CUIDADOS PALIATIVOS EM PACIENTES COM INSUFICIÊNCIA CARDÍACA: REVISÃO INTEGRATIVA

PALLIATIVE CARE IN PATIENTS WITH HEART FAILURE: INTEGRATIVE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202410171032


Lara Taís Rodrigues silva1
Pedro Lima Sampaio²
Sabrina Teixeira de Lima³
Ábia Matos de Lima⁴


Resumo

Objetivo: Trazer um estudo que aborda a importância da Insuficiência Cardíaca juntamente com os Cuidados Paliativos. Materiais e Métodos: Revisão integrativa de artigos publicados sobre Insuficiência Cardíaca e Cuidados Paliativos nas bases de dados BVS, PUBMED e SciELO, com os Descritores “Integrative Palliative Care AND Heart Failure” entre 2020 e 2024, de todos os idiomas e dados extraídos de fontes acadêmicas e confiáveis encontradas em sites especializados e institucionais, tais como Organização Mundial da Saúde (OMS), Instituto do Coração e American Heart Association (AHA). Resultados: Indicar que a introdução precoce dos cuidados paliativos em pacientes com insuficiência cardíaca proporciona uma redução significativa nas hospitalizações. Conclusão: Os cuidados paliativos desempenham um papel fundamental no manejo da insuficiência cardíaca, não apenas nos estágios avançados, mas também desde o diagnóstico inicial. É uma abordagem holística e integrada, que foca tanto no controle dos sintomas quanto no bem-estar emocional e espiritual, é essencial para garantir uma melhor qualidade de vida.

Palavras-chave: Cuidados Paliativos. Insuficiência Cardíaca. 

Abstract

Objective: To present a study that addresses the importance of Heart Failure along with Palliative Care. Materials and Methods: Integrative review of articles published on Heart Failure and Palliative Care in the BVS, PUBMED, and SciELO databases, using the descriptors “Integrative Palliative Care AND Heart Failure” between 2020 and 2024, from all languages and academic sources, and reliable academic sources found on specialized and institutional websites, such as the World Health Organization (WHO), the Heart Institute, and the American Heart Association (AHA). Results: Indicate that the early introduction of palliative care in patients with heart failure provides a significant reduction in hospitalizations. Conclusion: Palliative care plays a fundamental role in the management of heart failure, not only in the advanced stages but also from the initial diagnosis. It is a holistic and integrated approach that focuses both on symptom control and emotional and spiritual well-being, essential to ensuring a better quality of life.

Keywords: Integrative Palliative Care. Heart Failure.

1 INTRODUÇÃO 

A insuficiência cardíaca (IC) é uma condição clínica complexa, progressiva e imprevisível, caracterizada pela incapacidade do coração em bombear sangue de forma eficiente, resultando em uma perfusão inadequada dos tecidos e órgãos do corpo. Essa disfunção cardíaca pode levar a uma série de manifestações, incluindo fadiga, dispneia e retenção de líquidos, afetando diretamente a qualidade de vida dos pacientes e reduzindo significativamente a expectativa de vida. (AHA,2023).

Também conhecida como “doença do coração fraco”, a IC afeta cerca de 26 milhões de pessoas ao redor do mundo, e estima-se que até 2030 a prevalência aumentará em 25%, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS,2022) esse aumento deve-se ao envelhecimento da população e às mudanças prejudiciais no estilo de vida, como o aumento do sedentarismo e padrões alimentares não saudáveis, que agravam os fatores de risco cardiovascular (PONIKOWSKI, 2014).

No Brasil, a IC é a terceira maior causa de internação em pacientes com mais de 60 anos, afetando até 10% dos indivíduos com idade superior a 65 anos (INSTITUTO DO CORAÇÃO,2024). 

Embora os avanços no tratamento tenham prolongado a sobrevida de muitos indivíduos com IC, a doença permanece incurável em muitos casos, especialmente nos estágios mais avançados, resultando em altos índices de hospitalização, morbidade e mortalidade.

Nesse contexto, os cuidados paliativos surgem como uma abordagem essencial para o manejo dos pacientes com insuficiência cardíaca, particularmente quando os tratamentos curativos já não são eficazes. Estima-se que, globalmente, cerca de 40 milhões de pessoas precisam de cuidados paliativos em diversas condições de saúde; no entanto, atualmente, apenas 14% desses pacientes recebem a assistência necessária, sendo que as doenças cardiovasculares representam 38,5% desse total (OMS, 2022). 

