COVID-19 IN PREGNANCY: IMPACTS ON MATERNAL AND CHILD HEALTH
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7742580
Carine Vitória Lemes Ferreira1
Esther Sampaio Fontenele2
Dheniffer Greenhalgh Ferraz3
Luana Almeida dos Santos4
Amanda Ferreira da Silva5
Carlos Alves Pessoa6
Darlene Andrade Oliveira7
Francisco Ivo de Pinho Meneses8
Maria Ramonielly Feitosa Rodrigues Carvalho9
Paloma Santa Rosa Alves10
Mirian Santos Silva Conceição11
Daislaine de Jesus Lima12
Raquel Lôbo de Almeida13
Nelson Rodrigues Santos14
Debora Luiza Gaitkoski Ferreira15
Raquel Serra de Souza16
RESUMO
Introdução: Os impactos da pandemia Covid-19 vêm afetando gestantes e puérperas, levando a taxa de mortalidade materno-infantil a níveis extraordinariamente elevados, situação já trágica em nosso país antes da pandemia, mas desde 2020 a mortalidade materno-infantil tem sido alvo de grande preocupação no Brasil. Objetivo: O objetivo deste estudo é identificar os impactos da Covid-19 na saúde materno-infantil e analisar os índices de mortalidade. Resultados e Discussão: Desfechos maternos e fetais globais pioraram durante a pandemia da Covid-19, com aumento de mortes maternas. As mulheres grávidas eram mais propensas a serem admitidas na unidade de terapia intensiva (UTI), com maior probabilidade no terceiro trimestre. Complicações maternas são esperadas em gestantes com idade avançada, obesidade, comorbidades preexistentes ou não vacinadas. As mulheres grávidas com Covid-19 têm uma taxa de cesariana mais alta do que aquelas sem Covid-19. Estudos também mostraram que mulheres com Covid-19 têm partos prematuros mais frequentes; a maioria são iatrogênicos e podem estar relacionados à deterioração da doença materna. Além disso, o risco de ruptura prematura de membranas e sofrimento fetal também foi maior durante a pandemia. Conclusão: As conclusões deste estudo ressaltam a importância do monitoramento adicional dos resultados de mulheres grávidas e puérperas durante a pandemia. Esta revisão avalia a qualidade dos estudos de maneira minuciosa e fornece informações valiosas sobre as evidências. Por fim, pesquisas adicionais sobre resultados fetais são necessárias para investigar os efeitos da Covid-19 durante a gravidez do feto.
Descritores: Gestação; Covid-19; Impactos na Saúde.
ABSTRACT
Introduction: The impacts of the Covid-19 pandemic have been affecting pregnant and puerperal women, taking the maternal and child mortality rate to extraordinarily high levels, a situation that was already tragic in our country before the pandemic, but since 2020 maternal and child mortality has been the target of great concern in Brazil. Objective: The objective of this study is to identify the impacts of Covid-19 on maternal and child health and to analyze mortality rates. Results and Discussion: Overall maternal and fetal outcomes worsened during the Covid-19 pandemic, with an increase in maternal deaths. Pregnant women were more likely to be admitted to the intensive care unit (ICU), most likely in the third trimester. Maternal complications are expected in pregnant women of advanced age, obesity, pre-existing comorbidities or unvaccinated. Pregnant women with Covid-19 have a higher cesarean rate than those without Covid-19. Studies have also shown that women with Covid-19 have more frequent premature births; most are iatrogenic and may be related to deterioration of maternal disease. Furthermore, the risk of premature rupture of membranes and fetal distress was also higher during the pandemic. Conclusion: The findings of this study underscore the importance of additional monitoring of outcomes for pregnant and postpartum women during the pandemic. This review thoroughly assesses the quality of the studies and provides valuable insight into the evidence. Ultimately, additional research on fetal outcomes is needed to investigate the effects of Covid-19 during pregnancy on the fetus.
