CORRELATIONS BETWEEN BREAST CANCER AND MENTAL HEALTH: A LITERATURE REVIEW ON PSYCHOSOCIAL COMPLEXITY
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10248310837
Lívia Fernandes Sardinha1
Ingrid Pinheiro Da Silva2
Caio Moraes Lins3
Thayna Casemiro Monteiro4
Natassia De Melo Gomes Brito5
Guinnever Braga De Sá Machado De Souza6
Resumo
Introdução: O câncer de mama é o mais prevalente entre as mulheres no Brasil, com maior incidência nas regiões Sul e Sudeste. O tratamento varia de acordo com o estágio da doença, podendo incluir desde terapias menos invasivas até mastectomia. As pacientes enfrentam desafios emocionais e físicos significativos, como mudanças na autoimagem e a queda de cabelo associada à quimioterapia. Materiais e métodos: Esta revisão sistemática integrativa investigou as correlações entre câncer de mama e saúde mental das mulheres, abordando intervenções para mitigar danos psicológicos. Utilizando PubMed e LILACS, foram selecionados 30 artigos com os descritores “câncer de mama”, “saúde mental” e “imagem corporal”, visando compreender o impacto psicológico da doença e estratégias terapêuticas. Resultados: Foram analisadas 16 publicações que cumpriram os critérios de inclusão entre os anos de 2019 e 2024, após revisão dos 30 artigos inicialmente selecionados nas bases de dados PubMed e LILACS. A busca e seleção seguiram as diretrizes do fluxograma PRISMA, com exclusão de artigos repetidos, indisponíveis ou que não atenderam à pergunta de pesquisa. Discussão: Compreender a imagem corporal em mulheres com câncer de mama é essencial para lidar com o estresse e os desafios psicossociais. A doença afeta a feminilidade e a sexualidade, causando ansiedade e depressão. Cerca de 50% das pacientes enfrentam transtornos psiquiátricos. Mudanças físicas, como cicatrizes e alopecia, diminuem a autoestima. O apoio social é vital para o bem-estar emocional. A reconstrução mamária e alternativas como próteses e tatuagens melhoram a qualidade de vida. Uma abordagem integrada é crucial para enfrentar o câncer de mama de forma positiva. Conclusão: Mulheres com câncer de mama enfrentam desafios psicossociais e emocionais significativos devido às mudanças corporais e aos impactos na sexualidade e na autoestima. Ansiedade, depressão e transtorno de estresse pós-traumático são comuns, exigindo uma abordagem holística para melhorar a qualidade de vida.
Palavras–chave: Câncer de mama. Saúde mental. Imagem corporal.
Abstract
Introduction: Breast cancer is the most prevalent among women in Brazil, with higher incidence in the South and Southeast regions. Treatment varies according to disease stage, ranging from less invasive therapies to mastectomy. Patients face significant emotional and physical challenges, such as changes in self-image and hair loss associated with chemotherapy. Materials and Methods: This integrative systematic review investigated correlations between breast cancer and women’s mental health, addressing interventions to mitigate psychological damage. Using PubMed and LILACS, 30 articles were selected with the descriptors “breast cancer,” “mental health,” and “body image,” aiming to understand the psychological impact of the disease and therapeutic strategies. Results: 16 publications meeting inclusion criteria were analyzed from 2019 to 2024, after reviewing the initially selected 30 articles from PubMed and LILACS databases. The search and selection adhered to PRISMA flowchart guidelines, excluding duplicate articles, unavailable studies, or those not answering the research question. Discussion: Understanding body image in women with breast cancer is essential for addressing stress and psychosocial challenges. The disease affects femininity and sexuality, leading to anxiety and depression. Approximately 50% of patients experience psychiatric disorders. Physical changes such as scars and alopecia decrease self-esteem. Social support is crucial for emotional well-being. Breast reconstruction and alternatives like prostheses and tattoos enhance quality of life. An integrated approach is critical for positively confronting breast cancer. Conclusion: Women with breast cancer face significant psychosocial and emotional challenges due to bodily changes and impacts on sexuality and self-esteem. Anxiety, depression, and post-traumatic stress disorder are common, necessitating a holistic approach to improve quality of life.
