REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10139489
Ana Carolina Ribeiro Negrão1
Izabella Araújo Morais2
RESUMO
Introdução: Neste estudo, foi descrita uma revisão integrativa que relata as experiências maternas de mulheres que perderam seus filhos após o parto e o cuidado de enfermagem necessário para amenizar o luto e sofrimento desta mãe. Metodologia: Revisão integrativa, feita uma busca nas bases de dados verticais: Scielo, Pubmed, Ebsco, Lilacs, Medline. Foram encontrados os descritores: (“Nursing Care” OR Nursing) AND Bereavement AND (“Perinatal Death” OR “Mental Health”) NOT (“Fetal Death”). Nos critérios de inclusão, foram selecionados artigos dentro de 10 anos (2013 a 2023), na língua portuguesa, inglês e espanhol, artigos gratuitos, completos e disponíveis na internet, ebooks e pesquisa em bibliotecas. Nos critérios de exclusão foram desconsiderados os artigos pagos, que ultrapassam o limite de 10 anos, que não abordaram o tema em específico, sem acesso ao texto integral, abortos eletivos e gravidez subsequente. Resultado: Uma questão básica ao se tratar de luto em ambiente hospitalar é o preparo da equipe profissional de enfermagem para o auxílio na elaboração e enfrentamento da perda. As mães demonstraram dificuldades na expressão de seus sentimentos, o que agrava a vivência da perda e a elaboração do luto. Os profissionais de saúde devem considerar seus sentimentos, ajudando-as a lidar com a culpa e a aliviar as emoções negativas. Conclusão: Este estudo enfatiza que o apoio adequado durante o luto materno pós-parto pode ter um impacto positivo na saúde mental das mães e em sua capacidade de enfrentar essa experiência desafiadora. Também propõe a definição do termo “Luto Neonatal” para orientar a assistência e pesquisa, visando a implementação de ações e iniciativas que visam oferecer suporte emocional, compreensão e cuidado às mães que enfrentam o luto, ao mesmo tempo em que busca conscientizar os profissionais de saúde sobre a importância de abordagens sensíveis e empáticas ao lidar com as mães enlutadas.
Palavras-chave: Cuidado de enfermagem; luto materno; perda perinatal; saúde mental; espiritualidade.
ABSTRACT
Introduction: In this study, the maternal experience of women who lost their children after birth and the nursing care necessary to alleviate this mother’s grief and suffering was described. Methodology: Integrative review, carried out a search in vertical databases: Scielo, Pubmed, Ebsco, Lilacs, Medline. The descriptors were found: (“Nursing Care” OR Nursing) AND Bereavement AND (“Perinatal Death” OR “Mental Health”) NOT (“Fetal Death”). In the inclusion criteria, articles were selected within 10 years (2013 to 2023), in Portuguese, English and Spanish, free, complete articles available on the internet, ebooks and library research. The exclusion criteria excluded paid articles, which exceed the limit of 10 years, which did not address the specific topic, without access to the full text, elective abortions and subsequent pregnancies. Result: A basic issue when dealing with grief in a hospital environment is the preparation of the professional nursing team to assist in processing and coping with the loss. Mothers demonstrated difficulties in expressing their feelings, which worsens the experience of loss and the elaboration of grief. Health professionals should consider their feelings, helping them deal with guilt and alleviate negative emotions. Conclusion: This study emphasizes that adequate support during postpartum maternal grief can have a positive impact on mothers’ mental health and their ability to cope with this challenging experience. It also proposes the definition of the term “Neonatal Grief” to guide assistance and research, aiming at the implementation of actions and initiatives that aim to offer emotional support, understanding and care to mothers facing grief, while at the same time seeking to raise awareness among health care professionals. health about the importance of sensitive and empathetic approaches when dealing with bereaved mothers.
Keywords: Nursing care; maternal mourning; perinatal loss; mental health; spirituality
1 INTRODUÇÃO
Vivenciar a perda de um filho(a) pode significar o enfrentamento de muitas dificuldades. O conjunto de reações diante de uma perda e a tentativa de reconstruir e organizar a vida são parte do luto (MAZORRA, 2009). Estas perdas geram uma resposta variada, dinâmica e altamente individualizada nos pais (DIAS, 2017) e o seu significado é muito difícil de prever (HUTTI, 2017). Principalmente nas gestações desejadas, os pais sofrem múltiplas perdas: a perda de um filho esperado, de aspectos de si mesmos, de uma etapa da vida, de um sonho e de uma criação e realização (DALLAY, 2013). Muitas mulheres sentem uma enorme necessidade de engravidar novamente como se sentissem um vazio dentro delas. Enquanto outras famílias não querem ter outro filho, com medo de vivenciar novamente a dor da perda.
A família e a enfermagem exercem importante influência durante o processo de luto e em sua compreensão. Seu apoio é essencial para os pais, bem como de programas que ofereçam auxílio profissional para que eles possam se sentir amparados e compreendidos. Os enlutados devem ser encorajados a comunicar os próprios sentimentos (PARKES, 2011). A confiança no ambiente permite que eles tenham condições de agir de forma criativa e espontânea, conseguindo vivenciar o luto e dar continuidade ao seu desenvolvimento emocional. Isso começa desde o hospital, o primeiro contato dessa mãe enlutada é com a equipe de enfermagem.
