REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.12328656
Débora Veras Pereira
Tamirys Cavalcante Lima
Giovanna de Oliveira Libório Dourado
Jaqueline Carvalho e Silva Sales
Cláudia Daniella Avelino Vasconcelos
Susan Catherine Lima Lemos
Mateus da Cunha Moraes
Haissa Gabrielly Gomes da Silva
Élida Mercedes de Cerqueira Carvalho
Nádia Moura Fé Araujo
Resumo
Objetivo: Analisar na literatura os cuidados que os profissionais de enfermagem da Atenção Primária desenvolvem com as mulheres que apresentam IU. Método: Revisão integrativa da literatura,para a elaboração da pergunta norteadora do estudo aplicou-se a estratégia PICo. Estudos selecionados nas plataformas LILACS, BDENF, IBECS via BVS, MEDLINE via PubMed e exportados para o software Rayyan. Foi utilizado o instrumento de coleta de dados de revisão integrativa da Marziale (2015) para análise dos estudos incluídos. Os resultado serão descritos conforme o protocolo Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA). Resultados: Os resultados são apresentados na forma de tabela e quadro seguido de descrição textual dos mesmos. Os cuidados identificados nas produções foram agrupados em quatro categorias: encaminhamento, tratamento comportamental, educação em saúde e Sistematização da assistência de enfermagem (SAE). Conclusões: Sugere-se a importância da continuidade de novas pesquisas científicas para que se possa obter conclusões mais definidas acerca dos cuidados, da importância da enfermagem na assistência com essas mulheres que possuem IU na APS, garantindo a melhor qualidade de vida.
Palavras-chave: Incontinência Urinária, Mulher, Atenção Primária à Saúde.
Abstract
Objective: To analyze in the literature the care that Primary Care nursing professionals develop with women who have urinary incontinence. Method: Integrative literature review, to prepare the study’s guiding question, the PICo strategy was applied. Studies selected on the LILACS, BDENF, IBECS via VHL, MEDLINE via PubMed platforms and exported to Rayyan software. Marziale’s (2015) integrative review data collection instrument was used to analyze the included studies. The results will be described according to the Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA) protocol. Results: The results are presented in the form of a table and chart followed by a textual description of them. The care identified in the productions was grouped into four categories: referral, behavioral treatment, health education and Systematization of nursing care (SAE). Conclusion: The importance of continuing new scientific research is suggested so that more defined conclusions can be obtained about care and the importance of nursing in assisting these women who have UI in PHC, ensuring the best quality of life.
Keyword: Urinary Incontinence, Women, Primary Health Care.
INTRODUÇÃO
De acordo com a Sociedade Internacional de Continência (ICS) a Incontinência Urinária (IU) é definida como qualquer perda involuntária de urina e sua causa é multifatorial. É um problema comum entre as mulheres, em que os fatores de risco são numerosos e o impacto na qualidade de vida é substancial. A morbidade ocasionada pela IU é bastante elevada (MARINHO et al., 2006) constituindo um oneroso problema, tendo em vista suas altas taxas na população, além de ser um problema social e de higiene, trazendo impactos negativos que podem afetar a vida de uma pessoa, comprometendo sua qualidade de vida, a interação social, as atividades de vida diária e a vida sexual (REIS et al., 2018).
Apontada como um problema de saúde pública, a IU acomete mais de 200 milhões de pessoas no mundo. Na sociedade moderna, cerca de 20 a 50% das mulheres adultas podem apresentar IU em alguma fase da vida, isto pode ser explicado a princípio, anatomicamente, pelo pequeno comprimento da uretra e condições associadas à musculatura do assoalho pélvico, sendo que, para cada um homem duas mulheres são incontinentes (OLIVEIRA et al., 2020). A mesma se manifesta em diferentes faixas etárias e, embora não faça parte do envelhecimento fisiológico, observa-se um aumento de sua ocorrência com a idade (SILVA et al., 2020).
Nesse sentido, um estudo nacional têm estimado diferentes prevalências de IU, variando de 5,8 a 32,2%, de acordo com a população estudada, faixa etária e característica do estudo (FARIA et al., 2015). Observou-se ainda, que 30 a 43% das mulheres sofrem com a perda involuntária de urina em algum momento de sua vida, porém esses valores podem estar abaixo da realidade, pelo fato de tal patologia permanecer subdiagnosticada e subtratada (OLIVEIRA et al., 2020), além da dificuldade em se estabelecer a prevalência nacional, uma vez que a contribuição de estudos sobre prevalência da incontinência urinária feminina é diminuída.
