COVID-19 AND HERPES ZOSTER: AN IMMUNOLOGICAL CORRELATION
COVID-19 Y HERPES ZOSTER: UNA CORRELACIÓN INMUNOLÓGICA
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8359198
Cássia Cristina Moreira Terezio
Mariana Lis Branco Castello Branco
Orientadora: Professora Dra. Nadie Christina Ferreira Machado Spence
RESUMO
Este artigo teve como objetivo realizar uma revisão bibliográfica somado a uma pesquisa exploratória, trazendo uma correlação imunológica dos vírus: SARS-CoV-2 e Varicela-Zoster. A respeito da revisão bibliográfica foi coletado uma breve explicação imunológica, já no que diz respeito à pesquisa exploratória, coletamos dados mundiais e do estado do Paraná a fim de estabelecer uma associação entre a Covid-19 e a reativação do vírus responsável pela Herpes Zoster. Os dados utilizados foram coletados e selecionados através de bibliografias físicas, da Organização Pan-Americana de Saúde, da Organização Mundial de Saúde, do DATASUS, da base MEDLINE e PubMed. A partir da análise dos dados, concluímos que houve um cenário de subnotificação dos casos referentes a Herpes Zoster. Palavras-chave: covid; SARS-CoV-2; varicela-zoster; linfopenia; imune.
ABSTRACT
This article aimed to conduct a bibliographic review combined with an exploratory research, bringing forth an immunological correlation between the viruses: SARS-CoV-2 and Varicella-Zoster. Regarding the bibliographic review, a brief immunological explanation was gathered, while concerning the exploratory research, we collected worldwide and Paraná state data to establish an association between Covid-19 and the reactivation of the virus responsible for Herpes Zoster. The data used were collected and selected from physical bibliographies, the Pan American Health Organization, the World Health Organization, DATASUS, the MEDLINE database and PubMed. From the analysis of the data, we concluded that there was a scenario of underreporting of cases related to Herpes Zoster. Keywords: covid; SARS-CoV 2; varicella-zoster; lymphopenia; immune.
RESUMEN
Este artículo tuvo como objetivo llevar a cabo una revisión bibliográfica junto con una investigación exploratoria, presentando una correlación inmunológica entre los virus: SARS CoV-2 y Varicela-Zoster. En lo que respecta a la revisión bibliográfica, se recopiló una breve explicación inmunológica, mientras que en la investigación exploratoria, se recopilaron datos a nivel mundial y del estado de Paraná para establecer una asociación entre la Covid-19 y la reactivación del virus responsable del Herpes Zoster. Los datos utilizados fueron recopilados y seleccionados de bibliografías físicas, la Organización Panamericana de la Salud, la Organización Mundial de la Salud, DATASUS, la base de datos MEDLINE y PubMed. A partir del análisis de los datos, concluimos que hubo un escenario de subregistro de casos relacionados con el Herpes Zoster. Palabras clave: covid; SARS-CoV-2; varicela-zoster; linfopenia; inmunidad.
INTRODUÇÃO
Em dezembro de 2019, foram reportados os primeiros casos de Covid-19 em Wuhan, na China. A partir disso, devido ao seu caráter altamente transmissível, o vírus se alastrou pelos três meses seguintes por todos os continentes e foi declarado estado de pandemia pela Organização Mundial de Saúde em março de 2020 (Giamarellos-Bourboulis, et al., 2020).
A característica marcante da doença é a ocorrência, em 10 a 20% dos pacientes, de uma deterioração súbita 7 a 10 dias após o início dos sintomas, aumentando o risco de síndrome respiratória aguda, suporte de órgãos e desfecho fatal (Giamarellos-Bourboulis, et al., 2020). As mortes, de acordo com a epidemiologia, ocorrem principalmente entre idosos e nos pacientes com doenças prévias, como cardiovasculares, respiratórias ou diabetes (LEÃO, et al., 2020). Nesse sentido, em outras palavras, podemos definir que a Covid-19 traz como resultado um comprometimento sistêmico, que é provocado pela entrada do vírus SARS-CoV-2 nos tecidos via enzima conversora de angiotensina II, a ECA-2 (CARVALHO, et al., 2020). É através de receptores da ECA-2 que o vírus entra nas células e podemos encontrá-los em diversos tecidos, sendo eles: células endoteliais, miocárdio, mucosa do trato gastrointestinal, rins e vias respiratórias (SCHOLZ, et al., 2020).
