CONTRIBUTIONS OF INDIGENOUS AND AFRICAN CULTURES TO BRAZILIAN DANCE: NARRATIVE REVIEW
APORTES DE LAS CULTURAS INDÍGENAS Y AFRICANAS A LA DANZA BRASILEÑA: REVISIÓN NARRATIVA
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11660655
Lidiane do Nascimento da Cruz [1]
Kácio dos Santos Silva [2]
RESUMO
O Brasil possui uma ampla diversidade cultural devido ao processo de miscigenação de raças que aconteceu forçadamente. Este processo produziu muitas desigualdades, mas também criou diferentes formas de existir do povo brasileiro. Este artigo tem o objetivo de analisar as contribuições das culturas indígenas e africanas na dança brasileira através de uma revisão de literatura. A Metodologia trata-se de uma revisão narrativa da literatura, de abordagem metodológica qualitativa. Os documentos serão selecionados nas bases de LILACS, Scielo e Google Scholar. Foram selecionadas para análise literaturas publicadas em livros, artigos de revistas impressas e ou eletrônicas, sem a necessidade de uma estratégia sistematizada. A pesquisa revelou que as principais contribuições das culturas indígenas e de matrizes africanas na dança brasileira foram os variados ritmos e diversificados movimentos corporais de acordo com cada cultura. Esta pesquisa teve a intenção de promover uma reflexão sobre a construção do conhecimento da cultura popular brasileira, enfatizando os estilos de dança de origem Indígenas e/ou Africanas, buscando a valorização e positivação das narrativas destes povos no Brasil.
Palavras-chave: Dança; Povos indígenas; Povos afrodescendentes.
ABSTRACT
Brazil has a wide cultural diversity due to the process of racial mixing that took place forcibly. This process produced many inequalities, but it also created different ways of existing for the Brazilian people. This article aims to analyze the contributions of indigenous and African cultures to Brazilian dance through a literature review. The Methodology is a narrative review of the literature, with a qualitative methodological approach. The documents will be selected from the LILACS, Scielo and Google Scholar databases. Literature published in books, articles from printed and/or electronic magazines were selected for analysis, without the need for a systematized strategy. The research revealed that the main contributions of indigenous and African cultures to Brazilian dance were the varied rhythms and diverse body movements according to each culture. This research intended to promote reflection on the construction of knowledge of Brazilian popular culture, emphasizing dance styles of Indigenous and/or African origin, seeking to value and positivize the narratives of these people in Brazil.
Keywords: Dance; Indian people; Afro-descendant peoples.
RESUMEN
Brasil tiene una amplia diversidad cultural debido al proceso de mestizaje que se produjo de forma forzada. Este proceso produjo muchas desigualdades, pero también creó diferentes formas de existir para el pueblo brasileño. Este artículo tiene como objetivo analizar las contribuciones de las culturas indígenas y africanas a la danza brasileña a través de una revisión de la literatura. La Metodología es una revisión narrativa de la literatura, con un enfoque metodológico cualitativo. Los documentos serán seleccionados de las bases de datos LILACS, Scielo y Google Scholar. Se seleccionó para el análisis literatura publicada en libros, artículos de revistas impresas y/o electrónicas, sin necesidad de una estrategia sistematizada. La investigación reveló que las principales contribuciones de las culturas indígenas y africanas a la danza brasileña fueron los ritmos variados y los diversos movimientos corporales según cada cultura. Esta investigación tuvo como objetivo promover la reflexión sobre la construcción del conocimiento de la cultura popular brasileña, enfatizando estilos de danza de origen indígena y/o africano, buscando valorar y positivizar las narrativas de estos pueblos en Brasil.
Palabras clave: Danza; Gente India; Pueblos afrodescendientes.
1 INTRODUÇÃO
O Brasil possui uma ampla diversidade cultural devido ao processo de miscigenação de raças que aconteceu forçadamente. Este processo produziu muitas desigualdades, mas também criou diferentes formas de existir do povo brasileiro. É importante destacar que o conceito de raça aqui discutido está para além da simples definição biológica, “é uma construção social e histórica produzida no interior das relações sociais e de poder” (Ferreira, 2012, p.24).
