CUIDADO HUMANIZADO COM MULHERES QUE PERDERAM SEUS  FILHOS APÓS O PARTO 

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10139489


Ana Carolina Ribeiro Negrão1
Izabella Araújo Morais2 


RESUMO 

Introdução: Neste estudo, foi descrita uma revisão integrativa que relata as  experiências maternas de mulheres que perderam seus filhos após o parto e o  cuidado de enfermagem necessário para amenizar o luto e sofrimento desta mãe. Metodologia: Revisão integrativa, feita uma busca nas bases de dados verticais:  Scielo, Pubmed, Ebsco, Lilacs, Medline. Foram encontrados os descritores:  (“Nursing Care” OR Nursing) AND Bereavement AND (“Perinatal Death” OR “Mental  Health”) NOT (“Fetal Death”). Nos critérios de inclusão, foram selecionados artigos  dentro de 10 anos (2013 a 2023), na língua portuguesa, inglês e espanhol, artigos  gratuitos, completos e disponíveis na internet, ebooks e pesquisa em bibliotecas.  Nos critérios de exclusão foram desconsiderados os artigos pagos, que ultrapassam  o limite de 10 anos, que não abordaram o tema em específico, sem acesso ao texto  integral, abortos eletivos e gravidez subsequente. Resultado: Uma questão básica  ao se tratar de luto em ambiente hospitalar é o preparo da equipe profissional de  enfermagem para o auxílio na elaboração e enfrentamento da perda. As mães demonstraram dificuldades na expressão de seus sentimentos, o que agrava a vivência da perda e a elaboração do luto. Os profissionais de saúde devem  considerar seus sentimentos, ajudando-as a lidar com a culpa e a aliviar as emoções  negativas. Conclusão: Este estudo enfatiza que o apoio adequado durante o luto  materno pós-parto pode ter um impacto positivo na saúde mental das mães e em  sua capacidade de enfrentar essa experiência desafiadora. Também propõe a  definição do termo “Luto Neonatal” para orientar a assistência e pesquisa, visando a implementação de ações e iniciativas que visam oferecer suporte emocional,  compreensão e cuidado às mães que enfrentam o luto, ao mesmo tempo em que  busca conscientizar os profissionais de saúde sobre a importância de abordagens  sensíveis e empáticas ao lidar com as mães enlutadas. 

Palavras-chave: Cuidado de enfermagem; luto materno; perda perinatal; saúde  mental; espiritualidade. 

ABSTRACT 

Introduction: In this study, the maternal experience of women who lost their children  after birth and the nursing care necessary to alleviate this mother’s grief and suffering  was described. Methodology: Integrative review, carried out a search in vertical  databases: Scielo, Pubmed, Ebsco, Lilacs, Medline. The descriptors were found:  (“Nursing Care” OR Nursing) AND Bereavement AND (“Perinatal Death” OR “Mental  Health”) NOT (“Fetal Death”). In the inclusion criteria, articles were selected within 10  years (2013 to 2023), in Portuguese, English and Spanish, free, complete articles  available on the internet, ebooks and library research. The exclusion criteria  excluded paid articles, which exceed the limit of 10 years, which did not address the  specific topic, without access to the full text, elective abortions and subsequent pregnancies. Result: A basic issue when dealing with grief in a hospital environment  is the preparation of the professional nursing team to assist in processing and coping  with the loss. Mothers demonstrated difficulties in expressing their feelings, which  worsens the experience of loss and the elaboration of grief. Health professionals  should consider their feelings, helping them deal with guilt and alleviate negative  emotions. Conclusion: This study emphasizes that adequate support during postpartum maternal grief can have a positive impact on mothers’ mental health and  their ability to cope with this challenging experience. It also proposes the definition of  the term “Neonatal Grief” to guide assistance and research, aiming at the  implementation of actions and initiatives that aim to offer emotional support,  understanding and care to mothers facing grief, while at the same time seeking to  raise awareness among health care professionals. health about the importance of  sensitive and empathetic approaches when dealing with bereaved mothers. 

Keywords: Nursing care; maternal mourning; perinatal loss; mental health;  spirituality

1 INTRODUÇÃO 

Vivenciar a perda de um filho(a) pode significar o enfrentamento de muitas  dificuldades. O conjunto de reações diante de uma perda e a tentativa de reconstruir  e organizar a vida são parte do luto (MAZORRA, 2009). Estas perdas geram uma  resposta variada, dinâmica e altamente individualizada nos pais (DIAS, 2017) e o  seu significado é muito difícil de prever (HUTTI, 2017). Principalmente nas gestações  desejadas, os pais sofrem múltiplas perdas: a perda de um filho esperado, de  aspectos de si mesmos, de uma etapa da vida, de um sonho e de uma criação e  realização (DALLAY, 2013). Muitas mulheres sentem uma enorme necessidade de  engravidar novamente como se sentissem um vazio dentro delas. Enquanto outras  famílias não querem ter outro filho, com medo de vivenciar novamente a dor da  perda. 

A família e a enfermagem exercem importante influência durante o processo  de luto e em sua compreensão. Seu apoio é essencial para os pais, bem como de  programas que ofereçam auxílio profissional para que eles possam se sentir  amparados e compreendidos. Os enlutados devem ser encorajados a comunicar os  próprios sentimentos (PARKES, 2011). A confiança no ambiente permite que eles  tenham condições de agir de forma criativa e espontânea, conseguindo vivenciar o  luto e dar continuidade ao seu desenvolvimento emocional. Isso começa desde o  hospital, o primeiro contato dessa mãe enlutada é com a equipe de enfermagem. 

Com base nas bibliografias consultadas, há uma necessidade de  reconhecimento da morte neonatal pela sociedade, pois o apoio dos profissionais de  saúde, da família e dos amigos é fundamental para o enfrentamento e superação da  perda pelos pais enlutados. Diante da literatura, busco responder às seguintes  questões: Como a equipe multiprofissional pode auxiliar as mulheres que perderam  seus filhos pós-parto? Como abordar os pais e o que dizer? Como preparar a equipe  de enfermagem para enfrentar uma perda? 

