CRIPTOCOCOSE FELINA: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Feline Cryptococcosis: bibliographic review

REGISTRO DOI:10.69849/revistaft/th102411161323


Jade Rocha Santos
Êmille das Neves da silva
Bruna Martins Macedo Leite


Resumo. A criptococose é uma micose considerada zoonótica provocada pela proliferação aérea de leveduras do gênero Cryptococcus, destacando-se as espécies Cryptococcus neoformans e Cryptococcus gattii, como principais espécies envolvidas em casos de criptococose em humanos e animais domésticos como cães e gatos. A transmissão ocorre pela liberação das leveduras no ambiente, encontradas principalmente em excremento de pombos, morcegos e em locais com plantas em processo de decomposição. O fungo invade os sistemas respiratório, e consecutivamente os sistemas nervoso, cutâneo e óptico. Dependendo da localização, o animal pode apresentar dispnéia, espirros, depressão, desorientação, fotofobia e lesões nodulares. Diante da relevância da criptococose em saúde animal e

pública, o objetivo desta revisão é realizar uma breve revisão sobre criptococose felina, destacando seus achados clínicos, patogenia, diagnóstico e tratamento. Ao aprofundar o conhecimento sobre a doença, espera-se contribuir para o desenvolvimento de estratégias mais eficazes de diagnóstico e tratamento, promovendo a saúde e o bem-estar dos animais afetados, além de minimizar os riscos para a saúde humana.

Palavras-chaves: criptococose, gatos, itraconazol, zoonose

Abstract. Cryptococcosis is a mycosis considered zoonotic, caused by the airborne proliferation of yeasts from the genus Cryptococcus, primarily involving the species Cryptococcus neoformans and Cryptococcus gattii, which are the main species associated with cases of cryptococcosis in humans and domestic animals such as dogs and cats. Transmission occurs through the release of yeasts into the environment, predominantly found in pigeon droppings, bat excrement, and in areas with decomposing plants. The fungus invades the respiratory system and subsequently affects the nervous, cutaneous, and optical systems. Depending on the location, the animal may exhibit dyspnea, sneezing, depression, disorientation, photophobia, and nodular lesions. Given the significance of cryptococcosis in animal and public health, the aim of this review is to provide a brief overview of feline cryptococcosis, highlighting its clinical findings, pathogenesis, diagnosis, and treatment. By deepening the understanding of the disease, it is hoped to contribute to the development of more effective strategies for diagnosis and treatment, promoting the health and well-being of affected animals while minimizing risks to human health.

Keywords: cryptococcosis, cats, itraconazol, zoonosis

______________________________________________________________________________ Introdução

A criptococose é uma zoonose fúngica de caráter infeccioso causada por leveduras encapsuladas do gênero Cryptococcus, predominantemente as espécies Cryptococcus neoformans e Cryptococcus gattii, que acometem tanto humanos quanto animais domésticos, especialmente felinos (Rodrigues et al., 2020). Com ampla distribuição global, a doença apresenta maior prevalência em regiões tropicais e subtropicais (Venuto et al., 2023), sendo altamente relevante em saúde pública devido à sua virulência e impacto em indivíduos imunocomprometidos (Prazeres & Carvalho, 2023). A criptococose é transmitida principalmente por inalação de partículas aéreas contaminadas, comumente encontradas em ambientes com dejetos de pombos e plantas em decomposição (Rodrigues et al., 2020), sendo as aves os hospedeiros naturais dessas leveduras, que podem permanecer viáveis no ambiente por até dois anos (Franco et al., 2019).

Nos felinos, a doença pode acometer animais de todas as idades, sendo mais comumente relatada em gatos de aproximadamente 4 anos de idade, com maior prevalência em machos e na raça Siamesa (Juliano et al., 2006). As manifestações clínicas podem variar de acordo com o sistema afetado, sendo mais frequentemente observadas lesões no sistema respiratório, nervoso, tegumentar e ocular (Franco et al., 2019). A patogênese da criptococose é influenciada por três fatores principais: o estado imunológico do hospedeiro, a virulência da cepa fúngica e a carga do inóculo, o que determina a severidade e extensão das lesões (Franco et al., 2019). A ocorrência da criptococose em felinos chega a ser de 7 a 10 vezes mais frequente em comparação com os cães. (Ferreira et al., 2007).