Com base nas bibliografias consultadas, há uma necessidade de reconhecimento da morte neonatal pela sociedade, pois o apoio dos profissionais de saúde, da família e dos amigos é fundamental para o enfrentamento e superação da perda pelos pais enlutados. Diante da literatura, busco responder às seguintes questões: Como a equipe multiprofissional pode auxiliar as mulheres que perderam seus filhos pós-parto? Como abordar os pais e o que dizer? Como preparar a equipe de enfermagem para enfrentar uma perda?
A perda fetal, conforme definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), abrange a ausência de sinais específicos do feto antes da expulsão do corpo da mãe, independentemente da idade gestacional. Alarmantemente, quase 25% das gestações conhecidas terminam em perda, e essa experiência desafiadora pode ter repercussões sérias na saúde mental e no bem-estar das mulheres e casais afetados. A perda gestacional frequentemente desencadeia sentimentos de choque, fracasso, culpa e a busca incessante por respostas. Esses sentimentos, por sua vez, podem levar ao isolamento social, ansiedade, depressão e até mesmo a manifestações de doenças psicossomáticas.
Segundo Paris, Montigny e Pelloso (2021) a definição da OMS sobre perda perinatal abrange natimortos (a partir de 22 semanas de gestação com peso ao nascer superior a 500g) e morte neonatal (perda até 7 dias após o nascimento). No entanto, a literatura aceita extensamente esse conceito para incluir qualquer perda espontânea até 28 dias após o nascimento. Portanto, abortos espontâneos, natimortos e mortes neonatais estão todos compreendidos no âmbito da perda perinatal.
Este trabalho oferece um olhar compassivo sobre a vida das mulheres que enfrentam a perda de seus filhos após o parto. Iremos explorar os aspectos do luto, as dificuldades enfrentadas, e a importância do suporte físico e emocional nesses momentos difíceis. Além disso, abordamos o papel crucial desempenhado pelos enfermeiros na prestação desse cuidado sensível e do treinamento necessário para a equipe multidisciplinar que lida com situações de perda perinatal.
Portanto, são objetivos deste estudo: Compreender como a equipe multiprofissional pode auxiliar no cuidado à saúde mental das mulheres que perderam seus filhos pós-parto, investigando e analisando a experiência materna de mulheres que perderam seus filhos pós-parto em seus aspectos social, familiar, emocional e o papel da equipe de enfermagem.
2 METODOLOGIA
O presente estudo foi realizado uma revisão integrativa, que consiste em uma construção de análise ampla da literatura, colaborando para discussões sobre métodos e resultado de pesquisas, como também reflexões em realizações de futuros estudos. Nesse método é necessário seguir padrões de rigor metodológico, clareza na apresentação dos resultados. Este método também permite a combinação de dados de literatura teórica e empírica com a finalidade de fazer uma revisão da teoria a respeito dos cuidados da Enfermagem com pacientes neonatal. A revisão integrativa da literatura consiste em 6 etapas: ¹ Identificação do tema e seleção da hipótese ou questão de pesquisa para elaboração da revisão integrativa. ² Estabelecimento de critérios para inclusão e exclusão de estudos/ amostragem ou busca na literatura. ³ Definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados/ categorização dos estudos. ⁴ Avaliação dos estudos incluídos na revisão integrativa. ⁵ Interpretação dos resultados. ⁶ Apresentação da revisão/ síntese do conhecimento. (https://www.fca.unesp.br/Home/Biblioteca/tipos de-evisao-de-literatura.pdf)).
2.1 Identificação dos estudos relevantes
Após a definição do tema, foi definida a questão norteadora utilizando como guia a estratégia PICO: P- (população ou paciente) Mulheres que perderam seus filhos após o parto; I- (intervenção) Assistência da equipe multiprofissional voltado a saúde mental das mães; C- (comparação/ tratamento) não há tratamento ou placebo; O- (outcome ou resultado) O resultado esperado é um luto não patológico, podendo voltar a vida e rotina mais cedo, com menos complicações na saúde. O tema foi escolhido com base em uma vivência pessoal e a vontade de querer fazer a diferença no meu meio profissional.
Foi feita uma busca nas bases de dados verticais, como: Scielo, Pubmed, Ebsco, Lilacs, Medline. Por meio da base de dados Decs foram encontrados os descritores da saúde, são eles: Descritores – (“Nursing Care” OR Nursing) AND Bereavement AND (“Perinatal Death” OR “Mental Health”) NOT (“Fetal Death”). Nos critérios de inclusão, foram selecionados artigos dentro de 10 anos (2013 a 2023), na língua portuguesa, inglês e espanhol, utilizando apenas artigos gratuitos, completos e disponíveis na internet, ebooks e pesquisa em bibliotecas. Para os critérios de exclusão foram desconsiderados os artigos pagos, que ultrapassam o limite de 10 anos, que não abordaram o tema em específico, ênfase na figura paterna, sem acesso ao texto integral, abortos eletivos e gravidez subsequente.
Foi realizado um projeto piloto para validação dos descritores, em relação à resposta da questão norteadora, os quais foram lidos 15% do total de artigos encontrados, foram escolhidos 37 artigos. Os artigos foram selecionados a partir da leitura analítica, apoiada na literatura sobre enfermagem neonatal e mulheres que perderam seus filhos pós-parto, com enfoque na saúde mental e o enfrentamento do luto.
