CUIDADOS CLÍNICOS DE ENFERMAGEM DISPENSADOS A CRIANÇA COM ESQUIZOFRENIA: REVISÃO INTEGRATIVA

CLINICAL NURSING CARE PROVIDED TO CHILDREN WITH SCHIZOPHRENIA: INTEGRATIVE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10472147


Luciano Moreira Alencar 1
Amanda Ayara de Souza Marques 2
Larissa Rayane Alencar do Espírito Santo Araújo 2
Willian dos Santos Silva 3
Déborah Albuquerque Alves Moreira 4
Valéria de Souza Araújo 4
Emanuel Cardoso monte 5
Eveline Naiara Nuvens Oliveira 5
Thiago Bruno Santana 5
Maria Gildene Sampaio 6
Robério Ferreira Nobre 7


RESUMO

Objetivo: Identificar na literatura a eficiência dos cuidados clínicos de enfermagem direcionadas ao à criança com esquizofrenia e o papel que o enfermeiro exerce no tratamento da criança e no apoio aos familiares. Método: Trata-se de uma revisão integrativa cuja busca ocorreu nas bases de dados LILACS, BDENF e EDLINE, por meio do uso dos DeCS “esquizofrenia infantil” e “cuidados de enfermagem”, cruzados através do uso do operador Booleano AND. Para análise foram incluídos estudos que atenderam aos critérios de inclusão: estudos acessíveis e disponíveis nas íntegra, nos idiomas inglês, português e espanhol e que atendessem a questão proposta para a pesquisa. Resultados: A busca resultou em 20 artigos, dos quais 5 foram elegíveis para o estudo. Embora a esquizofrenia seja relativamente rara nessa faixa etária, pode resultar em consideráveis desafios para a integração psicológica e a adaptação ao ambiente social. Isso ocorre, mesmo quando se valoriza a preservação da autonomia e singularidade de cada indivíduo. O avanço desta condição, aliado ao subdiagnóstico, prejudica a previsão de uma doença que já impacta significativamente o funcionamento das pessoas. É fundamental persistir na avaliação da possibilidade de esquizofrenia de início precoce e, após estabelecer o diagnóstico, adotar uma abordagem abrangente, incorporando tanto estratégias farmacológicas quanto não farmacológicas, a fim de aprimorar a evolução do quadro clínico. Conclusão: O cuidado de enfermagem à criança com esquizofrenia é uma tarefa complexa que exige compreensão, empatia e competência por parte dos profissionais de saúde. É essencial que os enfermeiros estejam atualizados com as melhores práticas, desenvolvam uma abordagem centrada na criança e promova um ambiente de cuidado seguro e acolhedor.

Palavras-chave: assistência de enfermagem; esquizofrenia; criança.

SUMMARY

Objective: To identify in the literature the efficiency of clinical nursing care directed towards children with schizophrenia and the role that nurses play in the treatment of the child and in supporting family members. Method: This is an integrative review whose search occurred in the LILACS, BDENF, and MEDLINE databases, using the DeCS “childhood schizophrenia” and “nursing care”, crossed through the use of the Boolean operator AND. Studies that met the inclusion criteria were included in the analysis: studies that were accessible and available in full, in English, Portuguese, and Spanish, and that addressed the proposed research question. Results: The search resulted in 20 articles, of which 5 were eligible for the study. Although schizophrenia is relatively rare in this age group, it can result in considerable challenges for psychological integration and adaptation to the social environment. This occurs even when the preservation of the autonomy and uniqueness of each individual is valued. The progression of this condition, coupled with underdiagnosis, impairs the prognosis of a disease that already significantly impacts people’s functioning. It is crucial to persist in evaluating the possibility of early-onset schizophrenia and, once the diagnosis is established, to adopt a comprehensive approach, incorporating both pharmacological and non-pharmacological strategies, in order to enhance the clinical outcome. Conclusion: Nursing care for children with schizophrenia is a complex task that requires understanding, empathy, and competence on the part of healthcare professionals. It is essential that nurses stay up-to-date with best practices, develop a child-centered approach, and promote a safe and welcoming care environment.