O diagnóstico da criptococose em felinos é realizado por meio de exames laboratoriais, sendo o cultivo do agente etiológico a partir de amostras de tecidos infectados o método mais confiável (Prazeres & Carvalho, 2023). As amostras podem ser obtidas de aspirados, exsudatos, urina ou líquor, e o uso de meios de cultura específicos permite a diferenciação entre C. neoformans e C. gattii. Além disso, a sorologia e técnicas de imagem, como radiografias e tomografia computadorizada, podem auxiliar no diagnóstico diferencial, especialmente quando há envolvimento do sistema nervoso central (Perfect et al., 2010).

Em termos de tratamento, a criptococose é frequentemente abordada com o uso de antifúngicos, como a anfotericina B, o fluconazol e o itraconazol, que demonstram eficácia em diferentes estágios da doença (Amaral & Gomes, 2020). O prognóstico depende amplamente da precocidade do diagnóstico e do acometimento do sistema nervoso central, sendo reservado nos casos mais avançados. Nos casos de criptococose com envolvimento sistêmico ou disseminado, o tratamento é prolongado, podendo durar meses, e o acompanhamento clínico é fundamental para avaliar a resposta terapêutica (Moreira et al., 2006).

Em humanos, a criptococose é comumente destacada em pessoas com o sistema imunológico comprometido, como em caso de indivíduos acometidos pela síndrome da imunodeficiência humana adquirida-AIDS (Sousa, 2013). No Brasil, C. neoformans sorotipo A é a principal causa de infecções em indivíduos com AIDS, respondendo por mais de 90% dos casos, enquanto C. gattii é mais frequente em pessoas imunocompetentes (Brasil, 2022).

Em relação à saúde pública, as micoses endêmicas, como a criptococose, não estão na lista nacional de doenças de notificação obrigatória no Brasil, o que dificulta a obtenção de dados nacionais abrangentes sobre sua incidência. No entanto, alguns estados adotaram notificações locais, que ajudam a monitorar a prevalência da doença em áreas específicas (Brasil, 2022). A prevenção da criptococose envolve principalmente medidas educativas, incluindo o controle da população de pombos e o uso de máscaras em ambientes com potencial risco de exposição a partículas contaminadas. Nos laboratórios, o manuseio de fungos deve ser realizado em cabines de segurança adequadas para minimizar o risco de contaminação (Brasil, 2022).

Diante da relevância da criptococose em saúde animal e pública, o objetivo desta revisão é analisar a doença em felinos, com foco em sua patogenia, manifestações clínicas, diagnóstico e opções terapêuticas. Ao aprofundar o conhecimento sobre a doença, espera-se contribuir para o desenvolvimento de estratégias mais eficazes de diagnóstico e tratamento, promovendo a saúde e o bem-estar dos animais afetados, além de minimizar os riscos para a saúde humana.

Métodos e Resultados

Essa revisão foi realizada por meio de pesquisas documentadas em bibliotecas digitais: Artmed, google acadêmico, PubMed, Scielo, Biblioteca virtual de saúde (BVS), durante o período de 1997 a 2023 . Para os artigos escolhidos foram utilizados os seguintes descritores: “criptococose em gatos”, “tratamento da criptococose em felinos”, “criptococose e saúde pública”, entre outros. Os critérios de inclusão englobam estudos sobre criptococose em felinos, abordando patogenia, aspectos clínicos, diagnóstico e tratamento. Estudos revisados incluíram artigos originais, revisões sistemáticas e relatórios de casos. Foram excluídos trabalhos que não eram específicos da doença em felinos ou que não forneciam dados relevantes. A seleção dos artigos foi realizada de forma independente por dois revisores, com discordâncias resolvidas por consenso. Foram selecionados 23 estudos considerados relevantes, de forma que atenderam mais diretamente o planejamento de pesquisa. A maioria dos estudos foi conduzida em regiões tropicais, com prevalência mais alta em gatos machos, entre os diagnósticos mais comuns incluíram cultivo fúngico e sorologia, além da presença de metodologias complementares como o uso do diagnóstico por imagem. Em relação ao tratamento, a combinação de anfotericina B e

fluconazol mostrou-se a mais eficaz.