A busca dos estudos que seriam revisados se iniciou após a montagem da questão norteadora. Primeiro a escolha das bases de dados se deu através de um processo de decisão, baseados nos objetivos presente no trabalho. A partir dos critérios de inclusão e exclusão de artigos, foi definido quais tipos de publicações entraram na revisão (que podem ser artigos, revistas, resumos, livros etc.) e qual seria o recorte temporal. Conforme Souza, Silva e Carvalho (2010), ao tentarem definir a revisão integrativa no contexto de estudos na área da enfermagem, as autoras sugerem que a etapa inicial dos estudos seria uma forma de pesquisa bibliográfica e, posteriormente, referem-se à revisão de literatura de forma complementar à sua definição.
A pesquisa bibliográfica é uma das melhores formas de iniciar um estudo, buscando semelhanças e diferenças entre os artigos levantados nos documentos de referência. A compilação de informações em meios eletrônicos é um grande avanço para os pesquisadores, democratizando o acesso e proporcionando atualização frequente. O propósito geral de uma revisão de literatura de pesquisa é reunir conhecimentos sobre um tópico, ajudando nas fundações de um estudo significativo para a enfermagem. (SOUZA; SILVA; CARVALHO, 2010, p. 103).
. 2.2 Seleção e procedimentos de análise dos estudos
Para este trabalho, foi incluído apenas os artigos desenhados sob a ótica do “cuidado de enfermagem”, abarcando “luto materno perinatal” e “saúde mental” sendo as palavras-chave encontradas: Cuidado de enfermagem; luto materno; perda perinatal; saúde mental; cuidado espiritual; e em inglês: Nursing care; maternal grief; perinatal loss; mental health; spirituality. Selecionando, posteriormente, as que melhor se enquadram no estudo: Luto materno, perda perinatal, cuidado de enfermagem, espiritualidade.
O levantamento dos artigos se iniciou em fevereiro de 2023; primeiramente realizou-se uma busca preliminar nas bases de dados Lilacs, Scielo e Pubmed, com intuito de buscar revisões integrativas que, por fim, não foram encontradas. Posteriormente, buscaram-se nas mesmas bases de dados, artigos que abordaram o tema -luto materno perinatal- para analisar os principais descritores e palavras chave utilizadas, sendo os principais termos “Luto materno”, “Cuidado de Enfermagem”, “Perda perinatal”, “luto”; e em inglês “perinatal loss”, “nursing care”, “bereavement”. Após essa etapa, foi realizada a localização dos descritores na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), através da opção de pesquisa DeCS/MeSH, utilizando os operadores Booleanos (OR), (AND) e (NOT).
Na segunda etapa os descritores ficaram: (“Nursing Care”) AND (Bereavement) AND (“Perinatal Death”) AND (“Mental Health”) NOT (“Fetal Death”). Dessa maneira, após a localização dos descritores e sinonímias, realizou-se a busca eletrônica nas seguintes bases de dados: Scielo, Pubmed, Ebsco, Lilacs, Medline.
2.3 Prisma
Para a construção do fluxograma prisma de seleção de dados, utilizou-se os tópicos: Identificação, triagem, elegibilidade e inclusão. Como dito anteriormente, a pesquisa foi realizada em cinco base de dados, sendo encontrados um total de 169 artigos nas bases de dados Medline (n=4), Lilacs (n=6), Pubmed (n=78), Scielo (n=25), Science Direct (n=14), Ebsco (n=33), e à parte foram encontrados (n=15). Primeiramente, foram excluídos artigos duplicados (n=6), depois, os artigos excluídos com base na leitura do título e resumo, posteriormente, foi realizada a aplicação dos critérios de exclusão já mencionados, totalizando (n=55) artigos excluídos. Artigos com texto integral para aplicação de critérios de elegibilidade (n=114), dentro deste resultado foram excluídos textos integrais (n=78) e que se encaixavam nos critérios de exclusão; artigos pagos, fora do recorte temporal, não abordaram o tema em específico, deu ênfase na figura paterna, sem acesso ao texto inteiro, abortos eletivos, gravidez subsequente. Sendo incluídos no total (n=14).
3 Resultado e Discussão
Este quadro foi dividido em 14 artigos, que foram obtidos após a análise da revisão o qual será descrito abaixo: ano, pais, título, objetivo geral, método do estudo e observações. As observações são de cunho de entendimento da autora e sua opinião sobre os artigos lidos. O objetivo deste quadro foi a facilidade na busca de informações dos artigos selecionados.