Keywords: nursing care; schizophrenia; child.

INTRODUÇÃO

A saúde mental das crianças é uma preocupação global cada vez mais relevante, uma vez que a compreensão de que a saúde mental é tão importante quanto a saúde física está se tornando mais difundida. As crianças, como qualquer outro grupo demográfico, enfrentam desafios emocionais e psicológicos, que podem ter um impacto significativo em seu desenvolvimento.

A Reforma Psiquiátrica Brasileira (RPB) representou um processo abrangente de transformações sociais que impactaram significativamente a formação dos profissionais de enfermagem na área da saúde mental. Essas mudanças direcionaram a prática de enfermagem para uma abordagem inovadora, substituindo o antigo paradigma de institucionalização e cuidados manicomiais, que predominava no modelo psiquiátrico e biomédico de assistência. Em vez disso, a RPB promoveu a transição para uma abordagem de cuidado baseada na liberdade e no território (Silva Po et al., 2018).

Um dos principais pilares da RPB foi o movimento de desinstitucionalização, que visava a redução drástica do número de crianças internadas em hospitais psiquiátricos. Isso resultou na transferência de crianças e adolescentes para serviços de saúde mental comunitários, proporcionando um ambiente mais adequado ao seu desenvolvimento (Leão e Batista, 2020).

A esquizofrenia é uma condição se caracteriza pela presença de distúrbios no pensamento e nas percepções sensoriais. Embora suas causas ainda não estejam completamente esclarecidas, as evidências acumuladas sugerem que fatores genéticos, ambientais e psicossociais desempenham um papel significativo. Além disso, complicações durante a gravidez e o parto, juntamente com variáveis mediadoras, como hábitos pouco saudáveis (por exemplo, consumo de substâncias ilícitas), podem influenciar adversamente o desenvolvimento normal do bebê (Aas et al., 2019).

Ela se caracteriza por sintomas como delírios, alucinações, desorganização do pensamento e alterações no comportamento emocional. Quando esses sintomas se manifestam em crianças, a complexidade do diagnóstico e tratamento aumenta consideravelmente. Crianças com esquizofrenia muitas vezes têm dificuldade em comunicar seus sintomas, tornando essencial que os profissionais de enfermagem estejam atentos a sinais sutis de sua condição (Saldanha et al., 2017).

Quando se manifesta em idade precoce ou apresenta início precoce, essa condição é considerada mais grave, insidiosa e incapacitante, uma vez que tem o potencial de afetar de forma mais intensa as percepções sensoriais, o pensamento e o comportamento (Jerath et al., 2019).

O primeiro passo no cuidado de enfermagem à criança com esquizofrenia é a avaliação cuidadosa e o diagnóstico preciso. Os enfermeiros devem trabalhar em conjunto com outros profissionais de saúde mental para coletar informações sobre o histórico médico, desenvolvimento psicossocial e comportamental da criança. O diagnóstico precoce é crucial para iniciar o tratamento adequado e melhorar o prognóstico.

O cuidado de enfermagem à criança com esquizofrenia não se limita apenas à criança, mas também envolve os pais e cuidadores. Os enfermeiros devem fornecer informações sobre a doença, estratégias de manejo e recursos de apoio disponíveis para ajudar os pais a compreender e lidar com os desafios que enfrentam.

            Este trabalho objetiva identificar na literatura a eficiência dos cuidados clínicos de enfermagem direcionadas ao à criança com esquizofrenia e o papel que o enfermeiro exerce no tratamento da criança e no apoio aos familiares.

METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura que foi conduzida por meio de uma pesquisa bibliográfica abrangente sobre o tema da esquizofrenia infantil e o papel do enfermeiro do tratamento a criança com esta condição clínica, bem como a identificação dos principais cuidados realizados.