Descriptors: Pregnancy; Covid-19; Health impacts.
1 INTRODUÇÃO
O vírus SARS-CoV-2 responsável pela doença denominada Covid-19 não foi o primeiro Coronavírus a causar doenças respiratórias graves em humanos. Primeiro surgiu a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS-CoV) com o primeiro caso detectado no fim de 2002 na China. Posteriormente, a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS-CoV) que teve seu primeiro caso identificado em 2012 na Arábia Saudita. Em terceiro, surgiu o vírus SARS-CoV-2 em 2019 na China, que em um curto período, causou mais casos de doença do que os relatados para MERS e SARS combinados, além disso, causou pandemia durante os anos de 2020 e 2021 (WIKIPÉDIA).
No início da pandemia, os dados sobre a Covid-19 eram limitados, as recomendações para as gestantes se baseavam nas doenças associadas com outros coronavírus altamente patogênicos como a MERS e a SARS, acreditavam-se que podiam fornecer informações sobre os efeitos do Covid-19 durante a gravidez.
Outrossim, também se acreditava que as chances de evolução grave da doença eram semelhantes para gestantes e puérperas em relação à população em geral (NOGUEIRA, 2020). No Entanto, os impactos da pandemia da Covid-19 vêm afetando as gestantes e puérperas, elevando a morte materno-infantil a níveis extraordinariamente elevados, situação já trágica em nosso país antes da pandemia, mas desde 2020 a mortalidade materna tem sido alvo de grande preocupação no Brasil. Até o início da pandemia, o Brasil apresentava uma razão de morte materna em torno de 55 mortes por 100 mil nascidos vivos. Registros apontam que em 2021 a razão de mortalidade materna foi de 107.53 para cada 100 mil nascidos vivos. Esses dados evidenciam que já havia problemas a serem superados e que se agravaram com o curso da pandemia (OBSERVATÓRIO OBSTÉTRICO BRASILEIRO, 2021).
A mortalidade materno-infantil é fortemente marcada pelo acesso e disponibilidade de recursos assistenciais para pré-natal, parto e puerpério. Durante a pandemia o acesso a estes recursos ficou praticamente restrito devido a quarentena, além do medo da doença que impediam as gestantes a procurarem a assistência, desta forma, os índices de cobertura assistencial deste grupo foram extremamente baixos. Logo nos primeiros meses da pandemia começaram a ser relatados casos de óbitos maternos em gestantes e puérperas até 42 dias após o parto.
Embora a gravidez não seja uma doença, as alterações fisiológicas e anatômicas que ocorrem durante a gravidez podem aumentar o risco de desenvolver as doenças características da Covid-19. Tais preocupações foram solidificadas quando a Covid-19 começou a se desviar das regras das síndromes respiratórias típicas, mas ainda sim com efeitos sistêmicos, principalmente danos ao tecido que reveste os vasos sanguíneos.
Ademais, muitos especialistas afirmam que as gestantes também podem evoluir para formas graves da Covid-19, com descompensação respiratória, principalmente aquelas que estão por volta da 32ª ou 33ª semana de gestação, havendo a necessidade de antecipar o parto. Essas falas trazem preocupações sobre a disponibilidade de leitos de UTI adulto para essas mulheres e de leitos de UTI neonatal para recém-nascidos, que podem até ser prematuros. Ambos precisam de atendimento especializado e imediato.
Diante do exposto, revelou-se a magnitude de um importante problema de saúde pública que merece atenção para estudos deste grupo, servindo de alerta para a necessidade de preparação e organização de toda a rede de atenção em saúde. Desse modo, o objetivo deste estudo é identificar os impactos da Covid-19 na saúde materno-infantil e analisar os índices de mortalidade materno-infantil.
