PALLIATIVE CARE: THE IMPORTANCE OF NURSING IN THE ACT OF CARE AND THE RISKS OF EMOTIONAL EXHAUSTION
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202507311635
Ana Vitória Rosa1,2
Paula Souza Lage3
RESUMO
Introdução: Os cuidados paliativos promovem qualidade de vida a pacientes acometidos por doenças que não respondem a tratamento, ou seja, sem possibilidades terapêuticas. Esta abordagem busca proporcionar bem-estar a doentes e familiares, prevenindo e aliviando sofrimento ao identificar, avaliar e tratar dor e outros problemas de natureza física, psicossocial e espiritual. Essa assistência visa proporcionar qualidade de vida ao paciente e sua família, buscando atenuar problemas e sintomas com tratamentos que têm por objetivo aliviar o sofrimento. Dessa maneira, é fundamental o cuidado humanizado, integral e individual não só do enfermo, mas também de seus familiares, sendo necessária uma equipe multidisciplinar. A enfermagem apresenta um papel importante nesse contexto, pois ela oferece suporte especializado e compassivo para garantir o bem-estar físico, emocional e espiritual dos pacientes em fim de vida. Entretanto, esses cuidados podem sobrecarregar emocionalmente o profissional e diminuir a qualidade do trabalho prestado. Objetivo: Reunir e analisar informações a respeito da atuação do enfermeiro nos cuidados paliativos, destacando sua importância na promoção do conforto e bem-estar de pacientes em fase terminal, bem como os impactos do desgaste emocional nesse grupo. Metodologia: Foram avaliados artigos publicados em revistas indexadas nas bases de dados Scientific Electronic Library Online (SCIELO), National Library of Medicine/NLM (MEDLINE) e National Library of Medicine/NLM (PUBMED), além de sites oficiais como a Organização Mundial da Saúde, no período de 2015 a 2025. Resultados e discussão: Após busca foram encontrados 36 artigos relacionados ao tema proposto. Foi observado que a enfermagem apresenta um papel fundamental no Cuidados Paliativos, uma vez que ele garante conforto, dignidade e qualidade de vida ao paciente e sua família durante o enfrentamento de doenças graves e incuráveis, pois o enfermeiro apresenta uma visão ampla do cuidado atuando desde área administrativa ao apoio das famílias, ressaltando características inerentes da profissão como o cuidado, a compaixão e o comprometimento. Além de ser elo entre os pacientes, os familiares e o resto da equipe. Entretanto, os números de enfermeiros com desgaste emocional vêm aumentando significativamente, um estudo relatou que cerca de 30% dos enfermeiros paliativistas apresentaram Síndrome de Burnout. Isso pode gerar um problema grave e ainda o declínio da assistência, sendo necessárias intervenções para diminuir esse índice e garantir o cuidado adequado ao paciente. Conclusão: a atuação da enfermagem é primordial e necessária para garantir uma assistência digna e humanizada a todos os pacientes que necessitem desse tipo de cuidado. Entretanto, o desgaste emocional presente nesses profissionais vem aumentando, o que pode acarretar tanto diminuição da qualidade de vida desses profissionais como um atendimento inadequado. Assim, é necessário intervenções que diminuam o impacto negativo desse desgaste a fim de garantir o atendimento de qualidade para os pacientes em Cuidados Paliativos.