Ano | País | Título | Objetivo geral | Método do estudo | Observações |
01/09/2023 | Amsterdã | Pregnanc y after perinatal loss: A meta ethnograp hy from a women’s perspectiv e | This study uses a meta ethnography to synthesize qualitative research on the experiences of women during pregnancies after one or more perinatal losses | Qualitativ e research | Este artigo retrata o emocional de mulheres que tiveram perdas gestacionais e como foi para elas passarem por uma próxima gestação, apoio familiar, conjugal e o contato e apoio da enfermagem |
2023- 02-01 | “Death is a sensitive topic when you are surrounde d by life”: Nurses experienc es with pregnancy loss | .Although there is increasing evidence on the psychosocial adjustment and experiencing pregnancy loss from the patient’s perspective, few studies have investigated the nurses’ experience perceptions. This study aimed to understand the experience of nurses involved in pregnancy loss care based on the self fulfillment model of communication | A qualitative approach was developed through semi structured interviews to 16 nurses working in an Obstetrics and Maternal Fetal Departme nt of a local hospital. Based on grounded theory approach, data was analyzed with NVivo 12 software | Este artigo é voltado para a equipe de enfermagem e na forma de como lidar com uma perda neonatal, como abordar os pais e o que dizer. Foi mencionado para os profissionais terem apoio emocional e psicológico individual para ajudar e gerir melhor as emoções quando acontecer uma perda neo. Relata problemas nas instituições, como falta de ambiente para amparar os pais e a dificuldade em lidar com a perda quando se está rodeado de vida | |
2023- 09-01 | Departm ent of Nursing. Universit y of Granada , Spain | Good practices in perinatal bereavem ent care in public maternity hospitals in Southern Spain | To assess the attitudes and care practices of midwives and nurses in the province of Granada in relation to death care and perinatal bereavement, to determine their degree of adaptation to international standards and to identify possible differences in personal factors among those who best adapt to international recommendations | A local survey of 117 nurses and midwives from the five maternity hospitals in the province w as conducted using the Lucina questionn aire developed to explore profession als’ emotions, opinions, an d knowledg e during perinatal bereavem ent care | No sistema de saúde espanhol, são as parteiras que atendem o luto a partir das 28 semanas de gestação e os cuidados nas salas de parto de centros selecionados, onde a morte perinatal é mais tangível e dolorosa. Os resultados deste estudo apontam para algumas deficiências na adequação das instruções de partos e enfermeiros às normas internacionais de cuidado da morte e do luto perinatal na província de Granada e, consequentemente, áreas para melhoria. Superar essas deficiências requerem recursos de treinamento e conscientização, cujo design pode considerar, entre outros fatores, a categoria profissional dos profissionais de saúde |
2010-04-01 | Universidade Federal do Rio Grande No Norte. Departa mento de Enferma gem. Natal, RN | Percepções dos profission ais de enfermag em intensiva frente a morte do recém nascido | Este estudo tem comoobjetivos descrever as percepções dos profissionais de enfermagem diante da morte de recém-nascidos em unidade de terapia intensiva neonatal (UTIN). Pesquisa de abordagem qualitativa com enfoque fenomenológico. Foram entrevistados enfermeiros e técnicos de enfermagem de uma UTIN neonatal, respondendo a seguinte questão de pesquisa: Como você se sente diante da morte dorecém nascido na UTIN onde você trabalha? Emergiram do questionamento, acerca deste fenômeno, uma diversidade de sentimentos, como perda, compaixão, tristeza, o que resulta numa experiência do mundo sensível de cada um. A análise teve como aporte teórico tanto os autores que tratam da fenomenologia, como estudiosos do tema da morte. A partir da compreensão do fenômeno estudado, afirmarmos ser a mortedo recém-nascido para osprofissionais de enfermagem de uma UTIN uma vivência de sentimentos conflituosos, por vezes dolorosos, pela sua complexidade | Qualitativa | Mostra a perda neonatal na visão dos profissionais da saúde, como depreender da vivência dos respondentes diante do fenômeno estudado, a morte na UTIN é antes de tudo uma grande perda, provocando sentimentos de angústia, tristeza e empatia entre aqueles que lidam com a criança neste ambiente. Percebemos ser fundamental a compreensão de cada morte como sendo única, não devendo o profissional de enfermagem assumir uma postura de não aceitação ou inconformismo com a sua ocorrência a cada vez que ela acontecer, mas de perceber esse fenômeno como integrante íntimo e intrínseco do ciclo de vida do recém-nascido. |
2021- 01-01 | Universi dade Federal do Paraná, PR, Brasil | Psicotera pia e Luto: A Vivência de Mães Enlutadas | Pesquisas empíricas sobre psicoterapia ainda são escassas no Brasil. Uma das maneiras de melhor avaliar os processos psicoterapêuticos é por meio do relato dos pacientes. O processo psicoterápico de enlutados é pouco estudado, a despeito de sua demanda por psicoterapia. Não há, na literatura nacional, pesquisas que abordem especificamente a experiência de psicoterapia de mães enlutadas. O presente estudo se propõe a compreender como as mães vivenciam esse processo. Este é um estudo qualitativo, em que se utilizou o método fenomenológico. Foram entrevistadas quatro mães. Asentrevistas tiveram início com a pergunta disparadora: “Você pode relatar a vivência de seu processo terapêutico durante o luto?”. Depois de transcritos, os relatos foram analisados a partir dos quatro passos metodológicos desenvolvidos por Giorgi | Qualitativ o | As entrevistadas relataram que a psicoterapia lhes ajudou a retomar suas vidas. Alice apontou que a psicoterapeuta lhe auxiliou na compreensão de que a vida continua após a perda de um filho. Ela acredita que a experiência de ter passado por um processo psicoterápico foi fundamental para que tivesse forças para “voltar a viver”. A experiência de retomar a vida indica que uma mudança significativa foi vivenciada por essas mães no decorrer de seus processos psicoterápicos. Cabe ressaltar, no entanto, que essa experiência não representa o término do luto ou sua superação. |