Patogenia e aspectos clínicos

A criptococose é classificada como cosmopolita, encontrada especialmente em áreas urbanas, e está ligada a solos que apresentam contaminação natural por fezes de aves, principalmente de pombos (Gomes et al., 2022). Onde o fungo em sua forma de basidiósporos e leveduras conseguem se estabilizar e se multiplicar, podendo assim ser distribuídas no ar e aspiradas pelos hospedeiros suscetíveis (Bermann 2022). A patogenia é influenciada pela quantidade do inóculo, pela virulência da cepa de Cryptococcus e pelo sistema imunológico do hospedeiro (Sykes e Malik, 2015).

A infecção surge após a exposição e inalação das leveduras ou basidiósporos presentes no ambiente contaminado (Rodrigues et al., 2020; Venuto et al., 2023). Após entrada no trato respiratório superior, o fungo pode colonizar a mucosa nasal ou os pulmões, e consecutivamente, por via hematógena ou linfática, realizar sua dissipação para outras partes mais vascularizadas do corpo do animal, como sistema nervoso central, globo ocular, linfonodos e o tecido cutâneo (Venuto et al., 2023). Seu alto índice de virulência se dá pela forma encapsulada das leveduras composta de mucopolissacarídeos, evitando assim a proliferação e adesão das células de defesa, os linfócitos, na lesão (Venuto et al., 2023). A presença de cápsula envolta nas leveduras auxilia na identificação morfológica do gênero contribuindo para a realização de diagnósticos rápidos e efetivos (Bermann, 2022).

Além da presença da cápsula polissacarídica, outros fatores de virulência incluem a produção de melanina, a termotolerância, a produção das proteínas urease, lacase e fosfolipase (Bermann, 2022). A produção de uma enzima denominada fenoloxidase pela levedura explica seu neurotropismo, pois possibilita a síntese de melanina a partir de compostos difenólicos, como as catecolaminas (WILLIAMSON et al., 1998). A melanina, com propriedades antioxidantes, atua reduzindo a toxicidade dos radicais livres dentro das células fagocíticas infectadas pelo fungo, que funcionam como um “cavalo de troia” para a sua disseminação (STEENBERGEN; CASADEVAL, 2003). Além disso, as leveduras podem alcançar o encéfalo por extensão de uma lesão nasal, utilizando a placa cribriforme ou os nervos ópticos como via de acesso (LESTER et al., 2004).

A criptococose destaca-se por acometer humanos, animais de produção e companhia, com maior índice de prevalência em felinos, possivelmente associado ao seu hábito de higiene constante favorecendo a entrada do fungo na cavidade nasal. Esporadicamente a doença também é relatada em animais silvestres (Rodrigues et al., 2020).

A doença pode afetar indivíduos sadios ou imunodeficientes, sendo mais frequente em indivíduos com deficiência de células T. Gatos imunodeprimidos, como os que apresentam a síndrome da imunodeficiência felina (FIV) e leucemia felina (FeLV) são considerados mais susceptíveis a doença (Rodrigues et al., 2020). Apesar da FIV ser a imunodeficiência subjacente mais comum, outras condições podem predispor à doença como as neoplasias malignas, a quimioterapia, a terapia com agentes imunossupressores e o diabetes mellitus representam outras condições predisponentes possíveis (Silva et al., 2022). Animais sadios tendem a apresentar a doença de forma assintomática (Venuto et al., 2023).

Os sinais clínicos nos felinos infectados incluem incoordenação, midríase, ausência de reflexo pupilar, anorexia, apatia e aumento de linfonodos poplíteos e mandibulares. Em alguns casos, os felinos podem apresentar fezes ressecadas, distensão da bexiga e lesões ulcerativas no espelho nasal, face e pavilhões auriculares (Castro et al., 2017).

A progressão da doença pode levar ao desenvolvimento de distúrbios respiratórios, neurológicos, oculares e cutâneos (Venuto et al., 2023). Em particular, o comprometimento do sistema respiratório pode manifestar-se através de anosmia, dispneia, espirros, estertores respiratórios e corrimento nasal que pode ser uni ou bilateral, com aspecto mucopurulento, seroso ou sanguinolento (Franco et al., 2019).