Palavras-chave: Enfermagem, Cuidados Paliativos, Desgaste emocional
ABSTRACT
Introduction: Palliative care promotes quality of life for patients suffering from untreated illnesses, meaning those without therapeutic options. This approach seeks to promote well-being for patients and their families, preventing and alleviating suffering by identifying, assessing, and treating pain and other physical, psychosocial, and spiritual problems. This care aims to provide quality of life for patients and their families, seeking to alleviate problems and symptoms with treatments aimed at alleviating suffering. Therefore, humane, comprehensive, and individualized care is essential not only for the patient but also for their family members, requiring a multidisciplinary team. Nursing plays an important role in this context, as it offers specialized and compassionate support to ensure the physical, emotional, and spiritual well-being of end-of-life patients. However, this care can be emotionally overwhelming for professionals and diminish the quality of care provided. Objective: To gather and analyze information regarding the role of nurses in palliative care, highlighting their importance in promoting the comfort and well-being of terminally ill patients, as well as the impacts of emotional distress on this group. Methodology: Articles published in journals indexed in the Scientific Electronic Library Online (SCIELO), National Library of Medicine/NLM (MEDLINE) and National Library of Medicine/NLM (PUBMED) databases, as well as official websites such as the World Health Organization, were evaluated between 2015 and 2025. Results and discussion: The search yielded 36 articles related to the proposed topic. It was observed that nursing plays a fundamental role in palliative care, ensuring comfort, dignity, and quality of life for patients and their families during the struggle with serious and incurable illnesses. Nurses offer a broad perspective on care, from administrative roles to family support, emphasizing inherent characteristics of the profession such as caring, compassion, and commitment. Nurses also serve as a link between patients, families, and the rest of the team. However, the number of nurses experiencing emotional exhaustion has been increasing significantly; one study reported that approximately 30% of palliative care nurses had burnout syndrome. This can lead to serious problems and even a decline in care, requiring interventions to reduce this rate and ensure adequate patient care. Conclusion: Nursing work is essential and necessary to ensure dignified and humane care for all patients requiring this type of care. However, the emotional distress experienced by these professionals is increasing, which can lead to both a decrease in their quality of life and inadequate care. Therefore, interventions to reduce the negative impact of this distress are necessary to ensure quality care for patients in palliative care.
Keywords: Nursing, Palliative Care, Emotional distress
1. INTRODUÇÃO
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, os Cuidados Paliativos (CP) são uma abordagem que melhora a qualidade de vida dos pacientes adultos, crianças ou de seus familiares, que enfrentam problemas associados a doenças que ameaçam a vida. Eles previnem e aliviam o sofrimento por meio da investigação precoce, da avaliação correta, do tratamento da dor e de outros problemas, como físicos, psicossociais ou espirituais [1]. Esses foram idealizados para proporcionar conforto, bem-estar e suporte aos pacientes em fase terminal e seus familiares. Essa especialidade partiu do movimento hospice, que tem como filosofia o cuidado direcionado às pessoas que estão passando pela fase final da vida, pelo progresso incurável de alguma patologia ou o processo natural de envelhecimento [2]. Atualmente, são vistos como um direito de todo ser humano, com o foco voltado na melhoria da qualidade de vida não apenas dos pacientes, mas também de seus familiares. Além disso, os cuidados paliativos e as intervenções curativas não são mutuamente exclusivos, os princípios de ambos podem e devem coexistir quando relevantes e apropriados para uma gama diversificada de doenças que limitam a vida [3].
Para uma adequada prática de cuidados paliativos são necessários conhecimento e compreensão dos seguintes princípios norteadores: prevenção, identificação precoce, avaliação abrangente e gerenciamento de problemas físicos, incluindo dor e outros sintomas estressantes, além de necessidades sociais; fornecimento de suporte para ajudar os pacientes a viverem o mais plenamente possível até a morte, facilitando a comunicação eficaz, ajudando-os, junto com suas famílias, a determinar os objetivos do tratamento; a abordagem é aplicável durante todo o curso da doença, de acordo com as necessidades do paciente; terapias modificadoras de doenças são fornecidas em conjunto sempre que necessário; valores e crenças culturais do paciente e da família são respeitados; entre outros [4,5].
A execução dos CP é efetiva quando realizada por uma equipe multidisciplinar composta por: médicos, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, nutricionistas, capelães e voluntários que sejam competentes e habilidosos nos aspectos do processo de cuidar relacionados à sua área de atuação [5,6]. Como o objetivo das práticas paliativas é realizar uma intervenção na saúde do paciente, o enfermeiro compõe um cargo insubstituível para o desempenho dessa assistência, onde o profissional representa o elo entre o paciente, seus familiares e outros profissionais da equipe. Além disso, o enfermeiro é o profissional que passa mais tempo com o paciente e a família, o que permite uma efetividade na assistência [7]. E ainda a enfermagem objetiva oferecer um cuidado respaldado nos princípios éticos e legais, embasado em fortes evidências científicas. O foco de interesse desses profissionais na saúde das pessoas é o que o diferencia, dentre outras coisas, das demais profissões da área da saúde [8].