O cuidado paliativo visa promover a qualidade de vida de pacientes e seus familiares, através da avaliação precoce e controle de sintomas físicos, sociais, emocionais e espirituais no contexto de doenças que ameaçam a continuidade da vida. A assistência é realizada por uma equipe multiprofissional durante o período do diagnóstico, adoecimento, finitude e luto (OMS, 2022). O cuidado paliativo não tem a intenção de adiar a morte, mas sim reconhecê-la como parte natural da vida. Por meio de uma abordagem holística e integrada, oferece aos pacientes a oportunidade de viverem de forma mais ativa e plena até o fim. Além disso, fornece suporte às famílias, ajudando-as a enfrentar a doença e a processar o luto. No caso da insuficiência cardíaca, a inclusão precoce dos cuidados paliativos independente do prognóstico pode proporcionar um suporte integral ao paciente, abordando não apenas os sintomas físicos, mas também as necessidades emocionais e sociais que acompanham o avanço da doença. (KNAUL,FM et al, 2018 ; DI PALO, K. E. et al.,2024).

A correlação entre insuficiência cardíaca e cuidados paliativos destaca a necessidade de uma abordagem multidisciplinar, que busque não apenas prolongar a vida, mas também garantir que essa vida seja vivida com seus estágios avançados, é uma condição crônica e debilitante que impacta todas as esferas da vida do paciente. A melhoria da qualidade de vida foi reconhecida como um aspecto fundamental da saúde pública, tão importante quanto a prevenção, tratamento e prolongamento da vida. Assim, integrar os cuidados paliativos ao tratamento da insuficiência cardíaca pode ser uma estratégia eficaz para proporcionar uma assistência mais humanizada e centrada no paciente, focada em suas necessidades e preferências. (STRANGL, F. et al., 2021). Dessa forma, surge  

Segundo a Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC) e a Associação Europeia de Cuidados Paliativos (EAPC), faz-se necessário a implementação de cuidados paliativos de forma precoce em pacientes com IC crônica. Pensando nisso e através de tal recomendação, os Hospitais Universitários de Genebra (HUG) implementaram uma equipe de CP, composta por enfermeiros e médicos especialistas tanto em cardiologia, quanto em paliativismos no intuito de ofertar o cuidado precoce a esse público em toda a trajetória da doença. (HENTSCH, L. et al 2022).

A necessidade de cuidados paliativos para pacientes com insuficiência cardíaca é evidente, uma vez que a IC é uma condição crônica que apresenta um prognóstico incerto e que causa sofrimento significativo. Estudos demonstram que a qualidade de vida de pacientes com IC é frequentemente inferior àqueles com outras condições crônicas, como câncer em estágios avançados (Gelfman et al., 2021).

Por isso, compreender as barreiras à implementação desses cuidados e a necessidade de um modelo de atenção mais centrado no paciente é crucial para promover um cuidado mais eficaz e humanizado.

O principal ponto de todo o estudo se baseará em como a inserção dos CP é benéfico para pacientes com IC, porém com baixa aderência no público em questão. Isso ocorre devido a barreiras em sua implementação pois acreditam que os CP devem ser inseridos apenas no fim de vida, não levando em consideração a abordagem também em doenças crônicas. 

2 MATERIAIS E MÉTODOS

O estudo a seguir trata de uma revisão integrativa, que teve como desenvolvimento 6 etapas: identificação do tema, realização da pergunta norteadora, pesquisa nas bases de dados, exclusão dos artigos após leitura de título e resumo, exclusão após leitura na íntegra e desenvolvimento do corpo do trabalho.

Para a realização da pergunta norteadora e problema de pesquisa, foi utilizado o método PICO (P: População; I: Intervenção; C: Controle ou comparação; O: Desfecho.)

O trabalho foi desenvolvido sobre Cuidados Paliativos em pacientes com Insuficiência Cardíaca, sendo assim, P correspondeu à pacientes com insuficiência cardíaca, I correspondeu à cuidados paliativos aplicado em pacientes com insuficiência cardíaca, C sobre quando iniciar CP em pacientes com IC, e O sobre publicações na literatura acerca do tema. 

