CORREÇÃO TRANSVERSAL COM DISJUNTOR HYRAX

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8001378


Raisa Braga Cezario;
Priscila Pinto Brandão de Araújo;
Carlos Eduarde Bezerra Pascoal;
Fabíola Brasil Roberto;
Pedro da Silva Rodrigues Filho;
Renato da Silva Repilla.


RESUMO

A atresia maxilar é uma má oclusão esquelética no sentido transversal que consiste no estreitamento da arcada superior, tendo como característica clinica a mordida cruzada posterior uni ou bilateral, além de, ocasionar uma diminuição no perímetro do arco resultando em apinhamento dentário. A sua etiologia é multifatorial, podendo ser genética, fisiológica ou decorrente de hábitos parafuncionais. O tratamento consiste primeiramente na disjunção da sutura palatina mediana por meio da Expansão Rápida da Maxila (ERM), em pacientes que ainda não atingiram a maturação óssea, utilizando aparelhos ortopédicos como: disjuntor de Haas, Hyrax ou Macnamara. Em pacientes adultos, a sua aplicação é complicada em virtude da rigidez crescente das estruturas ósseas com o avanço da idade e pelo pouco espaço de crescimento devido à ossificação da sutura palatina mediana. O presente trabalha relata o caso clinico de um paciente de 15 anos de idade, com mordida cruzada posterior bilateral e atresia maxilar, onde optou-se por utilizar o aparelho disjuntor Hyrax como primeira fase do tratamento para a fase posterior de alinhamento e nivelamento.

Palavras-chave: Atresia maxilar. Expansão rápida da maxila. Disjuntor de Hyrax.

ABSTRACT

Maxillary atresia is a skeletal malocclusion in the transverse direction that consists of the narrowing of the upper arch, with a clinical characteristic of unilateral or bilateral posterior crossbite, in addition to causing a decrease in the perimeter of the arch resulting in dental crowding. Its etiology is multifactorial, and may be genetic, physiological or due to parafunctional habits. The treatment consists primarily of disjunction of the midpalatal suture through Rapid Maxillary Expansion (RME) in patients who have not yet reached bone maturation, using orthopedic devices such as: Haas, Hyrax or Macnamara breaker. In adult patients, its application is complicated due to the increasing rigidity of the bone structures with advancing age and the limited space for growth due to the ossification of the midpalatal suture. The present work reports the clinical case of a 15-year-old patient, with bilateral posterior crossbite and maxillary atresia, where it was decided to use the Hyrax breaker device as the first phase of the treatment for the later phase of alignment and leveling.

Keywords: Maxillary atresia. Rapid jaw expansion. Hyrax breaker.

INTRODUÇÃO

As más oclusões são desordens que estão cada vez mais presentes na população, visto que, havendo desarmonia no sistema estomatognático, a correta ação mastigatória, fonética e estética são afetadas, bem como a deglutição, respiração e harmonia facial, causando desequilíbrio na estrutura dentária, esquelética e muscular (CAPELOZZA FILHO et al., 1997; BERGAMASCO et al., 2015; USINGER, etal 2018).

Dentre os problemas mais comuns vistos no consultório odontológico, podemos citar a atresia maxilar, que é definida pela diminuição da arcada superior no sentido transversal, provocando uma alteração na relação caixa tampa tendo como expressão clinica a mordida cruzada posterior, que é caracterizada pela inversão da oclusão dos dentes no sentido vestíbulo-lingual, podendo ser uni ou bilateral, além de ocasionar uma diminuição no perímetro do arco levando ao apinhamento dentário (CARDOSO etal., 2017; CAPELOZZA FILHO etal., 1997).

Uma das técnicas para tratamento de mordida cruzada posterior é a Expansão Rápida da Maxila (ERM), apresentada inicialmente por Angle em 1860, caracterizando-se pela disjunção da sutura palatina mediana, ocasionando modificações dentárias e esqueléticas. A força que é gerada por esses aparelhos, sob altos níveis de tensão no osso palatino, causam falhas na sutura, ocasionando a abertura da mesma em curto espaço de tempo (WEISSHEIMER et al., 2011; FLORES, 2021).