As diferentes raças que constituíram/constituem o povo brasileiro têm contribuição direta na cultura. O termo cultura, na visão antropológica, pode ser definido como a rede de significados que dão sentido ao mundo que cerca uma pessoa, ou seja, a sociedade. Essa rede engloba um conjunto de diversos aspectos, como crenças, etnias, valores, costumes, leis, moral, línguas, entre outros (Froés, 2018).
Vale ressaltar também, que de acordo com Froés (2018), o Brasil é um país em que há diferentes formas culturais de existir, que se manifestam em ritmos musicais, pratos típicos, festividades, manifestações religiosas e artísticas. Estas, adquiridas através da presença de seus povos originários e da colonização diversificada, que trouxe para o território brasileiro suas formas de viver como os povos de diferentes regiões do continente africano.
A Constituição Federativa do Brasil de 1988 revela na sua seção II da cultura, no Art. 215. que
O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais.
§ 1º O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional.
§ 2º A lei disporá sobre a fixação de datas comemorativas de alta significação para os diferentes segmentos étnicos nacionais. (Brasil, 1988, art. 215).
Segundo Pereira (2008) quando o enunciador constituinte destaca que os direitos culturais serão garantidos a todos, o mesmo afirma que a cultura é objeto do direito. Desde o processo histórico do território brasileiro até os dias atuais, os povos indígenas e africanos contribuíram de maneira significativa para a formação cultural. Um estudo recente realizado por Guimarães e Impolcetto (2021, p.49) destaca que “as danças indígenas encontradas refletem o saber cultural destes povos através do movimento corporal, das músicas, das vestimentas”.
Em relação à contribuição dos povos africanos para a cultura do Brasil, Alves e Cacione (2014), ressaltam que a mesma é inquestionável em todos os segmentos da cultura brasileira, seja na dança, na música, na culinária, na religiosidade, nas vestimentas entre outros. E os mesmos, enfatizam citando que toda nossa cultura tem uma parte do continente africano.
De acordo com o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2022), os povos indígenas residentes no Brasil estão estimados em cerca de 1,7 milhão de pessoas, ou seja, representa 0,83% da população total do país e residem em 4.832 municípios. Entretanto, a população quilombola do país equivale à 1,32 milhão de pessoas, ou 0,65% do total de habitantes, residindo em 1.696 municípios do território nacional.
Apesar disso, por mais que os mesmos tenham papel fundamental na história do Brasil, estes ainda enfrentam diversas dificuldades como, o preconceito, racismo, a exclusão, a negação de seus direitos, como o acesso ao seu território, condições básicas e criminalização. E segundo os autores Pinto e Ferreira (2014, p.265), é necessário que haja estratégias para enfrentar essas dificuldades, pois “esse enfrentamento é primordial para se construir uma sociedade equânime e que tenha como princípio norteador o respeito à dignidade humana e o exercício pleno da cidadania”.
Deste modo, esses povos são de suma importância para a formação da cultura brasileira, inclusive nas manifestações corporais. Sabe-se que, a dança é uma das artes mais antigas do mundo, pois teve início juntamente com a humanidade e segundo os autores Franco e Ferreira (2016), as expressões corporais são as formas essenciais e primitivas da dança, sendo a primeira maneira de evidenciar os sentimentos do homem e, logo, de sua manifestação.
As autoras Barancelli e Pawlowytsch (2016), ressaltam que na história do homem, antes mesmo de obter a habilidade de polir a pedra, construir moradias, fabricar instrumentos e armas para trabalhar, os mesmos já sabiam bater os pés e as mãos de maneira rítmica para expressar sua comunicação e aquecer o corpo.
Conforme Vargas e Krabbe (2013), a dança está inserida nos conteúdos da Educação Física, no qual, é uma linguagem da arte que busca expressar diferentes perspectivas de compreensão do mundo. Sendo uma manifestação importante que engloba áreas de possibilidades no meio artístico, colaborando para a ampliação do conhecimento, para a formação humana e por fim, para a qualidade de vida dos indivíduos.
