CUIDADOS FARMACÊUTICOS EM PACIENTES COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA)

PHARMACEUTICAL CARE IN PATIENTS WITH AUTISM SPECTRUM DISORDER (TEA)

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10041995


Jaqueline de Mendonça Brandão1
Lyara Moreno de Passos1
Larissa Aguiar de Mendonça2


Resumo

O transtorno do espectro autista (TEA) é um transtorno que traz uma grande quantidade de condições comportamentais e de saúde mental, é caracterizado por um transtorno de neurodesenvolvimento cerebral complexo que acarreta uma gama de condições comórbidas da saúde mental e que afeta, principalmente, sintomas comportamentais. O autismo muitas vezes tem impacto na educação e nas oportunidades de emprego para o indivíduo. Além disso, as exigências sobre os familiares que prestam cuidados e apoio podem ser significativas. Os profissionais em saúde devem obter compreensão sobre o autismo de maneira especializada e profunda para que orientem a família. É comum o paciente com TEA receber múltiplas   medicações, que traz para o profissional de farmácia a responsabilidade de orientar esses pacientes quanto aos tratamentos medicamentosos e auxiliar na busca por ajuda multidisciplinar.

Palavras-chave: Transtorno do espectro Autista. Farmacêutico. Tratamento Medicamentoso. Farmacologia.

Abstract

Autism spectrum disorder (ASD) is a disorder that brings a large number of behavioral and mental health conditions, it is characterized by a complex brain neurodevelopmental disorder that causes a range of comorbid mental health conditions and that mainly affects behavioral symptoms. Autism often impacts an individual’s education and employment opportunities. Furthermore, the demands on family members providing care and support can be significant. Health professionals must gain a specialized and in-depth understanding of autism to guide the family. It is common for patients with ASD to receive multiple medications, which brings the responsibility of guiding these patients regarding drug treatments and assisting in the search for multidisciplinary help to the pharmacy professional.

Keywords: Autism spectrum disorder. Pharmacist. Drug Treatment. Pharmacology.

1. INTRODUÇÃO

O termo “autismo” perpassou por diversas alterações ao longo do tempo, e atualmente é chamado de Transtorno do Espectro Autista (TEA) pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSMV). Este é caracterizado por um transtorno de neurodesenvolvimento cerebral complexo que acarreta uma gama de condições comórbidas da saúde mental e que afeta, principalmente, sintomas comportamentais. 

Desta forma, o TEA pode exibir condições que afetam as habilidades sociais, tais como transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), transtorno de oposição ou de conduta, transtornos emocionais e ansiedade, possuindo um padrão de comportamento restritivo e repetitivo sendo possível, também, apresentar dificuldade de aprendizagem. A sua etiologia ainda não é bem definida, sendo multifatorial e apresentando fatores genéticos e não genéticos (ASSIS et al, 2021).

Também são características do espectro, prejuízos persistentes na comunicação e interação social, bem como nos comportamentos que podem incluir os interesses e os padrões de atividades, sintomas que estão presentes desde a infância e limitam ou prejudicam o funcionamento diário do indivíduo. Neste contexto diversos estudos se deram sobre a temática, pois este transtorno afeta 1 em cada 160 crianças. Sendo mais comum em meninos, pois apresentam números maiores (1 em cada 70), enquanto que as meninas apresentam menor risco (1 em cada 315), segundo a Organização Mundial da Saúde (SOUSA et al, 2021). 

O diagnóstico de autismo é feito com base na apresentação comportamental.  A complexidade da apresentação que resulta de um amplo espectro de funcionamento e apresentações comportamentais e emocionais variadas, pode tornar o processo de avaliação neuropsicológica para indivíduos com TEA desafiador e às vezes negligenciado. Clinicamente,  muitas  avaliações  focadas  no  TEA  incluem  medidas como  o  Autism  Diagnostic  Observation  Schedule,  2ª  Edição  (ADOS-2)  e  o  Autism  Diagnostic  Interview-Revised  (ADI-R),  juntamente  com  uma  medida  de  coeficiente  intelectual  (QI)  e  comportamento  adaptativo como um protocolo de avaliação padrão (BRACONNIER ML e SIPER  PM,  2021; LORD  C, et al., 2020).  A Academia Americana de Pediatria recomenda a triagem de todos os bebês e crianças pequenas para identificar sinais precoces de autismo aos 18 meses e novamente aos 24 meses de idade (RIBEIRO et al, 2023).