Existem vários tipos de IU, mas os mais comuns são Incontinência Urinária de Esforço (IUE), incontinência urinária de Urgência (IUU), e a junção dessas duas, conhecida como Incontinência Urinária Mista (IUM) (SOBEST, 2020). A IUE é caracterizada pela perda de urina durante algum esforço físico, a IUU é caracterizada pela vontade incontrolável de urinar e a IUM, é a IUU associada à IUE (ALVES et al., 2020).
A atenção primária (AP) é o primeiro nível de atenção em saúde e se caracteriza por um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, a redução de danos e a manutenção da saúde com o objetivo de desenvolver uma atenção integral que impacte positivamente na situação de saúde das coletividades. Em se tratando da promoção da continência, destaca-se que envolve desafiar as crenças inadequadas sobre a incontinência, educar as pessoas de que existem opções terapêuticas baseadas em evidências e promover melhorias e curas em todas as idades (PEREIRA; RIBEIRO, 2022).
Com isso, pode-se afirmar que o enfermeiro, como profissional atuante na atenção primária, é responsável por realizar a avaliação física e mental da paciente que comparece à unidade de saúde com as queixas de incontinência urinária. Ao se deparar com essa situação, tal profissional deve estar preparado para atuar de forma ágil, escolhendo o tratamento ou manejo adequado, reduzindo, assim, filas para a atenção secundária e terciária (ASSIS, 2019).
É necessário investigar essa condição de saúde em cenários como a rede de APS, serviços que podem contribuir para auxiliar estas mulheres no processo de percepção, enfrentamento por meio da busca por orientação e o autocuidado, reabilitação, adaptação e aceitação ao tratamento (OLIVEIRA et al., 2018).
Diante do exposto delimitou-se o objetivo do estudo: Analisar na literatura os cuidados que o profissional de enfermagem da Atenção Primária desenvolve com as mulheres que apresentam IU.
MÉTODO
Trata-se de revisão integrativa (RI) da literatura, com a finalidade de analisar os resultados qualitativos obtidos na pesquisa sobre o tema abordado. Para a construção da revisão foram adotadas as seguintes etapas: 1) elaboração da questão norteadora da pesquisa; 2) aplicação dos critérios de inclusão e exclusão; 3) seleção dos artigos para amostra; 4) análise dos artigos e 5) interpretação dos dados coletados (WHITTEMORE; KNAFL, 2005).
Delimitou-se como questão norteadora da pesquisa “Quais os cuidados que a enfermagem realiza no manejo de mulheres com incontinência urinária na Atenção Primária à Saúde?”. Sendo os descritores selecionados: Incontinência urinária; Mulher e Atenção primária à saúde.
Foram considerados os seguintes critérios de inclusão: estudos primários, com recorte temporal dos últimos 5 anos, nos idiomas português, inglês e espanhol, que respondam a questão de pesquisa e como critério de exclusão: estudos duplicados.
Para a seleção dos estudos foram acessadas Literatura Latino-Americana e do Caribe em ciências da Saúde (LILACS), Base de Dados de Enfermagem (BDENF), Índice Bibliográfico Espanhol em Ciências de La Salud (IBECS) via Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Medical Literature Analysis and Retrievel System Online (MEDLINE) via National Library of Medicine (PubMed). A busca seguiu as particularidades de cada base de dados por meio dos descritores controlados e descritores booleanos, previamente selecionados nos descritores de ciência em saúde (DeCS) e U.S. National Library of Medicine (Mesh).
Todos os artigos selecionados nas bases de dados foram exportados para o software Rayyan QCRI, criação do Qatar Computing Research Institute, desenvolvido para agilizar a triagem inicial por meio dos títulos e resumos dos estudos utilizando um processo de semi- automação, realizando a sistematização dos artigos exportados para uma revisão e seleção de forma criteriosa (OUZZANI et al., 2016). Nesta etapa foi realizada leitura dos resumos de forma analítica com a finalidade de ordenar e sumariar as informações contidas nas fontes, dessa forma possibilitando a obtenção de respostas à questão da pesquisa, e assim, proceder com a leitura dos artigos na íntegra.