A perda fetal, conforme definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS),  abrange a ausência de sinais específicos do feto antes da expulsão do corpo da  mãe, independentemente da idade gestacional. Alarmantemente, quase 25% das  gestações conhecidas terminam em perda, e essa experiência desafiadora pode ter repercussões sérias na saúde mental e no bem-estar das mulheres e casais  afetados. A perda gestacional frequentemente desencadeia sentimentos de choque,  fracasso, culpa e a busca incessante por respostas. Esses sentimentos, por sua vez,  podem levar ao isolamento social, ansiedade, depressão e até mesmo a  manifestações de doenças psicossomáticas. 

Segundo Paris, Montigny e Pelloso (2021) a definição da OMS sobre perda  perinatal abrange natimortos (a partir de 22 semanas de gestação com peso ao  nascer superior a 500g) e morte neonatal (perda até 7 dias após o nascimento). No  entanto, a literatura aceita extensamente esse conceito para incluir qualquer perda  espontânea até 28 dias após o nascimento. Portanto, abortos espontâneos,  natimortos e mortes neonatais estão todos compreendidos no âmbito da perda  perinatal. 

Este trabalho oferece um olhar compassivo sobre a vida das mulheres que  enfrentam a perda de seus filhos após o parto. Iremos explorar os aspectos do luto,  as dificuldades enfrentadas, e a importância do suporte físico e emocional nesses  momentos difíceis. Além disso, abordamos o papel crucial desempenhado pelos  enfermeiros na prestação desse cuidado sensível e do treinamento necessário para  a equipe multidisciplinar que lida com situações de perda perinatal.  

Portanto, são objetivos deste estudo: Compreender como a equipe  multiprofissional pode auxiliar no cuidado à saúde mental das mulheres que  perderam seus filhos pós-parto, investigando e analisando a experiência materna de  mulheres que perderam seus filhos pós-parto em seus aspectos social, familiar,  emocional e o papel da equipe de enfermagem. 

2 METODOLOGIA  

O presente estudo foi realizado uma revisão integrativa, que consiste em uma  construção de análise ampla da literatura, colaborando para discussões sobre  métodos e resultado de pesquisas, como também reflexões em realizações de  futuros estudos. Nesse método é necessário seguir padrões de rigor metodológico,  clareza na apresentação dos resultados. Este método também permite a combinação de dados de literatura teórica e empírica com a finalidade de fazer uma  revisão da teoria a respeito dos cuidados da Enfermagem com pacientes neonatal.  A revisão integrativa da literatura consiste em 6 etapas: ¹ Identificação do  tema e seleção da hipótese ou questão de pesquisa para elaboração da revisão  integrativa. ² Estabelecimento de critérios para inclusão e exclusão de estudos/  amostragem ou busca na literatura. ³ Definição das informações a serem extraídas  dos estudos selecionados/ categorização dos estudos. ⁴ Avaliação dos estudos  incluídos na revisão integrativa. ⁵ Interpretação dos resultados. ⁶ Apresentação da  revisão/ síntese do conhecimento. (https://www.fca.unesp.br/Home/Biblioteca/tipos de-evisao-de-literatura.pdf)). 

2.1 Identificação dos estudos relevantes 

Após a definição do tema, foi definida a questão norteadora utilizando como  guia a estratégia PICO: P- (população ou paciente) Mulheres que perderam seus  filhos após o parto; I- (intervenção) Assistência da equipe multiprofissional voltado a  saúde mental das mães; C- (comparação/ tratamento) não há tratamento ou placebo; O- (outcome ou resultado) O resultado esperado é um luto não patológico, podendo  voltar a vida e rotina mais cedo, com menos complicações na saúde. O tema foi  escolhido com base em uma vivência pessoal e a vontade de querer fazer a  diferença no meu meio profissional.  

Foi feita uma busca nas bases de dados verticais, como: Scielo, Pubmed,  Ebsco, Lilacs, Medline. Por meio da base de dados Decs foram encontrados os  descritores da saúde, são eles: Descritores – (“Nursing Care” OR Nursing) AND  Bereavement AND (“Perinatal Death” OR “Mental Health”) NOT (“Fetal Death”). Nos  critérios de inclusão, foram selecionados artigos dentro de 10 anos (2013 a 2023),  na língua portuguesa, inglês e espanhol, utilizando apenas artigos gratuitos,  completos e disponíveis na internet, ebooks e pesquisa em bibliotecas. Para os  critérios de exclusão foram desconsiderados os artigos pagos, que ultrapassam o  limite de 10 anos, que não abordaram o tema em específico, ênfase na figura  paterna, sem acesso ao texto integral, abortos eletivos e gravidez subsequente. 

Foi realizado um projeto piloto para validação dos descritores, em relação à  resposta da questão norteadora, os quais foram lidos 15% do total de artigos  encontrados, foram escolhidos 37 artigos. Os artigos foram selecionados a partir da  leitura analítica, apoiada na literatura sobre enfermagem neonatal e mulheres que  perderam seus filhos pós-parto, com enfoque na saúde mental e o enfrentamento do  luto. 

A busca dos estudos que seriam revisados se iniciou após a montagem da  questão norteadora. Primeiro a escolha das bases de dados se deu através de um  processo de decisão, baseados nos objetivos presente no trabalho. A partir dos  critérios de inclusão e exclusão de artigos, foi definido quais tipos de publicações  entraram na revisão (que podem ser artigos, revistas, resumos, livros etc.) e qual  seria o recorte temporal. Conforme Souza, Silva e Carvalho (2010), ao tentarem  definir a revisão integrativa no contexto de estudos na área da enfermagem, as  autoras sugerem que a etapa inicial dos estudos seria uma forma de pesquisa  bibliográfica e, posteriormente, referem-se à revisão de literatura de forma  complementar à sua definição. 