No que diz respeito ao quadro clínico dessa doença, podemos classificá-lo em: assintomático, leve, moderado e grave. Assintomático é quando o paciente apresenta o exame laboratorial (PCR) positivo para SARS-CoV-2 e ausência de sintomatologia. O caso leve é caracterizado pela presença de sintomatologia não-específica, como: tosse, dores de garganta, coriza, podendo ou não apresentar anosmia, disgeusia, diarreia, febre, mialgia e cefaleia. Já nos casos moderados podemos ter esses sintomas mais persistentes, como febre, diarréia, prostração, cefaleia intensa diária, hiporexia, pneumonia sem sinais de maior gravidade. E, por fim, em relação aos casos graves, consideramos a Síndrome Respiratória Aguda Grave, que é caracterizada pelo desconforto respiratório associado a dispneia, saturação igual ou menor que 95% em ar ambiente, cianose labial ou facial (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2021).
Partindo do contexto imunológico, as primeiras publicações descrevem linfopenia, afetando principalmente células T e B, neutrofilia e diminuição da contagem de eosinófilos e monócitos. Acerca da neutrofilia, se associa com o aumento da formação de armadilhas extracelulares (NETose), desregulação de citocinas, assim contribuindo para inflamação e manifestações autoimunes, além de trombóticas (Giamarellos-Bourboulis, et al., 2020). Wang et al analisou os níveis de linfócitos no sangue de pacientes e foi encontrado um número significantemente mais baixo de linfócitos, células T CD4+, células T CD8+, células B e células NK. Há a hipótese que a linfopenia associada ao Covid-19 acontece parcialmente através do dano direto ao timo e baço, sendo que outra teoria seria que esta relacionado diretamente a tempestade de citocinas mediada pela apoptose de linfócitos ou diretamente associada a morte de linfócitos pela pelos receptores expresso (ELSAIE, 2020). Em comparação, em um paciente infectado com Herpes Zoster, foi encontrado baixa concentração de células T CD3+, CD4+ e CD8+ (ALGAADI, 2021). A interferência da desregulação autoimune causada pelo SARS CoV-2 em associação com o estresse físico e mental pode ser considerado um fator envolvido na reativação do vírus varicela-zoster, gerando a Herpes Zoster (PONA, et al., 2020).
Diante disso, tem sido hipotetizado que a reativação do vírus varicela-zoster culmina na disfunção dos linfócitos T, incluindo linfopenia e exaustão linfocitária em pacientes com Covid 19. Tendo isto em vista, deve-se estar ciente da possibilidade do aumento do risco de Herpes Zoster durante o período pandêmico da Covid-19 e considerar possíveis intervenções terapêuticas e medidas preventivas contra isso (DIEZ-DOMINGO, et al., 2021).
METODOLOGIA E ANÁLISE DE DADOS
A pesquisa tem caráter documental exploratória e epidemiológica. Para coleta foi utilizada a base de dados do DATASUS, utilizando os seguintes parâmetros: linha Lista Morb CID-10, coluna unidade de federação e conteúdo valor total. No tópico “seleções disponíveis”, em unidade de federação selecionamos o Paraná e em Lista Morb CID-10 foi selecionado Varicela e Herpes Zoster. Na fonte de dados primária, DATASUS, não há distinção entre Varicela e Herpes Zoster, portanto os números são referentes à soma da incidência das duas doenças.
A partir das informações disponibilizadas, foi realizada a análise estatística dos dados comparando período pré-pandêmico referente aos anos de 2017 a 2019 e pós-pandêmico da Covid-19, 2020 a 2022, e os casos de Herpes Zoster na população paranaense. Segundo os dados coletados na Lista Morb CID-10 do Data-SUS, de 2017 a 2019 houveram 1.134.308,98 casos de Varicela e Herpes Zoster no Estado do Paraná, já no ano de 2020 a 2022 foram registrados 614.007,56 casos da doença. A incidência de acordo com o sexo no período de 2017 a 2019 foi de 740.322,46 homens e 573.986,52 mulheres. Em contrapartida, no período pós pandêmico tiveram 332.320,70 casos no sexo masculino e 281.686,86 no sexo feminino.