Essa disjunção palatina tem como propósito restabelecer dimensões transversais da maxila e aumentar o perímetro do arco, dando assim condições para o alinhamento dos dentes (MARTINS et al., 1998; CAPELOZZA FILHO et al., 1997). Para realização da ERM pode-se utilizar o aparelho disjuntor de Haas, que é um aparelho dentomucosuportado, Hyrax ou Macnamara que são classificados como dento suportados (TIMMS et al., 1999; FABRINI et al., 2006; USINGER et al., 2018). Porém, essa disjunção em indivíduos adultos, após a fusão das suturas maxilares, é de difícil obtenção e pode ocasionar diversos efeitos adversos como: fenestração óssea, vestibularização dos dentes posteriores, reabsorção radicular, necrose da mucosa do palato, extrusão de dentes posteriores e recessões gengivais (TAUSCHE etal., 2007).

Na fase adulta, a disjunção palatina, apresenta uma dificuldade maior no tratamento devido à maturação óssea, ou seja, quanto maior a idade mais difícil a possibilidade de abertura da sutura palatina mediana, podendo não ser viável a utilização de aparelhos disjuntores ortopédicos, por isso os resultados são favoráveis antes da calcificação dessa sutura pelo fato de haver uma grande bioleasticidade óssea nesse período (CAPELLOZA FILHO, SILVA FILHO, 1997).

A busca de tratamento ortodôntico por pacientes adultos com maturação esquelética em fase avançada despertou o surgimento de outros protocolos de osteotomias maxilares associada à expansão – ERMAC (Expansão rápida da maxila assistida cirurgicamente) com o proposito de diminuir a resistência do esqueleto crânio facial à expansão (ANTILA et al, 2004; BELL et al, 2004). Há dois procedimentos cirúrgicos amplamente citados na literatura: osteotomia maxilar Le Fort I segmentada (Expansão cirúrgica da maxila segmentada – ECMS) com intenção de liberar a maxila dos ossos contíguos e segmentá-la, promovendo o reposicionamento lateral das partes e a correção da atresia maxilar durante o ato cirúrgico; e osteotomia maxilar parcial (ERMAC) para reduzir a resistência à expansão realizada em conjunto com um dispositivo expansor (NORTHWAY et al, 1997; POGREL et al, 1992; PROFFIT etal, 1995).

Ainda como outra opção, em 2010 Lee, Park e Hwang propuseram a técnica de expansão rápida da maxila assistida por mini-implantes MARPE (miniscrew-assisted rapid palatal expansion), que consiste na inserção de quatro mini-implantes adjacentes à sutura palatina mediana, sendo dois parafusos mesiais e dois distais ao parafuso expansor, favorecendo a otimização do potencial de expansão nos pacientes que já atingiram a maturidade esquelética (NOJIMA et al., 2018; LEE et al, 2010).

Para que haja um planejamento mais preciso, o profissional pode lançar mão de exames de imagem complementares para análise do estágio de maturação da sutura palatina mediana, como radiografias e tomografia computadorizada, visto que, limita-se em analisar esse estágio apenas por meio da idade cronológica do paciente (ANGELIERI, CEVIDANES etal., 2013).

Por ser um tema relevante dentro da Ortodontia, o objetivo deste trabalho foi relatar o caso clinico de um paciente com atresia maxilar e mordida cruzada posterior bilateral tendo como primeira parte do tratamento o uso do disjuntor Hyrax.

RELATO DE CASO

Diagnóstico

Paciente, J.E.S.A, gênero masculino, 15 anos de idade, compareceu à clinica de especialização em ortodontia da Ceproeducar em Manaus/AM, acompanhado de sua responsável à procura de tratamento ortodôntico, tendo como principal queixa os dentes muito tortos e desalinhados. Durante a anamnese observou-se alguns procedimentos clínicos a serem realizados como restauração e profilaxia, e logo foi encaminhado para realização de tais procedimentos. Na análise facial, observou-se selamento labial ativo, pouca exposição gengival no sorriso, dolicofacial e Padrão I Face Longa. (FIGURA 1 A-C).

Figura1. Fotos extraorais: A – frontal; B – perfil direito; C – frontal sorrindo.

No exame intrabucal, pode-se observar atresia maxilar, mordida cruzada posterior bilateral, apinhamento anterior e ausência de diastemas, mordida cruzada anterior tendendo a mordida em topo (trespasse vertical nulo), linha media superior levemente desviada para direita e inferior desviada para esquerda (Figura 2 A-E).