A pesquisa bibliográfica é uma das melhores formas de iniciar um estudo,  buscando semelhanças e diferenças entre os artigos levantados nos documentos de  referência. A compilação de informações em meios eletrônicos é um grande avanço  para os pesquisadores, democratizando o acesso e proporcionando atualização  frequente. O propósito geral de uma revisão de literatura de pesquisa é reunir  conhecimentos sobre um tópico, ajudando nas fundações de um estudo significativo  para a enfermagem. (SOUZA; SILVA; CARVALHO, 2010, p. 103).  

2.2 Seleção e procedimentos de análise dos estudos  

Para este trabalho, foi incluído apenas os artigos desenhados sob a ótica do  “cuidado de enfermagem”, abarcando “luto materno perinatal” e “saúde mental”  sendo as palavras-chave encontradas: Cuidado de enfermagem; luto materno; perda  perinatal; saúde mental; cuidado espiritual; e em inglês: Nursing care; maternal grief;  perinatal loss; mental health; spirituality. Selecionando, posteriormente, as que melhor se enquadram no estudo: Luto materno, perda perinatal, cuidado de  enfermagem, espiritualidade.

O levantamento dos artigos se iniciou em fevereiro de 2023; primeiramente realizou-se uma busca preliminar nas bases de dados Lilacs, Scielo e Pubmed, com  intuito de buscar revisões integrativas que, por fim, não foram encontradas.  Posteriormente, buscaram-se nas mesmas bases de dados, artigos que abordaram  o tema -luto materno perinatal- para analisar os principais descritores e palavras chave utilizadas, sendo os principais termos “Luto materno”, “Cuidado de  Enfermagem”, “Perda perinatal”, “luto”; e em inglês “perinatal loss”, “nursing care”,  “bereavement”. Após essa etapa, foi realizada a localização dos descritores na  Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), através da opção de pesquisa DeCS/MeSH,  utilizando os operadores Booleanos (OR), (AND) e (NOT).  

Na segunda etapa os descritores ficaram: (“Nursing Care”) AND  (Bereavement) AND (“Perinatal Death”) AND (“Mental Health”) NOT (“Fetal Death”).  Dessa maneira, após a localização dos descritores e sinonímias, realizou-se a busca  eletrônica nas seguintes bases de dados: Scielo, Pubmed, Ebsco, Lilacs, Medline. 

2.3 Prisma 

Para a construção do fluxograma prisma de seleção de dados, utilizou-se os  tópicos: Identificação, triagem, elegibilidade e inclusão. Como dito anteriormente, a  pesquisa foi realizada em cinco base de dados, sendo encontrados um total de 169  artigos nas bases de dados Medline (n=4), Lilacs (n=6), Pubmed (n=78), Scielo  (n=25), Science Direct (n=14), Ebsco (n=33), e à parte foram encontrados (n=15).  Primeiramente, foram excluídos artigos duplicados (n=6), depois, os artigos  excluídos com base na leitura do título e resumo, posteriormente, foi realizada a  aplicação dos critérios de exclusão já mencionados, totalizando (n=55) artigos  excluídos. Artigos com texto integral para aplicação de critérios de elegibilidade  (n=114), dentro deste resultado foram excluídos textos integrais (n=78) e que se  encaixavam nos critérios de exclusão; artigos pagos, fora do recorte temporal, não  abordaram o tema em específico, deu ênfase na figura paterna, sem acesso ao texto  inteiro, abortos eletivos, gravidez subsequente. Sendo incluídos no total (n=14).

3 Resultado e Discussão  

Este quadro foi dividido em 14 artigos, que foram obtidos após a análise da  revisão o qual será descrito abaixo: ano, pais, título, objetivo geral, método do  estudo e observações. As observações são de cunho de entendimento da autora e  sua opinião sobre os artigos lidos. O objetivo deste quadro foi a facilidade na busca  de informações dos artigos selecionados. 

AnoPaísTítuloObjetivo geralMétodo 
do estudo
Observações
01/09/2023AmsterdãPregnanc 
y after  
perinatal  
loss: A  
meta 
ethnograp hy from a  women’s  
perspectiv e
This study uses a meta ethnography to synthesize  qualitative research on the  experiences of women  during pregnancies after  one or more perinatal  lossesQualitativ 
e  
research
Este artigo retrata o  emocional de mulheres que  tiveram perdas gestacionais  e como foi para elas  passarem por uma próxima  gestação, apoio familiar,  conjugal e o contato e  apoio da enfermagem
2023- 
02-01
“Death is  a  
sensitive  
topic  
when you  are  
surrounde d by life”:  Nurses  
experienc es with  pregnancy  loss
.Although there is  increasing evidence on  the psychosocial  adjustment and  experiencing pregnancy  loss from the patient’s  perspective, few studies  have investigated the  nurses’ experience perceptions. This study  aimed to understand the  experience of nurses  involved in pregnancy loss  care based on the self fulfillment model of  communicationA  
qualitative  approach  was  
developed  through  
semi 
structured  interviews  to 16  nurses  
working in  an  
Obstetrics  and  
Maternal 
Fetal  
Departme nt of a  local  
hospital.  
Based on  grounded  theory  
approach,  data was  analyzed
with  
NVivo 12  software
Este artigo é voltado para a  equipe de enfermagem e  na forma de como lidar com  uma perda neonatal, como  abordar os pais e o que  dizer. Foi mencionado para  os profissionais terem apoio  emocional e psicológico  individual para ajudar e  gerir melhor as emoções  quando acontecer uma  perda neo. Relata  problemas nas instituições,  como falta de ambiente  para amparar os pais e a  dificuldade em lidar com a  perda quando se está rodeado de vida
2023- 
09-01
Departm ent of  
Nursing.  Universit y of  
Granada , Spain
Good  
practices  
in  
perinatal  
bereavem ent care in  public  
maternity  hospitals  
in  
Southern  Spain
To assess the attitudes  and care practices of  midwives and nurses in  the province of Granada  in relation to death care  and perinatal  bereavement, to  determine their degree of  adaptation to international  standards and to identify  possible differences in  personal factors among  those who best adapt to  international  
recommendations
A local  survey of  117  
nurses  
and  
midwives  from the  five  
maternity  hospitals  
in the  province 