Assim, é importante destacar que a prática da dança traz diversos benefícios para a saúde do indivíduo. Conforme os autores Marbá, da Silva e Guimarães (2016), com a prática da dança, ocorre a melhora da autoestima, bem-estar, melhor condicionamento físico, interação social e também como uma terapia motivacional, gerando assim uma boa qualidade de vida para seus praticantes.
Desse modo, a dança é uma das manifestações artísticas que mais teve impulso no Brasil, ou seja, “pela maior visibilidade e importância atribuída às expressões étnicas, como o candomblé, as culturas indígenas e, às manifestações folclóricas, sobretudo pelas ciências humanas e artes (Franco e Ferreira, 2016, p.6)”.
O interesse por esta temática advém da experiência da pesquisadora a partir da sua relação pessoal com a dança desde experiências na infância, especialmente através do contato com diversas danças populares no estado do Maranhão. Estas experiências influenciaram na escolha do curso de Educação Física enquanto graduação, e na instituição participou de atividades de ensino e extensão como o Núcleo de dança UNIFSA.
Por todos esses apontamentos, esta pesquisa delineou a seguinte problemática: como as matrizes africana e indígena contribuíram para a formação do que se nomeia como danças brasileiras? Para responder este problema, a pesquisa delineou como objetivo geral, analisar as contribuições das culturas indígenas e africanas na dança brasileira através de uma revisão narrativa de literatura.
2 MÉTODO
O tipo de estudo trata-se de uma revisão narrativa da literatura. Segundo Clandinin e Connely (2000), a pesquisa narrativa é uma metodologia que consiste na coleta de histórias sobre determinado tema onde o pesquisador encontrará informações para entender, descrever e discutir determinado assunto, sob o ponto de vista teórico ou contextual.
Constituem, na interpretação e análise crítica pessoal do pesquisador, após a pesquisa da literatura publicada em livros, artigos de revistas impressas e ou eletrônicas, sem a necessidade de uma estratégia sistematizada. Esse tipo de estudo atribui para a educação continuada, pois permitem ao leitor obter e atualizar o conhecimento sobre uma temática específica em curto espaço de tempo (Rother, 2007).
A pesquisa narrativa desenvolve-se a partir da observação da área pessoal, valorizando a narrativa também do pesquisador, quanto da social, para assim tratar da interação passado, presente e o futuro e desenvolver a noção de continuidade e lugar para marcar a situação. Esse conjunto de termos forma um espaço tridimensional para a investigação narrativa (Sahagoff, 2015).
A abordagem metodológica é qualitativa, no qual, é feita por meio da análise da pesquisa, e busca-se descrever e compreender processos-chave estruturais, psicológicos e sociais, ocorridos em um cenário social (Minayo, 2012).
Em relação à estratégia de busca, os documentos serão selecionados nas bases de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Eletronic Library Online (Scielo) e Google Scholar. Foram selecionados para análise literaturas publicadas em livros, artigos de revistas impressas e ou eletrônicas, sem a necessidade de uma estratégia sistematizada.
Assim, o texto narrativo organizou-se em seções que abordaram cada parte da temática para assim haver a compreensão do todo, reveladas nas considerações finais.
3 A CULTURA INDÍGENA BRASILEIRA
Os povos indígenas são os primeiros povos a habitar o continente americano no Brasil. A Fundação Nacional de Saúde – Funasa (2002) ressalta que estimativas apontam que no atual território brasileiro habitavam pelo menos 5 milhões de pessoas indígenas, com mais de 1.000 etnias e mais de 1.300 línguas, isso antes da invasão dos europeus no século XVI.
Desde a colonização até os dias atuais os povos indígenas ainda sofrem com desafios territoriais, a exploração, preconceito, racismo, falta de acesso à saúde e serviços públicos, como também a criminalização. No qual, o autor Marquese (2006), afirma que os mesmos tinham maior predominância de mão-de-obra na construção dos engenhos de açúcar e dessa forma, sendo os primeiros a serem escravizados na história do Brasil.