A pesquisa bibliográfica é reconhecida como uma das abordagens mais eficazes para o desenvolvimento de estudos, pois permite a identificação de semelhanças e diferenças entre estudos de referência, bem como fornece atualizações frequentes e embasa estudos relevantes (Souza, Oliveira e Alves, 2021).

O processo de construção deste estudo envolveu várias etapas, conforme delineado por Sousa, Silva e Carvalho (2010). Inicialmente, foi formulada uma questão de pesquisa que considerou as características dos participantes, as intervenções a serem analisadas e os resultados a serem investigados, resultando na seguinte pergunta norteadora: qual o papel do enfermeiro e quais os principais cuidados de enfermagem têm sido utilizadas no tratamento das crianças com esquizofrenia?

A busca por informações nas bases de dados iniciou-se de maneira ampla, visando a identificação de uma amostra abrangente que contivesse informações significativas sobre o tema. Esse critério de busca assegurou a diversidade de dados coletados, sem comprometer a especificidade do tema e a confiabilidade dos resultados.

As bases de dados utilizadas para pesquisa incluíram a Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Base de Dados em Enfermagem (BDENF) e Sistema Online de Busca e Análise de Literatura Médica (MEDLINE), todas indexadas na plataforma da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Além disso, para aumentar a expressividade e a abrangência da amostra, foi consultada a base Brasil Scientific Electronic Library Online (SciELO).

As palavras-chave selecionadas para a pesquisa bibliográfica foram escolhidas com base nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), e incluíram as seguintes: “esquizofrenia infantil” e “cuidados de enfermagem”. As buscas nas bases de dados foram realizadas por meio da combinação dessas palavras-chave utilizando o operador Booleano “AND”.

Os critérios de inclusão adotados foram os seguintes: estudos acessíveis e disponíveis na íntegra, nos idiomas inglês, português e espanhol, sem limitação temporal quanto ao ano de publicação, que abordassem a questão proposta para a pesquisa. Como critério de exclusão, foram considerados estudos duplicados nas bases de dados.

Na etapa inicial da análise, foi realizada uma leitura sintetizada do material identificado na primeira amostra, selecionando os dados a serem analisados de forma mais detalhada posteriormente. Isso permitiu uma organização mais eficaz do conteúdo coletado, com base em sua qualidade e características individuais.

Para estruturar e organizar os dados dos artigos, foi adaptado o instrumento elaborado por Ursi (2005), que consiste em uma tabela síntese com tópicos e subtópicos específicos. Esse instrumento de coleta transformou os achados bibliográficos em uma forma visual clara e sintetizada.

Posteriormente, foi realizada uma exploração mais aprofundada do material coletado, recortando informações específicas sobre o tema, objetivo da pesquisa, relevância, metodologia, respostas à problemática, contexto e lacunas a serem preenchidas em futuros estudos. Esses dados foram organizados em um quadro síntese com o objetivo de proporcionar uma análise comparativa entre os resultados e as conclusões encontrados nos artigos da amostra.

RESULTADOS

Após a pesquisa nas bases de dados utilizando os descritores mencionados, identificamos um total de 19 artigos disponíveis. Para começar, realizamos a eliminação das duplicatas encontradas em diferentes bases. Em seguida, procedemos à leitura dos títulos e resumos de todos os estudos, a fim de determinar quais estavam alinhados com a questão norteadora. Os artigos remanescentes foram então lidos na íntegra para avaliar sua elegibilidade para esta pesquisa. Ao final desse processo, selecionamos um total de 5 estudos. A Figura 1 apresenta o processo de seleção dos artigos de forma visual.

Dos cinco artigos considerados adequados para a pesquisa, observamos que esses estudos abrangiam uma ampla diversidade geográfica, sendo publicados em periódicos de várias origens. Além disso, notamos uma predominância do uso das línguas espanhola e portuguesa nas publicações selecionadas. Quanto ao ano de publicação, variaram no período de 2004 a 2022, como ilustrado no Quadro 1.