2021- 01-01 | Brasil, Canadá | Professio nal practice in caring for maternal grief in the face of stillbirth in two countries | To understand professional care for maternal grief in the puerperium of stillbirth. Methods: a clinical qualitative study with all the women who had stillbirths living in Maringá (Brazil) and participating in the Center d’Études et de Recherche in Family Intervention at the University of Quebec in Outaouais in Gatineau (Canada). Semi structured interviews were carried out and the relevant aspects were categorized into themes. Results: the identified categories were: Assistance received in the puerperium with a focus on grief: hospital andoutpatient environment, and Professional support in coping with maternal grief after fetal loss: with contact and memories, without contact and without memories and impossibilities of contact with the baby. Final considerations: the need for a multidisciplinary support and monitoring network for women who experienced fetal loss was evident. From this study, a routine of care for grief can be implemented in Brazil based on experiences in Canada. | Clinical qualitative | As principais causas de natimortos com 22 semanas ou mais de gestação no Brasil e no Canadá foram complicações de placenta, cordão e membrana, condições maternas e malformações congênitas. Quanto às características das mães e de sua gestação, predominou a idade materna entre 20 a 34 anos. as mulheres relataram todos os detalhes de sua perda. Descreveram a sequência dos acontecimentos, com lembranças do dia da semana ocorrido, peso e fisionomia do feto. Assim, observou-se que quando se trata da morte de um filho, os sentimentos e o sofrimento decorrentes da circunstância da morte são preservados e revividos a cada lembrança, e nem sempre o luto é esquecido com o passar do tempo. |
2015- 07-01 | Iran | Social support: An approach to maintainin g the health of women who have experienc ed stillbirth | Stillbirth is one of the deepest losses that can inflict a broad range of cognitive, mental, spiritual, and physical turmoil. Many researchers believe that the failure to provide the care required by health teams during the hard times is the main determinant of maternal mental health in the future. In other words, social support can significantly improve the mental health outcomes of mothers after stillbirth. This study aimed toexplore social support to aid mothers in adaptation after the experience of stillbirth | Qualitativ e | As categorias extraídas mostraram o tipo de apoio adequado que pode melhorar a saúde das mulheres que tiveram nado morto. Os resultados do estudo mostraram que fornece apoio social às mulheres as ajudou a lidar com o luto causado pela morte do feto. Muitas dessas mulheres relataram que receber apoio emocional de familiares foi eficaz na aceitação e adaptação à questão. Receber apoio emocional do cônjuge, como a pessoa mais próxima delas, foi muito eficaz na sua saúde mental. Muitas mães comentaram que necessitam do apoio dos centros de saúde e dos profissionais de saúde para obterem informações sobre os cuidados necessários para futuras gestações. De facto, muitas destas mulheres mencionaram a necessidade de acompanhamento por profissionais de saúde após o parto para o diagnóstico de perturbações mentais e encaminhamento para conselheiros, se necessário, como apoio necessário após o parto. |
2021- 01-06 | Southea st Brazil | The perinatal bereavem ent project: developm ent and evaluation of supportive guidelines for families experienci ng stillbirthand neonatal death in Southeast Brazil-a quasi experimen tal before and-after study. | For most parents, getting pregnant means having a child. Generally, the couple outlines plans and has expectations regarding the baby. When these plans are interrupted because of a perinatal loss, it turns out to be a traumatic experience for the family. Validating the grief of these losses has been a challenge to Brazilian society,which is evident considering the childbirth care offered to bereaved families in maternity wards. Positively assessed care that brings physical and emotional memories about the baby has a positive impact on the bereavement process that family undergoes. Therefore, this study aims to assess the effects supportive guidelines have on mental health. They were designed to assist grieving parents and their families while undergoing perinatal loss in public maternities in Ribeirão Preto, São Paulo state, Brazil. | Qualitativ e and quasi experimen tal | Retrata sobre a abordagem às mulheres e famílias que perderam seus bebês durante a gestação, trabalho de parto ou pós parto deve seguir uma diretriz de apoio específica, que deve ser adaptada localmente pelas maternidades brasileiras. A forma como esse tema tem sido abordado pelos profissionais de saúde e pelas maternidades pode impactar o processo de forma positiva ou negativa.Quando as emoções negativas prevalecem, a abordagem técnica pode produzir efeitos psicológicos adversos e duradouros que podem permanecer por muito tempo, às vezes até por toda a vida |
2018- 01-01 | Southm ead Hospital | Westbur y | Trym | Bristol | West of England | Guildfor d | Health Educatio n England | UK | All bereaved parents are entitled to good care after stillbirth: a mixed methods multicentr e study (INSIGHT ) | To understand challenges in care after stillbirth and provide tailored solutions | Thematic analysis | Há uma variação inaceitável nos cuidados após o natimorto e interações insensíveis entre a equipe e os pais enlutados. Compreender as necessidades dos pais, incluindo a razão pela qual pedem uma cesariana, facilitará a tomada de decisões conjuntas. Todo pai enlutado tem direito a cuidados bons e respeitosos. |
2023- 02-01 | Ireland | Bereaved parents involveme nt in maternity hospital perinatal death review processes : ‘Nobody even thought to ask us anything | The death of a baby is devastating for parents, families and staff involved. Involving bereaved parents in their baby’s care and in the maternity hospital perinatal death review can help parents manage their bereavement and plan for the future. In Ireland, bereaved parents generally have not been involved in this review process. The aim of our study was to assess parents’ perception of how they may be appropriately involved in the maternity hospital perinatal death review in ways that benefit them and the review process itsel | Thematic analysis | A opinião dos pais quando perdem seus filhos e como a equipe multidisciplinar poderia ter agido. Quando os pais enlutados são incluídos de forma significativa nas avaliações de mortes perinatais das maternidades, eles sentem que as suas preocupações são ouvidas e as suas opiniões são apreciadas |