2 METODOLOGIA
Foi realizada uma revisão integrativa cuja pesquisa é do tipo bibliográfica, descritiva para compilar evidências sobre os impactos da Covid-19 na saúde materno-infantil e fornecer uma visão geral dos resultados mais significativos até o momento. Utilizou-se dados secundários revisados nas bases de dados PubMed – National Library of 5 Medicine (EUA), Scielo (Scientific Electronic Library Online), BVS (Biblioteca virtual em saúde) e Google acadêmico. Foram realizados cruzamentos dos descritores “Gestação”, “Covid-19” e “Impactos na Saúde” da base de Descritores em Ciências da Saúde (DecS).
Os critérios de inclusão foram estudos disponíveis na íntegra e com acesso eletrônico livre, abordando a Covid-19 e a gestação atendendo aos objetivos do estudo, incluindo outros idiomas. Os critérios de exclusão foram estudos que se distanciam da proposta do tema, produções científicas em formato de tese, monografia, relato de experiência e resumo.
Com a análise de uma população de 59 artigos sendo que 14 foram selecionados após a leitura na íntegra para compor o estudo e constituíram a amostra utilizada nesta revisão, apresentados sob a forma de texto e tabela por meio de uma avaliação da síntese e considerações de cada estudo analisado, onde compuseram as seções narrativas do estudo e foram organizados contendo suas principais informações.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Autor/Ano de publicação | Título | Objetivo | Conclusão |
ELSADIG E KHALIL, 2021. | Efeitos da pandemia da Covid nos resultados da gravidez. | Esta revisão teve como objetivo explorar o efeito do Covid-19 em mulheres grávidas e seus bebês. | Mulheres grávidas com Covid-19 no terceiro trimestre têm maior probabilidade do que mulheres não grávidas de necessitar de cuidados intensivos, embora isso possa refletir um limiar mais baixo para intervenção em mulheres grávidas, em vez de uma doença mais grave. Os resultados de recém-nascidos de mulheres positivas para Covid-19 são geralmente muito bons, embora o parto prematuro iatrogênico seja mais comum. |
DU MIN et al., 2021. | Associação entre a pandemia de Covid-19 e o risco de desfechos adversos da gravidez: um estudo de coorte. | Neste estudo, o objetivo foi avaliar a associação entre a pandemia de Covid-19 e o risco de desfechos adversos da gravidez. | Durante a pandemia de Covid-19, mais mulheres manifestaram ganho de peso gestacional insuficiente ou excessivo; e o risco de ruptura prematura de membranas e sofrimento fetal também foi maior durante a pandemia. |
KOTLAR et al., 2021. | O impacto da pandemia de Covid-19 na saúde materna e perinatal: uma revisão de escopo. | Fornecer uma visão abrangente sobre o impacto da pandemia de Covid-19 na saúde materna e perinatal em um formato rápido, adequado a uma pandemia emergente. | Mulheres grávidas e mães não apresentaram maior risco de infecção por Covid-19 do que pessoas não grávidas; consequências econômicas. Tanto os países de renda alta quanto os de renda baixa e média enfrentaram lutas significativas. Mais recursos devem ser direcionados para estudos epidemiológicos de qualidade. |
CHMIELEWSKA et al., 2021. | Efeitos da pandemia de Covid-19 nos resultados maternos e perinatais: uma revisão sistemática e meta-análise | O objetivo foi avaliar as evidências coletivas sobre os efeitos da pandemia nos resultados maternos, fetais e neonatais. | Os resultados maternos e fetais globais pioraram durante a pandemia de Covid-19, com aumento de mortes maternas, natimortos, gravidezes ectópicas rompidas e depressão materna. Alguns resultados mostram uma disparidade considerável entre ambientes com muitos e poucos recursos. Há uma necessidade urgente de priorizar cuidados de maternidade seguros, acessíveis e equitativos na resposta estratégica a esta pandemia e em futuras crises de saúde. |