as  
conducted  using the  Lucina  
questionn aire  
developed  to explore  profession als’  
emotions,  opinions, 
an 
d  
knowledg 
e during  perinatal  
bereavem ent care
No sistema de saúde  espanhol, são as parteiras  que atendem o luto a partir  das 28 semanas de  gestação e os cuidados nas  salas de parto de centros  selecionados, onde a morte  perinatal é mais tangível e  dolorosa. Os resultados  deste estudo apontam para  algumas deficiências na  adequação das instruções  de partos e enfermeiros às  normas internacionais de  cuidado da morte e do luto  perinatal na província de  Granada e,  consequentemente, áreas  para melhoria. Superar  essas deficiências  requerem recursos de  treinamento e  conscientização, cujo  design pode considerar,  entre outros fatores, a  categoria profissional dos  profissionais de saúde
2010-04-01Universidade  
Federal  
do Rio  Grande  
No  
Norte.  
Departa 
mento  
de  
Enferma gem.  
Natal,  
RN
Percepções dos  profission 
ais de  enfermag 
em  
intensiva  
frente a  morte do  recém 
nascido
Este estudo tem comoobjetivos descrever as  percepções dos  profissionais de  enfermagem diante da  morte de recém-nascidos  em unidade de terapia  intensiva neonatal (UTIN).  Pesquisa de abordagem  qualitativa com enfoque  fenomenológico. Foram  entrevistados enfermeiros  e técnicos de  enfermagem de uma  UTIN neonatal,  respondendo a seguinte  questão de pesquisa:  Como você se sente  diante da morte dorecém nascido na UTIN onde  você trabalha? Emergiram  do questionamento,  acerca deste fenômeno,  uma diversidade de  sentimentos, como perda,  compaixão, tristeza, o que  resulta numa experiência  do mundo sensível de  cada um. A análise teve  como aporte teórico tanto  os autores que tratam da  fenomenologia, como  estudiosos do tema da  morte. A partir da  compreensão do  fenômeno estudado,  afirmarmos ser a mortedo  recém-nascido para osprofissionais de  enfermagem de uma  UTIN uma vivência de  sentimentos conflituosos,  por vezes dolorosos, pela  sua complexidadeQualitativaMostra a perda neonatal na visão dos profissionais da  saúde, como depreender  da vivência dos  respondentes diante do  fenômeno estudado, a  morte na UTIN é antes de  tudo uma grande perda,  provocando sentimentos de  angústia, tristeza e empatia  entre aqueles que lidam  com a criança neste  ambiente. Percebemos ser  fundamental a  compreensão de cada  morte como sendo única,  não devendo o profissional  de enfermagem assumir  uma postura de não aceitação ou inconformismo  com a sua ocorrência a  cada vez que ela  acontecer, mas de perceber  esse fenômeno como  integrante íntimo e  intrínseco do ciclo de vida  do recém-nascido.
2021- 
01-01
Universi 
dade  
Federal  
do  
Paraná,  
PR,  
Brasil
Psicotera 
pia e  Luto: A  Vivência  
de Mães  Enlutadas
Pesquisas empíricas  sobre psicoterapia ainda  são escassas no Brasil.  Uma das maneiras 
de melhor avaliar  
os processos  psicoterapêuticos é por  meio do relato dos  pacientes. O processo 
psicoterápico de  
enlutados é pouco  estudado, a despeito de  sua demanda por  psicoterapia. 
Não há, na  
literatura nacional,  pesquisas que abordem  especificamente a  experiência de 
psicoterapia de  
mães enlutadas. O  presente estudo se  propõe a compreender  como as 
mães vivenciam  
esse processo. Este é um  estudo qualitativo, em que  se utilizou o método 
fenomenológico.  
Foram entrevistadas  quatro mães. Asentrevistas tiveram início  com a pergunta 
disparadora:  
“Você pode relatar a  vivência de seu processo  terapêutico durante o  luto?”. Depois de 
transcritos, os  
relatos foram analisados a  partir dos quatro passos  metodológicos  
desenvolvidos 
por Giorgi