O trabalho em saúde, especialmente no contexto dos cuidados paliativos, apresenta desafios únicos devido à complexidade das necessidades dos pacientes e à exposição constante ao sofrimento. O contato direto com pacientes em situações delicadas, juntamente com a sobrecarga de trabalho, pode resultar em elevados níveis de responsabilidade e desafios na dinâmica da equipe, criando um ambiente propenso ao estresse ocupacional [9]. Profissionais de enfermagem nesse ambiente enfrentam uma variedade de estressores que podem afetar sua saúde mental e emocional, bem como a qualidade da assistência prestada [10]. Uma vez que essa exposição contínua pode impactar diretamente na capacidade dos profissionais de prestarem uma assistência de qualidade, comprometendo tanto o bem-estar dos pacientes quanto dos próprios profissionais. Diante desse cenário, é crucial entender como essa situação influencia as estratégias adotadas pelos enfermeiros em busca de alívio, seja por meio de intervenções medicamentosas ou não medicamentosas, e como isso repercute nos cuidados prestados, especialmente no controle da dor e no suporte emocional oferecido aos pacientes [11].
Neste contexto, esta revisão integrativa teve como objetivo reunir e analisar informações sobre a atuação do enfermeiro nos cuidados paliativos, destacando sua importância na promoção do conforto e bem-estar de pacientes em fase terminal, bem como os impactos do desgaste emocional na equipe de enfermagem.
2. METODOLOGIA
Este artigo foi elaborado a partir de uma revisão integrativa da literatura. Para isso, foram identificados artigos publicados em revistas indexadas nas seguintes bases de dados: Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Google Acadêmico, National Library of Medicine/NLM (MEDLINE) e National Library of Medicine/NLM (PUBMED). O estudo foi dividido em dois momentos, sendo que no primeiro, foram buscados os seguintes descritores em artigos nacionais e internacionais nos idiomas português e inglês: cuidados paliativos, enfermagem paliativa, importância da enfermagem, esgotamento emocional, palliative care, palliative nursing, importance of nursing and emotional exhaustion. No segundo momento, foram avaliados os títulos e resumos dos artigos encontrados para definir sua inclusão ou exclusão com base nos critérios descritos a seguir, inclusão: estudos realizados por meio de revisões, meta-análises e ensaios clínicos controlados publicados entre 2015 e 2025, que abordavam o tema em questão e que fossem de livre acesso, foram encontrados 482 artigos. E para exclusão do artigo, foram utilizados os seguintes critérios: estudos anteriores há 10 anos de publicação e artigos com baixo rigor metodológico. Para garantir a relevância e qualidade dos estudos selecionados neste artigo valeu-se destes critérios de forma que a revisão de literatura tivesse maior grau de validade e confiabilidade em seus resultados. Após a inclusão dos artigos baseados nos critérios supracitados e que havia relação ao tema proposto, os textos foram integralmente lidos, interpretados e tiveram suas principais informações sintetizadas, finalizando com 36 artigos.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Como resultado da metodologia após a seleção dos artigos, estes foram usados para síntese. Sendo assim, elaborada a Tabela 1 com as principais informações.
Tabela 1. Síntese dos trabalhos encontrados relacionando a importância e papel da enfermagem nos Cuidados Paliativos e esgotamento emocional.