Para realização da busca dos artigos, foram utilizadas as bases de dados BVS, PUBMED e SciELO.

Para confirmação do Descritores, foi utilizado o DeCS “Descritores em Ciências da Saúde”. Ao realizar a busca em tais bases de dados, foram utilizados os Descritores “Integrative Palliative Care AND Heart Failure”.

Como critérios de exclusão dos artigos indexados, foram utilizados artigos na temática publicados entre 2020 a 2024, em todos os idiomas. Logo após, foi realizada uma primeira triagem com a leitura do título e resumo, em seguida, realizado a leitura na íntegra dos estudos selecionados. 

Alguns dados foram extraídos de fontes acadêmicas e confiáveis encontradas em sites especializados e institucionais, tais como Organização Mundial da Saúde (OMS), Instituto do Coração e American Heart Association (AHA).

3 RESULTADO

Após a busca nas bases de dados foram indexados 82 artigos. Logo em seguida, foi realizada a exclusão dos artigos e restaram 16 artigos, realizado seleção manual e descrito na Figura 1.

Figura 1 – Seleção dos artigos para revisão integrativa. Brasília, DF, Brasil, 2024.

4 DISCUSSÃO 

4.1 INSUFICIÊNCIA CARDÍACA

A insuficiência cardíaca (IC) é definida como a incapacidade do coração de gerar débito cardíaco adequado para atender às demandas metabólicas em pressões de enchimento normais. É um problema de saúde que afeta mais de 26 milhões de pessoas em todo o mundo, sendo uma das principais causas de morte e hospitalizações em pacientes com >65 anos, é caracterizada por sintomas graves que interferem na qualidade de vida do paciente e de seus cuidadores. Apesar dos avanços nos cuidados cardiovasculares, como terapias médicas, cirúrgicas e dispositivos, a progressão da IC de crônica para avançada e, eventualmente, para estágio terminal é imprevisível e marcada por sintomas que resultam em hospitalizações recorrentes e uso excessivo de assistência médica causando aumento de encargos clínicos, sociais e econômicos. (CITRON, matthew L. et al., 2020)

Pesquisas mostram que a sobrevida média de pacientes hospitalizados com IC em cinco anos é de apenas 25%, e até 30% falecem dentro de um ano após a hospitalização, com um tempo médio até a morte de 2,4 anos. Além disso, 20% dos adultos com IC são readmitidos ao hospital dentro de 30 dias, e 50% dessas readmissões ocorrem por causas cardiovasculares em um ano. Esse aumento se deve ao envelhecimento da população, aumento da expectativa de vida e da melhora da sobrevida na IC, mudança de estilo de vida. (CITRON, Matthew L. et al., 2020 ; EGBE, A. C et al., 2024)

A IC é causada por diversas condições etiológicas que resultam em disfunção tanto sistólica quanto diastólica. De acordo com a Heart Failure Association (HFA), existem três fenótipos de insuficiência cardíaca, classificados com base na avaliação da fração de ejeção (FE) do ventrículo esquerdo: a insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida (ICFEr), na qual a FE é inferior a 40%; a insuficiência cardíaca com fração de ejeção média ou levemente reduzida (ICFEmr), com FE entre 40% e 49%; e a insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada (ICFEp), na qual a FE é superior a 50%. (BEATTIE, J. M et al., 2020). Pacientes com IC enfrentam uma alta carga de sintomas, incluindo dispneia, dor, astenia, depressão e ansiedade,além de uma redução do bem estar espiritual e baixa carga de qualidade  de vida , devido a doença ser imprevisível e com períodos de intensificação do quadro. (ROMANO, M., 2022)

Portanto, levando em consideração que a Insuficiência Cardíaca é uma doença extremamente ameaçadora à vida e que afeta em grande parte a população, a Sociedade Europeia de Cardiologia e a AHA/ACC/HFSA trouxeram nas diretrizes de 2021 e 2022, respectivamente, alguns pontos relevantes acerca da junção de Insuficiência Cardíaca e Cuidados Paliativos no intuito de melhorar a qualidade de vida desses pacientes. (BLUM, M ET. AL 2023) 