Keywords: Breast cancer. Mental health. Body image.
Introdução
O câncer de mama é uma doença causada pela multiplicação desordenada de células anormais da mama, que forma um tumor com potencial de invadir outros órgãos (Brasil, 2023).
No Brasil, excluídos os tumores de pele não melanoma, o câncer de mama é o mais incidente em mulheres de todas as regiões, com taxas mais altas nas regiões Sul e Sudeste. Para cada ano do triênio 2023-2025 foram estimados 73.610 casos novos, o que representa uma taxa ajustada de incidência de 41,89 casos por 100.000 mulheres (Inca, 2022).
Existem diversos tipos de tratamento indicados para combater o câncer de mama. Há tratamentos mais invasivos e com maiores efeitos colaterais e outros menos agressivos, tudo irá depender do estágio da doença, do tipo de câncer e do aparecimento de metástase ou não (Femama, 2019).
A mastectomia é uma cirurgia radical e por isso traz consigo uma gama de mudanças na vida da mulher, provocando alterações em sua autoimagem e consequentemente mudando seu relacionamento e sua percepção do próprio corpo, o que acarreta um conflito em sua sexualidade e uma dificuldade nas relações sociais (Sena; Neves, 2019).
O efeito colateral mais associado ao tratamento quimioterápico é a queda de cabelo, que costuma ser uma experiência traumática para a paciente. As consequências são muitas, desde a diminuição da autoestima, diminuição do senso de atratividade e problemas de relacionamento (Koÿodziejczyk; Pawÿowski, 2019).
Diante do exposto, o objetivo do trabalho é descrever as principais consequências psicossociais encontradas em mulheres com câncer de mama e analisar as intervenções mais efetivas para reduzir o impacto psicológico sofrido por essas pacientes.
Materiais e Métodos
Trata-se de uma revisão sistemática integrativa da literatura sobre as correlações entre o câncer de mama e a saúde mental das mulheres.
Para o desenvolvimento, foram percorridas as seguintes etapas: elaboração da questão norteadora, busca na literatura e seleção dos artigos. A pesquisa partiu da seguinte questão norteadora: Como o câncer de mama impacta o psicológico das mulheres e quais as possíveis intervenções para minimizar os danos mentais?
Foram utilizadas na seleção dos artigos as seguintes bases de dados eletrônicos: PubMed e LILACS.
Empregaram-se os Descritores em Ciência da Saúde (DeCS): Câncer de mama, saúde mental e imagem corporal. A partir da combinação desses descritores, por meio do operador booleano (AND), foi possível a captura de 30 artigos.
Resultados
Entre os 30 artigos selecionados nas bases de dados, 16 estavam indexados no PubMed e 14 no LILACS. Verificou-se que 5 deles eram repetidos, 4 não estavam disponíveis na íntegra e 5 não respondiam à pergunta de pesquisa. Por isso, foram analisadas 16 publicações que cumpriam os critérios de inclusão, sendo eles divulgados entre os anos de 2018 e 2024.
A busca e seleção dos artigos basearam-se nas diretrizes do fluxograma PRISMA (Principais itens para relatar Revisões Sistemáticas e Meta-Análises), como apresentado na figura 1.
Figura 1: Fluxograma PRISMA adaptado
Discussão
Segundo Oliveira et al. (2019), compreender a imagem corporal em mulheres com neoplasia mamária é de extrema importância para o entendimento do estresse causado pelas alterações resultantes da doença e seus tratamentos, do modo como essas mulheres reagem às mudanças físicas, aos problemas psicossociais e, ainda como enfrentam esse processo.
O câncer de mama feminino é motivo de intenso sofrimento, já que o órgão simboliza feminilidade, sexualidade e maternidade. Desde o momento do diagnóstico, as mulheres acometidas pelo câncer de mama experienciam sentimentos negativos, como ansiedade, medo, depressão, angústia e desespero (Vargas et al., 2020).