Qualitativ 
o
As entrevistadas relataram  que a psicoterapia lhes  ajudou a retomar suas  vidas. Alice apontou que a  psicoterapeuta lhe auxiliou  na compreensão de que a  vida continua após a perda  de um filho. Ela acredita  que a experiência de ter  passado por um processo  psicoterápico foi  fundamental para que  tivesse forças para “voltar a  viver”. A experiência de  retomar a vida indica que  uma mudança significativa  foi vivenciada por essas  mães no decorrer de seus  processos psicoterápicos.  Cabe ressaltar, no entanto,  que essa experiência não  representa o término do  luto ou sua superação.
2021- 
01-01
Brasil,  
Canadá
Professio 
nal  
practice in  caring for  maternal  
grief in the  face of  stillbirth in  two  
countries
To understand  professional care for  maternal grief in the  puerperium of stillbirth.  Methods: a clinical 
qualitative study with all  the women who had  stillbirths living in Maringá  (Brazil) and participating  in the Center d’Études et  de Recherche in Family  Intervention at the  University of Quebec in  Outaouais in Gatineau  (Canada). Semi structured interviews were  carried out and the  relevant aspects were  categorized into themes.  Results: the identified  categories were:  Assistance received in the  puerperium with a focus
on grief: hospital andoutpatient environment,  and Professional support  in coping with maternal  grief after fetal loss: with  contact and memories,  without contact and  without memories and  impossibilities of contact  with the baby. Final  considerations: the need  for a multidisciplinary  support and monitoring  network for women who  experienced fetal loss was  evident. From this study, a  routine of care for grief  can be implemented in  Brazil based on  experiences in Canada.
Clinical 
qualitative
As principais causas de  natimortos com 22  semanas ou mais de  gestação no Brasil e no  Canadá foram  complicações de placenta,  cordão e membrana,  condições maternas e  malformações congênitas.  Quanto às características  das mães e de sua  gestação, predominou a  idade materna entre 20 a  34 anos. as mulheres  relataram todos os detalhes  de sua perda. Descreveram  a sequência dos  acontecimentos, com  lembranças do dia da  semana ocorrido, peso e  fisionomia do feto. Assim,  observou-se que quando se  trata da morte de um filho,  os sentimentos e o sofrimento decorrentes da  circunstância da morte são  preservados e revividos a  cada lembrança, e nem  sempre o luto é esquecido  com o passar do tempo.
2015- 
07-01
IranSocial  
support:  
An  
approach  to  
maintainin g the  
health of  
women  
who have  experienc ed  
stillbirth
Stillbirth is one of the  deepest losses that can  inflict a broad range of  cognitive, mental,  spiritual, and physical  turmoil. Many researchers  believe that the failure to  provide the care required  by health teams during  the hard times is the main  determinant of maternal  mental health in the  future. In other words,  social support can  significantly improve the  mental health outcomes of  mothers after stillbirth.  This study aimed toexplore social support to  aid mothers in adaptation  after the experience of  stillbirthQualitativ 
e
As categorias extraídas  mostraram o tipo de apoio  adequado que pode  melhorar a saúde das  mulheres que tiveram nado 
morto. Os resultados do  estudo mostraram que  fornece apoio social às  mulheres as ajudou a lidar  com o luto causado pela  morte do feto. Muitas  dessas mulheres relataram  que receber apoio  emocional de familiares foi  eficaz na aceitação e  adaptação à questão.  Receber apoio emocional  do cônjuge, como a pessoa
mais próxima delas, foi  muito eficaz na sua saúde  mental. Muitas mães comentaram que  necessitam do apoio dos  centros de saúde e dos  profissionais de saúde para  obterem informações sobre  os cuidados necessários  para futuras gestações. De  facto, muitas destas  mulheres mencionaram a  necessidade de  acompanhamento por  profissionais de saúde após  o parto para o diagnóstico  de perturbações mentais e  encaminhamento para  conselheiros, se  necessário, como apoio  necessário após o parto.
2021- 
01-06
Southea 
st Brazil
The  
perinatal  
bereavem ent  
project:  
developm ent and  
evaluation  of  
supportive  guidelines  for  
families  
experienci ng stillbirthand  
neonatal  
death in  
Southeast  Brazil-a  
quasi 
experimen tal before and-after  
study.
For most parents, getting  pregnant means having a  child. Generally, the  
couple outlines plans and  has expectations  
regarding the baby. When  these plans are  
interrupted because of a  perinatal loss, it turns out  to be a traumatic  
experience for the family.  Validating the grief of  these losses has been a  challenge to Brazilian  society,which is evident  considering the childbirth care offered to bereaved  families in maternity  
wards. Positively  
assessed care that brings  physical and emotional  memories about the baby  has a positive impact on  the bereavement process  that family undergoes.  Therefore, this study aims  to assess the effects  
supportive guidelines  have on mental health.  They were designed to  assist grieving parents  and their families while  undergoing perinatal loss  in public maternities in  Ribeirão Preto, São Paulo  state, Brazil.