4.2 CUIDADOS PALIATIVOS

Segundo a OMS (2022), cuidados paliativos (CP) é uma abordagem que melhora a qualidade de vida de pacientes (adultos e crianças) e suas famílias, que enfrentam problemas associados a doenças que ameaçam a vida. Previne e alivia o sofrimento, através da identificação precoce, avaliação correta e tratamento da dor e de outros problemas físicos, psicossociais ou espirituais”. Dessa forma, todos os pacientes com doenças graves, independentemente do seu diagnóstico ou prognóstico, devem ser considerados para cuidados paliativos. No entanto, devido a imprevisibilidade do curso da doença tem valor limitado na determinação do melhor momento para iniciar o acompanhamento e o desenvolvimento do plano de cuidados e de identificar pacientes com alto risco de mortalidade. (CRUZ, I. O et al., 2022; REMAWI, B. N. Et al, 2021).

Definimos como ‘Cuidado em saúde’ algo que vai além de um simples nível de atenção no sistema de saúde ou de um procedimento técnico. Trata-se de uma ação integral que busca compreender a saúde como um direito de ser. Considerar o direito de ser na saúde implica ter cuidado com as diferenças entre os indivíduos – respeitando aspectos de etnia, gênero e raça – que não são apenas portadores de deficiências ou patologias, mas também possuem necessidades específicas. Refletir sobre o direito de ser é assegurar o acesso a diversas práticas terapêuticas, permitindo que o usuário participe ativamente das decisões sobre as melhores tecnologias médicas a serem utilizadas com base nos seus valores e crenças. (PINHEIRO,2024)

“Paliar” vem do latim “pallium”, que significa “proteger,” tem como objetivo amenizar a dor e sofrimento, sejam físicos, psicológicos, sociais ou espirituais. Quando alguém é indicado para cuidados paliativos, não é motivo de temor; isso significa que a pessoa tem uma doença crônica grave, mas ainda há muito a ser feito. Uma equipe de profissionais se dedicará a cuidar tanto do paciente quanto de seus familiares, oferecendo apoio e alívio durante o processo. (ALVES, B. O , 2024)

Os cuidados paliativos é uma abordagem de uma equipe multidisciplinar e são indicados quando a doença se torna progressiva e os tratamentos convencionais não proporcionam controle de sintomas ou melhoria na qualidade de vida. Os critérios variam em diferentes instituições e diretrizes, mas seguem um raciocínio parecido, mas não há como dizer quando é o momento certo para se introduzir os cuidados paliativos.  Alguns critérios para e a elegibilidade de CP são: progressão da doença, mesmo com terapias curativas; hospitalizações frequentes devida descompensação dos sintomas; presença de sintomas graves; necessidade de terapia inotrópica paliativa, idade avançada e comorbidades que agravam o quadro clínico, elegibilidade de transplante cardíaco e MCS, caquexia cardíaca. A qualidade de vida do paciente e seus cuidadores é uma medida essencial para a implementação dos cuidados paliativos. Em cada fase da doença, novas discussões e planejamentos devem ser realizados relacionado ao estágio da doença, mudança do prognóstico e preferências do paciente visando prestar a assistência adequada para aquele indivíduo. (ROMANO’, M., 2022; BLUM, M. et al, 2023).

Os cuidados paliativos (CP) muitas vezes são confundidos com cuidados de fim de vida, o que pode dificultar um tratamento adequado no momento certo. Embora os cuidados no fim de vida sejam uma parte importante dos CP, essa abordagem vai muito além disso. Os cuidados paliativos estão presentes em todas as fases da doença, desde a sua descoberta e o início do tratamento até as terapias que buscam proporcionar uma morte mais tranquila. Esses cuidados envolvem uma equipe multidisciplinar comprometida com o bem-estar do paciente e de seus cuidadores, abordando todos os aspectos da vida humana. O foco é respeitar as decisões e os valores de cada pessoa, garantindo que elas se sintam apoiadas e compreendidas em sua jornada. (BLUM, M. et al, 2023)