De acordo com Civilotti et al. (2021), aproximadamente 50% das pacientes com câncer de mama sofrem de transtornos psiquiátricos, sendo a ansiedade e depressão os sintomas psicológicos mais comuns. O sofrimento tende a ser maior imediatamente após o diagnóstico, o que representa um momento significativo com grande impacto na vida da mulher em termos de consequências emocionais, familiares e sociais (Santos et al., 2023).
A sexualidade é um dos primeiros elementos da vida cotidiana influenciada pelo câncer e ao contrário de outros efeitos colaterais que tendem a melhorar com o tempo, os problemas sexuais não tratados das sobreviventes normalmente persistem ou pioram (Dinapoli et al., 2021). A experiência intrapsíquica das mulheres sobre as mudanças na sexualidade inclui medo de infertilidade, imagem corporal negativa, sentimentos de falta de atratividade sexual, perda de feminilidade, bem como alterações no senso de identidade sexual (Jing et al., 2019).
Para alguns pacientes, a experiência oncológica é decididamente traumática, com consequências psicológicas que podem resultar em transtornos de estresse pós-traumático (TEPT). O TEPT é um transtorno mental que ocorre após exposição a episódios potencialmente fatais e é caracterizada por intensa revivência do evento traumático por meio de memórias intrusivas e pesadelos; alterações negativas nas cognições e no humor; e em alguns casos, sintomas de despersonalização persistente ou recorrentes. Pacientes com câncer muitas vezes descrevem preocupações constantes, pesadelos com a doença neoplásica ou com o tratamento, e preocupações com a recorrência e com o futuro (Janero; Givaudan; Osorio, 2018).
Segundo Koÿodziejczyk e Pawÿowski (2019), as diversas variedades de cirurgia são um dos principais métodos de tratamento do câncer de mama. Entretanto, elas podem causar dificuldades, pois a paciente precisa lidar com os resquícios do procedimento, como cicatrizes pós-operatórias, inchaço, vermelhidão e dor intensa, além dos aspectos estéticos, como os problemas de autoaceitação consequentes da assimetria das mamas, desproporção entre elas ou a necessidade de usar protetores de sutiã.
Os estudos apresentados por Silva et al. (2018) mostram que 84,83% dos pacientes oncológicos submetidos a quimioterapia apresentam baixo nível de autoestima. Isso porque os efeitos colaterais desse procedimento são comuns, principalmente a alopecia, que é considerada um efeito colateral inevitável e transitório, mas que afeta diretamente na imagem corporal. Outras alterações no corpo que ocorrem durante a quimioterapia incluem aumento da transpiração, alterações nas características faciais, unhas quebradiças ou escurecidas resultantes de infecção fúngica, infecções fúngicas orais e problemas de pele. Isto muitas vezes leva a mau humor, ansiedade e sentimentos de vergonha, fazendo com que os pacientes fiquem em casa ou negligenciem algumas de suas tarefas (Koÿodziejczyk; Pawÿowski, 2019).
Durante o diagnóstico, tratamento e acompanhamento do câncer de mama, manter uma autoestima elevada tem impactos benéficos em diversos aspectos da saúde da mulher, incluindo sua vida sexual, bem-estar físico e saúde mental e emocional (Oliveira; Alves; Reis, 2023).
Vargas et al. (2020) evidenciaram em seus estudos que o apoio social é uma importante estratégia na adaptação ao câncer de mama, pois a rede de apoio é considerada um fator protetor e recuperador da saúde da mulher com câncer, já que a impede de desistir de lidar com as diferentes fases do tratamento e permite que o enfrentamento da doença seja mais positivo. Os autores expõem que o apoio compreende o suporte emocional, material e educacional, provocando efeito direto sobre o bem-estar, promovendo a melhoria dos aspectos psicoemocionais de indivíduos no processo saúde-doença.
A oferta crescente da cirurgia de reconstrução da mama para mulheres diagnosticadas com câncer de mama nos países ocidentais reflete uma mudança positiva no tratamento. Antes, o foco principal era a mastectomia, com pouca consideração pela estética e pelos aspectos psicossociais. No entanto, agora é claro que a reconstrução mamária após a mastectomia deve ser uma opção disponível, pois foi demonstrado que isso contribui significativamente para a qualidade de vida (Hansen; Rasmussen, 2022). A indicação para realização da reconstrução de mama é para pacientes que realizaram mastectomia radical ou total, existindo a possibilidade de ser imediata, desde que não haja recomendação de radioterapia adjuvante (Brasil, 2018).