Assim sendo, para a análise dos dados dos estudos incluídos foi utilizado o instrumento de coleta de dados de revisão integrativa da Marziale (2015), um dispositivo de coleta abrangente contendo informações sobre o artigo, revista na qual foi publicado e sobre os autores, características metodológicas do estudo, avaliação do rigor metodológico e avaliação dos resultados encontrados (ANEXO A), sendo necessárias adaptações como: tradução do instrumento do espanhol para português e seleção das bases de dados.
O percurso realizado para identificação, triagem, elegibilidade e inclusão seguiu as recomendações do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA), conforme apresentado na figura 1.
A qualidade de evidência dos estudos foi avaliada pelo Grads Of Recommendation, Assessment, Development and Evaluation (GRADE). Podendo ser caracterizada como: Alta (Outras pesquisas significativas provavelmente não alteraram a confiança na estimativa de efeitos); Moderada (Pesquisas adicionais significativas provavelmente terão impacto na confiança na estimativa dos efeitos e pode alterar a estimativa); Baixa (Outras pesquisas significativas provavelmente terão impacto na confiança na estimativa dos efeitos e provavelmente alterará a estimativa); Muito baixa (Estimativa incerta do efeito) (BERTOLACCINI; ROCCO, 2018).
Figura 1 – Percurso de seleção dos estudos primários nas bases investigadas, 2024.
Fonte: Elaboração própria.
Os resultados são apresentados na forma de tabela e quadro seguido de descrição textual dos mesmos. Para melhor compreensão, os cuidados identificados nas produções foram agrupados em quatro categorias: encaminhamento, tratamento comportamental, educação em saúde e Sistematização da assistência de enfermagem (SAE).
RESULTADOS
A tabela 01 apresenta o detalhamento da caracterização dos artigos incluídos com relação a revista, ano de publicação, local de pesquisa, população do estudo, delineamento e nível de evidência.
Os resultados mostram a presença de estudos do tipo qualitativo exploratório, relato de experiência, estudos transversais, pesquisa convergente assistencial do tipo qualitativa, varredura ambiental, revisão de cochrane e métodos comparativos. Constata-se que metade dos estudos incluídos são brasileiros e a outra metade estrangeira prevalecendo o idioma inglês, podendo observar que a população inclui não apenas os profissionais da enfermagem como também médicos e fisioterapeutas bem como o público de mulheres maiores de dezoito anos, gestantes e idosas. A qualidade da evidência dos estudos foi determinada como moderado, baixo e muito baixo
Quadro 1. Detalhamento dos dados dos estudos incluídos na revisão integrativa.
Fonte: Elaboração própria.
A análise dos artigos incluídos permitiu agrupar os principais achados em quatro categorias (encaminhamento, tratamento comportamental, educação em saúde e SAE) em que o quadro 2 apresenta o detalhamento com seus respectivos cuidados.
Quadro 2- Cuidados de enfermagem conforme categorias estabelecidas.
Fonte: Elaboração própria.
A primeira categoria refere-se ao encaminhamento, que é uma das estratégias mais utilizadas na APS quando identifica-se pacientes com IU. A justificativa para o encaminhamento a serviços parceiros da Secretaria Municipal de Saúde e/ou aos médicos especialistas se dá pelos profissionais que afirmam não prover esse atendimento por déficit de conhecimento sobre o tema ou segurança para o cuidado (TOMASI; et al, 2020) (EREKSON; et al, 2021) além de relatos de mulheres com IU que em ambientes de cuidados primários não receberam intervenção adequada (JAFFAR; et al, 2020) fazendo assim com que as mesmas sejam encaminhadas ou busquem outros serviços.
A categoria tratamento comportamental trouxe quatro de oito artigos que falam sobre cuidados e terapias conservadoras da IU com foco no Treinamento da Musculatura do Assoalho pélvico (TMAP) um tratamento conservador de primeira linha para mulheres com IUE, IUU, IUM, ou de qualquer outro tipo, que visa melhora na força, resistência, potência e relaxamento da MAP.
No que diz respeito ao manejo conservador da IU, as terapias adjuvantes normalmente se referem a equipamentos ou uma terapia secundária usada para complementar o efeito do TMAP (por exemplo, o uso de biofeedback ou estimulação elétrica para conjunto diversificado de medidas de resultados, incluindo medidas de qualidade de vida (DUFOUR; WU, 2020). Além disso, a categoria traz o cuidado de estimular a redução do peso corporal que se interligam a parâmetros de estilo de vida, incluindo uma dieta saudável, ingestão de líquidos e controle de peso (ASSIS; SILVA; MARTINS, 2021).