Quadro 1 – Características dos estudos sobre o papel do enfermeiro do trabalho, segundo título da pesquisa, autor, país e ano de publicação. Juazeiro do Norte-CE, 2023.

NTítuloAutor / AnoPeriódico
1Características clínicas y tratamiento farmacológico en la esquizofrenia de inicio en la infancia. Una revisiónGuerrero-Vaca et al, 2022Dominio de las Ciencias
2Esquizofrenia infantil como autoproteção psíquica – concepção da psicologia analíticaNunes e Serbena, 2022Psicologia em Pesquisa
3Esquizofrenia de inicio precoz: Revisión bibliográficaOtárola, 2022Ciencia y Salud
4Factores de riesgo para padecer trastornos psicóticos: ¿Es posible realizar una detección preventiva?Tizón et al, 2008Clínica y Salud
5Psicoses funcionais na infância e adolescênciaTengan e Maia, 2004Jornal de Pediatria

Fonte: elaboração própria

            O Quadro 2 traz as informações acerca do objetivo de cada um dos estudos selecionados, bem como os principais resultados encontrados e o desfecho que cada estudo teve após avaliação discussão dos mesmos.

Quadro 2 – Características dos estudos sobre o objetivo e o delineamento do estudo, o papel do enfermeiro do trabalho evidenciado no estudo e os desfechos alcançados. Juazeiro do Norte-CE, 2023.

NObjetivoResultadosDesfechos
1caracterizar a esquizofrenia infantil e descrever os principais tratamentos utilizados nestes transtornosA esquizofrenia ocorre na infância e adolescência mais frequentemente em homens do que em mulheres. Nesse grupo populacional, os sintomas podem variar, com maior afetação nas relações sociais, comunicação, pensamento e emoções. O diagnóstico precoce poderia reduzir e controlar os sintomas positivos da esquizofrenia, embora se considere que quanto mais precoce for o seu aparecimento, pior prognóstico e evolução terá esta doença.É necessário conhecer e diagnosticar a esquizofrenia rapidamente para iniciar um tratamento adequado que possibilite melhor qualidade de vida para o paciente, família e seu ambiente.
2compreender o sentido da emergência da esquizofrenia na infância a partir da psicologia analíticaQuando o processo esquizofrênico irrompe no período da infância, observa-se que a característica regressiva desses estados remete a fases iniciais de vida; nessa direção, a tendência é a de que a presença de imagens avassaladoras se imponha, assim como ocorre no processo esquizofrênico do adulto, porém com um teor arquetípico, embasado pela afetividade. Para compreender esse aspecto, tornou-se pertinente averiguar os fatores do desenvolvimento psicológico da infância a partir da perspectiva afetiva e vincular, que permitem constatar a presença de uma disposição psíquica infantil para o seu desenvolvimento, que passa pela interação humana constante.na esquizofrenia infantil, a cisão psíquica surge como uma forma de autoproteção a partir de situações que se configuram como traumáticas, visando a preservação do núcleo essencial da personalidade
3Estabelecer com base na literatura as características clínicas da esquizofrenia manifestada precocementeA esquizofrenia de início precoce é definida como o início da doença antes dos 18 anos e engloba a esquizofrenia com início na infância e na adolescência. A esquizofrenia com início na infância é definida como o surgimento de sintomas psicóticos antes dos 13 anos e é considerada como representando um subgrupo de pacientes com uma herança genética mais pronunciada. As manifestações clínicas incluem as que são observadas na esquizofrenia em adultos e podem abranger a presença de sintomas positivos (alucinações e delírios) e sintomas negativos (apatia, isolamento social, anedonia). Essa forma de esquizofrenia está associada a uma evolução clínica grave, um comprometimento significativo do funcionamento psicossocial e maior gravidade das anormalidades cerebrais. Apesar de seu curso clínico frequentemente agressivo, a evidência atual confirma a eficácia de intervenções psicossociais e farmacológicas no tratamento. Entre as opções terapêuticas, destacam-se os antipsicóticos atípicos, que apresentam eficácia comparável, embora com perfis variados de efeitos adversos.a progressão dessa doença, juntamente com um subdiagnóstico dela, obscurece o prognóstico de uma doença que, por si só, já tem um grande impacto no funcionamento das pessoas. É de vital importância continuar avaliando a possibilidade de ocorrência da esquizofrenia de início precoce e, uma vez estabelecido o diagnóstico, implementar uma abordagem agressiva por meio de estratégias farmacológicas e não farmacológicas para melhorar o curso da doença.
4É apresentado o desenho e as primeiras avaliações do instrumento LISMEN de exploração e triagem de sinais de alerta e fatores de risco de transtornos mentais graves, em particular transtornos psicóticos, aplicável nos primeiros anos de vida pelos serviços de atenção primária de saúde e pelos equipamentos de saúde mental associados a elesApresentamos o design e os primeiros testes de uma ferramenta de triagem e avaliação de sinais de alerta e fatores de risco de transtornos mentais graves, especialmente transtornos psicóticos, aplicável nos primeiros anos de vida pelos serviços de atenção primária à saúde e pelas instalações de saúde mental associadas a eles. Trata-se do LISMEN (Lista de Itens de Saúde Mental em Idades Pré-escolares e Escolares).Embora hoje possuamos um amplo conjunto de conhecimentos sobre os fatores de risco da esquizofrenia e de outras psicoses, isso não implica que possamos prever o transtorno com base neles. O LISMEN é uma tentativa nesse sentido.
5Revisar a literatura acerca das psicoses funcionais na infância e adolescência e permitir ao pediatra a possibilidade de reconhecer esta patologia em sua rotina de trabalho.A presença de uma criança doente em uma família quase que inevitavelmente acaba levando a um desequilíbrio nas relações familiares, principalmente quando se trata de doença mental. Muitas vezes, um ser doente acaba mobilizando sentimentos variados, como culpa, raiva, medo, vergonha, fracasso, entre outros, os quais necessitam ser trabalhados. Em algumas situações, uma orientação familiar pode solucionar o problema.A esquizofrenia com início na infância é uma patologia rara, quase 50 vezes menos freqüente quando comparada com pacientes que iniciaram a doença com idade acima de 15 anos. É uma doença distinta do autismo infantil não somente por questões conceituais, mas por um embasamento na fenomenologia, genética, quadro clínico e neurológico associado.