4.3 ESCALA DE NECPAL

Existem muitas barreiras para a implementação do CP, como a dificuldade em identificar pacientes que precisam de cuidados e a falta de familiaridade entre os profissionais e a percepção que cuidados paliativos só devem ser implementados no final da vida. Nesse contexto, alguns instrumentos têm sido essenciais para a avaliação correta dos pacientes, sendo uma delas a escala NECPAL que surge como uma ferramenta eficaz para identificar precocemente pacientes com doenças crônicas avançadas como a IC, que podem se beneficiar dos CP. Essa escala permite não apenas antecipar a necessidade de CP, mas também promover uma prática clínica baseada em evidências, além de desenvolver indicadores clínicos importantes, como o declínio funcional e nutricional, e a presença de comorbidades. (ARENAS OCHOA, L.F et al.,2021)

A escala é estruturada em quatro blocos, cuja função é auxiliar na avaliação do estado de saúde do paciente e na determinação da necessidade de CP. As respostas devem ser positivas ou negativas. Sendo eles: 1) Eu ficaria surpreso se esse paciente morresse nos próximos 12 meses? É uma “pergunta surpresa” que visa identificar pacientes com a expectativa de vida reduzida, com base no seu prognóstico clínico. 2) O segundo bloco envolve a solicitação de CP, que pode ser feita por profissionais de saúde, pelo próprio paciente ou por seus familiares. A necessidade de CP, nestes casos, reflete a percepção de que o paciente já se encontra em um estágio da doença na qual o foco deve estar no alívio de sintomas e no suporte emocional. 3) O terceiro bloco aborda indicadores clínicos de fragilidade, que incluem a avaliação do estado nutricional, da funcionalidade física, do sofrimento emocional e da presença de comorbidades. Estes fatores são determinantes na identificação de pacientes que apresentam declínio no estado geral de saúde. 4) O último bloco envolve a análise de marcadores clínicos da doença. Esses marcadores fornecem dados detalhados sobre a progressão e a gravidade da condição, orientando a decisão clínica quanto à necessidade de CP. (ARENAS OCHOA, L.F et al.,2021)

A classificação de NECPAL é positiva (+NECPAL) quando a pergunta surpresa  e mais um dos três blocos é positiva, nesse caso, o paciente precisa iniciar os CP. Caso contrário, o paciente tem um NECPAL negativo (- NECPAL) e não possui necessidades de acompanhamento de CP. (ARENAS OCHOA,L.F et al.,2021)

4.4 CORRELAÇÃO DE CUIDADOS PALIATIVOS E INSUFICIÊNCIA CARDÍACA 

Diante desse cenário, os cuidados paliativos para pacientes com IC têm se tornado cada vez mais relevantes. A decisão de encaminhar esses pacientes deve ser independente do prognóstico e não deve ser vista como um tratamento de última linha, mas com ênfase na melhora dos sintomas e na qualidade de vida dos pacientes e seus familiares, sendo essa abordagem necessária mesmo para aqueles que aguardam tratamentos como transplante cardíaco.

Os cuidados paliativos complementam os cuidados cardiovasculares por (1) reduzir a carga de sintomas físicos, (2) gerenciar o sofrimento emocional e espiritual, (3) fornece suporte suficiente para os cuidadores e (4) auxiliar os pacientes a tomarem decisões que coincidam com seus objetivos de tratamento. Dessa forma, essas intervenções estão associadas a uma redução significativa nas hospitalizações e uma modesta melhoria na qualidade de vida e na carga sintomática. (DI PALO, KE et al,2024)

Nesse contexto, a Sociedade Europeia de Cardiologia traz algumas afirmações na Diretriz de 2021 sobre alguns pontos relevantes acerca dos Cuidados Paliativos na Insuficiência Cardíaca. Nela, a ESC afirma que os CP devem ser incluídos em todos os pacientes portadores da IC, independente do grau da doença. 