2021- 01-01 | New Delhi | Safdarju ng Hospital | India | Grief reaction and psychoso cial impacts of child death and stillbirth on bereaved North Indian parents: A qualitative study | Grief following stillbirth and child death are one of the most traumatic experience for parents with psychosomatic, social and economic impacts. The grief profile, severity and its impacts in Indian context are not well documented. This study documented the grief and coping experiences of the Indian parents following stillbirth and child death | Qualitativ e | Os pais sofreram com tristeza, descrença, fortes dores e desamparo ao saberem da morte/natimorto. Os médicos e familiares geralmente preferiam não declarar o óbito/natimorto diretamente à mãe. Todas as mães expressaram reações graves de luto imediato, incluindo desmaios para algumas. Os pais também sofrerammuito, mas não se expressaram abertamente e tentaram apoiar suas esposas e familiares. As crianças são uma representação simbólica da capacidade reprodutiva, da esperança futura e do capital social dos pais. Com a morte ou natimorto infantil, os pais percebem isso como perda de uma parte de si, fim do sonho e perda de competência e poder. |
2022- 06-15 | Uganda | Kampala | Mbale | “Your heart keeps bleeding”: lived experienc es of parents with a perinatal death in Northern Uganda | To describe the lived experiences of parents following perinatal death in Lira district, Northern Uganda | Qualitativ e | Esses artigos informam temas bastante importantes para falar sobre o luto: Dor; Confuso; Enterro; Perda dupla – bebê perdido e recursos financeiros; Perder um bebê está associado a vários papéis estressantes; Homens priorizaram a saúde de suas parceiras; Fatores agravantes; Reação do profissional de saúde; Culpa; Desafios conjugais; Visão de crianças da mesma idade; Tratamento médico da mãe do falecido; Confortar e revelar a causa de uma morte perinatal; Apoio familiar e comunitário. |
2013- 11-01 | York | USA | Perinatal bereavem ent: a principle based concept analysis | The concept of perinatal bereavement emerged in the scientific literature during the 1970s. Perinatal bereavement is a practice-based concept, although it is not well defined in the scientific literature and is often intermingled with the concepts of mourning and grief. | Analysis | O luto perinatal é um fenômeno complexo e multifacetado que impacta vidas em todo o mundo. No entanto, foi apenas nas últimas quatro décadas que os profissionais de saúde reconheceram o impacto do luto perinatal para os pais que vivenciam a perda de um bebé. Os enfermeiros descreveram o trabalho de cuidar de um casal que está passando por perda perinatal e luto como desconfortável, desafiador e opressor |
2019- 01-01 | Mechani csburg | Support for Young Black Urban Women After Perinatal Loss | To describe the bereavement support needs of black urban women in late adolescence after perinatal loss. | Analysis | Embora as mulheres jovens negras tenham uma elevada taxa de perda perinatal, pouca investigação foi feita para descrever a sua experiência de luto perinatal. Os enfermeiros podem oferecer apoio ao luto culturalmente sensível em vários pontos de transição na trajetória do luto perinatal. Adolescentes negros que vivenciam perda perinatal precisam de informações claras e compaixão durante o evento de perda. |
3.1 Luto
O medo de um objeto, experiência, ou até mesmo de animais, é algo que geralmente conseguimos gerenciar em nossas vidas. Frequentemente, evitamos as coisas que nos assustam e continuamos com nossas rotinas sem maiores preocupações. Mesmo quando não podemos evitá-los, muitas vezes encontramos maneiras de enfrentar esses medos, mesmo que isso seja um desafio. Além disso, sabemos desde cedo que a vida é finita e que eventualmente perderemos pessoas que amamos. No entanto, é interessante notar que, embora seja uma parte inevitável da vida, o medo de perder alguém que amamos muitas vezes nos parece irracional.
Psicólogos afirmam que esse tipo de medo pode se tornar um problema muito grave quando permeia toda a nossa vida. Por exemplo, uma pessoa que passa por uma perda e, com receio de viver aquela situação novamente, se fecha para a vida. Quando esse temor leva as pessoas a se afastarem de entes queridos, evitarem formar relacionamentos e aproveitarem novas experiências, é preciso parar e refletir (PSICÓLOGA CONSULTÓRIO, 2021). O medo, talvez, é um indicativo de que o processo do luto não foi vivido de forma completa. Mas o que seria o luto? Segundo Cavalcanti, Samczuk e Bonfim (2013) o luto é caracterizado como uma perda de um elo significativo entre uma pessoa e seu objeto, portanto um fenômeno mental natural e constante durante o desenvolvimento humano. Nesse contexto, por se tratar de um evento constante, acaba implicando diretamente no trabalho de profissionais da saúde, tornando-se um conhecimento necessário para o amparo adequado àqueles que sofrem a perda.
O luto materno neonatal é uma experiência complexa e dolorosa enfrentada por mães que perdem seus filhos pouco tempo após o nascimento, até os 29 dias de vida do bebê. Esta forma de luto é desafiadora, já que as mães são inundadas por um turbilhão de emoções ao confrontar o impacto devastador de perder um filho recém-nascido. Esse processo de luto pode se prolongar ao longo do tempo, e as mães continuam a sentir a dor da perda muito depois do falecimento do bebê. Cada mãe trilha essa jornada de maneira única, e não há um cronograma definido para a superação do luto.
Conforme Salgado e Custódio (2022) no Brasil, há aproximadamente 8 óbitos neonatais para cada 100.000 nascidos vivos e cerca de 28 mil óbitos fetais ao ano; ainda assim, este é um tema pouco debatido, uma vez que a perda gestacional/neonatal ainda é socialmente desconsiderada e esta categoria de luto não é reconhecida. Por este motivo, o enlutado muitas vezes não se sente autorizado a expressar o luto. Sabe-se que a melhor estratégia para entrar em contato com a dor é falando sobre ela, sentindo e vivenciando-a; só assim, a perda pode ser elaborada. O tempo para a vivência do luto e para a elaboração da perda é individual e importante para melhorar a capacidade de lidar com a morte.