Fonte: elaboração própria

DISCUSSÃO

Guerrero-Vaca et al. (2022) afirmam que estudar esquizofrenia em crianças e adolescentes é relevante e necessário, uma vez que permite compreender e conhecer as características clínicas específicas presentes nessa doença, bem como diferenciá-la de outros distúrbios que podem ser confundidos no diagnóstico definitivo. Além disso, a esquizofrenia deve ser considerada como um transtorno complexo e incapacitante que, portanto, requer tratamento imediato diante dos primeiros sinais de um episódio psicótico.

Embora a esquizofrenia seja relativamente rara nessa faixa etária, pode resultar em consideráveis desafios para a integração psicológica e a adaptação ao ambiente social. Isso ocorre, mesmo quando se valoriza a preservação da autonomia e singularidade de cada indivíduo. No caso da esquizofrenia infantil, a cisão psicológica e a subsequente interrupção do desenvolvimento ocorrem em um estágio em que a construção da linguagem verbal ainda está em andamento, o que torna a expressão dificultada por essa via. Portanto, é relevante promover formas alternativas de expressão que facilitem a compreensão das experiências em curso (Nunes e Serbena, 2022).

A esquizofrenia infantil representa um desafio na área da psicopatologia, não apenas devido à sua baixa incidência, mas também devido ao impacto que exerce nos estágios iniciais do desenvolvimento, afetando fatores psicológicos fundamentais e as interações interpessoais. No entanto, os estudiosos mencionados na discussão concordam que a preservação dos aspectos cognitivos e do senso de autoproteção psicológica em face de situações traumáticas e imagens arquetípicas percebidas como ameaçadoras à mente é um elemento central na esquizofrenia infantil (Nunes e Serbena, 2022).