Figura2. Fotos intraorais: A – frontal; B – lateral direita; C – lateral esquerda; D – oclusal superior; E – oclusal inferior.

Na radiografia panorâmica (Figura 3), observou-se contornos dos assoalhos das orbitas direita e esquerda sem alteração significativa, seios maxilares bem desenvolvidos, conchas nasais inferiores com contornos e tamanho dentro da normalidade, septo nasal integro e sem desvio significativo, côndilo, processos coronoides, tubérculos e eminências articulares íntegros e com radiopacidade normal. Presença do 18, 28, 28 e 48 não irrompidos, imagem radiopaca compatível com material restaurador nos dentes: 16, 17, 24, 25, 26, 27, 44, 45, 46, 47, 34, 35, 36 e 37.

Figura3. Radiografia panorâmica.

Sobre telerradiografia lateral e traçados (Figura 4 e 5) foram realizados estudos cefalometricos da face onde obteve-se medidas lineares e angulares que encontram-se dispostas na tabela 1.

Figura 4. Telerradiografia lateral. Figura 5.Traçados cefalometricos.

PADRÃO DO ESQUELETO CEFALICO

NAP0 A 2O-0,8OPerfil ósseo côncavo.
FMA25O30OTendência de crescimento vertical
NS.OCL14O20OTendência de crescimento vertical
NS.GoM32o39OTendência de crescimento vertical
NS.Gn67o67oTendência de crescimento equilibrada.

RELAÇÃO DAS BASES APICAIS

SNA82O80OMaxila bem posicionada, tendendo a retrusão.
SNB80O80OMandíbula bem posicionada.
ANB2O0OClasse III esquelética.
SND76o77OMandíbula bem posicionada.

ARCOS DENTARIOS X BASES APICAIS

1.NA22O22oIncisivos superiores bem posicionados.
1-NA4mm5mmIncisivos superiores protruídos.
1.NB25O25OIncisivos inferiores bem posicionados.
1-NB4mm4mmIncisivos inferiores bem posicionados.
FMIA68o67oIncisivos inferiores inclinados pra lingual em relação ao plano de Frankfurt.
IMPA87o88oIncisivos inferiores bem posicionados em relação ao plano mandibular.

PERFIL ÓSSEO X PERFIL MOLE

NAP0 A 2O-0,8oPerfil ósseo côncavo.
H.NB9 A 12O3OPerfil mole côncavo.
H-NARIZ9-11mm11mmPerfil harmonioso.

Tabela1: Analise Cefalometrica Padrão USP.

Planejamento

Levando em consideração que há problema transversal, atresia maxilar e mordida cruzada posterior bilateral, propôs-se inicialmente o uso do aparelho disjuntor Hyrax e, alinhamento e nivelamento da arcada superior e inferior com aparelho fixo metálico, prescrição Roth slot 0,22´´. Como segunda opção de disjunção seria a técnica de expansão rápida da maxila assistida por mini-implantes MARPE (miniscrew-assisted rapid palatal expansion) e, alinhamento e nivelamento da arcada superior e inferior com aparelho fixo metálico, prescrição Roth slot 0,22´´.

Tratamento

A confecção do disjuntor Hyrax iniciou-se com a separação ortodôntica com elástico separador entre os dentes: 14, 24, 16 e 26. Após cinco dias, o paciente retornou para seleção das bandas no espaço obtido para posterior moldagem de transferência dessas bandas, vazamento do molde e encaminhado ao laboratório para confecção do aparelho disjuntor Hyrax. Após o recebimento do aparelho, foi feita a instalação e orientação de ativação à responsável do paciente, da seguinte maneira: com o intervalo de trinta dias até a próxima consulta, ativar duas vezes pela manhã e duas vezes a noite ¼ de volta cada ativação, por sete dias.

Na consulta seguinte, após trinta dias, reavaliamos e já notamos pequenos diastemas nos dentes anteriores. A responsável foi orientada novamente a fazer a mesma ativação doze dias antes da próxima consulta. No mês seguinte, observamos um diastema maior nos dentes anteriores e então conduzimos o paciente à sala de radiografias da clinica para uma radiografia periapical para avaliação da sutura palatina mediana conforme a Figura 6.

Figura6. Radiografia periapical da sutura palatina mediana.