Lesões características da criptococose em felinos incluem aquelas que se assemelham a um “nariz de palhaço”. Estudos documentam a presença de massas firmes ou pólipos no tecido subcutâneo sobre a cartilagem do plano nasal, resultando em aumento de volume na região da pirâmide nasal, comprometimento rostral da cavidade nasal, secreção nasal e distorção do plano nasal (Amaral & Gomes, 2020; Rodrigues et al., 2020; Venuto et al., 2023).

Em um relato de caso, Venuto et al. (2023) descreveram um felino SRD positivo para FIV, apresentando aumento de volume na região facial e nodulação ulcerada na região cervical ventral, acompanhada de secreção sero-sanguinolenta, dispnéia inspiratória e secreção nasal unilateral purulenta. Exames radiográficos revelaram aumento de volume de tecidos moles nas regiões frontal, nasal e cervical direita, além de significativa lise dos ossos maxilar, nasal, frontal e zigomático. Não foram observadas alterações pulmonares relevantes.

É importante ressaltar que nem sempre a criptococose pode ser classificada por seus sinais clínicos típicos. Franco et al. (2019) mencionaram casos em que a característica do “nariz de palhaço” não estava presente, relatando lesões pulmonares e subsequentes alterações neurológicas. A radiografia torácica revelou discreta presença de densidade homogênea entre o quinto e o sétimo espaços intercostais do hemitórax direito, evidenciando que a criptococose pode se apresentar de formas inespecíficas.

Distúrbios neurológicos, cutâneos e ópticos também são frequentemente observados. Franco et al. (2019) relataram sintomas como meningoencefalomielite difusa ou focal, depressão, desorientação, cervicalgia e ataxia, que podem evoluir para paresia, paraplegia, convulsões, vocalização anormal, redução da consciência, espasticidade, andar em círculos, anisocoria, midríase, déficit visual, surdez e perda de olfato. Lesões cutâneas nodulares, que podem ser únicas ou múltiplas, firmes e indolores, frequentemente ulceram, drenam exsudato e apresentam crostas hemorrágicas, localizando-se nas regiões cefálicas e cervicais. Em casos de comprometimento óptico, pode-se observar uveíte anterior, retinite granulomatosa, hemorragia de retina, edema papilar, neurite óptica, midríase, fotofobia, blefarospasmo, descolamento de retina, opacidade de córnea, hifema e até cegueira.

A diversidade dos sinais clínicos e a possibilidade de apresentação assintomática em gatos sadios ressaltam a importância de um diagnóstico preciso e cuidadoso, especialmente em populações vulneráveis, como os imunocomprometidos.

Diagnóstico

Por ser uma doença que pode progredir de forma subaguda a crônica, com diversos relatos de predominância em diversas espécies de animais, tanto domésticos quanto selvagens, a mortalidade por criptococose está estritamente associada à evolução silenciosa da infecção de forma sistêmica, além de apresentar sinais clínicos que são pouco específicos e dificultam o diagnóstico. Um achado relevante no exame físico é a presença de massas expansivas de material translúcido, mucinoso, gelatinoso ou mesmo cárneo nas narinas, que podem reforçar a suspeita clínica (Franco et al., 2019).

Além do aspecto clínico, o diagnóstico da criptococose pode ser realizado por meio de informações obtidas na anamnese, noções epidemiológicas, aspectos patológicos, exame micológico e biópsia (Rodrigues et al., 2020), além de técnicas moleculares, como a reação em cadeia da polimerase, técnicas de imagem, como a radiografia e a tomografia, e a necropsia (Franco et al., 2019; Macedo et al., 2023). A necropsia é particularmente útil, pois permite identificar lesões no encéfalo em casos de alterações macroscópicas (Castro et al., 2017). Exames citopatológicos da secreção nasal, urina e punção cutânea também são importantes para auxiliar no diagnóstico (Amaral & Gomes, 2020). Testes sorológicos, como o teste de látex e ELISA, podem ser utilizados, embora suas sensibilidades e especificidades variem (Rodrigues et al., 2020).

Os exames complementares, como hemograma e perfil bioquímico, geralmente apresentam alterações inespecíficas e variáveis, não sendo considerados significativos para o diagnóstico definitivo (Venuto et al., 2023). O diagnóstico confirmatório da criptococose é estabelecido por meio de exames como citofungoscopia, sorologia, histopatologia e isolamento do agente fúngico (Franco et al., 2019). Nos exames citológicos e histopatológicos, a rinoscopia e a broncoscopia podem ser empregadas para a coleta de amostras, facilitando a visualização de lesões nas cavidades nasais e pulmonares (Macedo et al., 2023).