ROSSETTO et al., 2021. | Flores e espinhos na gravidez: vivências durante a pandemia de Covid-19. | Compreender as repercussões da Covid-19 na trajetória da gravidez. | Para as participantes, a gravidez durante a pandemia trouxe dificuldades como isolamento social, afastamento do trabalho e da universidade, medos, angústias, solidão e inseguranças. No entanto, também melhorou o cuidado com a saúde, intensificando o autocuidado e o investimento nas relações familiares. |
GODOI et al., 2021. | Síndrome Respiratória Aguda Grave por Covid-19 em gestantes e puérperas. | Avaliar o perfil de morbimortalidade e fatores associados ao óbito por síndrome respiratória aguda grave (SARS) por Covid-19 em gestantes e puérperas. | A hospitalização foi necessária para a maioria das mulheres grávidas com SARS e a presença de doença cardíaca prévia aumentou o risco de morte. Conhecer o perfil de morbimortalidade da SARS é importante na definição de estratégias de saúde pública voltadas para a redução dos impactos da Covid-19 durante a gravidez e o puerpério. |
GONCALVES et al., 2022. | COVID-19 e Gravidez. Quando são esperadas complicações? | O objetivo deste estudo foi revisar o estado atual da arte da infecção por SARS-COV-2 durante a gravidez e o risco de resultados adversos maternos, gestacionais e fetais, e avaliar quando esses resultados são mais prováveis de ocorrer. | Complicações maternas são esperadas em gestantes com idade avançada, obesidade, comorbidades preexistentes ou não vacinadas. Gravidez adversa e resultados fetais são esperados em mulheres grávidas com doença sintomática e quando a infecção materna ocorre após 20 semanas de gestação. |
BONATTI et al., 2021. | Fatores associados ao óbito entre puérperas com Covid-19: estudobrasileiro de base populacional. | Identificar os fatores associados ao óbito porCovid-19 entre puérperas brasileiras, nos primeiros cincomeses da pandemia e nos cinco meses posteriores e descreveras características sociodemográficas e clínicas de puérperas quedesenvolveram a doença | A proporçãode óbitos entre puérperas foi elevada, com redução no segundoperíodo estudado. Associaram-se ao óbito sinais e sintomasrespiratórios, necessidade de ventilação mecânica e de terapiaintensiva, em ambos os períodos analisados. |
ZERNA-BRAVO et al., 2022. | Identificação de riscos obstétricos em tempos de Covid-19 em uma área de saúde comunitária, Equador | Identificar o risco obstétrico em tempos de pandemia de Covid-19 na área de saúde ¨Bastión Popular¨, Guayaquil, Equador, no período de janeiro a junho de 2021. | As jovens entre 20 e 24 anos são as que apresentam maior risco obstétrico, além do risco obstétrico, que está correlacionado com maior número de gestações, abortos, partos e cesáreas, portanto, é necessário fornecer informações à mulher sobre a gravidez e suas complicações, para que ela possa identificar os fatores de risco durante a gravidez, parto e puerpério. |
MAZA-ARNEDO et al., 2022. | Mortalidade materna ligada ao Covid-19 na América Latina: resultados de um banco de dados colaborativo de vários países com 447 mortes. | Este estudo teve como objetivo descrever as características clínicas das mortes maternas associadas à Covid-19 registradas em um banco de dados multi países latino-americano colaborativo. | Em conclusão, o presente estudo fornece informações valiosas sobre a apresentação da mortalidade materna associada ao Covid-19 entre as mulheres da ALC. Além disso, encontramos barreiras de saúde enfrentadas por mulheres grávidas da ALC para acessar serviços de terapia intensiva. Os tomadores de decisão devem fortalecer a consciência da gravidade e as estratégias de encaminhamento para evitar possíveis atrasos no atendimento de pacientes obstétricas. Recomendamos ainda aumentar a capacidade de atendimento a pacientes maternos graves nos países da ALC, especialmente definindo protocolos e ampliando os leitos de terapia intensiva de acordo com as necessidades do país latino-americano. |