Diante da complexidade do autismo, temos um diagnóstico que exige dos profissionais envolvidos experiência e bom desempenho profissional. Com a variedade de sintomas presentes nesses pacientes é imprescindível buscar tratamentos alternativos e associados, isto com o intuito de complementar este processo com as ferramentas e métodos disponíveis. O tratamento farmacológico deve ser utilizado de modo associado com outros tipos de tratamento, o que inclui profissionais de diferentes especialidades. É importante salientar que a abordagem medicamentosa deve sempre ser parte de um programa abrangente de tratamento, realizado por equipe multiprofissional, e nunca constituir a única abordagem terapêutica (SOUSA, FONSÊCA & SOUZA, 2021).

Por sua complexidade e causas ainda incertas, muitos estudos estão ampliando os possíveis tratamentos e métodos para auxiliar os indivíduos dentro do espectro autista. Segundo Phukan el al, 2020, tratamentos com antidepressivos, antipsicóticos, anticonvulsivantes e estimulantes são medicamentos comumente prescritos para indivíduos autistas, revelando respostas satisfatórias, contudo, efeitos colaterais adversos e aumento do risco de várias outras complicações, incluindo obesidade, dislipidemia, diabetes mellitus, distúrbios da tireóide, etc., obrigaram os pesquisadores a voltar sua atenção para remédios herbais.

Tendo em vista a complexidade dos tratamentos disponíveis para pessoas com TEA, é imprescindível um acompanhamento multidisciplinar. Contudo, a orientação e auxílio farmacêutico são muitas vezes negligenciados ou não levados em consideração devido a uma desinformação sobre a importância das orientações farmacêuticas nos tratamentos, assim como uma falta de especialização dos profissionais quanto a diversidade de possíveis tratamentos farmacológicos para transtorno do espectro autista. Este artigo objetiva elucidar a importância do farmacêutico como parte integrante da equipe multidisciplinar responsável pelo tratamento dos indivíduos com TEA.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA

2.1. Transtorno do espectro autista

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento que abrange o transtorno autista (autismo), a Síndrome de Rett, o Transtorno de Asperger, o transtorno desintegrativo da infância e o transtorno global do desenvolvimento sem outra especificação. Atualmente, 1% da população mundial é diagnosticada com TEA. Nos Estados Unidos, a prevalência desse transtorno é em uma a cada 68 crianças com oito anos de idade. São apontados como características do autismo: déficits na comunicação e na interação social; dificuldade no estabelecimento de conversas normais, seja envolvendo aspectos verbais ou não verbais e demonstração de interesse social, emoção e afeto; dificuldade no estabelecimento de relacionamentos, interesses e atividades; insistência nas mesmas coisas; movimentos estereotipados; adesão inflexível de uma rotina (o que abrange, no campo nutricional, a neofobia alimentar); e hiper ou hiporreação a estímulos sensoriais, abrangendo a seletividade alimentar. Atualmente, o diagnóstico tem sido realizado com o Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-V), atualizado em 2013, não existindo até o presente momento exames laboratoriais específicos para identificar a doença (MOTEIRO et al, 2020).