A esquizofrenia com início na infância apresenta particularidades distintas em comparação com o início na fase adulta. Quando manifestada antes dos 12 anos, está intimamente ligada a questões de comportamento. Crianças nessas condições são frequentemente descritas como tendo dificuldades de adaptação social, comportamento peculiar e isolamento, além de exibir distúrbios comportamentais e atrasos no desenvolvimento neuropsicomotor (Tengan e Maia, 2004).

Quando há suspeita de esquizofrenia na infância, é fundamental considerar alguns pontos essenciais. O primeiro é a idade de início dos sintomas, lembrando que a esquizofrenia é um transtorno progressivo que frequentemente tem um histórico anterior aparentemente normal. É extremamente raro que os sintomas se manifestem antes dos 7 anos de idade. Outro aspecto crucial é a avaliação do histórico familiar, pois frequentemente há outros membros da família afetados. O diagnóstico não é simples e pode ser desafiador diferenciá-lo de outros transtornos, especialmente o transtorno afetivo bipolar, muitas vezes exigindo avaliações repetidas ao longo do tempo (Tengan e Maia, 2004).

A infância e, em particular, a adolescência são períodos de mudanças significativas no desenvolvimento biológico, social e psicológico. As pessoas com esquizofrenia de início precoce enfrentam dificuldades adicionais para lidar com essas mudanças (Otárola, 2022).

Existem múltiplos obstáculos que dificultam o processo de diagnóstico da esquizofrenia com início na infância, tais como a pressão frequentemente exercida pelos familiares, a gravidade das manifestações clínicas e a limitação de tempo (Otárola, 2022).

Para Otárola (2022), o avanço desta condição, aliado ao subdiagnóstico, prejudica a previsão de uma doença que já impacta significativamente o funcionamento das pessoas. É fundamental persistir na avaliação da possibilidade de esquizofrenia de início precoce e, após estabelecer o diagnóstico, adotar uma abordagem abrangente, incorporando tanto estratégias farmacológicas quanto não farmacológicas, a fim de aprimorar a evolução do quadro clínico.

Os transtornos de personalidade são diagnósticos geralmente aplicados à população adulta, uma vez que as estruturas de personalidade nas crianças ainda estão em fase de desenvolvimento, não estando completamente formadas. No entanto, certos transtornos de personalidade, como o transtorno de personalidade antissocial, requerem um histórico de transtorno de conduta antes dos 15 anos como um pré-requisito (Tengan e Maia, 2004).

Para Guerrero-Vaca et al. (2022) os médicos devem considerar a possibilidade de não adesão ao tratamento e os efeitos adversos relacionados ao tratamento ao desenvolver um plano de tratamento abrangente. Os sintomas negativos clinicamente relevantes da esquizofrenia, que ocorrem na maioria dos pacientes, devem ser reconhecidos, avaliados e geridos da melhor maneira possível para alcançar melhores resultados para os pacientes.

Para Tengan e Maia (2004) na esquizofrenia, geralmente, após a estabilização de uma crise, o indivíduo não retorna ao seu estado anterior, frequentemente manifestando alguma alteração na afetividade e no pragmatismo, conhecido como “defeito” pós-crise. O prognóstico da doença é geralmente desafiador, embora os avanços na terapia farmacológica tenham contribuído significativamente para a melhora do quadro (Tengan e Maia, 2004).

Os fatores que podem indicar um prognóstico mais favorável incluem o início tardio dos sintomas, um precipitante claro, início súbito dos sintomas, histórico social favorável, como emprego e relacionamentos interpessoais, presença de sintomas depressivos, estado civil de casado (embora isso não se aplique aqui), sintomas positivos (como delírios e alucinações) e um sistema de apoio familiar e social favorável (Tengan e Maia, 2004).