GUIZA ROMERO et al., 2022. | Evidências atuais sobre a infecção capilar por SARS-COV-2 durante a gravidez: uma revisão do escopo | Esta revisão teve como objetivo analisar as evidências disponíveis sobre SARS-CoV-2 na gravidez. | A Covid-19 na gravidez é uma complicação que gera maior morbidade e mortalidade, por isso é de vital importância o desenvolvimento de mais pesquisas para ampliar a compreensão de seu comportamento, implicações fisiológicas e emocionais e possível tratamento. Esta revisão faz uma análise rigorosa da qualidade dos estudos e fornece informações valiosas das evidências. |
WANG et al., 2022. | A associação entre gravidez e Covid-19: uma revisão sistemática e meta-análise | O objetivo deste estudo foi comparar e determinar se havia diferenças nos resultados clínicos entre mulheres grávidas e não grávidas infectadas com Covid-19. | Nossos resultados sugerem que mulheres grávidas com Covid-19 têm uma probabilidade significativamente maior de serem hospitalizadas na UTI e ventiladas do que mulheres não grávidas com Covid-19. Para evitar esses resultados adversos , as mulheres grávidas devem tomar precauções (por exemplo, reduzir as saídas, manter distância social e usar máscara) para evitar a infecção por Covid-19. |
SCHELER et al., 2022. | Mortes maternas por Covid-19 no Brasil: aumento durante a segunda onda da pandemia. | Comparar as taxas de mortalidade por Covid-19 entre mulheres grávidas ou puérperas e não grávidas durante a primeira e segunda ondas da pandemia brasileira. | Houve aumento das mortes maternas por Covid-19 em 2021 em comparação com 2020, principalmente em pacientes com comorbidades. As taxas de mortalidade foram ainda maiores em mulheres não grávidas, com ou sem comorbidades. |
DUARTE et al., 2022. | Fatores associados à gravidade da Covid-19 em gestantes adolescentes brasileiras: estudo de base populacional | Identificar os fatores associados à necessidade de internação em unidade de terapia intensiva em gestantes adolescentes brasileiras com Covid-19. | A taxa de internação em terapia intensiva foi elevada entre gestantes adolescentes brasileiras e associou-se a viver na região Sudeste, possuir alguma comorbidade e/ou apresentar baixa saturação de oxigênio. |
De acordo com Observatório Obstétrico Brasileiro (OOBr) a razão de mortalidade materna no Brasil, que registra as mortes relacionadas a complicações no parto, gravidez e puerpério em relação aos nascidos vivos, aumentou 94% durante a pandemia da Covid-19, retrocedendo a níveis de duas décadas atrás. Em 2021, a razão de mortalidade materna alcançou 107.53 mortes a cada 100 mil nascidos vivos, conforme informações preliminares. Em 2019, a razão era de 55.31 a cada 100 mil nascidos vivos. Em 2020, foi de 71.97 mortes a cada 100 mil nascidos vivos, o que já representou um aumento de quase 25% em relação ao ano anterior. O aumento do número total de mortes maternas foi de 77% entre 2019 e 2021. Desse modo, o aumento da taxa de mortalidade materna foi um dos maiores impactos da pandemia da Covid-19 para esta população. Vale ressaltar ainda que o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), agência da ONU para assuntos relacionados à saúde sexual e reprodutiva, alerta para a gravidade do problema e apela por mais investimentos para fortalecer a cobertura e qualidade dos serviços de saúde materna.
O último estudo realizado pelo Centro Latino-Americano de Perinatologia, Saúde da Mulher e Reprodutiva (CLAP) – liderada pela Organização Panamericana de Saúde (OPAS) e publicada na Lancet Regional Health Américas – traz atualizações importantes acerca da pandemia nas Américas enfatizando este grupo. Informaram que uma em cada três mulheres grávidas com Covid-19 que deveriam ter tido acesso a uma unidade de terapia intensiva durante os primeiros dois anos da pandemia não recebeu cuidados críticos. O estudo revelou que 35% das gestantes estudadas que morreram por causas relacionadas à Covid-19 não foram internadas em terapia intensiva. A média de idade materna foi de 31 anos e cerca de metade das mulheres que morreram eram obesas.