O conceito de luto perinatal não foi definido clara e explicitamente neste conjunto de dados, no entanto, ao discutir o luto perinatal, alguns autores definiram o termo mais geral de luto como após a perda por morte de um ente querido próximo ou de outra pessoa significativa (FENSTERMACHER, 2013). A especificação de que o luto segue a perda até a morte é uma distinção importante a ser observada. Assim, o luto perinatal, tal como é implicitamente definido na literatura, não acompanha outros tipos de perda materna, como a entrega de um bebé para adoção, o nascimento de um bebé inferior ao normal, uma experiência de nascimento inferior ao esperado ou infertilidade.
A definição do luto perinatal desempenha um papel fundamental na orientação de enfermeiros na prestação de apoio a indivíduos enlutados. Neste contexto, a falta de definições explícitas nos dados em consideração nos leva a depender do significado implícito presente na literatura para elaborar uma definição de luto perinatal. A única consistência de significado implícito encontrada nestes dados é que o luto perinatal se refere ao período que sucede à perda de uma gravidez ou à morte de um bebê. A ausência de uma definição teórica estabelecida torna-se especialmente preocupante quando consideramos os estudos científicos que avaliam as implicações do luto perinatal.
A perda de um filho recém-nascido é, sem dúvida, uma experiência marcada por profunda dor e complexidade. Essa dor pode perdurar por um período prolongado, e cada mãe a enfrenta de maneira singular, sem um prazo estabelecido para superar o luto. A jornada de luto após a perda de um filho recém-nascido pode ser longa e desafiadora, marcada por uma ampla gama de emoções. É crucial reconhecer a singularidade de cada experiência de luto e oferecer apoio emocional e profissional a todas as mães que enfrentam essa situação. O apoio ao luto deve ser fornecido através do continuum da experiência além do hospital para evitar respostas complexas de luto. (FENSTERMACHER e HUPCEY et al, 2020 apud DONOVAN et al., 2015; INATI et al., 2017)
3.2 Profissionais
Uma questão básica ao se tratar de luto em ambiente hospitalar é o preparo da equipe profissional de enfermagem para o auxílio na elaboração e enfrentamento da perda. Este subtema envolve as relações interpessoais dentro do hospital. A necessidade de educação especializada em perda neonatal foi o tema mais abordado pelos autores (MARTINS, 2023). Os enfermeiros precisam aprender mais sobre como abordar os pais, dar más notícias, apoiá-los, saber o que dizer e poder transmitir compreensão científica do que aconteceu. Contudo, existem algumas dificuldades que os enfermeiros passam durante o processo e é necessário se ter uma atenção a isso e compreender a percepção do enfermeiro sobre o cuidado prestado na perda gestacional e as dificuldades durante o processo. Os pais, familiares e profissionais de saúde não esperam a interrupção da gravidez ou a morte súbita do bebê, o que a torna numa situação mais traumática e de difícil enfrentamento.
Segundo Martins (2023) as problemáticas mais listadas pelos entrevistados foram: Condições de trabalho estressantes, características pessoais e a jornada do paciente. São tópicos e efeitos adversos que fogem do controle do profissional e no mundo do cuidado que envolve pessoas em condições de risco, o cuidador necessita de atenção e capacitação para atuar com segurança, necessitando também de cuidados. O cuidado dos enfermeiros que lidam com a perda gestacional é claramente centrado no paciente. No entanto, a educação continuada e a supervisão das práticas promoveram não só melhores cuidados, mas também maior resiliência face ao testemunho de sofrimento emocional.
Foi identificada uma lacuna no que se refere a estudos, atividades, ouvidoria, terapia, atenção aos profissionais diante da morte de seus pacientes em neonatal. Nesse espaço, os altos índices de mortalidade neonatal tornam os profissionais frequentemente expostos ao evento morte e aos conflitos que dela advêm, reforçando a necessidade de nos ocuparmos com os sentimentos dos profissionais diante da morte de um recém-nascido. Para poder oferecer uma melhor assistência, o profissional também necessita de conforto (FARRALES et al., 2020), treinamento, debriefing e apoio profissional (HOMER et al., 2010). É necessário formar os prestadores de cuidados de saúde em aconselhamento no luto, para lhes permitir apoiar melhor os pais enlutados. (ARACH; KIGULI; NANKABIRWA; NAKASUJJA; MUKUNYA; MUSABA; NAPYO; TUMWINE; NDEEZI; RUJUMBA, 2022)
3.3 Saúde Mental
Segundo Mickel e Freitas (2015), na sociedade brasileira contemporânea, os enlutados deixaram de expressar seu sofrimento por julgarem que os outros não são capazes de compreendê-los, compreensão que as entrevistadas de seu estudo afirmaram ter encontrado na relação com suas psicoterapeutas. Em um contexto social que reforça a crença de que a mãe deve ser a principal responsável pela proteção e cuidado do filho, a morte dele é percebida por ela como um fracasso em sua função materna.