Além disso, a autora Silva (2018), discorre que a invasão, ocupação e exploração das terras brasileiras foram e são responsáveis para as modificações radicais que tais povos originários tenham e estejam passando nestes cinco séculos, como a destruição física e cultural, eliminando grupos e inúmeras etnias indígenas.
E conforme a autora Correia (2021), a relação que os povos indígenas com tais povos invasores, tiveram consequências negativas para a comunidade. Em que por mais que eram sujeitos à violência física, também sofriam a violência cultural e simbólica imposta pelos os jesuítas, no qual estes reiteravam e determinavam os valores religiosos católicos a esses povos, ignorando e desrespeitando suas crenças religiosas, costumes, estética e sua cultura.
Dessa forma, atualmente no Brasil, segundo os dados do censo demográfico pelo IBGE (2010), registrou a existência de 274 línguas, 305 etnias e 896.917 mil indígenas, ou 0,47% do total de residentes no território nacional. Já em 2022, o número de indígenas residentes no país foi de 1.693.535 pessoas, o que representava 0,83% da população total do país. Ou seja, houve ampliação de 88,82% desde o Censo Demográfico anterior, apesar de todo sofrimento e lutas nesses séculos.
Vale ressaltar, alguns dos povos indígenas o Guarani, Guajajara, Potiguara, Ticuna, Caingangues, Pataxó, Macuxi, Kaiowá, Xavante, Tupiniquim, Yanomami, Terena, entre outros, estes possuem diversas maneiras de viver. E a Fundação Nacional de Saúde – Funasa (2002, pag. 9), afirma dizendo, que “os Potiguara, Guarani e Tupiniquim são alguns dos povos indígenas mais antigos, cujo seus ancestrais presenciaram a chegada das primeiras embarcações que cruzaram o Atlântico há cinco séculos e que cada um destes povos tem sua própria maneira de entender e se organizar diante do mundo, que se manifesta nas suas diferentes formas de organização social, política, econômica e de relação com o meio ambiente e ocupação de seu território”.
A cultura dos povos indígenas é formada por tradições, costumes, culinária, crenças e línguas com particularidades distintas de cada povo. Dessa maneira, o autor Luciano (2006) afirma que,
A riqueza da diversidade sociocultural dos povos indígenas representa uma poderosa arma na defesa dos seus direitos e hoje alimenta o orgulho de pertencer a uma cultura própria e de ser brasileiro originário. A cultura indígena em nada se refere ao grau de interação com a sociedade nacional, mas com a maneira de ver e de se situar no mundo; com a forma de organizar a vida social, política, econômica e espiritual de cada povo. Neste sentido, cada povo tem uma cultura distinta da outra, porque se situa no mundo e se relaciona com ele de maneira própria (Luciano, 2006, pág. 46).
O mesmo autor enfatiza que os povos indígenas não são indivíduos ou sociedades do passado. Estes são povos e fazem parte da época atual, que representam, contribuíram e contribuam de maneira significativa para a formação do Brasil, sendo através da população, territórios, conhecimentos, valores, manifestações culturais e artísticas (Luciano, 2006). Segundo a autora Albernaz (2009), os povos Ava-Guarani gostam de contar sobre suas antigas práticas, sendo estas consideradas como típicas ou próprias do seu povo
Os alimentos que eles chamam as “comidas dos índios”, como o mbodjiapé (pão à base de milho), batata doce assada e as formas de preparar o milho como acompanhamento da carne da caça; das práticas de plantação, caça e coleta de alimentos; das casas feitas com fibras de palmeira apenas amarradas sobre a armação de taquara; dos artefatos para o cozimento e consumo de alimentos e chimarrão; de como era no tempo em que eles se aqueciam no inverno somente com o fogo e com as folhas de palmeira, quando o tomar banho no rio em tempos de geada era uma prova de coragem e confiança nos Deuses e nos pais (pois os pais e mais velhos em geral orientavam as crianças para se banharem assim logo cedo); e também das práticas ascéticas de rezas e danças para se tornarem aguydje, assim como do relato de pessoas que foram vivas para o Yvy Marãe’y (ALBERNAZ, 2009, pág. 51).