Entre as mulheres estudadas, 86,4% foram infectadas antes do parto, e a maioria dos casos (60,3%) foi detectada no terceiro trimestre de gestação. Na primeira internação, os sintomas mais frequentes entre as mulheres foram dispneia (73%), febre (69%) e tosse (59%). Além disso, a falência de órgãos foi relatada em 90,4% dos casos na admissão e 64,8% foram internadas em cuidados intensivos, onde permaneceram por uma média de oito dias. Na maioria dos casos, a morte ocorreu no período pós-parto – seis semanas após o parto –, com média de sete dias entre o parto e a morte. O parto prematuro foi a complicação perinatal mais frequente (76,9%) e 59,9% das crianças nasceram com baixo peso, destacando-se com um dos impactos mais comuns da Covid-19 aos recém-nascidos.
A pesquisa enfatizou a importância de unir esforços para aumentar a conscientização sobre a detecção precoce da gravidade da Covid-19 na população de gestantes, priorizar na vacinação contra a Covid-19 – pois são um grupo de alto risco – e assessorar com evidências as políticas públicas para protegê-las. Assim, observa-se que a pesquisa reforçou o alerta dado pelo UNFPA para a gravidade do problema e o apelo para fortalecer a cobertura e qualidade dos serviços de saúde materna.
A OPAS tem monitorado o impacto da Covid-19 em mulheres grávidas desde o início da pandemia. Em meados de maio de 2021 informou que entre janeiro e abril do ano corrente houve um aumento importante de casos em gestantes e puérperas e de óbitos maternos por Covid-19 em 12 países. Vários fatores podem explicar esse aumento, incluindo variações entre países nos sistemas de vigilância, abordagens de vigilância à medida que a pandemia evoluiu, estratégias de imunização e disponibilidade de vacinas para mulheres grávidas, serviços de saúde sobrecarregados e barreiras no acesso a cuidados especializados. No Brasil apresentou o maior número de óbitos e uma assustadora taxa de letalidade de 7,2%, ou seja, mais que o dobro da atual taxa de letalidade do país, que é de 2,8% (OPAS, 2021).
Segundo o Boletim Observatório da Covid-19/Fiocruz observou-se uma série histórica de óbitos maternos se comportando de forma semelhante à série de óbitos totais por Covid-19. Os dados corroboraram com a análise prévia do OOBr Covid-19, os óbitos maternos em 2021 superaram o número notificado no ano anterior. A análise identificou que em 2020 foram notificados no país 544 óbitos em gestantes e puérperas por Covid-19, com média semanal de 12,1 mortes, considerando que a pandemia se estendeu por 45 semanas epidemiológicas naquele ano. Até 26 de maio de 2021, transcorridas 20 semanas epidemiológicas, foram registrados 911 óbitos, com média semanal de 47,9 óbitos, denotando um aumento preocupante. De acordo com a última atualização no OOBr Covid-19 em fevereiro de 2023, totalizou 24.220 casos de SRAG por Covid-19 em gestantes e puérperas, representando 1% do total de números de casos de SRAG por Covid-19.
Além do aumento expressivo de óbitos, identificou-se que a maior parte ocorre durante a gestação, e não no puerpério, em destaque no segundo e terceiro trimestres de gestação. Apesar do primeiro trimestre da gestação apresentar um período mais delicado, com maior risco de abortamentos espontâneos, assim como alterações importantes no desenvolvimento embrionário, não houve evidências significativas de óbitos neste período. Todavia, presume-se que a partir da metade do segundo trimestre tenha uma relação com as mudanças morfológicas na gestante, quando há mudança nas estruturas circulatórias para atender à demanda do crescimento fetal. Ao considerar este cenário, supõe-se que a vacinação realizada na gestante ainda no primeiro trimestre seja adequada para conferir proteção à gestante já durante o segundo e terceiro trimestres.