A obesidade abdominal parece estar associada à IU, o aumento da pressão intra-abdominal presente em mulheres com obesidade tem sido proposto como um mecanismo que pode comprometer a função ideal do assoalho pélvico, contribuindo assim para o desenvolvimento da IU. Além disso, tem sido sugerido que o aumento sustentado da pressão intra-abdominal também poderia contribuir. Ainda, podemos ver a prevenção de complicações como a infecção urinária, e terapias adjuvantes como por exemplo, o uso de biofeedback (DUFOUR; WU, 2020).
A categoria educação em saúde congregou o maior número de artigos em que foram abordados sobre fornecer e auxiliar nas temáticas: “o que é a Incontinência Urinária” e como detectar precocemente. Percebeu-se que as mulheres com incontinência urinária não recebem atendimento, informações ou orientação complementar, sobre o problema e seus agravos, fazendo com que se sintam desamparadas, inseguras e temerosas (BRITO; GENTILLI, 2017).
Com isso, as abordagens educacionais são necessárias para informar as mulheres com IU sobre habilidades de gerenciamento mais eficazes e como melhorar seu estilo de vida (TOMASI. et al, 2020) sabendo que o enfermeiro pode assistir o paciente no gerenciamento de estilo de vida com informações fornecidas ainda na APS e através dos rastreio que é um primeiro passo crítico para melhorar o tratamento da IU nas mulheres nos cuidados primários (NEWBERRY; et al, 2023).
Assim, a última categoria apresentada abordou a SAE que congregou o menor número de artigos, tendo em vista que compete ao enfermeiro consultas de enfermagem em que é prestado cuidados como a anamnese, exame físico, diagnóstico e planejamento de enfermagem, (prescrições, cuidados e resultados esperados) e implementação, aliado a isso a solicitação de exames pois em mulheres com IU, a presença de infecções do trato urinário (ITUs) recorrentes sugere a presença de IU complicada (DUFOUR; WU, 2020). A importância de uma assistência com base no processo de enfermagem deve ser dada devida importância uma vez que favorece o cuidado especializado por parte da enfermagem (ASSIS; SILVA; MARTINS, 2021).
DISCUSSÃO
De acordo com os resultados obtidos fica evidente que pouco publicou-se sobre a temática nos últimos cinco anos, o que pode ter sido influenciado pela prioridade durante a Pandemia da COVID-19 por temas sobre a mesma. Destaca-se a necessidade de realizar pesquisas com maior nível de evidência, para que haja o fortalecimento da temática baseado em evidências científicas pois sabemos que é um problema de saúde pública e que merece atenção, mas como atingir essas mulheres sem saber a real proporção desses obstáculos, por isso as pesquisas devem ser intensificadas e em sua origem na APS, onde podemos detectar o problema e contribuir para que mais estudos sobre o assunto seja realizado, fortalecendo o cuidado e a pesquisa.
Os enfermeiros são profissionais essenciais nas equipes de saúde, a APS tem-se mostrado um importante espaço para a sua atuação. Neste cenário, o enfermeiro não só gerencia, coordena e supervisiona a assistência prestada ao cliente, como também presta cuidado direto e integral aos indivíduos sadios ou doentes, famílias e comunidade (FELIX; MAIA; SOARES, 2019).
O manejo da IU tem sido frequentemente subestimado e negligenciado na APS, o déficit de conhecimento sobre o assunto por parte de uma parcela significativa dos profissionais, aliado a carência de programas de saúde especificamente voltados para a promoção, prevenção e tratamento de mulheres acometidas pela IU, ferem a dignidade humana (BRITO; GENTILLI, 2017) fortalecendo ainda mais os encaminhamentos dessas mulheres para o nível secundário e terciário ou de alta complexidade.
Uma das alternativas do cuidado é o tratamento conservador do TMAP, que é mencionado em diversos artigos do estudo (BRITO; GENTILLI, 2017) (ASSIS; SILVA; MARTINS, 2021) (DUFOUR; WU, 2020) (JAFFAR; et al, 2020), é um estratégia utilizada pelo o profissional de enfermagem que está relacionado à força, resistência, relaxamento, alongamento e coordenação da MAP um tratamento de primeira escolha quando a IU decorre de disfunções da MAP (ANDRADE; et al, 2022) é visto por muitos enfermeiros como algo que deve ser abordado por outros profissionais da saúde, e que é necessário ter uma especialidade para abordar o assunto.