Em que é notório as mudanças da cultura desses povos, apesar de que muitos ainda tentam manter as suas origens. E conforme os autores Duarte, Ribeiro e Gomes (2022, pág. 7), “A caracterização das heranças e incorporações de práticas indígenas como as citadas anteriormente, revela como é importante à valorização da cultura dos povos. No entanto, nos dias atuais, muito tem se perdido levando em consideração o desmatamento, a falta de caça e da pesca”.
Entretanto, atualmente umas das manifestações mais praticadas no Brasil, é a expressão corporal, ou seja, a dança. E conforme a autora Brasileiro (2010), a cultura popular brasileira dispõe da presença essencial da dança, está sendo uma manifestação artística, que traz as representações das expressões de sentimentos e comunicações sociais.
Vale ressaltar, que na história brasileira estão ausentes muitas das expressões da dança de cunho popular que se mantiveram ao longo dos anos. São danças ligadas às festas, às religiões, às produções culturais das nações que, dizem, contam e encantam quem as faz e quem as vê. Trata-se de incontáveis manifestações que são mantidas comumente pela tradição oral e pela sua manifestação corporal nas festas populares (Brasileiro, 2010).
Desta forma, a dança para a cultura dos povos indígenas em suas comunidades, é uma grande influência da expressão corporal, no qual, a mesma sempre comemora determinado evento associado à vida e aos costumes indígenas, referindo a saudar aqueles que chegam à aldeia, para marcar a passagem da jovem a vida adulta, a aniversários e casamentos, a ciclos da natureza como forma de agradecer a colheita, homenagear os mortos, e outros motivos especiais e sagrados (Silva, 2018).
4 OS POVOS AFRICANOS NO BRASIL
Por meio do tráfico coagido de escravos vindos diferentes regiões do continente africano, que as colônias lusitanas conheceram as características da escravidão negra instalada no novo mundo. Dessa maneira, todos os setores da sociedade foram tocados pelo prisma da brutal escravidão negra africana, a partir da propagação da mão-de-obra escrava (Araújo; Silva; Leal, 2020).
Os povos africanos foram tirados de seu local de origem de forma brutal, tendo que deixar seu passado ancestral para serem escravos de homens brancos que se achavam superiores aos negros, por causa de sua influência economicamente. No qual, tratavam os negros como mão de obra e objetos e não eram tratados como seres humanos, sendo os castigos e crueldades considerados desumanos, social e cruel (Correia, 2021).
Ao passar dos anos teve vários eventos de resistência desses povos para acabar com a escravidão. A exemplo disso, temos a Guerra dos Palmares que foi um dos episódios de resistência escrava mais notáveis na história da escravidão do Novo Mundo. No qual, as comunidades palmarinas tornaram-se o maior quilombo na história da América portuguesa, devido a extensão territorial e a quantidade de escravos fugitivos que acolheram. Teve origem no início do século XVII, mas sua criação como grande grupo quilombola se deu quando vários escravos se aproveitaram dos conflitos militares e escaparam para o sul da capitania, no contexto da invasão holandesa de Pernambuco (Marquese, 2006).
Nas últimas décadas da escravidão no Brasil, pela Constituição de 1824, os africanos foram excluídos da cidadania brasileira e, quando eram libertos, tinham apenas direitos distintos de seus filhos e netos nascidos no país. Com isso, não tinham autoridades diplomáticas que os defendessem, sofrendo restrições a mobilidade e aquisições de bens de raiz (Mamigonian, 2017).
A Abolição da escravatura no Brasil foi efeito da Lei Áurea assinada pela Princesa Isabel, em 1888, que libertava os escravos negros africanos da escravidão árdua e impiedosa, de mais de 400 anos (Monteiro, 2012). Os escravos se viram livres do trabalho forçado e dos castigos cruéis no tronco e nas senzalas, aos quais eram obrigados desde o descobrimento do Brasil. Porém, encontraram a lamentável situação social, que não reparou aos negros africanos nem aos seus descendentes miscigenados a cidadania e a dignidade que usufruíam em seu país de origem (Monteiro, 2012).