Considerando o exposto, agrega-se o risco inerente aos aspectos biológicos da gestação a falta de acesso aos serviços de saúde, como a: internação em UTIs; tratamentos, como a intubação; medidas de controle, como testagem ao apresentarem sintomas e ao serem admitidas nas maternidades; e vacinação. De acordo com o estudo realizado por SANTOS et al (2021), foi evidenciado pelos dados apontando que 23,2% das gestantes e puérperas mortas por Covid-19 não chegaram a ser admitidas em UTIs e 33,6% delas não foram intubadas, traduzindo um dos aspectos da dificuldade de acesso.
Em destaque, os demais estudos desta pesquisa identificaram que as manifestações clínicas de mulheres grávidas infectadas com Covid-19 são semelhantes às de mulheres não grávidas, geralmente incluindo tosse leve, falta de ar e febre. As mulheres grávidas eram mais propensas do que as mulheres não grávidas a permanecer assintomáticas, mas eram mais propensas a serem admitidas na unidade de terapia intensiva com maior probabilidade no terceiro trimestre. Contudo, isso pode ser devido a um limite inferior de internação em UTI para gestantes infectadas com Covid-19. Os fatores de risco para doenças graves foram semelhantes aos da população em geral, incluindo diabetes, hipertensão crônica, obesidade e história de BAME. Desta forma, complicações maternas são esperadas em gestantes com idade avançada, obesidade, comorbidades preexistentes ou não vacinadas. As mulheres grávidas com Covid-19 têm uma taxa de cesariana mais alta do que aquelas sem Covid-19. Estudos também mostraram que mulheres com Covid-19 têm partos prematuros mais frequentes; a maioria são iatrogênicos e podem estar relacionados à deterioração da doença materna. Além disso, o risco de ruptura prematura de membranas e sofrimento fetal também foi maior durante a pandemia.
Vale lembrar que a mortalidade materna perpetua ciclos de pobreza social, impõe uma carga brutal de sofrimento às famílias e viola claramente os direitos das mulheres à saúde e à saúde de seus bebês. Perante esta situação, para reduzir a mortalidade materna é imperativo atuar em paralelo e apoiar os objetivos de prevenção da Covid-19 e melhoria das redes de cuidados neste grupo específico. Crucialmente, as mulheres grávidas e puérperas são consideradas de alto risco no planejamento de combate ao Covid-19 – uma doença com resposta imune variável e grave que afeta dois grupos que visamos (mulheres e seus bebês) já com restrições de recursos, incluindo leitos de UTI. Para isso, é necessário combinar medidas de saúde, não medicamentosas e vacinais. Deve-se manter e qualificar as consultas de pré-natal, com identificação precoce dos casos, incentivar e orientar sobre o autocuidado como a higienização das mãos, adotar a testagem universal na admissão das maternidades com testes moleculares (RT-PCR), além de disponibilizar de leitos de UTI para os casos graves. Além disso, incentivar a vacinação de todas as gestantes e puérperas é fundamental.