As habilidades e necessidades das pessoas autistas variam e podem evoluir com o tempo. Embora algumas pessoas com autismo possam viver de forma independente, outras têm deficiências graves e necessitam de cuidados e apoio ao longo da vida. O autismo muitas vezes tem impacto na educação e nas oportunidades de emprego. Além disso, as exigências sobre as famílias que prestam cuidados e apoio podem ser significativas (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2023)

As famílias com crianças e adolescentes com TEA vivenciam intensamente o crescimento e o desenvolvimento da criança, por isso, além do atendimento às demandas ligadas ao diagnóstico, como idas em terapias e atendimentos médicos, também exercem a função de auxiliar no diagnóstico comportamental, uma vez que não existem exames clínicos capazes de diagnosticar os TEA (PRYCHODCO & BITTENCOURT, 2022).

Como forma de auxiliar os indivíduos autistas em seu cotidiano, muitos são orientados a buscar auxílio de fármacos para regular algumas mudanças comportamentais trazidas pelo transtorno do espectro autista e possibilitar uma melhor convivência na sociedade e menos sofrimento para o indivíduo.

2.2 Principais tratamentos utilizados em pacientes com transtorno do espectro autista e os benefícios da presença do farmacêutico na equipe multidisciplinar para o tratamento de transtornos mentais.

As intervenções farmacológicas no autismo são desafiadoras devido à heterogeneidade etiológica e clínica.  Esforços têm sido empreendidos na busca por evidências científicas quanto à eficácia, segurança, efetividade e ao custo-efetividade para diferentes fármacos comumente usados (incluindo os off label) em intervenções farmacológicas no TEA, visando à sua incorporação ao registro e à adoção em protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas. No entanto, ainda não há um tratamento eficaz e as opções terapêuticas continuam limitadas (OLIVEIRA, 2023).

Entre as medicações mais utilizadas estão a risperidona, um antipsicótico atípico, bloqueador serotonérgico e também dopaminérgico, a olanzepina, a quetiapina, a ziprasidona, a clozapina e o aripiprazol. Sendo a risperinona e o aripripazol, os únicos medicamentos com indicação da Food and Drug Administration dos Estados Unidos para os sintomas relacionados ao TEA. Todos eficazes como antipsicóticos de segunda geração, mas podendo provocar efeitos colaterais importantes, como aumento de peso, síndrome metabólica, hiperprolactinemia, síndrome extrapiramidal, diminuição do limiar convulsígeno e, muito raramente, a síndrome neuroléptica maligna. (Departamento Científico de Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento, 2019).

É comum o paciente   com   TEA   receber   múltiplas   medicações.    Esses medicamentos   são acrescentados conforme surgem novos sintomas ou problemas. Em outros casos uma segunda medicação pode ser acrescentada para controlar os efeitos colaterais da primeira.  Outros profissionais    da    área    médica    também    podem    prescrever    medicamentos    como    os odontologistas, e é importante que o provedor de cuidados primários se mantenha informado sobre essa farmacoterapia. A atenção farmacêutica para  o  paciente  com  transtorno  autista, não envolve somente o tratamento farmacológico, mas sim a orientação para o uso correto e seguro do mesmo (OLIVEIRA et al, 2023 apud SILVA, ALMEIDA, ABREU, 2022).

Embora não haja uma cura, uma polifarmácia pode ser indicada, principalmente em jovens e adultos para o tratamento, o que pode causar inúmeras interações medicamentosas e é o farmacêutico o profissional mais apto à condução dessa ampla farmacoterapia. Por isso, diante da relevância do tema, o farmacêutico tem um papel de extrema importância para o acompanhamento do paciente e notificação de possíveis interações medicamentosas, pois é na atenção farmacêutica ao portador do TEA que ele pode intervir neste acompanhamento com orientações, com o uso adequado dos medicamentos, harmonização terapêutica, revisão, monitoramento e dosagem. (SILVA, ALMEIDA, ABREU, 2022)

Com isso, é imprescindível que o profissional farmacêutico possua qualificação para orientar adequadamente os portadores de transtorno do espectro autista ou seus tutores sobre as possibilidades de tratamento, onde procurar ajuda, assim como entender a complexidade dos medicamentos e seus efeitos no paciente.