Analisando a radiografia periapical, observamos um espaço satisfatório e então orientamos a responsável a interromper a ativação, logo estabilizamos o parafuso expansor com fio de amarrilho 0,25mm e selamos com resina composta para que não machucasse o paciente com a ponta de sobra (Figura 7).

Figura 7. Aparelho disjuntor Hyrax travado com fio de amarrilho.

Logo após, solicitamos a ele uma radiografia oclusal, na clinica radiológica especializada, para que levasse na consulta seguinte, porém, diante do cenário pandêmico relacionado à COVID-19 e o decreto de ´´lockdown´´ dias após a consulta, o mesmo ficou impossibilitado de realizar tal exame, visto que, ficamos cinco meses afastados de atividades presenciais. Após esses cinco meses, tempo suficiente para ter havido a reorganização da sutura palatina mediana, pois a literatura aponta pelo menos três meses, retornamos as atividades de atendimento presencial, e foi feito a remoção do aparelho disjuntor, raspagem, profilaxia e instalação do aparelho fixo superior, prescrição Roth slot 022´´ – Morelli com fio de Níquel-Titânio 0,012“ (Figura 8 A-D), e solicitamos uma nova documentação teleradiográfica (Figura 9) a fim de obter medidas cefalometricas (Tabela 2) com intenção comparativa pós-disjunção da maxila.

Figura 8. A – frontal; B – oclusal; C – lateral direita e D – lateral esquerda
(instalação do aparelho metalico fixo).

Figura9.Telerradiografia.

PADRÃO DO ESQUELETO CEFALICO

NAP0 A 2O-0,9oPerfil ósseo côncavo.
FMA25O32oTendência a crescimento vertical.
NS.OCL14O21oTendência a crescimento vertical.
NS.GoGn32o36oTendência a crescimento vertical.
NS.Gn67o67oTendência de crescimento equilibrada.

RELAÇÃO DAS BASES APICAIS

SNA82O81oMaxila bem posicionada, tendendo a retrusão.
SNB80O80oMandíbula bem posicionada.
ANB2O1oClasse III esquelética.
SND76o78oProtrusão mandibular.

ARCOS DENTARIOS X BASES APICAIS

1.NA22O25oIncisivos superiores vestibularizados.
1-NA4mm6mmIncisivos superiores protruídos.
1.NB25O25oIncisivos inferiores bem posicionados.
1-NB4mm4mmIncisivos inferiores bem posicionados.
FMIA68o67oIncisivos inferiores bem posicionados em relação ao plano de Frankfurt.
IMPA87o88oIncisivos inferiores bem posicionados em relação ao plano mandibular.

PERFIL ÓSSEO X PERFIL MOLE

NAP0 A 2O-0,9oPerfil ósseo côncavo.
H.NB9 A 12O4oPerfil mole côncavo.
H-NARIZ9-11mm11mmPerfil harmonioso.

Tabela2. Analise Cefalometrica Padrão USP.

Nas três consultas seguintes, na fase de alinhamento e nivelamento, realizamos evolução dos fios de NiTi na arcada superior (0,014´´; 0,016´´ e 0,018´´), bandagem dos dentes 16, 26, 36 e 46 com o uso prévio de elástico separador cinco dias antes da manutenção ortodôntica, nos dentes necessários, instalação do aparelho fixo inferior com evolução dos fios de NiTi (0,012´´, 0,14´´ e 0,016´´) e, planejaram-se a extração dos dentes 24 e 34 e posteriormente os dentes 14 e 44, pois, o paciente apresenta severo apinhamento dentário inferior e, por ser um paciente classificado como Classe III esquelética, baseado nas suas medidas cefalométricas, no qual objetivamos compensar esse problema. No quinto mês, com os pré-molares do lado esquerdo extraídos iniciamos a retração dos caninos (23 e 33) utilizando fio 0,017´´x 0,025´´ mm de aço superior e inferior e elástico corrente nas aletas distais dos dentes a serem retraídos estendendo-se até o dente 25 e 35 (Figura 10).

Figura10. Retração dos dentes 23 e 33.

No sexto mês, ainda permaneceu a mecânica de retração dos caninos do lado esquerdo (23-33), com fio 0,017´´x 0,025´´ aço superior e inferior e elástico corrente nas aletas distais dos dentes a serem retraídos estendendo-se até o os pré- molares 25 e 35 e foi solicitado ao paciente extração dos outros dois pré-molares (14– 44). Na sequência, no sétimo mês, com os pré-molares que foram solicitados e extraídos, iniciamos a mecânica de retração de caninos do lado direito permanecendo com o fio 0,017´´x 0,025´´ aço na arcada superior e inferior sem inclusão dos dentes 12 e 13 (Figura 11).