Dado que os sintomas negativos muitas vezes não são reconhecidos pelos médicos e o tratamento baseado em evidências é limitado, os sintomas negativos estão mais intimamente relacionados ao funcionamento deficiente do paciente, menor qualidade de vida e menor produtividade do que os sintomas positivos, que podem ser tratados de forma mais eficaz com os tratamentos disponíveis (Guerrero-Vaca et al, 2022).

Embora existam diferentes tratamentos farmacológicos que podem ser usados para tratar a esquizofrenia infantil, a escolha deve ser baseada na história clínica, nas características do paciente e, quando aplicável, no uso anterior de medicamentos, no caso de recorrências ou em pacientes com histórico familiar de esquizofrenia (Guerrero-Vaca et al, 2022).

O desenvolvimento de um instrumento de triagem para detectar fatores de risco e sinais de alerta desde os primeiros meses de vida pode representar uma vantagem significativa na tentativa de sistematizar o critério clínico normalmente usado por pediatras, médicos de família, serviços de atenção precoce e serviços de saúde mental infantojuvenil. Ter um questionário de fácil utilização, de curta extensão e que não exija um treinamento exaustivo pode ajudar a reduzir as diferenças no critério clínico entre profissionais e, consequentemente, facilitar a realização dessas tarefas preventivas essenciais (Tizón et al, 2008).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O cuidado de enfermagem à criança com esquizofrenia é uma tarefa complexa que exige compreensão, empatia e competência por parte dos profissionais de saúde. A esquizofrenia infantil é uma condição que pode ter um impacto profundo na vida da criança e de sua família, e um cuidado de enfermagem eficaz desempenha um papel crucial na melhoria da qualidade de vida e no prognóstico dessas crianças.

É essencial que os enfermeiros estejam atualizados com as melhores práticas e desenvolvam uma abordagem centrada na criança, que leve em consideração suas necessidades específicas e promova um ambiente de cuidado seguro e acolhedor. Com uma abordagem multidisciplinar, tratamento adequado e apoio contínuo, as crianças com esquizofrenia podem ter a oportunidade de levar vidas significativas e satisfatórias.

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1Enfermeiro, Mestre em Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde, Docente do Centro Universitário Paraiso – UNIFAP, Juazeiro do Norte – CE; Email: luciano.alencar@fapce.edu.br (ORCID: 0000-0002-8778-8763)

(ORCID: 0000-0003-1988-3491)

(ORCID: 0009-0005-8744-1689)

3Enfermeiro, Graduado em Enfermagem, Centro Universitário Paraiso – UNIFAP, Juazeiro do Norte – CE (ORCID: 0009-0007-1513-350X)

4Enfermeira, Mestre em Enfermagem, Enfermeira no Hospital Regional do Cariri – HRC, Juazeiro do Norte – CE (ORCID: 0000-0002-2823-8681)

4Enfermeira, Mestre em Enfermagem, Enfermeira no Hospital Regional do Cariri – HRC, Juazeiro do Norte – CE(ORCID: 0000-0001-9702-6765)

5Enfermeiro, Especialista em Urgência e Emergência, Enfermeiro no Hospital Regional do Cariri – HRC, Juazeiro do Norte – CE(ORCID: 0000-0002-4719-7168)

5Enfermeiro, Especialista em Urgência e Emergência, Enfermeiro no Hospital Regional do Cariri – HRC, Juazeiro do Norte – CE(ORCID: 0009-0003-3926-7132)

5Enfermeiro, Especialista em Urgência e Emergência, Enfermeiro no Hospital Regional do Cariri – HRC, Juazeiro do Norte – CEORCID: 0000-0003-1904-9085)

6Fisioterapeuta, Especialista UTI Neo e Pediátrica, Fisioterapeuta no Hospital Regional do Cariri – HRC, Juazeiro do Norte – CE(ORCID: 0009-0008-5241-0024)

7Pedagogo, Mestre em Educação, Docente da Universidade Regional do Cariri – URCA, Crato – CE(ORCID: 0000-0002-2327-2274)