produtiva que penetra todo o corpo social” (FOUCAULT, 1980 apud HALL, p. 80).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A literatura surda no Instagram tem exercido um papel importante para o fortalecimento, não apenas, da literatura surda, mas de todos os interesses da comunidade surda brasileira. O presente trabalho ressaltou a atuação dos poetas surdos nessa rede social, de forma que os registros de poesias surdas têm sido importantes para evitar, nos dias de hoje e futuramente, o que aconteceu no passado, pois pela falta de registro e pela base social ouvintista da sociedade, a literatura surda sofreu o que chamamos de prejuízo literário. A literatura surda de hoje pode contar com o avanço da tecnologia para registrá-la e fazê-la circular no ciberespaço, “na sociedade em rede”.
Tal impacto tornou importante a presença ativa da comunidade surda no ciberespaço, tendo em vista a variedade de instapoemas nesta rede social, entre eles estão os poemas surdos. A articulação literária surda nas redes sociais é um avanço da trajetória histórica do povo surdo e uma forma estratégica de demonstrar a diversidade cultural surda, estreitando as relações culturais e diminuindo o etnocentrismo entre ouvintes e surdos, assim, permitindo que as produções de ambas as culturas se misturem na rede social Instagram e esteja ao alcance de todos.
Diante do exposto, podemos afirmar que com o avanço da tecnologia e da inserção da poesia surda na rede social Instagram, a literatura surda pode não só ser registrada, mas estrategicamente disseminada na sociedade em rede, ou seja, no ciberespaço, a partir de instrumentos tecnológicos, utilizando-os como textualidade visual, fortalecendo discursos de identidade e especificidades do povo surdo.
Tanto os discursos que fortalecem a identidade surda, quanto os discursos que se pautam no ouvintismo, geram impacto positivo para o discurso de empoderamento do surdo, tendo como base um discurso de poder baseado no respeito à diversidade, como um poder que circula, o qual não é preso à monopolização cultural, mas sim, circula em rede e contribui para a estratégia do aumento da inteligência coletiva da comunidade surda e sua cultura.
Finalmente, percebe-se que a afirmação identitária da cultura do surdo reflete na literatura surda, pois esta é o espelho das especificidades da poesia surda, de modo que seus artefatos culturais influenciam de forma semiótica e imagética, sendo fundamentais para a inserção, registro e disseminação na mídia visual digital na rede, criando assim, uma espécie de ciberinstacultura surda.
REFERÊNCIAS
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[1] O autor define inteligência coletiva como “uma Inteligência distribuída por toda parte, incessantemente valorizada, coordenada em tempo real, que resulta em mobilização efetiva das competências”. (PIERRE LEVY, 1998, p. 28).
[2] O Congresso de Milão foi a primeira conferência internacional para educadores de surdos.
[3] Soares afirma que griots “pertencem a uma casta especial e são, ao mesmo tempo, contadores, poetas e músicos que têm a função de conservar e transmitir a história e a genealogía de uma grande família, ou seja, de uma etnia” (SOARES, 1997, p. 123).
[4] O neologismo “instapoetas” ganhou espaço no vocabulário brasileiro junto à popularização de gênero poético na rede social Instagram.
[5] A entrevista pode ser acessada pelo link <https://www.youtube.com/watch?v=5OHh7rj9DYk>. Acesso em 15 de maio de 2021.
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