Título | Conocimiento de enfermería sobre cuidados paliativos en centros de primer y segundo nivel de atención para la salud [12]. |
Autor/ ano | Guevara-Valtier, et al., 2017. |
Principais achados | O profissional de enfermagem prescreve as intervenções de forma holística, centrada na integralidade do indivíduo considerando aspectos físicos, funcionais, sociais e da espiritualidade. Uma prática que requer conhecimento de acordo com as necessidades que o paciente apresenta, levando em consideração a fase terminal com circunstâncias crônicas e degenerativas, para determinar a assistência. |
Título | Nursing activities for health promotion in palliative home care: an integrative review [13]. |
Autor/ ano | Leclerc-Loiselle et al.; 2024. |
Principais achados | Os resultados desta revisão integrativa destacam que as atividades de enfermagem identificadas são, em sua maioria, estratégias voltadas para: (1) o fornecimento de educação e informação sobre saúde, morrer e morte; (2) o fornecimento de apoio social; e (3) o incentivo à reorientação interpessoal. Além disso, a segunda e a terceira estratégias são geralmente consideradas de uma perspectiva individual, na qual os enfermeiros se concentram nas necessidades fisiológicas ou psicológicas do paciente e de seus cuidadores. |
Título | Pathways for a ‘good death’: understanding end-of-life practices through an ethnographic study in two portuguese palliative care units [14]. |
Autor/ ano | Hilário et al., 2022. |
Principais achados | Os enfermeiros buscam uma “boa morte” para todos. Ela também sugere a existência de atividades alternativas de enfermagem que visam o respeito aos valores e objetivos únicos do paciente por meio da identificação de necessidades individualizadas e apoio contextualizado, ou por meio de práticas voltadas para o bem-estar, como autocuidado ou educação para a morte. Essas atividades buscam apoiar pessoas com doenças graves ou seus cuidadores a retomar o controle sobre a vida que valorizam, enquanto estão em cuidados paliativos ou de fim de vida. |
Título | Pediatric palliative care nursing [15]. |
Autor/ ano | Akard et al., 2019. |
Principais achados | Os enfermeiros desempenham papéis ideais para prestar cuidados paliativos pediátricos à beira do leito, pois passam a maior parte do tempo com as crianças e suas famílias. Além de servirem como líderes para promover a ciência dos cuidados paliativos pediátricos e apoiar a comunidade. Sendo assim, desempenham um papel significativo no cuidado de crianças que vivem, sofrem e morrem de condições que ameaçam a vida. |
Título | An integrative review to identify how nurses practicing in inpatient specialist palliative care units uphold the values of nursing [16]. |
Autor/ ano | Moran et al., 2021. |
Principais achados | Este artigo contribui para a crescente literatura sobre uma abordagem da enfermagem paliativa visando que os primeiros cuidados paliativos modernos, com foco no conforto e no cuidado, em vez da cura, fizeram com que os enfermeiros paliativos se tornassem centrais na prestação desses cuidados, uma vez que estes profissionais se concentram na pessoa que enfrenta a morte e em apoiá-la e àqueles próximos a ela. Nesta revisão, as ações, os pensamentos, a inteligência emocional e os comportamentos dos enfermeiros que trabalham em Unidades de Cuidados Paliativos de internação demonstram os valores fundamentais da enfermagem: cuidado, compaixão e comprometimento. |
Título | Implementing advance care planning in palliative and end of life care: a scoping review of community nursing perspectives [17]. |
Autor/ ano | Wilkin et al., 2024. |
Principais achados | Esse trabalho sugere que a experiência e a competência dos enfermeiros comunitários estão associadas à implementação eficaz dos CP. Entretanto, ressalta a necessidade de pesquisas futuras para desenvolver intervenções que promovam a adoção dos CP em ambientes comunitários, possibilitando a construção de confiança para os enfermeiros e apoiando padrões mais elevados de cuidados. |
Título | Advancing Palliative Care through Advanced Nursing Practice: A Rapid Review [18] |
Autor/ ano | Jounaidi et al., 2024. |
Principais achados | Esse artigo sugere que os enfermeiros de prática avançada podem atender à complexidade das necessidades dos pacientes e familiares e atuarem como coordenadores de cuidados médicos com boa relação custo-benefício para pacientes e familiares com doenças crônicas e limitantes, a fim de reduzir o sofrimento e melhorar a qualidade de vida e de morte ao longo da vida. Enfermeiros de prática avançada executam as autorizações atribuídas aos CP, mobilizando o conhecimento adquirido em treinamento universitário. |
Título | Burnout in Palliative Care Nurses, Prevalence and Risk Factors: A Systematic Review with Meta-Analysis [19] |
Autor/ ano | Gómez-Urquiza et al, 2020. |