4 CONCLUSÃO
Desfechos maternos e fetais globais pioraram durante a pandemia da Covid-19, com aumento de mortes maternas. Mulheres grávidas e recém-nascidos foram frequentemente consideradas de alto risco durante a pandemia. Numerosos estudos demonstraram que os sintomas do Covid-19 em mulheres grávidas e não grávidas são essencialmente os mesmos. No entanto, mulheres grávidas com Covid-19 no terceiro trimestre têm maior probabilidade do que mulheres não grávidas de necessitar de cuidados intensivos, embora isso possa ser devido a um limiar mais baixo para intervenção em mulheres grávidas, e não a uma doença mais grave. Em comparação com mulheres grávidas que não apresentam sintomas de Covid-19, as mulheres grávidas com Covid-19 sintomática que requerem hospitalização apresentam desfechos maternos piores, incluindo morte, embora o risco absoluto ainda seja muito baixo. Os resultados para recém-nascidos de mulheres positivas para Covid-19 são geralmente favoráveis, embora o parto prematuro e o sofrimento fetal também tenham sido maiores. As conclusões dessas investigações ressaltam a importância do monitoramento adicional dos resultados de mulheres grávidas e puérperas durante a pandemia. Esta revisão avalia a qualidade dos estudos de maneira minuciosa e fornece informações valiosas sobre as evidências. Por fim, pesquisas adicionais sobre resultados fetais são necessárias para investigar os efeitos da COVID-19 na gravidez do feto.
REFERÊNCIAS
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1Graduanda em Enfermagem
UNEX | Feira de Santana – Bahia
https://orcid.org/0000-0002-9253-5162
E-mail: vitoria.ferreira@ftc.edu.br
2Graduanda em Enfermagem
UNEX | Feira de Santana – Bahia
https://orcid.org/ 0009-0008-8149-0334
E-mail: esther.fontenele@ftc.edu.br
3Graduanda em Enfermagem
UNEX | Feira de Santana – Bahia
https://orcid.org/0009-0002-5340-6146
E-mail: dhenifferferraz@hotmail.com
4Enfermeira Especialista em Saúde da Família e Comunidade
Universidade do Oeste do Pará (UFOPA) | Santarém- Pará
https://orcid.org/0000-0002-4818-1010
E-mail: luanah.orix@gmail.com
5Graduanda em Enfermagem
UNEX | Feira de Santana – Bahia
Orcid:https://orcid.org/0009-0000-7150-8328
E-mail: ferreiramanda438@gmail.com
6Graduando em Enfermagem
Universidade Federal do Espírito Santo
Orcid: https://orcid.org/0000-0002-0819-9697
E-mail: Carlos.pessoa@edu.ufes.br
7Graduanda em Enfermagem
Universidade Federal de Sergipe (UFS)
https://orcid.org/0009-0003-1328-1622
E-mail: darlene_andrade2502@hotmail.com
8Graduando em Fisioterapia
Universidade federal do delta do Parnaíba – UFDPar
https://orcid.org/0009-0006-8649-4858
E-mail: ivomene96@gmail.com
9Graduanda em Medicina
Centro Universitário UNINOVAFAPI
https://orcid.org/0000-0002-2100-2086
E-mail: monnafeitoza@gmail.com
10Graduanda em Enfermagem
UNIFTC | Salvador – Bahia
https://orcid.org/0009-0000-9253-9967
E-mail: palomaluar1@gmail.com
11Graduanda em Enfermagem
UNIFTC | Salvador – Bahia
https://orcid.org/0009-0002-9444-638X
E-mail: micavirtuosa@hotmail.com
12Graduanda em Enfermagem
UNEX | Feira de Santana – Bahia
https://orcid.org/0009-0000-7096-8322
E-mail:
13Graduanda em Enfermagem
UNEX | Feira de Santana – Bahia
https://orcid.org/0009-0007-9108-5474
E-mail: raquellobofsa@gmail.com
14Enfermeiro
https://orcid.org/0009-0008-6666-4981
Uninassau | Salvador – Bahia
E-mail: enfermeironelsonrodrigues@gmail.com
15Graduanda em Medicina
UNIVILLE (Universidade da Região de Joinville)
https://orcid.org/0009-0004-4405-5326
E-mail: deboragaitkoski@gmail.com
16Graduanda em Enfermagem
UNEX | Feira de Santana – Bahia
https://orcid.org/ 0009-0006-0262-3334
E-mail: raquelsouzaoficial@gmail.com