Qualitativ 
e and  
quasi 
experimen tal
Retrata sobre a abordagem  às mulheres e famílias que  perderam seus bebês  durante a gestação,  trabalho de parto ou pós 
parto deve seguir uma  diretriz de apoio específica,  que deve ser adaptada  localmente pelas  maternidades brasileiras. A  forma como esse tema tem  sido abordado pelos  profissionais de saúde e  pelas maternidades pode  impactar o processo de forma positiva ou negativa.Quando as emoções  negativas prevalecem, a  abordagem técnica pode  produzir efeitos  psicológicos adversos e  duradouros que podem  permanecer por muito  tempo, às vezes até por  toda a vida
2018- 
01-01
Southm 
ead  
Hospital  |  
Westbur y | Trym  | Bristol |  West of  England  |  
Guildfor 
d |  Health  
Educatio n  
England  | UK
All  
bereaved  parents  
are  
entitled to  good care  after  
stillbirth: a  mixed 
methods  
multicentr e study  (INSIGHT )
To understand challenges  in care after stillbirth and  provide tailored solutionsThematic  analysisHá uma variação  inaceitável nos cuidados  após o natimorto e  interações insensíveis entre  a equipe e os pais  enlutados. Compreender as  necessidades dos pais,  incluindo a razão pela qual  pedem uma cesariana,  facilitará a tomada de  decisões conjuntas. Todo  pai enlutado tem direito a  cuidados bons e  respeitosos.
2023- 
02-01
IrelandBereaved  parents  
involveme nt in  
maternity  hospital  
perinatal  
death  
review  
processes : ‘Nobody  even  
thought to  ask us  
anything
The death of a baby is  devastating for parents,  families and staff involved.  Involving bereaved  
parents in their baby’s  care and in the maternity  hospital perinatal death  review can help parents  manage their  
bereavement and plan for  the future. In Ireland,  
bereaved parents  
generally have not been  involved in this review  process. The aim of our  study was to assess  
parents’ perception of how  they may be appropriately  involved in the maternity  hospital perinatal death  review in ways that benefit  them and the review  
process itsel
Thematic  analysisA opinião dos pais quando  perdem seus filhos e como  a equipe multidisciplinar  poderia ter agido. Quando  os pais enlutados são  incluídos de forma  significativa nas avaliações  de mortes perinatais das  maternidades, eles sentem  que as suas preocupações  são ouvidas e as suas  opiniões são apreciadas
2021- 
01-01
New  
Delhi |  
Safdarju 
ng  
Hospital  | India
Grief  
reaction  
and  
psychoso 
cial  
impacts of  child  
death and  stillbirth  
on  
bereaved  North  
Indian  
parents: A qualitative  study
Grief following stillbirth  and child death are one of  the most traumatic  
experience for parents  with psychosomatic,  
social and economic  
impacts. The grief profile,  severity and its impacts in  Indian context are not well  
documented. This study  documented the grief and  coping experiences of the  Indian parents following  stillbirth and child death
Qualitativ 
e
Os pais sofreram com  tristeza, descrença, fortes  dores e desamparo ao  saberem da  morte/natimorto. Os  médicos e familiares  geralmente preferiam não  declarar o óbito/natimorto  diretamente à mãe. Todas  as mães expressaram  reações graves de luto  imediato, incluindo  desmaios para algumas. Os  pais também sofrerammuito, mas não se  expressaram abertamente  e tentaram apoiar suas  esposas e familiares. 
As crianças são  
uma representação  simbólica da capacidade  reprodutiva, da esperança  futura e do capital social  dos pais. Com a morte ou  natimorto infantil, os pais  percebem isso como perda  de uma parte de si, fim do  sonho e perda de  competência e poder.
2022- 
06-15
Uganda  
|  
Kampala  | Mbale
“Your  
heart  
keeps  
bleeding”:  lived  
experienc es of  parents  
with a  perinatal  
death in  Northern  
Uganda
To describe the lived  experiences of parents  following perinatal death  in Lira district, Northern  UgandaQualitativ 
e
Esses artigos informam  temas bastante importantes  para falar sobre o luto: Dor;  Confuso; Enterro; Perda  dupla – bebê perdido e  recursos financeiros;  Perder um bebê está  associado a vários papéis  estressantes; Homens  priorizaram a saúde de  suas parceiras; Fatores  agravantes; Reação do  profissional de saúde;  Culpa; Desafios conjugais;  Visão de crianças da  mesma idade; Tratamento  médico da mãe do falecido;  Confortar e revelar a causa  de uma morte perinatal;  Apoio familiar e  comunitário.
2013- 
11-01
York |  
USA
Perinatal  
bereavem ent: a  principle 
based  
concept  
analysis
The concept of perinatal  bereavement emerged in  the scientific literature  during the 1970s.  Perinatal bereavement is  a practice-based concept,  although it is not well 
defined in the scientific  literature and is often  intermingled with the  concepts of mourning and  grief.
AnalysisO luto perinatal é um  fenômeno complexo e  multifacetado que impacta  vidas em todo o mundo. No  entanto, foi apenas nas  últimas quatro décadas que  os profissionais de saúde  reconheceram o impacto do  luto perinatal para os pais  que vivenciam a perda de  um bebé. Os enfermeiros  descreveram o trabalho de  cuidar de um casal que  está passando por perda  perinatal e luto como  desconfortável, desafiador  e opressor
2019- 
01-01
Mechani 
csburg
Support  
for Young  Black  
Urban  
Women  
After  
Perinatal  
Loss
To describe the  
bereavement support  needs of black urban  
women in late  
adolescence after  
perinatal loss.
AnalysisEmbora as mulheres jovens  negras tenham uma  elevada taxa de perda  perinatal, pouca  investigação foi feita para  descrever a sua  experiência de luto  perinatal. 
Os enfermeiros  
podem oferecer apoio ao  luto culturalmente sensível  em vários pontos de  transição na trajetória do  luto perinatal. 
Adolescentes  
negros que vivenciam  perda perinatal precisam de  informações claras e  compaixão durante o  evento de perda.

3.1 Luto 

O medo de um objeto, experiência, ou até mesmo de animais, é algo que  geralmente conseguimos gerenciar em nossas vidas. Frequentemente, evitamos as  coisas que nos assustam e continuamos com nossas rotinas sem maiores  preocupações. Mesmo quando não podemos evitá-los, muitas vezes encontramos  maneiras de enfrentar esses medos, mesmo que isso seja um desafio. Além disso,  sabemos desde cedo que a vida é finita e que eventualmente perderemos pessoas  que amamos. No entanto, é interessante notar que, embora seja uma parte  inevitável da vida, o medo de perder alguém que amamos muitas vezes nos parece  irracional.  

Psicólogos afirmam que esse tipo de medo pode se tornar um problema muito  grave quando permeia toda a nossa vida. Por exemplo, uma pessoa que passa por  uma perda e, com receio de viver aquela situação novamente, se fecha para a vida.  Quando esse temor leva as pessoas a se afastarem de entes queridos, evitarem  formar relacionamentos e aproveitarem novas experiências, é preciso parar e refletir (PSICÓLOGA CONSULTÓRIO, 2021). O medo, talvez, é um indicativo de que o  processo do luto não foi vivido de forma completa. Mas o que seria o luto? Segundo  Cavalcanti, Samczuk e Bonfim (2013) o luto é caracterizado como uma perda de um  elo significativo entre uma pessoa e seu objeto, portanto um fenômeno mental  natural e constante durante o desenvolvimento humano. Nesse contexto, por se  tratar de um evento constante, acaba implicando diretamente no trabalho de  profissionais da saúde, tornando-se um conhecimento necessário para o amparo  adequado àqueles que sofrem a perda. 

O luto materno neonatal é uma experiência complexa e dolorosa enfrentada  por mães que perdem seus filhos pouco tempo após o nascimento, até os 29 dias de  vida do bebê. Esta forma de luto é desafiadora, já que as mães são inundadas por  um turbilhão de emoções ao confrontar o impacto devastador de perder um filho  recém-nascido. Esse processo de luto pode se prolongar ao longo do tempo, e as  mães continuam a sentir a dor da perda muito depois do falecimento do bebê. Cada mãe trilha essa jornada de maneira única, e não há um cronograma definido para a  superação do luto. 