Além das coletas que foram realizadas de acordo com número total e de acordo com sexo nos casos de Varicela e Herpes Zoster, também foi coletado acerca da faixa etária, sendo o o grupo Faixa Etária 1 de 30 a 59 anos, totalizando 346.665,0; já no período pós-pandêmico de 2020 a 2022 foram totalizados 165.748,11 casos. O grupo Faixa Etária 2 abrange de 60 a 79 anos, em 2017 a 2019 foram, no total, 452.352,62 casos, em comparação com o período de 2020 a 2022 obtivemos o resultado de 251.570,81 casos de Herpes Zoster.
Os números que representam a totalidade dos casos podem ser observados a seguir no Gráfico 1.
Os números que representam a incidência de Varicela e Herpes Zoster segmentadas por sexo podem ser observados no Gráfico 2.
Os dados referentes à incidência de Varicela e Herpes Zoster segmentadas por faixa etária podem ser observados na Tabela 1.
Incidência Varicela e Herpes Zoster na Faixa Etária 1 e na Faixa Etária 2
Período | Faixa Etária 1 (30-59 anos) | Faixa etária 2 (60-79 anos) | Total no período |
2017-2019 | 346.665,08 | 452.352,62 | 799.017,70 |
2020-2022 | 165.748,11 | 251.570,81 | 417.318,92 |
A partir da análise dos dados tabulados acima chegamos a duas hipóteses: a primeira hipótese é um cenário de subnotificação e a segunda hipótese é um cenário onde não há correlação entre a Covid-19 e o aumento da incidência Herpes Zoster. Em relação a subnotificação, podemos explicá-la pelo fato de que no período pandêmico várias Unidades Básicas de Saúde foram transformadas em Unidades de Pronto Atendimento, visto que, a prioridade era o controle e manejo das urgências e emergências respiratórias decorrentes da Covid-19.
Acerca da hipótese de não haver correlação entre a Covid-19 e a reativação do vírus varicela-zoster, que traz como resultado a Herpes Zoster, pode ser justificada pelo próprio cenário de subnotificação no período pandêmico e pós-pandêmico. Portanto, pode-se concluir que a partir dos dados ofertados pelo DATASUS e da análise dos mesmos que, até o presente momento, não foi demonstrado uma relação direta entre a Covid-19 e Herpes Zoster, mas não devemos descartar essa possibilidade.
CONCLUSÃO
A partir da coleta e, posteriormente, análise dos dados fornecidos através da plataforma DATASUS, podemos observar que não foi estabelecida uma correlação direta entre a incidência da Covid-19 e a reativação do vírus varicela-zoster no período de 2020 a 2022. Essa ausência de relação durante esse período pode ser atribuída a um cenário de subnotificação diante dos casos de Herpes Zoster.
A subnotificação dos casos de Herpes Zoster pode ser explicada pela alteração significativa na estrutura de atendimento da saúde durante o período pandêmico. Ou seja, a prioridade foi dada ao controle e tratamento dos casos de Covid-19, e às emergências respiratórias associadas a essa doença. Tal mudança realizada pode ter levado a uma diminuição tanto na detecção, quanto nos registros dos casos de Herpes Zoster, que, ao compararmos com a Covid-19, são, geralmente, menos graves e, consequentemente, menos ameaçadores à saúde pública.
Portanto, a ausência da relação direta entre a Covid-19 e o ressurgimento do vírus responsável pela Herpes Zoster no período mencionado anteriormente está atribuída a múltiplos fatores, sendo eles: o deslocamento dos recursos de saúde durante a pandemia, o caráter oportunista do vírus varicela-zoster e a possível subnotificação dos casos relacionados a Herpes Zoster. Por fim, é importante ressaltar que são necessários estudos mais aprofundados e análises epidemiológicas para que se tenha uma compreensão completa dos efeitos da pandemia sobre essa doença infecciosa.
REFERÊNCIAS:
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