Principais achados | Os resultados desta revisão e meta-análise demonstraram que entre 24% e 30% dos enfermeiros de cuidados paliativos sofrem de um dos componentes do burnout (exaustão emocional, despersonalização ou baixa realização profissional) e que as principais variáveis relacionadas ao burnout são ocupacionais (carga de trabalho, comprometimento, ambiente de trabalho, conciliação e relações com pacientes e familiares) e psicológicos (extroversão, neuroticismo, empoderamento, sentido na vida e afeto negativo). Embora nem todos os enfermeiros de cuidados paliativos sejam afetados pelo burnout, melhorias no ambiente e nas condições de trabalho, bem como intervenções para reduzir ou prevenir o burnout, são necessárias. |
Título | Palliative care nurses’ experiences of stress, anxiety, and burnout: A thematic synthesis [20] |
Autor/ ano | Clayton, Marczak; 2023. |
Principais achados | O artigo destacou que as experiências dos enfermeiros de CP são complexas, abrangendo desafios clínicos e organizacionais, além do impacto pessoal que seu trabalho exerce sobre eles. Compreender melhor os fatores que contribuem para as experiências dos enfermeiros de CP podem auxiliar na formação básica e na educação profissional continuada dos enfermeiros de CP, bem como na prestação de supervisão e apoio eficazes à equipe. |
Título | The Experiences and Needs of Hospice Care Nurses Facing Burnout: A Scoping Review [21] |
Autor/ ano | Yu et al.; 2023. |
Principais achados | Nessa revisão foram avaliadas as cinco questões-chaves na experiência do enfermeiro de cuidados paliativos: (1) dano psicológico, (2) sintomas físicos, (3) emoções negativas, (4) esgotamento causado por barreiras de comunicação e (5) falta de experiência. E duas questões-chave nas necessidades dos enfermeiros de cuidados paliativos: (1) apoio social e (2) treinamento e educação. E concluiu que a pressão de enfrentar a morte por um longo período e controlar os sintomas dos pacientes têm um impacto muito importante na saúde mental e física dos enfermeiros de cuidados paliativos. A equipe de enfermagem precisa estar satisfeita, e é essencial fornecer apoio e ajudar a aliviar a pressão sobre os enfermeiros de cuidados paliativos. |
Título | Prevalence of burnout in health professionals working in palliative care: a systematic review [22]. |
Autor/ ano | Parola et al.; 2017. |
Principais achados | Os dados revelaram uma prevalência de burnout de 17,3% entre os profissionais de saúde. Realização Pessoal foi a subescala do Maslach Burnout Inventory que teve a maior prevalência (19,5%). Enfermeiros apresentaram níveis mais altos de Exaustão Emocional (19,5%) e Despersonalização (8,2%), e médicos apresentaram níveis mais baixos de Realização Pessoal (41,2%). E o contexto de cuidados paliativos com maior prevalência de burnout foi o de assistência domiciliar (19,6%). |
Já é bem descrito que nos CP é essencial uma equipe multidisciplinar que ofereça acolhimento humanizado, respeitando os princípios de autonomia e dignidade. E dentro dessa equipe a enfermagem apresenta um papel fundamental pois ela valoriza o cuidado ao paciente/família, e os valores recorrentes de conforto, gentileza, dignidade, comprometimento e competência são vistos como fundamentais. A enfermagem paliativa demanda uma extensa base de habilidades e enfrenta uma série de desafios. Isso porque os enfermeiros são responsáveis por uma gama de cuidados físicos, emocionais, psicológicos e espirituais aos pacientes e seus cuidadores, envolvendo desde a gestão da dor e dos sintomas até a educação e defesa dos pacientes, passando pela consideração de aspectos éticos e legais [23]. O papel singular da enfermagem paliativa evoluiu significativamente como uma “arte” da enfermagem, com habilidades baseadas na compaixão, na empatia e na gentileza genuína [16].
A rotina diária dos profissionais de enfermagem paliativistas é permeada por uma gama complexa de emoções, influenciadas pela natureza dos pacientes atendidos. Segundo Pontes e colaboradores, 2024, trabalhar com pacientes sem possibilidade de cura frequentemente desencadeia sentimentos de frustração, impotência, tristeza e raiva. Essas emoções, embora compreensíveis, podem representar obstáculos significativos na construção de um vínculo profissional sólido com o paciente e sua família [11]. Além disso, lidar com a morte pode gerar sentimentos de impotência nos profissionais, o que destaca a necessidade de reflexão sobre suas opiniões e atitudes em relação ao fim de vida, prevenindo sobrecarga emocional [24, 25].
Dentre os desafios enfrentados, as condições de trabalho adversas, a sobrecarga e a escassez de recursos fazem com que os enfermeiros sejam contratados em tempo integral, com funções muito longas, turnos rotativos e menos funcionários para cada turno [26]. A classe ainda apresenta baixos salários, pouca autonomia e uma alta proporção enfermeiro-paciente podendo propiciar uma insatisfação no trabalho [27].