A atuação do Enfermeiro na reabilitação do trato urinário inferior faz parte da ação do Enfermeiro dentro do Processo de Enfermagem, assegurada pela Lei do Exercício Profissional de Enfermagem, por meio da consulta de enfermagem e utilizando orientações. De acordo com o parecer técnico do COREN-SP nº15/2022 o mesmo respalda a atuação do Enfermeiro na Reabilitação do Trato Urinário inferior.
Na APS existe a abordagem inadequada ou até inexistente pelos enfermeiros, o que pode refletir diretamente no conhecimento de mulheres sobre IU e seus cuidados, assim é necessário ações de educação permanente em saúde sobre o manejo da IU. À medida que os profissionais adquirem competências e habilidades sobre a temática é possível abordá-la em ações de promoção à saúde. Tais ações podem incluir assuntos como a assistência no gerenciamento no estilo de vida de mulheres incontinentes, mostrando que a IU não é saudável e que existem tratamentos conservadores e adjuvantes que são eficazes.
O gerenciamento de enfermagem envolve estratégias e abordagens para fornecer cuidados abrangentes e de forma contínua. Podendo assim, auxiliar as pacientes a gerenciar sua condição de forma eficaz, prevenindo complicações e melhorando sua qualidade de vida, abrangendo aspectos também emocionais sociais e comportamentais. As aplicações de gestão do estilo de vida são importantes quando a preocupação de saúde em questão está relacionada com parâmetros de estilo de vida, incluindo uma dieta saudável, ingestão de líquidos e controlo de peso (DUFOUR; WU, 2020).
É necessário destacar que o Ministério da Saúde, não oferece ainda nenhuma possibilidade terapêutica na APS a mulheres diagnosticadas com IU, com isso a mesma recebe apenas tratamento medicamentoso na rede pública ou é referenciada para o nível secundário e/ou terciário de atenção à saúde, fato que gera extensas listas de espera nos serviços especializados de exames e cirurgias e grande demora na resolubilidade dos casos. Faz-se necessário novas estratégias de ação e mecanismos de abordagem, sobretudo na Atenção Primária considerando que a IU é hoje um problema de saúde que afeta sobretudo as mulheres em diferentes faixas etárias e que acarreta prejuízos sociais, econômicos e afetivos (BRITO; GENTILLI, 2017).
O novo financiamento da APS, o Previne Brasil, faz parte das estratégias do Ministério da Saúde para o cuidado e acompanhamento da qualidade no atendimento à saúde das mulheres e gestantes. Por isso, quatro entre os sete indicadores de desempenho estabelecidos para cálculo do financiamento são voltados a esse público: Proporção de gestantes com pelo menos seis consultas pré-natais realizadas, sendo a primeira até a 12º semana de gestação; Proporção de gestantes com realização de exames para sífilis e HIV; Proporção de gestantes com realização de atendimento odontológico realizado; Proporção de gestantes com coletas de citopatológicos realizados dentro da APS (BRASIL, 2020).
Considerando o contexto apresentado, infere-se que os profissionais podem muitas vezes limitar suas ações ao alcance dos indicadores, dessa forma, negligenciando outros problemas de saúde pública como a IU.
Com relação ao uso da SAE, a mesma é crucial à prestação de uma assistência de enfermagem segura, pois proporciona ao enfermeiro recursos técnicos, científicos e humanos, melhora a qualidade de assistência prestada ao cliente, e possibilita o reconhecimento e a valorização da enfermagem frente à sociedade (OLIVEIRA; et al, 2019).
De acordo com os resultados obtidos o cuidado de enfermagem que observamos o menor número de artigos, (ASSIS; SILVA; MARTINS, 2021) (DUFOUR; WU, 2020) em que se é mencionado é a SAE, apresentando em apenas dois de oito estudos, o que se tornou questionável se a mesma está sendo utilizada na APS. Em meio a esse fato surge o questionamento: Existe uma real valorização desse instrumento tecnológico tão importante para a enfermagem e consequentemente para o paciente?
Diante das informações encontradas, sugere-se a importância da continuidade de novas pesquisas científicas para que se possa obter conclusões mais definidas acerca dos cuidados, da importância da enfermagem na assistência com essas mulheres que possuem IU na APS, garantindo a melhor qualidade de vida.
Infere-se que a escassez de estudos que abordam a IU na atenção primária além do baixo nível de evidências dos estudos incluídos na amostra seja justificada por ser uma temática invisibilizada, até mesmo na graduação em enfermagem.
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