Adicionalmente, a utilização de técnicas de imagem, como ressonância magnética (RM), pode ser considerada em casos de comprometimento neurológico, proporcionando uma avaliação mais detalhada das lesões cerebrais e do envolvimento do sistema nervoso central. O diagnóstico precoce e preciso é crucial para o manejo adequado da doença e pode melhorar significativamente o prognóstico dos felinos afetados (Malik, et al. 1997).

A integração dos dados clínicos, laboratoriais e de imagem é essencial para estabelecer um diagnóstico preciso e eficaz da criptococose, permitindo o início oportuno do tratamento e a implementação de medidas de controle em ambientes de risco.

Tratamento

O tratamento da criptococose em gatos envolve o uso de antifúngicos orais, sendo o itraconazol uma das opções mais utilizadas. Este fármaco é considerado eficiente, especialmente em casos sem comprometimento neurológico. Quando há alterações neurológicas, o fluconazol é frequentemente a escolha preferida (Venuto et al., 2023). Outras drogas que podem ser consideradas no regime terapêutico incluem o cetoconazol e a associação de fluconazol com antifúngicos como a anfotericina B, que é administrada por via intravenosa (Amaral & Gomes, 2020).

O itraconazol, quando utilizado por períodos prolongados, apresenta um baixo índice de efeitos colaterais, tornando-o uma opção segura para o tratamento a longo prazo (Macedo et al., 2023). A dosagem recomendada de itraconazol é de 10 mg/kg, administrada duas vezes ao dia (BID) (Rodrigues et al., 2020). O tratamento geralmente se estende por 60 a 90 dias, dependendo da resposta clínica do paciente. Após a resolução dos sinais clínicos, o tratamento deve ser mantido por mais dois meses, com acompanhamento veterinário contínuo até a erradicação completa do agente patogênico (Rodrigues et al., 2020).

No relato de Venuto et al. (2023), o itraconazol foi administrado na dose de 50 mg por animal uma vez ao dia (SID), mas o acompanhamento a longo prazo não foi possível devido à opção da tutora pela eutanásia do animal. Por outro lado, Amaral & Gomes (2020) utilizaram a mesma dose de forma BID, com a adição de antibioticoterapia profilática usando pentabiótico na dosagem de 0,1 ml/kg por via subcutânea durante sete dias. Esse protocolo resultou em melhorias significativas, com o desaparecimento das lesões ulceradas e redução do aumento do focinho após quatro semanas. Após dois meses de tratamento, observou-se uma redução acentuada das lesões. Para auxiliar na redução do tempo de cicatrização, a terapia fotodinâmica (PDT) foi empregada, mostrando resultados positivos na cicatrização das lesões (Amaral & Gomes, 2020).

É importante notar que recidivas podem ocorrer, como no caso documentado, onde o animal apresentou novas lesões na região da pirâmide nasal três meses após o tratamento. Isso destaca a necessidade de um acompanhamento constante, mesmo após a conclusão do tratamento sugerido.

Além das opções de tratamento farmacológico, é essencial considerar o suporte nutricional e a gestão do estresse do animal, uma vez que esses fatores podem influenciar a resposta ao tratamento e a recuperação geral (Murray et al., 2014). A monitorização regular da função hepática e renal é também recomendada, especialmente durante o uso de antifúngicos, para detectar precocemente possíveis efeitos adversos (Spernovasilis e Kofteridis, 2018).

Por fim, a educação dos tutores sobre a doença e seu tratamento é fundamental, pois a adesão ao protocolo terapêutico é crucial para o sucesso do tratamento e a prevenção de recaídas.

Considerações finais

Considerando a complexidade da criptococose em gatos, é crucial enfatizar a importância de diagnóstico precoce para construir um melhor tratamento, contribuindo para um prognóstico positivo. A vigilância contínua e o suporte veterinário são fundamentais para garantir a eliminação completa do patógeno no animal, além da aplicação de diferentes métodos de diagnóstico e estratégias terapêuticas para a melhoria do bem-estar e da saúde do animal.

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