A longa espera para a realização da reconstrução -devido à lotação e demasiada burocracia do sistema de saúde- somada a não totalidade de abrangência e eficácia da reparação (por questões de rejeição do corpo ou das infecções que acometem de 3,5% a 11,1% das mulheres pós cirurgia), foram criadas as próteses mamárias, as quais se mostraram eficientes em proporcionar maior segurança e aceitação quando utilizadas com roupas. Outra maneira encontrada para mitigar os efeitos depreciativos da mastectomia foi a realização de tatuagens no local, variando desde a restauração do complexo areolopapilar até mesmo figuras e imagens diversas, no intuito de cobrir a cicatriz indesejada (Chaves et al., 2021).
Conclusão
Entender a percepção corporal em mulheres com câncer de mama é crucial para lidar com o estresse e os desafios psicossociais causados pela doença e seus tratamentos. O impacto do câncer de mama vai além das mudanças físicas, afetando profundamente a feminilidade, sexualidade e maternidade das pacientes. Sentimentos de ansiedade, medo e depressão são comuns desde o diagnóstico, e muitas mulheres enfrentam transtornos psiquiátricos, com a ansiedade e a depressão sendo as mais comuns.
A sexualidade é uma das áreas mais afetadas, com problemas que frequentemente persistem ou pioram ao longo do tempo. Além disso, o câncer de mama pode causar transtorno de estresse pós-traumático, aumentando o sofrimento psicológico. As mudanças físicas decorrentes das cirurgias e da quimioterapia, como cicatrizes e queda de cabelo, podem diminuir a autoestima das pacientes, afetando seu bem-estar geral.
Portanto, uma abordagem integrada que leve em consideração os aspectos físicos, emocionais e sociais é essencial para melhorar a qualidade de vida das mulheres com câncer de mama, ajudando-as a enfrentar os desafios da doença de maneira mais positiva e resiliente.
Referências
- VARGAS, G. et al. Social supRot network of women with breast cancer. Cuidado é fundamental. 2020; 12: 73-78.
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- INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA. Estimativa 2023: incidência do Câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/inca/ptbr/assuntos/cancer/numeros/estimativa. Acesso em: 06 jul 2024.
- JARERO, I., GIVAUDAN, M., OSORIO, A. Ensaio clínico randomizado sobre o fornecimento do protocolo de tratamento de grupo integrativo EMDR adaptado para estresse traumático contínuo para pacientes do sexo feminino com sintomas de transtorno de estresse pós-traumático relacionados ao câncer. J EMDR Prática Res. 2018; 12:94–104.
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- TIPOS de tratamento para câncer de mama. Femama, 2019. Disponível em: https://femama.org.br/site/blog-da-femama/tipos-de-tratamento-para-cancer-de-mama/?gad_source=1&gclid=Cj0KCQjw1qO0BhDwARIsANfnkv9emD9BSPqoTqjN7TUACCAmbPsffmNmmjIXbUBBJ9sji5o8h7n_uuoaAgn9EALw_wcB. Acesso em: 06 jul 2024.
1 Discente de Medicina – Universidade Iguaçu, UNIG | Nova Iguaçu, Rio de Janeiro;
2 Discente de Medicina – Universidade Iguaçu, UNIG | Nova Iguaçu, Rio de Janeiro;
3 Discente de Medicina – Universidade Iguaçu, UNIG | Nova Iguaçu, Rio de Janeiro;
4 Discente de Medicina – Universidade Iguaçu, UNIG | Nova Iguaçu, Rio de Janeiro;
5 Discente de Medicina – Universidade Iguaçu, UNIG | Nova Iguaçu, Rio de Janeiro;
6 Discente de Medicina – Universidade Iguaçu, UNIG | Nova Iguaçu, Rio de Janeiro;