A literatura se refere ao luto materno como um evento destruidor, capaz de estremecer por algum tempo os “pilares da vida” (MICKEL, FREITAS et al, 2015 apud LOPES & PINHEIRO, 2013; OISHI, 2014). Em um momento no qual as mães enlutadas passavam por uma experiência de instabilidade, com o estremecimento daquilo que antes lhes sustentava, a psicoterapia lhes ofereceu o suporte de que necessitavam. A experiência de sentir-se livre para falar e expressar seus sentimentos, é apontada pela literatura como uma indicação de progresso no processo psicoterapêutico (MICKEL, FREITAS et al, 2015 apud GOMES et al., 1988).
A perda de um filho provoca a quebra do tabu da imortalidade, como apontado pela literatura (FREITAS & MICHEL, 2015), retirando o caráter impessoal que a morte possuía na vida dessas mães. Nesse sentido, é compreensível que em um primeiro momento a morte de um filho seja um evento percebido como irreal ou absurdo, visto que essa perda rompe com a crença do senso comum de que há uma “ordem natural”, segundo a qual os filhos devem morrer após os pais
As mulheres que tiveram uma perda neonatal podem expressar culpa e questionar a sua competência para gerar um bebé saudável. Além disso, não só o processo de luto pode durar meses e anos, mas também impacta as gestações subsequente a crença de que a morte de uma criança durante a gravidez ou após o nascimento seria menos difícil de lidar em comparação com a morte de uma criança mais velha não é verdadeira (SCOTT, 2011). A principal diferença entre estas duas situações é que a sociedade não reconhece as perdas perinatais; por outro lado, a sociedade a minimiza, invisibiliza e silencia a experiência vivida pelos pais. O cuidado avaliado positivamente e que traz lembranças físicas e emocionais do bebê impacta positivamente no processo de luto pelo qual a família passa (SALGADO, ANDREUCCI, GOMES e SOUZA, 2021)
Este tipo de luto é denominado luto privado de direitos, conhecido como “(…) uma perda que não é ou não pode ser reconhecida abertamente, lamentada publicamente ou apoiada socialmente” (DOKA, 1989, p. 04). Portanto, os pais não têm seus sentimentos de luto, tristeza, vazio e desamparo socialmente validados (CASSELATO, 2005, p. 19-33). Dada a importância da saúde física e mental para as mulheres que passam por esse processo, os profissionais de saúde devem considerar seus sentimentos, ajudando-as a lidar com a culpa e a aliviar as emoções negativas (MURPHY, 2012)
4. Conclusão
A morte neonatal e a morte infantil têm impactos psicossomáticos, sociais e econômicos duradouros sobre os pais, que são geralmente ignorados. É necessário apoio sociocultural e religioso adequado ao luto dos pais para reduzir os impactos. Acessamos nas literaturas algumas formas de tentar diminuir os danos emocionais causados pela perda, como coletar lembranças, perguntando para os pais se gostariam de tirar uma foto de seu filho, pegar as digitais do pezinho, pegar uma mecha de cabelo ou até mesmo guardar a roupinha que o recém-nascido estaria usando, essas lembranças são eternas. Não é toda mãe que gostaria de guardar para sempre algo de seu filho que se foi, mas muitas mães por causa do choque da perda, no momento não chegam nem a pensar nessas possibilidades, e pode ficar um arrependimento junto ao luto depois de uns dias.
Além disso, analisamos os aspectos relacionados ao luto das mães que passam por essa situação dolorosa e consideramos as possibilidades de tratamento adequado, destacando o papel crítico que os profissionais de saúde desempenham, especialmente os enfermeiros, na assistência a essas mulheres. É crucial ressaltar a importância do luto vivido por mães que enfrentam a perda neonatal, independentemente do estágio ou período da gestação em que ocorre. Essa pesquisa reforça a necessidade de que o sofrimento materno seja não apenas reconhecido, mas também respeitado em todas as etapas da assistência médica e do atendimento psicossocial.
O estudo enfatiza que o apoio adequado durante o luto materno pós-parto pode ter um impacto positivo na saúde mental das mães e em sua capacidade de enfrentar essa experiência desafiadora. Portanto, é fundamental que os profissionais de saúde continuem a aprimorar seu entendimento do luto perinatal e a desenvolver abordagens eficazes para fornecer suporte a essas mulheres, reconhecendo que cada experiência de luto é única e merece atenção individualizada. Para tanto, se faz necessária uma definição teórica estabelecida sobre o termo Luto Neonatal, a fim de orientar as ações de profissionais da enfermagem na prestação de apoio a indivíduos enlutados.
Esta pesquisa busca contribuir para a construção de um ambiente de assistência médica que promova o bem-estar emocional das mães que enfrentam a perda neonatal, permitindo-lhes o espaço e o suporte necessários para elaborar seu luto e reconstruir suas vidas de forma saudável e resiliente. Refletindo sobre os possíveis modos de cuidado que podem ser oferecidos aos enlutados, a experiência vivida dos próprios enlutados não pode ser desprezada, dar visibilidade a uma vivência singular que tem o potencial de sensibilizar e preparar enfermeiros para lidarem com pessoas que vivenciam o luto, além de abrir caminho para novas pesquisas que visem o aprimoramento da prática psicoterápica com mães que perderam seus filhos.
REFERÊNCIAS
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1Ana Carolina Ribeiro Negrão Graduanda de Enfermagem do Curso Superior de Enfermagem do Instituto de Educação Superior de Brasília Campus Liliane Barbosa e-mail: carolina.r.negrao@gmail.com
2Izabella Araújo Morais professora do Curso Superior de Enfermagem do Instituto de Brasília Campus Liliane Barbosa. Mestre em Programa de Ciência e Tecnologia em Saúde (UNB). E-mail: bellamoraisiza@gmail.com