Em concordância, a AHA/ACC/HFSA traz em sua Diretriz de 2022 também pontos importantes acerca dos Cuidados Paliativos na IC. Tal diretriz concorda com a ESC 2021, principalmente no que tange que os Cuidados Paliativos devem ser abordados em todos os estágios da doença. Traz, também, alguns pontos acerca da transmissão do prognóstico, planejamento antecipado de cuidados, discussões sobre terapias de suporte à vida e gestão de sintomas como pontos chaves. (BLUM M. et al., 2023)

4.5 TRATAMENTO

Cada hospitalização relacionada à IC eleva o risco de eventos subsequentes e agravamentos de sinais e sintomas. Diante dessas internações, algumas intervenções medicamentosas são realizadas com o objetivo de melhorar a qualidade de vida e aliviar sintomas que causam desconforto. Dessa forma, o paciente se sentirá melhor, tanto fisicamente como mentalmente, buscando aumentar a capacidade física e cognitiva, reduzir sintomas comuns como dispnéia, fadiga e cansaço, melhorando o humor, sono e apetite. (STRANGL,F.et al.,2023; GUSTAFSSON, F. et a.,l 2023)

Quando se associa o tratamento da Insuficiência Cardíaca logo se discute o uso de medicamentos inotrópicos, pois, a IC traz como fisiopatologia a incapacidade do coração de realizar um débito cardíaco adequado para manter a perfusão de órgãos e extremidades. Um dos indicativos do uso inotrópico na IC são a ponte para transplante cardíaco e o cuidado paliativo. O uso de Dobutamina, Milrinona ou Levosimendan se faz necessário nesse caso. Em alguns países, existe a possibilidade do uso de tais medicamentos de forma ambulatorial e/ou domiciliar. Entretanto, por mais que seja uma opção viável, ainda se faz necessário mais estudos acerca dessa temática. É fundamental destacar que o uso prolongado desses tratamentos pode levar a disfunções renais e distúrbios eletrolíticos, como hipocalemia e hipercalemia. Portanto, pacientes em tratamento medicamentoso necessitam de monitoramento contínuo. (GUSTAFSSON, F. et a.,l 2023). 

Pacientes em estágio terminal, que apresentam boas condições de saúde e não têm comorbidades significativas, podem ser considerados para transplante cardíaco. No entanto, essa opção terapêutica é limitada devido a diversos fatores, incluindo a discrepância entre o número de doadores disponíveis e a quantidade de candidatos ao transplante. Para aqueles que não são elegíveis para essa intervenção, o implante de assistência ventricular esquerda (LVAD) pode ser uma alternativa viável. No entanto, esse procedimento implica altos custos e a possibilidade de eventos adversos, o que torna sua indicação complexa e nem sempre adequada para todos os casos. (TOMASONI, D. et al., 2022)

4.6 QUALIDADE DE VIDA

Os estudos analisados apresentam diversas abordagens para avaliar o impacto dos cuidados paliativos na qualidade de vida de pacientes com insuficiência cardíaca. Em geral, os resultados sugerem que a integração precoce de cuidados paliativos contribui significativamente para o alívio dos sintomas e para a melhora do bem-estar global dos pacientes.

4.6.1 Controle de Sintomas e Bem-estar Físico:

 Muitos pacientes com insuficiência cardíaca avançada enfrentam sintomas debilitantes como dispnéia, fadiga e dor. O manejo ativo desses sintomas resulta em uma melhora perceptível na qualidade de vida. Um estudo afirma que “o cuidado paliativo focado no controle de sintomas pode levar a uma redução significativa da necessidade de hospitalizações” (OLIVER et al., 2022).

4.6.2 Apoio Psicológico e Emocional: 

O suporte psicológico oferecido por equipes de cuidados paliativos tem mostrado reduzir significativamente os níveis de ansiedade e depressão. Em um dos artigos, os autores afirmam que “o cuidado psicológico é essencial para melhorar a qualidade de vida em pacientes com insuficiência cardíaca” (LINDQVIST et al., 2023).

4.6.3 Cuidado Espiritual e Social: 

A espiritualidade desempenha um papel importante em muitos pacientes em fase terminal. Os autores afirmam que “intervenções que abordam as necessidades espirituais têm mostrado aumentar a percepção de qualidade de vida” (MURPHY et al., 2021). Além disso, o envolvimento de familiares nos cuidados e na tomada de decisões faz com que os pacientes se sintam mais apoiados e menos isolados.

4.6.4 Redução de Intervenções Invasivas Desnecessárias: 

Em vários dos estudos revisados, a transição para cuidados paliativos reduz o uso de tratamentos agressivos. “A mudança para cuidados paliativos é frequentemente percebida positivamente pelos pacientes, pois prioriza o conforto e a qualidade de vida” (OLIVER et al., 2022).