No oitavo e nono mês prosseguiu com a retração dos caninos (13, 23, 33 e 43). No décimo mês, com uma melhora na posição, no arco, do dente 13, incluímos o mesmo e o dente 12 para melhorar alinhamento e nivelamento com fio de NiTi 0,014´´ superior (Figura 11) e permanecendo retração do dente 43 com fio 0,017´´x 0,025´´ aço inferior.

Figura11. Alinhamento e nivelamento superior.

No décimo primeiro e décimo segundo mês continuou o alinhamento e nivelamento da arcada superior evoluindo o fio de NiTi para 0,016´´ e 0,018´´ respectivamente, e, na arcada inferior optou-se por usar fio NiTi, 0,014´´ e 0,016´´, respectivamente, com amarrilho individual nos dentes 31, 32, 41 e 42, para uma um melhor reposicionamento destes com apinhamento severo (Figura 12).

No mês seguinte utilizamos fio 0,017´´x 0,025´´aço superior e inferior pra que assim alcançasse a finalização da retração de todos os caninos (figura 12).

Figura12. Finalização da retração de caninos.

No décimo quarto mês iniciou a retração de toda bateria anterior superior e inferior com fio retangular 0,017´´x 0,025´´e elástico corrente. Nos três meses seguintes continuamos a retração da bateria anterior e incluímos elástico Classe III 3/16 médio estendendo-se dos caninos inferiores até os primeiros molares superiores para uso noturno (figura 13 e 14).

Figura13. Lateral direita. Figura14. Lateral esquerda

Por mais dois meses permaneceu a mesma mecânica de retração da bateria anterior superior e inferior, e foi solicitada uma nova documentação ortodôntica (Figura 15 A-K) na qual na tabela 3 encontram-se as medidas cefalométricas, visto que o paciente ainda continuará seu tratamento após a apresentação deste trabalho.

Figura 15: A – frontal intra oral; B – perfil direito; C – frontal sorrindo; D – frontal extra oral; E – lateral direita extra oral; F – lateral esquerda extra oral; G – oclusal superior; H – oclusal inferior I – radiografia panorâmica; J – telerradiografia e K – traçados cefalometricos.

PADRÃO DO ESQUELETO CEFALICO

NAP0 A 2O-12oPerfil ósseo côncavo.
FMA25O30oTendência de crescimento vertical.
NS.OCL14O18oTendência de crescimento vertical.
NS.GoGn32o34oTendência de crescimento vertical.
NS.Gn67o64oTendência de crescimento vertical.

RELAÇÃO DAS BASES APICAIS

SNA82O80oMaxila bem posicionada tendendo a retrusão.
SNB80O83oMandíbula protruída.
ANB2O-3oClasse III esquelética.
SND76o80oProtrusão mandibular.

ARCOS DENTARIOS X BASES APICAIS

1.NA22O21oIncisivos superiores lingualizados.
1-NA4mm8mmIncisivos superiores protruídos.
1.NB25O18oIncisivos inferiores lingualizados
1-NB4mm3mmIncisivos inferiores protruídos
FMIA68o68oIncisivos inferiores inclinados pra lingual em relação ao plano de Frankfurt
IMPA87o81oIncisivos inferiores inclinados pra lingual em relação ao plano mandibular.

PERFIL ÓSSEO X PERFIL MOLE

NAP0 A 2O-12oPerfil ósseo côncavo.
H.NB9 A 12O6oPerfil mole côncavo.
H-NARIZ9-11mm10mmPerfil harmonioso.

Tabela3. Analise Cefalometrica Padrão USP.

DISCUSSÃO

A ERM tem como objetivo aumentar o diâmetro do arco maxilar devido a uma atresia deste, ocasionando um problema transversal, em relação ao arco mandibular (AGARWALL et al., 2010). A etiologia dessas deformidades pode ser genética, fisiológica ou em decorrência de hábitos parafuncionais (MUNIZ et al., 2008), fazendo com que aumente a necessidade do uso de mecânica ortopédica com disjuntores maxilares no planejamento do tratamento.