Conforme Salgado e Custódio (2022) no Brasil, há aproximadamente 8 óbitos  neonatais para cada 100.000 nascidos vivos e cerca de 28 mil óbitos fetais ao ano;  ainda assim, este é um tema pouco debatido, uma vez que a perda  gestacional/neonatal ainda é socialmente desconsiderada e esta categoria de luto  não é reconhecida. Por este motivo, o enlutado muitas vezes não se sente  autorizado a expressar o luto. Sabe-se que a melhor estratégia para entrar em  contato com a dor é falando sobre ela, sentindo e vivenciando-a; só assim, a perda  pode ser elaborada. O tempo para a vivência do luto e para a elaboração da perda é  individual e importante para melhorar a capacidade de lidar com a morte.  

O conceito de luto perinatal não foi definido clara e explicitamente neste  conjunto de dados, no entanto, ao discutir o luto perinatal, alguns autores definiram o  termo mais geral de luto como após a perda por morte de um ente querido próximo  ou de outra pessoa significativa (FENSTERMACHER, 2013). A especificação de que  o luto segue a perda até a morte é uma distinção importante a ser observada. Assim,  o luto perinatal, tal como é implicitamente definido na literatura, não acompanha  outros tipos de perda materna, como a entrega de um bebé para adoção, o  nascimento de um bebé inferior ao normal, uma experiência de nascimento inferior  ao esperado ou infertilidade. 

A definição do luto perinatal desempenha um papel fundamental na  orientação de enfermeiros na prestação de apoio a indivíduos enlutados. Neste  contexto, a falta de definições explícitas nos dados em consideração nos leva a  depender do significado implícito presente na literatura para elaborar uma definição  de luto perinatal. A única consistência de significado implícito encontrada nestes  dados é que o luto perinatal se refere ao período que sucede à perda de uma  gravidez ou à morte de um bebê. A ausência de uma definição teórica estabelecida  torna-se especialmente preocupante quando consideramos os estudos científicos  que avaliam as implicações do luto perinatal. 

A perda de um filho recém-nascido é, sem dúvida, uma experiência marcada  por profunda dor e complexidade. Essa dor pode perdurar por um período  prolongado, e cada mãe a enfrenta de maneira singular, sem um prazo estabelecido para superar o luto. A jornada de luto após a perda de um filho recém-nascido pode  ser longa e desafiadora, marcada por uma ampla gama de emoções. É crucial  reconhecer a singularidade de cada experiência de luto e oferecer apoio emocional e  profissional a todas as mães que enfrentam essa situação. O apoio ao luto deve ser  fornecido através do continuum da experiência além do hospital para evitar  respostas complexas de luto. (FENSTERMACHER e HUPCEY et al, 2020 apud  DONOVAN et al., 2015; INATI et al., 2017) 

3.2 Profissionais  

Uma questão básica ao se tratar de luto em ambiente hospitalar é o preparo  da equipe profissional de enfermagem para o auxílio na elaboração e enfrentamento  da perda. Este subtema envolve as relações interpessoais dentro do hospital. A  necessidade de educação especializada em perda neonatal foi o tema mais  abordado pelos autores (MARTINS, 2023). Os enfermeiros precisam aprender mais  sobre como abordar os pais, dar más notícias, apoiá-los, saber o que dizer e poder  transmitir compreensão científica do que aconteceu. Contudo, existem algumas  dificuldades que os enfermeiros passam durante o processo e é necessário se ter  uma atenção a isso e compreender a percepção do enfermeiro sobre o cuidado  prestado na perda gestacional e as dificuldades durante o processo. Os pais,  familiares e profissionais de saúde não esperam a interrupção da gravidez ou a  morte súbita do bebê, o que a torna numa situação mais traumática e de difícil  enfrentamento.  

Segundo Martins (2023) as problemáticas mais listadas pelos entrevistados  foram: Condições de trabalho estressantes, características pessoais e a jornada do  paciente. São tópicos e efeitos adversos que fogem do controle do profissional e no  mundo do cuidado que envolve pessoas em condições de risco, o cuidador  necessita de atenção e capacitação para atuar com segurança, necessitando  também de cuidados. O cuidado dos enfermeiros que lidam com a perda gestacional  é claramente centrado no paciente. No entanto, a educação continuada e a  supervisão das práticas promoveram não só melhores cuidados, mas também maior  resiliência face ao testemunho de sofrimento emocional. 

Foi identificada uma lacuna no que se refere a estudos, atividades, ouvidoria,  terapia, atenção aos profissionais diante da morte de seus pacientes em neonatal.  Nesse espaço, os altos índices de mortalidade neonatal tornam os profissionais  frequentemente expostos ao evento morte e aos conflitos que dela advêm,  reforçando a necessidade de nos ocuparmos com os sentimentos dos profissionais  diante da morte de um recém-nascido. Para poder oferecer uma melhor assistência,  o profissional também necessita de conforto (FARRALES et al., 2020), treinamento,  debriefing e apoio profissional (HOMER et al., 2010). É necessário formar os  prestadores de cuidados de saúde em aconselhamento no luto, para lhes permitir  apoiar melhor os pais enlutados. (ARACH; KIGULI; NANKABIRWA; NAKASUJJA;  MUKUNYA; MUSABA; NAPYO; TUMWINE; NDEEZI; RUJUMBA, 2022) 

3.3 Saúde Mental 

Segundo Mickel e Freitas (2015), na sociedade brasileira contemporânea, os  enlutados deixaram de expressar seu sofrimento por julgarem que os outros não são  capazes de compreendê-los, compreensão que as entrevistadas de seu estudo  afirmaram ter encontrado na relação com suas psicoterapeutas. Em um contexto  social que reforça a crença de que a mãe deve ser a principal responsável pela  proteção e cuidado do filho, a morte dele é percebida por ela como um fracasso em  sua função materna. 