Além disso, o trabalho no ambiente da saúde é considerado um dos mais propensos ao desenvolvimento de desgaste emocional e doenças relacionadas. Essa exposição contínua ao estresse no ambiente de trabalho e sua cronicidade podem acabar produzindo o surgimento da Síndrome de Burnout. Essa síndrome apresenta alta prevalência entre enfermeiros, sendo este um dos grupos mais afetados e apresentam diferentes fatores como: ocupacionais, psicológicos e sociodemográficos que podem influenciar seu desenvolvimento [28, 29].
Um dos fatores para o desenvolvimento da Síndrome de Burnout está no local/unidade de trabalho, estudo demonstrou que profissionais de saúde que trabalham em locais nos quais as pessoas têm um prognóstico terminal, onde a comunicação de más notícias é mais comum e onde o contato com a família e os pacientes é mais contínuo e próximo há um maior percentual da síndrome. Por esse motivo, é importante analisar o desgaste emocional especialmente nesse grupo [30]. O Burnout apresenta consequências negativas na saúde dos enfermeiros, como insônia, irritabilidade, dores de cabeça, ansiedade e depressão, culminando no aumento do número de erros no trabalho, redução da qualidade e da segurança do cuidado, favorecendo licenças médicas ou abandono da profissão [31, 32].
Rodrigues e colaboradores, 2021, destacaram que o avanço da abordagem paliativa em níveis de assistência distintos denota maior vulnerabilidade à fadiga por compaixão em profissionais de enfermagem, o que requer mais investimentos em atividades educativas laborais bem como mais atenção por parte dos gestores [33]. Outro estudo de Barnett, 2018, ressalta que o sofrimento psicológico dos enfermeiros apresentou uma correlação positiva com o aumento da fadiga por compaixão, uma vez que o sofrimento psicológico pode reduzir a autoestima e gerar sentimentos negativos. Dessa maneira, intervenções que visem tanto as relações cognitivas quanto as afetivas entre sofrimento psicológico e fadiga por compaixão podem ser mais eficazes [34].
Para os enfermeiros com desgaste emocional, é importante implementar alguma intervenção que tenha comprovado benefícios, como a atenção plena [35]. E os gerentes de enfermagem de unidades de cuidados paliativos devem tentar oferecer apoio social, pois isso também reduz o estresse e proporciona assistência emocional, melhorar a carga de trabalho, para auxiliar na conciliação do trabalho e vida familiar e promover intervenções que melhorem as variáveis psicológicas [36].
É importante que ao prestar cuidados paliativos, os enfermeiros devam reconhecer seus próprios sentimentos em relação ao sofrimento humano, ao trabalho com as famílias em momentos extremamente difíceis e ao processo de morrer. E o autocuidado é uma etapa crucial nesse processo [15].
4. CONCLUSÕES
Com base nos dados expostos é possível concluir que a enfermagem paliativa é fundamental no acompanhamento dos pacientes e de seus familiares, auxiliando na melhora significativa da qualidade de vida, uma vez que presta uma assistência humanizada. Ainda é ela que realiza o cuidado direto e indireto dos pacientes e seus familiares, planejando, organizando, gerenciando e executando tais cuidados.
Entretanto, chama a atenção o aumento do número de profissionais com o desgaste emocional, principalmente aqueles que atuam com os cuidados de fim de vida, acarretando um impacto negativo na vida desses profissionais, podendo culminar com o declínio da assistência prestada.
Diante disso, ressalta-se que a equipe de enfermagem precisa estar satisfeita e segura para desenvolver um trabalho de qualidade. Sendo essencial fornecer apoio e ajudar a aliviar a pressão sobre os enfermeiros. Ressaltamos ainda que há uma necessidade de mais estudos a respeito do tema.
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1Enfermeira pela UniEVANGÉLICA, Anápolis, Goiás, Brasil.
2Mestre em Atenção à Saúde pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Goiás, Brasil.
3Doutora pelo Programa de Pós- Graduação em Ciências da Saúde: Infectologia e Medicina Tropical, Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais/UFMG, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.