Bittencourt (2005) descreve a ideia de atrelamento de uma história brasileira do ponto de vista homogênea, sem reconhecimento das pluralidades culturais e sociais, negligenciando os papéis dos negros africanos, bem como de indígenas, afastando-os das linhas do tempo e das relações diretas com o surgimento da formação nacional.
O fato é que nossos antigos historiadores trataram indevidamente, ou ignoraram a participação africana em nossa formação, influenciados por preconceitos originários da sociedade escravista, entre os quais os ideais de branqueamento da população brasileira nutridos, desde meados do século XIX, por boa parte das elites nacionais (Lima, 2004 pág. 84).
A história ainda compõe um caráter racista e reforça o imaginário de uma África pobre, atrelando-a ao racismo (Cunha Junior, 1997). Dessa forma, segundo Marquese (2006), cabe aos profissionais de educação e sociedade em geral, ampliar os conhecimentos sobre a verdadeira história, luta e contribuições desses povos, a fim de romper com essas ideologias racistas, optando em falar sobre sua rica contribuição para a formação da sociedade brasileira, suas várias culturas africanas incorporadas, além de suas representatividades, identificadas na culinária, religiosidade e dança.
As contribuições mais notórias dos negros no Brasil, são à cultura material, expressas nas edificações de igrejas, fortes e casarões ou na construção de imagens de santos, esculturas, adornos pessoais, artesanato variado, instrumentos musicais, ritmos e música, cestos de palha e técnicas de mineração e siderurgia (Lopes, 2004).
Além disso, na alimentação trouxeram da África muitos tipos de feijão, inhames, abóboras e vagens, quiabo, azeite de dendê, leite de coco, como também as receitas para preparo, que compõem até hoje nossas mesas. Na Bahia, por exemplo, que concentrava grande plantel escravista, as iguarias africanas foram preservadas de modo privilegiado, como o xinxim de galinha e o acarajé (Reis, 2006).
A dança e a música também estavam presentes nos festejos religiosos, muitas vezes realizadas nas ruas, como os batuques, e tendo como integrantes não apenas os escravos, mas também outros níveis de pobreza da comunidade. Os viajantes que estiveram em Minas Gerais no século XIX, olhavam para essas manifestações de rua, com olhares atentos, curiosos e discriminatórios (Leite, 1996).
Segundo Sabino e Lody (2015), a Dança de matriz africana por mais forte que seja sua definição como arte, memória, símbolo, saúde, criação e, sobretudo no foco da identidade, está é ainda inédito em coreologia. Ou seja, ciência da dança que estuda os movimentos através do espaço, música e dançarino.
Portanto, os componentes principais na construção de identidade entre os africanos e crioulos no Brasil embasavam-se, tanto nos critérios étnicos, na experiência do cativeiro e no compartilhamento de traços culturais reinventados, como a aparência física, os batuques, os adornos, rituais religiosos, tatuagens e pintura corporal (Reis, 2003).
5 AS DANÇAS INDÍGENAS E AFRO-BRASILEIRAS
Como mencionado anteriormente, a dança é uma das primeiras formas de expressão artística do ser humano e também a única que dispensa qualquer material ou ferramenta. Através de movimentos e ritmos o homem transmite sentimentos, objetivos e história (Reis, 2014, pág. 301). A autora Dórea (2020) destaca que a dança, pode ser praticada através de celebração, diversão, libertação e comunhão consigo, com o outro e com o meio.
A dança realiza e abrange constantemente o espaço e o tempo, modificando a condição do corpo em cada movimento. Com isso, a nomeação de corpos dançantes tem a compreensão de que, para a dança, o corpo é sua matéria de expressão, o movimento é o componente de construção e a cultura, é baseada em específica região, isto tendo a representação de símbolos e signos que constituem o ato do ser humano, incluindo distintas maneiras de concepções, linguagens, hábitos e valores (Dórea, 2020).
Dessa forma, culturalmente o Brasil é considerado um país de herança excepcional, pois no desenvolvimento de seu povo houve a atuação das matrizes de origem indígena e africana.