Porém, a falta de conhecimento sobre o transtorno e todo o contexto que o envolve acaba sendo uma barreira na atuação do profissional, uma vez que não se sentem capazes de identificar os sinais e sintomas da doença e nem auxiliar os familiares com informações sobre possíveis tratamentos e acompanhamentos do indivíduo autista. (DIAS, 2019 apud ALMEIDA et al., 2019).

3. METODOLOGIA 

Como metodologia, será adotada a pesquisa bibliográfica e, por isso, as ideias de diversos autores e pesquisadores que abordam o assunto serão investigadas. Em seguida, foi realizada uma síntese de suas ideias e, além disso, foram acrescentadas novas ideias, alinhavando-as e apurando-as de acordo com os objetivos.

A pesquisa pode ser enquadrada como uma pesquisa qualitativa, pois considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o objeto de pesquisa, que não pode ser traduzida em números. Neste caso, o processo e seu significado são os focos principais desta abordagem.

Para tal fim, será realizada a busca nas bases de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), selecionando as bases Scielo (Scientific Electronic Library Online); Lilacs (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde); Medline (Literatura Internacional em Ciências da Saúde); PubMed (National Library of Medicine).

Serão utilizados os descritores “Transtorno do Espectro Autista” e “farmacologia”, “TEA”, “Transtornos de desenvolvimento”, “Tratamentos para TEA”, “tratamento farmacêutico”. Para critérios de inclusão utilizaremos artigos delimitados em publicações realizadas entre 2012 e 2023, disponíveis online públicos completos em português, inglês e espanhol e que abordam o tratamento farmacológico para o TEA. Os critérios de exclusão são artigos que abordem o TEA sem tratamento farmacológico, resumos expandidos, artigos incompletos ou anteriores ao ano de 2012.

4. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

O tratamento para TEA ainda é um enigma para as instituições de saúde, sendo feito na maioria das vezes com polifármacos por isso o papel da assistência farmacêutica é fundamental para o bem estar do paciente e evitar falhas farmacológicas. 

Apesar de possuir um papel importantíssimo na equipe multidisciplinar esse profissional ainda é pouco valorizado nos tratamentos do TEA, a população ainda resume a função do farmacêutico como quem apenas libera os medicamentos, porém podemos prevenir erros de medicação, falha de tratamento, uso racional das variedades de medicamentos utilizados e efeitos adversos, que na maioria das vezes são os responsáveis pelo abandono de tratamentos psicoterápicos. O presente artigo demonstra através de uma busca na literatura o quanto o farmacêutico pode agregar na equipe multidisciplinar para a melhora do tratamento e qualidade de vida do paciente.

REFERÊNCIAS

ASSIS, Dante Oliveira de, et al. As especificidades do tratamento farmacológico e suas indicações no transtorno do espectro do autismo. Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, ano 2021, p. 1-10, 15 jun. 2021. Disponível em: https://scholar.archive.org/work/vntaxgqyync3ldzenlphodceoq/access/wayback/https://www.brazilianjournals.com/index.php/BJHR/article/download/31347/pdf. Acesso em: 2 de out. de 2023.

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MONTEIRO, M. A. et al.. Autism spectrum disorder: a systematic review about nutritional interventions. Revista Paulista de Pediatria, v. 38, p. e2018262, 2020. Disponível: https://www.scielo.br/j/rpp/a/xGHbpJGBKZvvrycJd4HHPyb/?lang=pt#. Acesso: 18 out.  de 2023.

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1Discente do Curso Superior de Farmácia da Universidade Nilton Lins Campus Parque das Laranjeiras/ Manaus email: lyarapassos15@gmail.com; jackhenrique1725@gmail.com
2Professora Mestre do Curso Superior de Farmácia. Universidade Nilton Lins Campus Parque das Laranjeiras, AV. Prof. Nilton Lins, 3259 – Flores, Manaus – AM, 69058-030. email: larissa.aguiar@uniniltonlins.edu.br