A literatura se refere ao luto materno como um evento destruidor, capaz de  estremecer por algum tempo os “pilares da vida” (MICKEL, FREITAS et al, 2015  apud LOPES & PINHEIRO, 2013; OISHI, 2014). Em um momento no qual as mães  enlutadas passavam por uma experiência de instabilidade, com o estremecimento  daquilo que antes lhes sustentava, a psicoterapia lhes ofereceu o suporte de que  necessitavam. A experiência de sentir-se livre para falar e expressar seus  sentimentos, é apontada pela literatura como uma indicação de progresso no  processo psicoterapêutico (MICKEL, FREITAS et al, 2015 apud GOMES et al., 1988).  

A perda de um filho provoca a quebra do tabu da imortalidade, como apontado pela  literatura (FREITAS & MICHEL, 2015), retirando o caráter impessoal que a morte  possuía na vida dessas mães. Nesse sentido, é compreensível que em um primeiro momento a morte de um filho seja um evento percebido como irreal ou absurdo,  visto que essa perda rompe com a crença do senso comum de que há uma “ordem  natural”, segundo a qual os filhos devem morrer após os pais 

As mulheres que tiveram uma perda neonatal podem expressar culpa e  questionar a sua competência para gerar um bebé saudável. Além disso, não só o  processo de luto pode durar meses e anos, mas também impacta as gestações  subsequente a crença de que a morte de uma criança durante a gravidez ou após o  nascimento seria menos difícil de lidar em comparação com a morte de uma criança  mais velha não é verdadeira (SCOTT, 2011). A principal diferença entre estas duas  situações é que a sociedade não reconhece as perdas perinatais; por outro lado, a  sociedade a minimiza, invisibiliza e silencia a experiência vivida pelos pais. O  cuidado avaliado positivamente e que traz lembranças físicas e emocionais do bebê  impacta positivamente no processo de luto pelo qual a família passa (SALGADO,  ANDREUCCI, GOMES e SOUZA, 2021) 

Este tipo de luto é denominado luto privado de direitos, conhecido como “(…)  uma perda que não é ou não pode ser reconhecida abertamente, lamentada  publicamente ou apoiada socialmente” (DOKA, 1989, p. 04). Portanto, os pais não  têm seus sentimentos de luto, tristeza, vazio e desamparo socialmente validados (CASSELATO, 2005, p. 19-33). Dada a importância da saúde física e mental para as  mulheres que passam por esse processo, os profissionais de saúde devem  considerar seus sentimentos, ajudando-as a lidar com a culpa e a aliviar as emoções  negativas (MURPHY, 2012) 

4. Conclusão 

A morte neonatal e a morte infantil têm impactos psicossomáticos, sociais e  econômicos duradouros sobre os pais, que são geralmente ignorados. É necessário  apoio sociocultural e religioso adequado ao luto dos pais para reduzir os impactos.  Acessamos nas literaturas algumas formas de tentar diminuir os danos emocionais  causados pela perda, como coletar lembranças, perguntando para os pais se  gostariam de tirar uma foto de seu filho, pegar as digitais do pezinho, pegar uma  mecha de cabelo ou até mesmo guardar a roupinha que o recém-nascido estaria usando, essas lembranças são eternas. Não é toda mãe que gostaria de guardar  para sempre algo de seu filho que se foi, mas muitas mães por causa do choque da  perda, no momento não chegam nem a pensar nessas possibilidades, e pode ficar  um arrependimento junto ao luto depois de uns dias. 

Além disso, analisamos os aspectos relacionados ao luto das mães que  passam por essa situação dolorosa e consideramos as possibilidades de tratamento  adequado, destacando o papel crítico que os profissionais de saúde desempenham,  especialmente os enfermeiros, na assistência a essas mulheres. É crucial ressaltar a  importância do luto vivido por mães que enfrentam a perda neonatal,  independentemente do estágio ou período da gestação em que ocorre. Essa  pesquisa reforça a necessidade de que o sofrimento materno seja não apenas  reconhecido, mas também respeitado em todas as etapas da assistência médica e  do atendimento psicossocial. 

O estudo enfatiza que o apoio adequado durante o luto materno pós-parto  pode ter um impacto positivo na saúde mental das mães e em sua capacidade de  enfrentar essa experiência desafiadora. Portanto, é fundamental que os profissionais  de saúde continuem a aprimorar seu entendimento do luto perinatal e a desenvolver  abordagens eficazes para fornecer suporte a essas mulheres, reconhecendo que  cada experiência de luto é única e merece atenção individualizada. Para tanto, se  faz necessária uma definição teórica estabelecida sobre o termo Luto Neonatal, a  fim de orientar as ações de profissionais da enfermagem na prestação de apoio a  indivíduos enlutados.  

Esta pesquisa busca contribuir para a construção de um ambiente de  assistência médica que promova o bem-estar emocional das mães que enfrentam a  perda neonatal, permitindo-lhes o espaço e o suporte necessários para elaborar seu  luto e reconstruir suas vidas de forma saudável e resiliente. Refletindo sobre os  possíveis modos de cuidado que podem ser oferecidos aos enlutados, a experiência  vivida dos próprios enlutados não pode ser desprezada, dar visibilidade a uma  vivência singular que tem o potencial de sensibilizar e preparar enfermeiros para  lidarem com pessoas que vivenciam o luto, além de abrir caminho para novas  pesquisas que visem o aprimoramento da prática psicoterápica com mães que  perderam seus filhos.

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1Ana Carolina Ribeiro Negrão Graduanda de Enfermagem do Curso Superior de  Enfermagem do Instituto de Educação Superior de Brasília Campus Liliane Barbosa e-mail:  carolina.r.negrao@gmail.com 

2Izabella Araújo Morais professora do Curso Superior de Enfermagem do Instituto de  Brasília Campus Liliane Barbosa. Mestre em Programa de Ciência e Tecnologia em Saúde  (UNB). E-mail: bellamoraisiza@gmail.com