Embora, esses povos não recebam determinado reconhecimento pela sociedade brasileira no que se refere ao patrimônio cultural adquirido pelos indígenas e africanos. No qual, atualmente ainda são tratados de forma preconceituosa e racista, excludente, isto pelas suas condições étnicas, porém, os mesmos resistem fortemente e se alimentam da riqueza da arte que produzem para dar sentido às suas existências (Silva, 2018).
Tendo assim, uma das heranças desses povos foi às expressões corporais, ou seja, as danças. Com isso, algumas das danças afro-brasileiras temos a Capoeira, que são realizados movimentos de mãos e, principalmente, de pernas, a capoeira é jogada ao som do ganzá, berimbau, pandeiro e caxixe. Estando presente em todo o Brasil e foi reconhecida como esporte pelo Conselho Nacional de Desporto – CND, sendo considerada como esporte, luta, brincadeira e dança (Batalha e Silva, 2015).
Para o autor Alves (2003), a Capoeira é jogo, luta e dança em uma mesma manifestação cultural. Em que, durante modalidade de manifestação corporal é se trata de mais uma possibilidade de preparo técnico, porém, quando é de uma expressão artística e cultural refere-se à linguagem poética que demonstra o corpo como agente criador. Santos (2016) ressalta que a capoeira é uma mistura de dança, luta, cultura popular e música. No qual, ao iniciar esta prática, os escravos praticavam dentro das senzalas, isso a noite, acorrentados e por essa razão sua manifestação é com os pés.
Segundo Silva (2018), o samba ou semba, nome de origem africana que significa umbigo. O termo semba, que é denominada também como umbigada ou batuque. Na Bahia, pela chegada dos negros e suas referências culturais, tendo o samba corrido e samba chula. Além de ser uma dança de roda muito praticada em várias regiões brasileiras.
O maracatu que se dá como um cortejo estando presente a dança e música. Típico de Pernambuco, em que esta corte é formada por rainha, rei, princesa e príncipe, porta-estandarte, casais de nobres, damas do paço, e por fim o caboclo de pena, que caracteriza os laços com a Jurema (Silva, 2018).
O Xirê, conhecido popularmente como roda dos Orixás, é uma sequência coreográfica que organiza uma liturgia dançada coletivamente numa festa de terreiro. Essas rodas sagradas têm uma ordem de organização hierárquica nas danças e reúnem vários Orixás (Bastos; Ferreira, 2021. Pág. 64). O tambor de crioula, esta dança também sendo dançada nos terreiros. No qual, a sua prática é através de movimentos circulares em torno do seu próprio eixo longitudinal ou vaivém e realizando deslocamento no espaço, por meio da umbigada em que suas vestimentas fazem diálogos coreográficos com os tambores (Sabino; Lody, 2015).
O Frevo com compassos fortes, voltadas para a fertilidade, e também para a cultura ritualística que é muito presente no cotidiano do povo negro, e roupas coloridas nos desenrolar das danças. O Afoxé, que traz como principal foco o elemento ritualístico e místico da cultura negra, a louvação aos deuses Africanos (Orixás) é vista em passos marcados que denotam sua devoção à essas deidades (Moraes; Corrêa, 2011).
Assim, algumas das danças indígenas temos o toré, que é uma dança ritual, comum a todas as comunidades da América, onde os participantes emitem canções tradicionais e ancestrais na busca de integração com a natureza. Realizada em ambientes abertos, praticada por todos tanto e é através de círculo e giram em torno do centro e também de si próprio, pisando fortemente o solo, marcando o ritmo da dança, acompanhado pela maracá e algumas vezes pelo tambor, ao comando do líder do grupo (Silva, 2018).
De acordo com a mesma autora, o Quarup é um ritual dançante para se despedir dos mortos, a dança do Jaburutu acontece no início do entardecer para espantar os maus espíritos e evocar os bons e a dança dos Praiás é própria dos terreiros Pankararu, e se incorpora a uma festa que acontece, principalmente, para render homenagem a diferentes cerimônias (Silva, 2018).