4.7 HOSPITALIZAÇÃO

A hospitalização de pacientes com insuficiência cardíaca em fase avançada frequentemente resulta em desafios significativos, tanto para os pacientes quanto para os sistemas de saúde. Ela é um marcador-chave da piora do prognóstico. A literatura revisada indica que a integração de cuidados paliativos pode reduzir as hospitalizações desnecessárias e melhorar a experiência do paciente.

4.7.1 Taxas Elevadas de Hospitalização:

 Pacientes com insuficiência cardíaca enfrentam taxas elevadas de hospitalização, muitas vezes devido a exacerbações dos sintomas. “A hospitalização é uma ocorrência comum entre pacientes com insuficiência cardíaca, refletindo a natureza crônica e progressiva da doença” (OLIVER et al., 2022).

4.7.2  Efeito dos Cuidados Paliativos na Redução de Hospitalizações: 

A implementação de cuidados paliativos demonstrou uma redução significativa nas hospitalizações. Os estudos mostram que “pacientes que receberam cuidados paliativos apresentaram uma redução de 30% nas hospitalizações em comparação com aqueles que receberam cuidados tradicionais” (LINDQVIST et al., 2023). Essa diminuição está associada a uma melhor gestão dos sintomas e à promoção do cuidado em casa.

4.7.3 Qualidade de Vida e Preferências do Paciente: 

A escolha de não ser hospitalizado frequentemente reflete a preferência dos pacientes por cuidados que priorizam a qualidade de vida. “A maioria dos pacientes com insuficiência cardíaca prefere morrer em casa a em um ambiente hospitalar, enfatizando a importância do cuidado paliativo” (MURPHY et al., 2021).

4.7.4  Suporte às Famílias e Cuidados em Casa: 

A equipe de cuidados paliativos não apenas cuida do paciente, mas também apoia as famílias, permitindo que os cuidados sejam realizados em casa. “A formação de familiares e cuidadores é fundamental para garantir a continuidade do cuidado e evitar hospitalizações desnecessárias” (OLIVER et al., 2022). 

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 

A Insuficiência Cardíaca é uma doença crônica de alta complexidade, progressiva e com impacto profundo na qualidade de vida dos pacientes cuja a incidência está em crescimento global, como a OMS alega, até 2030 a prevalência de pacientes com IC terá um aumento significativo, sendo uma das principais causas de hospitalização entre idosos. Apesar dos avanços no tratamento cardiovascular, a IC permanece incurável na maioria dos casos, especialmente em estágios avançados, resultando em altas taxas de hospitalização. 

Este estudo demonstrou, por meio de uma revisão integrativa, que os CP devem ser inseridos desde os estágios iniciais da doença, independente do prognóstico como sugerido pelas diretrizes da ESC 2021 e a AHA/ACC/HFSA 2022, possibilitando uma melhora significativa na qualidade de vida, reduzindo o sofrimento e garantindo um tratamento mais humanizado e centrado nas necessidades do paciente e dos familiares.

Outro aspecto importante a ser comentado é que existe um equívoco que os CP são indicados apenas em fases terminais. No entanto, eles podem e devem ser implementados em todos os estágios da IC conforme as diretrizes mais recentes recomendam.

Portanto, conclui-se que os CP desempenham um papel fundamental no tratamento de pacientes com IC, oferecendo uma abordagem que busca não apenas prolongar a vida, mas garantir que ela seja vivida com dignidade e qualidade. Este estudo reforça a importância de ampliar a implementação dessa abordagem em nossos serviços de saúde, promovendo o acesso equânime e integrados aos cuidados. Assim é fundamental que haja mais investimentos na capacitação de equipes multiprofissionais, garantindo que todos os pacientes possam desfrutar de uma assistência mais humanizada e focada nas necessidades individuais.  

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1Discente do Curso de Enfermagem da Faculdade Ls, e-mail: Lara.t.r.silva@lseducacional.com
²Discente do Curso de Enfermagem da Faculdade Ls, e-mail: Pedro.sampaio71@lseducacional.com
³Discente do Curso de Enfermagem da Faculdade Ls, e-mail: Sabrina.t.lima@@lseducacional.com
⁴Professora de Enfermagem/Faculdade LS, email: Abia.lima@unils.edu.br