Segundo Lopes et al., 2003, a ERM é indicada nos seguintes casos: Classe III não cirúrgicas, deficiência maxilar com a mandíbula de tamanho normal (Classe I com retrusão superior), deficiência relativa da maxila, maxila com tamanho normal e a mandíbula de tamanho aumentado, mordida cruzada posterior uni ou bilateral e entre outros. No caso relatado deste trabalho, o paciente apresentava atresia maxilar com mordida cruzada posterior bilateral, onde se fez necessário a indicação do aparelho disjuntor para expansão maxilar.

De acordo com a literatura, a técnica de ERM é adequada para pacientes com maturação óssea maxilar incompleta e deficiência transversal de maxila que não possa ser corrigida por aparelho fixo (CANUTO et al., 2010). A idade mais aceita para a realização da ERM varia muito segundo a literatura, sendo indicada para pacientes com faixa etária máxima de 14 anos de idade em mulheres e 16 anos nos homens (AZENHA et al.,2008). Em contrapartida, Neves e Itaborahy (2008) observaram maiores facilidades em pacientes na fase puberal até 13 anos de idade, porém não excluindo aqueles com até 18 anos, devidoa não consolidação óssea.

Segundo Flores e Colaboradores (2021) e Scanavini et al. (2006), observaram que resultado da expansão rápida de maxila provoca uma expansão simultânea do arco inferior onde a mandíbula sofre rotação para baixo e para trás por conta do movimento da maxila para frente e para baixo ocasionando a abertura da mordida, que ocorreu no caso relatado como pudemos observar na figura 8-A e, aumento dos ângulos ANB, NAP e FMA, concordando com o que mostra na medidas cefalometricas dispostas na tabela 2 deste caso.

Os aparelhos para a ERM como o Hass e o Hyrax são os mais indicados devido ao potencial de liberação de forças intensas ortopédicas sobre o palato e/ou face palatina dos dentes superiores causando a ruptura da sutura palatina mediana e dessa forma obter os efeitos ortopédicos desejados para a evolução do tratamento (SIQUEIRA et. al, 2002). Almeida e Almeida (2008) observam que o aparelho Hyrax, entretanto, ocasiona inclinação dentária indesejável durante a fase de expansão, mas uma excelente possibilidade de higienização determinando inexistência de

lesões na mucosa palatina e, Silva Filho e colaboradores (2004) citam que o disjuntor de Hass tem uma maior dificuldade de higienização e devido ao intimo contato do acrílico do aparelho com o palato corre um maior risco de lesão aos tecidos moles.

O expansor tipo Hyrax tem como vantagem a capacidade de melhora respiratória nos pacientes em decorrência da descida do assoalho das fossas nasais (VERNA et al., 2004). Lima e Bernardes (2003) destacam que ocorre um aumento na área da cavidade nasal, pós-disjunção, por estar em intimo contato com as suturas palatinas alcançando uma amplitude e uma melhora na respiração favorecendo o aumento da permeabilidade nas vias aéreas e melhor na respiração.

Independente da técnica que é utilizada, uma abordagem precoce é primordial em todos os casos para que o prognóstico seja favorável e dentro do planejado a curto e longo prazo (JANSON et al. 2004).

CONCLUSÃO

Após leitura dos trabalhos publicados e execução do caso clinico relatado, conclui-se que a expansão rápida de maxila por meio do disjuntor Hyrax para correção de atresia maxilar e mordida cruzada posterior bilateral, nos mostrou ser eficaz corrigindo problemas transversais como estes, levando em consideração a literatura e os resultados obtidos no tratamento até o momento, promovendo até mesmo uma melhora respiratória em decorrência da descida do assoalho das fossas nasais, pós-disjunção, visto que, o paciente era respirador bucal e após isso se tornou respirador nasal.

Por fim, um correto diagnóstico e planejamento favorecem um prognóstico excelente para casos como esses, possibilitando ao indivíduo uma harmonia não só mastigatória, mas também estética.

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Autores: Raisa Braga Cezario – Especialista em Ortodontia.

Priscila Pinto Brandão de Araújo – Doutora em Ortodontia.

Carlos Eduarde Bezerra Pascoal – Especilista em Ortodontia.

Fabíola Brasil Roberto – Mestre em Ortodontia.

Pedro da Silva Rodrigues Filho – Especialista em Ortodontia.

Renato da Silva Repilla – Doutor em Ortodontia.