A dança os caboclinhos, que foi considerada como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), sendo uma expressão da cultura popular de tradição centenária, sobretudo em Pernambuco. Em que esta dança, assim como a música, representa caçadas, colheitas, batalhas e é apresentada com os pés descalços (Silva, 2018).
De acordo com os autores Moraes e Corrêa (2011), são danças com características das culturas Indígenas e Africanas. Tem-se o Lundu Marajoara considerada dança de corte, mulheres e homens se cortejam a fim de conquista, o Carimbó é dançado por mulheres que com o gingar de suas saias tentam atrair os homens, estes tendo que apanhar um lenço deixado no chão sem usar as mãos, para provar força e masculinidade e como representação da pesca do siri a dança Siriá e todas são ritmadas ao som do toar de tambores e flautas.
Coelho e Alencar (2015) referem-se à manifestação popular do estado do Maranhão Bumba-meu-boi, está sendo marcada pelos aspectos da cultura nordestina que evidencia uma dança do folclore brasileiro, com a presença do boi, cantos e indumentárias. Ribeiro (2021) diz que a dança do coco, no geral, apresenta uma coreografia básica, em que os participantes formam uma fila ou roda onde executam sapateado característico, respondem o coco, trocam umbigadas entre si e, com os pares vizinhos, batem palmas para marcar o ritmo.
A dança Ciranda, que dá inicio com uma pequena roda de poucas pessoas, que vai aumentando à medida que outros chegam para dançar, os atrasados abrem o círculo soltando as mãos dadas dos primeiros integrantes, inserem as suas e entram sem menor cerimônia e a saída acontece da mesma forma. Os movimentos da dança se dão com o corpo mãos e pés em movimentos graciosos, simulando as ondas do mar. É comum que instrumentos e versos façam partes da dança. A Ciranda não requer prática nem habilidade, qualquer um pode participar, assim como no Forró. (Ribeiro, 2021, pág. 17)
Dessa maneira, não se pode negar, que os povos indígenas e africanos no Brasil, contribuíram de forma essencial na formação da dança brasileira. A autora Nanni (1995), destaca que a miscigenação é a causa abundante de danças e ritmos em relação aos aspectos étnicos, gerando uma diversidade cultura. Já o autor Rangel (2002), ressalta que a junção dessas duas culturas originou-se diversos estilos, gêneros e ritmos de danças que o folclore brasileiro tem.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa revelou que as principais contribuições das culturas indígenas e de matrizes africanas na dança brasileira foram os variados ritmos e diversificados movimentos corporais de acordo com cada cultura. Em que, a partir dos povos Indígenas podem-se identificar danças como: o Toré, o Quarup, a Jaburutu, as Praiás e os Caboclinhos. Já as danças de matrizes africanas podem-se destacar; a Capoeira, o Samba, o Maracatu, o Xirê, o Tambor de Crioula, o Frevo e o Afoxé. Além disso, a pesquisa revelou que muitas danças brasileiras há contribuição das duas matrizes investigadas como é o caso do Lundu Marajoara, do Carimbó, do Síria, do Bumba meu boi, da dança do Coco, da Ciranda e do Forró.
Esta pesquisa teve a intenção de promover uma reflexão sobre a construção do conhecimento da cultura popular brasileira, enfatizando os estilos de dança Indígenas e Africanas, de modo que seja preservado e aprimorado toda a valorização e respeito a esses povos e suas atribuições. Com isso, sugere-se que cada vez mais pesquisas com esta temática sejam feitas para contribuir com a valorização e positivação das narrativas dos povos indígenas e afrodescendentes no Brasil.
REFERÊNCIAS
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[1] Discente do Curso Superior de Educação Física Bacharelado no Centro Universitário Santo Agostinho – UNIFSA. E-mail: lidianem659@gmail.com
[2] Docente no Centro Universitário Santo Agostinho – UNIFSA. Docente na Universidade Estadual do Piauí – UESPI Campus Doutora Josefina Demes. Mestre em Educação. Doutorando em Educação UFPI / CES-UC. E-mail: kaciosam@hotmail.com